Crônica das famílias Longhi e Frantz e sua parentela em Caxias do Sul, Brasil: Estórias e História - Volume II: o lado Materno

July 25, 2017 | Autor: R. Frantz | Categoria: Genealogy, Social and Cultural Anthropology, Social History, Genealogy-Family History
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3 Imagem da capa: Detalhe de foto de Mancuso mostrando Caxias em 1910. Acervo do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami (AHM)

Sumário do Volume II O lado Materno

Ignazio Longhi e Anna Maria Poli............................................................ Giovanni Battista Longhi................................................................. Angelo Longhi e Angela Maggi........................................................ Ermenegildo Rossi e Lucia Rizzi; Catharina Rossi..................................... Amadio e Cesar Rossi...................................................................... Romeu Rossi e Irma Galiotto.................................................. Giuseppe e Lucia Rossi.................................................................... Amadeo III Rossi..................................................................................... Outros Rossi............................................................................................ Os Rizzi................................................................................................... Victorio Longhi........................................................................................ Os Pezzi na Itália..................................................................................... Os Pezzi no Brasil Andrea Pezzi e Cattarina Formolo.......................................... Pietro Pezzi e Teresa Tomasoni...................................... Os Pezzi e a Comunidade de São Romédio............................. O ramo de Abramo Pezzi........................................................ Outros Pezzi........................................................................... Lucia Pezzi.............................................................................. Os Tomasoni, Marchi e Formolo.............................................................. A descendência de Victorio Longhi e Lucia Pezzi Francisco Longhi..................................................................... Tercila Longhi......................................................................... Romilda Longhi e Orestes Baratto.......................................... Natalino Longhi e Teresa Segalla............................................ Guilherme Longhi e Nair Pellini.............................................. Flora Longhi e Leopoldo Mattana........................................... Oscar Longhi e Leda Salami.................................................... Irma Longhi e Celeste Setti..................................................... Alcides Longhi e Leda Artico................................................... Osvaldo Artico e Magdalena de Nadai..................................................... Os de Nadai..................................................................................... João Artico e Ema Tomasi................................................................ Antonio Artico e Teresa Segalla....................................................... Mariota Artico e Rizzieri Serafini..................................................... Celestina Artico e Erico Raabe......................................................... José Artico....................................................................................... Augusto Artico e Ema Panigas......................................................... Tomaso Panigas e Giuditta Cecchini......................................................... Os Cecchini, Sacchetti e Viezzer............................................................... Stella Panigas e Antonio de Lazzer................................................... Amalia Panigas e Antonio Pisani...................................................... Antonio Panigas e Eugênia Berwanger............................................. Luiz Panigas e Adelia de Bortoli....................................................... Ema Panigas.................................................................................... Maria Wilma Artico e Otacílio Juventino de Almeida.............. Ada Artico e Bruno Tessari...................................................... Itala Artico.............................................................................. Anéris Artico e Agripino Correa............................................... Osvaldino Artico e Sílvia Gedoz...............................................

9 18 28 56 59 61 74 74 92 94 96 102 101 105 122 141 196 201 205 219 219 221 235 237 241 246 249 253 278 285 287 289 307 323 356 356 362 368 372 395 417 423 423 432 444 465 467 472

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A tradição da costura, do bordado e da tecelagem manual...................... Noris Leda Artico e Alcides Longhi............................................................ Vera Mari Longhi............................................................................. Beatriz Ignez Longhi e Aluysio Edison Nonnenmacher..................... Vitor Augusto Longhi e Maria Elisa Sebben...................................... Gisele Cristina Longhi e João Tito Siliprandi............................. Grasiela Sabrina Longhi e Cícero Gründling............................. Roberto Alcides Longhi e Siloé Reck Hainzenreder........................... Lucas Hainzenreder Longhi e Helena Ferrari Cogorni............... Leonardo Hainzenreder Longhi e Lenara Bettiato Pasquale da Silva.................................................................... Villi Vitório Longhi, Tânia de Carvalho e seus filhos Christian e Karine.................................................................... Elisabeth Ana Longhi e Murillo Frantz..............................................

493 501 513 529 558 572 577 580 585

Epílogo............................................................................................................

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589 592 609

Notas O hospedeiro faz uma conversão e compressão automática do arquivo para visualização que torna alguns recortes de jornal e imagens mais ilegíveis do que já eram, sendo alguns deles desde sua origem de baixíssima definição. Na versão para download o problema não é tão grave. Se aparecerem páginas em branco pelo meio do trabalho, faça um “refresh” no seu navegador pois este arquivo é pesado e elas podem não ter sido carregadas direito. Advirto, como fiz no Volume I, que a existência de homônimos, muitas vezes de distinção difícil, pode ter gerado erros na descrição dos personagens mais distantes do meu núcleo familiar imediato. Este livro foi concebido como uma unidade e só foi dividido em volumes por questão de espaço. Aos que se interessarem somente pelo lado materno, antes de ler este volume recomendo que percorram pelo menos a Introdução do Volume I: o lado Paterno (neste link), pois ela faz uma descrição geral da evolução sociocultural de Caxias, apresentando o pano de fundo sobre o qual os personagens deste lado também atuaram, leitura importante para dar maior sentido às suas atividades, e descreve ainda os propósitos desta pesquisa, seu método, seu alcance e suas limitações. Embora o Volume III se concentre na pesquisa sobre uma eventual nobreza das famílias, traz muitos dados históricos sobre elas, algumas com grande riqueza informativa. Ali também é apresentada uma árvore genealógica com todos os ancestrais europeus conhecidos. A maioria das linhagens foi recuperada pelo menos até o século XVIII, várias chegam aos séculos XVI e XV, e algumas vão mesmo bem mais para trás. O crédito de imagens e documentos citado como AHM refere-se ao Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami. As imagens e documentos não creditados pertencem à coleção da família do autor. Esta edição foi atualizada em dezembro de 2017.

Todos os direitos desta publicação são reservados.

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Meus avós maternos, Noris Leda Artico e Alcides Longhi, em seu casamento, 1938.

Eu entre meus avós maternos Noris Leda Artico Longhi e Alcides Longhi

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Crônica das famílias Longhi & Frantz e sua parentela em Caxias do Sul, Brasil O lado Materno

Antes mesmo que os Sartori e os Paternoster iniciassem sua rápida ascensão política, social e econômica, ativos entre o futuro centro urbano e o arraial de São Pelegrino, que lhe fica dois quilômetros a oeste, como foi descrito no Volume I, no núcleo de São Romédio, dois quilômetros ao sul do centro, já haviam se fixado em meados de 1876 duas outras famílias que se tornariam importantes na comunidade que ali se formou, e que hoje é considerada o berço de Caxias: os Pezzi e os Longhi, que estão entre os primeiros povoadores da cidade, tendo partido da Europa pelo porto de Havre em 2 de maio de 1876 e estabelecendo-se em Caxias pouco depois. Falemos primeiro dos Longhi, uma família nativa de Vermiglio, no Principado de Trento. O sobrenome está presente na região de Vermiglio em várias grafias (Longo, Longi, Longhi, Long) desde pelo menos o século XIII. Meu grupo, ao que tudo indica, descende de uma família Brasão Longhi de Vermiglio chamada Long radicada em Ortisè, a cerca de 12 km de distância, e atestada com o título imperial de nobres rurais.1 De acordo com comunicação pessoal do historiador trentino Paolo Odorizzi, uma descendência dessa família é provável, e a conservação de um brasão imperial pelos parentes de Vermiglio torna essa origem virtualmente certa. Aparentemente os Long de Ortisè foram os únicos Longhi a receber um título imperial, e o brasão de Vermiglio é o único brasão imperial Longhi do Trentino. Não se sabe de onde vieram esse Long, eles aparecem do nada em 1529 quando já eram nobres há algum tempo, mas provavelmente a família já tinha raízes aristocráticas quando recebeu o título. O desenho do brasão sugere uma nobilitação antes de c. 1450 e, segundo consta, a maioria dos contemplados descendia de antigos camponeses donos de alódios que a partir do século XII ou procuraram proteção junto aos senhores feudais e tiveram suas terras enfeudadas, sendo agregados às suas casas como vassalos, ou já haviam se destacado por serviços prestados e receberam feudos em recompensa.2 3 O sobrenome nesta região, ao longo de vários séculos, está sistematicamente associado nos registros a negociações de propriedades rurais e direitos hereditários ligados à terra, desenhando um perfil efetivamente feudal para os Longhi desta área. Apesar disso, os registros também mostram que esses primeiros Longhi não devem ter sido latifundiários, pertencendo à pequena nobreza e sendo vassalos de nobres mais ilustres, embora alguns personagens viessem a ganhar distinta projeção. Isso será detalhado no Volume III.

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Odorizzi, Paolo. La Val di Non e suoi Misteri. Tassullo, 2017 Ausserer, Carl. “Der Adel des Nonberges”. In: Heraldisch-Genealogische Gesellschaft Adler. Neues Jahrbuch. Gerold, 1899 3 Maffei, Jacopo Antonio. Periodi istorici e topografia delle valli di Non e Sole nel Tirolo meridionale. Marchesani, 1805 2

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O pioneiro Ignazio Longhi nasceu em Vermiglio em 25 de janeiro de 1827. Seus pais são Matteo I Longhi, nascido em 1790 em Vermiglio, e Antonia Mosconi. No registro do Arquivo de Estado de Trento Ignazio é casado com Maria Polli, 4 nascida em 1820 em Vezza d’Oglio, na Província de Bréscia, comuna localizada a 24 km de Vermiglio. Seus irmãos foram Giovanni Antonio, Giovanni Domenico, Giovanna e Matteo II, e os filhos que se conhece dele foram Giovanni Battista, Angelo, Anna, Dosolina e Matteo III. Nada se sabe sobre Matteo I, mas apesar da fama do seu sobrenome no Trentino, a família devia estar experimentando dificuldades financeiras já no início do século XIX, pois dois de seus filhos, Antonio e Matteo II, são citados em 1832 como lenhadores. 5 Tampouco a vida de Ignazio na Itália é conhecida, mas provavelmente seguiu no mesmo ramo dos irmãos, pois seu filho Giovanni Battista foi carpinteiro antes de emigrar. Uma fonte não oficial cita Ignazio residindo por algum tempo em Pellizzano, onde teria tido filhos que não encontrei registrados nos Arquivos de Trento: Maria Angela, nascida em 1851, Francesco, nascido em 1854, Giuseppe, nascido em 1856 e falecido no mesmo ano, e Natale Luigi, nascido em 1857. Contudo, sua data de nascimento diverge, indicada como 1820. Como o nome da esposa é exatamente o mesmo, parece difícil encará-lo como um homônimo, mas a segurança desses dados permanece incerta. Gardelin, baseado em listas de chegada dos imigrantes, diz que os Longhi, incluindo Ignazio (49 anos), Candida (26), Angelo (12), Anna (11) e Dosolina (2) chegaram em 12 de junho de 1876.6 No livro Colônia Caxias: Origens, Gardelin & Costa informam que Candida era esposa de Ignazio,7 mas o registro tridentino cita Maria Polli como a esposa, as certidões de óbito civil e religiosa de seu filho Giovanni citam a mãe como Maria, sem sobrenome declarado, e a certidão de nascimento de Giuseppe Fortunato, seu neto, cita Anna Maria, também omitindo o sobrenome.8 9 10 11 Obviamente Ignazio casou-se mais de uma vez. Uma Dosollina Giovanna, batizada em Toss em 6 de agosto de 1874, aparece como filha de Ignazio e de Candida Pedron,12 e sem maiores dúvidas trata-se da mesma Candida. Gardelin & Costa citam ainda Matteo III Longhi como filho Ignazio e Candida, chegando em Caxias em 29 de maio de 1897 com 21 anos, casado com Teresa Bampi, filha de Domenico Bampi e Rachelle Tomedi, estabelecidos na 2ª Légua.13 Desta forma, Ignazio teria casado primeiro com a Polli, gerando Giovanni, Angelo e Anna, e depois com a Pedron, que era mais jovem, tendo Dosolina muitos anos mais tarde, concordando com a idade de dois anos que Gardelin diz ela ter ao chegar, e tendo também este Matteo, que veio depois dele, e que leva o nome do avô. Pela sua idade declarada, teria nascido em 1876, no ano da chegada dos imigrantes, e só pode ter sido um bebê deixado na Europa para ser criado por outras pessoas quando a família estava de partida.

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Archivio di Stato di Trento. Nati in Trentino. Busca pelo sobrenome. Podetti, Pietro. Familie e Condizione di Vita. Comune di Commezzadura. 6 Gardelin, Mário & Balen, João Maria. “Primeiras Famílias Chegadas a Caxias do Sul”. Folha de Caxias, 27/05/1989 e 03-10/06/1989 7 Gardelin, Mário & Costa, Rovilio. Colônia Caxias: Origens. EST, 1993 8 Gardelin & Balen, op. cit. 9 Comarca de Caxias do Sul. Certidão de Óbito de João Baptista Longhi, 12/04/1917. Nº 63, livro 30, folha 44v. Cópia autenticada de 15/04/2003 10 Paróquia Santa Teresa. Certidão de Óbito de João Baptista Longhi. Diocese de Caxias do Sul, 12/04/1917. Cópia autenticada de 31/04/2004 11 Comarca de Caxias do Sul. Certidão de Nascimento de Giuseppe Fortunato Longhi, 03/04/1882. S/Nº, folha 173. Cópia autenticada de 23/10/2003 12 Archivio di Stato di Trento. Nati in Trentino. Busca pelo sobrenome. 13 Gardelin, Mário & Costa, Rovílio. Os Povoadores da Colônia Caxias. EST / Folha de Hoje, 1994 5

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Este Matteo foi um dos fabriqueiros da Igreja de Loreto na 2ª Légua e um dos doadores de seus sinos, deixando descendência nesta área que vive até hoje, com vários Longhi ainda ligados a este templo, enquanto outros de transferiram para Três Passos e o Mato Grosso do Sul.14 Ignazio não aparece em mais nenhum registro e faleceu pouco tempo depois da chegada. Sua segunda esposa Candida Pedron, que era natural de Mezzolombardo, segundo Gardelin & Costa casou novamente em 2 de agosto de 1882, quando tinha 46 anos, com Giacomo Baroni, que chegara em 4 de setembro ou outubro de 1876, fixando-se com ele no lote 16 do Travessão Trentino da 2ª Légua, junto com Matteo e Angelo. Mas os problemas não acabam aqui. Segundo o padre e escritor Ary Longhi, a mãe de Angelo, irmão de Giovanni Battista, era Maria Magolini, 15 e não Polli. Porém, não encontrei Magolinis na Itália senão no século XX, e mesmo assim muito poucos. Por outro lado, há muitos Magnolini desde data remota, que parece ser a versão correta. Mas ou Ignazio teve três esposas, ou uma das Marias é um erro. Penso afinal que a tradição narrada pelo padre Ary é equivocada, pois o Arquivo de Estado de Trento é explícito ao colocar Maria Polli como mãe de Angelo, e a data que indica para o nascimento de Angelo é idêntica à que consta em seu túmulo em Caxias, de maneira que o registro parece indubitável. Ela poderia, outrossim, ter o nome Magnolini por parte materna.

Matteo III Longhi. Detalhe de foto de César Bernardi. Abaixo a Igreja de Loreto. Foto blog da Família Caberlon.

A confusão continua. Gardelin & Balen referem um Giovanni Battista como solteiro, com 26 anos ao chegar em 12 de junho de 1876, e por algum motivo o assinalam separado dos outros (Ignazio e sua família), que eles citam em bloco.16 Pareceria que não se trata de um membro da mesma família. Em outra obra, em parceria com Rovilio Costa, Gardelin diz que Giovanni Battista, filho de Ignazio e Maria, chegou em 22 de agosto de 1876, então com 32 anos, já casado com Catharina Rossi, trazendo os filhos Giuseppa, de 4 anos, e Giuseppe, de 9 meses, tendo em 1882 outro filho, Giuseppe Fortunato.17 Como se não bastasse, existe um registro paroquial de 24 de abril de 1877 atestando o casamento de Giovanni Battista, filho de Ignazio Longhi e Ana Maria Polli, com Ana Pezzi, filha de Andrea Pezzi e Catarina Formolo. Parece impossível harmonizar esses registros. É uma circunstância bastante incomum haver dois irmãos que chegaram à idade adulta levando o mesmo nome, mas ao que parece ela se verificou nesta família. Eles poderiam, porém, ter nomes adicionais diferentes, que não ficaram registrados. Os Longhi, de fato, gostavam de nomes semelhantes, como se vê entre os irmãos de Ignazio, onde aparecem dois Giovanni e uma Giovanna. Um outro registro, reforçando a existência de homonímia, indica que em 1880 o Giovanni casado com Ana Pezzi ficou viúvo e teve uma filha chamada Giuseppina.18 Mas depois ele desaparece.

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Dallegrave, Arlindo Luiz. Loreto: 135 Anos de Luta e Trabalho. Maneco, 2012 Apud Gardelin & Costa, op. cit. 16 Gardelin & Balen, op. cit 17 Gardelin & Costa, op. cit. 18 Gardelin, Mário & Costa, Rovílio. Os Povoadores da Colônia Caxias. 2ª Edição. EST, 2002 15

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O registro que mostra Giovanni casado com Catharina Rossi concorda com o de Tessari, Ver nota 19 o maior historiador de São Romédio. Trento assinala a família de Ignazio, mas não fala de nenhum filho Giovanni Battista. Mas permanece o dado relevante de que Ignazio e Maria, ou Anna Maria, são citados como pais do Giovanni Battista casado com Catharina em certidões preservadas pela família, que parecem documentos de toda confiança. Tessari não diz nada sobre Candida, nem sobre Ignazio e Maria, nem sobre irmãos, exceto Angelo. As contradições se explicam porque os registros primitivos de Caxias são notoriamente problemáticos e perdeu-se muita coisa vital tanto aqui como na Europa, e porque tanto Gardelin quanto Tessari deixaram trabalhos com falhas, especialmente Tessari, que deixou o seu incompleto em sua morte e depois foi editado por pessoas sem grande conhecimento do assunto, apesar de ser um testemunho inestimável. Tem-se, ao cabo, um belo imbroglio a respeito dos Longhi. Porém, a família assinalada por um dos estudos de Gardelin e por Tessari, que mostra Giovanni Battista casado com Catharina Rossi, é a que se tornou a “canônica” de São Romédio e é a que efetivamente se conhece como a minha ascendência. Maria Polli pertenceu a uma família patrícia de Vezza d’Oglio, que em outras cidades produziu muitos nobres e patrícios, além de um extraordinário número de notários. Em Vezza o nome é grafado invariavelmente como Poli, embora o Arquivo de Estado de Trento o cite como Polli. Várias fontes, no entanto, referem que são variantes perfeitamente sinônimas, como veremos no Volume III. Não há registro de chegada de nenhum homem com sobrenome Polli em Caxias, mas aparecem as variantes Polla, Pollo e Poli. De todos os citados por Gardelin & Costa, apenas Ferdinando Polla nasceu no Tirol. Não obstante, o nome Polli aparece na imprensa em 1933 com Antonio Polli, Lydia Polli e Catharina Polli Assunção listados no registro eleitoral,20 21 e no mesmo ano Henrique noticia o nascimento de seu filho Henrique Jacimar,22 e Olga casa-se com Henrique Luiz Torresini.23 Parece provável que esse grupo que surge de repente em 1933 tenha vindo de outro lugar, e seu parentesco com minha ancestral não pôde ser averiguado. Há registros de outros casamentos entre os Longhi e os Pedron (Pedroni) na Itália, e estreitariam laços novamente no Brasil. A família também foi pioneira de São Romédio e deixou importante marca na comunidade, florescendo até hoje. Vinham de Toss, a mesma área onde foram assinalados muitos Longhi, e não muito distante de Vermiglio e Mezzolombardo. Entre os séculos XVI e XVIII os Pedron estavam entre as principais famílias de Toss, foram membros do patriciado rural, ganharam riqueza e fundaram vultosos benefícios eclesiásticos.24 O irmão do pioneiro Giovanni, Francesco Pedron, que ficou na Itália, era administrador dos bens do poderoso conde Thun, e como se verá no Volume VI, vários Longhi são assinalados desde séculos atrás como vassalos e funcionários desta influente família comital, de modo que o contato entre os Pedron e os Longhi deve ser antigo.

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Tessari, João Antônio. Memórias. E.A., 1994. Assim como fiz antes com Costamilan, uma vez que Tessari será usado extensamente como referência desta parte em diante, quando seu nome for citado no texto, a referência de rodapé será omitida. Nos outros casos, não. 20 “Serviço Eleitoral”. O Momento, 08/03/1933 21 “Edital”. O Momento, 01/03/1933 22 “Nascimentos”. 15/06/1933 23 “Casamentos”. O Momento, 16/10/1933 24 Nardon, Vittorio. Al Suono della Campana – Storia di Toss. Commissione Culturale di Ton / Cassa Rurale di Vigo Anaunia, 1989

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Atrás, Dosolina, Magdalena, Benjamin, Massimo, Victorio, João, Generosa e Lucia. Na frente, Angelo, Lucia Candida Stalivieri, Ida, Pietro Pedron e Adelino. Coleção de Gilmar Pedron Lorenzi.

Maria Pedroni Pedron. Ao lado, Angélico Pedron e Maria Giacoma Giordano Pedron. Coleção de Gilmar Pedron Lorenzi.

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Diz o pesquisador Gilmar Pedron Lorenzi que Giovanni Pedron, nascido em Toss em 13 de junho de 1845, junto com sua esposa Maria Pedroni, nascida em Toss em 20 de julho de 1852, mais a filha Narcisa Marianna, irmãos e os pais, chegaram a Caxias em 14 de maio de 1878. É possível que tenham sido antes remetidos irregularmente ao Espírito Santo, e tomado parte em uma revolta de colonos, sendo então embarcados para o sul, seu destino inicial. Na chegada foram agricultores, mas Giovanni também se ocupou como pedreiro, participando da construção da Catedral e do muro de arrimo da primeira urbanização da Praça Dante Alighieri,25 além de ser membro da Sociedade Igreja de São Romédio, para a qual doou um pedaço de terra onde foram instalados o cemitério, a primeira capela de madeira, a praça e a escola. O casal gerou também Narciso, Emma, José, Angélico, Luminato, Abramo, Evelina e João. Sua família deixou importante contribuição para a comunidade. Angélico nasceu em 25 de março de 1885 no Brasil, e casou-se com Maria Giacoma Giordano, nascida em 17 de outubro de 1890 em Anzaven, Província de Belluno. Angélico foi ativo membro da Sociedade Igreja de São Romédio, em 1920 integrou o triunvirato diretor,26 foi um dos fundadores da terceira igreja 27 e hoje é nome de uma rótula viária na cidade. Gilmar informou o seguinte sobre o casal: “Angélico e Maria tiveram nove filhos: Romilda, Attílio, Leonilda (Nilda), Italino, Paulino (Paulo) Rosalina, Josephina Elza (Fina), Beltrão Eugenio (Nino), Julieta (Júlia). [...] O casal era agricultor, além do parreiral de uvas que produzia para vender para a Vinícola Luiz Antunes plantavam milho, legumes e verduras, tinham uma pequena criação de animais, vacas, galinhas, porcos para o consumo próprio. Angélico também fazia serviços de carpinteiro para ajudar no orçamento financeiro da família e construiu diversas casas de madeira em Caxias”. Attilio foi membro da Sociedade da Igreja e secretário do E. C. Cruzeiro do Sul.28 Gilmar continua: “Eugenio e os filhos Attilio Angelo e Pedro também eram construtores em pedra e madeira. Attílio, mais conhecido por Angelo Giordano, foi um dos principais responsáveis pela construção dos pavilhões de alvenaria da vinícola de Luiz Antunes no Bairro Panazzolo. Pavilhões anteriores em madeira também foram edificados por Eugenio e os dois filhos. O construtor Silvio Toigo, sogro do Luiz Zelmar Giordano, que é filho do Attílio Angelo, também foi construtor de parte da vinícola. A esposa do Attílio era Maria Dalfovo, que tem parentesco com os Longhi. “Maria Giordano Pedron foi durante muitos anos a zeladora da Igreja de São Romédio. Era a moradora mais próxima. Em 12 de julho de 1931 Angélico Pedron e Maria Giordano Pedron doaram 844 metros quadrados de terreno para a construção da nova igreja. [...] Em 1960 Maria Giordano Pedron então viúva vendeu para a Sociedade da Igreja 660 metros quadrados por um valor módico. [...] Somando a doação do Giovanni em 1903 e do filho Angélico em 1931 os Pedron foram os que mais doaram terras para a Mitra Diocesana, no total de 1.267 metros quadrados. Contabilizando os 660 metros que Maria vendeu por um valor simbólico o total é de 1.927 metros quadrados”.

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Adami, João Spadari. História de Caxias do Sul, 1° Tomo – 1864 – 1970 Comunidade de São Romédio. Festas em São Romédio até 1920, 2015 27 Sessão de Assembléa Geral Extraordinaria – Acta nº 1. Livro de Atas da Associação Igreja de São Romédio, 12/07/1931 28 “S. C. Cruzeiro do Sul”. O Momento, 13/01/1936 26

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À extrema direita, Attilio Pedron, filho de Angelico. Na foto abaixo, atrás: Horácio, Iria, Ivone, Aládia, Lorena e Homero. Na frente os pais Maria Segat e Luminato Pedron. Fotos de Gilmar Pedron Lorenzi.

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Dos filhos de Giovanni e Maria, Evelina, “gentile signorina”, casou com Apolinário Alves dos Santos, professor e diretor Pedagógico da Escola Elementar; 29 João foi ferreiro, agricultor e comerciante, sócio da Fedrizzi & Pedron, 30 e como representante da Cooperativa Agrícola Aliança foi um dos fundadores da Festa da Uva;31 esposo de Maria Teresa Costamilan, filha do celebrado Caetano, já citados na seção sobre os Costamilan no Volume I; sua filha Isolde foi professora na Escola Complementar.32 Luminato, casado com Maria Santini, progrediu muito, foi citado como sendo “do alto comércio”,33 grande produtor e comerciante de vinho, um dos fundadores do Sindicato e da Sociedade Vinícola Rio-Grandense,34 expôs seu produto em Porto Alegre,35 foi conselheiro da Sociedade Operária São José,36 presidente do Esporte Clube Cruzeiro do Sul e da Sociedade Igreja de São Romédio, um dos fundadores da atual igreja, contribuiu para a sua construção e a do Hospital Pompeia,37 e hoje é nome de rua. Suas filhas Ivone, casada com Luiz Frizzo, e Iria, casada com Júlio Travi, foram citadas nas colunas sociais. Também foram dignos de registro Ettore, casado com Elza Correa Gomes, entre os principais fabriqueiros da atual Igreja de São Romédio38 e festeiro de Santa Teresa;39 Maria de Lourdes, professora; 40 Henrique, comerciante; e Olmiro, diretor Técnico do Esporte Clube Juventude.41 Antonio, Inês, Giacomo e Osvaldo são nomes de ruas. Mais recentemente, Thaila, fotógrafa e professora de fotografia especializada no retrato de recém-nascidos;42 e Janice, assistente social, uma das idealizadoras do programa Trabalho 10, Fome Zero, implantado em Caxias em 2003, iniciativa reconhecida pelo governo federal, que a tomou como exemplo para todo o Brasil.43

29

“Il Prof. Apollinario Alves dos Santos”. Città di Caxias, 08/02/1915 “Ao Commercio”. O Brasil, 29/09/1924 31 “E as Festas da Uva se tornaram vitoriosas”. Pioneiro, 18/02/1978 32 “O Professorado Municipal de Caxias Acompanha a Evolução da Moderna Pedagogia”. A Época, 20/07/1941 33 “Aniversarios”. O Momento, 04/04/1935 34 Jalfim, op. cit. 35 “Exposição de Vinhos do Rio Grande do Sul”. Città di Caxias, 01/09/1918 36 “Sociedade S. Jose´”. O Momento, 23/05/1935 37 “Associação Damas de Caridade”. A Época, 14/09/1941 38 Tessari, op. cit. 39 “Festa de Santa Thereza”. O Momento, 27/09/1934 40 “A Escola Complementar São José e as Alunas Mestras de 1940”. O Momento, 14/04/1941 41 “Nova Diretoria do Esporte Clube Juventude”. A Época, 14/01/1954 42 “San Pelegrino apresenta exposição fotográfica de Thaila Pedron”. Tá Rolando, 12/06/2014 43 “Marisa: fomos nós e não Sartori quem criou o Trabalho 10, Fome Zero”. PTSUL, 20/10/2014 30

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Atrás, Tranquilo, Pacifico, Pedro, Emilio, Severino e Luiz João. Na frente, Evaristo, Pierina, Genoveva Frassini, Hilário, Giovanni Battista Lorenzi (Pacifico), Henriqueta e Octávia. Coleção de Gilmar.

O historiador Gilmar Pedron Lorenzi, que é ativo membro da Sociedade, deu muitas informações para este estudo e disponibilizou o Livro de Atas da Sociedade e outros documentos, é filho de Emilio Lorenzi e Josephina Elza Pedron, e neto de Angélico. Um ramo se estabeleceu em Flores da Cunha, descendentes de Giuseppe e Giordano, irmãos de Giovanni, onde se tornaram conhecidos Alexandre, vereador;44 Beno, César e Marco Antônio, altos dirigentes da Metalbus Indústria Metalúrgica Ltda.,45 e Gilberto Luís, vice-prefeito.46

Gilmar Pedron Lorenzi. Foto de Gilmar.

44

“Notícias de Flores da Cunha”. O Momento, 21/08/1948 “Quem é Quem no Setor Automotivo”. Automotive Business, 2012 46 Portal da Prefeitura de Flores da Cunha. Galeria de Ex-Prefeitos. 45

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Deixemos Ignazio e sua incerta família, e passemos a Giovanni Battista, meu tataravô, já instalado em Caxias. No Tirol havia trabalhado como ferreiro, carpinteiro e moveleiro, mas iniciou sua nova vida como agricultor, adquirindo 1/4 do lote 37 do Travessão Santa Teresa da 5ª Légua, na Comunidade de São Romédio, localidade onde primeiro se formou um núcleo comunitário, e por isso considerada o berço de Caxias,47 48 hoje localizada no bairro Panazzolo. Giovanni e sua família tiveram um papel de importância central na fundação e crescimento da comunidade. Assim que foi criada a Sociedade Igreja de São Romédio, em 25 de dezembro de 1876, a base institucional da comuna que ali se formaria, cujo perfil Placa instalada na pedra fundamental da comunidade de será descrito em detalhe mais tarde, foi eleito para o São Romédio, fundada por meus tataravós Pezzi e Longhi e triunvirato diretor, permanecendo na função até 1894, outros pioneiros. sendo também um dos fabriqueiros da primeira capela de madeira, inaugurada com missa solene no dia 15 de janeiro de 1878 pelo padre Bartolomeu Tiecher.49 50 Tessari é quem tem mais informações sobre ele: “Em 1879, deixando de lado o ramo da agricultura e, aproveitando as águas do rio que passava na divisa de sua propriedade, no oeste, instalou um moinho, uma serraria e uma carpintaria e, com a ajuda da esposa Catharina, com muito êxito, passou a trabalhar como moleiro, carpinteiro, serrador de madeiras e ferreiro. Na verdade, com todas essas profissões, ele era um ‘João faz tudo’ para os moradores de São Romédio. [...] “Vencida a etapa mais difícil de adaptação nas terras daqui, lá pelo ano de 1880, os primeiros arados fabricados por Giovanni Battista Longhi e Eugênio Marcola não eram mais tracionados por seres humanos, mas por bois, mulas e burros que foram adquiridos nos Campos de Cima da Serra ou, ainda, na colônia alemã de São Sebastião do Caí. As primeiras pipas para vinho foram fabricadas por um grupo de imigrantes composto por Pietro Pezzi [outro tataravô e também membro do triunvirato diretor], Celeste Fedrizzi e Giovanni Battista Longhi, provavelmente em 1880. [...] Era em alambiques que Santo Dalfovo, Ermenegildo Rossi [sogro de Giovanni] e Celeste Fedrizzi fabricavam graspa e outros destilados de frutas. [...] “Para movimentar todos esses ramos de negócios, Giovanni teve que encontrar pessoas com prática para ajudá-lo. Entre os contratados estava Pietro Pezzi, que era carpinteiro e prático na fabricação de pipas para vinho, e plainador de madeira, Eugenio Marcola, que às vezes ajudava na ferraria, e seu irmão Angelo, o qual vinha do Monte dei Bechi para ajudá-lo na fabricação de móveis. Mais tarde, lá pelos meados do ano de 1907, Angelo Longhi, irmão de Giovanni Battista, veio com a família do Serro da Olaria e incorporou-se como sócio da carpintaria e marcenaria de seu irmão Giovanni. A partir daí, e, por muito tempo, fabricaram móveis, altares, esquadrias, 47

“Comunidade caxiense celebra 135 anos”. Correio Riograndense, 2006 Tessari, op. cit. 49 Tessari, op. cit. 50 Gardelin, Màrio. Paróquia Santos Apóstolos, Capelas, Comunidades-Igreja. Universidade de Caxias do Sul, Assessoria para Assuntos de Povoamento, Imigração e Colonização. Texto n° 192, 29/09/2002 48

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brinquedos para crianças e objetos para igreja, tais como candelabros, lanternas e outros enfeites ornamentais. Quem diria que, em época tão longínqua, São Romédio era o maior centro industrial e comercial da antiga Colônia Caxias! Nossos avós sempre diziam que, enquanto São Romédio se projetava em todos os sentidos, na sede da Colônia só eram vistas cabras perambulando, cada vez em maior número. [...] Vide nota 51 “Com 24 indústrias de pequeno e médio porte e uma casa comercial, a comunidade de São Romédio tornou-se, naquele tempo, o maior centro agrícola, industrial e comercial de Caxias. Moradores de toda a 5ª Légua vinham a São Romédio para moer o trigo, milho e outros produtos da lavoura nos moinhos de Giacomo Clamer, Giovanni Battista Longhi e Giustina Brustolin. Toras de pinheiros [...] eram arrastadas para as serrarias de Giovanni Battista Longhi e Donato Zanol para serem transformadas em tábuas e caibros. Na marcenaria e na carpintaria, Giovanni Battista Longhi fabricava, com muito estilo, camas, armários, gamelas e outros utensílios domésticos, e, juntamente com Pietro e Celeste Fedrizzi, as primeiras pipas para vinho que, ainda hoje, são usadas por muitos. [...] Eugenio Marcola e Giovanni Battista Longhi, com suas ferrarias, fabricavam enxadas, pás, picões, foices, foicinhas, facas, facões e ferraduras para cavalos”. Depois de ter sido, segundo Adami, um dos primeiros comerciantes da cidade,52 com tantos investimentos Giovanni logo acumulou um considerável capital, tornando-se dono, de acordo com Tessari, de uma serraria, uma fábrica de pipas (em sociedade com Pietro Pezzi e Celeste Fedrizzi), uma ferraria, uma carpintaria e uma fábrica de móveis. Os Livros de Registro de Imposto sobre Indústrias e Profissões o citam entre 1908 e 1910 também como dono de dois moinhos e uma bodega. Mas assim que ele conquistou esse grande florescimento, isso no início do século XX, começou seu declínio. De acordo com Tessari, mudanças no contexto econômico regional, a taxação de produtos básicos com altos impostos, a transferência de muitas famílias para outras paragens, e a crescente concorrência enfrentada pelas empresas locais diante da multiplicação de negócios por toda a zona colonial, desaceleraram todos os processos produtivos da comunidade, e “em poucas décadas, toda a realidade era outra”. Seus últimos anos passou com a esposa na casa do filho Victorio, na rua Antônio Prado, fora no núcleo de São Romédio, mas não distante. Diz Tessari que “não se sabe precisamente o dia e ano em que Giovanni Battista Longhi faleceu. Sabe-se que o dia do enterro foi de chuva torrencial e de vento muito forte”. Contudo, sobreviveu uma certidão de óbito informando que Giovanni Battista faleceu em 12 de abril de 1917.

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Os “avós” exageram. Outras fontes indicam um rápido crescimento para a Sede Dante, que logo desenvolveu um forte comércio e indústria e vida cultural e religiosa, além de sediar os Poderes e organizar todo o processo de colonização do entorno, e Roberto do Nascimento, em sua dissertação de mestrado Campo dos Bugres-Sede Dante: a formação urbana de Caxias do Sul (1876-1884) (2009), assinala que em 1883 a Sede já possuía 400 casas e numerosos negócios. Gardelin & Costa, na 2ª edição de Povoadores da Colônia Caxias, dizem a mesma coisa, referindo que pelas profissões que aparecem na Sede entre 1881 e 1884 ela “teve um crescimento muito rápido, transformando-se em centro econômico de relevante importância, muito mais cosmopolita do que se possa imaginar; não espelha nem reflete, na mesma proporção, o mundo rural que a abraça”. De qualquer forma, é fato que São Romédio desenvolveu-se também de maneira expressiva em pouco tempo. 52 Adami, João Spadari. Caxias, a Pérola das Colônias. Tipografia d’O Momento, 1950

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20 Assinaturas dos pioneiros Giovanni Battista Longhi e Ermenegildo Rossi no Livro de Ouro das obras da Catedral, 1896-1897. Praticamente todos os outros nomes da lista são parentes consanguíneos ou colaterais. Acervo do Arquivo Histórico Municipal.

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Missa e almoço festivo em 20 de março de 2016 comemorando os 140 anos da Comunidade de São Romédio.

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Mais de dez anos após o sepultamento, o túmulo de Giovanni Battista Longhi foi aberto para ser reformado e para que seus restos mortais fossem depositados no ossário comum. José e Antonio Tessari, encarregados das reformas, ao abrirem o caixão, nada encontraram a não ser formigas. O diálogo que se travou entre José e sua esposa Pina (Gioseppina), quando ele relatou o ocorrido, foi preservado pelo historiador Tessari: – Pina, gavemo verto la tumba de Battista Longhi, e quando gavemo verto el caçon, dentro non gavemo trová niente. Guera sol un grande nido de formiganni. – Non lé possibile! – Lé vera si. El pol dir-lo tu fradei Francesco e Gigio e anca el Angelico Pedron que i ga visto quando go verto el caçon. O mistério permanece até hoje. A contribuição do casal foi reconhecida como importante, e seus nomes batizaram ruas da cidade.53 54 O nome de Giovanni também foi inscrito na pedra fundamental da comunidade e em um monumento que posteriormente foi erguido.55 Além de Giuseppa e Giuseppe, dos quais não restou nenhuma lembrança, presumindo-se que tenham morrido ainda crianças, Giovanni e Catharina tiveram no Brasil mais sete filhos, dos quais quase nada se sabe: 1) João Longhi, comerciante, pai de Felicità.56 2) Cesar Longhi. 3) Victorio Longhi, casado com Lucia Pezzi, abordados mais tarde. 4) Rosa Longhi (06/07/1891—04/08/1929), uma das fundadoras da Igreja de São Romédio, casada com Francisco Pezzi. 5) José Fortunato Longhi, casado com Santina Meneguzzi. 6) Felicità, falecida em 19 de novembro de 1946, casada com Luiz Giusto, funcionário da Metalúrgica Eberle e sócio da Luiz Giusto & Irmãos.57 Não foi possível descobrir a origem e família de Luiz. Foram pais de a) Gema Giusto; b) Eugenio Giusto; c) Hiloi Giusto (Eloi), funcionário da Metalúrgica Eberle, auxiliar da Biblioteca e conselheiro e diretor do Departamento de Futebol do Grêmio Atlético Eberle,58 tesoureiro-geral do Grêmio Esportivo Fluminense,59 ao que parece residente em Ana Rech e casado com Maria Eliza; d) Olga Giusto; e) Norma Giusto, primeira colocada no curso de Datilografia da Escola Remington,60 provavelmente trabalhou em escritório, e f) Noemi Therezinha Giusto. 7) Felice Longhi (Félix), nascido em 1886, casado com Albina Dago (?), teve um círculo de amigos na elite, como se percebe em notícias fúnebres na imprensa,61 62 mas não descobri que ocupação tinha; contribuiu para a Festa de Santa Teresa de 1908.63 Felice foi pai pelo menos de: a) Antonio Longhi, e b) Pedro João Longhi, conselheiro e jogador do Grêmio Atlético Guarany, diretor de Campo do Grêmio Atlético Eberle64 65 66 e “alto funcionário” da Metalúrgica Eberle,67 casado com Antonieta Gallio.68 53

Prefeitura Municipal de Caxias do Sul. Lei nº 1.674 de 6 de maio de 1968 Prefeitura Municipal de Caxias do Sul. Lei nº 2.852 de 27 de dezembro de 1983 55 “Comunidade caxiense celebra 135 anos”, op. cit. 56 “Registro aureo". Correio do Município, 11/07/1909 57 “Despachos”. A Época, 11/08/1940 58 “Grêmio Atlético Eberle”. O Momento, 03/05/1947 59 “Tem Nova Diretoria o G. E. Fluminense”. O Momento, 26/07/1947 60 “Nova Turma de Datilógrafos”. A Época, 18/05/1941 61 “Agradecimento”. O Brazil, 19/07/1913 62 “Agradecimento”. O Brasil, 11/03/1922 63 “Continuação da subscripção popular para os festejos de Santa Theresa”. Gazeta Colonial, 24/10/1908 64 “Pelas Sociedades”. O Momento, 27/04/1936 65 “Gremio A. Eberle”. O Momento, 30/01/1943 66 “Stoffels x Giuliani”. O Momento, 27/11/1943 54

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Rosa Longhi Pezzi e Pedro João Longhi

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“Aniversários”. O Momento, 12/07/1947 “Consorcio”. O Momento, 31/05/1934

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Alexandrina von Schlabendorff e seu marido Clemente Fonini. Arquivo Família Mancuso.

Antonieta era filha de Clementina Fonini e Antonio Gallio, exator municipal, e neta da antiga baronesa Alexandrina, irmã do barão João Daniel von Schlabendorff, primeiro marido de Maria Sartori, citados no Volume I. Alexandrina era casada com Clemente Fonini, professor, agente dos Correios e fiscal da antiga Comissão de Terras. Antonieta era sobrinha, entre outros, de Cecilia Fonini, casada com o célebre fotógrafo Domingos Mancuso, e de Emilio Fonini, proprietário e gerente do jornal Città di Caxias e depois de O Momento, de grande circulação.69 Pedro João e Antonieta foram pais de b1) Paulo Luiz Longhi,70 casado com Clarete Maria Binatti (?), b2) Valter Longhi,71 hoje nome de rua, b3) Lorena Santa Longhi, casada com um Mosna (Eduardo ?), e mais b4) “um robusto garoto” 72 cujo nome a imprensa não declarou.

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“Alexandrina Fonini”. O Momento, 13/01/1951 “Pedro Longhi e Esposa”. O Momento, 11/07/1935 71 “Valter Longhi”. O Momento, 17/10/1938 72 “Lar em festas”. O Momento, 21/10/1944 70

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Cecilia e Domingos Mancuso. Arquivo Família Mancuso.

Família de Domingos Mancuso. Da esquerda para a direita: Clementina Fonini, (cunhada) Alexandrina von Schlabendorff Fonini (sogra), Carmela Mancuso (filha) e Cecília Fonini Mancuso (esposa). Reno Mancuso (filho), Caetano Mancuso (filho), Rômulo Mancuso (filho), Clemente Mancuso (filho) e Rubi Mancuso (filho). Arquivo Família Mancuso.

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Moinho de Giacomo Clemer, Giovanni Battista Longhi e Giustina Brustolin. Abaixo, Angelo Longhi e Angela Maggi com seus primeiros filhos. Coleção de Idalvina Novello Dalfovo.

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Angelo Longhi e Angela Maggi Longhi. Abaixo, Herminia Longhi Dalfovo.

Angelo Longhi, nascido em Vermiglio em 6 de março de 1864 e falecido em Caxias em 2 de dezembro 1931, foi casado com Angela Maggi, natural de Milão, nascida em 2 de fevereiro de 1869 e falecida em 26 de junho de 1959, e se estabeleceram em 1882 no Travessão Nova Palmira da 2ª Légua. Segundo um requerimento que Angelo enviou à Junta Governativa de 1890, ali passaram dificuldades e viviam na pobreza. Ele havia construído sua casa e benfeitorias e aberto plantações em terras supostamente devolutas, mas depois de tudo isso feito ficou sabendo que as terras pertenciam a um certo Maurício José d’Almeida, que agora vinha exigir a reintegração da posse. Alegando falta de recursos e não tendo ninguém a quem recorrer para não cair na mais completa miséria, vinha implorar à Junta que lhe concedesse a posse das terras. Não há notícia de como o pedido foi tratado, mas como já se disse, mudou-se em torno de 1907 para São Romédio e tornouse sócio do irmão Giovanni Battista na carpintaria e na fábrica de móveis. Foi ativo na comunidade, sendo atestado em 1920 como membro do triunvirato diretor da Sociedade Igreja de São Romédio, junto com Giovanni Pezzi e Angelico Pedron.73 Angela foi professora, festeira de São Romédio, catequista, puxadora de terço e cantora da igreja,74 uma das fundadoras da nova igreja e fez uma doação de 300 mil réis para a sua construção,75 além de várias outras contribuições menores, sendo um ativo membro da Sociedade. Três de seus filhos casaram com descendentes de Giovanni Battista Dalfovo, capocomune (líder comunitário), um dos fundadores e titular do triunvirato diretor da Sociedade: a) Rodolfo, casado com Adele Dalfovo; b) Herminia, casada com 73

Comunidade de São Romédio. Festas em São Romédio até 1920, 2015 Tessari, op. cit. 75 Sessão de Assembléa Geral Extraordinaria – Acta nº 1. Livro de Atas da Associação Igreja de São Romédio, 12/07/1931 74

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Santo Dalfovo, de pé ao centro, ao lado da esposa Erminia e do pai Giovanni Battista, sentado. Os outros são filhos de Santo: Vitória, Adele, João Batista, Maria e Primo.

João Batista Dalfovo, agricultor e produtor de vinho e graspa, mais adiante novamente abordados,76 77 e c) Alessandro (Alexandre), casado com Rosa Dalfovo (Rosina). De Alessandro nada se sabe além de ter sido membro da Sociedade da Igreja. Dos outros logo falaremos. Os Dalfovo (ou dal Fovo) já iniciaram sua vida no Brasil em posição de destaque. Giovanni Battista, o pioneiro, foi o líder comunitário, chamado na época capocomune, e além de ser um grande produtor de vinho e graspa, desempenhou um grande papel nas atividades da Sociedade Igreja de São Romédio, sendo o presidente do seu triunvirato diretor, como já foi mencionado, e um dos fabriqueiros das duas primeiras capelas de madeira.78 A descendência de Giovanni Battista, casado com Maria Perli, é um pouco confusa. Tessari o coloca como pai de Santo, Primo, Maria, João (Batista), Ermínia, Vitoria, Adele e Rosa (Rosina), mas na árvore genealógica do website da família, de onde vem a foto acima, ele só aparece como pai de Santo, Basílio e Rosa, e Santo aparece como pai de Primo, Vitoria, Maria, Adele e João Batista. Primo faleceu aos 11 anos; Maria foi casada com Angelo Giordano; Vitoria, com Francisco Tessari; Basilio, com Maria Adami; Adele, nome de rua, casou-se com Rodolfo Longhi, e Rosa, com Alessandro Longhi. Os Dalfovo deram grande contribuição à comunidade e à Sociedade da Igreja, ocupando muitos cargos na Diretoria e várias vezes a Presidência. Basilio e Santo foram agricultores premiados, cantores da igreja, festeiros do padroeiro, coveiros e zeladores do cemitério, e nomeados os primeiros professores do local pela Assembleia da Sociedade em 28 de dezembro de 1877, ensinando Matemática, Geografia, Italiano, História Sagrada, Catecismo e Noções de Civilidade. 79 Basílio foi também inspetor municipal da 9ª Légua80 e suplente do triunvirato de São Romédio, e Santo presidiu a Sociedade em 1918,81 sendo hoje nome de rua. 76

Tessari, op. cit. Gardelin & Costa, op. cit 78 Tessari, op. cit. 79 Tessari, op. cit. 80 Relatorio Apresentado ao Conselho Municipal de Caxias pelo Intendente Vicente Rovea, 15/11/1907 81 Tessari, op. cit. 77

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Diploma de medalha de prata que Santo Dalfovo recebeu pela sua produção de frutas na Exposição Agro-Industrial de 1916. Coleção Erineu Dalfovo.

Eles aparecem na imprensa agradecendo ao médico Antonio Giuriolo por ter operado com sucesso seu pai da catarata, permitindo que voltasse a enxergar.82 A descendência de Basílio se radicou principalmente em Piratuba, estado de Santa Catarina. Santo casou-se com Erminia Marcola, lembrada por Tessari como dotada de “virtudes de uma santa mulher, amada por todos os habitantes da Comunidade de São Romédio e de outros municípios”.83 Ele acrescenta: “Como parteira, embora não formada, atendia a todas as mães quando davam a luz a seus filhos, inclusive nos partos difíceis, pois não havia outros recursos naquele tempo. Assim mesmo ela dava conta com muita eficiência. [...] Como giunta ossi, não havia fraturas ou deslocamentos de ossos e nervos que ela não colocasse no respectivo lugar e com muita perfeição. Como enfermeira, quando as doenças nas famílias não podiam ser curadas por conta própria, [...] com suas ervas medicinais, curava-as. [...] Maravilhosa mulher que foi vida, força, coragem, fé e esperança para todos os imigrantes italianos que povoaram a Comunidade de São Romédio”.84

82

“Voto de gratidão”. O Brazil, 21/08/2009 Tessari, op. cit. 84 Tessari, op. cit. 83

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Na foto acima, Idalvina Novello Dalfovo. Foto no Pioneiro na matéria da página seguinte, de 07/03/2014. Na foto ao lado, na fila de trás estão Abramo e Henrique Dalfovo. Na frente: Hermínia Longhi Dalfovo, Erineu Dalfovo, João Dalfovo e Geni Dalfovo. A foto marca as Bodas de Prata do casal. Foto em Tessari, op. cit.

João Batista Dalfovo, nascido em 2 de dezembro de 1898 e falecido a 9 de janeiro de 1973, foi o herdeiro do grande negócio de vinho do pai, presidente da Sociedade Igreja de São Romédio e várias vezes conselheiro,85 casado com Hermínia Longhi, nascida em 25 de julho de 1901 e morta em 17 de fevereiro de 1984, professora. Quando o projeto de denominação de uma rua com seu nome foi aprovado, Hermínia foi louvada na Câmara Municipal como uma líder, dedicada à promoção da vida comunitária e a obras beneficentes, e nas palavras da vereadora Geni Peteffi, “essa é uma homenagem muito justa, porque na zona do Palermo, nessa região, ela era a ‘prefeita’ ”.86 O casal teve os filhos Geni, que morreu pequena; Henrique, casado com Eulalia Pellini; Geni II, nome de rua, casada com Antelmo Prochnow; Albano Santo, casado com Lourdes Tos, e Erineu Antonio, casado com Idalvina Novello,87 ela presidente da atual Associação da Igreja de São Romédio, que substituiu a antiga Sociedade, e enfocada na matéria na página seguinte.88

85

Livro de Atas da Associação Igreja de São Romédio. Câmara Municipal de Caxias do Sul. 493ª Sessão Ordinária da XIV Legislatura, 02/10/2008 87 Tessari, op. cit. 88 “Evento comemora 135 anos de fundação da comunidade de São Romédio”. Rádio Caxias AM, 19/03/2011 86

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Mais tarde os Dalfovo se espalhariam pela cidade e outros locais, mas raramente aparecem na imprensa até os anos 60, assim como ocorreu com praticamente todos os pioneiros da comunidade. Em tempos modernos podem ser destacados, entre outros, Cristina, representante local da Cruz Vermelha e comendadora em 2014 da tradicional feijoada beneficente organizada pelo conhecido cronista social João Pulita,89 e Jairo, grande empresário construtor e presidente do Sindicato da Construção Pesada e Terraplanagem.90

89 90

Pulita, João. “Cristina Dalfovo representa a Cruz Vermelha em evento”. Pioneiro, 29/05/2014 “Expediente”. Revista Informações & Negócios, 2009; 17(137)

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33 Mausoléu Longhi Dalfovo, cemitério de São Romédio, datado de 1929.

Voltemos à descendência de Angelo Longhi. Seu filho a) Rodolfo Longhi, nascido a 11 de maio de 1891, foi figura destacada na cidade. Teve uma empresa de construção, havendo registro de uma intensa atividade na década de 30. Somente entre 1932 e 1934 construiu treze casas.91 Deixou forte marca também na Comunidade de São Romédio, sendo um dos mais ativos membros da Sociedade Igreja de São Romédio, conselheiro fiscal dez vezes, vice-presidente e três vezes presidente (a terceira gestão durou três anos),92 um dos fundadores e fabriqueiro da atual Igreja, fez uma doação de 800 mil réis para sua construção93 94 e foi um dos padrinhos da imagem de Santo Antônio na sua entronização.95 Foi também festeiro de Santa Teresa na Catedral, citado na imprensa como “nome acatado no ambiente religioso de nossa terra”. 96 Diz a tradição familiar que ele mudou-se para Porto Alegre durante algum tempo, voltando para Caxias no fim da vida, onde faleceu em 8 de junho de 1960. No entanto, isso é difícil de conciliar com a documentação da Sociedade, aparecendo em suas atas desde 1931 até 1959, com poucas interrupções. O hiato mais significativo nas atas ocorre entre o início de 1946 e o início de 1950, mas em 1947 é citado na imprensa de Caxias comemorando o seu aniversário. 97 Se ele residiu na capital só pode ter sido por pouco tempo, voltando bem antes de falecer. Com Adele Dalfovo teve os filhos: a1) Victor, a2) Bruno, a3) Osvaldo João, a4) Terezinha e a5) Heitor Angelo Longhi.

Rodolfo Longhi e Adele Dalfovo em seu casamento, 1922. Coleção de Irma Giordano Lorenzi e Luiz João Lorenzi. Abaixo, assinatura de Rodolfo no Livro de Atas da Sociedade Igreja de São Romédio. Reprodução de Gilmar Pedron Lorenzi.

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“Relação das licenças concedidas pela Diretoria de Obras da Prefeitura Municipal de Caxias”. O Momento, 03/05/1935 92 Livro de Atas da Associação Igreja de São Romédio. Atas nº 15 (18/02/1934), 18 (27/05/1934), 23 (29/12/1935), 24 (27/12/1936), 25 (26/12/1937), 26 (01/01/1939), 27 (31/12/1939), 29 (04/06/1942), 31 (02/01/1943), 32 (14/01/1945), 34 (06/01/1946), 58 (08/01/1950), 61 (04/01/1953), 63 (06/01/1955), 64 (06/01/1956), 65 (06/01/1957) e 68 (06/01/1959) 93 Tessari, op. cit. 94 Livro de Atas da Associação Igreja de São Romédio. Sessão de Assembléa Geral Extraordinaria – Acta nº 1, 12/07/1931 95 Livro de Atas da Associação Igreja de São Romédio. Ata nº 32, 14/01/1945 96 “Caxias Católica”. O Momento, 30/09/1941 97 “Fazem anos”. O Momento, 10/05/1947

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35 Notícia da participação de Rodolfo Longhi como festeiro de Santa Teresa em 1941. Também são citados os parentes Ettore Pezzi e Dante Paternoster.

Foto comemorando as Bodas de Prata de Rodolfo e Adele Longhi em 14 de junho de 1947, em São Romédio, junto com seus filhos. Atrás, Victor, Heitor e Bruno, na frente, Osvaldo, Adele, Rodolfo e Terezinha. Coleção de Irma Giordano Lorenzi e Luiz João Lorenzi.

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Santinhos da coleção de Lucas Andrade Longhi.

Graças a Lucas Andrade Longhi, que forneceu informações e documentos, foi possível reconstituir a linha que partiu de Rodolfo através de seu filho Victor, nascido em 24 de agosto de 1929 e falecido em 2 de julho de 2002. Victor tinha um caminhão e trabalhava fazendo fretes, e foi membro da Sociedade Igreja de São Romédio, admitido em 1956.98 Casou-se com Lucia Hauser, nascida em 10 de outubro de 1929, professora, e ainda viva. Eles tiveram os filhos a1a) Gastão Victor (14/08/1955), despachante, casado com Fatima Tiecher; a1b) Nestor Carlos (14/01/1959 - 06/02/2007), motorista da Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (CODECA), casado com Lourdes Souza Velho; a1c) Salete (09/09/1963 - 25/09/2006), do lar, casada com Gabriel José Rech, dono de uma revendedora de automóveis e secretário do Conselho Deliberativo da Associação das Empresas de Pequeno Porte do RS - Microempa;99 a1d) Flávio Henrique (11/07/1966 - 01/07/2013), despachante e esportista,100 casado com Monalisa Ribas; a1e) Jaime José (20/05/1957 – 07/08/2011), casado com Geanice Beatriz Zanella, e a1f) Clóvis Antônio (25/01/1962).

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Livro de Atas da Associação Igreja de São Romédio. Ata nº 64, 06/01/1956 “Expediente”. Informativo Microempa, 2010; X (36) 100 “Obituário desta terça-feira”. Pioneiro, 11/06/2013 99

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Família de Victor Dalfovo Longhi e Lucia Hauser em veraneio na praia de Arroio Teixeira, 1972. Abaixo, com os filhos crescidos. Atrás, Flávio, Clovis, Nestor, Jaime, Gastão, na frente, Salete, Victor e Lucia. Coleção de Lucas Andrade Longhi.

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Flávio Longhi, foto Cross Clube Brasil.

Flávio, além de despachante, foi conhecido motociclista, ganhador de vários prêmios, mas faleceu tragicamente em 2013 em um acidente na prática do seu esporte. Considerado pelo Cross Clube como um dos maiores incentivadores do enduro no estado, seu passamento foi lamentado nos meios esportivos, o enterro foi acompanhado por grande cortejo de motociclistas, 101 e o obituário publicado pelo jornal Pioneiro assim falou dele: “Flávio Henrique Longhi, 46 anos, morreu no dia 1º de junho. Natural e morador de Caxias do Sul, ele sofreu um acidente durante uma trilha em Inhacorá. Despachante desde os 17 anos, tinha como paixão o motociclismo e amava fazer trilhas de moto com os amigos. Não pertencia a nenhum motogrupo, mas circulava entre vários e fazia amizades em todos os lugares por onde passava. Adorava muito estar no meio da natureza e tinha o sábado como dia reservado para fazer trilhas. Longhi já havia ido a Minas Gerais para fazer trilha de moto e estava planejando uma viagem ao Maranhão. Participou de campeonatos de enduro de regularidade e enduro fim e tinha vários troféus expostos no escritório em que trabalhava. Entusiasta de esportes de aventura, praticava também vôlei, natação, futebol, paraquedismo, ciclismo e trekking. Também frequentava academia e gostava de cuidar da saúde. Segundo familiares, era muito alegre, um pai amoroso e muito presente, animado, religioso e tocava violão muito bem. Ele deixou a mulher, Monalisa Ribas Longhi, as filhas Rafaela, três anos, e Débora, oito anos, a mãe, Lúcia Hauser Longhi, os irmãos Gastão e Clóvis, sogros, cunhados e sobrinhos. O pai, Victor, e três irmãos, já são falecidos. O corpo foi sepultado no Cemitério de São Romédio”.102

101

Dalzochio Jr, Renato. “Enduro do Rio Grande do Sul de luto: perdemos Flávio Longhi”. Cross Clube Brasil, 03/06/2013 102 “Obituário desta terça-feira”. Pioneiro, 11/06/2013

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Clóvis, Lucas, Mariza e Diego Longhi. Coleção de Lucas Andrade Longhi.

a1f) Clóvis Antônio, filho de Victor e neto de Rodolfo, funcionário público, trabalhou como motorista do SAMU e casou-se com Mariza Valim de Andrade, nascida em 25 de outubro de 1962 em Bom Jesus, costureira, tendo com elas os filhos a1f1) Diego, nascido em 29 de janeiro de 1987, estudante de Design de Produto na Faculdade de Tecnologia de Caxias (FTEC), e a1f2) Lucas, nascido em 23 de outubro de 1991, estudante de Gestão de Tecnologia de Informação na FTEC, já trabalhando na UNIMED Nordeste como analista de suporte do setor de Infraestrutura de TI. Nada pude encontrar sobre a2) Terezinha, a única filha de Rodolfo Longhi, e sobre seu irmão a3) Bruno S... (Santo ?) só descobri as datas de nascimento e morte, 13 de agosto de 1923 – 14 de julho de 1998, e que foi membro da Sociedade Igreja de São Romédio. Sobre a4) Osvaldo João a situação é a mesma, nascido em 2 de fevereiro de 1920 e falecido em 8 de abril de 2011, e membro da Sociedade. O outro irmão, a5) Heitor Longhi, nascido em 29 de dezembro de 1924, casado com Theresa Maria Stalivieri, foi presidente da Sociedade Igreja de São Romédio103 e eletricista conhecido em toda a região, fundador da SITEL – Sul Instaladora Técnica Ltda., responsável por projetos empresariais de vulto, mas também atendia solicitações residenciais. Foi ele quem realizou a instalação elétrica da casa de meus pais. Faleceu em 21 de abril de 2004. Na descendência de Heitor e Theresa temos: a5a) Rodolfo César Longhi é médico atuante entre Caxias, Bento Gonçalves e Porto Alegre, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia.104 É casado com Iara, tendo os filhos a5a1) Tatiana Longhi, a5a2) Camile Longhi, mãe de um filho, e a5a3) Rodolfo César Longhi Junior, formado em Administração e empresário.

103 104

Livro de Atas da Associação Igreja de São Romédio. Ata nº 71, 06/01/1952 Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. Membros.

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Teresinha Stalivieri Longhi entre as filhas Fátima e Bernadete. Foto de Fátima.

a5b) Fátima Terezinha Longhi, casada com Miguel Walter e mãe de Heitor Arlindo, graduado em Filosofia e sócio da Ágora Invest, e Marco Antônio Longhi Walter, engenheiro de produção. a5c) Bernardete Longhi, casada com Nelson e mãe Germano e Bernardo. a5d) Mosart Roque Longhi, nascido em 19 de outubro de 1948, é engenheiro mecânico, assumiu a empresa nos anos 80 e mudou sua razão social para Longhi Instaladora Técnica Ltda., permanecendo sob sua direção até 1995. Neste período os negócios se expandiram.105 Mosart foi também um dos fundadores da Comunidade Católica Oásis em 1988 106 e presidente da Fundação Mãe de Deus, declarada de utilidade pública pela Municipalidade,107 mantenedora dos projetos da Comunidade, que incluem uma capela, duas rádios, uma webTV, um blog, além de ações beneficentes, cursos, palestras e encontros para o fomento da fé e do convívio comunitário.108 Casou com Maria Francisca Crocoli, nascida em 14 de maio de 1947, filha de Angelo Crocoli e Olga Mandelli, tendo com ela sete filhos.109 Maria Francisca deixou um belo depoimento como co-fundadora desta grande Comunidade: “Quem diria, ou poderia imaginar que de uma pessoa tão ‘irrequieta’ pudesse brotar uma obra dessas? Este dizer é de um sacerdote muito amigo, que acompanhou o desabrochar da minha vida desde a adolescência… Acolhi esta observação com uma estrondosa risada… também eu jamais imaginaria que Deus pudesse escolher para alicerçar em meu ‘revolucionário’ coração um sonho do seu Amor tão maravilhoso como é a Comunidade Oásis. Somente Deus, em seu infinito Amor pode transformar grandes males e terríveis lixões em imensos dons.

105

“Recreio da Juventude no Aberto de Tênis de Caxias do Sul/Atena Incorporações”. Recreio da Juventude, 25/05/2015 106 Comunidade Oásis. Fundadores. 107 Prefeitura de Caxias do Sul. Lei nº 6830, de 3 de junho de 2008 108 “Para os jovens conhecerem uma nova proposta de vida”. O Farroupilha, 21/10/2011 109 Comunidade Oásis, op. cit.

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Mosart Roque Longhi e a esposa Maria Francisca Crocoli. Fotos da Comunidade Oásis.

A Casa de Oração da Comunidade Oásis. Foto da Comunidade.

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“A Palavra diz: pelos frutos os conhecereis… aqui estão os visíveis frutos da Comunidade Oásis. Ela tem saciado a sede e a fome dos corações desfalecidos, tem robustecido os joelhos vacilantes. Paralíticos de depressão, de vícios e tantos pecados, deixaram seus leitos, saíram andando. No começo lentamente, mas aos poucos põemse a correr livremente pelos prados e campinas onde o Bom Pastor os apascenta com ternura e os carrega nas dobras do seu manto. “Tenho contemplado esta história de fundação da Comunidade Oásis. Hoje beijo com gratidão cada pedra encontrada nesta estrada pois ela se fez construção. Beijo a cada espinho doído e choroso que dilacerando oportunizou o exalar de mais amor. Todos, sem esquecer nenhum, os que ficaram e os que passaram deixaram suas impressões digitais nesta história tão linda. A Comunidade Oásis, aí está!… Vinde e Vede! Seus braços abertos acolhem. Suas mãos se estendem para alcançar a Água da Vida em abundância. Seu coração é Adorador em Espírito e Verdade como filho. Obrigada meu Senhor e meu Deus pelos teus desígnios de Amor em toda a Obra Oásis. Bendito lugar do universo onde encontrei Jesus de Nazaré!! Esta exclamação de júbilo é nascida de nossos corações que se deixaram conquistar pelo Amor. “Nós, membros da Comunidade Oásis, por força deste Carisma, adoradores em Espírito e Verdade como filhos, queremos expressar nossa gratidão ao Pai, que antes da criação do mundo e antes da nossa existência nos escolheu pessoalmente para entrarmos e participarmos deste seu sonho misterioso de Amor. Que a nossa resposta seja sempre de uma amorosa fidelidade a Ele e que no seio da nossa Mãe Igreja possamos ser expressão verdadeira e fecunda deste mesmo Amor”.110 Um dos filhos do casal, a5d1) Mosart Roque Longhi Junior, nascido em 12 de abril de 1973, desde 1995 é o principal diretor da empresa familiar, mudando seu nome mais uma vez em 2010 para Longhi Engenharia e Automação, e continuando a expandí-la, passando a oferecer serviços de comércio de material elétrico, automação industrial, refrigeração, sistemas de segurança e outros. Segundo o website da empresa, “a Longhi Engenharia e Automação é hoje referência nacional em automação e controle para a área de refrigeração industrial, atendendo com projetos e produtos as principais empresas de refrigeração industrial do pais, tendo a marca Longhi em equipamentos presentes nas principais plantas frigoríficas nacionais”.111 A empresa é uma das patrocinadoras do Campeonato Aberto de Tênis de Caxias.112 É esportista e foi campeão estadual de handebol de praia. Casado com Lianete Margot Klauck, nascida em 16 de julho de 1973, tendo o filho Guilherme Klauck Longhi, nascido em 28 de abril de 2000.

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Comunidade Oásis. Palavra da Fundadora. Longhi Engenharia e Automação. Nossa Empresa. 112 “Recreio da Juventude no Aberto de Tênis de Caxias do Sul/Atena Incorporações”. Recreio da Juventude, 25/05/2015 111

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Lianete Klauck, Guilherme Klauck Longhi e Mosart Longhi Junior. Abaixo, com o time de handebol de praia campeão estadual, Mosart é o segundo a partir da direita. Fotos de Mosart.

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Angelo Heitor Longhi, a esposa Ana Paula Biondo e os filhos. Foto de Ana Paula Biondo.

Seu irmão a5d2) Angelo Heitor, nascido em 7 de setembro de 1974, tem formação em Administração e Marketing, especialista em Gestão de Empresas.113 Até recentemente foi um dos diretores da Fundação Mãe de Deus e também da Longhi Engenharia e Automação,114 e agora é sócio-fundador e diretor da Maturitha Desenvolvimento Humano e Empresarial, com ênfase no desenvolvimento da comunicação e da motivação no ambiente empresarial. 115 Segundo seu perfil no Linkedin, é fortemente ligado às atividades da Igreja, membro da corrente de Renovação Carismática, sendo missionário, catequista, palestrante e organizador de encontros. É casado com Ana Paula Biondo, formada em Sociologia, professora de canto, violão e musicalização infantil, compositora, também ligada à Igreja e atualmente sócia do marido na Mathurita.116 O casal tem os filhos Julia, Angelo Daniel, Rafael e Miriam Biondo Longhi.

113

Silva, Thiago. “Especialista dá dicas para se manter no mercado de trabalho em tempos de crise”. Clipping Segs!, 26/04/2015 114 “Notas Explicativas e Demonstrações Financeiras: Nota 5”. Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Sul, 28/03/2007 115 Maturitha Desenvolvimento Humano e Empresarial. Diretores. 116 Maturitha Desenvolvimento Humano e Empresarial. Diretores.

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João Pedro Crocoli Longhi, foto de João. Ao lado, Lucas Crocoli Longhi e Catiane de Gasperi, foto de Catiane.

Também pertencem à família Crocoli Longhi: a5d3) Francine, graduada em Comunicação Social; a5b4) Raquel, artista plástica,117 arteeducadora e supervisora do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência em Artes Plásticas e Visuais da UCS;118 119 a5d5) João Pedro, engenheiro de Computação na Mobitec Brasil, especializado em Gestão de Projetos, e membro da equipe de handebol do Recreio da Juventude, campeã estadual;120 a5d6) André Luiz, nascido em 17 de agosto de 1985, engenheiro, casado com Fabiana Almeida da Silva, nascida em 19 de julho de 1981, enfermeira, pais de Francesca e outro filho, e a5d7) Lucas Miguel, nascido em 7 de fevereiro de 1987, esportista, membro do time do Farrapos Rugby Club, participante em várias competições nacionais e estaduais e hexacampeão estadual invicto em 2015,121 122 sócio da Eletec Equipamentos para Automação, casado com Catiane de Gasperi e pai de Sara, Cecília, Thalita e Mateus. Continuando com os filhos de Heitor, ainda temos a5e) Airton Paulo Longhi, político em Torres, pai de a5e1) Leandro, a5e2) Lisane, mãe de um filho, a5e3) Luana e a5e4) Cesar. Os outros filhos de Angelo Longhi foram: d) Otilia, casada com Pedro Pezzi, residentes em Galópolis e pais de Elza Thereza, nascida em 10 de setembro de 1918;123 e) Selvina e f) Luiza, de quem nada se sabe; g) Guilherme, h) Adele, i) Rosina e j) um filho de nome desconhecido, todos falecidos na infância, k) um adotivo, também de nome desconhecido.

117

"Realize de Raquel Crocoli Longhi, em Caxias”. Olá Serra Gaúcha!, 30/07/2013 Ministério da Educação / CAPES. Relatório de geração de pagamento de bolsas 05/2015 119 “Unidade de Artes Visuais realiza a exposição de Raquel Crocoli Longhi”. Departamento de Comunicação da Secretaria da Cultura de Caxias do Sul, 30/07/2013 120 “Recreio da Juventude é campeão Estadual de Handebol”. Recreio da Juventude, 02/12/2014 121 Brasil Rugby. Lucas Miguel Crocioli Longhi. 122 “Hexacampeão Gaúcho 2015”. Serra Nossa, 15/06/2015 123 “Edital”. O Momento, 04/10/1937 118

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l) Affonso Longhi, secretário da Sociedade Bailante e Recreativa Sport Club Cruzeiro do Sul;124 casado com Inês Pontalti, filha de Benício (?), pais de l1) Darcy Angelo, proprietário da empresa Indústria e Comércio de Madeiras Ade Ltda. (ele aparece em um documento legal referente a esta empresa junto com Eni Maria Longhi, que deve ser sua esposa, mais Antonio Carlos e André Luís Longhi, que podem ser seus filhos, ou pelo menos devem ser parentes próximos125), e l2) Terezinha, casada com Nereu Natal Siqueira e pais de l2a) Carlos Fernando, casado com Adriana Gentilini, pais de Juliana e Giovana; l2b) Kátia, radicada em Porto Alegre, casada com Roberto Carlos Piola, gerente contábil da empresa de consultoria de agronegócio 3Tentos Agroindustrial, pais de Júlia, e l2c) Márcio Afonso. Valdir, radicado em Guaramirim, pode ser outro filho de Affonso. m) Henrique Longhi, dono de um armazém, casado com Angelina, filha do conhecido industrial João Travi,126 que tinha uma importante madeireira.127 n) Angelo II Longhi enquanto viveu em Caxias continuou a tradição da família no trabalho com a madeira e foi ativo membro da Sociedade São Romédio, um dos fundadores da terceira igreja e doador de 232 mil réis em dinheiro e materiais para sua construção.128 Depois foi um dos pioneiros em São Miguel do Oeste, estado de Santa Catarina. A Câmara local assinalou sua contribuição à cidade: “Em 27 de janeiro de 1940, na cidade de Caxias do Sul, Estado do Rio Grande do Sul, os senhores Alberto Dalcanale, Gastão Luiz Benetti, Willy Barth, Manoel Passos Maia, Dionísio Decarli e Reinoldo Decarli, constituíram a Firma denominada Barth, Benetti & Cia. Ltda., com a finalidade de extrair e exportar madeiras de lei e pinho e de promover a colonização da área de terras adquirida das Empresas Incorporadoras do Patrimônio da União, situada ao norte da gleba de terras pertencentes a Alberico Azevedo e sucessores de Nicolau Bley Neto, no Distrito de Mondai, então pertencente ao Município de Chapecó. Nomeado administrador da firma, Gastão Luiz Benetti, juntamente com Angelo Longhi, Henrique José Sachetto e Felisberto Santure rumaram para o norte do Distrito de Mondai, seguindo a picada aberta pelos integrantes da Coluna Prestes. Chegados a Descanso, seguiram para o local denominado Derrubada, e daí, alcançando as nascentes do Lageado Guamirim, escolheram o local para a sede da colonização, isto ocorrido no dia 23 de março de 1940. A primeira família que se estabeleceu na gleba foi a de Francisco Ferasso, em 11 de junho de 1940, seguindo-se a de Angelo Longhi, Reinaldo Pimentel, Caetano Silvestre, Carlos Loesch, Fernando Lohmann, Aureliano Lazarotto e Guerino Andreatta”.

124

“Sociedade Bailante e Recreativa Sport Club Cruzeiro do Sul”. O Momento, 19/07/1934 Décima Segunda Câmara Cível de Caxias do Sul. Apelação Cível Nº 70004518643, 03/04/2003 126 “João Travi”. O Momento, 07/01/1950 127 “Caxias”. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1931 128 Livro de Ouro da Sociedade Igreja de São Romédio 125

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Essas famílias, como ocorreu em Caxias, foram primeiramente instaladas em um barracão. Assim que se acomodaram, Angelo Longhi montou uma pequena serraria movida com a água do Lajeado Guamirim e com as primeiras tábuas foi construída a primeira casa de moradia, de propriedade de Santo João Molin, situada na atual rua Getúlio Vargas.129 A Câmara continua: “Em meados de 1943, a Firma Barth, Benetti & Cia. Ltda. mandou construir a Igreja, sendo escolhido como Padroeiro São Miguel Arcanjo, protetor dos madeireiros. E foi, sem dúvida, a extração da madeira, principalmente o pinho, decisiva para o desenvolvimento e o incremento da economia da região onde se localiza o Município de São Miguel do Oeste. A então Vila Oeste, com menos de uma década de instalação, com seus pioneiros trabalhando arduamente, de sol a sol, na extração da madeira de lei e de pinho, e, já despontando no cultivo agropecuário, com uma economia em pleno desenvolvimento, demonstra que pode ser elevada a condição de Município”.130 A construção da Igreja de São Miguel, na verdade uma pequena capela, foi decisiva para a organização do novo povoado. Segundo Bavaresco, Franzen & Franzen, “A chegada do padre Aurélio Canzi [em 1944] e a instalação da Igreja, sendo o padroeiro São Miguel Arcanjo, protetor dos madeireiros exportadores, significou muito para Vila Oeste, pois o padre Canzi incentivou o desenvolvimento da Vila e estimulou a população a acreditar no empreendimento colonizador através da fé e da religiosidade. “A persistência do padre foi um dos fatores que impediu a falência da colonização no momento em que os colonos quiseram abandonar a região por causa da seca da década de 1940, a qual impedia que as balsas pudessem ser transportadas, por causa do baixo leito do rio, e dos efeitos da Segunda Guerra Mundial. A vida naquele período foi realmente dramática para a população da região. No final da década de 1940, a abertura de uma estrada até Dionísio Cerqueira e a instalação de um hospital deram um novo ânimo para Vila Oeste naquele período”.131

129

“São Miguel do Oeste”. In: Agência de Desenvolvimento do Extremo Oeste de Santa Catarina. Desenvolvimento Tecnológico Regional. Sistema Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina — FIESC / Instituto Euvaldo Lodi — IEL / Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Santa Catarina — SEBRAE, 2004 130 “Resgate de Parcela da História de São Miguel do Oeste”. Câmara Municipal de Vereadores de São Miguel do Oeste. 131 Bavaresco, Paulo Ricardo; Franzen, Douglas Orestes & Franzen, Tiones Ediel. “Políticas de colonização no extremo oeste catarinense e seus reflexos na formação da sociedade regional”. In: Revista Trilhas da História, 2013; 3 (5):86-104

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Angelo II deitou raízes e dexou descendência em São Miguel do Oeste. Seu descendente Ulisses Junior Longhi deu um depoimento sobre este ramo: “Em 1942, o pioneiro Angelo Longhi, a convite da empresa Barth e Anonni, saiu de Caxias do Sul a fim de desbravar a Vila Oeste (atual São Miguel do Oeste), em Santa Catarina. Angelo era um exímio madeireiro e construtor de casas. Um tempo depois, sua esposa, Elvira Ercilia Bertoletti Longhi, e os filhos, Antoninho, Terezinha, Ulisses e Vainer, também aportaram nas novas terras. Aqui, faleceram Antoninho e Terezinha, bem jovens, enquanto Ulisses casou-se com Antonietta Caregnatto (ainda em Caxias, em 1957) e Vainer casou-se com Loreno Janovitz. “Da união de Ulisses e Antonietta foram gerados cinco filhos: João Guilherme (in memoriam), Luiz Henrique, Angela Adriane, Ulisses Junior e Paulo Ricardo. Ulisses, que trabalhou como balconista durante a vida toda, faleceu em 1996, aos 59 anos. Nesse mesmo ano, João Guilherme, precocemente, aos 38 anos, também veio a falecer. João Guilherme, da união com Zélia Cartelli, gerou três filhos: João Ricardo, André Guilherme e Daniel Angelo. Luiz Henrique, do casamento com Luciana Koefender, gerou Juliana. Já Angela Adriane e seu marido Edinei Rodrigues tiveram Edinei Junior e Karoline. Ulisses Junior, por sua vez, do casamento com Adriana Bortoncello, gerou Marina Vitória. E Paulo Ricardo, com Ortenilia Pereira, teve Ana Paula. A partir desses netos de Ulisses e Antonietta, surgiu o primeiro bisneto: Matias (filho de João e Graciele Ortolan), nascido em 2014. Da união de Vainer e Loreno, surgiram os filhos Clademir e Joarez. “Hoje, a maior parte dos descendentes de Angelo e Elvira reside em São Miguel do Oeste. Residem fora: Ulisses Junior (Xanxerê), Marina Vitória (Xaxim), Daniel Angelo (Jandaia do Sul – PR) e André Guilherme (Florianópolis, onde também mora Karoline). E Edinei Junior reside em Jaraguá do Sul”. A famlia dos pioneiros Angelo Longhi e Elvira Bertoletti tornou-se tradicional em São Miguel do Oeste, onde hoje ambos são nomes de rua. Seu filho Ulisses, falecido em 1996, também foi reconhecido como um dos fundadores da cidade e batiza outra rua,132 e sua esposa Antonietta foi homenageada pela Câmara de Vereadores como uma das pioneiras do município.133 Luiz Henrique é despachante; Angela Adriane é bancária, diretora de Imprensa e Comunicação do Sindicato dos Bancários de São Miguel do Oeste 134 e membro do Lions Club;135 Paulo Ricardo, industriário. Ulisses Junior foi bancário mas depois optou pela carreira nas Letras, tornando-se escritor,136 mestre em Linguística, professor titular da Universidade do Oeste de Santa Catarina, orientador de pós-graduandos, ministrante de muitos cursos de extensão universitária e autor de grande bibliografia científica. Também foi um dos organizadores do II Ciclo de Estudos Temáticos em Educação: Direitos Humanos, Meio Ambiente e Relações Étnicoraciais: Perspectivas Educativas (2014), do I Seminário de Educação: Temas Contemporâneos da Escola de Educação Básica (2010) e do I Simpósio de Linguagem e Literatura (2008).

132

“Vereadores aprovam em primeira votação projeto para revogar lei que aumentou ISSQN”. Câmara Municipal de São Miguel do Oeste, 18/12/ 2014 133 “Emoção marca sessão solene em homenagem às mulheres”. Câmara Municipal de Vereadores de São Miguel do Oeste, 01/04/2015 134 “Sindicato dos Bancários de São Miguel do Oeste elege Diretoria”. FETEC-SC, 23/11/2012 135 Lions Club Distrito LD-8. Membros do club 136 “Crianças lançam livro de contos criados em oficina”. AN Capital

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Edinei Rodrigues, Antonietta Longhi e Angela Adriane Longhi. Foto de Angela.

Homenagem da Câmara de São Miguel do Oeste a Antonieta Longhi e outras mulheres de destaque do município. Antonietta está no centro, de vestido preto. Foto da Câmara.

João Ricardo é professor de Educação Física; André Guilherme é técnico em Computação, e Daniel Angelo, casado com Heidy Kemper, é doutor em Engenharia de Alimentos, professor adjunto da Universidade Federal do Paraná, presidente do Núcleo Docente Estruturante e coordenador do curso de Engenharia de Alimentos da UFPR, recebeu Certificado de Honra ao Mérito do CREA/SC, tem grande bibliografia publicada e foi um dos organizadores das IV Jornadas Internacionais sobre Avanços na Tecnologia de Filmes e Coberturas Funcionais em Alimentos (2012), do Congresso Brasileiro de Sustentabilidade na Produção de Alimentos (2008) e do Congresso Catarinense do Leite (2007).

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Ulisses Junior Longhi e a filha Marina Vitória, foto de Ulisses.

Ulisses Junior deixou outro belo depoimento sobre sua profissão, que foi publicado no jornal online Lance Notícias e que reproduzo abaixo. “Com frequência, meus alunos questionam o porquê de minha opção profissional pelo magistério em Letras. Em minha justificativa, sempre pontuo três aspectos principais (entre muitos outros que poderia destacar): a paixão pela língua portuguesa, a paixão (sem redundância) pelo ato de ensinar-aprender e o desafio de mover as pessoas, particularmente crianças e jovens, para a conquista de sua cidadania. “Acredito que os dois primeiros aspectos entram em um foro subjetivo e muito particular. Mas o terceiro, que envolve mover as pessoas, impõe algumas reflexões que começam no dia em que decidi por ser professor. “Muito jovem, tive a oportunidade de experimentar esse desafio de fazer os pequenos (leia-se alunos do ensino fundamental) gostarem de manejar habilmente sua expressão, de forma a fazerem seus discursos e serem reconhecidos por eles. “Um pouco mais tarde, por contingências pessoais e profissionais da época, realizei um dos meus sonhos de vida: cursar Letras, nesta mesma instituição que, um pouco depois, me acolheu como seu profissional. E lá se vão 20 anos… A partir desse momento, um banco perdia um bancário, e a educação ganhava um apaixonado professor. “Esse pequeno histórico torna-se importante para compreender que é na trajetória histórica que o profissional se constitui. E o que isso tem a ver com o ser professor e sua inseparável missão de mover as pessoas?

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Graciele Ortolan, João Ricardo Longhi e o filho Matias. Foto de João Ricardo. Ao lado, Heidy Kemper e Daniel Angelo Longhi. Foto de Daniel.

“Sim, a resposta está no próprio curso de Letras. Apesar do cenário aparentemente pessimista, que parece afugentar o profissional de sua nobre missão, precisamos (e aqui falo não de uma instituição, não de uma região, não de um estado, mas sim de uma nação!), cada vez mais, de novos e dispostos professores para atuarem nas áreas de Língua Portuguesa e Literatura. E, nesse ponto da argumentação, geralmente surge um novo questionamento: vale a pena ser professor? “Novamente, a resposta é positiva. Afinal, no curso de Letras, o futuro professor da área aprende muito sobre aquilo que envolve essa fantástica e maravilhosa área — a linguagem —, desde as questões que atravessam a Ciência da Linguagem, passando pelas normas que legislam nosso idioma pátrio até os temas que envolvem as literaturas — brasileira e portuguesa. “Além disso, com os estágios profissionais, o acadêmico, futuro profissional, insere-se em um mundo fantástico, no qual ele coloca seu conhecimento e experiencia, numa prática transformadora, a mágica arte de ensinar-aprender um idioma apaixonante. A partir desses estudos, conforme as fases do curso avançam, e o acadêmico avança em seus conhecimentos, a paixão instala-se. E depois de instalada (como sugere aquela famosa publicidade de cartão de crédito), ela “não tem preço”, transforma-se em uma razão de vida. “Justamente com essa reflexão, pretendo terminar essa breve argumentação sobre o ato de mover as pessoas inerente ao profissional de Letras. E finalizo fazendo um convite àqueles que ainda estão em dúvida sobre seu futuro profissional: desafie-se a participar desse importante momento de transformação na vida das pessoas, sendo também um professor de Língua Portuguesa. Certamente, depois de alguns anos no magistério, refletindo como ora faço aqui, você terá a certeza de que sua vida ajudou a mover as vidas de muitas pessoas, todas gratas pela cidadania conquistada através dos discursos que você ajudou a moldar…” 137

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“Letras: a paixão que move as pessoas”. Lance Notícias, 16/06/2016

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À esquerda, recorte do álbum Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande del Sud (1925), e à direita, recorte do álbum Centenário da Imigração Italiana (1975).

Vários outros Longhi chegaram a Caxias nos primeiros tempos, entre eles Antonio, Domenico, Rocco, Pietro e dois Giuseppes. Antonio e Domenico vieram do Tirol, e presume-se que sejam parentes, mas nada encontrei sobre Domenico. Antonio deve ser o mesmo que se radicou em Antônio Prado e ali ergueu em 1888 a primeira residência no atual perímetro urbano da cidade.138 Ele foi a origem de uma grande família, que deu descendentes também para Vacaria, onde Bortolo Longhi foi o primeiro italiano a chegar, levando a tradição do cultivo da uva. Seu filho Claudino Longhi e a esposa Zélia Maria Poletto foram os idealizadores da Festa Municipal da Uva de Vacaria, celebração da qual outro filho, Geraldo, foi presidente, e Marilene foi rainha.139 Do grupo de Vacaria saiu também Mainar (1938–2003), irmão marista, professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira das faculdades de Letras e de Comunicação Social da PUCRS desde 1968, diretor da Faculdade de Letras, assessor da Reitoria e presidente do Instituto de Cultura Hispânica do Rio Grande do Sul.140 Já os outros vieram da Lombardia e Mantova, e o parentesco é improvável. Um Pietro (Pedro) também se radicou em Antônio Prado, casado com Joana Zanardi,141 mas não se sabe se é o mesmo. Da mesma forma, aparecem muitos Longo, sobrenome que é uma variante legítima de Longhi.142 138

Meira, Ana Lucia Goelzer. “Antônio Prado”. In: Pessôa, José & Piccinato, Giorgio (eds.). Atlas de Centros Históricos do Brasil. Casa da Palavra, 2007, pp. 226-233 139 Busin, Ivan. A importância do cultivo e da produção da uva bordô para a agricultura familiar de Monte Alegre dos Campos - Monte alegre dos Campos, RS. UFRRJ, 2002 140 “PUCRS perde Ir. Mainar Longhi”. Universia Brasil, 03/06/2003 141 “Arrolamento”. O Momento, 19/07/1937

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As famílias Longhi e Pezzi foram reconhecidas entre as fundadoras de Caxias em três grandes álbuns que comemoraram datas importantes da história local. Em 1925, no álbum Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande del Sud, publicado sob os auspícios do Governo do Estado e do Governo da Itália, 143 novamente em 1950, no álbum Documentário Histórico do Município de Caxias do Sul 1875-1950, Comemorativo do 75º Aniversário da Colonização, publicado pela Prefeitura e outras entidades,144 e também no Álbum do Centenário da Imigração Italiana,145 publicado em 1975 em meio a grandes festividades que movimentaram todo o estado. Não obstante, até o surgimento de Alcides, ídolo do futebol e industrial, filho de Victorio e neto de Giovanni Battista, que ganhou grande notoriedade e vai ser tratado mais tarde, na imprensa local os Longhi fazem poucas aparições, em geral fugidias e inexpressivas, citados principalmente como membros do júri popular, no cadastro eleitoral, em proclamas de casamento, fazendo alguma demanda ao poder público, ou enviando condolências à família de algum defunto. Bem mais raros são os que aparecem em posições distintas ou mencionados por razões mais interessantes, como os já citados Rodolfo, Felice e seu filho Pedro João. Outro descendente de Angelo a ganhar projeção foi Ary João, nascido em Caxias em 8 de outubro de 1932, repórter, poeta, contista e cronista. Ainda um estudante publicou n’O Momento vários textos entre 1949 e 1951, chamado de “inteligente e culto”,146 abordando temática variada, da crônica de costumes e da pedagogia cívica à apologética cristã e moralizante, com um estilo que pode ser às vezes um tanto convencional, com uma retórica típica da época, mas em outras é elegíaco e delicado, ágil, leve e musical. No encerramento das atividades do jornal em 1951, foi colocado entre os principais colaboradores, ao lado de João Spadari Adami e Cyro de Lavra Pinto,147 e lembrado por Adami como autor de dois livros: Florilégio Poético e Poema ao Imigrante.148 Logo depois radicou-se em Lages, Santa Catarina, e mais tarde publicaria outros trabalhos.149 Foi também padre, iniciando sua formação no Seminário de Caxias. Aperfeiçoou-se em Teologia no Seminário Maior de Viamão e foi ordenado em 8 de março de 1959. Trabalhou em comunidades de Lages e deu aulas no Seminário São João Batista Vianney. Em Caxias foi secretário da Cúria Diocesana, sendo em seguida enviado para colaborar na paróquia de Urubici, foi pároco de Uruguai-Piratuba e depois de Bom Retiro. Em 2009 celebrou seu Jubileu de Ouro sacerdotal, sendo homenageado com grande festa em Lages. 150

142

Gardelin & Costa, op. cit Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande del Sud, 1925. Edição fac-similar. Pozenato Arte & Cultura, 2000 144 Antunes, Duminiense Paranhos (org). Documentário Histórico do Município de Caxias do Sul 1875-1950, Comemorativo do 75º Aniversário da Colonização. Associação Comercial / Biblioteca Pública / Câmara dos Vereadores / Prefeitura de Caxias do Sul, 1950 145 Duarte, José Bacchieri (org.). Centenário da Imigração Italiana 1875-1975. Edel, 1975 146 “Dr. Demétrio Niederauer”. O Momento, 18/02/1950 147 “Fim da Jornada”. O Momento, 30/06/1951 148 Adami, João Spadari. Caxias do Sul. Tipografia Abrigo de Menores São José, 1957 149 “Padre escreve sobre o amor”. CL News, 19/06/2009 150 “Padre Ary comemora sacerdócio”. Correio Lageano, 07/03/2009 143

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Carine Longhi, foto Janaina Silva/Faculdade da Serra Gaúcha.

Hoje a família Longhi é muito grande e meu ramo sabe pouco dos primos distantes. Diversos de seus membros são industriais, comerciantes, professores e outros profissionais de respeito, muitos estão na classe média, alguns mesmo na classe baixa e correndo atrás da máquina. Membros ainda residem na Comunidade de São Romédio ou mantêm laços com ela. Estão presentes também em outras cidades do estado, e acabaram se espalhando para vários pontos do Brasil. Entre os que estão na contemporaneidade desempenhando atividades públicas ou sendo de alguma forma conhecidos na hoje tão grande Caxias, podem ser citados Ivânia, ilustradora de livros;151 Alfredo, administrador do Pio Sodalício das Damas de Caridade;152 Ana Maria, fundadora da imobiliária Longhi Imóveis;153 Fernando, gestor comercial da Exemplo Negócios Imobiliários; Gervásio, presidente do bairro Moinhos Germani154 e diretor de Transportes da Secretaria Municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade;155 Carine, vencedora do Desafio Administrador do Futuro promovido pela Faculdade da Serra Gaúcha,156 e Roberto, piloto de motocross,157 segundo colocado no Campeonato Gaúcho de Enduro de Regularidade de 2002 na categoria Novatos.158

151

“Uili Bergamin lança livro infantil neste sábado, em Caxias”. Pioneiro, 23/10/2014 “100 anos do Hospital Pompéia: irmã Cacilda Sonego chegou à instituição em 1982”. Pioneiro, 29/05/2013 153 Longhi Imóveis. Nossa empresa. 154 “Confira a seguir a relação dos novos Presidentes de Bairros de Caxias do Sul para a gestão 2015/2017”. TV Caxias, 20/07/2015 155 Bevilaqua, Juliana. “Projeto prevê destinação de todos assentos do transporte coletivo em Caxias para uso preferencial”. Rádio Gaúcha, 12/05/2015 156 “Carine Longhi vence o desafio Administrador do Futuro”. Faculdade Serra Gaúcha, 22/11/2014. 157 “Campeonato Gaúcho Over 2 de Regularidade 2014”. Associação Gaúcha de Pilotos de Enduro 158 Associação Gaúcha de Pilotos de Enduro. Galeria dos Campeões. 152

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A esposa do pioneiro Giovanni Battista Longhi, nascida em 15 de agosto de 1856 e batizada Cattarina Marianna Rossi, conhecida no Brasil geralmente como Catharina (ela assinava Catterina), pertencia a uma família radicada na região de Trento, onde os Rossi deram numerosos ramos nobres desde o início do século XIII. Seu pai, Giovanni Battista Ermenegildo Rossi, conhecido no Brasil apenas como Ermenegildo (II), nascera em 5 de outubro de 1827 em Vigo di Ton, a poucos quilômetros da capital tirolesa, sendo batizado na paróquia de Toss, uma comuna vizinha de Vigo. Era filho de outro Ermenegildo (I) e de Catterina Cainelli,159 ela de família aparentemente patrícia.160 161 Uma fonte popular dá como seus pais Giuseppe Rossi e Giulia Benudelli, mas isso diverge dos dados que encontrei no Arquivo de Estado de Trento e deve ser um erro. A esposa de Ermenegildo II, Anna Cattarina Lucia Rizzi, conhecida como Lucia, nascida em Toss em 6 de agosto de 1832, filha de Francesco Antonio Cantio Rizzi, pertencia a uma ilustre família com quase mil anos de história registrada e suposta origem romana. A partir de um ramo radicado em Veneza, os Rizzi povoaram várias cidades no Principado de Trento a partir do século XII, incluindo Cloz, a base do grupo de Lucia. Ali dividiram-se em um grupo que ingressou no patriciado comunal e outro que foi elevado à nobreza. Lucia descende de ambos, tendo vários outros troncos nobres e patrícios entre seus ancestrais. Sua mãe foi Maddalena Angeli, de família quase tão antiga e ilustre quanto os Rizzi, também se dividiram em nobres e patrícios. Tudo isso será detalhado no Volume III. Com Lucia, Ermenegildo II chegou a Caxias em 8 de abril de 1878, trazendo, segundo Gardelin & Balen, os filhos Caterina (sic), Pacifica, Giuseppe e Amadeo (Amadio).162 Suas terras, 1/4 do lote 36 do Travessão Santa Teresa da 5ª Légua (São Romédio), foram adquiridas em nome de Giuseppe, já com 20 anos na chegada. Pacifica faleceu logo depois da chegada, em 19 de março de 1880.163

Brasões Rizzi e Angeli

Porém, expandindo a polêmica sobre os Longhi, Tessari diz que a família Rossi que se instalou em São Romédio era composta de Ermenegildo II, o pai, Lucia, a mãe, e só dois filhos, Giuseppe e Amadio. Catharina que teria 22 anos, sendo nascida em 1856, não aparece, nem Pacifica. Em São Romédio, que se saiba, não houve outros Rossi a se fixar senão a família de Ermenegildo, isso em 1878, e a de Luigi, em 1877, que também não cita Catharina entre os seus.164 Gardelin cita outros Rossi fixados em Caxias, mas são grupos diferentes. Duas outras Caterinas até aparecem, chegadas em 31 de maio de 1876 e 6 de abril de 1878, mas todas as suas famílias associadas são outras.165

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Archivi di Stato di Trento. Nati in Trentino 1815-1923 Giangrisostomo, Tovazzi. Compendium diplomaticum sive tabularum veterum. Tomo IV. Sanctum Bernardinum, 1793 161 Fondazione Bruno Kessler - Istituto Storico Italo-germanico. Il notariato e gli antichi archivi giudiziari. Fondazione Bruno Kessler / Istituto Storico Italo-Germanico / Fondazione Cassa di Risparmio di Trento e Rovereto, 2013 162 Gardelin & Balen, op. cit 163 Gardelin & Costa, op. cit 164 Tessari, op. cit. 165 Gardelin & Balen, op. cit. 160

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Catharina Rossi Longhi. Abaixo, sua assinatura no Livro de Atas da Sociedade Igreja de São Romédio, reproduzida por Gilmar Pedron Lorenzi.

Registro de Ermenegildo Rossi e sua família no Mapa Estatístico da Colônia Caxias 1875 – 1882. Acervo Arquivo Histórico57 Municipal.

Para piorar, quando Tessari cita Catharina, nunca cita seus pais ou irmãos, apenas diz que já chegou casada com Giovanni Battista Longhi em 1876, e daí segue sua história, e quando cita a família de Ermenegildo, nunca associa a ela Catharina. E as datas de chegada de Catharina divergem: 1878 (Gardelin & Balen) e 1876 (Gardelin & Costa e Tessari). O registro nos arquivos trentinos dá Catharina claramente como filha de Ermenegildo, num dos trabalhos de Gardelin ela é atestada como tal, e na própria Comunidade de São Romédio é assim considerada até hoje. Assim, tendo chegado ao que parece em 1876, provavelmente Catharina tenha sido a reponsável pela atração do pai para Caxias. Ermenegildo e sua família se dedicaram à agricultura, sendo grandes produtores de uva e vinho, com 10 a 15 mil litros anuais de tintos, brancos e rosados. Também fabricavam graspa, exportada para Porto Alegre e outras cidades do estado. Ermenegildo era muito devoto, foi um dos fundadores da segunda Igreja de São Romédio e ativo membro da Sociedade da Igreja, e sua família integrava a Ordem Terceira de São Francisco. 166 Catharina foi uma companheira constante de seu marido na liderança comunitária, estimada pela sua dedicação à família, ao trabalho, à religião e ao serviço assistencialista, foi membro ativo da Sociedade Igreja de São Romédio, zeladora da segunda igreja,167 uma das fundadoras da terceira igreja e doou 200 mil réis para a sua construção,168 sendo personalidade cheia de iniciativa. Diz Tessari que ela “fazia parte da equipe de senhoras que prestava assistência religiosa aos cristãos da comunidade no início da colonização. Boa mãe e esposa fiel, teve oito filhos. Além dos afazeres domésticos, cuidava do moinho de sua propriedade. Após 57 anos de trabalho e luta contra uma prolongada doença reumática, veio a falecer a 24 de julho de 1933”. Sua morte ocorreu dois meses depois que a igreja foi inaugurada, fato que parece simbolizar que sua missão estava completa. Se viva já fora vista até como mártir e alma nobre, e mesmo alguns a consideravam perto de ser santa, pelos sofrimentos que sua doença lhe trouxera sem fazê-la esmorecer na fé e na lida diária e no cuidado dos outros, ganhou definitivamente aura de santidade quando seu corpo foi achado incorrupto em uma exumação 43 anos após seu falecimento. Segundo conta Tessari, diversas testemunhas disseram que sua pele estava macia e parecia a de uma pessoa viva, apenas coberta por uma fina camada de poeira. Meu avô Alcides Longhi e seu filho Vitor foram avisados e viram o ocorrido, ficando impressionados. Assim, o corpo foi devolvido ao túmulo, e o inesperado fenômeno deu origem a um culto popular. Várias pessoas vão rezar junto ao túmulo e de acordo com Tessari curas e graças já lhe foram atribuídas. Depois Catharina virou nome de rua.169

166

Tessari, op. cit. Tessari, op. cit. 168 Sessão de Assembléa Geral Extraordinaria – Acta nº 1. Livro de Atas da Associação Igreja de São Romédio, 12/07/1931 169 Prefeitura Municipal de Caxias do Sul. Lei 2852, de 27 de dezembro de 1983 167

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Várias surpresas surgiram nesta pesquisa, e uma delas foi descobrir que um dos casais que estreitaram há mais tempo e mais intimamente laços de amizade com meus pais, Romeu Rossi e Irma Galiotto, são na verdade parentes consanguíneos, pois Ermenegildo foi bisavô de Romeu através de seu filho Amadio e tataravô de minha mãe através de sua filha Catharina, mas ao longo de tantos anos de companheirismo e atividades realizadas em conjunto no Rotary, nos clubes sociais e em outras oportunidades, nunca cogitaram num eventual parentesco. Amadio nasceu em 3 de março de 1868 na paróquia de Toss, comuna de Ton, casou-se em 1897 com Vittoria Maria Anna Endrizzi, filha de Emilio e Leopolda, e faleceu em 18 de fevereiro de 1934. Foi membro da Sociedade Igreja de São Romédio e um dos fundadores da terceira igreja, para cujas obras fez a doação de 100 mil réis.170 Seu neto Romeu falou sobre ele: “A colônia que possuía e trabalhava se estendia da atual Firma Travi (em frente aos Capuchinhos) e vinha até as Irmãs Pastorinhas na avenida São Leopoldo e tinha 48 hectares. Vendeu parte da colônia para entrar de sócio na nova firma Industrial Madeireira Ltda., com 49% do capital. Esta firma era dirigida por Francisco Oliva. Muito esperto, [Oliva] organizou outra em São Leopoldo em seu nome e fez a Industrial Madeireira Ltda. ter enormes prejuízos em três anos seguidos (a madeira era desviada para São Leopoldo).

Amadio Rossi. Coleção de Romeu Rossi. Abaixo, sua assinatura no Livro de Atas da Sociedade Igreja de São Romédio. Reprodução de Gilmar Pedron Lorenzi.

“Em face disso promoveu um grande aumento de capital e só ele subscreveu o novo aumento, ficando com mais de 90%. O Amadio só ficou descobrindo esta trama meses depois. Anos mais tarde o Francisco Oliva vendeu a Industrial Madeireira para um grupo de pessoas, entre elas o Ary Zatti Oliva, os Viero e Albé. [...] O Amadio teve um grande choque quando foi ludibriado pelo Francisco Oliva, inclusive perdeu a maior parte do seu capital. Assim para os filhos só pôde dar estudo até o primário e depois tiveram que trabalhar. Ele teve sete filhos: Hermenegildo, Germano, Cesar, Carlos, Leopoldina, Rosa e Maria. [...]

Cesar Mario Rossi, coleção de Romeu Rossi. 170

Sessão de Assembléa Geral Extraordinaria – Acta nº 1. Livro de Atas da Associação Igreja de São Romédio, 12/07/1931

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“O meu pai Cesar praticamente começou a vida do zero. [...] Nascido em Caxias do Sul no dia 24 de agosto de 1903, só fez curso primário no Colégio do Carmo e depois começou a trabalhar já com dez anos. Após servir no Exército em Pelotas (seis meses), terminou o serviço militar na inaguração do quartel de Caxias do Sul. Casou com Ursula Frigeri Vissirini, tendo três filhos: Romeu Victorio, Maria Julieta e Domingos. [...] “Trabalhou durante quarenta e dois anos na Metalúrgica Abramo Eberle S.A. como encarregado na fabricação de artigos sacros (cálices, ostensórios e artigos de ouro e prata). Tinha pequena quantidade de ações da firma. Foi presidente da Congregação Mariana. Fez parte da primeira Diretoria do Circulo Operário Caxiense. Fez parte da Diretoria do Grêmio Atlético Eberle no ano de 1946. Seus divertimentos prediletos eram caçar, pescar e assistir jogos de futebol. [...] Quando casou, no primeiro ano morou de aluguel na rua Antônio Prado. Depois comprou dois terrenos na rua Santos Dumont, onde aos poucos foi construindo sua residência, e onde morei por cerca de 40 anos, antes de me mudar para onde moro na rua Dr. Montaury”.

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Romeu Victório Rossi, que se tornou um dos mais ilustres representantes do nome Rossi na Caxias de hoje, também deu um belo depoimento sobre sua vida, do qual transcrevo alguns trechos sobre sua juventude, e que dá uma boa ideia do quanto a cidade se transformou em poucas décadas e do imenso trabalho que isso significou: “Nasci no dia 24 de abril de 1931 numa casa de madeira sita à rua Antônio Prado, hoje demolida, em frente ao terreno que possuímos naquela rua. Com um ano de idade fomos morar na rua Santos Dumont 1001, na casa de madeira que está hoje nos fundos, naquela época ficava na parte da frente da rua. Não existia nenhuma outra casa naquela rua, só a nossa. Na frente era um descampado com muitas capoeiras e espinhos. Na rua Pedro Tomasi, no meio da quadra entre a rua Santos Dumont e a rua Os 18 do Forte, existia uma fonte onde a mãe lavava as roupas e um poço onde se ia buscar a água para beber. [...] “Todas as ruas eram de terra, sem cascalho até os colégios do Carmo e São José e sem calçadas. Romeu Rossi na galeria de presidentes do Recreio da Quando chovia era um Deus-nos-acuda para ir ao Juventude. colégio, barro, água por todos os lados, e as poucas casas que existiam, nenhuma que tivesse abrigo ou marquise, e eu como os colegas só tínhamos uma pequena capa para nos resguardar do frio, das geadas e da chuva. Aos seis anos frequentei uma escolinha maternal em frente ao Recreio Guarany, mas como era muito longe e custava caro só permaneci por um mês. Aos sete anos fui matriculado no Colégio São José, mas como era muito jovem a mãe me levava até a casa do Alberto Bellini e aí a filha, que tinha uns onze anos, me levava até o colégio e me trazia de volta. [...] “Quando ia completar dez anos o Colégio São José não mais nos aceitou, pois como era um colégio para meninas não admitiam meninos a partir desta idade. Com dez anos então fui matriculado na quarta série do Colégio do Carmo, onde permaneci até os 14 anos, quando me formei bacharel (1945). Tanto no Colégio São José como no Carmo tive muitas dificuldades no estudo. Para fazer os temas, não havia computador, telefone, TV, calculadora, rádio, só lápis, papel, réguas, borrachas, nem caneta tinha. Calculem a dificuldade. Além do mais não tinha amigos a quem consultar, pois moravam longe e o pai só tinha cursado até o segundo ano primário e a mãe só o primeiro ano primário, eles queriam me ajudar, mas não tinham conhecimento algum do estudo. A única alternativa era escutar o mais possível o que os professores diziam nas aulas. Assim mesmo consegui passar todos os anos e com boas notas, inclusive em Matemática, quase sempre tirava o primeiro lugar da aula. Naquele tempo tinha aula de manhã e de tarde, só as quartas-feiras e sábados à tarde eram livres para fazer os trabalhos escolares, os restantes dos temas eram para ser feitos à noite, com lampião, pois só em 1941 quando tinha dez anos instalaram luz elétrica na nossa casa.No domingo era obrigado ir à missa das nove horas na Catedral [...]. Quem não comparecia à missa, os pais tinham que ir pessoalmente ao colégio justificar e os alunos sofriam os mais variados castigos. Pergunto: quanto tempo sobrava para divertimento e brincar? Praticamente nada. Só alguns domingos quando não chovia dava para ir assistir aos jogos de futebol com o pai. Mas tinha um problema: o pai não 61

tinha dinheiro para comprar ingressos, ai ficávamos do lado de fora do estádio, espiando o jogo pelas frestas da madeira que cercava o gramado. No campo do Juventude algumas vezes subia numa árvore que tinha ao lado de fora, para poder assistir ao jogo de futebol. [...] A merenda que levava de manhã e de tarde para o colégio era um pedaço de pão com mel ou marmelada, não tinha dinheiro nem para comprar um refrigerante ou qualquer doce no colégio, pois nunca recebi qualquer mesada. Raramente após a missa no domingo o pai me comprava umas balas. Num domingo comprei quatro balas da sorte, e abrindo em casa encontrei um vale-brinde de um fogão a lenha, que foi entregue com festividade e que passou a ser nosso fogão, existente até hoje. O uniforme era sempre o mesmo, de brim caqui com cinturão de couro; como só tinha um uniforme, a mãe o lavava nos sábados à tarde, para poder usar na segunda-feira. Só tinha um sapato de couro preto e um tênis marca Conga (o mais barato), quando a sola do sapato gastava, mandava botar nova sola e um sapato chegou a ter a sola trocada quatro vezes. Quando chovia molhava o sapato e ficava cheio de barro, aí enquanto almoçava a mãe o lavava e secava em cima do fogão a lenha para poder ir à escola de tarde, mas quando chegava à escola à tarde os sapatos estavam novamente molhados, como também as meias, e tinha que ficar até o final da aula. Só consegui ter dois sapatos com 14 anos, quando estava na quarta série e ia me formar. Em dezembro de 1945 me formei com o título de bacharel, [...] e vinte dias depois, com 14 anos e meio, já iniciava trabalhar durante todo dia, no escritório da Metalúrgica Abramo Eberle (MAESA). “Em março de 1946, antes de completar 15 anos, à noite comecei a frequentar o curso de contador na Escola Técnica do Carmo, e o meu programa do dia era acordar às seis e meia da manhã, e estar na MAESA às 7h15min, saindo ao meio-dia para almoçar e estar de volta à uma e meia, e trabalhando até às 18 horas. Voltar para casa para jantar e estar já às sete e trinta horas no Colégio do Carmo para as aulas, terminando às dez horas da noite e chegando a casa às dez e vinte minutos, tudo isto feito a pé e normalmente sozinho. [...] Aí era hora de tomar banho, dormir e já às seis e meia acordar para mais um dia de trabalho. Isto de segunda a sábado. Quando sobrava tempo para qualquer divertimento? Nunca. No domingo de manhã ir à missa e no restante do dia aproveitava para fazer trabalhos da escola. Nem tempo para escutar rádio dava”. Depois dessa fase de grandes privações, sua vida começou a melhorar quando se formou como contador, trabalhando em várias firmas caxienses e conseguindo reunir algum dinheiro, com o qual ajudava a família. Ao mesmo tempo, iniciava sua participação mais ativa na comunidade, agregando-se aos clubes sociais e esportivos, tornando-se tesoureiro do Grêmio Atlético Eberle e secretário do Recreio Guarany. Sua carreira se estabilizou quando passou no concurso do Banco do Brasil, em 1951, atuando com destaque até se aposentar como sub-gerente da Agência Centro de Caxias, podendo fazer investimentos em vários interesses paralelos. “Personalidade ilustre da sociedade caxiense”, como o chamou João Pulita,171 Romeu tem no currículo inúmeras atividades comunitárias, ocupando a Presidência do Movimento Familiar Cristão Diocesano, de duas sub-comissões da Festa da Uva, da Associação Atlética Banco do Brasil, do Rotary Cinquentenário, do Recreio da Juventude e dos festejos dos 80 anos do Recreio. Como ex-presidente, é membro nato do Conselho Executivo do Recreio.172

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Pulita, João. “Sociedade”. Pioneiro, 29/05/2014 Recreio da Juventude. Conselho Deliberativo / Conselho Executivo

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Coleção de Romeu e Irma Rossi

Recebeu vários prêmios por sua destacada atuação na sociedade, como o de Melhor Presidente de Clubes Sociais e Recreativos do Rio Grande do Sul, o Troféu Guarita pelo trabalho em prol da compreensão, da paz e da amizade no estado, o Troféu Mercosul pela dedicação às causas humanitárias no âmbito do Mercosul, e o Troféu Destaques do Rio Grande do Sul pelos serviços comunitários prestados a pessoas carentes, deficientes e entidades beneficentes do estado. É também rotariano há muitos anos, participando de várias Diretorias e comissões especiais, chegando a ser governador distrital, depois membro permanente do Colégio de Governadores do Distrito 4700 e do Conselho Pessoal dos governadores, e presidente da Associação dos Ex-participantes de Programas da Fundação Rotária 2013-2014 e da Comissão Distrital de Alumni para o Rotary Internacional, recebendo por sua intensa atividade a Medalha Paul Harris com cinco safiras e o título de Benfeitor do Futuro, entre muitas outras distinções.173 174175 176 177 178 179 Além disso, como esportista nas equipes da Associação Atlética Banco do Brasil foi decacampeão de basquete, tricampeão de vôlei e decacampeão de bolão da cidade, tendo recebido o troféu de Melhor Jogador do Ano de 1960.

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Rotary Distrito 4700. Guia do Distrito 4700 – Paz Através do Servir, 27/06/2012 Rotary Distrito 4700. Guia do Distrito 4700 – Transformar Vidas, 22/06/2013 175 “Caxias do Sul”. Correio do Povo, 07/06/2012 176 Lopes, Rodrigo. “Debutantes do Recreio da Juventude em 1976”. Pioneiro, 11/09/2014 177 “Crescimento ou Retração?” In: Brasil Rotário, 2013; 88 (1096) 178 “Grande Distrito 4700... Somos Campeões em Títulos Paul Harris”. In: Carta Mensal Distrito 4700, 2011 (8) 179 “Distrito 4700 recebe troféus”. In: Carta Mensal, 1995, (11):8 174

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Foto Rotary Cinquentenario.

Sua esposa Irma Galiotto, com quem está casado há 60 anos, professora de Artes e pintora, também tem ativa participação na vida social de Caxias e é assídua no trabalho beneficente. Foi catequista na Catedral, professora de cursos para noivos, presidente da Casa da Amizade das Esposas de Rotarianos, membro de várias Diretorias das Damas de Caridade e colaboradora na Escola de Enfermagem, além de dividir responsabilidades com Romeu na direção das entidades onde atuaram, recebendo prêmios com ele, além de ser distinguida individualmente com a comenda Personalidade do Ano em Sociedade da Rádio Princesa e do Jornal de Caxias, o Troféu Guerreira Força de um Povo pelos esforços em prol da ética e do ideal de servir, e o Certificado de Reconhecimento do Rotary Clube de Imbé pelos serviços comunitários prestados naquele município, dizendo sentir-se realizada “por ter tido a oportunidade de concretizar o meu sonho, que era ajudar e auxiliar pessoas deficientes e carentes“. Romeu e Irma são pais de Roberto, arquiteto e comerciante, e Ronaldo, engenheiro elétrico e administrador de empresas, que estão radicados em Fortaleza dirigindo uma próspera empresa moveleira 180 181 e lhes deram os netos Marina, Matheus e Rafael, filhos de Roberto, e Lucas, Luciane e Laura, filhos de Ronaldo. Laura foi a Glamour Girl do Recreio da Juventude em 2012.182 180

“Móveis projetados ganham mercado no CE”. Diário do Nordeste, 12/01/2006 “Inovare inaugura showroom em Fortaleza”. Emobile, 27/08/2009 182 Peregrina, Odinha. “Recreio da Juventude - Glamour Girl 2012”, jun/2012. 181

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O prefeito José Ivo Sartori recebendo a visita do governador do distrito 4700 do Rotary International, Daniel Viuniski, acompanhado da esposa Izabel Balestro, do presidente do Rotary Caxias do Sul, Nelço Tesser, e do ex-governador Romeu Rossi (à extrema esquerda). Foto Cristofer Giacomet / Prefeitura de Caxias.

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Roberto Rossi e seus filhos Marina, Matheus e Rafael. Abaixo, Ronaldo Rossi e os filhos Lucas, Luciane e Laura. Coleção de Romeu Rossi.

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Irma Galiotto Rossi é filha de Domingos Galiotto e Oliva Rigoni Galiotto, radicados em Otávio Rocha, distrito de Flores da Cunha, sendo os maiores produtores de uva da região, com cerca de 220 toneladas anualmente. Seus avós paternos são Romano Galiotto e Maria Ferrari, que emigraram de Arzignano em 1883 e no Brasil foram viticultores, e seus bisavós são Domenico Galiotto e Margherita Dannese e João Batista Ferrari e Santina Ferrarini. Os avós maternos são Emilia Maiolli e Anibal Rigoni, ele nascido em Vicenza, Itália, e no Brasil foi sub-intendente de Nova Pádua e posteriormente nomeado intendente de Erechim, ocupando o cargo por diversos anos. Domigos Galiotto foi um dos fundadores e membro da Diretoria da Cooperativa Agrícola Otávio Rocha Ltda. Outros membros da família participaram desta sociedade histórica. Rodrigo Lopes escreveu uma matéria sobre ela, da qual retiro alguns trechos: “O movimento cooperativista no Rio Grande do Sul, liderado pelo advogado italiano Giuseppe Stéfano Partenò, tem sua origem em meados de 1911. Porém, as cooperativas vinícolas surgidas a partir dos ideais de Giuseppe tiveram vida curta – já em 1913 a União das Cooperativas era dissolvida. “A partir de 1929, no entanto, esse formato retorna com força total. É quando surgem a Cooperativa Forqueta/Caxias, em 21 de agosto de 1929; a Cooperativa Vinícola Emboaba/Nova Milano/Farroupilha, em 9 de novembro de 1929; a Cooperativa São Victor/Caxias, em 21 de novembro de 1929; e a Cooperativa Vinícola Otávio Rocha/Nova Trento (atual Flores da Cunha), em 30 de novembro de 1929. “Há 86 anos, batizando-a de Cooperativa Agrícola Otávio Rocha Ltda. e aproveitando os exemplos de outras localidades, 29 moradores se motivaram para a criação e elegeram o senhor Bortolo Manosso como o seu primeiro presidente. Fundada em 30 de novembro de 1929, a ccoperativa foi a pioneira na então Nova Trento, graças à abundante produção vinícola da região. Já o prédio foi inaugurado em 20 de novembro de 1931, dois anos após a fundação. “Nos registros de 1932 da prefeitura de Nova Trento, no item de indústria e comércio, há o registro da Cooperativa Otávio Rocha com tanoaria e de João Manosso e Carlos Dani com armazém de secos e molhados, produtos coloniais, calçados, cal, sal, óleo e tudo o que as famílias precisavam. [...] “Em 1937, uma séria crise em todo o setor cooperativo levou à opção por reunir cooperativas e instalar uma nova sede em Caxias do Sul. A Cooperativa de Otávio Rocha passou a integrar esse consórcio. Já em 1958, com aprovação dos associados, os bens foram vendidos para a firma João Slaviero & Cia Ltda. Slaviero tinha experiência na área de vinhos, ao administrar a própria Cooperativa de Otávio Rocha e também a Santo Antônio. “Com o encerramento de atividades da Slaviero, a cooperativa passou a ser propriedade da União Federal e, posteriormente, foi repassada ao município de Flores da Cunha. Em 2012, houve uma reunificação de cooperativas, com o nome de Nova Aliança. Pela sua história, acabaram incorporadas a São Victor e Otávio Rocha”.183

183

Lopes, Rodrigo. “Otávio Rocha e os primórdios do cooperativismo vinícola”. Pioneiro, 05/12/2015

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Os diretores e sócios-fundadores da cooperativa por volta de 1930, quando o prédio ainda estava sendo construído. Da esquerda para a direita, na primeira fila, em pé: Frederico Trentin, Joaquim Smiderle, Alberto Smiderle, Maximiliano Galiotto, Ulielmo Ferrari, Florêncio Panizzon, Heitor Bigarella, José Galiotto, Mário Ferrari e Ângelo Molon. Na segunda fila vemos Heitor Curra (então prefeito de Nova Trento), Jerônimo Zorzin, João Marzarotto, Félix Molon, (não identificado), José Marzarotto, Mateus Slaviero, Félix Nezzelo, Fioravante Galiotto; Sentados (diretoria): João Nezzelo, Atílio Trentin, Domingos Galiotto, João Slaviero, Bôrtolo Manosso (1º presidente), José Dani, Joaquim Molon e Alexandre Molon. Foto: Giacomo Geremia, reprodução do livro Heitor Curra – Um Cidadão Florense, de Lourdes Curra.

O prédio da Cooperativa Agrícola Otavio Rocha recém-construído em 1931. Reprodução do livro Heitor Curra – 73 Um Cidadão Florense, acervo pessoal de Lourdes Curra.

Giuseppe Rossi, filho de Ermenegildo e irmão de Amadio, casou-se com Lucia e teve os filhos Amadeo, João, Angelica, Francesca, Teresa e Luiz. Filiou-se ao Partido Republicano,184 foi ativo membro da Sociedade da Igreja, também fazia parte da Ordem Terceira de São Francisco, e foi agricultor e grande produtor de vinho e graspa, que exportava para todo o estado.185 Tessari acrescenta que “quem visse o seu pomar ficava encantado com a impressão de estar no paraíso terrestre, tamanha a quantidade de árvores frutíferas ao redor de sua casa e paióis. [...] Anualmente extraía quilos de mel da colmeia, que era cuidadosamente cuidada por ele e por seu filho João. Lucia, mais conhecida pelo apelido de Beppa Gildela, era uma mulher forte. Na comunidade, era encarregada dos doentes e dos moribundos, e de consolar os aflitos. Eram gente humilde, trabalhadores e, sobretudo, cristãos exemplares”. Quase nada se sabe sobre os seus filhos. Luiz foi irmão Lassalista.186 Angelica casou-se com Emyr Christiano Braghirolli, membro da Diretoria do Aymoré Futebol Clube e comerciante, com a filha Cristina Helena.187 188 Teresa, zeladora do grupo católico Propagação da Fé,189 casou-se com Hermenegildo Scalari.190 Marco Hermenegildo, advogado, pode ser seu filho. Um outro Amadeo, não o filho de Giuseppe nem o filho de Ermenegildo, vinha de Belluno. Vamos chamá-lo de Amadeo III para não criarmos mais confusão. Ele não consta no levantamento de Gardelin & Costa sobre os pioneiros, há escassíssima informação sobre sua juventude, e há muita coisa obscura, como ocorre com os outros Rossi. Com base na sua cidade de origem não haveria razão para incluí-lo em minha parentela, pois os meus Rossi vêm de Ton e Toss, mas há o testemunho fidedigno de Amadio, filho de Ermenegildo, afirmando que o Amadeo de Belluno era seu primo-irmão. O pai deveria então ser irmão de Ermenegildo II. Presumo que esse irmão, de nome Modesto, houvesse se mudado para lá e lá constituído sua família, e deve ter sido atraído para Caxias por Ermenegildo, que havia chegado anos antes. De Modesto pouco se sabe. Teria nascido em torno de 1844, viajando ao Brasil em torno de 1881 com cinco filhos, dos quais só descobri o nome de Amadeo III. Inicialmente Modesto trabalhou como agricultor, e faleceu em 3 de agosto de 1914 cercado de grande respeito, com um sepultamento muito concorrido. 191 Amadeo III teria nascido em Belluno em 15 de maio de 1862 e tornou-se famoso, mas sua biografia ainda está por ser escrita. Foi o pioneiro da metalurgia em Caxias, fundando a primeira funilaria da cidade no fim do século XIX, fabricando artigos de montaria, alambiques e caldeiras. O negócio se ampliou com uma seção de ourivesaria, evoluindo para uma grande metalúrgica, fazendo com que fosse destacado no álbum comemorativo dos 50 anos da imigração como um dos expoentes da indústria local. Mais tarde a empresa foi transferida para São Leopoldo, onde se tornou uma das maiores produtoras de armas de fogo do Brasil, com várias representações internacionais,192 além de ferramental, cofres, maquinário, embalagens metálicas, lunetas, cutelaria, vestuário e muitos outros itens. Em 1965 sua empresa recebeu duas páginas no Diário de Notícias e uma cachoeira de elogios.

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“Adhesões”. O Brazil, 03/04/1909 Tessari, op. cit. 186 Tessari, op. cit. 187 “O Aymoré F. C. brilha em Alfredo Chaves”. A Época, 20/11/1938 188 “Lar em festa”. O Momento, 21/07/1945 189 “Propagação da Fé”. O Brazil, 03/02/1912 190 “Editaes”. O Brasil, 31/12/1931 191 "Necrologia". O Brazil, 08/08/1914 192 Santini, Daniel & Viana, Natalia. “Em cinco anos, 4,3 milhões de armas nas ruas”. APublica, 27/01/2012 185

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A matéria é reproduzida logo depois, dividida em várias partes, contém a única biografia de Amadeo III que encontrei, mas sendo tão grandiloquente pode ter imprecisões ou erros. Também não cita todos os seus filhos pelo nome, não descobri o nome da esposa e não foi possível contatar nenhum descendente para esclarecer as dúvidas, completar as lacunas e corrigir possíveis erros.

Primeira funilaria de Amadeo Rossi. Foto em da Costa, Ana Elisia, op. cit.

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76 Álbum Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande del Sud 1875-1925

77 Diário de Notícias, 01/08/1965 – continua...

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Amadeo III teve vários outros negócios além da metalúrgica. Na primeira fase, quando a ourivesaria e a metalurgia estavam em alta, ele abriu também lojas de secos e molhados, selaria e trançamento, louças e equipamentos domésticos, e fazia a representação de várias firmas de Porto Alegre. Em 1913 associou-se a um certo Zugno para abrir uma oficina mecânica, uma ferraria e uma serraria, viajando à Europa para adquirir equipamentos.193 Em 1919 a imprensa chamava sua empresa de "estabelecimento de primeira ordem", mas iniciava um redirecionamento. A fundição dominava a produção da fábrica, a seção de ourivesaria havia sido reduzida, e os outros negócios não aparecem mais entre os interesses de Amadeo.194 Na década de 1910 seus produtos ganharam várias distinções: prêmio na Exposição Estadual de 1901, medalhas de prata e bronze na Exposição Nacional de 1908,195 medalha de ouro na Exposição Universal de 1911 em Turim, medalha de ouro e menção honrosa na Exposição Agropecuária de Porto Alegre de 1912,196 medalha de prata na Exposição de Santa Maria em 1914,197 medalhas de ouro e prata na III Exposição Estadual de Porto Alegre em 1916,198 medalha de ouro na Exposição Agrícola Industrial de Caxias, no mesmo ano,199 e medalhas de ouro e prata e menção honrosa na Exposição-Feira Agropecuária de Porto Alegre de 1917.200

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"Novo estabelecimento". O Brazil, 27/02/1913 "As nossas industrias". O Brazil, 19/06/1919 195 "Exposição Nacional de 1908". O Brazil, 28/01/1911 196 "Amadeo Rossi - Caxias". O Brazil, xx/xx/1913 197 "Exposição de Santa Maria". O Brazil, 30/05/1914 198 "Premiati nella 3ª Esposizione Agro Pecuaria realizzata à 2 settembre 1916 in Porto Alegro". Città di Caxias, 23/07/1916 199 "A exposição". O Brazil, 11/03/1916 200 "Distribuição de Diplomas". O Brazil, 13/07/1917 194

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Amadeo III foi ainda um dos vogais da Diretoria da Associação dos Comerciantes, quando a entidade foi reativada em 1912 depois de alguns anos de recesso. Foi calorosamente homenageado em 1941 junto com outros fundadores ainda vivos [João Paternoster, Anuncio Ungaretti e Rodolfo Braghiroli], ocasião em que foi feito sócio honorário e a entidade foi declarada de utilidade pública pelo Município, numa solenidade “de brilhantismo inexcedível”, quando os homenageados foram recebidos no recinto “entre vibrantes palmas, estando a assembleia de pé”, 201 202 e apresentados à nova geração “desta Associação Comercial de Caxias engalanada, comemorando um largo período de lutas, reivindicações, desafios e vitórias”, como “a imagem de um passado distante cheio de sacrifícios à causa sacrossanta do comércio”.203 Na década de 1960 fundou uma instituição para assistir seus funcionários e suas famílias, a Fundação Amadeo Rossi, que oferecia serviços odontológicos, médicos, farmacêuticos e escolares, além de servir como uma cooperativa. Hoje Amadeo Rossi é nome de uma rua em Caxias e de uma avenida, uma escola e uma praça em São Leopoldo. Recentemente Herédia o saudou, junto com Eberle e Gazzola, como “nomes de expressão na história da metalurgia caxiense, e refletem o exemplo de trabalho, poupança, empreendimento e domínio de ofício”.204

201

“Caxias, 22”. A Federação, 22/02/1912 “Com um brilhantismo inexcedivel realisou-se a solenidade comemorativa, no dia 8 do corrente”. A Época, 13/06/1941 203 “Associação Comercial de Caxias”. O Momento, 14/07/1941 204 Herédia, Vânia Beatriz Merlotti. O Processo de Industrialização da Zona Colonial Italiana. EDUCS. 1997 202

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Amadeo Rossi, o coronel Petrõnio Jucá, o general Canrobert da Costa e Antônio Rossi, por ocasião da visita de inspeção do general à empresa quando ela fornecia armas para o Exército. Diário de Notícias, 23/05/1954.

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Detalhes do website da empresa.

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Amadeo III teve os filhos Modesto Neto, Reinaldo, Virginia, Vizeu (mais conhecido como Eliseu), Antônio, Mário, Ricardo, Eugenia e João,205 206 207 aparentemente Emilia também foi uma filha.208 Mário e Ricardo foram os filhos mais velhos e os primeiros sócios do pai. Arthur A... e Olivo (Olino) A... também aparecem ligados à empresa de Amadeo;209 não fica claro se são filhos, mas sem dúvida são parentes. Sabe-se que Amadeo III teve doze filhos. Incluindo Emilia, Arthur e Olivo, a conta fecha com perfeição. 1) Modesto Rossi Neto nasceu em 1911, e só encontrei que estudou no Ginásio do Carmo e foi convocado pelo Exército em 1933. 2) Reinaldo faleceu na infância, em outubro de 1909.210 3) Eliseu (Vizeu) Rossi foi um dos sócios da empresa familiar, em 1969 era membro do Conselho Deliberativo. 211 Foi secretário do Esporte Clube Guarany.212 4) Emilia casou-se com Octavio Pasqualetto,213 falecido em 1945, e parece ter tido geração. 5) Mário Rossi foi da Diretoria do Recreio da Juventude,214 215 secretário da Sociedade de Mútuo Socorro São José,216 orador oficial e presidente do Esporte Clube Guarany,217 218 tesoureiro da Liga Caxiense de Desportos,219 mas aparentemente mudou-se em 1922 para Gramado,220 onde foi festeiro do Sagrado Coração de Jesus.221 Foi registrado novamente em Caxias em 1934, quando era conselheiro da Associação dos Comerciantes.222 Em 1969 era membro do Conselho Deliberativo da empresa familiar.223 Hoje é nome de rua. Talvez o de Gramado seja um homônimo. Também é incerta sua trajetória antes de a família se mudar para São Leopoldo, pois houve pelo menos mais um Mário Rossi em Caxias em sua época, que não é aparentado.

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“Ao Publico”. Città di Caxias, 05/03/1917 “Homenagem aos fundadores Amadeu Rossi & Cia.” Jornal do Dia, 31/01/1957 207 “Foro”. O Momento, 16/08/1937 208 “Agradecimento”. O Momento, 06/01/1945 209 “Alteração de Firma”. A Época, 13/10/1940 210 “Agradecimento”. O Brazil, 16/10/1909 211 “Rossi: divisas para o Brasil com armas de fogo e munições”. Diário de Notícias, 05/01/1969 212 “S. C. Guarany”. O Brasil, 03/06/1922 213 “Foro”. O Momento, 12/06/1937 214 “Nel simpatico circolo Recreio da Juventude”. Città di Caxias, 08/12/1913 215 “Com gentile pensiero”. Città di Caxias, 21/12/1915 216 “Sociedade S. José”. O Brasil, 26/04/1920 217 “Recreio Guarany”. O Momento, 05/07/1937 218 “Sports”. O Brasil, 22/01/1921 219 “Liga Caxiense de Desportos”. O Brasil, 30/04/1921 220 “Despedidas”. O Brasil, 01/04/1922 221 “Festas religiosas no Gramado”. O Brasil, 29/01/1923 222 “A Posse da Nova Diretoria da Ass. dos Comerciantes”. O Momento, 22/11/1934 223 “Rossi: divisas para o Brasil com armas de fogo e munições”. Diário de Notícias, 05/01/1969 206

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Casou-se com Inês Vincenzi, filha do sub-intendente de Antônio Prado,224 e teve pelo menos a filha Odete,225 “fino ornamento da sociedade leopoldense”, casada com Luiz Mocelin, funcionário do Banco Nacional do Comércio.226 6) Virginia Rossi casou-se em junho de 1917 com Alfredo Germani Neto, filho e continuador do grande moleiro Aristides Germani,227 que segundo a Embrapa modernizou a triticultura e a moagem brasileira.228 Alfredo foi político, líder do Partido Libertador e seu presidente honorário,229 conselheiro do Clube Juvenil e da Sociedade Príncipe de Nápoles,230 231 membro da Diretoria da Associação dos Comerciantes,232 membro e secretário do Conselho Consultivo Municipal,233 e participou da comissão para a elaboração da Lei Orçamentária Municipal de 1935.234 Faleceu em Porto Alegre em 13 de dezembro de 1957, com 68 anos, quando era diretor-presidente da Moinhos Germani S/A, cuja matriz havia sido transferida para a capital em 1941. Seu obituário louvou seu dinamismo e seu carisma, que lhe valeram um “amplo círculo de amizades”.235 Deixava os filhos a) Aristides Germani Neto, sócio na empresa familiar; b) Assis Brasil Germani, sócio na empresa, presidente do G. E. Flamengo (atual S.E.R. Caxias), casado com Suzana Damasceno Ferreira,236 pais de Maria da Graça, Regina Maria, casada com um Paiva (Sérgio ?), e Maria Cristina, casada com um d’Ávila (Amaston ?); c) Alcides Germani, sócio da empresa, mais d) Álvaro Ary Germani, piloto automobilístico, correu o VIII Circuito do Parque Farroupilha em Porto Alegre,237 e sócio da Fiorenzano & Germani em Cachoeira do Sul.238 Teve também três filhas. e) Yolanda Maria Germani, professora estadual e “figura de destaque na sociedade caxiense”,239 casada com Alberto Sesterhenn, agente graduado do Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários em Porto Alegre, 240 f) Inês Germani, casada com Nilo Travi, filho de Marcos Travi e Itala Grillo, nascido em 30 de janeiro de 1908 em Farroupilha,241 proprietário da tradicional Drogaria Americana em Caxias, 242 vereador pelo Partido Democrático Cristão,243 tesoureiro e vice-presidente da Associação Comercial,244 245 e

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“Cronaca locale”. Città di Caxias, 09/06/1916 “Viajantes”. A Época, 18/12/1938 226 “Caxias Social”. A Época, 25/02/1940 227 “Nozze”. Città di Caxias, 25/06/1917 228 Cunha, Gilberto R. "O Cavvaliere e o Trigo". Embrapa Trigo 229 “O Partido Libertador em Caxias do Sul”. O Momento, 17/11/1945 230 “Notas Sociaes”. O Brasil, 05/06/1920 231 “12º Aniversário da Marcha sobre Roma”. O Momento, 01/11/1934 232 Herédia, Vania Beatriz Merlotti. “A força do comércio na expansão urbana da zona colonial italiana”. In: Métis: história & cultura, 2012; 11 (21):381-397 233 “O dia de hoje, 28 de maio, na história regional”. Ponto Inicial, 28/05/2014 234 “Lei Orçamentaria do Municipio”. O Momento, 19/08/1935 235 “Falecimentos”. Diário de Notícias, 17/12/1957 236 “Noivado Assis – Suzana”. O Momento, 13/09/1947 237 “Concorrentes do VIII Circuito do Parque Farroupilha”. Diário de Notícias, 17/06/1958 238 “Falecimentos”. Diário de Notícias, 17/12/1957 239 “Caxias Social”. A Época, 19/05/1940 240 “Falecimentos”. Diário de Notícias, 17/12/1957 241 “Edital”. O Momento, 26/07/1937 242 “Falecimentos”. Diário de Notícias, 17/12/1957 243 “Instalados os trabalhos do Legislativo de Caxias”. Diário de Notícias, 04/03/1956 244 “Nova Diretoria da Associação Comercial”. A Época, 14/01/1941 245 “Diretoria da Associação Comercial de Caxias do Sul”. A Época, 14/06/1943 225

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membro da Comissão Municipal de Preços, 246 e g) Ítala Mafalda Germani, casada com o subtenente e comerciante Sílvio Delinghausen,247 gerando pelo menos uma filha, Margaret. 7) Ricardo Rossi foi casado com Dogolina Chiste e mudouse para São Paulo em 1922.248 Depois seus traços ficam difíceis de seguir. Um Ricardo Rossi foi comerciante em Palmital, e aparece em 1936 como um dos dirigentes da Campanha do Algodão, destinada a angariar recursos para a construção do Hospital São Paulo,249 mas não é possível assegurar que seja ele. De qualquer forma, em 1959 estava estabelecido em Porto Alegre como sócio da empresa familiar e morava num palacete. Em 1969 era membro do Conselho Deliberativo da empresa. 250 Teve pelo menos o filho a) Nestor Clóvis Rossi, mais conhecido como Clóvis, diretor-presidente da empresa familiar, casado com Lia Georg. Em 1965 Clóvis recebeu o título de Cidadão Leopoldense em reconhecimento aos serviços prestados à cidade.251 Clóvis e Lia tiveram pelo menos uma filha, Liane, que se casou em 1965 com Pedro Ernesto de Castilhos. 8) Antônio Amadeu Rossi foi festeiro de Santa Teresa,252 253 membro da Diretoria do Clube Juvenil,254 da Sociedade Vicentina, uma entidade beneficente,255 e do Tiro de Guerra, 256 um dos fundadores do Círculo Operário, 257 importante associação mais tarde abordada em detalhe, e colaborador do Orfanato Santa Terezinha.258 259 Um Antônio era membro do Conselho Deliberativo da empresa de Amadeo em 1969, mas é incerto que seja ele. Pode ter sido um filho ou sobrinho. Teve pelo menos o filho Francisco, nascido em 14 de fevereiro de 1910.260 Sua vida é difícil de seguir, houve mais de um Francisco Rossi na cidade.

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“Comissão Municipal de Preços”. A Época, 24/01/1942 “Falecimentos”. Diário de Notícias, 17/12/1957 248 “Despedidas”. O Brasil, 01/04/1922 249 “Pró-Hospital São Paulo”. Correio Paulistano, 17/06/1936 250 “Rossi: divisas para o Brasil com armas de fogo e munições”. Diário de Notícias, 05/01/1969 251 “São Leopoldo”. Diário de Notícias, 06/01/1965 252 “Santa Teresa”. Città di Caxias, 20/10/1916 253 “Festa de Santa Thereza”. O Momento, 27/09/1934 254 “Club Juvenil”. Città di Caxias, 02/06/1917 255 “Amparo à pobreza”. O Momento, 15/01/1934 256 “Tiro de Guerra 248”. Città di Caxias, 05/02/1918 257 “Classes Trabalhistas”. O Momento, 08/01/1934 258 “Orfanato Santa Terezinha”. O Momento, 19/04/1934 259 “Festa de Caridade”. O Momento, 19/12/1935 260 “Registro civil”. A Federação, 15/02/1910 247

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9) Eugenia Rossi foi casada com Attilio Granzotto, comerciante,261 sócio da grande Importadora Comercial,262 conselheiro da Associação dos Comerciantes,263 264 membro da comissão deconstrução da sede do Lar da Velhice,265 noveneiro na Festa do Divino Espírito Santo,266 e nome de rua. Eugenia faleceu precocemente em 1954, 267 mas teve com Attilio os filhos a) Iró Granzotto (Íris), “fino ornamento da nossa sociedade”, casada com José Osmar Geremia, advogado e presidente da seccional de Caxias da OAB,268 269 filho do conhecido fotógrafo Giacomo Geremia; b) Reny Granzotto; c) Rineu Granzotto (Irineu), radicado em São Miguel do Oeste, estado de Santa Catarina, onde foi tesoureiro do Clube Esportivo Guarani,270 um dos fundadores do Lions Clube,271 e é nome do Parque de Exposições do município, e d) Romeu Granzotto, personalidade importante em São Miguel do Oeste, um dos fundadores da Sociedade Amigos de Vila Oeste, que José Osmar Geremia. Foto OAB-Caxias desempenhou um papel decisivo na emancipação do antigo distrito de Chapecó,272 e colonizador de Romelândia, fundada em 1963 ao lado de São Miguel, que deve seu nome a ele.273 274

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“Consorcios”. Città di Caxias, 21/07/1918 “A Importadora Comercial Limitada e a Firma Golin Irmão estão envolvidas em contrabando?” O Momento, 22/01/1944 263 “Foi empossada a nova Diretoria da Associação dos Comerciantes de Caxias”. A Época, 20/11/1938 264 “Associação Comercial”. A Época, 05/11/1939 265 Lopes, Rodrigo. “Os 50 anos do Lar da Velhice São Francisco de Assis”. Pioneiro, 16/05/2015 266 “A Festa do Divino Espírito Santo”. O Momento, 25/05/1933 267 “Eugenia Rossi Granzotto”. O Momento, 12/02/1944 268 “Sociais”. O Momento, 23/06/1945 269 OAB – Subseção Caxias do Sul. Presidentes. 270 “Clube Esportivo Guarani, a Paixão de Um Povo!”. Clube Esportivo Guarani, 12/03/2015 271 “Lions Clube completa 50 anos de serviços à comunidade migueolestina”. Folha do Oeste, 26/5/2012 11 272 Rodrigues, Paulo Edson Dias. Os Prefeitos de São Miguel do Oeste no século XX. MCLEE, 2004 273 Saavedra, Jefferson. “Oeste é mais atingido pelo esvaziamento populacional”. A Notícia, 29/12/2004 274 Bavaresco, Paulo Ricardo. O Indivíduo Urbano: cotidiano, resistências e políticas públicas em pequenas cidades do oeste de Santa Catarina. Tese de Doutorado. UNISINOS, 2010 262

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Do filho 10) João Rossi nada pude encontrar. Um João foi pai de Victorio Rossi, agricultor, residente no 1º Distrito,275 mas não sei se é a mesma pessoa. Os filhos 11) Arthur A... e 12) Olivo (Olino) A... foram sócios da firma de Amadeo III e aparecem junto com os outros filhos em 1940 numa alteração da razão social, 276 mas não deixaram outros registros. O “A” de seu segundo nome presumivelmente significa Amadeo. Alguns personagens não foram bem localizados na genealogia, embora sejam seguramente descendentes de Amadeo III:   

Milton Rossi, um dos diretores da firma na época de Clóvis, talvez seu irmão. Foi também presidente do Rotary,277 sócio honorário da ULES, uma associação cultural, e paraninfo da sua I Olimpíada, e foi chamado de “personalidade leopoldense”.278 Cláris Amadeo, coordenador da empresa em 1969 279 e hoje nome de rua em São Leopoldo. Antônio e Alberto, membros do Conselho Deliberativo em 1969. 280

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“Alteração de firma”. A Época, 13/10/1940 “Rotary”. Diário de Notícias, 24/04/1963 278 “Destaques do interior”. Jornal do Dia, 27/03/1963 279 “Rossi: divisas para o Brasil com armas de fogo e munições”. Diário de Notícias, 05/01/1969 280 “Rossi: divisas para o Brasil com armas de fogo e munições”. Diário de Notícias, 05/01/1969 277

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Vieram vários grupos Rossi do Trentino que, segundo a tradição, eram aparentados, mas outros têm origens diferentes (Treviso, Vittorio Veneto, Mântua),281 e sua consanguinidade é duvidosa. Não foi possível distinguir a que ramo pertencem os outros Rossi que prosperaram em Caxias, como Francisco, fundador da funilaria que Abramo Eberle transformou numa grande metalúrgica; Ítalo, industrial;282 Vittorio e Romano, entre os fundadores do Clube Juvenil,283 irmãos de Rodolpho, Ernesto e Mario, empregados no jornal O Brazil;284 Tito, alfaiate;285 e Armando, Mário e Angelo, filhos de Tito, que em 1926 fundaram uma tipografia que se transformou na hoje tradicional Livraria Rossi, ainda em posse dos descendentes de Armando, e mesmo tendo sido muito ampliada, ainda em parte está instalada em seu prédio histórico.286

A primeira sede social do Clube Juvenil. Foto AHM. Ao lado, a Livraria. Foto Jornal do Comércio.

281

Gardelin & Costa, op. cit. Dalla Costa, Armando & De Souza-Santos, Elson Rodrigo. “A Randon e a sua trajetória de expansão e internacionalização”. In Economia & Tecnologia, 2009; 05 (18): 157-168 283 Clube Juvenil. Histórico do Clube. 284 “Rodolpho Rossi”. O Brazil, 15/06/1918 285 Giron, Loraine Slomp & Bergamaschi, Heloísa Eberle. Casas de Negócio: 125 anos de imigração italiana e o comércio regional. EDUCS, 2001 286 Hunoff, Roberto. “Livraria Rossi faz parte da trajetória de Caxias”. Jornal do Comércio, 17/04/2014 282

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No Tirol o nome Rizzi foi atestado desde o século XII, e como já foi dito tem muitos representantes na nobreza e no patriciado. A família também deixou forte marca em Caxias. Além de Lucia são citadas várias mulheres, mas foram poucos os homens, que não obstante levaram o nome adiante e deixaram grande descendência, dela saindo vários membros de projeção. Nos primeiros tempos aparecem Giacomo, a esposa Rosa, e os filhos Giacomo II, Francesco, Irene e Ignez, estabelecidos no lote 2 do Travessão Trentino da 2ª Légua, hoje o distrito de Forqueta;287 e alguns outros que se fixaram na Nova Colônia de Nova Palmira, entre eles Angelo, a esposa Libera e os filhos Archangelo, Thereza, Giacomo e Anna, e Hermenegildo, solteiro; que chegaram em 1876.288 Os Rizzo, que vieram em maior número e são agora uma família grande, são atestados na Itália como o equivalente singular de Rizzi, mas os que chegaram a Caxias não provinham do Tirol, e seu parentesco com os meus Rizzi se torna duvidoso. Giacomo e Miguel Rizzi estavam entre os fundadores da Cooperativa Vitivinícola Forqueta.289 Hoje Giacomo é nome de rua. A Cooperativa ainda está em atividade, agregando cerca de 300 famílias, e na sua sede histórica foi fundado um museu.290

O prédio da Cooperativa de Forqueta

287

Gardelin & Costa, op. cit. Gardelin & Costa, 2ª ed., op. cit. 289 Cooperativa Vitivinicola Forqueta Ltda. Fundação. 290 Secretaria do Turismo do Rio Grande do Sul. Cooperativa Vitivinícola Forqueta. 288

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Diz a Secretaria da Cultura de Caxias: “A atividade marcante na região de colonização italiana no Rio Grande do Sul foi a vitivinicultura. Foi por meio dela que obtevese algo mais que a própria sobrevivência na pequena propriedade rural. Apesar dos acidentes geográficos, do solo muitas vezes pobre, a uva Isabel expandiu-se, resistindo às pragas. Firmou uma paisagem cultural inconfundível. Cantinas domésticas, vinícolas e produtores sempre tiveram dificuldades com a expansão do mercado comercial. Em 1929, diante de uma grave crise do setor, um grupo de produtores reuniu-se e formou a Cooperativa Vitivinícola Forqueta, a primeira do gênero na América Latina. “Ainda em funcionamento, seu amplo prédio é também um testemunho arquitetônico e bem cultural. Por meio de uma parceria entre a Cooperativa e a Secretaria da Cultura/ Departamento de Memória e Patrimônio Cultural, constituiu-se o Museu da Uva e do Vinho Primo Slomp, em 2002, ocupando pequena parte da edificação. A exposição de longa duração reúne peças, objetos, utensílios e equipamentos que demonstram a fase artesanal do fabrico do vinho, momento histórico em que se deu a afirmação econômica do imigrante e de seus descendentes. Este acervo foi formado por várias doações de particulares e reunido pelo Museu Municipal, ao longo do tempo, portanto representativo de uma identidade cultural. Também estão expostos utensílios relativos ao cultivo e colheita da uva e recipientes para seu armazenamento, além de instrumentos de trabalho característicos dos ofícios correlatos – artesãos da cestaria e da tanoaria. Pode-se observar o esmero e a técnica no uso da madeira, do pequeno barril às grandes pipas onde o vinho aguardaria maturação. Em espaço contíguo, a Cooperativa instalou o Espaço Cultural. Além da degustação e/ou aquisição dos vinhos, sucos e produtos coloniais, o visitante pode ser surpreendido por apresentações do Grupo Felice Persone – canções e histórias bem humoradas – autêntico representante desta tradição italiana denominada filó”. 291 A Cooperativa foi uma grande força para o desenvolvimento do distrito, e segundo reportagem do Pioneiro, “oitenta anos depois, [...] a Cooperativa se mantém como um marco da história do vinho e da uva no Estado”. 292 Seu exemplo bem sucedido inspirou a criação de várias outras cooperativas na região.293

291

Secretaria da Cultura de Caxias do Sul. Museu da Uva e do Vinho Primo Slomp. Cagnini, Lariane. “Cooperativa Vitivinícola Forqueta completa 80 anos de atividades”. Pioneiro, 11/08/2009 293 “Cooperativismo costura a história”. Gazeta de Caxias. Especial, s/d. 292

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Depois o nome floresceu ainda mais. Alcides foi diretor do Grêmio Esportivo Vicentino;294 Eduardo e Octavio, industrialistas e comerciantes, foram membros da Associação dos Comerciantes;295 Alexandre foi diretor da grande Sociedade Vinícola Rio-Grandense;296 Pedro, com o sócio Pedro Regalin, são donos de uma das mais conhecidas churrascarias da cidade, a Imperador, em atividade desde 1970;297 Marília, tenente do Exército, foi a primeira militar oriunda de Caxias a se formar na renomada Escola de Formação Complementar do Exército, em Salvador; Orlando foi sub-prefeito de Forqueta;298 Alexandre, coordenador da Secretaria de Organização Política e Sindical do Sindicato dos Bancários de Caxias do Sul e Região;299 Alfeu, diretor de Infra-Estrutura do Sindilojas,300 e Raul, presidente da Federação Riograndense de Bocha,301 entre outros. Angelo é nome de rua; Aurora é nome de escola. Giacomo II e principalmente seu filho Nadir, agricultores, se tornaram grandes produtores de tomate, constituindo em 1971 uma empresa, Rizzi & Rizzi Ltda., depois conhecida como Agrimar, que recentemente recebeu homenagem da Câmara Municipal na passagem dos seus 40 anos, assinalando-se o seu grande envolvimento com a sociedade e sua preocupação com os princípios éticos.302 Mais tarde abriram um comércio de motoserras, pulverizadores e motores a gasolina, que se expandiu com várias filiais em outras cidades da região e hoje é um grande conglomerado empresarial, a Rizzi & Cia, com outras empresas de grande porte associadas, Nadir Rizzi (direita) recebe do prefeito José Ivo Sartori um troféu a que como a Unyterra, concessionária de marca os 40 anos da Agrimar. Foto da Câmara Municipal. implementos e tratores Yanmar; a Sotrima, com interesses na área da produção agrícola e concessonária de tratores Massey Ferguson; a Hidro Jet, que começou direcionada para a mineração e hoje é uma das maiores produtoras de hidroferragens do mundo; a Microinox, fundição de aço que atende os setores agrícola e automobilístico, com a maior planta da América do Sul em tonelagem produzida, e a Rodomega, que atende apenas às necessidade de transporte do próprio conglomerado Rizzi, o que dá uma medida do porte do grupo.303 304 Nadir, uma das figuras ilustres do alto empresariado caxiense, foi também presidente do Conselho Deliberativo da Câmara de Indústria e Comércio e hoje é vice-presidente do seu Conselho Superior.305 É casado com Lourdes Milesi, com descendência.

294

“Grêmio Esportivo Vicentino”. A Época, 04/02/1940 “Notas e notícias”. O Brasil, 05/11/1921 296 “Correspondencia Oficial”. O Momento, 30/05/1935 297 Churrascaria Imperador. Nossa história. 298 “ETE Samuara: SAMAE inaugura primeira obra do Plano de Tratamento de Esgoto”. Assessoria de Imprensa e Assessoria de Comunicação SAMAE, 28/06/2012 299 Endres, Karine. “Posse da nova diretoria em Caxias conta com grande participação”. SEEB Caxias, 02/08/2006 300 Sindicato do Comércio Varejista de Caxias do Sul. Diretorias das Câmaras Setoriais. 301 “Liga Caxiense completa 50”. Portal da Bocha, 2015 302 “Vereadores homenageiam Agrimar pelos 40 anos”. Assessoria de Imprensa da Câmara de Vereadores, 31/03/2010 303 “Grupo Rizzi faz convergência ao IFRS e avaliação dos ativos com laudos Ferrari”. Ferrari Consultoria Empresarial e Gestão de Ativos, 11/11/2012 304 Spuldaro, Mirian. “Nadir Pedro Rizzi” In: A Vindima, 2013; V (48):10-11 305 CIC. Conselhos e Diretoria. 295

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Victorio Longhi (Vittorio, Vitorio), meu bisavô, filho de Giovanni Battista Longhi e Catharina Rossi, nascido em 15 de outubro de 1883, foi agricultor e carpinteiro e depois industrial. Casou em 1908 com Lucia Pezzi, tendo nove filhos. Morreu cedo, em 16 de novembro de 1932, e dele há pouca notícia, mas foi lembrado como pessoa popular na comunidade, que todos os domingos, após a missa na Catedral, dava um banquete para os amigos que encontrasse pelo caminho, o que deixava sua esposa desconcertada, nunca sabendo quantos viriam almoçar. Foi membro da Sociedade Igreja de São Romédio e deu grande colaboração para a construção da atual igreja, 306 sendo um dos seus fundadores em 12 de julho de 1931,307 participando da Diretoria da Sociedade nesta época, integrando o Conselho Fiscal,308 e fazendo pouco antes de morrer a doação de um conto de réis em dinheiro e 10.200 tijolos para as obras, além de outra doação menor de 50 mil réis, como consta em registros no Livro de Ouro da Sociedade, descobertos recentemente por Gilmar Pedron Lorenzi.

Detalhe do Livro de Ouro da Sociedade São Romédio, com as entradas referentes a Victorio Longhi. A última, de 1935, é referente à sua viúva Lucia.

Praticamente não há sinais dele na imprensa, e o desconhecimento sobre sua vida é tão grande que nem mesmo a família sabia, até ser encontrada por minha mãe em 2015 uma referência em Giron & Bergamaschi, que fora sócio de uma importante madeireira, a Oliva, Gavioli & Cia. Pouco depois encontrei outra referência no álbum Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande del Sud 1875-1925, que dedicou uma página à empresa, mostrada a seguir.

306

Tessari, op. cit. Sessão de Assembléa Geral Extraordinaria – Acta nº 1. Livro de Atas da Associação Igreja de São Romédio, 12/07/1931 308 Sessão de Assembléa Geral Ordinaria – Acta nº 6. Livro de Atas da Associação Igreja de São Romédio, 24/04/1932 307

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97 Álbum Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande del Sud 1875-1925

Retrato a carvão de Victorio Longhi, um dos dois únicos testemunhos visuais do patriarca, que recebi de presente de Gilbert Longhi Mattana, que o conservava, e a quem deixo registrada minha gratidão. Abaixo, sua assinatura no Livro de Atas da Sociedade Igreja de São Romédio. Reprodução de Gilmar Pedron Lorenzi.

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De acordo com Giron & Bergamaschi, a empresa foi fundada em 1920 por Victorio mais Luigi Oliva, de Porto Alegre, e Clodoveu Gavioli, de Jaguari, mas o anúncio da constituição da empresa só foi publicado em 15 de janeiro de 1921. Tinha sede em Caxias, na Rua Marechal Floriano, nº 12, uma filial em Porto Alegre e terras com pinheirais no distrito de Fazenda Souza. Era especializada no beneficiamento de madeira e também operava na carpintaria e na construção de casas, caixas e barris de vinho. Era empresa de grande porte, com 16 funcionários administrativos e 112 operários, estabelecida com o vultoso capital de 900 contos de réis, uma enorme fortuna.309 Em 15 de junho de 1921 eles compraram as existências da casa comercial de Raymundo Buratto.310 Porém, em 1928 Victorio retirou-se da sociedade, levando consigo, ao que parece, 300 contos de réis, pois no ano seguinte a firma alterou seu contrato para adequar-se à nova composição e seu capital é indicado em 600 contos.311 Não se sabe como chegou a ter tanto dinheiro para entrar nesse negócio, pois em 1911 havia sido citado em uma relação de devedores de impostos publicada pela Intendência,312 o que só pode significar que estava em precária condição financeira. Penso que o capital pode ter vindo do recebimento da herança do seu pai, morto em 1917, possibilitando que melhorasse sua vida lançando-se como empresário. Se foi este o caso, podese especular sobre a riqueza que Giovanni Battista chegou a possuir. Apesar de Tessari ter dito que em torno de 1908 os muitos empreendimentos do pioneiro começaram a dar para trás, não há referência clara do que isso pode ter significado praticamente e a que nível de retrocesso ele teria chegado. Márcia Stormowski mostra Giovanni em torno de 1910 com uma dívida de 82 mil réis,313 mas não esclarece o contexto nem a origem da dívida, valor que não era muito elevado e que poderia não representar uma situação de crise, mas sim parte de algum negócio em andamento. Se os 300 contos que Victorio investiu na Oliva & Gavioli foram mesmo herança, Giovanni Battista pode ter deixado, mesmo em relativa decadência no momento da morte, uma verdadeira fortuna. A evolução financeira da empresa não é conhecida, e mesmo Giron & Bergamaschi dizendo que ela tinha o capital de 900 contos, não se sabe se este foi o montante no momento da sua fundação, e ela pode ter iniciado com um capital menor. Contudo, no álbum do cinquentenário de 1925 ela já aparece com 900 contos.

309

Giron, Loraine Slomp & Bergamaschi, Heloísa Eberle. Casas de Negócio: 125 anos de imigração italiana e o comércio regional. EDUCS, 2001. 310 “Ao Commercio”. O Brasil, 18/06/1921 311 “Junta Commercial”. A Federação, 04/05/1929 312 “Relação de devedores”. O Brazil, 23/01/1911 313 Stormowski, Márcia Sanocki. Crescimento Econômico e Desigualdade Social: o caso da ex-colônia Caxias (18751910). Dissertação de Mestrado. UFRGS, 2005

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Victorio e Lucia Longhi com seus filhos. Atrás: Tercila, Francisco, Guilherme, Alcides (meu avô) e Natalino. Na frente: Irma, Romilda, Lucia, Oscar, Victorio e Flora.

Se os hábitos de transmissão de herança daquela época foram observados no caso de Giovanni Battista, legando patrimônio somente aos filhos homens, e se a divisão foi igualitária entre eles, Giovanni teria deixado um total de 1.500 contos, o que parece simplesmente absurdo, pois não há notícia nenhuma, nem na imprensa, nem na memória familiar, de que Giovanni possa ter sido um magnata deste calibre, pois parece-me que riqueza tamanha não poderia passar despercebida pela imprensa caxiense, mesmo que as atividades da Comunidade de São Romédio tenham passado largamente à margem da atenção dos jornalistas da época, e pelo menos não teria passado despercebida de Tessari, o historiador de São Romédio. Ele nem mesmo aparece entre os membros da Associação dos Comerciantes, que incorporava empresários com recursos muito menores, embora a filiação à entidade não fosse compulsória. Assim, a origem dessa dinheirama toda permanece bem obscura, e permanece obscuro também o destino que Victorio deu aos 300 contos que parece ter levado ao retirar-se da Oliva & Gavioli, pois mesmo que a única foto que sobrevive dele o mostre, com a família, trajados com bastante apuro, ninguém recorda que ele tivesse, em qualquer momento, sido rico, não há sinais de que seus filhos tenham sido ricos na juventude, sua casa foi em todos os sentidos modesta, ele não aparece fazendo doações para a caridade salvo uma vez para a Igreja de São Romédio, nem adquirindo imóveis, nem viajando, não era dado a jogar, não é citado ostentando na crônica social, como os outros sócios da Oliva & Gavioli, nem mesmo consa que tenha aberto falência, e quase se chega a pensar que o Victorio milionário seja um homônimo. Mas mesmo que fosse o caso, este pelo menos provavelmente teria tido uma vida mais notória, mas o nome é virtualmente ausente nos jornais e ao que tudo indica houve naquela época apenas um Victorio Longhi em Caxias: ele.

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A esta altura já podemos até fantasiar, imaginando-o convertendo o capital em ouro sem contar a ninguém, e enterrando-o no fundo do quintal – hoje debaixo de um prédio de três andares... Seria uma grande piada, pois o que diz a tradição familiar é que quando morreu em 1932, apenas quatro anos depois de sair do negócio, Victorio deixou os seus em condição econômica longe da despreocupada, tanto é que seu filho Alcides, meu avô, ainda um adolescente de 15 anos, teve logo que começar a trabalhar como um pobre sapateiro, e seus irmãos naquela época não estavam em situação muito melhor. Sua vida permanece, pois, envolta em mistério, tão misteriosa quanto a preservação incorrupta do corpo de sua mãe e o desaparecimento dos despojos de seu pai sem haver sinais de violação do sepulcro, formando uma família que parece ter-se especializado em eventos surpreendentes e inexplicados.

Os óculos de Victorio e o estojo para guardá-los, presente precioso que recentemente ganhei pela generosidade de minha prima 101 Gilce Mattana dall’Alba, que os conservava. Ao lado, o antigo “tira-botas” de ferro fundido pertencente a Victorio, usado para descalçar sem ter que se abaixar. Apoia-se um pé sobre o corpo do escaravelho, encaixa-se o calcanhar do outro pé na sua “boca” e puxa-se o pé para cima. O calçado fica preso e o pé sai. No fim da vida Victorio se tornou obeso, e se explica a necessidade deste aparato, já que ele se movia com dificuldade.

A família de sua esposa Lucia Pezzi também foi pioneira de São Romédio, deixando da mesma forma marca relevante na comunidade. O sobrenome Pezzi do Tirol tem origens milanesas, 314 mais especificamente bergamascas, uma vez que quando aparecem os primeiros registros na região de Bérgamo, a cidade estava sob o domínio do Ducado de Milão. Ver nota 315 O patronímico era originalmente grafado como de Pezziis ou de Pezzis, sendo, ao que as evidências mostraram, um ramo cadete da família de Cavaneis, 316 317 nativa do vale do rio Brembo, também na região de Bérgamo, onde foram atestados desde o século XI.318 No século XIV um ramo desta família se fixou em Villa d’Almè, subúrbio de Bérgamo,319 onde aparecem vários membros grafados tanto com o sobrenome de Cavaneis como de Pezziis, sendo seguramente os mesmos personagens, e todos aparecendo na nobreza de alto escalão, sendo chamados de domini, o equivalente de grandes senhores.320 No século XV alguns de Pezziis se fixaram na capital do ducado e podem ter estabelecido laços de parentesco com a família ducal dos Visconti, tendo como seu expoente maior o “illustrissimo domino” Federico de Pezzis, designado embaixador junto ao Sacro Império, em Roma e na Turquia 321 322 e amigo íntimo do duque Filippo Maria Visconti, que o chamava em correspondência oficial de “querido familiar”.323 Ver nota 324 No final do século XVI um grupo milanês se transferiu para o Tirol, fixando-se primeiramente em Crescino e logo em Sporminore. 325 Ali foram registrados os primeiros parentes da linha direta conhecidos com alguma segurança, Dominico, Alberto e seu filho Francesco, embora a descendência que levou aos imigrantes tenha algumas lacunas ainda não esclarecidas definitivamente. Minhas pesquisas sugerem que a linha direta se formou através de Dominico > Alberto > Francesco > Bartolomeo > Giovanni. A ligação entre eles é muito provável, mas somente a partir de Giovanni Battista, que deve ser o mesmo personagem que Giovanni, a genealogia dos imigrantes foi estabelecida de maneira inequívoca e ininterrupta. 326 Dominico, Alberto e Francesco trabalhavam como ferreiros, mas deviam ser gente de posses. Dominico seguramente pertenceu à nobreza, sendo chamado pelo título de messer (meu senhor), casouse com uma domina, e em 1577 a família adquiriu uma grande propriedade rural em Sporminore, à qual deram o nome de Maso Milano em lembrança de suas origens milanesas.327 Em Crescino alguns parentes seus também seguiram a tradição de ferreiros, fundando uma grande ferraria que se manteve em atividade pelo menos até o século XIX, e ao mesmo tempo gerando vasta descendência.328 314

Comune di Sporminore. Località Maso Milano. O nome surgiu em outros locais também, e antes de Bérgamo, mas não há evidência de que sejam consanguíneos com os que deram origem aos tiroleses. 316 Luini, Fabio (ed.). Fondo pergamene dell’Archivio Vecchio dell’Amministrazione degli Orfanotrofi. Civica Biblioteca - Archivi Storici Angelo Mai, 1996 317 Istituti Educativi di Bergamo [Grillo, Paola & Zonca, Andrea (eds.)]. Fondo Pergamene dell'Archivio Vecchio dell'Amministrazione degli Orfanotrofi. Regesti e indici: Indice dei Nomi. Civica Biblioteca - Archivi Storici Angelo Mai, 1996 318 Boffelli, Roberto. “Cavagnis”. In: Stemmi e Gonfaloni. Comuni e Famiglie della Valle Brembana, 2010 319 Boffelli, op. cit. 320 Luini, op. cit. 321 Società Editrice Dante Alighieri di Albrighi. Nuova Rivista Storica, Volume 49. Segati, 1965 322 Sachella, Bartolomeo. Frottole. Commissione per i Testi di Lingua, 1990 323 Osio, Luigi. Documenti Diplomatici Tratti dagli Archivj Milanesi. Bernardoni di Giovanni, 1869 324 A palavra familiaris usada pelo duque nos documentos nem sempre significava parentesco, podia também significar amizade íntima 325 Comune di Sporminore, op. cit. 326 Maines, Mariano. Una Piccola Comunità si Racconta: Dercolo e Cressino 1725-1993: dalla Regola al Brasile ai nostri giorni. Saturnia, 2014 327 Comune di Sporminore, op. cit. 328 Maines, op. cit. 315

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A mudança para Dercolo, de onde saíram os imigrantes, foi realizada no século XVII através de Francesco, 329 provavelmente porque ele fora investido de um feudo na comuna, 330 vendendo o Maso Milano para a família Gabrieli. 331 Em Dercolo o nome se fixou na grafia Pezzi. Logo ganharam reconhecimento e ingressaram no patriciado (vicinia), embora a comuna fosse minúscula e bastante pobre, sendo citados vários membros da família nas assembleias comunais dos vicini, como Bartolomeo, Giovanni, Bortolo, Simon, Andrea e Giacomo, entre outros.332 333 No Volume III serão dados mais detalhes. Giovanni Battista foi pai de Bortolo, nascido em Dercolo em 1742, casado com Margarita, de família desconhecida. O grande malho movido a roda d’água que pertenceu à antiga ferraria Pezzi em Crescino. Foto de Mariano Bortolo assumiu um assento na assembleia dos vicini e foi eleito para o cargo de sagravo dos bosques, com a função de Maines. guardá-los e administrá-los em nome dos interesses públicos.334 Bortolo e Margarita tiveram dois filhos: o domino Bortolo II, nascido em 1770, casado com Barisella, e Andrea, nascido em 1º de junho de 1775.335 Um registro parece dizer que seu primeiro nome teria sido Giovan, mas a palavra pode referir-se à sua pouca idade naquela data (Giovan também significa jovem) e em outros só é citado como Andrea. O fato de Bortolo II ser chamado de domino pode evidenciar que a família, além de ter sido admitida na vicinia local, ainda conservava sua antiga nobreza, na Itália desta época um estatuto familiar e não apenas individual, embora só alguns detivessem títulos. Porém, nesta época o termo também passara a designar os grandes proprietários de terras e os líderes comunitários, e seu significado neste caso é incerto. Ainda um adolescente, Andrea foi um dos dois vicini escolhidos pela assembleia em julho de 1791, junto com Giovanni Maines, para administrar a primeira padaria pública de Dercolo, com a obrigação de fornecer “pan bello e bono e di gusto”, a ser pesado conforme as determinações do magistrado. Em 1794 a titularidade do privilégio de fazer o pão público foi transmitida para Simon e Giacomo Pezzi, e em 24 de julho de 1810 passou para Bortolo II, permanecendo seu irmão Andrea como fiador .336 Andrea foi casado primeiro com Gioseffa Zini, natural de Cavareno, com quem teve três filhos, e depois com Barbara Poletti, nascida em Mechel, de uma família atestada na nobreza desta cidade desde o século XVI, com muitos domini, vicini e notários imperiais entre seus membros, como será documentado no Volume III, sendo pai de mais dez crianças, entre elas Giovanni e Andrea II Epifanio, que viriam para o Brasil. 337 Andrea faleceu em Dercolo em 1868.

329

Comune di Sporminore, op. cit. Archivio di Stato di Trento. Inventario – Fondi Archivistici. Archivio Storico della Parrocchia di Dercolo. Pergamene 1478 - 1751 331 Comune di Sporminore, op. cit. 332 Maines, op. cit. 333 Giacomoni, Fabio. Carte di regola e statuti delle comunità rurali trentine, Volume 1. Jaca Book, 1991 334 Maines, op. cit. 335 Maines, op. cit. 336 Maines, op. cit. 337 Maines, op. cit. 330

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Registro da eleição de Bortolo Pezzi ao cargo de sagrario dos bosques. Seu nome está em realce: Bortolo quondam (filho de) Batta (Giovanni Battista) Pezzi. Abaixo, registro da escolha de Andrea Pezzi para o cargo de padeiro público. Seu nome está em realce. Fotos de Mariano Maines.

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Andrea II Epifanio, nascido em Dercolo em 5 de janeiro de 1814, casou-se com Cattarina Margarita Formolo, nascida em Sporminore. Cattarina era filha de Giuseppe Formolo e Anna dal Sasso (também grafado Dalsas), que tiveram, além de Cattarina, os filhos Giovanni Giuseppe, Teresia Margarita, Celeste Pietro, Antonio e Francesco. Não há registro de dal Sasso nos primeiros tempos de Caxias, mas dos Formolo também veio, da mesma região, Demetrio, filho de Giuseppe. 338 339 Ao que parece outros vieram sem serem registrados na chegada. A ocupação de Andrea II não é conhecida. Ele e Cattarina tiveram catorze filhos. Cinco morreram logo após nascer, um viveu apenas um ano, e Anna faleceu com 31 anos, restando quatro homens e três mulheres: Andrea III (25/03/1838), Celesta ou Celestina (06/12/1840), Giuseppe (17/08/1843), Angela (12/11/1845), Franco (Francesco, 10/11/1949), Teresa (23/04/1858) e Pietro.340 Vieram para o Brasil Andrea II, sua esposa Cattarina e os filhos Pietro, Angela e Giuseppe, sendo os primeiros emigrantes a saírem de Dercolo, o que ocorreu em 2 de maio de 1876, chegando a Porto Alegre no dia do Espírito Santo do mesmo ano, e depois passando a Caxias do Sul, onde chegaram em 22 de agosto. Adquiriram 1/3 do lote 38 do Travessão Santa Teresa da 5ª Légua, com 321.044 m2. 341 342 343 Outros Pezzi de Dercolo seguiriam seu exemplo pouco depois, incluindo mais filhos de Andrea II: Andrea III, Franco e Teresa.344 Eles serão abordados mais adiante. Se dali veio um bom grupo, da vizinha Crescino, onde formou-se uma comunidade Pezzi muito maior, também descendente dos milaneses, não saiu nenhum imigrante. Dos filhos de Andrea II apenas Celestina ficou na Itália, casou-se em 1869 com o viúvo Carlo Pezzi (23/03/1806-14/08/1892), tendo os filhos Carlo II (01/08/1872) e Rita. Celestina faleceu em 15 de maio de 1908.345 A causa da emigração é um pouco obscura. A Itália estava convulsionada e empobrecida, mas sabe-se que os Pezzi tinham muitas terras em Dercolo, Maines refere que pensaram muito antes de tomar a decisão, o que indica não ser uma urgência, e Tessari afirma que Giuseppe, irmão de Pietro, veio “com muito dinheiro no bolso”. Porém, Tessari diz também que Teresa, outra irmã de Pietro, viajou fugindo “da fome, da peste e das guerras”, mas não é claro se isso significa que ela pessoalmente estivesse pobre, e poderia referir-se à situação geral da comuna no século XIX, aflita desde as Guerras Napoleônicas por uma série quase ininterrupta de graves dificuldades, que incluíram também mudanças políticas que levaram a administrações tirânicas, mais várias pragas agrícolas, inundações, secas e outros desastres, tornando-se um local bem pouco favorável para se levar uma vida tranquila e florescente. O livro de Maines traça um panorama trágico para Dercolo neste longo período.346 Pietro Stefano Pezzi, nascido em Dercolo em 12 de novembro de 1854, instalou-se em Caxias junto com sua família e sua noiva Teresa Catarina Tomasoni, acompanhando os pioneiros Longhi de São Romédio. Tessari disse que Pietro e Teresa já chegaram casados e com uma filha nascida na viagem, mas de acordo com os registros paroquiais de Caxias o historiador se enganou, tendo casado em 12 de novembro de 1879, e a filha, Angela, nascido em 23 de março de 1882.347 338

Diocesi di Trento. Registri Parrocchiali 1548-1937 Tessari, op. cit. 340 Maines, op. cit. 341 Cenni, Franco. Italianos no Brasil: "andiamo in 'Merica". EdiUSP, 2003 342 Gardelin & Balen, op. cit. 343 Gardelin & Costa, op. cit. 344 Maines, op. cit. 345 Maines, op. cit. 346 Maines, op. cit. 347 Gardelin & Costa, op. cit. 339

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Teresa, nascida em 26 de junho de 1859 em Serravalle all’Adige, distrito da comuna de Ala, era filha de Gaetano Tomasoni e Clorinda Marchi, e chegou com sua mãe, já viúva, e mais dois irmãos, Luigia e Giovanni. 348 Foram pais de minha bisavó Lucia Tomasoni Pezzi. O sobrenome de Lucia foi grafado Tomazzoni, Tomazoni e Tomasoni no Brasil, mas considerando os registros em Ala, o mais frequente é Tomasoni, forma que vou preferir neste estudo. Tessari grafa como Tomazoni e Tomazzoni, e quando ele for citado serão mantidas as formas que adotou. Porém, o nome teve variantes legítimas como as mencionadas, e como todos os pioneiros procediam da mesma região de Trento, não há grande dúvida de serem todos de um mesmo tronco familiar. Diz Marcos Kirst que José Pezzi [irmão de Pietro, conhecido entre nós como Giuseppe] foi um dos primeiros a explorar a região do Campo dos Bugres, onde a sede urbana foi fundada. Impaciente com a demora de sua transferência para a colônia enquanto esperava na Casa do Imigrante de Feliz, ele e Félix Laner, em maio de 1876, partiram a cavalo rumo ao Campo dos Bugres “a fim de fazer um reconhecimento prévio da área que lhes era destinada. Abrindo picadas a facão e vencendo as escarpas cerradas, atingiram finalmente o local, transformandose nos dois primeiros imigrantes a pisarem na terra que viria a sediar Caxias do Sul”. 349 Embora essa história possa ser real no que diz respeito aos italianos especificamente no Campo dos Bugres, esses pioneiros não foram os primeiros colonizadores de Caxias, pois desde 1871 Generoso Mainardo Cardoso e Pedro Pinto Guerreiro já se haviam estabelecido no próprio Campo dos Bugres,350 e desde 1872 um pequeno grupo de alemães da Boêmia vinha se fixando no Travessão dos Boêmios da 1ª Légua, hoje parte do distrito de Forqueta.351 Tessari dá uma vívida ideia da enorme aspereza da colonização em seu início: “No Santuário [de São Romédio, no Tirol], ao pé do altar da Capela Maior, as onze primeiras famílias de imigrantes que vieram para Caxias do Sul, para nunca mais voltar, antes de empreenderem a longa viagem, rezaram e pediram muita proteção para o destino então incerto que iriam enfrentar. Entre outros, participaram da oração de despedida os irmãos Pietro, Giuseppe, Teresa e Angela Pezzi e Teresa Tomazoni, esposa de Pietro. [...] No mesmo dia [da chegada], tomaram posse de 321.110 m2 de terra do lote rural nº 38 da 5ª Légua, a 3 réis a braça quadrada [refere-se aqui a Pietro Pezzi e Teresa Tomasoni]. O referido terreno estava todo coberto por grandes árvores, vendo-se acima das mesmas, entre as centenas de copas de pinheiros, revoadas de papagaios e bandos de macacos. [...] Acenderam uma fogueira, e até clarear o dia não dormiram, mas puderam aquecer-se à luz do fogo que mantinha longe o perigo dos animais selvagens. [...] A maior preocupação dos imigrantes, quando tomaram posse de seu pedaço de terra, foi encontrar alimentos para o início da nova vida. [...] Entrando mata adentro, encontraram um pequeno rio com águas muito límpidas, nas quais se viam cardumes de pequenos e médios peixes, que muito animaram o casal. Carne de peixe não faltaria para sua alimentação e, se tivessem uma espingarda, também não faltariam os variados pássaros da mata. [...] Encontraram muitos caranguejos e uma espécie de mariscos que viviam em água doce. Às margens do mesmo rio, em pequenos banhados, encontraram também muitas rãs e caramujos que, cozidos sob as cinzas incandescentes, serviram como seus primeiros alimentos. A imensa sombra da mata aumentava-lhes o temor, a angústia e a saudade da velha pátria. [...] 348

Tessari, op. cit. Kirst, Marcos. “Ecos do Passado”. Revista Acontece Sul, 08/08/2013 350 Gardelin & Costa 2ª ed., op. cit. 351 Giron, Loraine Slomp. Caxias do Sul: evolução histórica. UCS / EST / Prefeitura Municipal de Caxias do Sul, 1977 349

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107 Fotos em Tessari, op. cit.

“As primeiras casas construídas pelos povoadores da 5ª Légua de Caxias do Sul poderiam ser de pequenos troncos de árvores, amarrados uns aos outros com cipó, formando quatro paredes e um telhado. Havia uma porta e duas janelas, também arrumadas com galhos. E por não haver ainda tábuas para fechar as paredes, tudo era revestido com folhas de palmeiras e capim conhecido pelo nome de ‘rabo de burro’. O telhado também era coberto pelo mesmo capim e o piso era de chão batido. Um pouco longe da casa, para evitar incêndios, uma cozinha improvisada, denominada el fogoler, complementava o conjunto da moradia. “Resolvido o problema da habitação, abertas as clareiras no meio da mata, em pouco tempo os imigrantes estavam com suas lavouras em plena condição de receberem as primeiras sementes, produtoras de alimentos num futuro muito breve – 60 ou 90 dias, conforme o ciclo produtivo da respectiva planta. [...] Nas roças havia trabalho para todos. Por isso, junto com os maridos, trabalhavam suas esposas e seus filhos, ainda crianças. No início, como não havia outros instrumentos de trabalho, a não ser a enxada, ramos de plantas com formato de arado, puxados por seres humanos, constituíam os primeiros instrumentos de trabalho utilizados para lavrar a terra. Com tanta vontade de trabalhar, em pouco tempo, menos de três meses, colheram batatas, formentone [trigo sarraceno] e verduras que vieram melhorar as variedades de alimentos apresentados à mesa do colono. [...] “Em 1881 o trigo, o milho, feijão e outros cereais começavam a encher os paióis. O leite, a manteiga, o queijo e a carne de aves domésticas e de outros animais criados não mais faltavam à mesa do agricultor. Também os produtos suínos de fabricação caseira, como salame, copas, banha, presuntos e outros derivados, tornavam a alimentação das famílias cada vez mais farta e variada. Em 1882 a alegria foi geral entre os imigrantes, pois tomaram os primeiros copos de vinho produzido com as primeiras uvas de seus parreirais”. Porém, os patriarcas não chegaram a desfrutar desse progresso. Cattarina Formolo faleceu em 1º de dezembro de 1878, menos de dois anos depois de chegar, de uma “apoplexia fulminante”,352 e seu marido Andrea Pezzi a seguiu em 1º de outubro de 1880.353 Nada mais se sabe sobre eles. Em 1925 o nome de Andrea foi inscrito como um dos fundadores da cidade no Livro de Ouro do Município,354 cujo registro está ao lado, acima da placa da pedra fundamental de São Romédio, que perpetua o nome de seu filho Pietro. Os nomes de Francesco e Giuseppe também foram inscritos no Livro de Ouro. Tessari lembra que Pietro, além de agricultor e carpinteiro, fabricou pipas para vinho. Nos últimos anos, com um carro de bois, fazia fretes para os habitantes da comunidade. Diz o cronista: “Padecendo de uma neurose de angústia, muito sofreram para criar seus filhos, mas, apesar de tudo, todos receberam instrução primária e uma educação religiosa exemplar”. 352

Guarnieri. Primeiros registros cartoriais de Caxias do Sul. Gardelin & Costa, op. cit. 354 Município de Caxias. A Municipalidade de Caxias em Memória aos seus Pioneiros no Primeiro Cincoentenario de sua Fundação 1875-1925 353

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Assinaturas dos doadores de São Romédio para as obras da Catedral, onde estão incluídos os nomes dos ancestrais Pietro Pezzi, Lucia Rizzi Rossi e Catharina Rossi Longhi, mais vários outros parentes. A assinatura de Teresa Pezzi pode ser da irmã de Pietro ou de sua esposa. Acervo AHM.

Mesmo entre “neuroses” e dificuldades evidentes, Pietro e Teresa conquistaram uma boa vida com seus negócios, e tiveram grande participação nas atividades da Sociedade Igreja de São Romédio, que ajudaram a fundar, sendo Pietro do triunvirato diretor até 1894, além de ser fabriqueiro da primeira capela de madeira e um dos fundadores da segunda capela. 355 356 Teresa dedicou-se ao lar e a dar assistência aos doentes da região, levando-lhes conforto e sustento, sendo também catequista.357 Uma Teresa Pezzi foi citada na imprensa em 1916 entre outras “dignas senhoras” que cuidaram de Angela de Ros Meneguzzi em seus meses derradeiros, recebendo a “imperecível gratidão” do monsenhor João Meneguzzi, vigário da Catedral, de quem Angela era mãe,358 e em 1922 foi citada como tendo feito em 1921 uma doação para o Hospital de Caridade. 359 Contudo, estas citações podem se referir à esposa de Abramo Pezzi. No fim da vida Pietro subdividiu sua propriedade e doou para cada filho um pedaço de terra. Morreu em 23 de julho de 1901, em São Romédio. Teresa o seguiu em 11 de junho de 1922.360 O casal teve muitos filhos, ocupados na agricultura, na indústria e no comércio, que produziram numerosa descendência, mas sobre a maioria quase nada se sabe. Foram seus filhos:

João Pezzi e Rosina Fedrizzi.

1) Giovanni Erminio Pezzi (João, 1890 – antes de jul/1931), agricultor, consta no Livro de Ouro do Hospital Pompeia pela doação que lhe fez, 361 e em 1920 foi membro do triunvirato diretor da Sociedade Igreja de São Romédio,362 casado com Rosa Fedrizzi (Rosina), que depois de viúva doou, junto com Angelico Pedron, o terreno onde se ergueu a terceira igreja.363 Foram pais de Pedro, agricultor, Igino Antonio (Higino, 16/08/1919), metalúrgico, e mais cinco filhos.

355

Tessari, op. cit. São Romédio. Comunidade São Romédio, 28/10/2012 357 Tessari, op. cit. 358 “Agradecimento e missa”. O Brazil, 13/05/1916 359 “Hospital de Caridade”. O Brazil, 07/09/1922 360 Tessari, op. cit. 361 “Hospital N. S. de Pompeia”. O Brasil, 07/06/1924 362 Comunidade de São Romédio. Festas em São Romédio até 1920, 2015 363 Tessari, op. cit. 356

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Colorinda Pezzi Stalivieri e Cesare Stalivieri.

2) Colorinda Pezzi (28/09/1885 – 24/10/1964), casada com Cesare Stalivieri (06/01/1883 – 21/04/1963), agricultor e carpinteiro, um dos fundadores da terceira igreja de São Romédio, para cuja construção doou 500 mil réis,364 hoje nome de rua. Cesare nasceu na Itália, filho de Benjamino, que chegou ao Brasil em 1887, inciando sua vida como agricultor e fabricante de cadeiras. Trazia também os filhos Silvio, Candida, Giorgio e Giovanni. Diz a tradição que o pioneiro veio com muitas barras de ouro ocultas, descobertas quando sua casa incendiou. 365 Silvio foi um dos primeiros professores da cidade, nomeado em 1887 pelo Consulado da Itália para ensinar em italiano, e subvencionado pelo governo brasileiro para ensinar também em português.366 Foi ainda membro da Comissão de Finanças do Grêmio Esportivo São Pelegrino, 367 e hoje é nome de uma escola municipal. Candida era parteira. Depois se tornaram conhecidos Silvia, apreciada cantora, se apresentou nos clubes sociais;368 Suely, professora e socialite, destacada na matéria de página inteira “Mulheres Caxienses” do jornal A Época de outubro de 1949; Nilo, Marcelo e Firmino, do Conselho Deliberativo do Az de Ouro Football Club.369 Fábio, João e Pedro Benjamin são nomes de rua. Mais recentemente vêm fazendo nome Berenice, fotógrafa do jornal Pioneiro; Luciane, professora universitária, assessora de Relações Internacionais da Universidade de Caxias do Sul e presidente do Fórum das Assessorias das Universidades Brasileiras para Assuntos Internacionais;370 Lonis, advogado especializado em cidadania italiana,371 pai de Lissandro, cineasta e sócio da produtora Spaghetti Filmes, com contatos internacionais, recipiente do Troféu ARI Serra Gaúcha da Associação Riograndense de Imprensa. 372 373 374 364

Livro de Atas da Associação Igreja de São Romédio. Sessão de Assembléa Geral Extraordinaria – Acta nº 1, 12/07/1931 365 Tessari, op. cit. 366 Tessari, op. cit. 367 “Gremio Sportivo S. Pellegrino”. A Federação, 19/07/1921 368 “O Show de Caxias”. A Época, 21/11/1943 369 “Volta á avividade o Az de Ouro. F. C.” A Época, 21/01/1951 370 Stallivieri, Luciane. “Um ano de aprendizado e realizações”. In: Comunitárias – Revista da Associação Brasileira das Universidades Comunitárias; 2005; X (36):11 371 “Irregularidade amplia exigências”. Correio Riograndense, Especial. 372 Pulita, João. “Social de segunda”. Pioneiro, 30/06/2014 373 Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul. “Entrega do Troféu ARI Serra Gaúcha 2010 emociona agraciados”. In: Revista Informações & Negócios, 2010; 19 (146):3 374 “Cineasta italiano visita o Brasil nesta quinta-feira”. Gramado.site, 08/01/2011

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Os Fedrizzi em 1910: à frente, sentada, a matriarca Raymonda. Na fila de trás, os filhos Modesto e Giuseppe Fedrizzi. Na fila da frente, a partir da esquerda, o casal Rafael Fedrizzi e Angela Pezzi, Carolina Fedrizzi e o casal Elisa Gollo e Antonio Fedrizzi. Coleção de Aldo José Fedrizzi.

3) Francesco Pezzi (Francisco), agricultor e produtor de vinho, várias vezes conselheiro fiscal e depois presidente da Sociedade da Igreja,375 casado com Rosa, filha de Giovanni Battista Longhi e Catharina Rossi. 4) Pietro II Pezzi (Pedro), agricultor e carreteiro, casado com Ottilia Longhi, pais de Luiz, agricultor. 5) Angela Pezzi (Angelina), casou-se com Rafaele Fedrizzi, membro de uma família que conquistaria grande projeção em Caxias. Era filho de Celeste Fedrizzi e Raymonda Webber, oriundos de Toss. Chegaram ao Brasil em 9 de maio de 1878, junto com Antonio Fedrizzi, casado com Celestina Bonvicini, e Giuseppe Fedrizzi, irmãos de Celeste. Além de Rafaele, Celeste e Raymonda tiveram os filhos Giuseppe (José), Modesto (Tito), Otilia (Tia), Antonio e Carolina. Celeste era filho de Pietro Antonio e Mariana Bonvieri. Tessari diz que tinha real vocação para os trabalhos na terra, plantando uma variedade de culturas com grande produtividade e desenvolvendo muitos tipos de criações de animais, incluindo o bicho-da-seda. Mantinha uma grande horta, fabricava queijos, salames, presuntos, copas e conservas de hortaliças e frutas, e trabalhou também na carpintaria, produzindo rodas de carretas, pipas para vinho, arados, cabos de ferramentas, gamelas e outros utensílios domésticos. Produzia 10 mil litros de vinho por ano que eram vendidos na Comunidade e na Sede Dante, além de produzir graspa, exportada para Porto Alegre e outros locais do estado. Raymonda ajudava em todos os trabalhos do marido junto com os filhos, e dedicava-se ainda à assistência de doentes e moribundos da região. Doaram um terreno para a construção da praça diante da Igreja, além de ajudarem na conservação e funcionamento da escola, da igreja e do cemitério.376

375 376

Sessão de Assembléa Geral Ordinaria – Acta nº 6. Livro de Atas da Associação Igreja de São Romédio, 24/04/1932 Tessari, op. cit

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Antiga casa da família Fedrizzi em São Romédio. Foto de Gilmar Pedron Lorenzi.

Rafaele Giovanni Battista Fedrizzi foi agricultor, depois comerciante e madeireiro, e tesoureiro da Sociedade da Igreja São Romédio.377 Teve com a esposa Angela Pezzi os filhos a) Teresinha, casada com Antonio Angonese, operário na Metalúrgica Eberle; b) Elvira, casada com Antonio Bettiol, operário; c) Ida, solteira (?); d) Julia, casada com Paulino Bolzan, operário; e) Frederico, fabriqueiro da igreja de São Romédio, casado com Lola Travi; ele ou um homônimo foi agente da Companhia Sul América e diretor comercial da Cooperativa Viti-Vinícola do Rio Grande do Sul;378 f) Ignez Estelina, casada com Guilherme Angonese, operário, e g) Clementina Maria, casada com Albino Formolo, grande comerciante, cuja família será tratada mais tarde. Antonio Fedrizzi (01/05/1893), outro filho de Celeste, foi presidente da Sociedade da Igreja São Romédio e por mais de 50 anos funcionário da Metalúrgica Eberle, iniciando nos serviços gerais e chegando a chefe de seção.379 Casou com Elisa Gollo (12/12/1893), filha de Luigi Gollo e Catarina Pietrobelli.

377

“Corporações”. A Federação, 07/10/1918 “Comunicação”. O Momento, 04/10/1937 379 Lopes, Rodrigo. “A família Fedrizzi e as origens de São Romédio”. Pioneiro, 23/05/2016 378

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Os filhos de Antonio Fedrizzi em 1935: Fernando Celestino, Zulmiro Antonio, Antonio (o pai) e Alcides Luiz, defronte à casa da família em São Romédio. Coleção de Aldo José Fedrizzi.

Antonio e Elisa tiveram os filhos a) Fernando Celestino, b) Alcides Luiz, contabilista, casado com Vilma Facchin e pai de oito filhos, c) Aldo Pedro, prestigiado funcionário da Metalúrgica Eberle, destacado em um dos boletins da empresa: "Trabalhando e estudando, dirigindo e sendo dirigido, amando seu trabalho e sua família, Aldo Pedro Fedrizzi é um retrato dos homens que fazem a Maesa crescer, enriquecendo o Rio Grande e engrandecendo o Brasil". d) Oscar Santo, formado na Escola Técnica de Comércio do Colégio do Carmo, membro da Diretoria do Departamento de Difusão e Propaganda do Recreio Guarany, funcionário da Metalúrgica Eberle e fabriqueiro da Igreja de São Romédio, casado com Ilza Angelina Fontana, e) Norma Raimonda, f) Zulmiro Antonio, fabriqueiro da Igreja de São Romédio, casado com Josephina Roldo, g) Vasco Antonio, tesoureiro de Esporte Clube Juventude;380 duas vezes presidente da Sociedade da Igreja nos anos 80, entrou na Metalúrgica em 1946 e aposentou-se em 1986, passando por diversas funções, desde o escritório até a galvanostegia, onde as peças ganhavam banhos de ouro ou prata.381 h) Adelia e i) Erone Antonieta, casada com um Lorandi, professora e nome de rua. Os Fedrizzi foram uma das famílias mais engajadas nas atividades comunitárias da Sociedade da Igreja São Romédio. Além de Celeste, Giuseppe e Antonio, membros ativos na primeira etapa desta associação, ocupando grande número de funções, mais tarde se destacaram também Antonio, Rosa, Oscar e Frederico, entre os principais fabriqueiros da atual igreja. 382

380

“Nova diretoria do Esporte Clube Juventude”. A Época, 14/01/1954 Lopes, op. cit 382 Tessari, op. cit 381

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Carlos Giovanni Fedrizzi, sobrinho de Celeste, filho de Antonio e neto de Pietro Antonio, casouse com Ema Pedron. Agricultor no início, depois foi carpinteiro e construtor, dono de um depósito de madeiras e um armazém com variado sortimento de mercadorias, membro fundador e primeiro presidente da União Cooperativa de Carpinteiros.383 Era “grandemente estimado pelo seu correto proceder e grande amigo dos amigos”.384 A situação de Carlos se tornou sólida o bastante para suas filhas a) Enoar e b) Julia serem citadas muitas vezes na crônica social. Julia foi professora estadual, depois designada para Erechim.385 386 387 Outros filhos se projetaram: c) Oderico foi agente da Companhia Sul América, da Comissão de Festas do Clube Juvenil, vice-presidente do Tiro de Guerra, ligado à Cooperativa Aliança e secretário por muitos anos da Associação dos Comerciantes.388 389 390 391

383

“Cooperativa de Carpinteiros”. O Brasil, 24/06/1912 “Falecimento”. O Momento, 21/09/1936 385 “Vida Social”. A Época, 15/10/1938 386 “Vida Social”. A Época, 27/11/1938 387 “Magistério Estadual”. A Época, 11/06/1939 388 “Almoço de Confraternisação”. A Época, 11/12/1938 389 “Clube Juvenil – Nova Diretoria”. A Época, 25/12/1938 390 “Tem nova diretoria o Tiro de Guerra nº 248”. A Época, 03/04/1939 391 “Re-eleita a Diretoria da Associação Comercial de Caxias”. A Época, 23/11/1941 384

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d) Adolfo Fedrizzi, padre “de coração idealista”, supervisor de um orfanato;392 designado presbítero para Bento Gonçalves, depois vigário em Nova Prata. e) Bruno foi elogiado pintor.393 f) Vanda Maria foi professora e diretora de escola. g) Antonio, prestigiado funcionário da Metalúrgica Abramo Eberle, da Comissão Fiscal do Grêmio Atlético Eberle, 394 e muitas vezes membro do júri popular. h) Alfredo Fedrizzi, dirigente da Sociedade Vinícola Rio-Grandense e depois um dos fundadores da grande Celulose Irani no município de Cruzeiro do Sul, em Santa Catarina, empresa vinculada à Vinícola,395 casado com Flor de Maria Duque e hoje nome de rua. Seu filho Nestor Carlos também ganhou destaque, como mostra a notícia a seguir.

392

Toenniges, Guilherme do Valle. “Aqui é a Casa de Deus”. O Momento, 21/09/1936 “Exposição de Pintura”. A Época, 03/09/1953 394 “A Exposição de Desenhos do G. Atlético Eberle”. A Época, 16/03/1941 395 Celulose Irani S/A. Vinícola Rio Grandense: como tudo começou. 393

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De i) João Fedrizzi, casado com Virgínia dal Bó e nome de rua, partiu outro ramo notório. João foi destaque de uma matéria no Pioneiro, mostrada a abaixo.

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Mário Fedrizzi, Sady Zattera, Sérgio Bruno Cesa (presidente) e Luiz Zamboni Neto, na diretoria da CIC. Foto CIC.

A trajetória de seu filho Mário João Fedrizzi, também nome de rua, foi relatada pela Câmara Municipal: “Mário João Fedrizzi, nasceu em 10 de outubro de 1929, em Caxias do Sul, filho de João Fedrizzi e Vergínia dal Bó Fedrizzi. Casou-se com Silma Zanatta Fedrizzi, com quem teve quatro filhos: Vera Regina, Isabel Cristina, Gilberto e Virgínia Maria. Em sua juventude, incentivado pela mãe, foi aprendiz de sapateiro desde os sete anos de idade trabalhando numa consertaria. Aos 14 anos de idade, montou sua própria banca de sapateiro, que logo em seguida transformou numa fábrica de sapatos e em outubro de 1946, com 17 anos, inaugurou sua primeira loja, a Sapataria Estrela. Ao longo dos anos, admitiu seus irmãos como sócios e transformou a empresa em Fedrizzi, Fedrizzi & Cia. Ltda. que, além da Sapataria Estrela, era formada pelo Fedrizzi Magazine, O Lojão, A Soberana e A Estrelinha, marcas que se confundem com a história do comércio varejista caxiense. “Na década de 60, Mário Fedrizzi liderava o grupo, primeiro com a produção e comercialização de calçados e depois exclusivamente com comercialização, e foi reconhecido na época como um dos maiores vendedores de calçados no sul do Brasil. A expansão dos negócios na década de 70 levou o grupo a ampliar sua atuação para a área de vestuário, notadamente com a abertura do Fedrizzi Magazine, na esquina da Av. Júlio de Castilhos com Garibaldi, a primeira loja de departamentos de Caxias do Sul. Sob sua liderança, o grupo Fedrizzi chegou a contar com cerca de 300 colaboradores. Em 1976 foi homenageado pelo Banco Maisonnave através de Campanha institucional nacional cujo objetivo era retratar os personagens que faziam a história do Brasil através do exemplo de seu progresso nos negócios, pelo caráter, determinação e esforço. A campanha chamada Cresça como gente assim, divulgou a trajetória de Mário Fedrizzi nos principais veículos da mídia, jornais e televisão em nível nacional. Foi atuante colaborador da Associação Educacional Hellen Keller; um dos fundadores da Fundação Caxias, e através dessa entidade liderou o processo de implantação do estacionamento rotativo da cidade; na área empresarial, foi Vice-presidente do Comércio Varejista e Conselheiro da Federação do Comércio Varejista; foi dirigente da 120

Associação Comercial e Industrial, entidade antecessora da CIC, por 6 anos e depois entre 1983 a 1987 foi Vice-Presidente da CIC – Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do Sul. Teve ainda, uma participação marcante nas atuais entidades do comercio como a CDL e Sindilojas. “Em 12 de junho de 1981, foi agraciado pelo Jornal Pioneiro com o Troféu Caxias 105 representando o segmento do Comércio. A sua trajetória como homem do Comércio foi reconhecida em 1983 com o Troféu O Mercador, homenagem do Sindicato Varejista. Recebeu ainda em Dezembro 1985 o Troféu Arpita como destaque no comércio gaúcho. “Durante 49 anos prestou serviços a comunidade de Caxias do Sul através do Rotary Club Caxias do Sul, onde foi seu Presidente de 1988 a 1989. Em dezembro de 2003 recebeu o título de Sócio Veterano do Rotary pela dedicação, entusiasmo e empenho em defesa das causas Rotárias, concedido pela Fundação Rotária do Rotary Internacional. Foi reconhecido por essa Fundação ainda como Benfeitor do Futuro por seu comprometimento com os programas educativos e humanitários da Fundação e recebeu o Prêmio Distrital por serviços prestados também à Fundação Rotária. Mário João Fedrizzi foi um exemplo de ser humano como esposo, pai, amigo. Entre seus colaboradores nas empresas sempre foi admirado e reconhecido pela postura justa e acolhedora, sempre zelando pelo bem estar de todos. Por sua personalidade e caráter será sempre lembrado por todos que com ele conviveram com saudades e reconhecimento. Mário faleceu no dia 27 de março de 2010, aos 80 anos. Deixou como legado uma vida de trabalho e honestidade, dizendo sempre: Somente te pertence aquilo que é fruto do teu trabalho”.396 Raul, irmão de Mário, como ele foi sapateiro e depois grande comerciante, sócio do Edifício Estrela, que abriga mais empresas do que todas as somadas do município de André da Rocha, e que virou ponto de referência na cidade,397 presidente do Recreio da Juventude, presidente da CDL e vice-presidente de Comércio da CIC, casado com Jucelda, ativa no Recreio da Juventude e no Banco da Mulher, entidade associada à CIC que visa beneficiar mulheres carentes ou em inicio de carreira.398 399 400

Raul e Jucelda Fedrizzi. Foto Juliano Vicenzi / Pioneiro.

396

Câmara Municipal de Caxias do Sul. Projeto de Lei nº PL-89/2011 “Edifício Estrela completa 40 anos em Caxias do Sul”. Pioneiro, 04/09/2010 398 Clube de Diretores Lojistas. Histórico 399 “Banco da Mulher completa 12 anos em Caxias do Sul”. Assessoria de Imprensa da CIC, 29/05/2009 400 CIC. Galeria de Gestões 397

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Voltando aos filhos de Pietro Pezzi e Teresa Tomasoni, ainda temos: 6) Luigi Pezzi (Luiz) agricultor, conselheiro fiscal da Sociedade da Igreja São Romédio401 e um dos fundadores da terceira igreja, doando cerca de 250 mil réis em dinheiro e bens para a construção,402 casado com Magdalena Tessari, sendo pais de Roberto, padre; Ernesto; Luiz; Hermes; Orlando; Romeu; Anita e Élide. 7) Josephina Pezzi, casada com Giuseppe Tessari, agricultor e grande industrial da construção civil. A família Tessari será abordada mais adiante. 8) Lucia Pezzi, minha bisavó, casada com Victorio Longhi, tratada mais adiante. Toda a família Pezzi, “que madrugou no alvorecer de nossa história”, como disse Gardelin, estando entre as primeiras povoadoras da colônia, 403 404 foi ativa na comunidade de São Romédio e muito contribuiu para seu crescimento.

401

Livro de Atas da Sociedade Igreja de São Romédio Livro de Ouro da Sociedade Igreja de São Romédio 403 Gardelin, Mário. “Os Tessari”. Pioneiro, 11/09/1981 404 Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande del Sud, 1925. Edição fac-similar. Pozenato Arte & Cultura, 2000 402

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Segundo Tessari, foi de Teresa e Angela Pezzi, irmãs de Pietro, que partiu a ideia de criar a Sociedade Igreja de São Romédio, assim chamada em honra ao santo que veneravam na Itália, a primeira associação constituída em Caxias, e que seria fundamental para a organização da comunidade. 405 406 Angela, nascida em 12 de novembro de 1845, desejou seguir a vida religiosa, e sonhou um dia que faria uma grande viagem. Ele se concretizou na imigração, chegando com sua irmã Teresa e tomando posse de 160 mil m2 de terra em meados de 1876. A data de sua chegada é incerta, são citados 12 de junho e 22 de julho. Segundo Tessari, era pessoa culta, permaneceu solteira, e sua maior contribuição foi o fomento da vida religiosa na comunidade, junto com Teresa.

405

“Comunidade caxiense celebra 135 anos”. Correio Riograndense, 2006 "Na capela de São Romédio, marco da colonização, Caxias comemora os 132 anos da imigração". Oriundi, 08/06/2007 406

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Teresa, nascida em 23 de abril de 1858, casou-se com Luiz Casali, um dos fundadores da segunda e da terceira igreja de São Romédio,407 cantor do coro da Catedral, agricultor e fabricante de brocas e pregos, daí seu apelido Broqueta. Tinha uma oficina com venda na Praça Dante Alighieri. 408 Tiveram os filhos Máximo, casado com Maria Facchin; Fortunato, casado com Carlota Vender; Antônia, casada com Ferrucio Panazzolo, um dos fundadores da terceira igreja e sócio da transportadora Expresso Tupi; Silvia, enfermeira, Celestina e Melânia, todas solteiras, e Angelina, religiosa.409 A Sociedade Igreja de São Romédio foi fundada logo após a chegada dos imigrantes, em 25 de dezembro de 1876, e à meiaTeresa Pezzi noite, rodeada de seus companheiros, Teresa Pezzi acendeu uma vela e para a escuridão da mata virgem deu um brado que até hoje ecoa como o marco da tomada de posse da região e do início de uma nova civilização, e também como uma declaração de fé e de princípios, dizendo: Fratelli, il Signor Dio è con noi! Estavam presentes no ato as famílias d’Ambros (Dambroz), Maschio, Rizzon, Brustolin, Dabrocchio (Dalzochio), Longhi, Dalfovo e Pezzi. Em seguida, cantaram três hinos sacros, dos quais transcrevo um: Te laudiamo Trinità Tutto il mondo annuncia te, Nato e morto sei per noi, Nostro Dio, t’adoriamo, Tu le hai fatto come um segno, Cristo nostro Salvatore, Padre de l’umanità, Ogni uomo porta in se Ora vivi in mezzo ai tuoi, La tua gloria proclamiamo. Il sigilo de tuo Regno. Noi chiamamo te, Signore.410

A primeira Diretoria da Sociedade foi formada por Giovanni Battista Dalfovo, o presidente, mais Giovanni Battista Longhi e Pietro Pezzi, que ficaram no cargo até 1894. Tessari dá o quadro administrativo da Sociedade neste intervalo, mostrando muitos parentes envolvidos:       

Diretoria: Giovanni Battista Dalfovo, Giovanni Battista Longhi e Pietro Pezzi. Suplente: Basilio Dalfovo. Professores: Basilio e Santo Dalfovo, Angela Maggi Longhi. Catequistas: Basilio e Santo Dalfovo, Angela e Teresa Pezzi, Angela Maggi Longhi e Teresa Tomasoni Pezzi. Assistência religiosa a doentes e moribundos: Lucia Rossi, Raymonda Webber Fedrizzi, Angela Pezzi e Catharina Rossi Longhi. Zeladores do Campo Santo: Basilio e Santo Dalfovo, Giuseppe e Domenico Rizzon, Giuseppe Fedrizzi. Encarregados dos velórios e orações: Giuseppe Rizzon, Lucia Rossi, Angela e Teresa Pezzi.

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Sessão de Assembléa Geral Extraordinaria – Acta nº 1. Livro de Atas da Associação Igreja de São Romédio, 12/07/1931 408 Adami, João Spadari. “Quitandeiros”. A Época, out/1949 – Edição do 11º Aniversário 409 Tessari, op. cit. 410 Tessari, op. cit.

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        

Cantores: Giuseppe Rizzon, Basilio e Santo Dalfovo, Angela e Teresa Pezzi, Angela Maggi Longhi, Erminia e Eugenio Marcola, Fortunato Maschio e Giuseppe Fedrizzi. Enterros e outras cerimônias: Giuseppe Rizzon, Basilio e Santo Dalfovo, Giuseppe Fedrizzi e Fortunato Maschio. Cantores de velórios e ofícios fúnebres: Giuseppe Rizzon, Basilio e Santo Dalfovo, Giuseppe Fedrizzi. Puxadores de terço e orações comunitárias: Angela Maggi Longhi, Angela e Teresa Pezzi, Raymonda Webber Fedrizzi, Catharina Rossi Longhi. Festeiros: Giuseppe Rizzon, Basilio e Santo Dalfovo, Giuseppe Fedrizzi, Angela Maggi Longhi, Angela e Teresa Pezzi. Sacristãos: Giuseppe e Celeste Fedrizzi, Eugenio Marcola. Coletores de doações: Antonio Fedrizzi, Pietro Pezzi, Giovanni Battista Dalfovo e Fortunato Maschio. Organizadores de jogos e diversões populares: Pietro e Giuseppe Pezzi, Valentino Boz, Emilio Endrizzi, Giuseppe Rossi, Donato Zanol, Giovanni Pedron, Giacomo Clamer e Giovanni Battista Longhi. Zeladores da igreja: Giustina Brustolin, Lucia Dabrocchio, Catharina Rossi Longhi, Celeste Fedrizzi, Leopolda Endrizzi, Maria Boz, Irene Tomazzoli, Elena Marcola, Corona e Antonia Dambroz, Lucia Zanol.

O sistema socioeconômico que se formou em São Romédio era essencialmente cooperativo, desde o primeiro dia da chegada as famílias pioneiras haviam feito um pacto de ajuda mútua, e como todas se entrelaçaram extensamente através de casamentos múltiplos, comungando na mesma fé e nos mesmos valores, esses elementos aglutinantes criaram uma sólida rede de reciprocidades que garantiu a sobrevivência dos colonos e o rápido florescimento da comunidade, tornando-se em poucas décadas um polo de produção agroindustrial e de devoção religiosa. Entre 1880 e 1890 surgiram 24 indústrias, entre serrarias, moinhos, ferrarias, fábricas de pipas, pregos, cadeiras, móveis, sete cantinas e outros tipos de negócios. Também houve preocupação com a educação, a confraternização social e o esporte, sendo construídos um salão de festas, uma cancha de bochas e uma escola. 411

A primeira escola de São Romédio, fim do século XIX. Silvio Stalivieri, o professor, é a figura de preto sentada entre o grupo de alunos em primeiro plano. Foto em Tessari. 411

Tessari, op. cit.

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No entanto, curiosamente, a comunidade cresceu em silêncio, na imprensa caxiense até os anos 50 ela não foi citada mais que meia dúzia de vezes, e salvo a publicação dos novos estatutos da Sociedade em 1918 pelo jornal porto-alegrense A Federação, a citação mais longa não tinha mais de quatro linhas, mencionando de passagem a realização de uma das festas do padroeiro. A zona permaneceu bastante rural até data tardia, e talvez isso tenha contribuído para colocar seus habitantes como “provincianos” aos olhos dos “metropolitanos” da Sede Dante. Já foi assinalado como a elite urbana da Sede no início do século XX iniciou um processo de empurramento da classe média e baixa para os arrabaldes, praticamente dominando o que se tornou o atual Centro Histórico de Caxias,412 e também já foi mencionado no Volume I que os tiroleses, que compunham a grande maioria dos pioneiros de São Romédio, eram vistos como austríacos, e foram bastante discriminados pelos outros imigrantes. Seu significado como “o berço de Caxias”, como hoje é chamada, só seria reconhecido mais tarde, culminando em 2005 ao se transformar em Patrimônio Histórico e Cultural do Estado a Igreja ali erguida, que é o símbolo maior da comunidade. Em 2006, para comemorar os 130 anos de fundação de São Romédio, com o apoio do Fundoprocultura da Prefeitura Municipal, foram feitas pesquisas para o resgate de sua história São Romédio, painel de Antonio Cremonese da Igreja e procedeu-se à instalação de painéis no salão de festas, da Comunidade. mostrando seus principais personagens e um resumo dos momentos que marcaram a comunidade, com o objetivo de divulgar o conhecimento histórico do lugar e preservar sua identidade.413 414 415 A religião sempre esteve no centro da vida comunal. Em seguida à fundação da Sociedade, que declarava em seus estatutos como um dos seus objetivos principais erguer uma igreja, no início de 1877 foi montado um pequeno oratório de bambus dedicado a São Romédio. Uma capela foi erguida logo depois em madeira, com os trabalhos supervisionados pelo primeiro triunvirato diretor da Sociedade, inaugurada em 15 de janeiro de 1878 com missa celebrada por dom Bartolomeu Tiecher. Foi substituída por outra construção de madeira, mais ampla, que teve entre seus fundadores Ermenegildo Rossi e Pietro Pezzi, inaugurada em 15 de janeiro de 1895, sendo a primeira a ter um campanário.416 Tessari acrescenta: “Prestavam assistência espiritual, no início da colonização em São Romédio, as senhoras Catharina Rossi Longhi, Angela Pezzi, a viúva Giustina Brustolin, Teresa Pezzi e Teresa Tomazoni Pezzi, entre outros, que merecem o nosso eterno respeito e gratidão”. 412

Wiggers, Monica Marlise; Kormann, Tanice Cristina & Robaina, Luis Eduardo de Souza. “Evolução da ocupação urbana de Caxias do Sul e os assentamentos subnormais”. In Anais do XVI Encontro Nacional dos Geógrafos: Crise, práxis e autonomia: espaços de resistência e de esperanças: espaço de diálogos e práticas. Porto Alegre, 25 a 31 de julho de 2010 413 "São Romédio celebra 125 anos de fundação". Correio Riogradense, 19/12/2001 414 "Na capela de São Romédio, marco da colonização, Caxias comemora os 132 anos da imigração". Oriundi, 08/06/2007 415 “Comunidade caxiense celebra 135 anos”. Correio Riograndense, 2006 416 Tessari, op. cit.

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Lista de doadores de São Romédio para a aquisição dos sinos da Catedral. Em destaque os nomes dos ancestrais diretos Pietro Pezzi, Giovanni Battista Longhi e Ermenegildo Rossi. A maioria dos outros são parentes. Acervo AHM. 127

Página do Livro de Atas da Sociedade Igreja São Romédio, mostrando a lista dos sócios fundadores em 1895 da segunda capela de madeira, onde constam os nomes de Ermenegildo Rossi, Pietro Pezzi e Giuseppe Pezzi, e outros parentes. Foto da Associação Igreja de São Romédio. Em 1894, sendo vigário da Matriz dom Giovanni Argenta, foi lançada a pedra fundamental da nova capela, Media cerca de 12 metros de frente por 18 metros de lado, e seu valor final foi de 162$340 réis.

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A segunda capela de madeira, em registro de um pintor anônimo da comunidade.

Na passagem do século XIX para o século XX o quadro administrativo da Sociedade havia se despovoado significativamente, devido à mudança de várias famílias para outros pontos de Caxias. Permaneceram ativos na Sociedade Fortunato Tomazzoli, Emilio Endrizzi, Basilio e Santo Dalfovo, Celeste e Antonio Fedrizzi, Ermenegildo e Giuseppe Rossi, Giovanni e Pietro Pedron, Giuseppe Rizzon, Eugenio Marcola, Luigi Casali, Giuseppe Boff e Cassiano Turra.417 Em 1918 os estatutos da Sociedade foram reformulados, objetivando principalmente a construção de uma igreja nova, aquela que permanece até hoje. Mas as obras tardaram, só iniciando em 1931, quando os estatutos passaram por nova reforma e foi criada uma comissão de fabriqueiros para organizar os trabalhos, composta por Luminato Pedron, Rodolfo Longhi, Antonio Fedrizzi, Angelo Giordano e João Dalfovo.418 O edificio foi levantado em alvenaria, em estilo Neogótico. Na sua inauguração, em 20 de maio de 1933, a Diretoria da Sociedade era composta por João Dalfovo, presidente; Guerino Pezzi, secretário; Angelo Madalosso, tesoureiro; Alvoredo Pellini, Antonio Fedrizzi e Angelo Giordano no Conselho Fiscal.419 A igreja atual, assim como as suas antecessoras, foi erguida com a colaboração de toda a comunidade, mas Tessari destaca ... “... com especial carinho o nome de Adelino Tessari, Guerino Pezzi, Egidio Tessari, Hermes Pezzi, Rosalimbo Tessari, Adelino Scariott, Waldomiro Tessari, Marcelino Batassini, Antonio Brustolin, Olimpio Tessari, Pedro Uez, Pedro Tessari, Ettore Pedron, Oscar Fedrizzi, Zulmiro Fedrizzi, Frederico Fedrizzi, Rodolfo Longhi, Erineu Witt, Maria Batassini, Maria Pedron e Alfredo José de Bortoli”.420 Na justificativa do Projeto de Lei apresentado pelo deputado Ruy Pauletti propondo sua declaração como Patrimônio Histórico e Cultural do Estado, ele disse: 417

Tessari, op. cit. Sessão de Assembléa Geral Extraordinaria – Acta nº 1. Livro de Atas da Associação Igreja de São Romédio, 12/07/1931 419 Tessari, op. cit. 420 Tessari, op. cit. 418

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A terceira e atual capela.

“A igreja lembra muito os templos da Itália, e nela se materializou a fé indômita dos imigrantes, pioneiros no cultivo da terra, na construção de novas oportunidades. O templo expressa, na singeleza de suas linhas arquitetônicas, a simplicidade dos imigrantes, mas também a sua fortaleza, a sua coragem, a sua fé e a sua esperança nos dias futuros. Pela grande contribuição à cultura e ao progresso, gerada na comunidade de São Romédio de Caxias do Sul, entendemos oportuno e conveniente, preservar a memória dos nossos ancestrais, declarando como Patrimônio Histórico e Cultural do Estado do Rio Grande do Sul a Igreja de São Romédio de Caxias do Sul e adjacências, marcos indeléveis de uma saga histórica, da qual somos herdeiros".421 Além disso, a área da comunidade foi definida como residencial no Plano Diretor do município, ajudando a preservar as características físicas do entorno, embora ele já esteja profundamente modificado em relação à época colonial. A Igreja foi integrada ao roteiro turístico e histórico da cidade, foi restaurada e está em ótimo estado geral de conservação, ainda preservando seu campanário de madeira, antigamente o modelo para a grande maioria, mas hoje raríssimo sobrevivente em toda a região colonial. O sino data de 1904, fabricado por Giovanni Gnoatto, de Bento Gonçalves.422 Seu telhado infelizmente foi “modernizado” há pouco tempo, bem como alguns detalhes do interior, perdendo-se traços importantes de sua autenticidade, o que tem se tornado um péssimo hábito na região. Porém, o altar-mor entalhado, em estilo Neogótico, obra da Marcenaria Central, de José Gollo, é original, bem como a estatuária de Estácio Zambelli, a Via Sacra e o piso em ladrilhos hidráulicos decorados. O cemitério anexo já foi muito reformado, mas ainda sobrevivem dois mausoléus do início do século XX, ambos pertencentes à nossa família: um do ramo Longhi – Dalfovo, datado de 1929, e outro do ramo Pezzi – Longhi – Stalivieri, datado de 1934. Ali estão enterrados, entre outros, Angelo Longhi, Francisco Pezzi, Rodolfo Longhi, Santo Dalfovo, Victorio Longhi e suas esposas, e Catharina Rossi Longhi. Vários Pezzi são hoje nomes de rua pela contribuição que deram nos tempos da instalação da colônia, numa região ainda virgem e de acesso difícil.423 424 425 421

Pauletti, Ruy. Projeto de Lei 16/2005: Justificativa. Palácio Farroupilha, 15/02/2005 Tessari, op. cit. 423 Prefeitura Municipal de Caxias do Sul. Lei nº 2852, de 27 de dezembro de 1983 424 Longhi, Vera & Frantz, Marcelo (ed.). Fragmentos de Memória da Família Longhi. E. A., 2005 425 Tessari, op. cit. 422

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Os estatutos da Sociedade São Romédio reformulados em 1918

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Páginas do Livro de Atas da Sociedade Igreja de São Romédio mostrando os membros fundadores da atual igreja, presentes na reunião de 12 de julho de 1931 que decidiu a construção, ao lado das doações que fizeram. Reprodução da Associação da Igreja de São Romédio gentilmente disponibilizada por Gilmar Pedron Lorenzi. (Continua na próxima página)

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Mausoléu Pezzi – Longhi – Stalivieri no cemitério de São Romédio. Abaixo, placa comemorativa oferecida pela Câmara Municipal à Comunidade de São Romédio. Foto da Sociedade da Igreja.

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Os Pezzi chegaram em vários grupos, oriundos da mesma região, todos aparentados, e tiveram prolífica descendência, não ficando limitados à comunidade de São Romédio, e assim como os Longhi, passaram a ter membros residindo em vários locais da cidade, deixando a área agrícola, onde iniciaram, ampliando suas atividades e mais tarde constituindo de fato, com seus múltiplos ramos, um dos clãs mais ilustres da cidade, com numerosos membros em posições de grande prestígio, e entrelaçando-se com outras famílias tradicionais, como os Alquati, Parolini, Issler, Serafini e outras. O sobrenome é um dos mais fartamente documentados na imprensa da primeira metade do século XX, período que representou o auge da família, com mais de 1.500 registros. Segundo Gardelin, “os Pezzi por muitos anos, na fase heroica de Caxias do Sul, se fariam presentes no seu Conselho ou na Câmara de Vereadores. É uma família que conquistou lugar indelével nas lembranças de nossa comunidade, assim como ocorreu na Câmara de Indústria e Comércio” 426 Vários grupos acabariam se mudando de Caxias para o interior do Rio Grande e o sul de Santa Catarina, onde produziram vasta descendência, com muitos membros ilustres. Giovanni Pezzi, irmão de Andrea II, nascido em Dercolo em 16 de outubro de 1820, casou-se com Gioseffa (Giosephina) Formolo, de Sporminore. Tiveram doze filhos, sobrevivendo à infância apenas cinco, dos quais os acompanharam ao Brasil Teresa, Francesco (Franco) e Emilio. Seu outro filho, Pietro, ficou na Itália.427 Francesco Pezzi, nascido em 30 de setembro de 1849, casou-se com Angela Varna em 20 de outubro de 1864, dirigiu-se primeiro ao Espírito Santo, e chegou em Caxias em 17 de abril de 1879, tomando posse de 1/4 do lote 39 do Travessão Santa Teresa.428 Emílio Pezzi, nascido em Dercolo em 24 de maio de 1857, casado com Angela Pedò, filha de Bortolo Pedò e Barbara dall’Ago, chegou em 17 de abril de 1879 junto com a mãe viúva,429 também parte do grupo que foi primeiro para o Espírito Santo.430 Seus filhos foram Ermínia, casada com Dante Gasperin, residentes em Santa Rosa; Maria, primeira esposa de Isidoro Moretto, ilustre personagem já citado no Volume I na seção sobre os Moretto-Sartori; Orestes, casado com Júlia, residentes em Santa Maria, e José, que casou primeiro com Egide Marchioro e depois com Angela Bizzi (Bisi).431 José e o pai foram grandes vitivinicultores, produzindo 200 a 250 toneladas de uva por ano e muito vinho, sendo os maiores produtores de toda a 5ª Légua. Depois da morte do pai José herdou a cantina. José teve os filhos Adelina, casada com Angelo Rech, que se radicou em Porto Alegre; Adelino, casado com Maria Tessari; Angelo, solteiro, residente em Santa Maria; José, casado com Maria Cippola, residentes em Lages, Santa Catarina, para onde foi também seu outro irmão Oscar, casado com Amélia Bizzi.432

426

Gardelin (1993), op. cit. Maines, op. cit. 428 Gardelin & Costa, op. cit. 429 Gardelin & Costa, op. cit. 430 Souza, op. cit. 431 Tessari, op. cit. 432 Tessari, op. cit. 427

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137 Família de Francesco Pezzi e Massenza Endrizzi. Foto do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo.

Andrea III Pezzi, irmão de meu tataravô Pietro, nascido em 23 de março de 1838, fixou-se em 1877 no lote 18 da 1ª Légua com a esposa Rosa Pedò, nascida em Termon, e os filhos Deomira, Virginia, Andrea IV, Rosa II, Maria e Angelo. 433 434 Franco Pezzi, outro irmão de Pietro, aqui conhecido como Francesco ou Francisco, chegou mais tarde, em 17 de abril de 1879, tendo sido enviado por engano primeiro para o Espírito Santo.435 Foi casado com Massenza Endrizzi, filha de Giovanni Endrizzi e Marianna Bertol. Tiveram os filhos Pietro, Andrea, Felice, Cesare e Albino e quatro filhas de nome desconhecido.436 437 Ficaram pouco tempo em São Romédio, e se espalharam para Nova Petrópolis, Santa Lúcia do Piaí e Farroupilha.438 Seus rastros se perderam. Um Alfredo Albino radicou-se na Colônia Azambuja, no sul de Santa Catarina, onde foi professor e manteve uma escola particular em torno de 1885, 439 mas é difícil saber se é o mesmo Albino. O já citado Giuseppe Pezzi, um dos primeiros exploradores da área, também irmão de Pietro, nascido em Dercolo em 17 de agosto de 1843, estabeleceu-se em Caxias em 22 de agosto de 1876 e, segundo Tessari, chegou solteiro e “com muito dinheiro no bolso”. Foi um dos fundadores da segunda Igreja de São Romédio e fazia comércio de cavalos de corrida. Tardou para casar, desejando encontrar uma mulher ideal, o que deu origem a brincadeiras. Casou-se afinal com Maria Paloni, tendo uma só filha, Catarina, casada com Luís Bertotti, viúvo que já tinha outra filha, Gema. Em 1925 Giuseppe foi reconhecido como um dos fundadores da cidade e teve seu nome inscrito no Livro de Ouro do Município. 440 Catarina por sua vez deixou grande prole, mas de acordo com Tessari o belo patrimônio que herdara acabou espoliado pelo seu administrador, um certo Peretti, e morreu em difícil condição. Seus filhos foram: a) João Mariano Bertotti, aparentemente agricultor, casado com Rosalina Teresa Stallivieri. b) José Benjamin Bertotti, casado com Maria Voltolini e radicado em Lages, tendo onze filhos: b1) Maria, morta na infância; b2) Maria de Lourdes Antônia (12/09/1939), professora; b3) Helena (31/12/1940), do lar; b4) Benilde Josefina (21/12/1941), pós-graduada em Pedagogia; b5) Gertrudes Benta (01/07/1943 – 13/01/1985), professora; b6) Eide Ana, corretora de imóveis, suplente de vereador em Itapema/SC; b7) Benta Olga (11/01/1947), empresária; b8) João Antônio (17/07/1948), criador de ostras; b9) Bernadete Josefina (28/03/1950), executiva; b10) Maria Salete, contabilista e professora, zeladora de capelinha da Catedral de Toledo, casada com um Scher; b11) Mário José (20/05/1955), formado em Administração com especialização em Administração Pública, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, casado com Maria Rosicler Boing e pai de Daniela, advogada, casada com Jairo Ferronato, empresário; b12) Sueli Maria (23/04/1957), enfermeira do Hospital Reginonal Homero de Miranda Gomes.441

433

Tessari, op. cit. Maines, op. cit. 435 Grosselli, Renzo. Colônias Imperiais na Terra do Café. Camponeses trentinos (vênetos e lombardos) nas florestas brasileiras. Espírito Santo 1874-1900. Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, 2008 436 Gardelin & Costa, op. cit. 437 Souza, Emilio Petri de. Imigração italiana em Anchieta-ES: caracterização e contribuições para o desenvolvimento local. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Espírito Santo, 2014 438 Tessari, op. cit. 439 “Actos Officiaes”. A Regeneração, 01/02/1885 440 Município de Caxias. A Municipalidade de Caxias em Memória aos seus Pioneiros no Primeiro Cincoentenario de sua Fundação 1875-1925 441 Voltolini, Agostinho Cesar. História das famílias Voltolini vindas para Santa Catarina, 2012 434

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c) Alvina Maria Bertotti, casada com Hermes João Pezzi, filho de Luiz Pezzi e Magdalena Tessari, aparentemente agricultor. d) Paulo Bruno. e) Lidia Fortunata. f) Remo Vitorio Bertotti. g) Mário Augusto Bertotti, radicado em Lages, onde foi suplente de vereador, pai de Mário Augusto Filho, advogado e suplente de vereador;442 h) Darcy Severo Bertotti, empresário em São José dos Pinhais, no Paraná. Também chegaram do Tirol Matteo Pezzi, solteiro, seu pai Giovanni, sua madrasta Filomena (a mãe era Ana Dalri ou dal Re), fixados no lote 8 da 6ª Légua. Matteo casou em 1883 com Carolina Zanotti. 443 Não há notícias destes.

Foto da Associação Igreja de São Romédio.

442 443

Câmara Municipal de Lages. Memórias do Legislativo Lageano, 2008 Gardelin & Costa, op. cit.

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Abertura das comemorações dos 140 anos da Comunidade de São Romédio em 20 de março de 2016. Abaixo, exposição de objetos dos pioneiros no salão de festas da comunidade.

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Pietro Lorenzo Abramo, mais conhecido simplesmente como Abramo Pezzi, il Maestro, nasceu em Dercolo em 5 de agosto de 1846. Foi o filho único de Pietro (13/04/1822-06/11/1865) e Catarina Maines (02/04/1826-17/08/1919.444 Susete Pricilla Pezzi, que em 1996 publicou um livro sobre a genealogia de Abramo,445 coloca como seus avós Giovanni Pezzi e Barbara Nardelli, de um ramo que divergiu do meu em meados do século XVIII, mas segundo o que transmite o historiador italiano Mariano Maines, que foi uma das fontes da própria Susete, e que em 2015 publicou um livro sobre a história de Dercolo narrando a história dos Pezzi, onde procurou resolver algumas ambiguidades desta genealogia, ele poderia ser neto de Giovanni Pezzi e Gioseffa Formolo, o que faria dele um irmão de Andrea I Pezzi, o avô de Pietro meu tataravô. Embora o grau exato do nosso parentesco possa ser incerto, a consanguinidade está fora de dúvida. Segundo Maines, todos os Pezzi caxienses vieram de Dercolo, e segundo nosso primo distante Flavio Pezzi, que ainda vive naquela região, todos os Pezzi de Dercolo derivam dos milaneses, fazendo com que pertençam todos a um mesmo tronco. Além disso, há documentação que comprova o parentesco: em uma carta citada por Maines, Abramo chamou de parente Andrea III, filho de Andrea II Epifanio,446 e Andrea III chamou Abramo de parente em carta citada por Renzo Grosselli. 447

Abramo Pezzi. Abaixo, sua assinatura em carta que enviou para seu primo e compadre Giovanni Pezzi. Fotos de Mariano Maines.

Desde antes de emigrar Abramo trabalhava como professor em Dercolo, onde casou-se primeiro com Giulia Betta, nascida em Vervò em 1838 e professora como ele, tendo com ela três filhos, Giulio, Arcadio e Giovanni Giuseppe, dos quais apenas Arcadio sobreviveu à infância. Ficou viúvo com 26 anos, e depois esposou Teresa Maines, uma antiga aluna sua, depois de fugir com ela, já que o casamento não agradava aos sogros. Ela também era natural de Dercolo, nascida em 12 de março de 1856, filha de Pietro Maines e Cattarina Cattani, tendo com ela grande prole, 448 sendo o tronco do ramo mais bem documentado e também o mais rico e ilustre dos Pezzi caxienses. Seu primeiro filho da segunda esposa foi Placido, que viveu menos de um ano. O segundo foi Mansueto, nascido ainda em Dercolo em 1877. Logo depois decidiu emigrar, ao ver a maioria de seus parentes e conhecidos partir. Nesta época Dercolo perdeu dois terços de sua população, que se transferiu para vários locais no México, Brasil e Argentina. 449

444

Maines, op. cit. Pezzi, Susete Pricilla. Abramo Pezzi: Il maestro. 150 anos: 1846-1996. Kessler, 1996 446 Maines, op. cit. 447 Grosselli, op. cit. 448 Maines, op. cit. 449 Maines, op. cit. 445

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Casa de Abramo Pezzi em Dercolo, e à direita a casa de Emilio Pezzi. Foto de Mariano Maines.

Também ele foi enviado primeiro para o Espírito Santo, instalando-se na colônia Rio Novo, mas como era uma colônia agrícola, não encontrou meios de exercer a profissão, embora tivesse ganhado o respeito das autoridades. Sabendo da fixação de familiares e amigos em Caxias do Sul, fez outra vez suas malas e partiu, chegando em 17 de abril de 1879. 450 451 452 Habitaram inicialmente uma casa de madeira localizada na avenida Júlio de Castilhos, e pouco depois Abramo adquiriu um terreno na esquina da rua Marquês do Herval com a Sinimbu, na quadra da Catedral, de frente para a Praça Dante, onde hoje se localiza o edifício Dona Ercília.453 Abramo tornou-se figura lendária em Caxias, foi um dos seus primeiros professores,Ver nota 454 ativo desde 1879 até poucos meses antes de sua morte em 6 de maio de 1903. Fundou uma escola em sua casa cobrando um fiorin por mês de cada aluno, mas como isso não rendia, empregou-se como capataz na construção da estrada que ligava Caxias a São Sebastião do Caí. Sua esposa o ajudava como lavadeira e engomadeira dos uniformes dos oficiais do governo .455 456 457 Também manteve um comércio, atestado no Livro de Registro de Imposto sobre Indústrias e Profissões de 1903. 450

Grosselli, op. cit. Gardelin & Balen, op. cit. 452 Luchese, Terciane Angela. O processo escolar entre imigrantes da região colonial italiana do RS – 1875-1930: leggere, scrivere e calcolare per essere alcuno nella vita. Tese de Doutorado. UNISINOS, 2007. 453 Pezzi, op. cit 454 Como já foi assinalado no Volume I, é preciso fazer a justiça histórica, e a despeito dos altos méritos de Abramo, ele não foi o primeiro professor de Caxias, como tem sido muito repetido, inclusive em meios oficiais. A primazia cabe, conforme dizem os historiadores João Spadari Adami e Carlin Fabris, a meu tataravô Giacomo Paternoster, ativo desde 1877, dois anos antes de Abramo chegar à cidade e iniciar suas atividades docentes. 455 Rech, Gelson Leonardo. “Iniciativas escolares entre imigrantes italianos no Rio Grande do Sul lembradas no Álbum do Cinquentenário da Colonização Italiana”. In: Conjectura: Filos. Educ., 2014; 19 (3): 200-215 456 Baldisserotto, Alexandra. “Praça no bairro Cinqüentenário homenageia Carlito Ariolli”. Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Caxias do Sul, 06/04/2006 457 Maines, op. cit. 451

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A seta indica a primeira casa construída por Abramo Pezzi em Caxias. À esquerda pouco depois ele levantaria um anexo. Foto do AHM.

Sem nunca deixar de ensinar, formou gerações, dando aulas em italiano, e mais tarde também em português. Como muitos colonos eram analfabetos ou pouco esclarecidos, ou tinham problemas de integração ao novo contexto, ele serviu também como escrivão de cartas e requerimentos para os que não sabiam escrever, e foi conselheiro para muitos outros que tinham dificuldades de várias ordens. Por sua dedicação ao ensino e pela ajuda que prestava aos seus companheiros ganhou grande respeito na comunidade.458 459 Relatos de sua esposa Thereza afirmam que era um verdadeiro apaixonado pela sua missão, tanto que mesmo dormindo era comum ele sonhar que estava a dar aulas, falando em voz alta como se estivesse diante de sua classe. Foi um dos fundadores em 1887 da Sociedade Príncipe de Nápoles, e em 1890 foi indicado suplente do juiz municipal dos órfãos pelo governador do Estado Júlio de Castilhos.460 Abramo foi inscrito em 1925 como um dos fundadores da cidade no álbum comemorativo A Municipalidade de Caxias em Memória aos seus Pioneiros no Primeiro Cincoentenario de sua Fundação 1875-1925. Foi elogiado no álbum comemorativo dos 75 anos da imigração como um “professor de raras qualidades cívicas, transmitindo pelo seu esforço construtivo, aos alunos, o amor à Pátria brasileira”,461 é lembrado com carinho, recebeu várias homenagens póstumas e deu seu nome a duas escolas e uma rua. Contudo, apesar da estima que granjeou em Caxias, cartas que enviou para parentes na Itália, perto do fim da vida, revelam sua grande saudade da antiga pátria, sentindo falta dos amigos e parentes que deixara e tendo Dercolo sempre no pensamento. 462 Provavelmente por isso manteve laços com o grupo de São Romédio e ingressou na Sociedade da Igreja, atestado entre 1889 e 1894.463 Além de Arcadio e Mansueto, que nasceram na Itália e chegaram à idade adulta, teve nascidos no Brasil mais os filhos Mario, Ettore, Ersilia, Fenice e Aurora, e três outros que morreram na infância. Depois da morte do pai, seus filhos demoliram a antiga residência e construíram um hotel, e o anexo serviu como açougue e comércio de secos e molhados e ferragens. 464 A descendência dos filhos de Abramo é referenciada no livro de Susete Pezzi.

458

Netto, Miranda. “Tiroleses em Caxias”. Correio do Povo, 24/11/1974 “Abramo Pezzi – pedra fundamental na pirâmide do saber”. Ecos do Mundo, 24/11/1962 460 Pezzi, op. cit 461 Festa da Uva. Álbum Comemorativo do 75º Aniversário da Colonização Italiana no Rio Grande do Sul. Globo, 1950 462 Maines, op. cit. 463 Associação da Igreja de São Romédio. Il Maestro, 21/05/2015 464 Maines, op. cit. 459

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Catarina Maines Pezzi e Teresa Maines Pezzi, a mãe e a segunda esposa de Abramo Pezzi. Abaixo, o hotel que os seus filhos abriram em Caxias. Fotos de Mariano Maines.

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Arcadio Pezzi e Isabel Casagrande Pezzi. Fotos família Pezzi.

1) Arcadio Maria Leone Pietro Pezzi nasceu em Dercolo em 28 de junho de 1870 e viajou com o pai para o Brasil. Foi aluno de Abramo, desde cedo envolveu-se com a política, e em 1896 foi eleito conselheiro municipal da II Legislatura, atuando também como secretário do Conselho.465 Em 1900, ao fim do seu mandato, decidiu transferir-se para Bom Jesus, esperando enriquecer no comércio de gado e na exploração de madeira, associando-se com um certo Gasparetto e levando junto seu irmão Ettore. No entanto os planos não frutificaram, seus negócios faliram e ele retornou a Caxias em 1903. Voltou a ligar-se à administração municipal, sendo encarregado dos serviços de higiene pública do município,466 e atuando como delegado de polícia, escrivão e fiscal itinerante da Municipalidade. Ao mesmo tempo, privadamente negociava com ervamate e foi agente das metalúrgicas de Abramo Eberle e Amadio Rossi.467 “Ótimo pai de família”, faleceu precocemente em 8 de janeiro de 1915, gozando de “muita estima”, com seu funeral acompanhado por “grande multidão”.468 Arcadio foi casado com Isabella Casagrande (Isabel), nascida em 10 de maio de 1875 em Pederobba, província de Treviso. Sua família viajou para o Brasil em 1879, sendo filha de Vincenzo Casagrande e Angela Vendramin. Quando moça trabalhou no comércio de Giuseppe Peletti, e depois de casar, ignorando a objeção do marido, atuou como enfermeira e depois diretora da enfermaria no Hospital Pompeia. Sua atuação deixou forte marca em sua época, lembrada como profissional notável, de grande dedicação e eficiência.469

465

Pezzi, op. cit. “Bando”. Città di Caxias, 29/01/1914 467 Pezzi, op. cit. 468 “Cronaca locale”. Città di Caxias, 11/01/1915 469 Tonet, Tânia & Tonet, Charles. Em Presença do Tempo: Hospital Pompeia: história oral de vida. E.A., 1998 466

145

Isabel Casagrande e Arcadio Pezzi com seus filhos Marcela, Hygina e Julia, e na frente Amilcar, Alba, Luiza, Eleonora, Gismunda, Otilia e Alcibíades. Foto de Susete Pezzi.

Depois de enviuvar, Isabel sustentou a família com seu trabalho de enfermeira, e a convite do famoso doutor Romolo Carbone, seu chefe no hospital, acompanhou-o para a região de Vacaria, onde atuou também como parteira, auxiliar de cirurgias e laboratorista, deixando seus filhos ainda menores no internato de Ana Rech. Depois de alguns anos voltou a Caxias, onde continuou suas atividades de enfermagem até se aposentar em 1945. No fim da vida residiu com sua filha Alba, que ficou solteira, falecendo em 31 de julho de 1964, cercada da estima da comunidade.470 Recebeu várias homenagens em vida e postumamente, e hoje seu nome batiza uma rua. O casal teve dez filhos: Julia, Higyna, Marcela, Amilcar, Alba, Luiza, Eleonora, Gismunda (Segismunda), Ottilia e Alcibíades.

470

Pezzi, op. cit.

146

a) Julia Philomena Pezzi (1893-1967) foi casada com Francisco Virgilio Zatti (1894-1978), comerciante, político,471 membro da Sociedade Príncipe de Nápoles472 e várias vezes conselheiro fiscal do Clube Juvenil, 473 474 475 tendo os filhos a1) Emilia Isabel Zatti, falecida com um ano; a2) Nelly Marcia Zatti, casada com Waldemar Juchem, engenheiro do DAER476 e diretor de Obras e Viação do município,477 e a3) Hugo João Zatti, comerciante, casado com Leda Alzira Alessandrini.

471

“Solidariedade dos caxienses”. O Momento, 07/09/1947 “Centenario da immigração allemã”. O Brasil, 22/09/1924 473 “Nova Diretoria do Juvenil”. A Época, 29/06/1941 474 “Re-eleita a Diretoria do Clube Juvenil”. A Época, 21/06/1942 475 “O Clube Juuvenil, Orgulho de seus Sócios, Transpôs as Fronteiras de Caxias para se Projetar, Imponente, no Ambiente Social de Todo o Rio Grande”, A Época, out/1943, edição especial 476 “Consórcios”. O Momento, 10/10/1938 477 “Edital”. O Momento, 01/10/1949 472

147

b) Hygina Pezzi (1895-1960), casada com Antonio José Lucchesi (1892-1969), alfaiate, tendo os filhos b1) Ruy Arcádio Lucchesi, casado com Leda Zanotto, b2) Iracy Mário Lucchesi, casado com Betty Schüller, b3) Lelcyr Lucchesi, casada com Aldo Fontana, servidor público, b4) José Lucchesi, secretário, conselheiro e presidente do Grêmio Esportivo Gianella478 479 (pode não ser o mesmo José) e b5) Elvia Lucchesi, casada com Nilto Soldatelli.

478 479

“G. E. Gianella”. O Momento, 17/05/1947 “Gremio Esportivo Gianella”. O Momento, 03/03/1951

148

c) Marcela Pezzi (1896-1989), casada com Máximo Letti (1894-1933), de ilustre família pioneira de Antônio Prado,, com muitos membros destacados. Máximo foi comerciante,480 agente do Banco da Província481 suplente de juiz distrital,482 um dos fundadores e presidente do Clube União e fabriqueiro da Matriz de Antônio Prado,483 tendo os filhos c1) Adelar Letti, político, vice-prefeito e prefeito interino de Antonio Prado,484 casado com Lorena Becker, c2) Elsa Letti, casada com Júlio Gomes da Silva, ajudante notarial, locutor de rádio, “dono de maravilhosa voz”, como disse Barbosa, animador de todas as festas da Igreja, 485 c3) Maria Ermelinda Letti, c4) Leda Maria Letti, casada com Remígio Nodari, de ilustre família pradense, um dos fundadores e presidente do Clube União,486 c5) Carmen Maria Letti, c6) Emília Isabel Letti, casada com Waldir Morsoletto, gerente da TEXACO em Ponta Grossa,487 c7) Paulo Letti e c8) Roberto Letti, gerente da TEXACO em Pelotas,488 casado com Márcia Carolina Uchôa. d) Amílcar Pezzi (1898-1977), membro da Associação Cinegética Caxiense,489 jogador do Sport Club Juvenil 490 e funileiro de profissão,491 casado com Clélia Luiza Pasetti (1903-1983), pais de d1) Adelaide Isabel, casada com Moacyr Verza, d2) Susete Pricilla Pezzi, autora do valioso livro sobre Abramo e sua família, d3) Raymundo Vicente Pezzi, conhecido joalheiro, membro do Sindilojas e homenageado pela Prefeitura nos 45 anos da Joalheria Caprice,492 casado com sua prima Isabel Pezzi, d4) Miriam Margarida Pezzi, e d5) Lourdes Maria Pezzi, casada com Cláudio Pedro Gerevini. e) Alcibiades Pezzi (1899-1986), caixeiro viajante, sócio da Granzotto, Pezzi & Cia.,493 suplente de juiz distrital 494 e membro do Conselho Consultivo de Antônio Prado, nomeado pelo interventor federal Flores da Cunha, 495 um dos fundadores da Associação Comercial daquela cidade,496 presidente do Clube União, um dos fundadores da Gruta Nossa Senhora de Lourdes,497 e hoje nome de rua em Antônio Prado, casado com Ida Theresa Grazziotin, pais de e1) Iracy Pellegrino Pezzi, e2) Nadyr Maria Pezzi, e3) Isabel Pezzi, casada com o sobredito Raymundo Pezzi, e4) Branca Maria Pezzi, e5) Theresinha Lourdes Pezzi, e6) Anna Maria Pezzi, casada com José Barison, pretor da Comarca de Vacaria,498 juiz de Direito atuante em várias cidades do estado, promovido para Porto Alegre como juiz da 3ª Vara Cível, foi ainda juiz do Tribunal Regional Eleitoral e do Tribunal de Alçada, chegou a ser desembargador e vicepresidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, indicado por merecimento, e foi presidente da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul.499

480

“Viajantes”. O Brasil, 29/09/1920 “Notas e notícias”. O Brasil, 07/10/1922 482 “Governo do Estado”. A Federação, 23/04/1924 483 Barbosa, Fidélis Dalcin. Antonio Prado e sua História. Projeto Passo Fundo / EST, 1980 484 “Noticias de Antonio Prado”. A Época, out/1949. Ed. especial 485 Barbosa (1980), op. cit. 486 Barbosa (1980), op. cit. 487 Barbosa (1980), op. cit. 488 Barbosa (1980), op. cit. 489 “Vacaria, 7”. A Federação, 09/07/1925 490 “Foot-ball”. Città di Caxias, 16/03/1918 491 “Edital”. O Momento, 18/10/1937 492 “Associados do Sindilojas recebem reconhecimento da Prefeitura”. Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Caxias do Sul, 28/11/2012 493 “O Dia do Viajante”, O Momento, 02/10/1939 494 “Nomeações”. A Federação, 23/04/1924 495 “Conselho Consultivo de Antonio Prado”. A Federação, 27/07/1933 496 “O dia de hoje, 30 de maio, na história regional”. Ponto Inicial 497 Barbosa, Fidelis Dalcin. “Vida Social”. Projeto Passo Fundo, 31/10/1980 498 “Edital de Citação”. A Época, 10/05/1956 499 Barbosa (1980), op. cit. 481

149

e7) Darcy Mário Pezzi seguiu o exemplo da avó e se tornou um dos fundadores e professor da Escola de Enfermagem Madre Justina Inês,500 foi também tesoureiro do Tiro de Guerra, 501 casado com Maria de Lourdes Lupim. f) Alba Pezzi (1901-1972). g) Eleonora Pezzi (1902-1966), casada com Antonio Stallivieri, funcionário da Sociedade Vinícola Riograndense. Foram pais de g1) Leo Guido Stallivieri, casado com Julita Luiza Schumacker, e g2) Raul José Stallivieri, casado com Maria Diva Pasoli. h) Ottilia Pezzi (1904-1985), casada com Affonso Cesa (1898-1968), conselheiro fiscal do Clube União,502 membro da Comissão Municipal de Preços,503 vice-presidente da Associação Comercial,504 sócio-fundador e gerente da vinícola José Cesa & Cia., um dos mais fortes industriais de Antônio Prado,505 e conselheiro da comissão de sagração do bispo dom Henrique Gelain.506 500

Almeida, Edlaine Cristina Rodrigues de. História da Escola de Enfermagem Madre Justina Inês: uma instituição de ensino superior formando enfermeiras em Caxias do Sul/RS (1957-1967). Dissertação de Mestrado. Universidade de Caxias do Sul, 2012 501 “Eleita Diretoria do Tiro de Guerra 248”. A Época, 11/01/1942 502 “Antonio Prado”. A Época, 11/08/1940 503 “Comissão Municipal de Preços”. O Momento, 20/02/1943 504 “Noticias de Antonio Prado”. O Momento, 05/08/1943 505 Barbosa (1980), op. cit. 506 “Noticias de Antonio Prado”. O Momento, 28/10/1944

150

Foram pais de h1) Isabel Theresa Cesa, casada com Clodoveu Golin, orador do Clube União,507 h2) Waldir Cesa, h3) Álvaro Antônio Cesa, 2º secretário do Clube União, professor e ator, presidente do Grupo de Teatro Amador,508 casado com Márcia Adda Bedin, h4) Ilka Cesa, casada com Osório Gaboardi, h5) Ivete Cesa, casada com Nerino Melo e Silva, e h6) Luís Afonso Cesa, casado com Sônia Sardã.

507 508

“Antonio Prado”. A Época, 11/08/1940 Barbosa (1980), op. cit.

151

i) Luiza Pezzi (1906-1988), casada com Henrique Santini (1903-1981), comerciante, presidente do Patronato de Conceição da Linha Feijó e 1º tentente do Tiro de Guerra 248,509 pais de i1) Helena Therezinha Santini, casada com Clóvis David Battastini, conselheiro fiscal do Sindicato Rural de Viamão,510 i2) Nelly Maria Santini, casada com Volnei Luiz Marino Rossi, produtor rural em São Marcos,511 e i3) Paulo Ângelo Santini, casado com Hedwig Dorothea Wiethaus.

j) Gismunda Pezzi (1909-1974) desde cedo revelou ser dona de si, rompendo padrões e tornando-se notória. Foi funcionária da Companhia Telefônica Riograndense e depois fez distinguida carreira no Banco Francês e Italiano, exercendo vários cargos de liderança; atuou no Sindicato dos Bancários e chegou à Presidência, sendo a primeira mulher no Brasil a presidir um sindicato desta classe. Sua eleição foi uma grande surpresa e desencadeou polêmica, e um cronista na imprensa considerou que as mulheres estavam indo longe demais.512 513

509

“Tiro de Guerra 248”. O Momento, 21/07/1941 “Toma posse a nova diretoria do Sindicato Rural”. O Correio Rural, 03/01/2014 511 “Produtores rurais que devem comparecer no Setor de Talões de Produtos da Prefeitura de São Marcos”. Prefeitura de São Marcos 512 Gardelin, Mário. Caxias do Sul: Câmara de Vereadores: 1892-1950. EST, 1993 513 Machado, Maria Abel & Aguzzoli, Leonor de Alencastro Guimarães. Nossas mulheres... que ajudaram a construir Caxias do Sul. Prefeitura de Caxias do Sul/Fundoprocultura, 2005 510

152

Depois de casar se radicou em Antonio Prado com o marido Angelo Letti (1903-1967), um dos fundadores do Clube Atlético Pradense.514 O casal gerou j1) Zuleica Maria Letti, casada com Dirceu Antônio Rampon, j2) Murilo João Letti, casado com Lucien Bombassaro, e j3) Miguel Angelo Letti, grande empresário, diretor do Frigorífico Vacariense S. A. Indústria e Comércio. Barbosa descreveu a importância da empresa: “Pioneiro no país em abate, tipificação e comercialização de carnes de novilho precoce, o primeiro em número de abate dos frigoríficos nacionais do Estado, participa na formação de estoques reguladores do Governo, através da COBAL, fornece seus produtos às principais indústrias de enlatados do Brasil, supre a grande cadeia de supermercados de Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro, coloca seus produtos nas principais cidades do interior do Rio Grande do Sul e ainda exporta para a Europa, Ásia e África. É a maior indústria de Vacaria, com 480 funcionários, uma carga tributária de 30% na arrecadação de ICM, abatendo na média 350 cabeças de gado por dia, procedentes da região (50%) e dos municípios de Alegrete, São Luís Gonzaga, Rosário do Sul, Santiago e Itaqui. Dispõe de uma frota de 52 caminhões frigoríficos e boiadeiros. Além disso, para transporte, dispõe do Tronco Principal Sul da Rede Ferroviária, anexa ao Frigorífico”.515

514 515

Barbosa (1980), op. cit. Barbosa, Fidélis Dalcin. “Indústria”. Projeto Passo Fundo, 31/12/1978

153

Também foi diretor da Reflorestadores Unidos S.A., outra empresa de grande porte, sediada na Fazenda Espírito Santo em Cambará, sendo louvado em sua aposentadoria pelo presidente da assembleia dos acionistas, recebendo “os mais profundos e sinceros agradecimentos da companhia ao esforço e dedicação extremos, demonstrados ao longo de anos de serviços prestados”.516 Foi ainda conselheiro do Sindimadeiras RS.517 Casou-se com Islande Sebben. 2) Mansueto Pezzi, nascido em 5 de agosto de 1877 da segunda esposa de Abramo, iniciou sua vida como funcionário do comércio do ilustre Germano Parolini, antigo membro da Junta Governativa, conselheiro municipal e importante comerciante. “Moço sério, criterioso e dedicado”, 518 logo Mansueto ganhou a confiança e a estima do patrão, vindo a tornar-se sócio e depois casando com sua filha, Adelia Parolini. Diz a tradição familiar que Germano afeiçoou-se especialmente a Mansueto porque não teve filhos homens, considerando-o quase um rebento seu. Em sua breve existência de 42 anos Mansueto deixou forte marca na cidade. Ajudou a construir a sede social do Clube Juvenil, tornando-se sócio honorário;519 foi orador oficial do Club Alliança,520 membro da comissão que construiu a escadaria da Catedral 521 e da que organizou as grandes festas para a chegada do trem,522 festeiro do Divino,523 524 tesoureiro da Associação dos Comerciantes quando ela voltou à atividade depois de um recesso,525 depois seu secretário e vice-presidente,526 tesoureiro e conselheiro da Cooperativa Agrícola,527 528 e um dos representantes da Cooperativa na fundação da cantina da Cooperativa Agrícola de Nova Trento.529

Mansueto Pezzi. Coleção Susete Pezzi. Abaixo, sua assinatura em um manuscrito do Arquivo Histórico Municipal. 516

“Ata de Assembleia Geral Ordinaria e Extraordinaria de 22 de Junho de 2010”. Diário Oficial da Indústria e Comércio, 09/08/2010 517 “Alerta para Eleição no Sindimadeira RS”. Sindimadeira RS 518 “Club Juvenil”. Correio do Município, 13/07/1911 519 “Club Juvenil”. Correio do Município, 13/07/1911 520 “O Club Alliança”. O Brasil, 23/10/1910 521 “Escadaria da Igreja”. Cidade de Caxias, 19/08/1911 522 “Estrada de Caxias”. A Federação, 19/05/1910 523 “Festa do Divino”. O Brazil, 10/04/1913 524 “Para as festas em honra ao Divino Espírito Santo”. Città di Caxias, 31/05/1015 525 “Associação Commercial”. Cidade de Caxias, 16/03/1912 526 “Associação dos Comerciantes, di Caxias”. Città di Caxias, 22/01/1917 527 “Agricoltori di Caxias”. O Brazil, 18/10/1911 528 “Cooperativa Agrícola de Caxias”. Città di Caxias, 19/03/1913 529 “Acta da collocação da pedra fundamental da Cantina da Cooperativa Agrícola de Nova Trento”. O Brazil, 14/12/1011

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Foi também tenente-coronel do Estado Maior do 85º Batalhão de Reserva da Guarda Nacional e membro da Junta de Alistamento Militar,530 531 membro do Comitato di Propaganda per il Prestito Nazionale Italiano,532 fez parte da comissão de hospedagem da embaixada italiana,533 correspondente do Consulado da ÁustriaHungria, cargo que abandonou quando irrompeu a I Grande Guerra,534 político Republicano, membro da Comissão Central dos grandes festejos para a segunda posse do intendente Penna de Moraes,535 suplente de juiz distrital, chegando a excercer a titularidade interina, 536 537 membro da comissão para revisão do alistamento eleitoral estadual, 538 secretário da administração, conselheiro municipal por três mandatos,539 membro das comissões de Reclamações e Petições e de Orçamento e Despesas, vice-presidente do Conselho,540 541 542 e recipiente póstumo da Medalha Sub Lege Libertas Conselheiro Ernesto Marsiaj, conferida pela Câmara de Caxias e que comemora o sesquicentenário do Poder Legislativo no Brasil, considerado por Mário Gardelin “o que havia de mais digno no espírito comunitário de nossa gente”, prestando “os mais relevantes serviços à vida pública de Caxias do Sul”.543 Faleceu em 8 de outubro de 1919, depois dando nome a uma rua.

Adélia Parolini. Coleção família Pezzi.

Adelia Parolini, nascida em 16 de maio de 1891 de família muito distinta, foi citada muitas vezes nas colunas sociais, mas sua vida não se resumiu a isso. Foi integrante da comissão de construção do altar-mor da Catedral,544 uma das fundadoras e tesoureira das Damas de Caridade545 e conselheira da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência.546 Depois de morto o marido, e herdando o comércio do pai, revelou-se também uma hábil mulher de negócios. Faleceu em 22 de dezembro de 1980.

530

“Guarda Nacional”. A Federação, 10/12/1913 “Para a composição das juntas”. A Federação, 25/07/1905 532 “Cronaca di Caxias”. Città di Caxias, 20/01/1918 533 “A Embaixada Italiana vem a Caxias”. O Brazil, 20/07/1918 534 “Comunicato”. Città di Caxias, 23/04/1917 535 “La Grande Festa dell’Affetto”. Città di Caxias, 06/10/1916 536 “Foram nomeados”. A Federação, 24/11/1902 537 “Caxias”. A Federação, 15/07/1904 538 “Edital”. O Brazil, 30/03/1912 539 Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul [Onzi, Geni Salete, org.]. Palavra e Poder: 120 anos do Poder Legislativo em Caxias do Sul. Ed. São Miguel, 2012 540 “15 Novembre”. Città di Caxias, 17/11/1913 541 “15 de novembro em Caxias” A Federação, 16/11/1900 542 “Consiglio Municipale”. Città di Caxias, 16/11/1916 543 Gardelin, Mário. “Para a História da Câmara de Vereadores – LXXI”. Pioneiro, 12/09/1979 544 “Novo Altar”. O Brazil, 03/09/1910 545 Hospital Pompéia. 100 anos de história 546 “Ordem III de São Francisco de Assis – Da Penitência”. A Época, 14/07/1947 531

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Família de Mansueto e Adelia Pezzi. Atrás: Germano, Mansueto, Emilio e Vasco. Na frente, Nestor, Ivo, Maria Elisabetha, Adelia, Maria Emilia e Maria Thereza. Foto de Susete Pezzi.

O casal gerou oito filhos: a) Emílio Pezzi quando estudante distinguiu-se pelos dons declamatórios,547 depois foi secretário da Associação dos Antigos Alunos dos Irmãos das Escolas Cristãs,548 co-fundador da Congregação Mariana de Moços, 549 imperador festeiro do Divino,550 membro da Comissão Julgadora das ornamentações respectivas à entronização do Sagrado Coração de Jesus no Colégio do Carmo,551 co-fundador do Círculo Operário Caxiense,552 importantíssima associação de mútuo socorro, conselheiro da Sociedade Caxiense de Auxílio aos Necessitados,553 membro da Comissão Protetora Pró-Construção do Hospital Pompeia e um dos paraninfos de sua inauguração.554 Trabalhou no comércio,555 foi secretário da Associação dos Comerciantes,556 conselheiro do Caxias Tênis Clube,557 conselheiro e presidente do Recreio da Juventude,558 colaborador do Grupo das Falenas,559 560 vereador 561 e vice-presidente da Câmara.562 Foi o idealizador do Monumento à Imigração Tirolesa.563

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“Festival de Caridade”. O Brasil, 07/07/1923 “Sessão”. O Brasil, 27/07/1924 549 Brandalise, op. cit. 550 “Festa do Divino”. O Popular, 09/05/1929 551 “Ginasio. N. S. do Carmo”. 552 “Classes Trabalhistas”. O Momento, 08/01/1934 553 “S.C.A.N.” O Momento, 18/04/1938 554 “Terá Lugar Amanhã a Inauguração do Hospital de Caridade N. S. de Pompeia”. O Momento, 23/12/1940 555 “Caxias Social”. A Época, xx/04/1947 556 Gardelin, Mário. “Para a história da Câmara de Indústria e Comércio XXI”. Pioneiro, 17/08/1977 557 “Caxias Tenis Clube”. A Época, 01/01/1939 558 “Recreio da Juventude”. O Popular, 06/12/1928 559 “O baile Vienense das Falenas”. O Momento, 04/10/1934 560 “O Baile das Falenas”. O Momento, 09/01/1936 561 “O 1º Aniversário da Administração Municipal”. O Momento, 28/12/1936 562 “Câmara Municipal”. O Momento, 12/07/1937 563 Lopes, Rodrigo. “Inauguração do Monumento aos Tiroleses em 1977”. Pioneiro, 06/02/2014 548

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Casado com Felisberta Vale Silva, Emilio teve o filho José Antônio Pezzi, membro do Conselho da Cidade de Novo Hamburgo – CONCIDADE, representante da Associação de Arquitetos e Engenheiros Civis de Novo Hamburgo, 564 e presidente do Conselho Municipal de Urbanismo da mesma cidade,565 casado com Isabel Jacobus, membro da Liga Feminina de Combate ao Câncer.566

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Prefeitura de Novo Hamburgo. Decreto 6871/2015 de 03 de julho de 2015 “Câmara promove audiência pública nesta segunda-feira, 15”. Câmara Municipal de Novo Hamburgo 566 Liga Feminina de Combate ao Câncer e a Feijoada do Bem. Revista VIPs do Sul, 05/08/2015 565

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b) Germano Pezzi faleceu precocemente em 1925, atropelado por uma carroça enquanto andava de bicicleta.567 c) Nestor Pezzi, comerciante.568 d) Ivo Pezzi, vice-presidente do Caxias Tênis Clube 569 e “do alto comércio”, sócio da Thompson, Parolini & Cia., empresa de transporte de cargas,570 casado com Hilda Maria Zugno, entre “As Dez Mais Elegantes” do ano de 1958 na lista do Caxias Magazine, pais de d1) Moema Pezzi ( ~ José Antônio Koeche) e d2) Liana Pezzi ( ~ João Antônio Bagoso). e) Maria Threreza Pezzi, casada com Theodulo Torres, com as filhas e1) Theresita Torres ( ~ Fernando Mallmann) e e2) Elisabeth Torres ( ~ Roberto Goyanna).

567

“Desastre e morte”. A Federação, 26/06/1925 “Viajantes”. A Federação, 22/07/1931 569 “Caxias Tenis Clube”. A Época, 01/01/1939 570 “As Emprêsas de Transportes de Cargas Estabeleceram uma Unica Tabela de Preços”. A Época, 22/03/1942 568

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f) Maria Emilia Pezzi, casada com Luiz Anisio Portela, advogado e um dos fundadores do Curso de Direito da UCS,571 com os filhos f1) Maria Paula Portela ( ~ Frederico Brito Hegel), f2) Maria Adélia Portela ( ~ Celso Piccoli Coelho), f3) Luiz Antônio Portela ( ~ Thaís Imperatore Fernandes) e f4) Maria Inês Portela ( ~ Miguel Flores da Cunha). g) Maria Elisabetha Pezzi, casada com Ildefonso Eberle e pais de g1) Pedro Eberle e g2) Elisabeth Eberle. h) Vasco Pezzi, advogado, foi secretário da Associação Rádio Popular,572 procurador fiscal do Estado,573 fez um discurso no lançamento da pedra fundamental do Hospital Pompeia, muito cumprimentado pela “belíssima oração” que elevou o espírito do cristianismo e da caridade em Caxias,574 foi um dos sobreviventes do desastre aéreo que vitimou Joaquim Maurício Cardoso,575 e em 1950 concorreu ao cargo de deputado federal pelo PSB, mas não venceu. Depois foi conselheiro fiscal da Companhia Energia Elétrica Rio-Grandense,576 coordenadorgeral da Comissão Brasileira de Seleção de Imigrantes da Europa, do Instituto Nacional de Imigração e Colonização,577 foi ligado à Escola Técnica de Agricultura do Rio Grande do Sul578 (mas não descobri exatamente como) e diplomou-se na Escola Superior de Guerra. 579 Foi casado com May Reidy.

571

“Discurso Comemorativo”. In: Informativo Eletrônico do Direito, 2015 (8). “Estrato dos Estatutos da Radio Popular”. A Federação, 05/05/1934 573 “Vida Social”. A Época, 01/01/1939 574 “Hospital de Caridade N. S. de Pompeia”. O Momento, 17/01/1938 575 “Joaquim Maurício Cardoso”. O Momento, 30/05/1938 576 “Ata da Assembléia Geral Ordinária da Companhia Energia Elétrica Rio-Grandense realizada em 22 de abril de 1955”. Diário Oficial da União, 17/05/1955 577 “PR 39.794-56”. Diário Oficial da União, 16/08/1956 578 Contrato fragmentário do Ministério da Agricultura, 17/12/1953 579 Escola Superior de Guerra. Diplomados. 572

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164 O Momento, 26/08/1950

3) Mario Pezzi, nascido em 4 de setembro de 1879, iniciou a vida trabalhando na contabilidade da casa comercial de Caetano Costamilan na 2ª Légua, personagem já citado no Volume I. Aprendeu o código Morse e passou uma temporada em Santa Maria como telegrafista. Voltando a Caxias, passou a fazer parte da equipe do Banco Pelotense, onde fez carreira e veio a ganhar respeito pela competência, galgando toda a hierarquia.580 Enquanto isso, empenhou-se em uma série de atividades paralelas. Associou-se com seu irmão Ettore numa cantina que mais tarde alcançou grande projeção, foi um dos fundadores e fez parte da Diretoria do Grupo Dramático Juvenil, junto com os parentes Raymundo Buratto e Americo Ribeiro Mendes,581 foi professor na IV Légua,582 festeiro do Divino 583 e de Santa Teresa,584 secretário da comissão construtora da escadaria da Catedral,585 membro da comissão organizadora do Centenário de Dante Alighieri,586 secretário da Sociedade Príncipe de Nápoles por muitos anos, também vice-presidente, 587 588 secretário da Associação dos Comerciantes 589 e da Exposição Agro-Pecuária de 1912,590 um dos fundadores e 1º tesoureiro da Associação dos Varejistas,591 suplente da Diretoria do Clube Juvenil 592 e capitão do seu time de futebol.593 Muitas vezes membro do júri popular, tenente-quartel mestre e secretário do Estado Maior do 85º Batalhão de Reserva da Guarda Nacional,594 595 político, conselheiro municipal, secretário do Conselho596 e relator da Comissão de Finanças,597 e em 1933 publicou uma carta aberta, junto com seu irmão Ettore, onde louvavam a ação pacificadora do general e interventor federal Flores da Cunha e declaravam filiação ao Partido Republicano Liberal.598

580

Pezzi, op. cit. “Club Juvenil”. Correio do Município, 07/04/1909 582 Pezzi, op. cit. 583 “Para as festas em honra ao Divino Espírito Santo”. Città di Caxias, 31/05/1015 584 “Grande Festa”. Città di Caxias, 06/10/1915 585 “Pró escadaria da Igreja”. O Brazil, 30/08/1911 586 “Centenario di Dante”. Città di Caxias, 12/08/1921 587 “Sociedade Operária”. Gazeta Colonial, 02/01/1909 588 “Governo do Estado – Secretaria do Interior – Despachos”. A Federação, 26/03/1921 589 “L’Associazione dei Commercianti”. Città di Caxias, 03/08/1914 590 “Exposição Agro-pecuaria”. O Brazil, 15/02/1912 591 “Associação dos Varejistas de Caxias”. A Federação, 22/06/1932 592 “Club Juvenil”. Città di Caxias, 16/06/1916 593 “Jogo da Bola Guarany – Juvenil”. Città di Caxias, 12/08/1921 594 “Guardia Nazionale di Caxias”. Città di Caxias, 29/06/1914 595 “Guarda Nacional”. A Federação, 10/12/1913 596 “Dispositivo nº 25”. Città di Caxias, 05/10/1914 597 “Conselho Municipal”. O Brazil, 18/12/1912 598 “Aplausos e Apoio ao General Flores da Cunha”. A Federação, 05/04/1933 581

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Mario Pezzi e sua esposa Marina Montanari. Foto de Susete Pezzi

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Foto do Pio Sodalício das Damas de Caridade, mostrado a Diretoria de 1931-36 com a participação de Adelia Parolini Pezzi e Marina Montanari Pezzi.

Foi diretor-secretário da Caixa de Crédito Rural,599 tornou-se o “digno tesoureiro do Banco Pelotense nesta cidade” 600 e mais tarde seu gerente, mas para seu dano, pois quando o Banco faliu, arruinando muitos dos seus clientes, tomou sobre si toda a responsabilidade pelo desastre, e sentindo-a excessivamente pesada, acabou pondo um fim à própria vida em 3 de agosto de 1936. Esta é a narrativa de Costamilan, mas circulam outras versões divergentes. Diz Susete Pezzi, e parece que esta é a versão correta, que o motivo do suicídio foi uma vultosa multa que sua própria empresa recebeu numa reordenação fiscal promovida pelo Governo do Estado, pondo-a à beira da falência e levando Mario a um estado de desespero. De todo modo, seu trágico desaparecimento causou comoção na cidade, foi pranteado pelo conhecido poeta e acadêmico Cyro de Lavra Pinto em um soneto,601 mais tarde foi agraciado com a Medalha Ernesto Marsiaj do Legislativo602 e hoje é nome de rua. Mario foi casado com Marina Montanari, nascida em 3 de abril de 1884, filha de Giovanni Battista Montanari e Angela Vincenzi. Quando jovem trabalhou como costureira na alfaiataria de Rodolfo Braghirolli, e depois de casada dedicou-se ao lar, revelando-se ótima esposa, mas também reservava tempo para atividades benemerentes, participando da Associação Damas de Caridade como tesoureira entre 1931 e 1936.603 O casal teve os filhos Edmundo, Petronila e Edgar. 599

“Acta da primeira sessão da Directoria da Caixa de Credito Rural de Caxias”. O Brazil, 12/10/1911 “Notas Sociaes”. O Brasil, 08/09/1912 601 “Guardia Nazionale di Caxias”. Città di Caxias, 29/06/1914 602 Pezzi, op. cit. 603 Pezzi, op. cit. 600

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Petronila, Edgar e Edmundo Pezzi. Foto de Susete Pezzi.

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a) Edmundo Pezzi foi advogado, orador do Clube Juvenil604 e escolhido para discursar em várias solenidades, como nas grandes festas de recepção do primeiro bispo de Caxias, dom José Barea,605 e no Jubileu de Prata da Associação Damas de Caridade,606 foi vice-presidente e depois secretário-geral do Centro Cultural Tobias Barreto de Menezes 607 608 e vereador em 1935.609 Indicado em 1939 juiz municipal em Nova Prata,610 depois voltou a Caxias e abriu casa comercial,611 foi um dos fundadores da Academia Caxiense de Letras,612 membro da Diretoria e tesoureiro da seccional da OAB,613 614 conselheiro da Federação dos Antigos Alunos do Carmo,615 novamente vereador616 e candidato a vice-prefeito, 617 recebeu a Medalha Ernesto Marsiaj 618 e hoje é nome de rua. Foi casado com Neda Soldatelli, tendo os filhos a1) Pedro Mário Pezzi ( ~ Lisete Pessin), a2) Raquel Pezzi e a3) Neila Pezzi. b) Edgar Pezzi, assistente da Congregação Mariana,619 capitão do Batalhão Ginasial620 e capitão do Grêmio Esportivo do Carmo no tempo de estudante,621 depois formado em Agronomia, chefe da fiscalização da Secretaria de Agricultura na região da uva e do vinho,622 professor de Viticultura e Enologia na Sociedade Operária,623 distinguido com um diploma de Honra ao Mérito pelo exercício exemplar da profissão ao longo de 40 anos, e escolhido Engenheiro Agrônomo do Ano em 1995.624 Casado com Italia Turra, tiveram os filhos b1) Elisabeth Pezzi ( ~ Irany Morena), b2) Sandra Pezzi ( ~ Luís Alberto d’Arrigo), e b3) Gilberto Pezzi ( ~ Maria Peretti, depois ~ Ana Lúcia de Grande). c) Petronila Pezzi, socialite, em 1936 citada em um jornal do Rio de Janeiro como expoente da sociedade local,625 casada com Turido Frederico Michielon, sócio da grande cantina Luiz Michielon & Cia., tesoureiro da Associação dos Comerciantes 626 um dos fundadores e da primeira Diretoria do Aero Clube, na função de tesoureiro,627 e membro da Diretoria do Rotary,628 629 com a filha única Lucila Michielon ( ~ Paulo Serra).

604

“Clube Juvenil”. A Época, 25/12/1938 “A cidade recebeu com imenso júbilo o seu primeiro bispo, D. José Barea”. O Momento, 17/02/1936 606 “Jubileu de Prata”. O Momento, 22/08/1938 607 “Centro Cultural Tobias Barreto de Menezes”. O Momento, 06/09/1937 608 “Centro Cultural Tobias Barreto de Menezes tem Nova Direção”. O Momento, 18/08/1945 609 Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul, op. cit. 610 “Viajantes”. A Época, 26/02/1939 611 “Sociais”. O Momento, 12/01/1945 612 Academia Caxiense de Letras. Membros Fundadores. 613 “Ordem dos Advogados”. O Momento, 28/04/1954 614 “Ordem dos Advogados do Brasil” O Momento, 19/02/1949 615 “Federação dos Antigos Alunos do Carmo – FAC”. O Momento, 24/05/1947 616 Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul, op. cit. 617 “Vida Social”. A Época, 26/02/1939 618 Pezzi, op. cit. 619 “Congregação mariana do Ginasio N. S. do Carmo”. O Momento, 06/07/1933 620 “Batalhão Ginasial”. O Momento, 30/10/1933 621 “Grêmio Sportivo do Carmo”. O Momento, 22/06/1933 622 “A Industria Vinicola e as Providencias da Secretaria da Agricultura”. O Momento, 23/02/1942 623 “Encerrado 1º Curso Rapido de Viticultura e Enologia”. A Época, 30/03/1941 624 Pezzi, op. cit. 625 “Circulou Hoje o Número Especial de Terra Fluminense”. O Momento, 30/07/1936 626 “Foi empossada a nova Diretoria da Associação dos Comerciantes de Caxias”. A Época, 20/11/1938 627 “Fundado em Caxias o Aero Clube”. O Momento, 24/02/1941 628 “Rotari Clube”. A Época, 29/01/1939 629 “Empossada a Nova Diretoria do Rotary Clube de Caxias”. A Época, 04/07/1948 605

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Ettore Pezzi em desenho de Sobrera. Acervo do Clube Juvenil.

4) Ettore Pezzi (Heitor), nascido em 18 de outubro de 1881 da segunda esposa de Abramo, iniciou a vida como tropeiro, comerciando mercadorias entre Caxias, os Campos de Cima da Serra e o estado de Santa Catarina, e colaborando com seu irmão Arcadio, que nesta época se estabelecera como comerciante em Bom Jesus. 630 Nestas andanças, fazendo contatos com muita gente, ganhou amplos conhecimentos sobre viticultura, servindo de conselheiro para muitos colonos. Aproveitando esta formação, fundou sua primeira cantina em 1918 com o irmão Mario,631 que aparentemente tinha participação pouco expressiva, pois na inauguração em 1921 só é citado o nome de Ettore e na publicidade subsequente também só aparece o seu nome. A cantina floresceu, tendo em 1925 o enorme capital de 300 contos de réis,632 tornando Ettore um dos maiores exportadores de vinho da cidade, com produto várias vezes premiado. Em função de seu destaque na área, foi um dos fundadores e diretores do Sindicato e da Sociedade Vinícola Rio-Grandense,633 634 importantíssimas organizações já mencionadas no Volume I. Mais tarde incorporou seu filho Paride como sócio. Ettore promovia um campeonato de tênis, a Taça Vinhos Perdigueiro, nome de um de seus vinhos mais apreciados. O complexo da sua cantina, na esquina da rua Marquês do Herval com a Sinimbu, foi um marco arquitetônico da cidade, estudado por Ana Elísia da Costa. 635 636 Foi sócio em uma destilaria de álcool de cana e em 1945 abriu nova e ainda maior cantina na zona do Curtume, mas faleceu pouco depois, em 12 de junho de 1947.637 630

Pezzi, op. cit. Pezzi, op. cit. 632 “Commercio e Industrias”. A Federação, 24/03/1925 633 Jalfim, Anete. “Elementos para o estudo da agroindústria vinícola: uma abordagem da indústria vinícola riograndense”. In: Ensaios FEE, 1991; 12 (1):229-247 634 “A Sociedade Vinicola ofereceu um banquete ao Dr. Oscar Tollens”. O Momento, xx/xx/1935 635 “Nova diretoria no Clube Juvenil”. A Época, 09/08/1948 636 Da Costa, op. cit. 637 Pezzi, op. cit. 631

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172 Álbum Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande del Su 1875-1925

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Ettote também foi perito contador, 638 um dos fundadores, conselheiro fiscal e presidente do Clube Juvenil 639 640 presidente da Sociedade Operária São José, 641 tesoureiro da IV Festa da Uva 642 e membro do Sindicato Agrícola, com produtos premiados, provavelmente uvas.643 Era aficionado pela caça à perdiz e pelo tiro ao pombo, foi um dos fundadores e primeiro secretário do Club de Caçadores de Caxias,644 recebeu o primeiro prêmio em um concurso de tiro na Festa de São Pedro de 1913 em Nova Trento,645 e no mesmo ano dividiu com Guido d’Andrea o Prêmio Presidente da Sociedade de Tiro ao Pombo.646 No ano seguinte foi vencedor no Primeiro Torneio de Tiro ao Pombo, junto com João Leonardelli, e segundo lugar no Segundo Torneio.647 Ligado à política, foi membro da Comissão Eleitoral do Centro Republicano de Caxias,648 da comitiva oficial que recebeu os candidatos à deputação federal em 1924,649 e da Comissão Central Consultiva e de Propaganda Política, instituída por Borges de Medeiros com alguns dos mais ilustres industriais, comerciantes e profissionais liberais, para pacificar disputas na comunidade e alavancar seu progresso.650 Fortemente vinculado às atividades da Igreja, foi um dos paraninfos da inauguração da Matriz da Conceição na 3ª Légua,651 fabriqueiro da Catedral,652 várias vezes festeiro de Santa Teresa e do Divino,653 654 655 656 657 658 conselheiro permanente do Orfanato Santa Therezinha,659 colaborador assíduo das Damas de Caridade, membro da Comissão Protetora Pró-Construção do Hospital Pompeia e um dos paraninfos em sua inauguração,660 e um dos grandes defensores da criação da Diocese de Caxias, tornandose amigo do primeiro bispo dom José Barea. 661 Hoje Ettore Pezzi é nome de rua. 638

“Notas forenses”. O Brasil, 16/04/1921 “Nova Diretoria do Clube Juvenil”. A Época, 09/08/1942 640 Clube Juvenil. Histórico do Clube. 641 “Sociedade S. José”. O Brasil, 26/04/1920 642 “E as Festas da Uva se tornaram vitoriosas”. Pioneiro, 18/02/1978 643 “Sindicato Agreicola”. A Federação, 29/10/1924 644 “Regulamentação da caça em Caxias”. O Momento, 11/04/1935 645 “Nova Trento”. O Brazil, 05/07/1913 646 “Sport”. O Brazil, 27/09/1913 647 “Tiro ao Pombo”. O Brazil, 27/04/1914 648 “Centro Republicano de Caxias”. O Brasil, 03/05/1924 649 “A chegada do trem”. O Brasil, 03/05/1924 650 “Varias”. A Federação, 10/03/1924 651 “Inauguração da Matriz da Conceição”. O Momento, 25/09/1933 652 Brandalise, Ernesto A. Paróquia Santa Teresa - Cem Anos de Fé e História (1884 - 1984). EDUCS, 1985 653 “A Festa da Nossa Padroeira”. O Momento, 09/10/1933 654 “Festa de Santa Thereza”. O Momento, 27/09/1934 655 “Festa do Divino”. O Momento, 13/05/1940 656 “Festa do Divino Espírito Santo”. O Momento, 02/06/1941 657 “Caxias Católica”. O Momento, 30/09/1941 658 “A Festa do Divino”. O Momento, 18/05/1942 659 Pezzi, op. cit. 660 “Terá Lugar Amanhã a Inauguração do Hospital de Caridade N. S. de Pompeia”. O Momento, 23/12/1940 661 Pezzi, op. cit. 639

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A família de Ettore e Virginia Pezzi. De pé: Virginia, Abramo, Paride, Fortunato e Ettore. Sentadas: Noely, Ire, Theresa, Elsa e Edith. Foto de Susete Pezzi.

Foi casado com Virginia Pellizer, nascida em Flores da Cunha em 11 de abril de 1888, filha de Fortunato Pellizer e Marietta Facini. Dedicou-se ao lar e a obras de caridade, e faleceu precocemente em 28 de janeiro de 1929, deixando os filhos aos cuidados do esposo, com a colaboração da cunhada Aurora Pezzi.662 Seu obituário cita seu sobrenome como Boff, 663 que deve ser um engano, Susete Pezzi indica Pellizer. Foi ali descrita como “senhora dotada de excelsas qualidades moraes”, “ligada por laços de parentesco a varias das mais distinctas famílias de Caxias e possuía um vasto círculo de amizades”. O sepultamento teve “extraordinario acompanhamento, sendo elevado o numero de corôas enviadas. A urna mortuaria foi conduzida por exmas. senhoras, tendo-se feito representar varias congregações locaes. As asyladas do orphanato Santa Therezinha compareceram incorporadas”.

662 663

Pezzi, op. cit. “Fallecimentos”. O Popular, 31/01/1929

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Abramo II Pezzi em desenho de Sobrera. Acervo do Clube Juvenil. À direita, sua filha Laís, foto de A Época, dezembro de 1949.

O casal teve dez filhos e grande descendência. a) Abramo II Pezzi, “do alto comércio”, sócio de Attilio Granzotto num comércio de secos e molhados com um capital de 40 contos de réis 664 e depois sócio da grande Importadora Comercial,665 presidente do Clube Juvenil,666 667 da Diretoria do Tiro de Guerra,668 co-fundador da Congregação Mariana de Moços,669 e festeiro do Divino.670 Casado com Lilia Zilma Alquati, de tradicional família caxiense, da Comissão de Festas do Caxias Tênis Clube671 e festeira da Igreja do Santo Sepulcro.672 Teve os filhos: a1) Laís Beatriz Pezzi, “gentil e prendada”, “garota meiguice” 673 e secretária das Falenas,674 casada com Rogério Armando Issler. a2) Virgínia Heloísa Pezzi, radicada em João Pessoa, estado da Paraíba, com o marido Adolpho Lyra Maia, coronel comandante geral da Polícia Militar.675 Lá Virgínia se distinguiu como socialite, empresária e foi presidente da APAE, que em sua gestão concentrou esforços na construção da Casa do Idoso.676 a3) Luís Fernando Pezzi, casado com Maria Cristina Horn.

664

“Junta Commercial”. A Federação, 05/11/1031 “A Importadora Comercial Limitada e a Firma Golin Irmão envolvidas em contrabando?”. O Momento, 22/01/1944 666 Giron, Loraine Slomp. “Colônia italiana e educação”. In: História da Educação, 1998; 2 (4) 667 “Consórcio”. O Momento, 16/12/1950 668 “Tem nova diretoria o Tiro de Guerra 248”. A Época, 03/04/1939 669 Brandalise, op. cit. 670 “Festa do Divino”. O Momento, 01/06/1936 671 “Caxias Tenis Clube”. A Época, 01/02/1942 672 “Vida Católica”. A Época, 19/03/1944 673 “Baile de Coroação da Rainha das Falenas e a Apresentação das Debutantes de 1948 no Clube Juvenil”. O Momento, 24/07/1948 674 “Nova Diretoria do Grupo das Falenas”. O Momento, 22/01/1949 675 “Comado Geral da Policia Militar”. Paraíba Criativa. 676 “Nova presidente toma posse e promete concluir casa de amparo ao idoso deficiente”. Parlamento PB, 19/01/2011 665

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Virginia Pezzi Maia. Foto Jornal da Paraíba. À direita, Paride Pezzi jogando bolão. Acervo do Clube Juvenil.

b) Fortunato Pezzi, industrial e comerciante, levou adiante com o irmão Paride a grande cantina fundada pelo pai, renomeada Adega Pezzi. 677 Foi ainda assistente da Congregação Mariana de Moços,678 juiz de futebol, 679 membro do júri da escolha da Rainha dos Operários de Caxias,680 conselheiro fiscal do Tiro de Guerra,681 e bibliotecário da Associação dos Comerciantes. 682 Casado com Nair Circe Pieruccini, teve os filhos b1) Cid Paulo Pezzi ( ~ Teresinha de Jesus Ponzi) e b2) Cícero Pezzi ( ~ Myrna Catharina Fontana). c) Paride Achiles Pezzi, sócio do pai na cantina e dirigente da sua sucessora, a Adega Pezzi,683 grande jogador de bolão,684 sócio do Expresso Tupi de Transportes e da Diretoria do Juvenil,685 686 687 casado com Olivia Michielon.

677

“Adega Pezzi Lda”. O Momento, 29/10/1949 “Congregação Mariana de Moços”. O Momento, 17/05/1934 679 “Pelo Sport”. O Popular, 06/06/1929 680 “Foi eleita e proclamara Rainha dos Operários de Caxias, a srtª Noemia Porto, da Fábrica Abramo Eberle & Cia.” O Momento, 09/02/1942 681 “Tem Nova Diretoria o Tiro de Guerra 248”. A Época, 02/04/1939 682 “Associação Comercial”. A Época, 05/11/1939 683 “Viajantes”. A Época, 16/07/1939 684 Lopes, Rodrigo. “Clube Juvenil, 110 anos depois”. Pioneiro, 15/08/2015 685 “Clube Juvenil”. A Época, 25/12/1938 686 “Aniversários”. O Momento, 20/01/1951 687 “Clube Juvenil”. A Época, 25/12/1938 678

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As instalações da segunda cantina de Ettore Pezzi. In Antunes, Duminiense Paranhos (org). Documentário Histórico do Município de Caxias do Sul 1875-1950, Comemorativo do 75º Aniversário da Colonização. Associação Comercial / Biblioteca Pública / Câmara dos Vereadores / Prefeitura de Caxias do Sul, 1950

d) Ire Catharina Maria Pezzi (Íris), expoente da sociedade local, 688 casada com Lino d’Andrea, nome de rua em Flores da Cunha, filho do ilustre Guido, com os filhos d1) Guido Ettore d’Andrea ( ~ Anita Leocádio Márcio), d3) Nelson Luiz d’Andrea ( ~ Virgínia Ramos), d3) Celso d’Andrea, presidente do Clube Juvenil 689 ( ~ Jane Beatriz Plentz), d4) Elisabeth d’Andrea, casada com Conrado Balsini Neto, médico pediatra, um dos pioneiros da Pediatria do Hospital Santa Isabel de Blumenau, estado de Santa Catarina, depois médico do Trabalho;690 e d5) Nóris Virginia d’Andrea, rainha do Grupo das Falenas e rainha do Clube Juvenil, professora, mais tarde ajudou na organização do acervo histórico do clube. 691 692 Rodrigo Lopes recentemente recuperou sua trajetória em alguns artigos e escreveu um obituário sobre ela:

688

“Circulou Hoje o Número Especial de Terra Fluminense”. O Momento, 30/07/1936 Clube Juvenil. Presidentes do Clube Juvenil. 690 Hospital Santa Isabel. Médicos de nossa história. 691 Lopes, Rodrigo. “Um passeio pelos salões do Clube Juvenil”. Pioneiro, 30/04/2014 692 Lopes, Rodrigo. “Escolha da rainha do Clube Juvenil em 1959”. Pioneiro, 08/11/2014 689

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“Bailes de escolha das rainhas do Clube Juvenil e do Recreio da Juventude costumavam lotar as sedes sociais e agitar as noites caxienses dos anos 1950/60. Em 1959, o Juvenil elegeu Nóris Pezzi D’Andréa como rainha da agremiação, após ela também deter o título de soberana do Grupo das Falenas – tempos dos carnavais animados a lança-perfume, clássicas marchinhas e visitas aos clubes vizinhos. Este post é uma homenagem a dona Nóris, conforme você lê abaixo: Despedida “Dona Nóris morava em uma simpática casa amarela, de madeira e com varanda, nos altos da Rua Dom José Barea, em frente ao Parque dos Macaquinhos. Visitei-a por duas vezes em 2014. Na primeira delas, encontrei-a regando as flores do jardim. Bastante acolhedora, sugeriu que eu não ficasse dando voltas em busca de uma vaga – poderia estacionar no acesso à sua garagem. “Cheguei por volta de 16h, pretendendo estender a conversa por, no máximo, uma hora e meia. Saí de lá depois das 20h, tamanha a quantidade de fotos, histórias e lembranças. Lupa em mãos e memória afiada, dona Nóris recordou Nóris Pezzi d’Andrea, rainha do Clube Juvenil em 1959. Foto Geremia, da Caxias dos anos 1950 e 1960, dos coleção de Nóris. bailes do Juvenil e do Juventude, das Falenas, dos antigos carnavais e cinemas, da cantina da família, da época em que (quase) tudo ocorria ao redor da Praça Dante Alighieri. Impossível não viajar no tempo – sorvendo um chá ou provando os quitutes que ela fez questão de oferecer para descontrair a conversa. “Na segunda visita, devolvi algumas fotos e levei-lhe flores, que ela imediatamente tratou de expor na varanda. A ideia era falar do ofício de calígrafa e da escrita manual em convites de casamento, atividade que ela se orgulhava de manter até hoje. O assunto acabou ficando em segundo plano, visto o grande número de álbuns e fotografias que, de tempo em tempo, dona Nóris trazia do escritório e dispunha sobre a mesa de jantar. Era a história sendo contada, com riqueza de detalhes, por quem viveu-a.

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“As imagens que ilustram esta página, por exemplo, seriam devolvidas no nosso próximo encontro. Infelizmente, não deu tempo. Dona Nóris faleceu no último domingo, aos 76 anos, deixando o mundo um pouco mais carente de doçura e gentileza. Quem conheceu-a, sabe disso…”.693 Nóris foi casada com Heitor Curra Filho, arquiteto modernista, autor de projetos emblemáticos da cidade, como os interiores das Lojas Magnabosco e do Centro da Indústria Fabril e a sua própria residência.694 695 Seu passamento foi lamentado pela Câmara Municipal com um Voto de Pesar.696 Era filho de Heitor Curra, prefeito de Flores da Cunha.697 e) Thereza Maria Pezzi, casada com Cletos Ruschel Seffrin, dedicado ao remo por toda a vida,698 com os filhos e1) Ciro Seffrin, jogador de basquete do Grêmio699 ( ~ Márcia Isabel Santos da Silva), e2) Lúcia Virgínia Seffrin ( ~ Paulo Thadeu Bragagnolo, alto funcionário da construtora Camargo Corrêa700) e e3) Alberto Seffrin. f) Germano Mansueto Pezzi, estudou do Colégio do Carmo, estando sempre entre os melhores colocados nos exames, foi co-fundador da Congregação Mariana de Moços,701 depois formou-se engenheiro agrônomo 702 e químico industrial,703 tornando-se pesquisador de Enologia da Estação Experimental do Instituto de Pesquisas Agropecuárias do Sul (IPEAS) em Bento Gonçalves,704 e autor do livro A Verdade do Vinho.705 Casado com Zelmira Gremo, foi pai de f1) Aurora Pezzi, médica oftalmologista em Porto Alegre ( ~ Antônio Carlos d’Almeida) e f2) Carlos Humberto Pezzi, radicado em Fortaleza ( ~ Tanise Moreira).

Acima, Heitor Curra Filho e Noris Pezzi d’Andrea no tempo de namorados. Abaixo, escadaria das Lojas Magnabosco, projeto de Heitor. Fotos da coleção de Nóris. 693

Lopes (08/11/2014), op. cit. Lopes, Rodrigo. “Detalhes da arquitetura modernista dos anos 1950, por Heitor Curra Filho”. Pioneiro, 14/05/2014 695 Lopes, Rodrigo. “Interiores da Loja Magnabosco nos anos 1950”. Pioneiro, 17/06/2014 696 Câmara Municipal de Caxias do Sul. Voto nº VP-425/2012 697 Lopes, Rodrigo. “Lembranças de Heitor Curra”. Pioneiro, 01/04/2014 698 “Os pés em Porto Alegre e a cabeça em Nova Iorque”. CELIC, 24/10/2012 699 “Os pés em Porto Alegre e a cabeça em Nova Iorque”. CELIC, 24/10/2012 700 INFRAERO. “Ata da Segunda Reunião Pública – Concorrência Int. nº 010/DALC/SBCF/2010”. 701 Brandalise, op. cit. 702 “Caxienses que se formam”. O Momento, 23/12/1950 703 “Edital”. A Época, 19/12/1954 704 Pezzi, Germano Mansueto & Fenocchio, Paolo. “Desmineralização e dessulfitação, por resinas intercambiadoras de íons, de mostos sulfitados”. In: Pesquisa Agriopécuária Brasileira, 1975; 10 (11) Série Agronômica 705 Pezzi, Germano Mansueto. A Verdade do Vinho. EA, 2003 694

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g) Elza Pezzi, casada com Cyrillo Bragagnolo, da Diretoria do Clube Juvenil,706 pais de g1) Carlos Alberto Bragagnolo ( ~ Almira Lima, depois ~ Lucia Zini), g2) Ana Maria Bragagnolo ( ~ João Arthur Neler Neto), g3) Lília Virginia Bragagnolo e g4) Anete Bragagnolo. h) Maria de Lourdes Pezzi, também conhecida como Mary, “fino ornamento da nossa sociedade”,707 membro do grupo das Falenas,708 duas vezes rainha do Clube Juvenil, depois dedicada ao lar e às artes plásticas.709

706

“Club Juvenil”. O Momento, 22/01/1934 “Contrato de Casamento”. O Momento, 20/10/1945 708 “Grupo das Falenas”. O Momento, 29/01/1934 709 Klóss, Carolina. “Seis, das 29 obras da mostra "Tiragem Única", em exposição em Caxias, foram vendidas”. Pioneiro, 13/10/2011 707

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Maria de Loures foi casada com Remo Gianella, aviador,710 sócio da grande empresa de fiação e tecelagem de lã que Matteo Gianella fundou pioneiramente em 1918,711 712 consultor geral do time de futebol da empresa, o Grêmio Esportivo Gianella,713 idealizador da essa mortuária e do relógio floral da Igreja de São Pelegrino,714 e hoje nome de rua.

O lanifício de Matteo Gianella em 1925. Foto no álbum Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande del Sud.

Foram pais de h1) Leila Maria Gianella, hoje nome de rua ( ~ Atílio Mondadori Alves, advogado), h2) Liana Maria Gianella, dona de uma imobiliária com seu marido José Armindo Cesa Valduga, a Gleba Imóveis, e h3) Leniza Gianella, casada com Tito Rubens Mondadori, criador de gado em São Paulo, membro do Conselho Técnico do Núcleo Paulista de Criadores de Angus,715 distinguido na 37ª Expointer pela Associação Nacional de Criadores “HerdBook Collares” como um dos ténicos mais antigos em atividade.716 i) Noely Pezzi, socialite 717 e madrinha da 22ª Turma de Reservistas do Tiro de Guerra,718 casada com o tenente José Costamilan Rosa, do 9º Batalhão de Caçadores,719 Instrutor da Escola Técnica do Exército, major da Infantaria, medalha de bronze pelo exercício exemplar da atividade ao longo de dez anos,720 depois general de brigada, com os filhos i1) Luiz Heitor Rosa e i2) Maria Beatriz Rosa ( ~ Gilberto Pascoal do Valle, gerente da Imóvel Indústria de Móveis Ltda.).

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“Acidentou-se o Avião ‘Seringueiro’, do Aero Clube de Caxias”. O Momento, 15/04/1944 “Alteração de Firma”. O Momento, 11/09/1943 712 Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande del Sud, 1925 713 “Grêmio Esportivo Gianella tem nova Diretoria”. O Momento, 02/03/1946 714 “Secretaria do Turismo assina convênio com a Mitra Caxias”. Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Caxias do Sul, 26/09/2011 715 Núcleo Paulista de Criadores de Angus. Diretoria. 716 “PROMEBO®: 40 anos de trabalho pela pecuária brasileira”. Associação Nacional de Criadores “Herd-Book Collares”, 31/08/2014 717 “Circulou Hoje o Número Especial de Terra Fluminense”. O Momento, 30/07/1936 718 “Solene Juramento á Bandeira da 22ª Turma de Reservistas do Tiro de Guerra 248”. A Época, 16/06/1940 719 “Casamentos”. A Época, 01/01/1941 720 “Ministério da Guerra”. Diário Oficial da União, 10/03/1954 711

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O portal da tradicional sede do CTG Rincão da Lealdade.

j) Edith Maria Pezzi (Edite), professora de Educação Física, louvada por suas iniciativas socializantes,721 722 muito admirada por minha tia Beatriz Longhi, que foi sua aluna, a quem incentivou a seguir a mesma carreira. Edith também foi membro da Comissão de Baile do Guaracy Clube,723 rainha do Caxias Tênis Clube 724 e eleita segunda colocada no concurso da Rainha da Primavera de 1941, um evento que “empolgou” a comunidade, tendo “legiões” de fãs e considerada um “fino ornamento da nossa sociedade”.725 726 727 Foi casada com Nelson Castro Reis, inspetor de polícia,728 depois sub-delegado do 1º Distrito,729 político, candidato a vereador pelo Partido Social Democrático,730 eleito suplente e indicado sub-prefeito do 1º Distrito,731 presidente da Comissão Municipal de Preços,732 vicepresidente do Municipários Futebol Clube,733 um dos fundadores e presidente do Diretório Municipal do Partido Social Progressista,734 um dos fundadores do CTG da Rincão da Lealdade, a primeira associação gauchesca de Caxias, sendo seu segundo presidente, e lançou a pedra fundamental de sua sede.735 736 Tiveram os filhos j1) Nelson Reis Filho ( ~ Eloísa Córdova), j2) Saulo Reis, gerente comercial ( ~ Clody Nascimento), j3) Maria Cristina Reis ( ~ Vitor Hugo Lobato Flores, advogado) e j4) Carlos Reis ( ~ Adelaide Cargnin).

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“Colação de gráo”. A Época, 04/12/1938 “O Esporte eem Caxias através da Palavra do Cap. Humberto de Holanda – Presidente da Liga Atlética Caxiense”. A Época, 11/11/1941 723 “Eleita Nova Diretoria para o Guaracy Clube”. A Época, 17/08/1941 724 “Baile da República”. A Época, 12/11/1939 725 “A Escolha da Rainha da Primavera de 1941”. A Época, 07/09/1941 726 “Está Empolgando os Meios Sociais o Concursdo Rainha da Primavera”. A Época, 14/09/1941 727 “Constituiu um Acontecimento Marcante a Eleição, em Caxias, da Rainha da Primavera de 1941”. A Época, 05/10/1941 728 “Crônica Policial”. O Momento, 20/04/1946 729 “Escola de Choferes São João”. O Momento, 31/05/1947 730 “Edital”. O Momento, 01/11/1947 731 “Sub-Prefeitura”. O Momento, 24/01/1948 732 “Mantida pela C.P.M., a Tabela da Carne Vermelha”. O Momento, 21/02/1948 733 “Municipários FC”. O Momento, 04/04/1948 734 “Inaugurado o Comité do P.S.P. em Caxias”. O Momento, 07/01/1950 735 “3º Gincana Cultural do C.T.G. Rincão da Lealdade”. C.T.G. Rincão da Lealdade, 10/06/2013 736 Machry, D. A. “II Sapecada Regional”. Buenas, fev-mar/1997 722

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5) Ersilia Pezzi (Ercília), a primeira das filhas de Abramo e Theresa, nascida em 10 de agosto de 1886, contribuiu para a construção do Hospital Pompeia e foi a doadora do crucifixo entronizado no Fórum de Antônio Prado, onde se radicou com o marido Domingos Grazziotin, nascido em 3 de fevereiro de 1882, “estimado” e “abastado comerciante”, dono da Comercial Domingos Grazziontin, que atendia toda a região e os Campos de Cima da Serra. Sua sede é hoje patrimônio histórico de Antônio Prado. Foi também agente do Banco Pelotense, 737 738 possuidor do primeiro automóvel a circular em sua cidade, o maior benemérito do Colégio do Sagrado Coração de Jesus, doador do terreno onde foi construída a Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, festeiro do Centenário da Independência, um dos fundadores da Cooperativa Agrícola de Antônio Prado, segundo Barbosa a primeira em seu gênero no Brasil, um dos fundadores e primeiros dirigentes da União Católica e da Associação dos Comerciantes local. Era filho de Luigia Poloni e Valentino Grazziotin, que foi fundador com seus descendentes de uma das famílias mais tradicionais de Antônio Prado e de um dos maiores conglomerados comerciais do sul do país, com dezenas de filiais. 739

A casa comercial de Domingos Grazizotin em Antônio Prado. Foto em Barbosa, op. cit.

Ersilia perdeu cedo o marido, em 25 de dezembro de 1941, e depois assumiu os seus negócios, revelando-se hábil empresária e tornando-se uma líder comunitária em seu próprio direito. Faleceu em 14 de junho de 1956, deixando a empresa aos cuidados dos filhos Waldemar e Abramo.740 O casal gerou cinco filhos:

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“Inauguradas Solenemente as Instalações do Novo Fôro de Antonio Prado”. O Momento, 06/07/1942 “Hospedes e viajantes”. Città di Caxias, 14/09/1918 739 Barbosa, Fidélis Dalcin. Waldemar Mansueto Grazziotin: duas vezes prefeito, 1947 - 1951 e 1956 – 1959. Projeto Passo Fundo, 31/10/1980 740 Pezzi, op. cit. 738

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Família de Ersilia Pezzi e Domingos Grazzionti: Inês, Domingos, Ersilia, Mário, Abramo e Waldemar. Foto de Susete Pezzi.

a) Inês Grazziotin, casada com Reinaldo Barison, vice-prefeito de Antônio Prado, presidente do Diretório do Partido Social Democrático, um dos fundadores da Ação Católica e da União Católica, membro do Conselho dos Vaqueanos e hoje nome de rua. 741 A casa que construiu integra o Centro Histórico da cidade, tombado pelo IPHAN. Tiveram os filhos a1) Reinaldo Barison Filho, ( ~ Marilu Barcellos), e a2) Narciso Barison Neto ( ~ Tania Campetti), engenheiro agrônomo, empresário, presidente da Associação Brasileira de Sementes e Mudas, distinguido com a Medalha Assis Brasil, o reconhecimento máximo do Governo do Rio Grande do Sul e da Federação da Agricultura do Estado aos profissionais que se destacaram ao trabalhar pelo desenvolvimento da agricultura e pecuária. Francisco Lineu Schardong, diretor da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul, membro da comissão de premiação, disse que a escolha “foi unânime. O Barison é uma das vozes mais ouvidas e respeitadas do Rio Grande

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Barbosa, Fidélis Dalcin. Antônio Prado e sua História. Projeto Passo Fundo / EST, 1980

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do Sul. Representa o setor de sementes, que é o mais importante da agricultura” e ressaltou a sua contribuição para o desenvolvimento do setor agropecuário no Rio Grande do Sul.742 Proprietário da empresa NBN Sementes, é também grande produtor em Vacaria, Muitos Capões e Aceguá, onde planta arroz, soja, trigo, aveia e feijão.743 b) Mário Germano Grazziotin, residente em Vacaria, nos anos 50 sócio da Rádio Videira, num período em que ela ganhava grande popularidade,744 casado com Ignês Giolin, com os filhos b1) Gilberto Grazziotin ( ~ Marienne Gobbi), destacado professor e biólogo, um dos incentivadores da criação do Museu de Ciências Naturais e um dos fundadores do Curso de Ciências Biológicas da Universidade de Caxias do Sul,745 746 falecido precocemente, hoje dando nome ao Diretório Acadêmico de Biologia da UCS 747 e a um largo em Caxias, b2) Marinês Grazziotin ( ~ Hélio Antônio Venson), b3) João Antônio Grazziotin ( ~ Marlove Brandalise), vice-presidente do Grêmio Esportivo Vacaria,748 e b4) Maria Helena Grazziotin, professora em Antônio Prado. Narciso Barison Neto. Foto Abrasem.

c) Abramo Grazziotin, comerciante, herdeiro dos negócios do pai, casado com Elsa Bocchese, tendo os filhos c1) Clara Maria Grazziotin ( ~ Walter Kessler), c2) Pedro Jorge Grazziotin ( ~ Noelai Welter), engenheiro, autor do projeto da nova sede do Clube União de Antônio Prado 749 c3) Domingos Grazziotin ( ~ Ligia Meyer), c4) José Eurico Grazziotin ( ~ Marinês Corso), bancário do Banco do Brasil de Antônio Prado e um dos fundadores da Associação Atlética do banco,750 membro da Diretoria do Lions Clube,751 presidente da APAE,752 c5) Maria Ercília Grazziotin, professora e presidente do Conselho Municipal de Assistência Social de Antônio Prado,753 casada com Waldemir Jacob Colossi, e c6) Maria Angélica Grazziotin, uma das primeiras dentistas de Antônio Prado,754 casada com Raul Rigon.

742

“Narciso Barison Neto, Presidente da ABRASEM, é homenageado pelo governo do Rio Grande do Sul durante Expointer 2013”. Notícias Abrasem. 743 “Bagé: potencial para ser uma nova fronteira agrícola do Brasil”. Folha do Sul, 07/03/2013 744 Severo, Antunes. “As pioneiras: Rádio Videira”. Caros Ouvintes, 27/07/2005 745 Pezzi, op. cit. 746 Instituto Anchietano de Pesquisas. “Ronaldo Adelfo Wasum: Ele não plantou flores, semeou jardins...”. In: Botânica, 2014; (65): 7-14 747 “Semana Acadêmica de Biologia”. UCS, 2011 748 Barbosa, Fidélis Dalcin. Vacaria dos Pinhais. Projeto Passo Fundo / EST, 1978 749 Grazziotin, Vitor Bocchese. “Centenário do Clube União”. Solaris, 01/08/2011 750 Barbosa (1980), op. cit. 751 “Lions Antônio Prado completa 37 anos”. Solaris, 13/05/2014 752 “Município: Antônio Prado”. RENIPAC 753 “Conselho Municipal de Assistência Social realiza primeira reunião de 2013”. Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Antônio Prado, 23/01/2013 754 Barbosa (1980), op. cit.

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Hugo Grazziotin, foto Susete Pezzi. À direita o edifício Parque do Sol, um de seus projetos. Foto de Gilberto Simon/PortoImagem.

d) Hugo Theodorico Grazziotin, engenheiro civil, foi responsável pela construção de grandes edifícios em Caxias, como o Dona Ercília (no local da primitiva residência de Abramo Pezzi), Marina, Jotacê, Guadalupe, Estrela, Garagem Alfa e o célebre Parque do Sol, o mais alto do estado,755 distinguido com a Comenda Sílvio Toigo de Construção Civil, concedida pela Câmara Municipal “a profissionais liberais ou empresas que atuam de forma direta na área da construção civil, além de estabelecimentos de ensino e a professores das referidas áreas pelos relevantes serviços prestados”. A Assessoria de Imprensa da Câmara resumiu seu currículo: “Nasceu em 1º de junho de 1926, em Antônio Prado. Cursou Engenharia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), formando-se no final de 1950. No ano seguinte, voltou para a Serra. Em Caxias do Sul, juntamente com amigos, fundou a Sociedade Edificadora Ltda. Durante 10 anos, o grupo construiu prédios em Caxias do Sul, Vacaria, Lagoa Vermelha, Bom Jesus, Antônio Prado, Veranópolis e Guaporé. Participaram de algumas licitações públicas, das quais nasceram as obras do Grupo Escolar Fagundes Varela e do reservatório de água de Antônio Prado. A sociedade durou seis anos. Grazziotin passou a trabalhar sozinho. Era a década de 1960 e começaram a surgir grandes edifícios em Caxias do Sul. Mais tarde, Grazziotin fez nova sociedade, agora com Nério Anzolin. Nasceu, assim, a Grazziotin Anzolin Ltda., sendo responsável por grandes edifícios, entre eles: Estrela, Jotacê e Parque do Sol”.756 Casado com Odete Varisco, Hugo teve o filho Ricardo Grazziotin, representante comercial.

755

Pezzi, op. cit. “Legislativo caxiense concede Comenda Sílvio Toigo de Construção Civil nesta terça-feira”. Assessoria de Imprensa da Câmara Municipal de Caxias do Sul 756

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e) Waldemar Mansueto Grazziotin foi personalidade destacada em Antônio Prado, sóciogerente da Comercial Domingos Grazziotin Ltda., sócio fundador do Moinho do Nordeste Ltda., do Frigorífico Pradense Ltda., da Veículos e Auto Peças Ltda. e da Madeprado S.A.; presidente do Tiro de Guerra n° 355, da Associação Comercial e do Clube União; secretário de Finanças da Ação Integralista, vereador, e prefeito por dois mandatos, sendo considerado por Fidélis Barbosa um dos melhores administradores da história de Antônio Prado, deixando obras como o Plano de Carreira do magistério municipal, o Estádio Municipal de Esportes, o aeroporto, a reurbanização da cidade, o saneamento das finanças do Município, a construção de pontes, estradas, escolas e poços e a instalação de rede elétrica na zona rural, entre muitas outras realizações.757 758 Casou-se com Norma Figueiredo Cunha e depois com Vanda Rodrigues, sendo pai de e1) Maria da Glória Grazziotin, formada em Letras e professora em Erechim ( ~ Telmo Scotti, subgerente do Banco do Brasil), e2) José Carlos Grazziotin, e3) Maria Claudette Grazziotin, professora de Educação Física ( ~ Ody Zanotto, diretor comercial da Madeprado S.A.), e4) Vanderlei Grazziotin, jornalista, um dos fundadores do Lions Clube e do jornal Panorama Pradense, órgão da Sociedade Literária e Jornalística Pradense, secretário municipal e assessor do deputado Romeu Martinelli 759 ( ~ Isabel Arnt, arquiteta), e5) Maria de Fátima Grazziotin, tradutora e intérprete ( ~ Ronal Mondadori, analista de Sistemas da COBRA) e e6) Elisabete Grazziotin, chefe de Secretaria substituta da Procuradoria do Domínio Público Estadual 760 ( ~ Gilmar Antônio Michielon).

Fenice Pezzi e José Arioli. Foto de Susete Pezzi.

757

Barbosa (1980), op. cit. Barbosa (31/10/1980), op. cit. 759 Barbosa (1980), op. cit. 760 “Portaria nº 127, de 24 de fevereiro de 2011”. Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Sul, 25/02/2011 758

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6) Fenice Pezzi, nascida em 25 de maio de 1888, quando jovem foi uma grande ajudante de seu pai Abramo Pezzi, dando aulas em português. Com vinte anos casou-se com José Arioli, nascido em Bento Gonçalves em 18 de dezembro de 1884, filho de Tomaso Arioli e Joana Zangrande. José iniciou sua carreira na Metalúrgica Abramo Eberle. Em 1918 fundou uma funilaria em Nova Vicenza, hoje Farroupilha, que acabou falindo em pouco tempo. Então voltou a se empregar na Eberle, onde permaneceu até se aposentar. O casal recém-formado residiu inicialmente na própria metalúrgica, em instalações precárias, porém, mais tarde progrediram e puderam adquirir uma casa própria. Fenice foi uma das fundadoras da Associação das Damas de Caridade e foi lembrada pelos seus descendentes como pessoa caridosa e prestativa, conselheira de toda a sua vizinhança e sempre pronta a ajudar. Faleceu em 9 de maio de 1950, e José em 2 de agosto de 1966.761 Tiveram nove filhos e grande descendência. a) Tereza Joana Arioli, casada com Eduardo Favaro, dono de uma garagem de carros,762 depois um posto de gasolina e uma revenda de pneus, conselheiro fiscal do Recreio Guarany,763 com os filhos a1) Alceu José Favaro, a2) Elaine Terezinha Favaro ( ~ Darcy Locatelli, dentista), a3) Jane Terezinha Favaro ( ~ Léo Galeck), a4) Alceu Mário Favaro ( ~ Marlise Günther), a5) Sérgio Miguel Favaro ( ~ Terezinha Almeida), a6) Tânia Maria Favaro ( ~ João Carlos Brocca; um soldado com este nome lutou na Guerra dos Seis Dias no Oriente Médio, distinguido com a Ordem do Mérito Militar,764 mas não é seguro que seja a mesma pessoa), a7) Fenicebeta Favaro ( ~ Nelson Petry), a8) Cristina Maria Favaro ( ~ Wellington Francisco), e a9) Sandra Maria Favaro ( ~ Nelson Luiz Barella, arquiteto e dono de uma empresa com seu nome, homenageado pela Prefeitura765). b) Joana Arioli, casada com Virgilio Zambenedetti, oriundo de São Leopoldo, onde tinha um comércio,766 depois foi funcionário do Banco do Rio Grande do Sul,767 mudou-se para Bento Gonçalves em 1934 768 mas logo depois aparece novamente em Caxias, estando entre os fundadores do Fundação da Academia Caxiense de Letras. Da esquerda, para direita: João Spadari Adami, Cyro de Lavra Pinto, Zulmiro Lino Lermen e Virgílio Zambenedetti. Foto Gazeta de Caxias. 761

Pezzi, op. cit. “Aviso”. A Época, 25/10/1941 763 “Eleita a nova Diretoria do Recreio Guarany”. A Época, 29/07/1954 764 “Decreto S/Nº, de 14/02/2008”. Diário Oficial da União, 15/02/2008 765 “Prefeitura homenageia associados do SIRECOM”. Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Caxias do Sul, 06/12/2010 766 “Consorcio”. A Época, 18/12/1938 767 Academia Caxiense de Letras. Membros fundadores. 768 “Viajantes”. O Momento, 29/03/1934 762

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Sindicato dos Empregados no Comércio em 1936.769 Dois anos depois mudou-se com a família para São Paulo, onde permaneceu dez anos. Retornou a Caxias em 1948, empregado pela Metalúrgica Triches.770 Foi colaborador do jornal O Momento e em 1962 foi um dos fundadores e da primeira Diretoria da Academia Caxiense de Letras.771 Tiveram os filhos b1) Ane Zambenedetti ( ~ Ariovaldo Kuse), b2) Rose Zambenedetti, professora e artesã ( ~ Helio Leonardi), e b3) Jovir Zambenedetti, membro do Conselho de Assuntos Legislativos e Executivos do Sindilojas, 772 membro da Diretoria da Federação do Comércio de Bens e Serviços do Rio Grande do Sul,773 presidente do Conselho da Pequena e Micro Empresa da Fecomércio-RS,774 e conselheiro e vice-presidente do Conselho Fiscal do Esporte Clube Juventude.775 776 Jovir foi casado com Mirian dal Pos, cujo obituário assim a descreveu: “Quando jovem, trabalhou na contabilidade da Drograria Americana e da Mercantil Refrigerações do Nordeste. Dedicada à família e sempre atuante na comunidade, exerceu por 25 anos diversas funções na Associação de Clube de Mães de Caxias do Sul. Mirian também foi presidente e agraciada com troféus e homenagens da instituição. Moradora do bairro São Pelegrino desde a sua infância, participava da coordenação das capelinhas da visita domiciliária e, junto com seu esposo, da comissão administrativa da Igreja de São Pelegrino”.777

Família de José Arioli e Fenice Pezzi: Alberto, Joana, o pai José, Adelina, Tereza, Carlito e Enio. Fenice falecera pouco antes. Foto de Susete Pezzi.

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“Sindicato dos Empregados no Comércio de Caxias”. O Momento, 27/07/1936. Boletim Extraordinário nº 180 “Virgilio Zambenedetti”. O Momento, 02/10/1948 771 “Uma referência literária para Caxias do Sul”. Gazeta de Caxias, set/2014 772 SIndilojas. Os Conselhos. 773 “Expediente”. Fecomércio, Bens & Serviços, 2006 (15) 774 “Audiência Pública”. Tá na Fita, 14/04/2009 775 Esporte Clube Juventude. Diretoria. 776 Esporte Clube Juventude. Conselho Deliberativo tem nova Presidência, 05/05/2014 777 “Obituário deste final de semana”. Pioneiro, 27/04/2013 770

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c) Carlito Arioli trabalhou primeiro na Eberle e depois foi diretor e supervisor do setor mecânico do Grupo Wisintainer, destacando-se pela liderança na comunidade. Morreu em 1994 e hoje é nome de uma praça.778 Casou-se com Ada Ioppi em 1942 e teve com ela cinco filhos: c1) Magda Arioli ( ~ Osmar Fernando Ehlers, empresário na área farmacèutica), c2) Carlos Henrique Arioli ( ~ Ana Luiza Godinho), c3) José Fausto Arioli ( ~ Elvira Iracena Pedebon), delegado da Polícia Federal, c4) João Carlos Arioli ( ~ Iara de Souza) e c5) Mauro Luiz Arioli. d) Adelina Arioli, professora. e) Gema Arioli. f) Maria Arioli. g) Mansueto Arioli, jogador de futebol, casado com Tertulina Ferreira, pais de Ana Rita Arioli ( ~ Vitorino Alves da Silva, depois ~ Felipe Coelho da Silva). h) Alberto Arioli foi combatente da Força Expedicionária Brasileira na II Guerra. Depois de retornar, trabalhou na Metalúrgica Abramo Eberle até se aposentar com 25 anos de serviço no setor de Compras. Em 1995 foi convidado pelo Governo da Itália para visitar o local onde lutou em 1944. Dez anos depois, foi um dos personagens do documentário Velhos Heróis, produzido pela Spaghetti Filmes. Sua atuação na Guerra foi honrada pela Câmara Municipal com o Prêmio Caxias do Sul.779 Ele recebeu também o diploma de Membro Honorário do III Exército Norte-Americano, a Medalha de Campanha da Itália, a Medalha Mascarenhas de Moraes e a Medalha da Vitória da Academia de História Militar Terrestre Brasileira e da Liga da Defesa Nacional.780 Deixou suas memórias no livro Cabedelo: A Odisseia de Uma Vida. Casado com Zilá Vieiro, tem os filhos h1) Maria Elisabeth Arioli ( ~ Luiz Triches dos Reis) e h2) Marta Arioli ( ~ Jorge Vilanova dos Reis). i) Enio Arioli, casado com Ana Chiaradia, pais de i1) Alexandre Arioli, i2) Adriana e i3) Vicente Arioli ( ~ Maria Theresa Heinrichs).

Alberto Pezzi Arioli diante do Museu dos Ex-Combatentes da FEB, foto de Roni Rigon / Pioneiro.

778

Baldisserotto, Alexandra. “Praça no bairro Cinquentenário homenageia Carlito Ariolli”. Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Caxias do Sul, 06/04/2006 779 “Câmara concede o Prêmio Caxias do Sul para Alberto Arioli e Antuérpio Nemen”. Assessoria de Imprensa da Câmara Municipal de Caxias do Sul, 08/05/2014 780 Lopes, Rodrigo. “Memórias cruzadas da Segunda Guerra Mundial”. Pioneiro, 08/05/2015

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7) Aurora Pezzi, última filha de Abramo, nasceu em 24 de novembro de 1893, casou com Alberto Ungaretti, nascido em 29 de julho de 1889, alfaiate, um dos fundadores da União Geral dos Alfaiates,781 ator amador, membro do grupo dramático Avanti!,782 depois caixeiro-viajante e comerciante, sócio de Ettore e Mario Pezzi no hotel e na casa comercial Pezzi, onde Aurora também trabalhou como contabilista e vendedora.783 Alberto faleceu em 26 de agosto de 1929. Não tiveram filhos, mas Aurora se encarregou da criação dos filhos do irmão Ettore, que ficara viúvo cedo, ao mesmo tempo em que permaneceu como gerente da loja dos Pezzi, falecendo em 23 de junho de 1987.784

Foto de Susete Pezzi

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“Atto col quale viene stabelita l’unione generale tra i sarti di Caxias”. Città di Caxias, 12/07/1915 “Recreio Ideal”. O Brazil, 06/05/1914 783 “Fotografia também é documento”. Pioneiro, 07/02/1981 784 Pezzi, op. cit. 782

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Casa Pezzi, o antigo Hotel. Detalhe de foto da coleção de Beatriz Gollo.

A família Pezzi se tornou enorme, e muitos outros nomes se destacaram de uma ou outra maneira, em Caxias ou se espalhando por outros locais. Podem ser assinalados também Alice, religiosa,785 filha de Pedro Mário, neta de Edmundo; Patrícia, filha de Luís Fernando e neta de Abramo II, rainha do Recreio da Juventude 786 e rainha da Festa da Uva, uma posição de grande distinção na cidade; Rafael Peretti Pezzi, filho de Gilberto e neto de Edgar Mário, Pós-Doutor em Física e professor na UFRGS, membro da Sociedade Brasileira de Física e da Comissión Nacional de Investigación Científica y Tecnológica do Chile, com grande bibliografia científica publicada. Também dos Pezzi descende o já citado bispo de Caxias dom Paulo Moretto, bisneto de Emilio, trineto de Giovanni, tetraneto de Andrea I.787 Muitos outros deram contribuições reconhecidas, mas não foi possível distinguir de que ramo procedem. Podem ser citados Lilinha e Betinha, Damas de Caridade;788 Amelia, Elizabeth e Zita, do grupo das Falenas;789 790 Roberto Egídio, padre.791 Mais recentemente, Isolda, artista plástica;792 Vinícius, kartista;793 Natali Stella, musa do S.E.R. Caxias;794 Fernanda, coordenadora 785

Tessari, op. cit. Recreio da Juventude. Galeria das Rainhas. 787 Tessari, op. cit. 788 Brandalise, op. cit. 789 “Grupo das Falenas”. O Momento, 29/01/1934 790 Bernard, Jean. “Sociedade”. Caxias Magazine, jan/1960 791 Brandalise, op. cit. 792 “Revisitando o passado: Patrimônio, história e memória abre nesta quarta-feira”. Defender, 16/01/2014 793 Kart no Brasil. Campeonato Gaúcho de Kart 2014 786

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do curso de Nutrição na Faculdade da Serra Gaúcha;795 Therezinha, socialite e diretora das revistas Bambine, voltada para gestantes e público infantil,796 797 e Vitrine Requinte, para noivas;798 Natália, campeã estadual de judô da classe Sub 15 pelo Recreio da Juventude799 e medalhista em várias outras competições internas e externas,800 801 e Mário, rotariano e recipiente da distinção máxima do Rotary Internacional, a Medalha Paul Harris.802 Na Itália a família continua conhecida e prestigiada na região de Dercolo, tendo grande número de representantes e vários ocupando cargos de relevo, como sindicos (prefeitos) e conselheiros comunais. Doze soldados Pezzi tiveram seus nomes gravados em um grande monumento erguido na entrada da comuna que relembra o sacrifício de suas vidas cobrado pelas duas Guerras Mundiais.803 Flavio Pezzi, nosso primo distante que vive em Dercolo, deu muitas informações importantes para o conhecimento da história da família na região. Andrea I Pezzi é o nosso último ancestral em comum; depois os ramos divergiram. Ele é casado com Paola Odorizzi e tem as filhas Patrizia, Marina, Laura e Stefania. Formou-se em Ciências Florestais, mantém um hotel-fazenda, a AgriHouse Famiglia Pezzi, que promove o agriturismo e recebeu certificado de excelência do TripAdvisor. Ao mesmo tempo é apicultor e teve o mel que produz premiado com primeiro lugar na 10ª edição do festival regional Pomaria.804 Também foi conselheiro comunal por quatro legislaturas e por dez anos foi presidente da Confederação Italiana de Agricultores do Trentino.805 806

As artistas Rosa Maria Guerra, Neusa Welter Bocchese e Isolda Pezzi expondo obras na Galeria Municipal de Arte. Foto Roni Rigon / Agencia RBS. 794

“S.E.R. Caxias celebra 79 anos em jantar nos Capuchinhos”. S.E.R. Caxias. 10/04/2014 Conselho Regional de Nutricionistas – 2ª Região. Ensino Superior 796 “Revista Requinte”. Escritório RP, 16/12/2011 797 Meletti, Rosangela. “Coluna Social 973”. Pioneiro, 24/06/2013 798 “Evento para noivas”. Novohamburgo.org, 02/06/2011 799 “Campeonato Estadual de Judô 2012”. Recreio da Juventude, 26/11/2012 800 “Recreio da Juventude leva 18 medalhas em competição em Santa Catarina”. Federação Gaúcha de Judô, 17/10/2011 801 “Judô Recreio da Juventude”. Jornal Show de Bola, 20/02/2013 802 Rotary Distrito 4700. “Notícias do Distrito”. Carta Mensal, junho de 2003 803 Maines, op. cit. 804 Chini, Federica. “Pomaria, un'edizione con il botto”. L’Adige, 13/10/2014 805 “Flavio Pezzi confermato presidente della Cia”. Trentino Corriere degli Alpi, 08/02/2007 806 Ruralpini. CIGE: I relatori. 795

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Princesas da Festa da Uva Märcia Maróstica e Valéria Weiss ladeando a rainha Patrícia Pezzi, com os trajes oficiais produzidos pelo Atelier Lola Salles. Foto Morgana Festugato - Atelier Lola Salles.

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Paula Pezzi, Diretora Comercial Revista Requinte, Daniela Pedroso, Proprietária da Bella Donna e Terezinha Pezzi, Diretora da Revista Requinte. Foto Novohamburgo.org.

Rafael Peretti Pezzi, foto do Laboratório de Catálise Molecular / UFRGS.

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200 Lucia Pezzi

Lucia Pezzi, minha bisavó, filha de Pietro Pezzi e Teresa Tomasoni, nasceu em 19 de maio de 1888, e casou-se com Victorio Longhi. Como a vasta maioria das mulheres da sua geração, foi criada para casar, ter filhos e viver toda vida em função da família, desempenhando esta missão muito bem mesmo tendo ficado viúva muito cedo. Foi exímia nas artes domésticas e nos trabalhos manuais. Sua culinária era excelente, louvada por todos os seus filhos e netos, e tanto é assim que por muitos anos foi a chefe da cozinha da Catedral nas festas de Santa Teresa, eventos que eram organizados por um pequeno exército de colaboradores e movimentavam toda a cidade. Também empenhou-se no crochet, produzindo grandes jogos de mesa, colchas, toalhas e cortinas. Lucia pertenceu à segunda geração de pioneiros, e embora seus pais tivessem sido agricultores, seu marido, também da segunda geração, já era um homem da cidade. Mesmo assim, a terra ainda era uma realidade muito próxima. A zona onde moravam era parte dos lotes primitivos dos Pezzi e permaneceu suburbana por muito tempo, e os fundos do seu grande terreno preservaram a constituição de uma típica propriedade rural, com um belo parreiral para a produção do seu próprio vinho e vinagre, além de um galinheiro, uma horta de verduras e temperos, um variado pomar e um estábulo com uma vaca leiteira e o famoso cavalo branco usado por Victorio. Grande parte da comida consumida pela família, até Lucia ficar doente, foi produzida por ela mesma, ajudada pelas filhas, em todas as suas etapas desde a terra até o prato. Lá também havia um poço, do qual se servia toda a vizinhança no tempo em que ainda não havia água encanada. Lucia é lembrada também pela sua grande disposição para ajudar os outros e cuidava dos doentes da redondeza levandolhes provisões, continuando o trabalho assistencialista de sua mãe. Participava assiduamente das atividades da Comunidade de São Romédio, que fica a pouca distância, e quando viúva fez uma doação de dois mil réis para a construção da atual igreja. Na minha infância Lucia já tivera um derrame, ficando muda e semiparalisada, passando o tempo no leito ou sentada em uma poltrona, mas manteve a plena lucidez. Quando a visitávamos Os apetrechos de costura e a licoreira de Lucia ela mandava alguém, geralmente a tia Flora, que cuidava dela, Pezzi, coleção de Gilce Mattana dall’Alba. Notenos servir seu famoso licor de graspa, além de um café se também a toalha de crochê sobre a mesa, uma completo, balas e outros agrados. Nunca a vi sem que estivesse arte tradicional típica dos imigrantes. com um radiante sorriso estampado em seu rosto, e parecia a encarnação da bondade. Teve como filhos Tercila, Francisco, Guilherme, Alcides (meu avô), Natalino, Irma, Romilda, Oscar e Flora, e faleceu em 13 de janeiro de 1976.

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O livro de memórias da família Longhi escrito por sua neta Vera Mari Longhi traz uma grande compilação de relatos de familiares que conheceram Lucia, descrevendo seu cotidiano, os passeios dominicais para as colônias vizinhas visitando parentes, as brincadeiras da moçada, os jogos de dominó nos dias de chuva, os quitutes servidos nas refeições, a estação da vindima, onde todos, grandes e pequenos, participavam dos trabalhos. Sua casa tinha um grande porão onde funcionava a cantina doméstica e o terreno de fundos permaneceu até os anos 60 essencialmente como havia sido desde o início da colonização, somente o estábulo havia sido desativado e algumas frações haviam sido cedidas para os filhos construírem suas casas. Eram ambientes fascinantes para uma criança, onde passei momentos inesquecíveis. Darcy Baratto, seu neto, deixou um registro sobre a casa e seu cotidiano: “A casa da nonna [avó] Lucia era composta de duas partes. Na primeira parte, a sala e os quartos; na segunda, a cozinha e a sala de jantar. Na cozinha havia um fogoler, uma espécie de fogão primitivo, composto por um tipo de mesa, em cuja cobertura eram colocados tijolos lado a lado de pé, colados com barro. Lucia e sua neta Elisabeth Longhi Sobre eles era feito o fogo, que aquecia o panelão de ferro onde eram cozidos os alimentos. Sobre esta ‘mesa de tijolos’ havia uma coifa, por onde saía a fumaça. Quando a panela da nonna não estava sendo usava, ficava pendurada na coifa. Anos mais tarde, comprou-se uma chapa de ferro que foi colocada sobre o fogoler. A partir daí, o fogo começou a ser feito em baixo da chapa de ferro e a fumaça saía por uma chaminé. Na sala de jantar, havia uma mesa grande, um banco para seis pessoas, algumas cadeiras e um armário com a louça. Do outro lado, uma tulha com diversas repartições onde eram armazenadas farinha de trigo, farinha de milho, açúcar, feijão, etc. “Posteriormente construiu-se um corredor ligando as duas partes da casa: quartos e cozinha. Este corredor também dava acesso ao pátio interno. Atrás da cozinha, no pátio interno, existia um forno para cozimento do pão e outros assados. Era costume da época a produção caseira de marmelada, uvada, figada e diversos outros doces de frutas. Tudo era feito num tacho grande controlado pela nonna Lucia, que era uma cozinheira de mão cheia. Suas quatro filhas, Tercila, Romilda, Flora e Irma ficavam ao redor, aprendendo e ajudando no que fosse necessário”.807

807

Longhi & Frantz, op. cit.

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Formatura de Elisabeth Longhi no ginásio, com sua mãe Leda Artico Longhi, sua avó Lucia Pezzi Longhi e seu pai Alcides Longhi.

Os filhos de Lucia e Victorio fizeram suas casas nas proximidades, salvo Alcides, o único que foi morar mais longe. Vera Longhi falou sobre isso: “Lamentamos não ter podido conversar mais com nossa avó, uma vez que passou os últimos 13 anos de sua vida em longa enfermidade, não conseguindo mais caminhar nem falar. Só sorria, mas seu sorriso era lindo! Nossa irmã Bety que, junto com nossos pais, levava os filhos para visitarem a bisavó, tem sempre presente a imagem da mulher doce e serena, o traje escuro e o inseparável avental, os longos cabelhos grisalhos presos em coque na nuca. A aflição para comunicar-se com Flora e logo chamar a Irma que, de imediato, acorria com seus sonoros sorrisos, ‘porque o Alcides havia chegado!’ Coração de mãe que por certo sofreu silenciosamente quando o amado filho saiu de ‘seu reduto’ para estabelecer a família e os negócios no centro da cidade. Mas a cena mais emocionante de nossa memória afetiva era vê-la estender as frágeis mãos marcadas pela paralisia para que Alcides as massageasse com ternura. No olhar de ambos, mudo diálogo de amor”.

Sua assinatura

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Os quinze anos de Vera Longhi. Elisabeth Longhi, Gilce Longhi Mattana, Lucia Pezzi Longhi, Vera e Beatriz Longhi. Abaixo, eu, meu irmão Marcelo, minha mãe Elisabeth e Lucia.

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Antes de falarmos sobre a descendência de Lucia e Victorio, exploremos um pouco o que sucedeu aos parentes de Pietro e Teresa Pezzi que também chegaram na mesma época: os Tomasoni, Marchi e Formolo. Os Tomasoni são atestados no Tirol desde o século XVI, e em Santa Margherita de Ala, cidade dos pioneiros, desde o século XVII. Ali possuíram um palacete decorado com afrescos 808 e por isso devem ter sido pelo menos patrícios, e se descendiam do grupo mais antigo da capital, eram nobres, 809 mas esta descendência, embora possível, não pôde ser documentada. Em Caxias o nome se fixou generalizadamente com a grafia Tomazzoni, mas tanto a mãe como o tio de Lucia foram grafados nas três variantes: Tomasoni, Tomazoni e Tomazzoni. Também é registrada a forma Tommazoni.810 Seu tio Giovanni casou-se em 1894 com Rosa Manli, nascida em Caxias em 19 de janeiro de 1877, filha de Giuseppe e Maria Grisenti, mas não há sinais de onde possa ter se fixado ou se teve filhos. Giacomo, Benjamino, Giuseppe, Achille, Lodovico, entre muitos outros, ficaram espalhados em várias Léguas.811 Adelino se radicou em Santa Lúcia do Piaí, onde abriu uma grande casa de secos e molhados; Victorio foi fabriqueiro da Capela de Nossa Senhora das Neves na 9ª Légua; Clemente, filho ou neto de Giovanni II, abriu em 1950 um estúdio de fotografia muito conhecido e ainda em atividade; a família de David foi dona da Casa de Pedra até seu tombamento, a última edificação sobrevivente em seu tipo na zona urbana, hoje sede do Museu Ambiência Casa de Pedra;812 Priscila foi rainha da Festa da Uva, “de uma magnífica trajetória como soberana”;813 Diogo, secretáriogeral da Federação das Associações de Microempresas e Empresas de Pequeno Porte do Estado do Rio Grande do Sul;814 Daniela, coordenadora da 29ª Feira do Livro e diretora do Departamento do Livro e da Leitura da Secretaria da Cultura;815 Sérgio, presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e Malharias da Região Priscila Tomazzoni, rainha da Festa da Uva. Foto Pioneiro. Nordeste do Rio Grande do Sul,816 e Edegar, também do ramo têxtil e presidente das grandes feiras Fenamalha e 817 Transtec, entre outros. José, Vitório e Remo são nomes de ruas.

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Comune di Ala. La Giunta Comunale. Pallavicino, Pietro Sforza. Istoria del Concilio di Trento con aggiunte inedite e note tratte da varii e note tratte. Roma, 1846 810 Gardelin & Costa, op. cit. 811 Gardelin & Costa, op. cit. 812 Secretaria Municipal da Cultura. Museu Ambiência Casa de Pedra. 813 “Valeu Priscila!” Gazeta de Caxias, 10-16/09/2005 814 Rocha, Karina. “Evento marca lançamento da Femicro Rio Grande do Sul”. FEMICRO, 16/06/2014 815 30ª Feira do Livro de Caxias. Patrono e Homenageada. 816 Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e Malharias da Região Nordeste do Rio Grande do Sul. História. 817 “Têxtil”. Folha de Hoje, xx/07/1994 809

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Sérgio Tomazzoni. Foto do Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e Malharias da Região Nordeste do Rio Grande do Sul.

As duas publicidades acima atestam a inconsistência na grafia do nome. O estúdio publicou na imprensa essas notas em ambas as formas inúmeras vezes.

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Os Marchi (também de Marchi) aparecem no Principado de Trento no século XII, e a maioria dos testemunhos os mostram na nobreza ou no patriciado, mas não se conhece com segurança a qual ramo pertence minha ancestral Clorinda Marchi. Possivelmente descende de um grupo enobrecido em Conegliano no século XV, que deu um ramo para Serravalle, onde foram admitidos no patriciado e em 1590 no Conselho. No Volume III isso será detalhado. Em Caxias a família deixou numerosos registros na imprensa e ainda floresce. Pouco depois de chegar Clorinda, em 9 de dezembro de 1876, também chegou Giuseppe Marchi, procedente da mesma região, que deve ser seu parente. Era filho de Giovanni; casou-se em 1877 com Maria Luigia Giovanetti, tendo os filhos Angela e Marcos; se estabeleceram no lote 27 A do Travessão José Bonifácio da 6ª Légua, localizado próximo de São Romédio.818 819 Em Galópolis João é nome de rua. Ali predominou a variante Marchi. No início do século XX outros já surgem na Sede Dante, onde predominou a variante de Marchi. De fato, esta variante não é citada na lista de Gardelin dos registros de chegada, que só acusa Marchi, e pode ter sido adotada arbitrariamente em Caxias, mas é documentada na Europa, sendo comum as famílias italianas, quando se tornavam grandes, e especialmente quando se notabilizavam, adotarem a partícula “de”, indicativa do plural majestático, e o hábito pode ter se repetido na colônia brasileira. Melis de Marchi teve uma elogiada fábrica de móveis de vime em sociedade com Antonio Spada, produzindo móveis “belíssimos, leves e elegantes que fazem inveja aos móveis de cedro, de ébano, de carvalho, de palissandro, que adornam os salões aristocráticos”; entretanto, morreu cedo. 820 821 Seu irmão, Luiz, foi da Diretoria do Clube Juvenil e batizou uma rua. Seu outro irmão, Benvenuto, com sua esposa Adelina, foram citados na crônica social e fazendo doações para a caridade. Benvenuto foi o principal expoente do nome na primeira metade do século XX. Alfaiate, um dos fundadores da União dos Alfaiates, próspero o bastante para ser membro da Associação dos Comerciantes e ter um círculo de amigos na elite. Foi ainda festeiro do Divino, membro do Partido Republicano, alferes do 253º Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional e membro da Liga de Defesa Nacional.822 823 824 825 826 827 828 829 830 818

Gardelin & Costa, op. cit. “Edital”. O Momento, 01/11/1937 820 “Caxias Industriale”. Città di Caxias, 14/05/1914 821 “Fallecimentos”. Città di Caxias, 30/06/1918 822 “Festa do Divino”. O Momento, 03/05/1937 823 “Atto col quale vene stabelita l’unione generale tra i sarti di Caxias”. Città di Caxias, 12/07/1915 824 “Enlace Irineu Marx - Leonor Teixeira”. A Época, 16/07/1939 825 “Associação Damas de Caridade”. A Época, 05/10/1941 826 “Factos e noticias”. Cidade de Caxias, 23/03/1912 827 “Sottoscrizione promossa dai riservisti il cui ricavato è stato devoluto a favore della Croce Rossa Italiana”. Città di Caxias, 05/07/1915 828 “Solene protesto dos italianos livres de Caxias”. O Momento, 10/10/1942 829 “Pró Imagem da N. S. de Loreto”. O Momento, 31/10/1942 819

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831 832

Tinha laços de amizade com Antonio Artico, que enviou uma coroa no passamento em 1912 da filha pequena de Benvenuto, Jurema.833 Seus outros filhos foram Dicur, do qual não há notícia após a infância; José Aurevil, comerciante em Porto Alegre; Naura, casada com Paulo Ganer, e Zelandia, casada com Hugo Fleck,834 citada várias vezes na crônica social e dotada de talentos artísticos, apresentando-se a tocar bandolim e ganhando o primeiro e segundo prêmios mais dez menções honrosas em uma grande exposição de bordados, com “lavores que primam pela perfeição e pelo bom gosto”.835 Quando o “estimado cidadão” Benvenuto faleceu em 1949, com 69 anos, teve o féretro muito acompanhado.836 Hoje é nome de rua. Dante foi da Diretoria e depois vice-presidente do Recreio Guarany, e da Diretoria da Liga Caxiense de Futebol.837 838 839 Atualmente se destacam Felipe, da Diretoria da CIC Jovem; 840 Mariana, top model, 841 e Angelita, fotógrafa,842 entre outros. Além de Cattarina Formolo, minha tataravó, com este sobrenome Gardelin & Costa só citam a chegada de Demetrio, nativo de Trento. Era filho de Giuseppe Formolo e Maria Pedò, e casouse com Filomena, falecendo em 3 de abril de 1931 com 52 anos. Teve o filho Antonio. Mas houve vários outros. Giuseppe foi um dos sócios fundadores do lanifício que mais tarde foi comprado e muito ampliado por Herculés Galló em Galópolis, 843 e hoje é nome de rua. O nome foi registrado várias vezes na imprensa no início do século XX, descendendo de outros pioneiros, entre eles Benjamin e Natale, cuja procedência não é declarada. O nome na Itália, porém, não é registrado fora das cidades de Trento e Sporminore até o século XIX, e quase de certeza são todos de um mesmo tronco. Diz um diploma divulgado por Montrose Formolo no Documentário Histórico do Município de Caxias do Sul 1875-1950, Comemorativo do 75º Aniversário da Colonização, que a família se originou no Friuli, foi enobrecida e chegou a ter um ramo elevado a condes do Sacro Império, mas não encontrei nenhum outro documento que ateste nobreza para os Formolo, muito menos como condes, embora um único registro ateste um Formolo como membro do patriciado de Sporminore. A Capela da Rocca. Foto Prefeitura de Caxias. 830

“Subscripção”. O Brazil, 28/08/1909 “Protesto esmagador”. O Brazil, 04/11/1911 832 “Guarda Nacional”. O Brazil, 22/07/1916 833 “Agradecimento”. O Brazil, 20/04/1912 834 “Necrologia”. O Momento, 13/08/1949 835 “Exposição de bordados”. O Brasil, 836 “Necrologia”. O Momento, 13/08/1949 837 “Eleita a Nova Diretoria do Recreio Guarany”. A Época, 29/07/1954 838 “Recreio Guarani”. O Momento, 09/07/1949 839 “Liga Caxiense de Futebol”. O Momento, 05/05/1947 840 CIC. Jovens Empresários. 841 “Mariana Marchi, a new face da moda”. Isto É, s/d. 842 “Poesia em Preto e Branco”. Agenda CIESP, 01/08/2014 843 Herédia, Vania Beatriz Merlotti. A industrialização da zona colonial italiana: um estudo de caso da indústria têxtil do nordeste do Rio Grande do Sul. EdiUCS, 1997 (Resumo) 831

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O que é certo é que o ramo da 6ª Légua, onde os Formolo se concentraram, era parente de Cattarina. Foram os Formolo que trouxeram de Trento para Caxias a devoção a Nossa Senhora da Rocca, ergendo uma capela com outros pioneiros no Travessão Hermínia da 6ª Légua, 844 inaugurada em 4 de agosto de 1892 e recentemente tombada pelo município pelo seu valor histórico e cultural, tendo sido o centro da comunidade que ali se formou. 845 Neste Travessão os Formolo produziram grande descendência, mais tarde espalhada por outros locais. José, filho de Benjamin, residente no Travessão Hermínia, foi agricultor premiado com medalha de bronze pelas frutas que apresentou na Exposição Agro-Industrial de 1916; também fez uma doação para o Hospital de Caridade e em 1922 adquiriu junto com Camilo mais 16 hectares de terra no 1º Distrito ao custo de 4,2 contos de réis.846 847 848 O Giuseppe de Galópolis pode ter sido este José. Teve os filhos: a) Benjamim Ernesto; b) José Filho, radicado em Lages, estado de Santa Catarina, onde foi rico industrial;849 c) Teresa, casada com Benício Pontalti, mãe de Carlos, que deu o sobredito depoimento e foi um dos fabriqueiros da Capela do Espírito Santo. d) Luigi, casado com Carolina Peteffi, pais de Laurindo Luiz, agricultor, empresário e hoje nome de escola, que publicou um resumo biográfico sobre seu patrono: “Laurindo Luiz Formolo, patrono da Escola, nasceu em 15 de junho de 1911, na 6ª Légua, localidade de Travessão Hermínia, em Caxias do Sul. Era filho de Luigi e Carolina Peteffi Formolo, ambos descendentes diretos de imigrantes italianos. A infância e juventude de Laurindo Formolo foram dedicadas ao trabalho na agricultura, com objetivo de sustentar a família que era bastante carente. Em 1933, ele casou-se com Teresa Vergani e teve sete filhos: Armando, Velocino, Celestina, Aldina, Marisa, Valduíno e Jacir.

Descerramento da placa que homenageia o patrono da Escola Municipal Laurindo Luiz Formolo. Foto do blog da escola.

“No ano de 1957, Laurindo e Teresa deixaram a colônia e vieram moram na cidade, a fim de que os filhos pudessem estudar. Apesar disso, o casal manteve a casa no interior, como uma forma de expressar a ligação com a natureza e o amor pelo trabalho na terra. Nesse mesmo ano, Formolo inicia a atividade de prestação de serviços, com a fundação da empresa Zandomeneghi, Formolo & Rech Ltda. A partir da expansão dos negócios surgiu, então, o Grupo L. Formolo, composto por várias empresas que atuam na região e se dedicam a vários segmentos: indústria, comércio, prestação de serviços, agropecuária e administração de imóveis. A definição de 844

Entrevista com Carlos e Iracy Pontalti. Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, 03/06/2009 Capela da Beata Virgem Maria da Rocca (Capela da Rocca). Secretaria Municipal da Cultura de Caxias do Sul 846 “A Exposição”. O Brazil, 11/03/1916 847 “Hospital de Caridade”. O Brasil, 27/04/1918 848 “Transmissões de propriedade”. O Brasil, 22/07/1922 849 [Nota sem título]. Città di Caxias, 27/04/1914 845

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Laurindo Luiz Formolo para o patrono da escola é uma homenagem à simplicidade e à perseverança desse descendente de imigrantes que soube empreender e crescer”.850 e) Ludovico, agricultor e moleiro, casado com Maria Gasperin, foi pai de Albino, casado com Clementina Fedrizzi, dos Fedrizzi de São Romédio. De início agricultor, Albino fundou em 1960 a Albino Formolo & Cia. Ltda, junto com Nelson Sbabo e Valdemar Formolo, um comércio de materiais para construção, que evoluiu para a Formolo Materiais de Construção Ltda., importante empresa caxiense. 851 852 Albino é hoje nome de rua. f) Montrose, também agricultor, com terras no 1º Distrito e na 6ª Légua, foi figura ilustre, secretário da Associação dos Viticultores, 853 da Comissão Diretora da IV Festa da Uva, 854 e diretor da Cooperativa Viti-Vinícola São Victor, que em 1939 tinha o vultoso capital de 358 contos de réis, sendo uma das grandes associações produtoras de Caxias. Sua importância é expressa na matéria da página seguinte. Em 1937 deu um banquete para mais de cem convidados em sua mansão na 6ª Légua em uma homenagem dos locais ao prefeito Dante Marcucci. 855 Em 1940 ele ofereceu outro ao secretário estadual da Agricultura, sua caravana e outros convidados, por ocasião da sua visita à 1ª Exposição de Uvas Finas da Associação dos Cultivadores de Viníferas, que teve o apoio do Instituto Rio-Grandense do Vinho e da Estação Experimental de Viticultura e Enologia, e que foi “coroada de êxito”.856 Fundou importante cantina com Isidoro Moretto, já citado no Volume I, a Adega Nossa Senhora de Lourdes, mas Moretto permaneceria pouco tempo na empresa, que então passou para o controle dos Formolo. Ela foi destacada no álbum Documentário Histórico do Município de Caxias do Sul 1875-1950, Comemorativo do 75º Aniversário da Colonização, publicado pela Prefeitura, e no Álbum Comemorativo do 75º Aniversário da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul, publicado na mesma ocasião pela Festa da Uva. As páginas onde foi citada serão mostradas depois da matéria sobre a Cooperativa São Victor. Duas filhas de Montrose, Aurora e Graciema, que haviam se empregado como operárias na Fábrica de Munições Gazolla, Travi & Cia. para poderem ganhar independência da mesada do pai, morreram em uma grande explosão na empresa em 1943, que vitimou outros empregados e causou comoção na cidade. 857 Graciema virou nome de rua. Seu outro filho, Argemiro, foi seu sócio na Adega, e conselheiro Fiscal do Aero Clube.858

850

Escola Municipal de Ensino Fundamental Laurindo Luiz Formolo. Biografia do Patrono da Escola. “Nova diretoria da CIC toma posse nesta sexta-feira”. Assessoria de Imprensa da CIC, 13/12/2007 852 “Edital”. O Momento, 27/09/1927 853 “Associação dos Viticultores”. A Época, 08/10/1939 854 “Informações da Secretaria da Festa da Uva de 1934”. O Momento, 22/01/1934 855 “Foi homenageado na colônia o Prefeito Dante Marcucci”. O Momento, 09/08/1937 856 “Coroada de Êxito a 1ª Exposição de Uvas Finas da Associação dos Cultivadores de Viníferas”. A Época, 22/05/1940 857 “Enlutadas as Indústrias, a Classe Operária e o Povo em Geral”. O Momento, 24/07/1943 858 “Eleita a Nova Diretoria do Aero Clube”. A Época, 21/02/1952 851

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214 Antunes, Duminiense Paranhos (org). Documentário Histórico do Município de Caxias do Sul 1875-1950, Comemorativo do 75º Aniversário da Colonização. Associação Comercial / Biblioteca Pública / Câmara dos Vereadores / Prefeitura de Caxias do Sul, 1950

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Mais recentemente a família continua dando nomes com projeção, como Velocino, filho de Laurindo Luiz do Travessão Hermínia,859 fundador da grande Funerária Réquiem, depois reestruturada pelo seu filho Fabio como Capelas Cristo Redentor, com filiais em várias cidades e elogiada pelos seus serviços competentes e instalações modernas.860 861 Fábio foi empresário de talento mas faleceu precocemente, e hoje é nome de uma rua. Sérgio é conselheiro da Câmara de Dirigentes Lojistas e presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.862 Marisa, também filha de Laurindo Luiz,863 é professora, historiadora, política influente e controversa, vice-prefeita na gestão de Pepe Vargas, secretária de Educação, diretorapresidente da Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Codeca), chefiou a Secretaria Especial de Segurança Social e Inclusão Social do programa do governo federal Fome Zero, e foi duas vezes deputada estadual, onde se destacou pela atuação na CPI dos Pedágios.864 865 Graciema e Celeste Camilo são nomes de ruas, e Cláudio, de uma Estrada Municipal. Muitos outros poderiam ser citados, sendo uma família numerosa e tradicional na cidade.

859

Escola Municipal de Ensino Fundamental Laurindo Luiz Formolo, op. cit. “Morre em Carlos Barbosa o diretor-presidente das Capelas Cristo Redentor, Velocino Formolo”. Pioneiro, 12/11/2014 861 “Capelas mortuárias serão modelo nacional”. O Pellegrino, jul/1992 862 CDL. Gestão 2015. 863 Escola Municipal de Ensino Fundamental Laurindo Luiz Formolo, op. cit. 864 “PT e PMDB se enfrentam no 2º turno”. UOL, s/d. 865 Oliveira, Rosane de & Rodrigues, Juliano. “Deputada homenageia 21 familiares com medalhas na Assembleia”. ClicRBS, 22/01/2015 860

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Victorio Longhi e Lucia Pezzi foram pais de nove filhos, que levaram vidas em geral despojadas, discretas e trabalhosas, alguns enfrentando cotidianos muito difíceis e sofridos. Foram eles Francisco, Tercila, Romilda, Guilherme, Flora, Natalino, Irma, Oscar e Alcides. O livro de Vera Longhi é a fonte das informações, mas meu núcleo pouco tem sabido das novas gerações de primos. 1) Francisco João Longhi nasceu em 2 de abril de 1909. Levou uma vida de grande simplicidade, sendo descrito como pessoa de hábitos espartanos e de índole amistosa e brincalhona. Foi sócio do irmão Alcides na Fábrica de Calçados Caxias e festeiro de Santa Teresa. Deu grande ajuda à sua irmã Flora quando ela perdeu o marido, sendo um pai para os seus filhos. Permaneceu solteiro para cuidar de sua mãe; no entanto, faleceu antes dela. Juventudista fanático, faleceu de ataque cardíaco em pleno estádio Alfredo Jaconi durante uma partida decisiva, em 1º de março de 1968. 2) Tercila Longhi, nascida em 1º de maio de 1913, tinha uma saúde frágil e faleceu jovem e solteira em 1º de outubro de 1945. É lembrada na família como grande ajudante de sua mãe, irmãos e sobrinhos, e era católica devota, membro da Juventude Católica de Caxias do Sul. 219

Francisco e Tercila Longhi

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3) Romilda Longhi nasceu em 3 de maio de 1910. Quando jovem ajudou a família como costureira, sendo habilidosa. Tinha uma disposição alegre e gostava de cantar. Era também muito religiosa. Casou-se em 14 de junho de 1930 e levou uma vida dedicada à família. Seus filhos e netos lembram de sua tranquilidade, simplicidade, sua vontade de ajudar, seu amor e seus grandes dotes culinários. Faleceu em 12 de dezembro de 1994. Seu marido foi Orestes Baratto, comerciante, nascido em 16 de agosto de 1908 e falecido em 15 de abril de 1992. Foi homem de grande simplicidade, benevolente e extremamente ativo e bem-quisto na comunidade caxiense, deixando uma forte marca por onde passou. Também muito religioso e voltado ao trabalho assistencialista, estabeleceu íntimas ligações com a Igreja e várias associações cristãs, tornando-se um líder na Comunidade de São Romédio, na Paróquia de Santa Teresa e nas romarias de Caravaggio. Foi tesoureiro da Congregação Mariana de Moços,866 orador nas grandes festividades do 1º de Maio em 1940 e 1941, dono de eloquente retórica que arrancava “demorados aplausos da assistência”,867 868 e um dos fundadores, orador oficial e presidente do Círculo Operário Caxiense, uma das mais importantes associações cooperativas, sociais e beneficentes de Caxias.869 870

866

“Congregação Mariana de Moços”. O Momento, 17/05/1934 “Primeiro de Maio”. O Momento, 05/05/1941 868 “Comemorações da Data de 1º de Maio em Caxias”. A Época, 28/04/1940 869 “Ecos da Homenagem ao Revmo. Pe. Brentano”. O Momento, 02/03/1942 870 “O Círculo Operário Caxiense”. A Época, 23/10/1938 867

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As aulas do curso de corte e costura no Círculo Operário Caxiense, orientadas pelas freiras. Foto AHM.

O Círculo oferecia cursos de alfabetização, datilografia, corte e costura e bordado, além dos serviços de creche, farmácia, atendimento médico e dentário. Também organizava retiros espirituais e sessões de cinema e teatro. Em 1966 foi inaugurado um grande anexo. Atualmente o Círculo, renomeado Círculo Operadora Integrada de Saúde, é a mais ativa de todas as instituições latino-americanas em seu gênero, com mais de 110 mil clientes e mais de 1.300 funcionários, com um hospital próprio, uma rede de 30 farmácias e muitos outros serviços, atuando em toda a região serrana.871

Também deve ser notada sua participação na construção do Hospital Pompeia, atuando como representante do Círculo, sendo um dos paraninfos da inauguração do prédio novo, como mostra a notícia abaixo:

871

“Credibilidade e respeito pelas pessoas”. In: Metadados, 2014 (26):7

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Romilda e Orestes entre os filhos Vasco, Therezinha, Darcy e Nestor Baratto.

Ao aposentar-se passou a fazer parte da Associação Caxiense de Apicultores. Depois de algum tempo o casal foi morar em Porto Alegre, onde Orestes abriu uma torrefação de café, Orestes Baratto & Cia. Ltda., com as marcas Guaíba e Porto Alegre, continuando ligado às obras beneficentes, sendo membro ativo da Caritas / Mensageiro da Caridade, das Paróquias de Santa Teresinha e São Pedro, dos retiros da Medianeira, da Federação dos Círculos Operários e do núcleo Floresta do Círculo Operário de Porto Alegre. Daniela Pasquali, filha de Therezinha, deixou um belo depoimento sobre os avós no livro de memórias familiares de Vera Longhi: “Há pessoas que passam em nossas vidas e que deixam marcas muito profundas, marcas de felicidade, de paz, de gratidão, de compreensão e, a mais importante, de muito amor. Em minha vida tive o prazer e a felicidade de compartilhar toda minha infância em um pouco de minha adolescência com duas pessoas maravilhosas. Eram pessoas muito tranquilas, sempre com um sorriso no rosto. Eram pessoas companheiras, amigas, amáveis, calmas e alegres. Eu teria muitos adjetivos para descrevê-las, mas posso resumir numa só palavra: amigas. Foram pessoas que não mediam esforços para ajudar e agradar os outros e, o mais incrível, sem pedir nada em troca. Foi muito difícil perdê-las, e o vazio que deixaram foi muito grande e doloroso, mas quando penso na lição de vida que deixaram, o que posso dizer é que tenho muito orgulho de ser neta dessas pessoas. “Estou falando de meus avós Romilda e Orestes Baratto, que, como sempre digo, são meus anjos da guarda, são meus amigos para todas as horas, sejam elas boas ou ruins. São pessoas com quem converso até hoje, apesar da distância, e sinto com toda a força do meu coração a presença deles junto de mim. Como já disse antes, o vazio deixado foi grande, mas a dor foi se transformando em saudade. E essa saudade não é uma saudade triste, mas uma saudade que, aos poucos, se transforma em esperança. A esperança de um dia revê-los”.

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Orestes e Romilda em um congresso de apicultores em Minas Gerais em 1980. Ao lado, Berenice Aver e Nestor Baratto. Foto de Marco Aurélio Baratto.

Orestes e Romilda tiveram os filhos: a) Nestor José Baratto, nascido em 14 de maio de 1939, comerciário, casado com Berenice Aver, nascida em 7 de novembro de 1945, com os filhos a1) Marco Aurélio, nascido em 20 de setembro de 1969, representante no Brasil da transportadora de cargas gigantes e especiais HLI Rail & Rigging, casado com Cristina Teixeira, licenciada em Letras e atuante no ramo do Comércio Exterior, pais de Gabriela, e a2) Lisiane, nascida em 27 de agosto de 1977, médica, casada com Roberto Mendes, pais de Rafaela. b) Darcy Victório Baratto, nascido em 5 de dezembro de 1933, contabilista na firma do pai, casado primeiro com Elsy Cavagnoli, professora municipal, tendo os filhos b1) Alexandre, vistoriador da empresa Provel, radicado em São Miguel do Oeste, casado com Simone Santini, pais de Nicole, e b2) Fernando Heitor, falecido em um acidente de motocicleta em 2014, foi casado com Carla Cardoso e teve as filhas Carina e Fernanda. Depois Darcy casou-se com Loracy da Silva Ribeiro, nascida em 12 de setembro de 1951, tendo os filhos b3) Adriano, nascido em 15 de maio de 1974, contabilista, foi analista financeiro da gigante das bebidas AmBev, analista contábil da FreeArt Seral do Brasil Metalúrgica Ltda., e hoje é analista de Ativos Imobilizados da CPFL Energia, radicado em Jaguariúna e casado com Patrícia Bolsarim, com duas filhas; b4) Jaderson, nascido em 16 de maio de 1980, funcionário dos Correios; b5) André Luis, nascido em 6 de junho de 1981, contabilista, foi assistente Administrativo sênior do Centro Universitário Metodista – IPA, encarregado Financeiro do Instituto de Direito do Rio Grande do Sul e agora é analista Financeiro do Banco Topazio, e b6) Rodrigo, nascido em 5 de outubro de 1987, web designer da Assembleia Legislativa do Estado.

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Marco Aurélio Baratto na janela da camionete de seu avô Orestes. Ao lado, Marco Aurélio e Cristina Teixeira. Foto de Marco Aurélio.

Adriano Ribeiro Baratto. Foto de Adriano. Ao lado, André Luís Ribeiro Baratto. Foto de André Luís. Abaixo, Jaderson Ribeiro Baratto. Foto de Jaderson. Rodrigo Ribeiro Baratto. Foto de Rodrigo.

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Darcy Baratto, seu filho Rodrigo e a segunda esposa Loracy Ribeiro. Abaixo, a família de Theresinha Baratto e Gilberto Pasquali. Fotos do livro de Vera Longhi.

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Eline Araújo e Fábio Pasquali com a filha Manuela. Foto de Eline. Ao lado, Áureo da Costa e Daniela Pasquali entre os filhos Lucas e Camila. Foto de Daniela.

c) Theresinha Baratto, nascida em 13 de outubro de 1841, artista e professora de Artes, casada com Gilberto Pasquali, nascido em 29 de março de 1940, arquiteto, um dos construtores da sede própria do Grupo de Escoteiros Moacara,872 entre outros trabalhos, e foi quem projetou e construiu a casa de meus pais. Foi também membro do Conselho Administrativo do Consórcio Caxiense de Construtores, entidade criada por ocasião do centenário da imigração com a finalidade de erguer os atuais pavilhões de exposição do Parque da Festa da Uva.873 Tiveram os filhos: c1) Fábio Pasquali, nascido em 3 de maio de 1970, engenheiro, casado com Eline Silveira Araújo, nascida em 6 de maio de 1976, vendedora da Natura, pais de Manuela. c2) Daniela Pasquali, nascida em 14 de dezembro de 1972, formada em Análises Clínicas, casada com Áureo da Costa Jardim, nascido em 13 de junho de 1966, pais de Lucas e Camila. c3) Rafael Pasquali, nascido em 21 de maio de 1978, construtor, casado com Michelle Petry, arquiteta e urbanista.

Michelle Petry e Rafael Pasquali. Foto de Rafael.

872 873

Grupo de Escoteiros Moacara. História do Grupo de Escoteiros Moacara Fortes, Ataré Vargas et al (orgs.). Álbum do Centenário da Imigração Italiana. Edel, 1975

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Lilian Eggers e Giancarlo Pasquali com seus filhos Francisco e Isabel. Falta Antonia, nascida mais tarde. Foto de Giancarlo.

c4) Giancarlo Pasquali, nascido em 10 de janeiro de 1966, farmacêutico especializado em Biotecnologia, Doutor em Biologia, pesquisador da UFRGS, foi membro e presidente da Comissão Interna de Biossegurança da universidade, membro titular da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, coordenador e ministrante do primeiro Curso de Atualização em Melhoramento Genético e Genômica de Eucalyptus e coordenador do Bacharelado em Ciências Biológicas. Atualmente é membro do Conselho Científico do Centro de Biotecnologia, representante do CBiot/UFRGS na Câmara Técnica Permanente de Agrotóxicos da FEPAM, professor titular e chefe do Departamento de Biologia Molecular e Biotecnologia do Instituto de Biociências, chefe do Grupo de Pesquisa do CBiot/UFRGS, membro titular da Comissão de Pós-graduação do PPGBCM/CBiot/UFRGS e orientador de Mestrado e Doutorado. Segundo o seu currículo na Plataforma Lattes,874 Giancarlo é também membro da comissão editorial e revisor de diversas prestigiadas revistas científicas: Anais da Academia Brasileira de Ciências, Genetics and Molecular Biology, Pesquisa Agropecuária Brasileira, Plant Systematics and Evolution, Ciência Rural, Genetics and Molecular Research, Journal of Agricultural and Food Chemistry, Plant Cell Reports e Plant Journal.

874

“Giancarlo Pasquali”. CNPq. Currículo Lattes

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É consultor ad hoc do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES/MEC), do Centro Brasileiro-Argentino de Biotecnologia (CBAB), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS), da PróReitoria de Pesquisa e PósGraduação da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), e membro da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular, da Sociedade Brasileira de Genética e da International Society of Plant Molecular Biology. Foi distinguido com o Prêmio de Mérito Acadêmico do Conselho Federal de Farmácia, por ter-se destacado no Curso de Farmácia, o Prêmio Alfredo Leal de Mérito Acadêmico, por haver obtido o primeiro lugar no Curso de Farmácia, o Prêmio Iniciação Científica - Menção Honrosa da Sociedade Brasileira de Genética, pela orientação de trabalho de Genética, Evolução e Melhoramento de Plantas apresentado por Sinara Artico, o Prêmio PPGBM 45 Anos - Categoria Mestrado, da Sociedade Brasileira de Genética, pela orientação do Mestrado de Fernanda Sperb, e o Reconhecimento por Distinção na Realização de Trabalho em Busca da Excelência Acadêmica, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem vasta bibliografia científica publicada.

Giancarlo Pasquali palestrando na abertura do V Simpósio Sul de Gestão e Conservação Ambiental. Foto da Universidade Regional de Erechim.

É casado com Lilian Eggers, nascida em 22 de março de 1965, Doutora em Zootecnia, deu aulas na PUCRS e na FUNDASUL e foi membro da Comissão Curadora do Herbário ICN, assessora especialista da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Porto Alegre, e chefe do Departamento de Botânica e do Programa de Pós-Graduação em Botânica da UFRGS. Atualmente é professora associada e membro do Colegiado do Departamento de Botânica da UFRGS, orientadora de Mestrado e Doutorado, com vasta bibliografia científica publicada.875 O casal é pai de Isabel, Antonia e Francisco. d) Vasco Antônio Baratto, nascido em 1º de maio de 1931, desejou seguir a vida religiosa e ingressou no seminário. Acabou voltando para o século mas não perdeu a vocação para o trabalho comunitário nem a ligação com a Igreja. De início foi contador na empresa do pai, depois formou-se como assistente social na PUCRS, doutorou-se e chegou à Presidência da Caritas Regional-RS, um destacado organismo de voluntariado beneficente mantido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, sendo também professor na PUCRS e mais tarde diretor da Faculdade de Ciências Sociais de Tubarão, em Santa Catarina, falecendo em 6 de maio de 1994. Foi casado com Maria Glória dos Santos, nascida em 24 de novembro de 1930, até casar funcionária do DNER, depois dedicando-se à família. 875

“Lilian Eggers”. CNPq. Currículo Lattes

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Vasco e Darcy Baratto na casa de Lucia Longhi em Caxias. Ao lado, Vasco abrindo os trabalhos de um seminário de entidades beneficentes.

Vasco era afilhado de Alcides, e por isso Orestes e Romilda mantiveram proximidade com meus avós em seus veraneios e outras atividades; depois, meus pais foram padrinhos de Lucia, filha de Vasco, e em sua casa em Porto Alegre armamos muitos “acampamentos familiares” em minha infância. Os Natais eram especialmente memoráveis, ainda mais com os quitutes preparados por Maria Glória, que sempre foi uma exímia cozinheira. Vasco era agregador e um grande anfitrião, e organizou muitas excursões pelos arredores de Porto alegre e acampamentos “reais” no interior para o deleite da criançada, que ele encantava também com suas habilidades de fazer mágicas e contar histórias. Mais adiante, quando fui estudar na capital, roubei deles incontáveis almoços e lá passei longas e amenas tardes, encontrando em Maria Glória, a tia Glorinha, como a chamamos, que passava horas me aturando, o carinho e a paciência de uma mãe. O casal teve os filhos: d1) Eduardo Orestes Baratto, nascido em 13 de novembro de 1961, sociólogo e terapeuta, foi casado com Silvia Fischer. d2) Lúcia Inês Baratto, nascida em 12 de setembro de 1963, assistente social especializada em Administração de Recursos Humanos, por muitos anos coordenadora de Recursos Humanos da divisão porto-alegrense da grande empresa Quaker, depois absorvida pela gigante do ramo de alimentos PepsiCo. Sua dedicação e competência lhe valeram três importantes distinções.

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Primos Baratto de Porto Alegre. Eu, meu irmão Marcelo, Beatriz Longhi Nonnenmacher, Eduardo Baratto, Vitor Longhi (de terno), Lucia Baratto, Ana Elisa Baratto, Maria Glória dos Santos Baratto, Vasco Longhi Baratto e Elisabeth Longhi Frantz.

Em 2008 recebeu o prêmio Estrelas de RH em São Paulo, e em 2006 e 2010 recebeu o Harvey C. Russell Inclusion Award, também conhecido como Prêmio PepsiCo, a mais alta distinção da companhia em nível internacional, entregue em Nova Iorque, que reconhece conquistas excepcionais de indivíduos e equipes no campo da diversidade e inclusão, o primeiro pelo Projeto Aprender, em parceria com a Secretaria de Educação, oferecendo ensino fundamental e médio a todos os funcionários da planta Quaker que não tinham este preparo, e o segundo por um conjunto de seis projetos de educação, qualificação profissional e melhoria da qualidade de vida, beneficiando mais de dois mil empregados. Foi casada com Flávio Sordi, engenheiro, tendo os filhos Guilherme e Carolina. d3) Ana Elisa Baratto, nascida em 2 de outubro de 1965, veterinária, proprietária da clínica Companhia dos Bichos. d4) Alice Beatriz Baratto, nascida em 27 de outubro de 1968, professora de música e desde 1992 dona da Coopen Academia de Música, que tem levado seus alunos para apresentações em vários espaços culturais e recebido diversas premiações. Foi distinguida em 2007 com o Prêmio de Qualidade e Atendimento concedido pela Líder Pesquisas; em 2013 recebeu o tradicional Prêmio Master Estadual – Qualidade e Excelência nos Serviços Prestados à População, concedido há mais de vinte anos pelo Instituto Master de pesquisa de opinião pública; em 2016 recebeu do instituto Nobre Pesquisas o Destaque na categoria Escolas de Música; em 2017 Alice recebeu o Troféu Rosas de Maio, oferecido pela Revista Símbolo a mulheres que se destacam em suas vidas e carreiras e servem como exemplo de trabalho e desprendimento.876 No mesmo ano a Acácio Santos Produções Artísticas concedeu-lhe o Certificado de Reconhecimento pela sua distinguida atuação como professora de música em Canoas. Foi casada com Geovane Barrachini Pires, sendo pais de Cecília Suzane, Sabrina Isabelle e Cassiano David.

876

Sidnei, Jandir. “Troféu Rosas de Maio 2017”. Revista Símbolo, 16/05/2017

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Lúcia Baratto Sordi, à extrema esquerda, com os ganhadores do Prêmio PepsiCo de 2010. Abaixo, Alice Baratto recebendo o Prêmio Master Pesquisas. Fotos de Lúcia.

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Sabrina Isabelle Pires, Ana Elisa Baratto, Carolina Baratto Sordi, Maria Glória Baratto, atrás dela estão Guilherme Baratto Sordi e o pequeno Cassiano David Pires, de azul é Cecília Suzane Pires, que comemorava seus quinze anos, Eduardo Baratto, Silvia Fischer, Alice Baratto e Lúcia Baratto Sordi. Foto de Cecília.

Natalino Longhi, de pé, o terceiro da direita para a esquerda, no time do Sport Club Juvenil em 1936

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4) Natalino Longhi nasceu em 17 de agosto de 1919, falecendo em 1º de junho de 1997. Foi aluno bem dotado mas viveu a juventude apaixonado pelo futebol, jogando em vários clubes e terminando sua carreira esportiva em 1938 no Flamengo de Caxias, no ano em que este sagrou-se campeão municipal. Depois trabalhou na Metalúrgica Eberle, especializado na produção de artigos sacros e espadas para o Exército, participando também do time de futebol da Metalúrgica. Entre 1946 e 1951 trabalhou na torrefação de Orestes, em Porto Alegre; voltou a Caxias, adquiriu o armazém do irmão Guilherme e tornou-se próspero comerciante. Era muito dedicado aos netos, desdobrando-se para agradá-los com brincadeiras e presentes, especialmente no Natal, comprando presentes caros ou criando ele mesmo brinquedos artesanais, como carrinhos de lomba, trenzinhos e gangorras, e sempre fantasiandose de Papai Noel. Gostava de assistir novelas, lutas-livres e filmes de faroeste. Grande devoto de São Pedro, sempre cultivou a festa do santo com a tradicional fogueira.

Natalino Longhi e Orestes Baratto em Porto Alegre

Foi casado com Maria Segalla, nascida em 14 de junho de 1922 e falecida em 28 de dezembro de 2006, cuja família será abordada mais adiante, tendo as filhas: a) Sandra Longhi, nascida em 13 de fevereiro de 1954, funcionária do Banco do Brasil. b) Marlene Longhi, nascida em 27 de novembro de 1943, formada em Belas Artes, casada com Luiz Cislaghi, com os filhos Giovanna, David e André Cislaghi. c) Helena Maria Longhi, nascida em 14 de maio de 1946 e falecida em 29 de janeiro de 2007, foi professora, casada com Itagiba Aver, funcionário da empresa Mundial S/A, com as filhas c1) Fernanda Aver, casada com Gilberto Puppe, pais de Matheus e Melina; c2) Carina Aver, casada com Miguel Pedron, executivo de Contas na empresa Rapidão Cometa, pais de Eduarda, e c3) Gabriela Aver, casada com Roberto Chiele, advogado, assessor legislativo junto à Assembleia Legislativa do Estado, procurador municipal em Bom Princípio,877 hoje diretor Financeiro da Consultoria Direito Público.878

877

“Obras da nova Biblioteca Municipal interrompidas por liminar”. Portal da Prefeitura de Bom Princípio, 05/06/2014 878 Consultoria Direito Público. Profissionais.

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Natalino e a esposa Maria com as filhas Marlene e Helena.

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Família de Natalino e Maria Longhi

5) Guilherme Longhi, nascido em 6 de outubro de 1911, foi comerciante, dono de um armazém. Depois o vendeu ao irmão Natalino e passou a ser negociante de imóveis. É lembrado como pessoa séria, de pouca conversa, mas generoso e trabalhador. Foi também membro da Sociedade Igreja de São Romédio, admitido em 1940,879 e um dos padrinhos da imagem de Santo Antônio na sua entronização na igreja em 1945.880 Casou-se com Nair Maria Pellini, nascida em 6 de outubro de 1919, filha de Eva Isoton e Alvoredo Pellini, agricultor, conselheiro, tesoureiro e três vezes presidente da Sociedade Igreja de São Romédio,881 um dos fundadores da terceira igreja,882 conselheiro da Associação Rural de Caxias.883 Nair quando jovem foi rainha da Comunidade de São Romédio e sua representante nos desfiles de uma das primeiras Festas da Uva. Depois de casar dedicou-se ao lar, trabalhou como costureira e envolveu-se em obras beneficentes como colaboradora das creches da cidade. Nair teve pelo menos as irmãs Ester Maria, casada com Ernesto Rech, e Segunda Laurinda. Seus netos recordaram com saudade dos passeios pelo Parque dos Macaquinhos no Corcel 71 que Guilherme possuía, depois voltando para sua casa, onde todos se entregavam a brincadeiras enquanto Nair preparava uma bacia de grostoli para o lanche. O casal teve os filhos:

879

Livro de Atas da Associação Igreja de São Romédio. Reunião de Assemblea Geral Ordinaria – Acta nº 28, 28/12/1940 880 Livro de Atas da Associação Igreja de São Romédio. Ata nº 32, 14/01/1945 881 Livro de Atas da Associação Igreja de São Romédio. Atas nº 18 (27/05/1934), 25 (26/12/1937), 26 (01/01/1939) e 27 (31/12/1939) 882 Sessão de Assembléa Geral Extraordinaria – Acta nº 1. Livro de Atas da Associação Igreja de São Romédio, 12/07/1931 883 “Associação Rural de Caxias”. A Época, 01/01/1949

237

a) Victorio Guilherme Longhi, empresário, casado com Leda Tubelo, com os filhos a1) Andrelise Lúcia, técnica de Enfermagem e representante da empresa Ivone Cosméticos, a2) Alex Luís, radicado nos Estados Unidos, e a3) Adriano Henrique, casado com Márcia Rodrigues, professora do Grupo Educacional Caminho do Saber. b) Wilson Alvoredo Longhi, prestigiado funcionário da Eberle, casado Regina Helena de Quadros Ruschel, com os filhos b1) Leandro Marcelo Longhi, proprietário da empresa Longhi Informática, e b2) Cristiano Longhi, arquiteto e gerente comercial do Grupo Tecnovidro de Farroupilha, casado com Fernanda Souza e com um filho. Segundo Gardelin & Costa, os Pellini provinham de Corte dei Frati, na província de Cremona, e chegaram a Caxias no final do século XIX. Tornaram-se família tradicional na Comunidade de São Romédio, mas são poucos os registros na imprensa até meados do século XX, sendo Alvoredo o personagem de maior projeção, hoje dando seu nome a uma rua e a um condomínio residencial. Argemiro, “ilustre e esforçado caxiense”, foi professor, militar e jornalista, deixando seu nome ”gravado em letras imperecíveis”, mas mudou-se para São Paulo em torno de 1929, lá graduando-se em Medicina e constituindo família.884 Atualmente destaca-se Ana Maria Pellini, nascida em Caxias em 1954, funcionária de carreira Secretaria Estadual da Fazenda, professora de Contabilidade Governamental na UFRGS, já foi presidente da Fundação Estadual de Proteção Ambiental, secretária-geral do Governo do Estado, secretária municipal de Licenciamento e Regularização Fundiária em Porto Alegre e secretária estadual do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.

884

“Dr. Argemiro Pellini”. O Momento, 24/12/1949

238

Wilson Alvoredo Longhi, a esposa Regina Ruschel e os filhos. Abaixo, Victorio Guilherme, Leda Tubelo e o filho Adriano.

239

Leopodo Mattana e Flora Longhi

.

240

6) Flora Perina Longhi nasceu em 29 de fevereiro de 1915 e faleceu em 5 de agosto de 1991. Tinha habilidades artísticas e deu aulas de pintura em Farroupilha, além de ser exímia bordadeira e costureira. Perdeu cedo o marido Leopoldo Savaris Mattana – hoje nome de rua – e depois teve uma vida difícil. Apegou-se à sua grande fé e usou suas habilidades de costura para sustentar a família. Aperfeiçoou seus conhecimentos sobre costura de roupas masculinas com Lucinda Segalla, trabalhando muitos anos com ela e depois para as Lojas Renner e outras confecções, trazendo o serviço para casa a fim de poder ao mesmo tempo cuidar da família, incluindo sua mãe, nos longos anos em que Lucia Longhi ficou presa no leito. Viviane dall’Alba, filha de Gilce, deixou uma expressiva memória da avó no livro de Vera Longhi: “Companheira amorosa, alegre e humilde, conquistava as pessoas por sua bondade e sabedoria, apesar de não ter cursado os bancos escolares. Foi um modelo para mim e para minha família, por isso agradeço a Deus e a ela principalmente pelos ensinamentos e exemplo que deixou. [...] Além de tudo isso, era uma pessoa moderna e, mesmo com todas as dificuldades por que passou, não perdeu a alegria de viver e de se comunicar com todos. [...] “Nunca reclamou da vida, agradecia todos os dias a Deus pela vida, pelo que tinha conquistado, pela família, filhos, noras, genros, netos e bisnetos. Gostava muito de ver televisão, principalmente as novelas que assistíamos juntas para comentar depois, do programa do Sílvio Santos aos domingos, e das lutas-livres. Muitas vezes fui dormir na casa dela. Era uma festa, pois ficávamos conversando até altas horas, e ela contava coisas de sua adolescência e me ensinava o que fazer para conquistar os rapazes. Foi uma mulher que acompanhou as mudanças do mundo moderno e fazia as gerações mais novas refletir e rever conceitos para não serem excluídas da sociedade. Ela dizia aos filhos: ‘Devemos acompanhar os avanços e a modernidade, pois parar no tempo não irá trazer nenhum benefício e sim inúmeros conflitos com os filhos e com a juventude atual’.”

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60 anos de Flora Longhi Mattana com os netos Liziane, Jacson, Luciana, Rochele, Rodrigo, Viviane, Adriano, Jean Carlo, Evandro e Ricardo.

Seus filhos foram: a) Gilbert Mattana, nascido em 11 de janeiro de 1937, funcionário da Eberle, casado com Joice Conz, nascida em 9 de outubro de 1940, tendo os filhos a1) Luciana Mattana, casada com Amauri Thomé, engenheiro civil, proprietário da empresa Cerrado Prestadora de Serviços Ltda., pais de Gustavo; a2) Lisiane Mattana, casada com Sidnei Boff, dono de uma transportadora e diretor Técnico da Associação Gaúcha de Pesca com Iscas Artificiais,885 pais de Carolina, e a3) Evandro Luiz Mattana, professor em Bento Gonçalves, político do Partido Progressista e candidato a vereador, diretor da Biblioteca Pública Municipal, e membro da Comissão Especial do Conselho Municipal de Política Cultural.886 É casado com Roseana Conser e têm dois filhos, Talli e Gabriel.

885

Associação Gaúcha de Pesca com Iscas Artificiais. Gestões Anteriores. “Representantes do Conselho de Cultura tomam posse”. Assessoria de Comunicação Social da Prefeitura de Bento Gonçalves, 10/07/2015 886

242

Família de Gilbert Mattana

243

b) Rubert Mattana, nascido em 24 de março de 1940, vendedor da Eberle, casado com Lizete Randon, nascida em 3 de outubro de 1942, tendo o filho Ricardo, casado com Andreia Vialli. c) Luiz Carlos Mattana (Caio), nascido em 8 de abril de 1945, agente da grande madeireira De Zorzi no norte do país, casado com Lourdes Geraldin, nascida em 19 de março de 1949, com os filhos c1) Jacson Mattana, funcionário da Prefeitura de Porto Velho e depois repórter esportivo, e c2) Cynara Mattana, secretária da empresa Vitória Representações em Porto Velho, casada com um Braga (Carlos?). d) Marisa Mattana, nascida em 22 de março de 1947, professora, casada com Silvino Bertoni, nascido em 24 de julho de 1943, habilidoso marceneiro e fabricante de móveis, com os filhos d1) Rodrigo Bertoni, treinador da academia esportiva Nitro Gym e membro da sua equipe de corredores,887 d2) Daniela Bertoni, também da equipe da Nitro Gym,888 d3) Felipe Bertoni, d4) Fabrício Bertoni e d5) Rochelle Bertoni, enfermeira, que com apenas 23 anos foi coordenadora do Controle de Infecções do Hospital Geral de Caxias, depois trabalhou no Hospital Medianeira, na Santa Casa de Porto Alegre e em uma clínica de Novo Hamburgo. Considerando que lhe faltava uma experiência internacional, mudou-se para a Itália, adquiriu a cidadania e foi admitida na Ordem dos Enfermeiros do Colégio Italiano, hoje trabalhando em uma clínica geriátrica e mantendo um relacionamento estável com o socorrista italiano Saverio Bio, residindo em Cassola, na região de Vicenza.889

No alto, Ricardo, Andreia, Lizete e Rubert Mattana. No meio, Caio Mattana e os filhos Cynara e Jacson. Embaixo, Felipe, Silvino, Marisa, Fabrício, Rodrigo, Rochelle e Daniela Mattana Bertoni. 887

“Classificação por categoria”. Circuito Brisa de Corrida Etapa Urbana, 23/11/2014 “Listagem de Classificação 4Km”. Stress Escape Running - Etapa Vindima, 15/06/2014 889 Rossa, Juliana. “Nos Passos dos Antepassados”. O Caxiense, 16/12/2009-01/01/2010 888

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Gilce Mattana. Ao lado, Gilce com os filhos Jean, Adriano e Viviane diante da casa de Victorio e Lucia Longhi.

e) Gilce Mattana, nascida em 9 de janeiro de 1942, dedicou-se à família e auxiliou sua mãe cuidando da avó Lucia. Gilce é uma pessoa alegre e carinhosa, e sensibilizada ao saber que eu estava preparando este estudo, ofereceu-me de presente uma preciosa relíquia familiar, os óculos usados por Victorio Longhi, de quem se guarda tão poucas lembranças, ilustrados na seção correspondente ao patriarca. Casada com Orlando dall'Alba, nascido em 10 de março de 1938, contador, teve os filhos: e1) Jean Carlo dall'Alba, cirurgiãodentista, trabalha para a Universidade Federal de Pelotas e tem clínica em Caxias, é adepto de vários esportes e está casado com Rosemeri Zatta, que auxilia o marido como secretária da sua clínica, tendo os filhos Augusto e Taline. e2) Adriano dall'Alba, médico cardiologista e membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia,890 casado com Edinara Bisnella Silva, pais de Otávio e Carolina. e3) Viviane dall'Alba, assistente social, casada com Francisco Henrique Tremarin, pais de Henrique.

890

Formatura de Viviane dall’Alba: Adriano, Gilce, Viviane, Jean Carlo e Orlando dall’Alba. Coleção de Viviane.

Sociedade Brasileira de Cardiologia. Aniversariantes do mês.

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7) Oscar Longhi, nascido em 22 de junho de 1926 e falecido em 1984, trabalhou desde cedo na Metalúrgica Eberle como aprendiz de almoxarifado, passando sua carreira neste setor e se aposentando como chefe. Era fã de caçadas, lutava box e foi grande contador de histórias. Casou-se com Leda Clary Salami, mais conhecida como Ledinha, nascida em 13 de dezembro de 1928, que com o nome artístico de Leda Mary antes de casar foi uma apreciada atriz. Reproduzo o depoimento que deixou no livro de Vera Longhi: “Conheci o Oscar numa festa em São Pelegrino. Foi amor à primeira vista. Entre sorrisos, lágrimas e muitas renúncias, namoramos e casamos em dois anos. Falo em renúncias porque eu trabalhava como rádio-atriz na Rádio Caxias e também como atriz no Teatro do Círculo Operário. Tive de abandonar tudo para me dedicar somente a ele, pois o título de artista o incomodava muito. Ver nota 891 “Casamos e fomos morar com minha sogra Lucia e meu cunhado Francisco. Os costumes eram completamente diferentes, mas logo me adaptei. A nonna Lucia trabalhava muito, tudo era feito em casa: marmeladas, figadas e lindas compotas que eram orgulhosamente colocadas em Leda Salami e Oscar Longhi prateleiras bem à vista. Seu parreiral era muito bem cuidado, pois tinha o costume de fazer vinho e vinagre para o ano todo. Nessa casa nasceu minha primeira filha, Margarete. É impossível descrever a alegria que nos acometeu. A nonna Lucia foi minha segunda mãe, muito me ajudou com a putina [menina], como ela a chamava em italiano. Nunca deixei de acompanhar o Oscar nas festas e jantares da firma. Ela incentivava dizendo: Va con tuo marito che la putina resto mi. [Vai com teu marido que eu fico com a menina] “O Oscar foi um marido e pai maravilhoso, sempre presente tanto na alegria como nas

procupações. Tivemos quatro filhas e cuidamos delas com todo o carinho, dando-lhes exemplos que, acredito, tenham marcado suas vidas. O ano mais triste de minha vida foi 1984, quando um infarto fulminante tirou o Oscar do nosso meio. Ele tinha só 58 anos de idade. Minhas filhas se tornaram a razão de minha vida e me deram forças, pois só pensei no futuro delas e, mesmo com o coração sofrido e magoado pela ausência do Oscar, lutei e consegui, graças à minha força e a Deus, encaminhar todas. Hoje vejo minhas filhas cada uma realizada em sua profissão. Posso dizer que sou muito feliz”.

891

Em seu tempo pensava-se que as atrizes eram pessoas de vida degenerada e imoral.

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Jubileu de Prata de Oscar Longhi na Metalúrgica Eberle. Ele está sentado ao centro, e à direita está Ledinha.

Suas filhas são: a) Margarete Longhi, funcionária pública na área da Saúde, casada com Paulo Quadri, com os filhos a1) Alexandre, casado com Alexandra Niches, pais de Rafael e Guilherme; a2) Emerson Longhi, casado com Raquel Castilhos, pais de Tuani e Pedro, e a3) Gustavo Longhi, casado com Rubia, pais de Lorenzo. b) Ana Maria Longhi, empresária, casada com Lipano de Camiles, com a filha Daiane, casada com Augusto Dassi, pais de Santiago e Georgia. c) Lúcia Teresa Longhi, gerente de uma agência de viagens. d) Patrícia Longhi, professora, casada com André dal Zotto, com os filhos Vinícius e Bruna.

Ledinha Salami Longhi entre as filhas

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Leda é filha de Teresa Marin e Santo Salami (muitas vezes grafado Salame) e teve pelo menos um irmão, Honorino.892 Santo foi carroceiro, depois comerciante, e explorava uma casa de jogo.893 894 As origens da família Salami não são bem conhecidas. Gardelin & Costa não citam nenhum imigrante com este sobrenome, a não ser Teresa, casada com Carlos Catafesta, estabelecidos em 1879 no Travessão Lagoa Bela da 15ª Légua. Em 1934 aparece Eulália casando com Primo Barro.895 Em 1942 Higino Eugênio formou-se contabilista.896

892

“Edital. 3ª Região Militar”. O Momento, 16/10/1933 “Menores gatunos”. O Momento, 02/01/1934 894 “Hóspedes indesejáveis”. O Brasil, 29/07/1922 895 “Juízo de Casamentos”. O Momento, 08/02/1934 896 Instituto de Ensino Comercial Professor O. Ellwanger”. O Momento, 03/10/1942 893

248

8) Irma Longhi, nascida em 2 de maio de 1922, dedicou a vida à família, sendo lembrada como alegre e perfeccionista, grande bordadeira e cozinheira, falecendo em 22 de abril de 1979 numa tragédia que levou ela, seu marido e sua filha Eliane. Foi casada com Celeste Setti, nascido em 4 de março de 1918 e morto em 22 de abril de 1979, o típico “amigo de todos”, carpinteiro, tinha orgulho de seguir o mesmo ofício de São José; talentoso, era muito requisitado para criar peças para famílias ricas, e foi o construtor da casa do seu cunhado Alcides Longhi.

Irma Longhi em sua Primeira Comunhão

Tiveram os filhos a) José Alberto Setti (Bob), nascido em 1º de outubro de 1945, casado com Clori Luizi, com os filhos Rodrigo e Ximena; b) Sergio Setti, nascido em 20 de março de 1950, casado primeiro com Maria Auxiliadora Coelho, com as filhas Roberta Maria e Giovanna, e depois com Neide Marques; c) Maria Isabel Setti, nascida em 16 de junho de 1954, casada com Jamilson Marques, com a filha Juliana; e d) Eliane Setti, nascida em 18 de maio de 1960, faleceu jovem e solteira em 22 de abril de 1979. Reproduzo a seguir trechos do pungente depoimento de Maria Isabel, do livro de Vera Longhi:

“Irma significa ‘pessoa nobre’. Esta é a minha memória. Nobreza de ombros fortes e vastos peitos, alimento e colo, fé na vida e consciência de que o trabalho cria tudo: beleza, filhos, casas e aconchego. Os homens que conheci viviam mergulhados em trabalhos ásperos, herdeiros dos rigores de sabe Deus que batalhas, cujo sentido me pergunto agora se alcançavam. Havia neles uma espécie de inadequação para a vida em espaços limitados e quentes. Forjavam o sustento de suas mulheres e filhos com mãos e braços rudes, retrato das mãos e dos braços dos pais e avós que haviam arrancado da terra fria o que viria ser a cidade que nos daria tudo. Mas conheciam muito pouco do direito à poesia, à demorada expressão da ternura, aos amores sensuais de antigas danças. Elas, as mulheres, eu as vi trabalhando duro para construir espaços de calor e aconchego nos invernos gelados de Caxias.

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“Uma imagem desta alquimia é uma mulher levantando com o primeiro Sol – a que conheci mais de perto se chamava assim: Irma – acendendo o fogão à lenha para, enquanto preparava o café, aquecer a casa, cujas paredes deixariam brotar, em suor, histórias de amor e trabalho e de como podem assemelhar-se os dois. [...] “Foram elas, as mulheres, que deram forma ao mundo como o conheci: Irmas, Ledas, Floras, Romildas, Marias, Naíres, são, em meu espírito, expressão de uma geração de mulheres a quem não foi perguntado o que desejavam e, às vezes, parece-me não terem chegado a saber, nem mesmo com seus corações, o que teriam feito se a vida não exigisse delas toda a energia para que os outros, maridos e filhos, encontrassem os seus destinos. O delas em tudo se assemelhava: o fogão, a mesa, a pia, o tanque, o varal, o anil, o termômetro, o chá, a injeção, os sustos, os grandes medos noturnos, a fala clara de janela a janela nas manhãs deste outro tempo, os suspiros, os risos límpidos, os rosários, os abraços de domingo e os de despedida, e uma esperança sei lá de quê, mas que me penetrou para sempre. [...] “Fui embora cedo. Fui embora antes. Sempre temi não conhecer os meus. E estudei e trabalhei e me assustei e me desesperei e senti o peso de todas as culpas e mergulhei ainda mais profundamente nos trabalhos até, aos 41 anos, no dia do meu aniversário, tornar-me mãe e perceber que, só então, meu verdadeiro contorno aparecia. Sou, completamente, um afluente daquele mesmo rio. Juliana, minha filha, tendo nascido com síndrome de Down, exigiu de mim todo o rigor e a profundeza dos trabalhos da maternidade e me ensinou a felicidade em seu movimento essencial, o amor em sua expressão plena de despojamento e pureza. “Às vezes cruzo meus braços sobre o peito para escutar alguma história que me contam e rio, e, ao rir, escuto o riso de Irma, da doce Irma dos maravilhosos tortéis, da querida tia Irma, minha mãe”.

250

No alto, Irma Longhi Setti e Francisco Longhi entre as crianças de Irma na sua paupérrima casa de verão em Cidreira. Abaixo, casamento de Sergio Setti com Maria Auxiliadora Coelho. Da esquerda para a direita, Clori, José Alberto, Maria Auxiliadora, Sergio, Maria Isabel, Celeste, Irma e Eliane.

251

Alcides Longhi

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Alcides Longhi em sua sapataria

9) Alcides Longhi, meu avô, nascido em 10 de junho de 1917. Teve de trabalhar como sapateiro desde cedo, aprendendo o ofício com João Maineri, que tinha sua sapataria no térreo da casa onde moravam Massimo e Pasquina Sartori e meus avós Ida e Antonio Frantz. Diz Vera Longhi, sua filha: “Nessa profissão viveu por muitos anos. Sua primeira sapataria foi na rua Júlio de Castilhos, ao lado do que é hoje o Banrisul, e posteriormente transferiu-se para a rua Sinimbu, esquina com a Borges de Medeiros”.897 Casou-se em 1938 com Noris Leda Artico, indo morar com ela em uma casa na rua Antonio Prado, perto da mãe de Alcides, onde nasceram Beatriz e Elisabeth. Antes de casar já iniciara uma brilhante carreira no futebol amador. Em 1933, ainda um adolescente, jogou no Ipiranga, no ano seguinte passou para o Guarani, e em 1935 ingressou no time dos juniores do E. C. Juventude, logo requisitado para a equipe principal, onde veio a se tornar muito popular, apelidado de A Lenda ou de Gesù (Jesus) por fazer milagres com a bola.898 899 Rigon, dizendo que “Alcides Longhi integra a galeria de ídolos do Juventude”,900 falou sobre este aspecto de sua vida:

897

Longhi & Frantz, op, cit. Michielin, Francisco. Assim na Terra como no Céu. Sagra / D. C. Luzzatto, 1994 899 Gross, Milton & Andreis, Dante. “Malabaristas do Passado”. [recorte de jornal sem identificação] 900 Rigon, Roni. “Alcides Longhi, ídolo do Juventude”. Pioneiro, 18/09/2003 898

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O time do Juventude em 1935 no primeiro Fla-Ju, em que o clube venceu. Alcides é o primeiro agachado à esquerda.

“Evidenciou-se em Caxias do Sul pela sua participação esportiva e empresarial. Entre 1935 e 1948 jogou no Esporte Clube Juventude, onde desempenhou a função de zagueiro. Durante oito anos, foi capitão da equipe. Pelo seu belo futebol e amor ao clube, recebeu o título de Jogador Laureado. Sua dedicação ao clube o levou à Presidência, na gestão de 1949”.901 Outro relato, de Francisco Michielin, em seu livro sobre a história do Juventude, descreve como iniciou sua carreira futebolística: “Quando o Juventude despontou no futebol, em 1913, havia tanta gurizada que queria jogar, misturando-se aos ‘coroas’, que a primeira providência, logo que as coisas se definiram, foi criar a divisão dos ‘filhotes’. Eram gurizotes de dez anos para cima, loucos para chutar uma bolinha e, naturalmente, vestidos de verde. A partir daí, gerações de craques foram nascendo como banana em cacho. A história do Juventude é rica pelos ‘prata-da-casa’ que produziu. O time-base que vinha atuando nos últimos oito anos [entre as décadas de 20 e 30] era quase imutável, com mínimas variações. Algumas peças haviam se desgastado. [...] Fazia-se claramente necessário efetuar uma eficaz reposição. Foi justamente nos ‘filhotes’ que o Juventude procurou suas soluções emergenciais. A fornada de novos talentos oferecia promissoras condições de montar uma equipe sempre competitiva. [...] Para o arco, apareceu o grandalhão, de quase dois metros de altura, forte como um touro, Adelino Fabbris, o Vanzetti. Ele, posteriormente, seria técnico, diretor de futebol e presidente. Ocuparia todo e qualquer cargo diretivo para servir o seu Juventude. A zaga trazia a proposição de dois fortíssimos elementos: Décio Nabinger – A Mobília – com sua boina verde, e Alcides Longhi – A Lenda – também, mais tarde, um faz-tudo e, naturalmente, presidente.

901

Rigon, Roni. “O zagueiro Alcides”. Pioneiro, 18/09/2003

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Era impressionante o amor que esses jogadores todos nutriam pelo Juventude. Antes de jogar, amavam-no. [...] “Times assim em geral duravam bastante. Com poucas alterações, conseguiam se manter por anos. Assim era no mundo inteiro. Jogava-se muito menos que hoje, na média de duas, no máximo três, partidas por mês. Em meados de semana, só quando havia feriados. Em certos meses, nem se jogava. Os jogadores (semi-amadoristas) moravam com suas famílias. [...] Depois, sabidamente, quem jogava num time, fazia-o por amor, puro e delicadíssimo amor, pela mais límpida vocação. Trocar de clube [...] era raridade. O jogador ficava mal visto, perdia até na conceituação social. Não se cogitavam tais mudanças, de jeito nenhum. Vestir a camiseta queria dizer isso mesmo: vestí-la de verdade, lutar por ela, suar por ela, morrer por ela. [...] A Lenda Longhi prolongou-se por quase vinte anos, jogando até o último reservatório de sua energia”.902 Conquistou com seu clube vários títulos: campeão do Citadino em 1935, 1936, 1938, 1940 e 1941,903 campeão invicto em 1939904 e 1949, campeão da 4ª Região em 1939,905 campeão do Torneio Início em 1942,906 vice-campeão do Citadino em 1937, 1942 e 1945907 e 1946,908 e vice-campeão da Região Nordeste em 1940.909 Seu futebol superior frequentemente o destacava nas partidas, havendo na impresa menção aos seus “pés mágicos” 910 e principalmente à sua capacidade de bloquear o avanço adversário, “uma barreira”, qualidade que era a mais apreciada pelos cronistas esportivos da época, que foi assinalada nas quadras humorísticas mostradas ao lado e também por Michielin, que disse: “Lá atrás, Alcides Longhi era uma garantia, uma fortaleza, principalmente quando Décio Nabinger, com a sua ‘bomba’, abandonou o futebol”. 911 Gross & Andreis também recordam que... “Longhi era considerado um excelente zagueiro, pois além de possuir classe para ocupar esta difícil posição, jogava sempre com muita vontade e ardor. Sempre que sua meta passava por momentos de aperto, quanto maior e mais frequentes eram os ataques dos adversários, Longhi surgia na hora H, desbaratando uma a uma todas as ofensivas contrárias e salvando tentos certos. Deve ter surgido aí o apelido que alguns de seus inúmeros fãs gritavam: Gesù, Gesù, Gesù!”.912

902

Michielin, Francisco. Assim na Terra como no Céu. Sagra / D. C. Luzzatto, 1994 “Crack da Semana”. O Momento, 21/07/1945 904 “Campeonato da Cidade”. A Época, 01/10/1939 905 "Juventude - Campeão da Cidade". A Época, 18/08/1949 906 "O Juventude sagrou-se campeão do Início". A Época, 10/05/1942 907 “Pelo esporte”. O Momento, 29/09/1945 908 “Salve G. E. Fluminense! Campeão citadino de 1946”. O Momento, 05/10/1946 909 "Juventude - Campeão da Cidade". A Época, 18/08/1949 910 "Esporte". O Momento, 11/07/1935 911 Michielin, op. cit. 912 Gross & Andreis, op. cit. 903

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Foi juiz em jogos da segunda divisão em 1941,913 e em 1947, ainda jogando, iniciou sua participação nas Diretorias, assumindo a Direção de Esportes.914 Em 1949 ocupou a Presidência, ano em que realizou benfeitorias no primitivo estádio, a então chamada Quinta dos Pinheiros, construindo em anexo "um majestoso Pavilhão",915 e foi campeão invicto do Citadino, quando o jornal A Época assim o descreveu: “Longhi conquistou para o Juventude inúmeros campeonatos trabalhando no campo da luta. Este ano, conquistou outro galardão, desta vez mais significativo, porque estava sob sua responsabilidade, não como antigamente conter o avanço e quebrar o ímpeto dos adversários – mas o Clube todo. Alcides Longhi é mais um dos nomes que há de figurar para sempre, aplaudido, estimado e respeitado, nas páginas imorredouras da história do E. C. Juventude. Seu esforço, sua abnegação, seu trabalho e dinamismo servem para solidificar cada vez mais os alicerces deste veterano clube caxiense”.916 Michielin descreve com mais detalhe os eventos deste ano em uma seção interessante pelo entusiasmo de juventudista fanático, mostrando bem como ardia a paixão pelo futebol nos tempos do amadorismo, e oferecendo, com a vivacidade de uma transmissão radialística, um relance do que o clube significou na história da cidade e da intensa rivalidade entre as equipes locais:

Fotos em Michielin, op. cit.

“O último ano da década de 1940 – 1949 está píntado para desafiar a audácia esmeraldina, é preciso vencer ou morrer! A hora da reconstrução triunfal não pode mais ser atrasada, sob pena de permitir uma ascensão do rival [o Flamengo], que até há pouquinho, jazia imóvel, fazendo-se de morto. Voltara e já era ‘bi’. Não dava mais para aguentar a flauta [a ironia dos rivais]. Alfredo Jaconi está por conta, compelindo todos à luta, sem descanso. Por sua vez, a Direção não quer brincadeiras, mantendo-se em seu irredutível propósito de provocar uma reviravolta, incutindo, no sentimento de todos, a conscientização de um contínuo estado de alerta. Como gato escaldado, Alcides Longhi é o presidente. Ao seu lado, Ary Soares, Ivo Comandulli, Harry Petry, Abramo Bedin [...] Nelson Crippa, Ênio Almeida, Lauro Carvalho e Bruno Madalosso. Estava chegando a hora do ressarcimento dos resultados.

913

"Nota oficial". A Época, 08/06/1941 "Nova Diretoria do E. C. Juventude". O Momento, 22/03/1947 915 "O Esporte Clube Juventude completou 36 anos de existência". O Momento, 02/07/1949 916 “Alcides Longhi”. A Época, 18/08/1949 914

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“Com urgência, era preciso cauterizar as feridas. [...] Não era o Juventude possuidor de um magnetismo ímpar? Sua torcida, indiscutivelmente a maior da cidade. Seus títulos, insuperáveis. Seus homens, todos eles, capazes e realizadores. Então? Tinha mesmo de hipotetizar sobre o melhor. Ir à desforra esportiva, sair da enrascada dos últimos quatro anos, com revéses incríveis, a sorte madrasta, quando pelo menos três dos quatro títulos em jogo eram, absolutamente, irreversivelmente, seus. Sacudindo a poeira da inércia, ele que era um flamejante sobrevivente, com toda a sua nobreza, bastaria um acesso de vontade e ninguém o seguraria. [...] Sim, suas forças voltavam a estar reavivadas. [...] “Para começar, sem muita conversa, vai botando o Torneio Início no saco. [...] Depois de uma chuvarada torrencial, no dia 6 de junho, na Cachacinha, o palco do jogo inaugural, que é justamente o Fla-Ju. Primeiro clássico: Juventude 2 x Flamengo 1. O ‘cabecinha de ouro’, Homero, continua trucidando: no dia 28 de junho, é a vez do Fluminense sofrer o impacto das suas cabeçadas, com três a zero. [...] “Chega o aguardado Fla-Ju do terceiro turno. O Juventude abriu três pontos de vantagem. Basta-lhe um simples empate e estava liquidada a fatura. O público se apresenta na Colina Fantasma – campo neutro – como se fosse assistir a uma Copa do Mundo. [...] Durante toda a semana o Flamengo prometera ‘virar’ o campeonato, fazendo pressão moral e indo em busca do ‘tri’. O Juventude afirmava que não perderia. Só vendo para conferir. O diretor de Futebol [...] não era outro senão Alredo Jaconi. Para técnico, Dom Lima, com passagens em várias esquadras gaúchas. Formava-se um time eminentemente jovem e raçudo. [...] Quase seis mil pessoas se apínhavam na Colina Fantasma para assistirem o maior clássico de todos os tempos, com uma arrecadação de 18 mil cruzeiros. Era agosto, fazia frio e ameaçava chuviscar. E ainda assim, seis mil torcedores lotavam a Colina, setenta por cento esmeraldinos. 258

Enquanto isso, milhares e milhares acompanhavam pela Rádio Caxias do Sul. A tensão era extraordinária. [...] “Aos 38 segundos, Canelinha escapa pela direita, corta Ariosto por duas vezes, por dentro e por fora, centra, ligeiro, para a cabeçada mortal de Homero Soldatelli. O arqueiro Ary Hoffmann prostra-se, batendo raivosamente com as duas mãos no solo. É a abertura do placar, começo da loucura. A torcida verdoenga, inflamada e ensandecida, grita ‘Papada, Papada!’ [papo é o juventudista, e a papada é o ‘universo Juventude’]. Os adversários, inexplicavelmente, parecem tremer, estão apáticos, apreensivos, dando-se por perdidos, deixando passar o expresso de luxo. [...] “O segundo tempo é todo verde, um banho, uma lavagem impiedosa, um domínio total e absoluto. O ataque matraqueia uma rajada de balas. [...] Poderia ter ficado em cinco, sim, já estava bom. [...] Mas está faltando um. É o que a torcida, faminta, ainda pede: ‘Mais um, mais um!’, em coro uníssono. E o sexto e inapelável gol nascerá aos quarenta e quatro do segundo período, no ultimíssimo minuto, para matar o cadáver que se estrebuchava. Canelinha bombardeia, Ary espalma, a bola repica na área e gruda na lama. Vem Lory nos seus dezoito anos, calibrando a pontaria para culminar no tiro de misericórdia. Está pronta e acabada a ‘goleada do século’. A reconquista do título foi marcada, indelevelmente, pelo talento e pela garra”. 917

Panorama Esportivo, ago/1949

Ingressou no time dos Veteranos em 1953 918 e permaneceria ligado ao clube ainda por muito tempo, sendo integrante de várias Diretorias como diretor de Futebol, membro da Comissão Técnica 919 ou conselheiro, colaborando para a conquista de outros títulos. O clube foi campeão do Citadino também em 1950, 1951 e 1953;920 campeão do Interior em 1964, 1965 e 1966,921 e vice-campeão estadual em 1965.922 Em 1966 Alcides recebeu o título de Melhor Diretor de Futebol – cargo que ocupava desde 1960 – conferido pela popular Rádio Caxias,923 e em 1970 foi homenageado nas festividades comemorativas do aniversário do clube.924 Mas ao mesmo tempo em que ganhava fama no esporte, ele progredia também no ramo dos sapatos, onde iniciara sua vida profissional. Realmente, tinha talento com os pés. 917

Michielin, op. cit. "Amanhã a posse da Diretoria dos Veteranos". A Época, 01/02/1953 919 "Crespo, Saul, Enio e um técnico para o Juventude". A Época, 04/02/1951 920 RSSSF Brasil. Rio Grande do Sul - List of Caxias City Champions 921 RSSSF Brasil. Campeões do Interior 922 Rigon, Roni. "Aniversário do Esporte Clube Juventude". Pioneiro, 19-20/10/2002 923 Rádio Caxias. Diploma: Alcides Longhi, 28/12/1966 924 Rigon (19-20/10/2002), op. cit. 918

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Ampliando sua modesta sapataria, fundou com seu irmão Francisco uma empresa de fabricação de sapatos, a Longhi & Cia. Ltda., mais conhecida como Fábrica de Calçados Caxias, que teve um período de prosperidade. O prédio tinha uma parte residencial, onde viveu com a família que crescia. A fábrica era a única da região e notícias nos jornais atestavam a alta qualidade de seus sapatos e a preferência que o consumidor lhes dirigia. Vera continua: “A Guerra lhe proporcionou a oportunidade de ampliar o seu negócio, e, tendo em vista o grande número de botas e coturnos que deveria entregar ao Exército, transferiu sua fábrica para a rua Borges de Medeiros, esquina com Hércules Gallò, num espaço bem maior, e com melhores condições”.925 Não era realmente uma fábrica de vasto porte, mas deixou um sinal visível na economia da cidade. Roni Rigon lembrou sua trajetória no Pioneiro: “A Fábrica de Calçados Caxias marcou época pelo excelente conceito na manufatura de seus produtos. Com um moderno maquinário, a empresa confeccionava sapatos colegiais e botas para o Exército. Longhi, profundo conhecedor da arte de fazer sapatos, iniciou sua atividade por volta de 1935. Seus calçados eram comercializados em lojas próprias, em Caxias, com aceitação no estado e no país. [...] Com a boa aceitação do seu produto, a empresa inaugurou um moderno prédio em 1947. Naquela época, o empresário Alcides Longhi demonstrava gestos de humanidade. Anualmente, presenteava os alunos do Abrigo de Menores São José com sapatos modelo colegial”.926 Giron & Bergamaschi também a destacaram como uma das empresas que “marcaram presença” em Caxias em sua época.927 O prédio novo, cujo interior é mostrado parcialmente acima, foi analisado em um trabalho acadêmico de Ana Elísia da Costa que enfocou a arquitetura industrial da cidade, sendo considerado um bom representante da estética Déco aplicada à indústria.928

925

Longhi & Frantz, op, cit. Rigon, Roni. “Novo setor produtivo”. Pioneiro, 02/09/2003 927 Giron & Bergamaschi, op. cit. 928 Da Costa, op. cit. 926

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A Rua Sinimbu, defronte à Catedral Diocesana, durante o Congresso Eucarístico Diocesano de 1948, reunindo milhares de fiéis e autoridades eclesiáticas. A seta indica o varejo da Fábrica de Calçados Caxias. Foto Geremia, coleção de Hildo Boff.

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A empresa foi destacada em 1950 em dois importantes álbuns comemorativos dos 75 anos da colonização italiana, um publicado pela Prefeitura e outro pela Festa da Uva, cujas matérias vão mostradas a seguir.

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Antunes, Duminiense Paranhos (org). Documentário Histórico do Município de Caxias do Sul 1875-1950, Comemorativo do 75º Aniversário da Colonização. Associação Comercial / Biblioteca Pública / Câmara dos Vereadores / Prefeitura de Caxias do Sul, 1950

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265 Festa da Uva. Álbum Comemorativo do 75º Aniversário da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul. Editora Globo, 1950

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Alcides contribuiu nas subscrições populares para financiar as tropas brasileiras na II Guerra, e enquanto pôde, fazia doações para entidades beneficentes, como as Damas de Caridade e o Abrigo de Menores. Porém, acabou falindo em 1954 929 numa crise do setor coureiro. Depois, foi sócio em duas lancherias e em uma boate com o filho Vitor, que também acabaram tendo dificuldades.

Alcides recebendo na sua lancheria Livio Gazola e a rainha e princesas da Festa da Uva em 1969. Foto Pioneiro.

Ao mesmo tempo, passou a dedicar-se a uma empresa de fabricação de rebites, braçadeiras e lonas para freios, a Mibral, que iniciara junto com a Fábrica de Calçados, mas que não rendeu como o esperado, vendendo sua parte na década de 70, quando se aposentou. Foi uma lástima ter-se retirado, pois nesta altura a Mibral dava uma arrancada e em breve se tornaria uma grande empresa. 930

929 930

"Edital de 1ª Praça". A Época, 14/01/1954 Fortes, Ataré Vargas et al (orgs.). Álbum do Centenário da Imigração Italiana. Edel, 1975

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Enquanto lutava entre altos e baixos para ganhar o pão de cada dia, permanecia colaborando com o Juventude, sua grande paixão. Foi um dos poucos dirigentes do clube, junto com Willy Sanvito e Bruno Rossi, que se opuseram à fusão do Juventude com o Flamengo nos anos 70, divisada como a única saída para uma profunda crise financeira. De fato, a fusão acabou fracassando após poucas temporadas de total ambiguidade. Disse ele em entrevista para a revista Placar de 31 de janeiro de 1975, que dedicou matéria ao retorno do clube à sua velha forma: “Veja, nas cidades onde só há um clube o futebol está morrendo”. 931 Divino Fonseca comentou na Placar: “Mas houve a moda das fusões, e em 1972, no auge dessa e de outras manias, fundiram-se Juventude e Flamengo. Acreditaram mais nos apelos de grandiosidade do que na grandeza da própria rivalidade. Uma rivalidade que, de tão forte, não dava espaço para mais ninguém. Aos poucos, tinham desaparecido os outros clubes. O último a desaparecer fora o Fluminense. Morte indolor, por pura insuficiência cardíaca: no coração dos caxienses só cabiam mesmo Juventude e Flamengo. Encurtando o caminho: na fusão, ficaram duas torcidas sem time e um time – o Caxias – sem torcida. Ou com torcida emprestada”. 932

931 932

Fonseca, Divino. “Lá vem o Juventude”. Placar, 31/01/1975 Fonseca, op. cit.

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No retorno abria-se, na verdade, uma fase de novas e importantes conquistas: em 1974 foi inaugurada uma grande sede campestre com 34 hectares, com churrasqueiras, piscinas, quadras de esporte e outras benfeitorias; 933 em 1975, chamado por Michielin de “o ano da graça”, foi inaugurado o seu novo estádio, cujas obras foram coordenadas por Alcides,934 e o clube venceu a Copa Governador, comemorativa do centenário da imigração, numa partida suada que só se decidiu nos pênaltis e causou um infarto em Domingos Demore, juventudista fanático.935 Neste ano era presidente Willy Sanvito e Alcides era diretor de Futebol, trabalhando ao lado do filho Vitor Augusto, que era o preparador físico do time.936 Após esses sucessos, Alcides encerrou sua carreira futebolística, mas permaneceu em contato com o clube. Nesta ápoca trabalhou como croupier do cassino que Recreio da Juventude abriu. Em 1981, para a surpresa de todos, ensaiou um retorno, convidado pelo lendário Pastelão e por Flávio Ioppi, na época o presidente, retomando a função de diretor de Futebol, mas após alguns anos retirou-se de novo, e desta vez em definitivo – pelo menos oficialmente, já que sempre viveu rodeado de amigos ligados ao Juventude, e sua opinião sempre foi respeitada. Mas já eram outros tempos, e o seu havia passado.

933

Fonseca, op. cit. "Rigon, Roni. "Alcides Longhi, ídolo do Juventude". Pioneiro, 18/09/2003 935 Michielin, op. cit. 936 Fonseca, op. cit. 934

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O Estádio Alfredo Jaconi, cuja construção foi supervisionada por Alcides Longhi. Abaixo, Leda e Alcides com um casal amigo comemorando o carnaval.

Vera traz recordações sobre o convívio familiar: “O casal sempre foi de se divertir, gostavam muito de cinema e de dançar. Quando éramos pequenos nos deixavam na casa da nonna Ema e saíam para se divertir. Nossas tias cuidavam de nós até eles voltarem. Mais tarde acompanhavam os filhos aos bailes de fim de ano e principalmente aos carnavais do Recreio da Juventude. Lembramos até hoje que quando começavam as brigas de salão eles nos recolhiam dizendo que era hora de ir para casa. E nós não reclamávamos, mesmo que o baile estivesse muito bom. Ao sair do clube, tínhamos um ritual, que era comer cachorro-quente na porta do clube.

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“Quando morávamos na rua 20 de Setembro, naquela casa de madeira muito aconchegante, com uma enorme escada para subir e um majestoso pinheiro na frente, nos fins de semana nossa casa se transformava em um verdadeiro hotel, pois para lá iam os primos Floriano, Luiz Carlos, Edelweiss e seus filhos, Gilce e outros, todos para brincar e principalmente assistir as lutas-livres que passavam na TV. A sala era um verdadeiro ringue, pois todos queriam imitar os lutadores”.937 Nos anos 80 vendeu a casa na rua 20 de Setembro e se mudou para um apartamento na Praça Dante, continuando com seu hábito de encontrar seus amigos na Praça, entretendo-se em grandes discussões sobre tudo. Morreu em 18 de agosto de 1994, sendo homenageado por uma multidão, depois vindo a batizar uma rua.938

937 938

Longhi & Frantz, op, cit. Município de Caxias do Sul. Lei nº 6.088 de 29 de setembro de 2003

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Em 2003, quando surgiu a proposta de atribuição do seu nome a uma rua do Bairro Floresta, foi louvado pela Comissão de Desenvolvimento Urbano e Obras, que analisou o referente Projeto de Lei, como “[...] cidadão empreendedor, que dedicou sua vida ao seu time do coração: Esporte Clube Juventude. [...] A Comissão se manifesta pela aprovação do projeto em tela, aproveitando a oportunidade para unir-se ao vereador autor do projeto nas homenagens ao senhor Alcides Longhi. Sendo assim, sugerimos aos demais membros deste Legislativo que acolham o presente Projeto de Lei”.939 Na sessão da Câmara que votou o projeto, aprovado por unanimidade, manifestaram-se os vereadores Francisco Spiandorello e Walmor Vanazzi fazendo uma breve retrospectiva de sua trajetória. O primeiro assim disse: “Senhor presidente, pedi a palavra para declarar o voto e mencionar que o homenageado, Alcides Longhi, foi um dos mais extraordinários atletas que passaram por Caxias do Sul. Conhecido no futebol como ‘Jesu’, era um jogador laureado no Esporte Clube Juventude. Deixou a sua passagem como atleta, como dirigente e como homem integrado a Caxias do Sul. Trabalhou sem pretensões pessoais, mas com muito idealismo. Era casado com a Nóris Leda Ártico Longhi e tem os filhos Beatriz, Elisabeth, Vera Mari, Villi Victorio, Vitor Augusto e Roberto Alcides. Trabalhou também, no início de sua vida profissional, como sapateiro na área central de Caxias do Sul. Durante toda a atividade que teve em Caxias do Sul, sempre procurou estar próximo da cidade, dos seus eventos, das suas manifestações, amando o Esporte Clube Juventude. Por exemplo, em 1949, pelas atuações todas, ele fez com que o Esporte Clube Juventude se sagrasse campeão invicto, o que era uma raridade no futebol. Creio que, pelo exemplo de dignidade e de honradez, pela família que possui, pelo exemplo que legou, ele merece esta homenagem. Contamos com a aprovação desta Casa para que fique eternizado o seu nome, a sua história, a sua vida como exemplo para nós”. O vereador Vanazzi declarou: “Eu conheci o homenageado, Alcides Longhi. Quando era menino, de 1935 a 1948, jogou como zagueiro central do Esporte Clube Juventude. Também era empreendedor, botou uma fábrica de calçados bem próximo ao estádio do Juventude. Eu também quero me associar, porque a Beatriz, filha dele, casada com o Nonnenmacher, foi minha colega no colégio e hoje é professora de Educação Física. A Elisabeth é casada com o Murilo. E tem o odontólogo, que é o Vitor [Roberto, o orador se enganou], que eu conheço também. Acho que estamos fazendo justiça a esse ilustre cidadão caxiense ao denominar com seu nome uma rua de nossa cidade. Como empreendedor, fabricou calçados masculinos e femininos e foi bem sucedido. Como jogador de futebol obteve diversos títulos. Naquele tempo eram disputados apenas campeonatos municipais, e todos eles eram amadores. Se nós tivéssemos hoje, no nosso profissionalismo, tanto no Juventude como no Caxias, o espírito amadorista do qual Alcides Longhi era exemplo, não estaríamos correndo o risco de cair nas divisões: o Juventude para a segunda, e nós para a terceira. Quero, então, homenagear a família de Alcides Longhi e seus descendentes”. 940

939 940

Câmara de Vereadores de Caxias do Sul. 355ª Sessão Ordinária no 3º Período da XIII Legislatura, 10/09/2003 Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, 10/09/2003, op. cit.

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Roni Rigon voltou a celebrá-lo há alguns anos como um dos ídolos do Juventude,941 e escreveu vários pequenos artigos em que o cita. Em 2013, na comemoração dos 100 anos da agremiação, foi lembrado em reportagem especial da Gazeta de Caxias como um dos destacados personagens de sua história,942 e Francisco Michielin, também comemorando o centenário, o inclui na sua galeria dos “100 Personagens” publicada no Pioneiro.943

941

Rigon, Roni. “Alcides Longhi, ídolo do Juventude”. Pioneiro, s/d. “100 anos Juventude com muito orgulho”. Gazeta de Caxias, junho/2013 943 Michielin, Francisco. “Histórias Juventudistas: 100 Personagens”. Pioneiro, 23-24/03/2013 942

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Alcides manteve ligações com a Comunidade de São Romédio, desde 1939 membro da Sociedade Igreja de São Romédio,944 foi a origem da paixão pelo Juventude e pelo futebol na família, jogava bocha muito bem, dominava o carteado, especialmente o pôquer, tendo sido croupier no cassino do Juventude no período das vacas magras – uma função que na verdade detestava – e se tornou fã de novelas da TV, mas sempre tinha um comentário crítico a fazer sobre os enredos, com opiniões lúcidas e pragmáticas, expressando um caráter moral bem formado e cultivado. Durante muito tempo as jantas de sábado e os almoços de domingo em sua casa, preparados como banquetes pela minha avó e suas filhas e noras, regularmente acabavam em fóruns de acaloradas discussões sobre política, costumes e outros temas, entre eles o eterno Juventude e o futebol em geral.

Ferramenta da antiga sapataria de Alcides, usada para martelar os pregos nas solas dos sapatos. Abaixo, outras ferramentas suas.

Tinha posições firmes mas era avô brincalhão e grande contador de histórias, quando eu e meu irmão éramos pequenos por anos fez-nos acreditar que sua cicatriz na perna fora uma flechada de índios. Tinha habilidades múltiplas, manteve no porão de sua casa na rua 20 de Setembro uma oficina com muitas ferramentas, sendo o rei dos consertos domésticos e também do improviso. Seus churrascos eram lendários. Fez uma casa na praia onde passamos temporadas memoráveis. Noris Leda Artico, esposa de Alcides, mais conhecida como Leda, sobreviveu a ele por muitos anos, tornando-se o polo agregador da família. Era filha de Augusto Artico e Ema Panigas. Os Artico caxienses são nativos da antiga Ceneda, comuna que em 1866 foi fundida com Serravalle para formar a atual Vittorio Veneto, na província de Treviso. O nome surge no século XII no Friuli, onde foram condes, patrícios e nobres.945 946 Lançaram um ramo nobre em Ceneda no século XV, onde foram agregados ao patriciado, com um membro deste ramo alcançando a dignidade principesca,947 948 sobrevivendo um brasão na tradição familiar italiana que é idêntico ao descrito nos armoriais dos reputados Crollalanza e Rietstap.

944

Livro de Atas da Associação Igreja de São Romédio. Acta nº 27, 31/12/1939 Crollalanza, Giovanni Battista di. Dizionario stórico-blasónico delle famiglie nobili e notabili italiane estinte e fiorenti. Pisa, 1886 946 Rietstap, Johan Baptiste. Armorial Général. Goor Zonen, 1886-1890 947 “Cynthius Cenetensis”. In: Giornale arcadico di scienze, lettere ed arti, 1845; 104 (CIV):238-240 948 Carme al Novello Pontefice, Oratore Eloquente, Instancabile Ministro Evangelico, Sua Eccellenza Monsignore D. Filippo Artico da Ceneda... ecc. Mussano, 1841 945

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Leda Artico Longhi e suas filhas Elisabeth, Vera e Beatriz. O colorido desta foto é original, retocado a tinta, obra do famoso Julio Calegari.

No tempo em que eu ainda convivi com as netas de Osvaldo Artico, o pioneiro, elas me transmitiram uma “lenda”, já muito apagada e imprecisa, à qual elas mesmas pouco davam fé, de que no passado as famílias dele e de sua esposa e também os Panigas poderiam ter sido nobres ou ter tido parentes na nobreza, mas nada sabiam deste brasão, que só foi redescoberto pelos caxienses há poucos anos, quando Luís Artico Chemello foi à Itália e falou com parentes, deles recebendo a insígnia, dizendo ter sido preservada na tradição dos Artico locais,949 e tampouco faziam ideia das provas adicionais que só obtive ao elaborar a presente pesquisa, embora quanto aos Panigas a “lenda” não tenha se confirmado. No Volume III isso é discutido com mais detalhe. Brasão Artico

949

Artico, Osvaldino Mario. Recordações da Família Artico. E.A., 2003

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Osvaldo Artico e Magdalena de Nadai Artico

A linha caxiense começa em 16 de novembro de 1879 quando chega Osvaldo Artico, então com 33 anos de idade, filho de Antonio e Celeste. Antonio provavelmente era filho de Bortolo Osvaldo Artico, casado com Augusta Tirindelli. Nativo de Vittorio Veneto,950 Osvaldo fora oficial do exército de Garibaldi. Osvaldo era casado com Magdalena de Nadai, também de Vittorio Veneto, 951 membro de um ramo da família Nadal (também grafada De Nadal), que segundo a autoridade de Schröder, tem antiquíssima origem em Oderzo, outrora parte de Ceneda, atestada desde o ano de 790, e que depois se tornou ilustríssima como uma das fundadoras de Veneza, sendo admitida no patriciado, enriquecendo prodigiosamente e dando vários ramos provincianos.952 Na área da antiga Ceneda até hoje sobrevive um palácio dos De Nadai, ainda habitado pela família. Nascida em 11 de junho de 1848 e falecida em 19 de abril de 1930, Magdalena era filha de Valentino de Nadai e Maria, esta de família desconhecida. Traziam o filho Antonio, e em

950

Gardelin & Costa, op. cit. Gardelin & Costa, op. cit. 952 Schröder, Francesco. Repertorio genealogico delle famiglie confermate nobili e dei titolati nobili esistenti nelle provincie Venete. Alvisopoli, 1830. 951

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Caxias nasceram Augusto, João, Vitório, José, Celestina e Maria. De Vitório, citado por Gardelin & Costa, não resta notícia, e deve ter falecido pequeno. Osvaldo adquiriu o lote nº 3 na quadra 50 da Sede Dante, e ali fixou sua moradia e uma oficina de ferreiro,953 em 1892 ainda é atestado como ferreiro mas também como dono de uma bodega, que pagava quase duas vezes mais impostos prediais que a ferraria e por isso devia ser um estabelecimento apreciável. Em 1903 continuava com sua ferraria e bodega e aparece como dono de um açougue. A bodega ainda era o principal negócio, pagando o mesmo imposto que o açougue e a ferraria somados. Esses negócios seriam mantidos até 1907, quando seus filhos Antonio e Augusto começam a assumí-los.954 Em algum momento Osvaldo associou-se a Saturnino Ramos, mais tarde presidente da Associação dos Comerciantes, e fundaram a cantina Artico & Cia., que teve um período de grande prosperidade e cujo prédio foi um marco arquitetônico urbano.955 O curioso é que em nenhum dos Livros de Registro de Imposto sobre Indústrias e Profissões do município ele aparece com uma cantina, e sua única associação com bebidas é através da sua bodega. Nenhuma cantina aparece nesses livros ligada aos Artico até 1916, quando então o filho Antonio começa a pagar impostos sobre um “depósito de vinhos de 1ª classe”. Contudo, não sobreviveu a sequência completa desses livros, e os que restam tampouco são muito confiáveis. Várias pessoas foram citadas na imprensa com negócios que não constam nos registros municipais. O próprio Antonio é noticiado na imprensa já em 1915 dono de uma importante vinícola, instalada em um “edifício vasto, cômodo e provido de bom maquinário”, e exportando dez mil barris por ano! 956 É evidente que uma empresa de tal porte não pode ter sido erigida em poucos anos, mas antes disso ele só é citado nos livros de impostos como ferreiro, açougueiro e carreteiro.957 Outro dado que corrobora indiretamente a existência da cantina é o fato de que pouco antes de falecer Osvaldo era o 9º maior pagador de impostos prediais de Caxias.958 É impossível crer que uma ferraria – que não era uma grande metalúrgica – um açougue e uma bodega tivessem dimensões físicas suficientes para gerar tanto imposto, numa época em que já havia diversas grandes empresas na zona urbana. Também foi o primeiro fabricante de fogões a lenha da cidade, como afirma Adami,959 mas penso que esta fábrica devia ser um departamento da ferraria. Seus negócios tiveram sucesso, e depois de um início difícil pôde chegar a viver com grande conforto. Como tinha cultura, Osvaldo serviu de professor para outros imigrantes, ensinando-os a ler e escrever e ofícios úteis. Foi membro fundador da Sociedade Príncipe de Nápoles e da Confraria do Santíssimo Sacramento, além de ser um dos fabriqueiros da primeira Matriz, mas nesta função permaneceu poucos meses.960 961 962

953

Gardelin & Balen, op. cit. Município de Caxias. Livros de Registro de Imposto sobre Indústrias e Profissões, 1892, 1893, 1900, 1903, 1905, 1907 955 Da Costa, Ana Elísia. A evolução do edifício industrial em Caxias do Sul, de 1880 a 1950. UFRGS, 2001 956 “Visitando lo stabilimento vinicolo del sig. Antonio Artico”. Città di Caxias, 14/10/1915 957 Município de Caxias. Livros de Registro de Imposto sobre Indústrias e Profissões, 1910, 1913, 1916 958 “Editaes”. Correio do Município, 07/01/1909 959 Adami, João Spadari. Festas da Uva 1881-1965. São Miguel, s/d. 960 Artico, op. cit. 961 Gardelin, Mário. “História de Caxias do Sul”. Folha de Caxias, 24/07/1989 962 Brandalise, op. cit. 954

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Sua única atividade documentada com fartura de registros é sua participação na construção da primeira Matriz de Caxias, um edifício muito modesto de madeira, levantado em 1888, e também da segunda Matriz (a atual Catedral), uma obra em alvenaria de grandes proporções, cuja ereção se deu a partir de meados de 1895, após a demolição da outra. A escavação do terreno para os alicerces estava concluída no fim do ano e em 5 de dezembro foi lançada a pedra fundamental. O trabalho de levantar a estrutura transcorreu com extraordinária rapidez e em meados de 1896 o edifício já estava coberto, embora ainda faltasse toda a decoração interna e o revestimento da fachada, que ainda levariam décadas para ser finalizadas. 963 Uma série de recibos referentes à contabilidade da Fabriqueria da Matriz, depositados no Arquivo Histórico Municipal, a maior parte deles escritos pelo próprio Osvaldo, vários listando em detalhe suas atividades e tarefas, mostram que entre 22 de maio de 1888 e 29 de dezembro de 1896 ele foi o fornecedor de todas as ferragens, ferramentas e outros equipamentos de ferro para as obras das duas Matrizes, incluindo pregos, pitões, argolas, cunhais, correntes, luminárias, cantoneiras, braçadeiras e barrotes; fechaduras, dobradiças, marcos, chaves e maçanetas de portas e janelas, a armação para as estruturas do coro e dos altares, além de fazer o conserto de equipamentos de ferro como carrinhos, baldes, ferramentas e outros. Esses documentos atestam uma participação fundamental ao longo de todos os trabalhos estruturais dessas duas igrejas. Dois desses recibos são mostrados em seguida. Além disso, sua assinatura consta na lista de doadores de dinheiro para as obras.

Em maio de 1909 faleceu, após longa doença, diagnosticada como asma cardíaca, sendo sepultado no dia 19, segundo o Registro de Óbitos do município.964 Este registro provavelmente é equivocado. Segundo a tradição ele faleceu no dia 21, e a imprensa corrobora esta data duas vezes. O caixão, coberto pela bandeira do Risorgimento, foi seguido por um cortejo que o jornal O Brazil declarou ser “um dos mais concorridos que temos visto”.965

963

Brandalise, op. cit. Município de Caxias. Registro de óbitos 1909-1934 965 “Necrologia”. O Brazil, 29/05/1909 964

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Nesta e na próxima página são mostrados dois recibos escritos e assinados por Osvaldo referentes ao pagamento de seu trabalho como ferreiro da Fabriqueria da Catedral. Acervo AHM.

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Município de Caxias. A Municipalidade de Caxias em Memória aos seus Pioneiros no Primeiro Cincoentenario de sua Fundação 1875-1925

Sua morte foi noticiada no jornal A Federação, da capital, citando-o como um dos fundadores da cidade.966 Foi também reconhecido como um dos fundadores em 1925, quando teve seu nome inscrito no Livro de Ouro da Municipalidade, cujo registro está acima. O funeral de sua mãe Celeste, sobre quem já nada se sabe, em 18 de julho de 1916, morta aos 95 anos, foi igualmente bem acompanhado, tendo gozado de “muita estima no vasto círculo de suas relações”.967 Depois da morte do marido, Magdalena foi viver com seu filho Antonio, e pouco antes de morrer foi viver com sua filha Celestina, então casada com Erico Raabe. Diz Osvaldo II (Osvaldino), filho de Augusto e seu neto: “Vinha religiosamente, todas as manhãs, para ver como estava a situação na casa do filho Gustelo [Augusto], depois se dirigia à casa da filha Maria, casada com Ricieri Serafini, com o mesmo objetivo, sempre vigiando, para saber se as coisas estavam no lugar. [...] No restaurante do meu tio Antonio ela controlava a cozinha. [...] A culinária era das tradições e costumes de minha avó Magdalena, trazidas da Itália, transmitidas às filhas e noras”.968 Já viúva e com a ajuda dos filhos, responsabilizou-se pelos cuidados do idoso Giovanni de Beni, ao que parece um íntimo amigo da família, que há tempo estava gravemente doente, recebendo agradecimentos na imprensa por ocasião de seu óbito em 1913, destacandose que envidara todos os esforços para mantê-lo confortável.969 Adami também lhe fez elogio como benemérita da Escola Normal, lembrando que as Irmãs Josefinas, as fundadoras e mantenedoras do educandário, a chamavam de Santola (madrinha), pois “aparecia na maior parte das vezes sem ser esperada, para ver e indagar das Irmãs do que mais careciam para provê-las da melhor forma possível”.970 São poucos os Nadal que chegaram a Caxias nos primeiros tempos. Gardelin & Costa só referem Domenico Nadal, filho de Domenico e Angela Daros, casado com Antonia Soldera, filha de Angelo e Catterina Garbelotto, fixados no lote 74 do Travessão Gablontz da 8ª Légua, hoje o distrito de Ana Rech.971 966

“Fallecimentos”. A Federação, 04/06/1909 “Fallecimentos”. O Brazil, 22/06/1926 968 Artico, op. cit. 969 “Após longos padecimentos...”. O Brazil, 09/05/1913 970 Adami, João Spadari. História de Caxias do Sul. Tomo III – Educação: 1877 a 1967. EST, 1981. 971 Gardelin & Costa, op. cit. 967

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Maria de Nadai. Foto família De Nardi. Ao lado, brasão Nadal.

Na forma De Nadai o nome só é atestado em Caxias para minha tataravó Magdalena, e para uma Maria, casada com Antonio de Nardi, que chegaram em 1878 e se fixaram no lote 131 da Linha Palmeiro da 1ª Légua, deixando grande prole,972 embora em outras cidades do Brasil o nome tenha numerosos representantes, especialmente no estado de São Paulo e alguns em outras partes do Rio Grande do Sul, que produziram vasta descendência. Até onde pude ver, praticamente todos os pioneiros procediam das imediações da cidade de origem de minha tataravó, e segundo fontes italianas a família tem uma origem única e nesta mesma região, 973 sendo pois todos parentes mais ou menos distantes. No Brasil produziram muitos representantes em evidência, como Diego, polêmico prefeito de Americana,974 e o padre José Arlindo, presidente do Conselho de Presbíteros da Arquidiocese de Campinas e objeto de um livro,975 e no Rio Grande do Sul, Celito, presidente do Comitato Veneto do Rio Grande do Sul; dom Paulo, cônego em Porto Alegre e afamado pela construção da Cidade de Deus, e dom Luiz Felipe, nativo de Guaporé, na região de colonização italiana, bispo de Uruguaiana, professor, fundador e diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras naquela cidade, pioneiro da educação pelo rádio e considerado homem à frente do seu tempo, um “irrequieto construtor de utopias, um animador cultural, um líder social, mas também um enérgico realizador”, como disse seu biógrafo Protásio Pletsch.976 977 Como não vieram homens, o sobrenome na forma De Nadai se extinguiu na cidade. Porém, os Nadal deixaram pequena descendência, podendo ser citado o irmão marista Sfredo, educador e ativo em uma grande região da Diocese de Caxias.978 É interessante assinalar que a Maria da 1ª Légua tem feições tão semelhantes às de minha tataravó que penso que devem ser irmãs ou primas. Se for o caso, possivelmente se deve a ela a atração de sua parente para Caxias em 1879.

972

Família de Nardi e Denardi. Árv Gen D N 01 - Antonio D N e Maria De Nadai. Schröder, op. cit. 974 “Diego De Nadai é afastado novamente da prefeitura de Americana”. Portal de Paulínia, 16/10/2014 975 Arquidiocese de Campinas. Padre José Arlindo de Nadai. 976 Clemente, Elvo & João, Faustino. História da PUCRS. Volume II. EdiPUCRS, 1997 977 Pletsch, Protásio. “Dom Luiz Felipe de Nadal”. In: Abrahão, Maria Helena Menna Barreto. Identidade e vida de educadores rio-grandenses: narrativas na primeira pessoa (e em muitas outras). EdiPUCRS, 2004 978 Trevisan, Albino. Respiga marista: educação e ação social marista no Rio Grande do Sul. EdiPUCRS, 2009 973

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O filho de Osvaldo e Magdalena 1) João Artico, nascido em 15 de outubro de 1892, casou com Ema Tomasi, não tendo filhos. Deles pouco se sabe. João foi ferreiro, tendo aprendido a profissão do pai. Uma foto num dos informativos da Metalúrgica Eberle atesta que trabalhou por algum tempo na primeira funilaria e ourivesaria de Abramo Eberle. A listagem eleitoral confirma sua profissão como ferreiro.979 Em 1911, quando contribuiu para a construção da escadaria da Catedral, é citado como titular de uma empresa, João Artico & Irmãos, 980 depois nomeada João e Augusto Artico & Cia. Certamente era a ferraria herdada do pai Osvaldo, pois sabese que Augusto também trabalhou principalmente neste ramo. Nas comemorações do Dia do Trabalho de 1913, em presença de grande número de operários, João fundou a sociedade 1º de Maio, destinada a comemorar a data todos os anos, sendo eleito seu primeiro presidente, em caráter interino, até que se escolhesse um nome definitivo. Possivelmente a iniciativa estava ligada ao movimento cooperativista, pois o encontro dos operários ocorreu depois de um evento que contou com a presença do Ema Tomasi e João Artico intendente e de Stefano Paternó, o principal proponente do cooperativismo no estado.981 Foi membro da Sociedade Príncipe de Nápoles, aparecendo no mesmo ano nas comemorações do 28º de fundação da entidade, quando elevou “magnífico brinde à memória dos heróis que no campo da Líbia depositaram suas próprias vidas no altar da Pátria [a Itália] para consagrar aquele valor que a história de todos os tempos faz refulgir em suas páginas de ouro”.982 Depois mudou-se para São Marcos, segundo a tradição, porque sua esposa, que trabalhava como parteira, havia sido convidada pela Intendência para socorrer o distrito, onde não havia nenhuma. Se o motivo real foi este é incerto, mas o fato é que Ema foi louvada por Luiz Rizzon e Osmar Possamai como uma das principais parteiras locais no livro História de São Marcos (Artexto, 2011). Das atividades de João nesta vila quase nada se sabe. Diz a tradição que foi uma espécie “faz-tudo”, dando grande ajuda a outros pioneiros do local, e como tinha educação, teria se tornado também o escrivão para muitos colonos analfabetos, escrevendo as cartas que ditavam e assessorando-os em suas necessidades juntos aos órgãos oficiais.

979

“Edital”. O Momento, 15/11/1937 “Escadaria da Igreja”. Cidade de Caxias, 30/09/1911 981 “1º de Maio”. O Brazil, 09/05/1913 982 “La rispetabile ed antica Società di Mutuo Soccorso”. Città di Caxias, 17/11/1913 980

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Foi um dos que enviaram cumprimentos a Otávio Rocha pelo sucesso da campanha eleitoral em São Marcos em 1924, 983 foi indicado suplente do juiz distrital em 1927;984 cumprimentou o prefeito Dante Marcucci no primeiro aniversário de sua administração em 1937,985 e assinou em 1941 a moção pública de aplauso à administração de seu sobrinho Osvaldo Mirim Artico como sub-prefeito de São Marcos, quando foi citado como operário.986 Os registros públicos, embora esparsos, indicam que ele manteve um envolvimento com a vida comunitária. Também foi citado algumas vezes enviando condolências aos familiares de amigos falecidos. Ema Tomasi, nascida em 15 de outubro de 1894, era filha de Carlota Libade (ou Libardi ?) e de Pedro Thomase (Tomasi),987 oleiro, fabriqueiro da Matriz por tempo indeterminado, renunciando ao posto em janeiro de 1917,988 morto antes de 6 de abril de 1936 e hoje nome de rua. Ema teve como irmãos:989 Pedro Filho; Francisco, conselheiro, diretor de expediente e vice-presidente da Sociedade Caxiense de Auxílio aos Necessitados e dirigente do Partido Libertador;990 991 Angelo, casado com Maria Bastiani;992 José, auxiliar do médico Antonio Juliolo;993 Elizabetha, casada com Ricardo Campagnolo, e mais duas irmãs de nome ignorado, casadas com o músico Angelo Chiarello e com Orencio F. dos Santos. Pedro Filho levou adiante a olaria da família, e quando inaugurou sua nova residência em 1939 a imprensa qualificou a empresa como “importante”.994 Outro irmão foi João, mas sua identidade é incerta. O nome João aparece ligado a duas ou três esposas, e não foi possível descobrir se são todos o mesmo: Maria Vacchi, uma irmã de Zulmir Fabris, e Angela, que pode ser a irmã de Zulmir. Angela foi mãe em 1912 de Hermelindo, alfaiate.995 A família Tomasi tornou-se tradicional, produzindo muitos membros conhecidos, a exemplo de Waldemar, ator amador; Zaira, Léa, Otávio e Nilo, todos das Diretorias do Guaracy Clube e do Recreio Guarany, que eram associações interligadas;996 997 998 999 Nilo foi também da Diretoria do Grêmio Atlético Eberle, da Associação dos Comerciantes e do Centro Cultural Tobias Barreto de Menezes, esta uma das mais importantes associações culturais da época.1000 1001 São nomes de ruas Pedro, Hermelindo, Cândida Tomasi Rossa, Rosa Maria Tomasi Mocelin e Joaninha Pierina Tomasi Hrast. 983

“Successão Intendencial”. O Brasil, 27/07/1924 “Supplentes de juiz districtal”. O Regional, 28/05/1927 985 “Ecos das Homenagens Prestadas ao Prefeito dante Marcucci, por Ocasião do terceiro Aniversário de sua Administração”. O Momento, 11/01/1937 986 “Expressiva Moção de Aplauso do Povo de São Marcos ao Sub-Prefeito Osvaldo Artico”. A Época, 06/07/1941 987 “Edital”. O Momento, 15/11/1937 988 “Fabriqueria da Igreja Matriz”. Città di Caxias, 22/01/1917 989 “Pelos cartorios". O Momento, 06/04/1936 990 “Sociedade Caxiense de Auxílio aos Necessitados”. O Momento, 17/06/1950 991 “Diretório Municipal do Partido Libertador de Caxias”. O Momento, 10/11/1945 992 “Notas Sociaes”. O Brasil, 05/08/1920 993 “Protesto de gratidão”. A Federação, 10/01/1906 994 “Churrasco”. A Época, 03/09/1939 995 “Edital”. O Momento, 02/08/1937 996 “O Guaraci Clube comemorou seu 6º aniversário”. A Época, 13/08/1939 997 “Recreio Guarani”. A Época, 06/07/1944 998 “Nova diretoria do Recreio Guarani”. A Época, 21/06/1942 999 “Pelas sociedades”. O Momento, 04/09/1943 1000 “Nova diretoria da Associação Comercial”. A Época, 14/01/1951 1001 “Centro Cultural Tobias Barreto de Menezes”. O Momento, 23/09/1940 984

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2) Antonio Artico foi membro da Banda Ítalo-Brasileira, carreteiro,1002 em 1907 começou a assumir os negócios de Osvaldo e entregou para seu irmão Augusto sua parte na ferraria, foi diretor da cantina após a morte do pai, tendo como sócio Augusto. Desde pelo menos 1905 foi membro do Diretório local do Partido Republicano RioGrandense,1003 em 1916 aparece como seu dirigente e tem a patente de major.1004 1005 Foi conselheiro do Círculo de São Luís, associação religiosa, noveneiro da festa do Divino,1006 e fez várias doações para a caridade. Durante muitos anos manteve o açougue herdado do pai1007 e foi sócio da grande carpintaria Lunardelli & Cia.,1008 mas acumulou capital principalmente com a indústria de vinho.

1002

Município de Caxias. Livros de Registro de Imposto sobre Indústrias e Profissões, 1910, 1913, 1916 “Os Republicanos e A Federação”. A Federação, 08/03/1905 1004 [Nota]. O Brazil, 07/09/1916 1005 “Estadual”. A Federação, 21/03/1916 1006 “Festa do Divino”. O Brazil, 22/05/1920 1007 “Caxias”. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1909-1920 1008 “Pelo commercio”. O Brazil, 02/04/1921 1003

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Ganhou medalha de ouro pelos seus vinhos na Exposição AgroIndustrial de 1916,1009 em 1917 é citado como comerciante de produtos coloniais e dono de uma tanoaria,1010 assumiu uma diretoria na Associação dos Comerciantes,1011 foi padrinho de casamento de Saturnino Ramos, então presidente da Associação; foi citado como “grande exportador”, fechando um negócio de 90 contos de réis em meio a uma crise no setor vitivinícola;1012 inaugurou um prédio novo para sua “importante cantina”,1013 e foi um dos representantes de Caxias em uma comissão para negociar com o Governo do Estado melhores condições para os transportes.1014 Em 1918 foi reconduzido à Diretoria da Associação dos Comerciantes 1015 e mostrou seus vinhos na Exposição AgroIndustrial de Caxias1016 e em uma grande feira organizada em São Paulo, destinada a reafirmar a qualidade do produto sulino.1017 Antonio produzia o vinho Asti, e em 1918 desfez a sociedade com Saturnino. Depois disso Antonio passou a produzir as marcas Aros e Sara. Em 1919 foi mencionado no Conselho Fiscal do E. C. Juventude,1018 fez parte da comissão organizadora das festividades comemorativas da reeleição do intendente Penna de Moraes,1019 e em 1920 seus vinhos receberam vários prêmios numa grande exposição agro-industrial em Porto Alegre. Foi o seu canto de cisne, pois em 1921 ele faliu. Em 1918 a cantina fora citada com um capital de apenas 20 contos de réis,1020 um valor expressivo em si, mas modesto para o que antes fora uma grande empresa, e provavelmente os problemas já vinham de anos. Também consta na tradição familiar que houve um conflito com Saturnino e depois com seu irmão Augusto, mas a história é obscura, havendo versões bastante divergentes. O provável é que houve causas combinadas. O setor do vinho estava em crise quase permanente no início do século XX, e é de admirar que tenham florescido tantas grandes cantinas na cidade, mas é sintomático que a maioria delas não durou muito. A sua situação pode ter sido agravada por uma ação de cobrança de honorários que alguns advogados lhe interpuseram,1021 e pela falência da firma Schio & Filhos, que aparentemente deu o empurrão que faltava para o despenhadeiro.

1009

“A Exposição”. O Brazil, 11/03/1916 Município de Caxias. Livros de Registro de Imposto sobre Indústrias e Profissões, 1917 1011 “Da distincta Associação dos Commerciantes”. O Brazil, 20/01/1917 1012 “A crise de barris”. O Brazil, 31/03/1917 1013 “Inauguração de uma cantina”. O Brazil, 30/06/1917 1014 “A crise dos transportes”. O Brazil, 28/07/1917 1015 “Associação dos Commerciantes”. Città di Caxias, 13/04/1918 1016 “Exposição”. Città di Caxias, 15/08/1918 1017 A Defesa dos Vinhos Riograndenses”. Città di Caxias, 01/08/1918 1018 “Foot-ball’. A Federação, 21/07/1919 1019 “Festejos”. O Brazil, 29/07/1920 1020 “Secção Commercial”. A Federação, 25/05/1918 1021 “Notas forenses”. O Brasil, 23/04/1921 1010

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O caso não é muito claro, mas ao que pude concluir, Antonio tinha uma participação expressiva no capital desta firma. Ela acabou tendo dificuldades e pediu falência em 1921, mas a falência foi judicialmente negada. Antonio abriu uma ação para compensar as perdas e danos que a negativa produziu, que aparentemente não deu em nada, e também pediu falência, que também foi negada.1022 Obviamente os prejuízos foram múltiplos. Ele hipotecou seus bens, e a hipoteca foi executada em 1922, tendo como credores o Banco da Província, Abramo Eberle & Cia., Raymundo Buratto, Secco & Cia., e a Companhia Indústria Riograndense. 1023 Para piorar, o leilão dos bens não teve licitantes1024 e provavelmente foram, como sempre acontece, entregues para os credores muito abaixo do seu valor. O fato é que perdeu inclusive o palacete onde morava. Diz seu sobrinho Osvaldino que depois ele alugou uma casa de madeira de dois andares na rua Alfredo Chaves, abrindo um restaurante e bodega no térreo e residindo no piso superior. A imprensa atesta o restaurante1025 e também que o estabelecimento era na verdade um hotel, chamado Hotel ou Pensão Artico, em cujo salão eram realizadas festas e banquetes.1026 Em 30 de janeiro de 1935 foi citado como ecônomo do Recreio da Juventude,1027 e faleceu em 6 de março de 1936, tendo 60 anos de idade.

1022

“Notas forenses”. O Brasil, 02/07/1921 “Notas forenses”. O Brasil, 25/03/1922 1024 “Notas forenses”. O Brasil, 26/08/1922 1025 “Caxias”. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1935 1026 “Aniversários”. O Momento, 05/09/1935 1027 “Enlace Artico Ferreira da Silva”. O Regional, 20/01/19135 1023

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Os filhos de Antonio Artico e Tereza Segalla: Rina, Norma, Graciema, Irma e Osvaldo Mirim.

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Thereza Segalla.

Sobre sua esposa, Thereza Segalla, nada se sabe em detalhe, levando uma vida toda dedicada ao lar. Suas únicas aparições na imprensa de algum significado são em 1912, quando recebe com todos os Artico agradecimentos pelos cuidados dispensados ao enfermo Giuseppe de Beni;1028 em 1917, quando se recupera de “melindrosa operação”,1029 em 1924, quando faz pequena doação ao Hospital Pompeia;1030 e em seu falecimento em 17 de abril de 1944. Cabem algumas palavras também sobre a família dela, que deu vários personagens destacados, como Luiz, Pedro e Angelo, nomes de ruas, o último “conceituado arquiteto e construtor”, “vastamente relacionado”;1031 Paulo, secretário do E. C. Juventude; 1032 Frederico, dirigente do Partido Libertador;1033 Rômulo, tesoureiro do Recreio Guarany e secretário da Liga Caxiense de Futebol;1034 1035 e o prestigiado ourives e escultor Bruno, que desde a juventude deixou fortes marcas na cidade. Bruno foi amigo e confidente de grandes políticos como Leonel Brizola e Luís Carlos Prestes, sendo perseguido e preso durante a ditadura. Tornou-se metalúrgico na Eberle e dedicou-se à gravação no setor artístico, produzindo placas e sobretudo medalhas, das quais muitas são verdadeiras obras-primas em miniatura, e que ainda permanecem como a parte mais interessante de seu trabalho. Sua habilidade era tamanha que podia escrever frases com mais de 130 caracteres na cabeça de um alfinete. Também fez peças para a Casa da Moeda do Brasil. Depois passou para a escultura, onde deixou grande produção, incluindo bustos e efígies de personalidades e monumentos públicos, dos quais o mais conhecido é o enorme Jesus do Terceiro Milênio, instalado em um mirante no Parque de Exposições da Festa da Uva. É hoje nome de uma avenida perimetral, e seu legado é preservado principalmente através do Instituto que leva seu nome. 1036 1037 1038 1028

“Agradecimentos”. O Brazil, 15/06/1912 “Acha-se em franca convalescença...” O Brazil, 03/02/1917 1030 “Hospital N. S. de Pompeia”. O Brasil, 14/07/1924 1031 “Falecimentos”. 30/03/1942 1032 “Notas Desportivas”. O Momento, 09/03/1942 1033 “Diretório Municipal do Partido Libertador de Caxias”. O Momento, 10/11/1945 1034 “Recreio Guarany”. O Momento, 10/08/1946 1035 “Liga Caxiense de Futebol”. O Momento, 03/05/1947 1036 Instituto Bruno Segalla. Bruno Segalla. 1029

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Nascido em torno de 1895, o único filho homem de Antonio e Teresa, Osvaldo Valentim Palmiro Artico, apelidado Mirim, também se tornou muito notório como uma das grandes figuras do futebol caxiense em seus primórdios, e depois como político e administrador bem-quisto pela população. Sua passagem pelo Esporte Clube Juventude desde os tempos de sua fundação já foi mencionada no Volume I, mas sua atuação no futebol é ainda mais antiga, tendo sido um dos fundadores, em 3 de outubro de 1910, do primeiro time de futebol da cidade, o Sport Club Ideal, Ver nota 1039 que teve breve existência, logo assimilado em 1913 pelo E. C. Juventude como seu departamento junior. Diz Adami sobre esta agremiação, da qual também participou: “Os do Ideal fizeram seus primeiros calções com sacos de linhagem, que tiravam de seus progenitores. Pois se lhes pedissem numerário para sua aquisição, lhes era negado na certa. No fundo dos ditos sacos, eram feitos os buracos para passar as pernas, e, na boca dos mesmos, amarravam uma corda qualquer, como se usa nos pijamas. Ficando, Osvaldo Mirim Artico. Acervo E. C. Juventude. assim, equipados, pelo menos até que seus pais e mesmo a população familiar caxiense, se acostumasse ver guris ou adultos mesmo com pernas à vista do respeitável público. [...] “Campos para jogarmos futebol, tínhamos diversos. [...] Dávamos preferência ao campinho existente no terreno dos Buratto, por estar ele situado a poucos metros da cervejaria Buratto, porque durante os intervalos de nossas partidas saboreávamos bebidas fabricadas naquele estabelecimento industrial, as quais eram vendidas a preço de fábrica. [...] Até então somente se dava chutes em bolas de panos, laranjas verdes ou em bexigas de animais. [...] “A 29 de junho de 1913 é fundado em Caxias do Sul o seu segundo clube de futebol, o Esporte Clube Juventude. O Juventude iniciou sua vida esportiva com quadros formados unicamente de adultos, quase sem conhecimentos apreciáveis em matéria futebolística. Pois, até então, tal esporte aqui estava sendo praticado somente por gurizada. Em face disso, a papada começou a nos fazer a corte. Desejavam-nos para seus filhotes por meio de uma fusão com os já tradicionais clubes de futebol – o Ideal e o Juventude. Diante das propostas feitas e do empenho que o E. C. Juventude fazia para nos ter em seu seio, o que julgamos honroso para nós, estudamos o assunto e

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“Obras em alfinetes de Bruno Segalla ganham espaço em exposição na Assembleia”. Promad, 25/08/2014 Cassol, Vânia. “Monumento Jesus do Terceiro Milênio completa dez anos”. Rede Sul de Rádio, 05/02/2014 1039 Os fundadores foram Julio Ungaretti (primeiro presidente), Osvaldo Artico, Auto Bragatti, Dário Ungaretti, Ângelo Rossi, Clodoveu Zatti, Ricardo Pieruccini, Fiovo Serafini, Salvador Bonalume, Dino Cia, Alcindo Chiaradia, Clodoveu Gaviolli, Iram Picolli, Ricardo Bortolin, João Spadari Adami e João Furlan. Apud Cruz, Priscilla Postali et al. “O futebol e a italianidade brasileira: a emergência da prática futebolística em Caxias do Sul”. In: Revista Didática Sistêmica, Edição Especial - Evento Extremos do Sul 1038

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chegamos à conclusão de que deveríamos ‘misturar os rodeios’. Como, de fato, ocorreu em outubro de 1913”.1040 Porém, a fusão não foi aceita de bom grado por todos da agremiação, e da controvérsia surgiu um outro time, o Esporte Clube Juvenil, ligado ao clube social homônimo. O Clube Juvenil já estava planejando criar uma equipe própria, mas com a debandada dos sócios solteiros, que criaram o Recreio da Juventude, a ideia havia ficado em suspenso. Assim, parte do Ideal aderiu ao E. C. Juventude recentemente fundado, e parte ao Clube Juvenil, que desta forma pôde realizar seus planos. 1041 Adami conta que o Mirim foi uma liderança no Ideal, e nas brigas que frequentemente aconteciam entre essa gurizada, quando a razão não bastava para decidir as disputas, ele se impunha valendo-se do seu cinturão de couro ornado com uma pesada fivela de metal, ameaçando seus oponentes com essa arma improvisada. Foi ele ainda, sendo membro também do E. C. Juventude desde o início [devia ser um dos mais velhos da turma do Ideal] quem intermediou a admissão formal dos integrantes do Ideal ao seu outro clube, como consta na ata relativa ao evento lavrada em 7 de outubro de 1913: “Pelo sócio Osvaldo Artico foram propostos os menores de 15 anos para formarem os filhotes do Esporte Clube Juventude: Dino Cia, Alcindo Chiaradia, Fiovo Serafini, Angelo Rossi, Dario Ungaretti, Ricardo Pieruccini, Iram Piccoli, Libório Lins, Domingos Spinelli, João Adami, Alfredo Adami, Ricardo Bortolin, Clodoveu Zatti, Manoel Falcunda, João Furlan, Auto Bragatti, Divino Quadri, Antonio Segalla e Américo Amoretti – os quais foram aceitos com visível boa vontade; foi também nomeado o mesmo sócio Osvaldo Artico para capitão-instrutor dos menores”.1042 Cruz et alii complementam a narrativa de Adami: “O S. C. Ideal foi uma iniciativa um tanto isolada, porém, muito significativa numa cidade conservadora onde até então os principais esportes a serem disputados eram o jogo de cartas, o jogo da ‘mora’ e o jogo da bocha. A instauração do S. C. Ideal acabou como o impulsionador e difusor da prática futebolística que, muito em breve, seria absorvida e disseminada como mais uma atividade de cunho social pelos clubes recreativos da cidade. [...] “Os primeiros jogos do S. C. Ideal eram realizados com a ‘gurizada’ das diferentes localidades de Caxias do Sul e, mesmo sem estruturação de campeonatos, geravam muita rivalidade entre os disputantes. [...] “Além da prática do futebol, o S. C. Ideal promovia em sua sede ‘matinés dançantes’ que mobilizavam os jovens da cidade. Essas matinés atraíam moços e moças de todas as partes da cidade e transpareciam alguns tópicos remanescentes na sociedade conservadora da época. [...] lembramo-nos perfeitamente em ter sido proibido, a um nosso associado tomar parte em nossas festas dançantes, enquanto não estivesse em condições de satisfazer o regulamento do clube, o qual era de existir entre o corpo dos bailarinos, o espaço mínimo de um quarto de metro e, o de manter, o 1040

Adami, João Spadari. História de Caxias do Sul. Tomo IV – Sociedade. Editora São Pedro, 1966 Adami (1966), op. cit. 1042 Apud Adami (1966), op. cit. 1041

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cavalheiro, o corpo em atitude como se tivesse engolido, antes de entrar no salão, um reto e resistente cabo de vassoura. (ADAMI, 1966. p. 34) “O rigor de comportamento exigido dos jovens que participavam das festas é uma das práticas da época que revelam uma sociedade pautada fundamentalmente pelos valores da religião católica: a Igreja regulava a vida cotidiana desse grupo, afirmando valores de trabalho, de desenvolvimento e, principalmente, a moralidade. A prática do futebol, que iniciara causando certa descompensação nos moradores da cidade, Ver nota 1043 se vinculava desde os seus primórdios às práticas sociais na cidade de Caxias do Sul. Assim, foi atraindo a atenção e se difundindo entre a população, passando a ser visualizado como mais uma ferramenta de construção e reafirmação da identidade dos imigrantes. Dessa maneira, o futebol se instaura no cotidiano da cidade, tendo sua história diretamente relacionada com os clubes recreativos de Caxias do Sul. Como os clubes sócio-recreativos eram instituições que construíam e reafirmavam a identidade étnica ítalo-brasileira dos moradores da cidade, o futebol tornou-se mais um disseminador dos valores morais e da concepção de trabalho dos imigrantes que elevaram a Vila Caxias à condição de cidade”.1044 O Mirim, como já foi dito de passagem no Volume I, foi também um grande jogador do Esporte Clube Juventude, diretor de Campo em 1915,1045 chegando a ser presidente do clube em 1917 e capitão em 1917 e 1918,1046 chamado de “imortal” por Michielin. Descrevendo o jogo contra o Cruzeiro em 1918, o cronista assim fala dele: “O Juventude, que geralmente arrasava os seus visitantes, não fez por menos, desconhecendo inteiramente o Cruzeiro. Passou por cima, com uma vitória magnífica, por três a um, tendo Mirim Artico, Valiera e Gabriel Sartori, com exibições fantásticas, sido os autores dos tentos”. 1047 Sobre a partida contra o 14 de Julho de Livramento, na temporada de 1919, ele diz: “Osvaldo Artico, depois de sete temporadas seguidas, está no auge de sua classe, jogando com uma gana incrível. Sua raça é indomável, não há leão que o assuste. Toma conta do campo e marca o terceiro e quarto tentos. No placar, Ju 4x1. É uma loucura. [...] Por anos e anos, na verdade, o feito seria relembrado, enchendo de nostalgia o coração dos saudosistas. Os jornais da capital não se furtaram em elogios e durante várias semanas, em Caxias, não se falava de outra coisa. Por ter amassado o grande Leão da Fronteira, o Juventude foi batizado de Arranca-Jubas”. 1048 Como o futebol naqueles tempos não dava dinheiro, para viver o Mirim abriu uma bodega e comércio de secos e molhados,1049 porém sua associação com o Juventude e o futebol em geral continuou por longos anos.

1043

Refere-se à prática do esporte usando calções que deixavam as pernas nuas, o que era considerado uma indecência. 1044 Cruz, Priscilla Postali et al. “O futebol e a italianidade brasileira: a emergência da prática futebolística em Caxias do Sul”. In: Revista Didática Sistêmica, Edição Especial - Evento Extremos do Sul 1045 “La rispetabile segretaria del Club Juventude”. Città di Caxias, 21/06/1915 1046 “Notas sportivas”. O Brazil, 20/07/1918 1047 Michielin, op. cit. 1048 Michielin, op. cit. 1049 “Caxias”. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1931

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O time do Juventude no clássico contra o Livramento, quando além de Osvaldo fazia parte também Gabriel Sartori, filho de Ludovico. Foto em Adami (1966).

Em 1924 estava no Conselho Fiscal do Juventude, em 1933 e 1934 no Conselho Técnico,1050 1051 ainda em 1934 foi um dos fundadores e primeiro presidente da Liga Interna Caxiense de FootBall, depois renomeada Liga Esportiva Caxiense, em 1935 recebeu homenagens pelos 25 anos de seu ingresso na vida esportiva e foi capitão geral do Juventude, 1052 1053 em 1936 repetiu a dose e foi juiz da Liga Esportiva, 1054 1055 e em 1938 foi diretor Técnico do Juventude. 1056 Também deixou sua marca nos clubes sociais, sendo um dos fundadores do Recreio da Juventude em 1912,1057 e em 1938 assumiu a secretaria do Recreio Guarany.1058 Em 1939 mudou-se para o distrito de São Marcos, convidado a ocupar a sub-prefeitura, e em sua despedida recebeu homenagens da comunidade caxiense pela colaboração em seu desenvolvimento social e na promoção do esporte. 1059

1050

“Esporte Clube Juventude”. O Momento, 22/02/1933 “S. C. Juventude”. O Momento, 15/03/1934 1052 “Jubileu Esportivo”. O Momento, 14/01/1935 1053 “S. C. Juventude”. O Momento, 14/02/1935 1054 “Sport Club Juventude”. O Momento, 30/03/1936 1055 “Liga Esportiva Caxiense”. O Momento, 01/06/1936 1056 “Esporte Clube Juventude”. O Momento, 07/02/1938 1057 Recreio da Juventude. Histórico. 1058 “Recreio Guarani”. O Momento, 28/02/1938 1059 “Homenagem”. A Época, 23/04/1939 1051

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Em sua nova localização desempenhou outros papéis de relevo, sendo um dos responsáveis pelo Diretório Municipal de Geografia, vinculado ao Conselho Nacional de Geografia, 1060 presidiu a cerimônia de fundação da Associação Rural 1061 e a comissão que organizou os exames finais de 1940 de todas as escolas do distrito,1062 foi um dos fundadores e primeiro vicepresidente da Liga de Defesa Nacional,1063 e um dos fundadores em 1939 e primeiro presidente honorário do Grêmio Americano, sendo reconduzido à Presidência Honorária em 1941 e 1942.1064 1065 Seu trabalho como subprefeito foi aclamado, sendo chamado de “patriota a serviço da causa pública”.1066 1067 1068 Ao mesmo tempo, foi um dos fundadores, dirigente e oficial do Tiro de Guerra 248, com a patente de capitão,1069 1070 e um dos organizadores de uma grande quermesse que encerrou as comemorações dos 28 anos do Juventude em 1941.1071

1060

“Um ofício do Conselho Nacional de Geografia”. A Época, 09/06/1940 “Fundada uma Associação Rural em São Marcos, Distrito de Caxias”. A Época, 20/10/1940 1062 “São Marcos”. A Época, 22/12/1940 1063 “Liga de Defesa Nacional em São Marcos”. O Momento, 29/03/1943 1064 “Notícias de São Marcos”. A Época, 29/06/1941 1065 “Aniversário do Grêmio Americano”. A Época, 14/06/1942 1066 “Notícias de São Marcos”. A Época, 27/08/1939 1067 “Notícias de São Marcos”. A Época, 12/05/1940 1068 “Festa do Grêmio Americano”. A Época, 28/07/1940 1069 “Tiro de Guerra 248”. O Momento, 21/06/1941 1070 "Notícias de São Marcos". A Época, 12/05/1940 1071 “28º Aniversário do Juventude”. A Época, 26/06/1941 1061

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A Época, 06/07/1941

Depois transferiu-se para o distrito de Ana Rech, onde também foi sub-prefeito,1072 vindo a batizar ali uma rua. Da sua esposa, Erci Sturtz, pouco se sabe. Apareceu uma vez na crônica social comemorando seu aniversário, homenageada com “lauta mesa de doces e líquidos” na sede do Grêmio Americado de São Marcos,1073 foi citada com o marido entre os devotos de Nossa Senhora de Caravaggio em Ana Rech,1074 e deve ter levado uma vida basicamente voltada ao lar, mas foi citada como possuindo “vasto círculo de simpatia e amizades”. 1075

1072

“Reunião de sub prefeitos com o sr. Luciano Corsetti”. A Época, 05/09/1948 “São Marcos”. A Época, 11/08/1940 1074 Dall’Alba, João Leonir et al. História do Povo de Ana Rech. Volume I – Paróquia. EDUCS, 1987 1075 “Notícias Sociais e Esportivas de São Marcos”. A Época, 27/10/1940 1073

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Reprodução de Adami de matéria publicada no Pioneiro em 19 de novembro e 12 de dezembro de 1960, quando foi realizada uma confraternização comemorativa da história do Ideal. Osvaldo Artico está sentado, com a gravata borboleta que se tornou sua marca registrada.

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Os filhos Ervaldo e Juarez também permaneceram ligados ao Juventude. Ervaldo foi jogador e chegou a atuar no time principal, conhecido pelo apelido de Nenê. Juarez também jogou e depois passou por funções administrativas, chegando a ser diretor administrativo, diretor dos juniores, vice-presidente de Futebol e presidente do Conselho Deliberativo. Foi também gerente de compras da Guerra Implementos Rodoviários por 35 anos.1076 1077 Um Américo Artico, que em 1937 estudava no Colégio Elementar, 1078 deve ser outro filho, mas nenhum outro registro foi encontrado sobre ele. Das irmãs do Mirim, a) Ilda Artico faleceu na infância.1079 b) Irma Artico, nascida em 29 de fevereiro de 1906, casada com Edemor Ferreira da Silva, não deixou registros públicos significativos e dedicou-se ao lar. c) Norma Artico, aluna destacada com menção honrosa no Colégio São José, 1080 veio a se casar com Mansueto dal Molin, “conceituado industrialista” e dono de uma oficina mecânica que fazia negócios de vulto. Em junho de 1946, poucos dias depois de ser elogiosamente citado na imprensa, Mansueto foi envolvido em uma disputa judicial com a Mosele & Cia. Ltda.1081 1082 1076

Michielin, op. cit. Provin, Fabiano. “Filho da Genealogia Alviverde”. In: O Caxiense, 2010, I (13):21-22 1078 “Colegio Elementar”. O Momento, 11/01/1937 1079 “Agradecimento”. O Brazil, 04/12/1909 1080 “Collegio S. José”. O Brazil, 14/12/1911 1081 “Edital”. O Momento, 08/06/1946 1082 “Protesto contra a alienação de bens por Mansueto dal Molin”. O Momento, 06/07/1946 1077

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Não obstante, ainda no mesmo mês de junho ele aparece instalando uma grande fábrica de máquinas e balanças em Canoas.1083 No ano seguinte, mudandose definitivamente para Canoas, ele fez uma cordial despedida pública aos seus amigos e fregueses de Caxias, e ao que parece a antiga controvérsia estava resolvida. 1084 Sua filha Zilah dal Molin, “prendada” e “gentil senhorinha”, foi citada nas crônicas sociais. 1085 1086 Casou-se com Solon Feliciano da Silva e começou uma carreira como professora de Educação Física na Escola Sarmento Leite em Porto Alegre. Voltando para Canoas, assumiu novas classes e em 1967 foi indicada diretora da Escola Estadual Carlos Chagas, onde permaneceu até aposentar-se, enquanto paralelamente desempenhava a função de delegada do Sindicato dos Professores Particulares do estado. Foi eleita vereadora em 1977, recebendo um diploma de Honra ao Mérito, depois virando nome de rua.1087 d) Magdalena Graciema Artico, conhecida apenas como Graciema, foi estudante aplicada do Colégio São José, recebendo menção honrosa no fim do ano letivo de 1911,1088 depois apareceu na crônica social, Graciema Artico Stoll especialmente em atividades ligadas ao E. C. Juventude. 1089 1090 Casou em 1921 com Roberto Henrique Stoll, ao que parece sócio minoritário do Banco da Província e citado na crônica social em Caxias como viajante; provavelmente era representante comercial.1091 1092 Nada mais encontrei sobre eles. e) Rina Artico, madrinha de minha mãe, apareceu em colunas sociais e participou do Éden Juventudista, sendo conselheira em 1927.1093 1094 1095 1096 Casou-se com Ernani Bento Alves, gerente por muitos anos da Rádio Difusora Caxiense;1097 foi sócio da firma comercial familiar Calixto Bento Alves & Irmãos, e depois sócio majoritário da sucessora Ernani Bento Alves & Irmãos, que mantinha o Café e Confeitaria América, vendido mais tarde a Ernesto Bordignon.1098 1083

“Nova Indústria de Máquinas e Balanças Dal Molin Ltda.” O Momento, 29/06/1946 “Participação e agradecimento”. O Momento, 17/05/1947 1085 “Aniversários”. O Momento, 01/06/1946 1086 “Aniversário”. O Momento, 01/06/1933 1087 Fiorotti, Ivo. Guia das Ruas do Residencial Morada das Acácias. AMPRUMA, 2019 1088 “Collegio S. José”. O Brazil, 14/12/1911 1089 Michielin, op. cit. 1090 “Foot-ball”. Città di Caxias, 05/10/1918 1091 “Pic-Nic”. Città di Caxias, 09/03/1918 1092 “Hotel Pezzi”. Città di Caxias, 11/11/1918 1093 “Vida Social”. A Época, 18/12/1938 1094 “Aniversarios”. A Época, 17/12/1939 1095 “Aniversarios”. A Época, 07/12/1941 1096 Lopes, Rodrigo. “Vico Thompson e o Éden Juventudista”. Pioneiro, 26/12/2014 1097 Rádio Difusora Caxiense Ltda. Histórico. 1098 “Declaração”. O Momento, 23/05/1938 1084

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Norma, Irma e Rina Artico.

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Ernani montou em seguida uma grande imobiliária, responsável pela fundação do balneário de Areias Brancas, no município de Torres, empreendimento em parceria com os Buratto e os seus concunhados Raabe, com interesses também em Caxias e região. Foi secretário da Associação dos Comerciantes,1099 1100 e foi honrado com uma novena especial na Festa do Divino de 1936.1101 Hoje é nome de rua. A Rádio fora fundada por seu irmão Rubem, que foi também o primeiro tesoureiro do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares da Região Uva e Vinho,1102 vereador e prefeito de Caxias, ocupando-se principalmente em obras de urbanização.1103 Renunciou após dois anos para concorrer a deputado, sendo eleito para a Assembleia do Estado e depois para a Câmara Federal. Ao fim do mandato, foi indicado para a Presidência do Banco do Estado do Rio Grande do Sul no governo Brizola,1104 1105 1106 dando seu nome a uma avenida e uma escola. Depois do falecimento de ambos, a Rádio passou a ser dirigida pelo seu irmão Raul.

Ernani e Rubem Bento Alves. Fotos da Rádio Difusora.

1099

“Reeleita a Diretoria da Associação Comercial de Caxias do Sul. A Época, 01/01/1949 “Praia Areias Brancas”. A Época, 06/12/1953 1101 “Festa do Divino”. O Momento, 25/05/1936 1102 “65 Anos de Comprometimento”. Sindicato Empresarial de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares da Região Uva e Vinho 1103 Giron, Loraine Slomp. “Caxias Centenária: de Campo dos Bugres a Município (1875-2010). História Daqui, 05/10/2013 1104 Memorial da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Relação de Integrantes (31/01/ 1951 – 31/01/1955). 1105 Sperb, Paula. “Prefeitos de Caxias do Sul desde o início da colonização”. Revista O Caxiense, s/d. 1106 “Deputado deveria se licenciar para concorrer?” Gazeta de Caxias, set/2012 1100

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Mariota Artico Serafini

3) Maria Artico (Mariota) passou a vida voltada ao lar. Foi casada com Rizzieri Serafini (Rizieri, Risieri, Ricieri), que por toda a carreira se dedicou à metalúrgica de Abramo Eberle, chegando à importante função de chefe das oficinas, ganhando de Abramo um relógio de ouro quando completou 25 anos de casa, em festa que comemorava ao mesmo tempo o 60º aniversário do ilustre fundador.1107 1108 Foi também membro do Comitato Italiano Pro Patria,1109 grande jogador de bocha e bolão, tesoureiro, conselheiro e presidente do Grêmio Atlético Eberle, outro dos populares times de futebol da cidade nos áureos tempos do amadorismo, sendo citado na imprensa em sua posse na Presidência do clube como “entusiasta desportista local”, “nome de valor e sobejamente conhecido”, e “trabalhador incansável pelo esporte citadino”,1110 1111 1112 1113 sendo hoje nome de rua.

1107

“Vida Social”. A Época, 15/10/1938 “Ainda o 60º Aniversario do Snr. Abramo Eberle”. O Momento, 14/04/1940 1109 “Comitato Italiano Pro-Patria”. Città di Caxias, 12/07/1915 1110 “O Grêmio Atlético Eberle na Palavra do Seu Ilustre Presidente”. O Momento, 09/04/1939 1111 “O Grêmio Atlético Eberle tem nova diretoria”. A Época, 08/03/1942 1112 “Grêmio Atlético Eberle”. O Momento, 09/03/1942 1113 “Grêmio Atlético Eberle”. O Momento, 13/04/1942 1108

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Rizzieri Serafini, Alberto Bellini e Erico Raabe trabalhando na Metalúrgica Eberle. Acervo do AHM.

A Equipe Gaucha de Bolão, associada ao Clube Juvenil, em 1947. Na fila da frente, da esquerda para a direita, vemos Alfredo 309 Juchen, José d’Arrigo, Guilherme Rizzo, José Cosner, Julio João Eberle e Américo Ribeiro Mendes. Na fila de trás estão David d’Agostini, Ettore Lazzarotto, Ari Zatti Oliva, Heráclito Limeira, o senhor Vagliatti, João Cosner, Rizzieri Serafini e José Sassi. Foto de Giacomo Geremia, acervo do Arquivo Histórico Municipal.

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Rizzieri era filho de Mansueto Serafini e Tereza Chiaradia, e teve os irmãos Amadeu, Gilfroi, Serafim, Hilaga (Hilário), Fani e Isolina. Do segundo casamento de Mansueto, com Giacinta Giovinardi, nasceu Fiovo.1114 a) Amadeu, casado com Adelia Spagnol, morreu cedo, com 36 anos.1115 b) Gilfroi foi comerciante, casado com Ida Spinatto, e sua filha Vera foi citada na crônica social.1116 Vera foi professora, e casou-se com Aldo Innocente Rosinato, empresário e da Diretoria do Departamento de Bochas do Recreio Guarany,1117 tendo os filhos Carlos; Vera Beatriz, casada com Paulo Zugno, professor de Filosofia na UCS; Maria Paula, casada com Eduíno Menegat, líder do famoso conjunto musical Itamone; Alda Helena; Tania Mara, e Ana Elysa. c) Serafim foi funcionário da Metalúrgica Eberle. d) Fani, casada com um Stumpf, teve prole numerosa. e) Isolina, casada com um Assis, teve a filha Ida, criada por Gilfroi, casada com Angelo Calcagnotto, viveram no Rio de Janeiro. 1118 f) Hilário radicou-se em Guaporé, casado com Matilde Spagnol. Teve os filhos Alcides e Araci (Nilze), mostrados ao lado. f1) Alcides casou-se com Branca Lia Fonseca, e foram pais de Beatriz, Paulo, empresário, Heraldo, e Sérgio. f2) Araci foi casada com Attilio Veronese, gerando Matilde, Maria Helena e Paulo. Attilio foi notado industrial, sócio-gerente da Veronese & Cia., grande empresa familiar, participou da construção de estradas na região, foi presidente dos conselhos fiscais do Aero Clube e, por muitos anos, do Recreio Guarany,1119 1120 e um dos fundadores do Rotary Clube Caxias do Sul,1121 hoje batizando o Centro Social do Centro de Atividades nº 08 do Sistema FIERGS.1122 A Veronese & Cia., teve grande participação no crescimento da cidade. Diz Rodrigo Lopes: “Uma das empresas mais longevas da história de Caxias do Sul, a Veronese Produtos Químicos teve importância fundamental no desenvolvimento da vitivinicultura na Serra. E segue com avanços compatíveis à própria trajetória: uma arrojada nova fábrica em breve deve ser construída no Km 188 da Rota do Alcides e Araci Serafini. Foto da Família Serafini. Sol, entre a localidade de Apanhador e o distrito de Lajeado Grande. O complexo substituirá as pioneiras instalações que, desde o início do século passado, ocupam parte do quarteirão envolvendo as ruas Vereador Mário Pezzi, Ernesto Alves, Vinte de Setembro e Treze de Maio – os prédios, incluindo a chaminé, serão preservados e arrendados. A Veronese foi fundada em 1911, após a visita do filho de imigrantes italianos Luiz Veronese à Itália para estudos e compra de maquinário. O empreendedor buscava agregar valor ao vinho produzido na região, por meio de novas técnicas de vinificação e da adoção de corretores químicos. Através de produtos como o cremor de tártaro, liberado a partir da fermentação do

1114

Serafini, José Enio. Família Serafini: Genealogia. EA, s/d. “Agradecimento”. O Momento, 22/08/1938 1116 “Secção Social”. O Regional, 07/05/1927 1117 “Recreio Guarany”. O Momento, 21/07/1945 1118 Serafini, op. cit. 1119 “Recreio Guarany”. O Momento, 05/07/1937 1120 “Aero Clube de Caxias”. O Momento, 20/02/1943 1121 Rotary Clube Caxias do Sul. Sócios Fundadores. 1122 FIERGS. Cat 08 - Caxias do Sul 1115

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vinho, o engenheiro verificou que poderia também produzir insumos para as indústrias de alimentos e de bebidas. Iniciava aí uma trajetória que tornaria a Veronese uma marca de referência no segmento”.1123 A esta família também pertenceu Nelly Veronese, sobrinha de Attilio e filha de Luiz, o fundador da empresa, que se tornou professora, intelectual, poetisa, cronista e historiadora, e a mais incansável batalhadora pela criação da Academia Caxiense de Letras, e hoje é nome de rua. Sua mãe Antonieta também se tornou distinguida professora.1124 g) Fiovo participou da fundação do E. C. Ideal e jogou no E. C. Juventude, mas ainda jovem se mudou para Lages, estado de Santa Catarina, onde casou-se com Zulmira Muniz, tendo os filhos Lélia Leny e César Flávio. Depois voltou a Caxias com a família, onde Fiovo foi barbeiro, agente de loterias, adepto da bocha,1125 e ganhou a fortuna de duzentos contos de réis na loteria.1126 g1) Lélia Leny, professora de português e literatura na Escola Normal Duque de Caxias,1127 bibliotecária e diretora de escola, lembrada como cultíssima, exímia na arte de escrever e dona de uma oratória que emocionava seus ouvintes; casou-se com Ari Alberti e teve os filhos Rudyard e Andyara.1128

Acima, croqui da Veronese & Cia. nos anos 60. Fonte: Pioneiro. No meio, Fiovo Serafini e sua família. Foto da família Serafini. Abaixo, César Serafini, foto em entrevista na Revista da AABB, 1963; II (12):10-12.

g2) César Flávio tornou-se conceituado médico cardiologista, casado com Josefina Bisol (Niva), “fino ornamento da sociedade caxiense”;1129 seu falecimento foi lamentado pela Câmara Municipal com um Voto de Pesar. 1130 O casal teve os filhos Cláudio, Heloísa, Álvaro, professor na Universidade de Santa Catarina, e Paulo César. 1131 1123

Lopes, Rodrigo. “Veronese, um século de história”. Pioneiro, 13/05/2014 Mascia, José Antônio Veronese. “O italiano que está em mim”. Correio Riograndense, s/d. 1125 Serafini, op. cit. 1126 “Dois mil contos para Caxias”. O Popular, 12/12/1929 1127 Bergozza, Rosali Maria. Escola Complementar de Caxias: histórias da primeira instituição pública para formação de professores na cidade de Caxias do Sul (1931-1950). Dissertação de Mestrado. UCS, 2010 1128 Serafini, op. cit. 1129 “Noivado”. O Momento, 08/05/1948 1130 Câmara Municipal de Caxias do Sul. VOTO nº VP-32/2009 1131 Serafini, op. cit. 1124

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Paulo César, médico ginecologista e endocrinologista de grande reputação, é considerado um dos maiores especialistas em fertilização in vitro do mundo,1132 Livre Docente na área de Medicina Reprodutiva pela Universidade de São Paulo, pesquisador com vasta literatura científica publicada, membro do corpo editorial de várias revistas especializadas, diretor clínico da Huntington Medicina Reprodutiva em São Paulo, do Setor de Reprodução Humana do Hospital e Maternidade Santa Joana e do Hospital Samaritano. Coordena a área de pesquisa do Centro de Reprodução do Hospital Mário Covas e é Professor da Universidade de São Paulo e tem numerosas distinções concedidas por instituições de prestígio, como a American Society for Reproductive Medicine, a American Association of Gynecologic Laparoscopists, a International Society of Gynaecological Endocrinology, além de receber os prêmios Anibal Acosta e Wyeth.1133 Rizzieri e Mariota tiveram os filhos: a) Oscar Serafini, médico e nome de uma rua, casado com Lilia Turra. b) Osvaldo Serafini, nascido em 5 de julho de 1913, comerciante, aparentemente radicado em Guaporé. A imprensa dá duas esposas para ele: Tereza e Antonieta Zanardi. Teve os filhos: b1) Osvaldo André Serafini, médico, membro da seccional gaúcha da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBTO-RS), com destacada atuação em sua especialidade, sendo Acima, Paulo César Serafini, foto da USP. Abaixo, Osvaldo editor da Revista da SBTO-RS, presidente da André Serafini, foto de Marcos Nagelstein/Jornal do Comércio. Comissão de Defesa Profissional da entidade, professor de Ortopedia, Traumatologia e Cirurgia e chefe do Grupo de Quadril e Tumores Ósseos do Serviço de Ortopedia e Traumatologia na Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, e já apareceu várias vezes na imprensa esclarecendo questões trazidas pelo público leigo, além de ser ativo em ações sanitárias interligadas ao governo municipal.1134 1135 1136 1137 1138.1139 1140 1141 É casado com Luiza, com os filhos Diego e Débora. 1132

Sá, Nelson de. “Doutor Vida”. Revista da Folha, 26/05/96 USP. Paulo Cesar Serafini. 1134 “Programa de Interiorização visita Caxias do Sul”. In: Revista da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia - RS, 2013; XIII (58):4 1135 “Dr. Osvaldo André Serafini”. ABC da Saúde, 2014 1136 Fraturas. Hospital São Lucas - PUCRS 1137 “Milagre da Copa: especialista explica os diferentes tipos de mobilidade reduzida”. Zero Hora, especial, s/d. 1138 Paranhos, Fábio. “Revista destaca ações de saúde em Porto Alegre”. Assessoria de Imprensa da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 02/05/2013 1139 “Traumatologia”. CREMERS, 21/09/2009 1140 “Por que sentimos um choque ao bater o cotovelo?”. Terra Notícias, s/d. 1133

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Na fila de trás: Oscar Serafini, Osvaldo Serafini, Bruno Serafini, Mansueto Homann, Darwin Corsetti e Homero Serafini. Na terceira fila: Mansueto Serafini, Tereza esposa de Osvaldo, Teresinha Pretto Serafini, esposa de Bruno, Yone Serafini Homann, Tereza Serafini Corsetti, Isabel Miguel Serafini, esposa de Homero, e Italo Serafini. Sentados: Mônica e o pequeno Edson, Rissieri Serafini Neto, filho de Italo, Mansueto Serafini Filho, Mariota Artico Serafini com a pequena Marta, filha de Italo, Rizzieri Serafini com o pequeno Eduardo, filho de Bruno, Magda e Marilen, filhas de Italo, e Guiomar Menegotto Serafini, esposa de Italo, com o filho Walter no colo. No chão as crianças Nelson, filho de Italo, Vernei, Darwin João, Adriane, filha de Mansueto Homann, Ieda, filha de Darwin, e Margô, filha de Italo.

b2) Rosane Serafini, casada com Paulo Augusto da Costa Casa Nova, estabelecidos em Porto Alegre, com as filhas Maira, Andressa e Camile. Paulo é membro do Conselho Federal de Educação Física,1142 e Rosane ganhou notoriedade como jurista. Tornou-se juíza do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT IV), atuando em Rio Grande, Uruguaiana, Carazinho, Montenegro e na 4ª e 7ª Varas de Porto Alegre. Foi vice-presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho – 4ª Região (AMATRA IV), juíza diretora do Foro de Porto Alegre, vice-corregedora regional, vice-presidente do TRT IV, vice-presidente da Seção de Dissídios Coletivos, deu aulas de Prática de Sentença do Curso Regular de Preparação à Magistratura do Trabalho na Fundação Escola da Magistratura do Trabalho do Rio Grande do Sul João Antônio Guilhembernard Pereira Leite, criada no âmbito da AMATRA IV, e atualmente é desembargadora federal do Trabalho e preside a 1ª Turma e a Comissão de Orçamento, Finanças e Planejamento Estratégico, integrando o Órgão Especial e a 2ª Seção de Dissídios Individuais do TRT IV.1143 1141

“Hospital São Lucas: ensino e assistência lado a lado”. Jornal do Comércio, 18/10/2010 Conselho Federal de Educação Física. Resolução CONFEF nº. 012/99, Rio de Janeiro, 29/10/1999 1143 Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região. Rosane Serafini Casa Nova, 19/12/2013 1142

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Rosane integrou a primeira administração na história do TRT IV composta apenas por mulheres,1144 e tem demonstrado especial interesse pelo problema do trabalho infantil, sendo uma das gestoras do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil da Justiça do Trabalho no TRT-RS.1145 1146 1147 Em seu artigo Criança não Trabalha! Rosane expressou algumas das questões centrais do problema: “O Brasil tem cerca de 3,2 milhões de pequenos trabalhadores. E o Rio Grande do Sul, segundo a última Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2013, possui 3 mil trabalhadores entre 5 e 9 anos de idade, 52 mil entre 10 e 14 anos e 160 mil entre 15 e 17 anos. O nosso país assumiu perante a comunidade internacional o compromisso de erradicar as piores Rosane Serafini Casa Nova, foto do Tribunal Regional formas de trabalho infantil até 2015 e todas as do Trabalho da 4ª Região. formas até 2020. Temos, portanto, um longo caminho a perseguir. E isso só será possível se pudermos conscientizar a todos da necessidade de cumprimento do artigo 227 da Constituição Federal, que assegura cuidado e proteção integral das crianças e dos adolescentes, pelas famílias, pela sociedade e principalmente pelo Estado. [...] Precisamos desconstruir discursos e mitos de que o trabalho infantil possibilita um futuro melhor para as crianças e adolescentes, sendo elemento regenerador da infância pobre. Todas as pesquisas e estatísticas, no entanto, demonstram exatamente o contrário, no sentido de que o trabalho infantil é fator de exclusão social e acaba por reproduzir a pobreza”.1148 Em sua gestão como vice-presidente do TRT IV colaborou em vários progressos na instituição, entre eles a instalação de mais sete Varas do Trabalho, a implantação no sistema do Processo Judicial Eletrônico, a ampliação do quadro de desembargadores de 36 para 48 componentes, a abertura da Seção Especializada em Execução o reforço no quadro de juízes, a revisão do Plano Estratégico para o período até 2015, o lançamento do Programa Trabalho Seguro, do Fórum de Relações Institucionais, do Banco de Boas Práticas, um site na intranet de referência, que reúne experiências que simplificaram atos processuais ou melhoraram a gestão das unidades judiciárias. Dando continuidade ao seu Plano de Obras, o TRT da 4ª Região concluiu as obras do Anexo Administrativo do TRT IV, inaugurou um novo prédio próprio da Vara do Trabalho de Palmeira das Missões e lançou as pedras fundamentais para a construção de novas sedes em Estrela, Arroio Grande, Novo Hamburgo e Santo Ângelo. Também foi inaugurado o seu novo Plenário, com capacidade para 470 pessoas, espaço que sedia as sessões do Órgão Especial e do Tribunal Pleno, bem como os grandes eventos da Instituição. O desempenho da sua seccional da Justiça do Trabalho foi notado pelo corregedor-geral ministro Antônio José de Barros Levenhagen, que elogiou a produtividade dos desembargadores, especialmente a 1144

“Quatro magistradas comandarão a Justiça do Trabalho gaúcha no próximo biênio”. Obino Advogados, 10/10/2011 1145 Casa Nova, Rosane. “Criança não trabalha!” O Sul, 12/10/2014 1146 “Entrevista com Fabiano Holz Beserra, procurador-chefe do MPT e com a desembargadora Rosane Serafini Casa Nova sobre a ação de campanha de combate ao trabalho infantil”, Rádio Gaúcha, 11/10/2014 1147 Casa Nova, Rosane; Nocchi, Andréa & Gastal, Luis Carlos. “Trabalho infantil”. Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, 14/03/2014 1148 Casa Nova, op. cit.

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grande redução no tempo de relatoria dos processos, e acrescentou: “O TRT da 4ª Região é o terceiro Tribunal em que eu não tenho nenhuma recomendação aos desembargadores e juízes convocados. Todos estão absolutamente em dia e empenhados em uma prestação jurisdicional célere, sem prejuízo da qualidade das decisões”. O ministro também elogiou a gestão da atividade judicante, a criação da Seção Especializada em Execução, a infraestrutura tecnológica e os índices de conciliação da 4ª Região.1149 c) Homero Serafini, representante comercial, baseado em Bento Gonçalves, casado com Elisabeth Noemy Miguel (Isabel), filha de José e Nadine, sendo pais de c1) Loanda, professora estadual, casada com Haroldo Antônio Fernandes, pais de Eduardo e Alana,1150 e c2) Valderez, jornalista, editora-chefe do Jornal do Sintaxi,1151 jornalista-responsável da Revista do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul,1152 casada com Sérgio Luiz Micheletto, pais de Iasmini e César. d) Yone Serafini, professora, casada com Mansueto Homann, pais de Adriane. 1153 e) Italo Serafini, ourives, casado com Guiomar Menegotto, com os filhos e1) Magda, casada com Paulo Miranda Gonçalves, médico, radicados em São Luiz Gonzaga, pais de Paulo Filho e Carla;1154 e2) Rissieri Neto, industrial, casado com Maria Zaida Michielin, professora, pais de Adriana, secretária, Ricardo, e Rafael, administrador de empresas; 1155 e3) Marilen, casada com Léo Osmar Danna, empresário, pais de Alberto, Marcelo, Flávio e José Carlos;1156 e4) Nelson Augusto, comerciante, casado primeiro com Marília Menegollo, pais de Daniela, Fabiano e Felipe, e em segundas núpcias com Maria Elizete Leite, pais de Júlia;1157 e5) Myriam, casada com João Alberto Boff, engenheiro civil, filho de Honorino e Ivone Marca, com os filhos Rovana e Gabriel;1158 e6) Walter, micro-empresário, casado com Lorena Kavião, com os filhos Juliano e Gustavo;1159 e7) Marta, casada com Juarez Formolo, filho de Argemiro e neto de Montrose, já citados na seção sobre os Formolo no Volume II, médico obstetra, diretor-superintendente da UNIMED,1160 são pais de Daiane, Melissa e Leandro; e8) Mara, casada com Roberto Formolo, irmão de Juarez, engenheiro eletrônico, com os filhos Rafaele, Diego, Rodrigo, Luan e Lucas;1161 e9) Ítalo Filho, comerciante e plastimodelista, presidente do Open Serra Sul de Plastimodelismo,1162 casado com Liane Sibila, gerente administrativa, pais de Ítalo Neto e Manoela, e e10) Margô, casada com Norberto Fedrizzi, destacado comerciante,1163 já citado na seção sobre os Fedrizzi, pais de Alessandra, Fabrícia e Frederico.1164

1149

“Retrospectiva 2012: alguns dos principais fatos do ano da Justiça do Trabalho Gaúcha”. In: Revista Eletrônica do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, 2013; IX (152):125-132 1150 Serafini, op. cit. 1151 Pereira, Tomás Sá. “Jornal do Sintáxi chega aos oito anos de existência, circulando todos os meses de forma ininterrupta”. Jornal do Sintáxi, jun/2009 1152 Revista do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul. Composição da Diretoria do Biênio 20122013. 1153 Serafini, op. cit. 1154 Serafini, op. cit. 1155 Serafini, op. cit. 1156 Serafini, op. cit. 1157 Serafini, op. cit. 1158 Serafini, op. cit. 1159 Serafini, op. cit. 1160 Daroit, Clarissa. “AGCO Inaugura ambulatório na unidade de Ibirubá”. Visão Regional, 07/09/2013 1161 Serafini, op. cit. 1162 “Exposição de Miniaturas em Caxias do Sul”. Mais Nova FM, 20/08/2014 1163 “Sindilojas 60 anos: Entrevista Norberto Fedrizzi”. Canal 12 Digital, 16/04/2014 1164 Serafini, op. cit.

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Foto família Serafini

f) Tereza Serafini, professora, foi casada com Darwin Corsetti, filho do empresário João Corsetti e Regina Andreazza, vereador e presidente da Câmara, já citado na seção sobre os Corsetti no Volume I. Darwin era considerado por seu sobrinho Mansueto Serafini Filho, logo a seguir abordado, como um segundo pai.1165 O casal gerou f1) Darwin João Corsetti, advogado e industrial, casado com Marília Azambuja, pais de Simone, Marcos e João Luiz;1166 f2) Ieda Regina Corsetti, casada com Marcos Fúlvio Barbosa, corretor de seguros, residentes no Rio de Janeiro, com as filhas Fernanda e Renata;1167 f3) Eveline Corsetti, professora, casada com Alex Menezes, empresário da metalurgia, com a filha Letícia,1168 e f4) Maria Teresa Corsetti, agente de exportação, casada com Cláudio Martins, engenheiro civil, radicados no Rio, tendo os filhos Cláudia e André.1169

1165

“Eleição de 1992, uma das mais eletrizantes”. Gazeta de Caxias, ago/2012 Serafini, op. cit. 1167 Serafini, op. cit. 1168 Serafini, op. cit. 1169 Serafini, op. cit. 1166

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g) Mansueto Serafini, o primeiro caxiense nato a se formar como engenheiro, foi conselheiro municipal, depois auxiliar do prefeito Dante Marcucci e um dos responsáveis pela construção do primeiro aeroporto. Foi presidente do Instituto Riograndense do Arroz, comandou a construção, entre outras, de duas grandes barragens: Sanchuri em Uruguaiana, e Capané em Cachoeira do Sul. Fundou com amigos a Sociedade de Terraplenagem Ltda., que construiu muitas rodovias no estado, entre elas o trecho Osório-Torres da BR-101. Trabalhou no Paraná, onde dirigiu a construção da Estrada de Ferro Central e foi diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem, responsável pelo Plano Rodoviário do estado, e foi um dos fundadores da cidade de Goiorê no oeste do Paraná. Desenvolveu diversos trabalhos de consultoria de engenharia nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Voltando a Caxias, foi membro do Gabinete Municipal de Administração e Planejamento na primeira gestão do prefeito Victorio Trez, participando da eleboração do Plano Diretor da cidade. Faleceu em 28 de março de 1983, sendo homenageado com seu nome em uma escola. 1170 1171 Foi casado primeiro com Ivone de Castro, tendo o filho g1) Mansueto de Castro Serafini Filho, depois casou com Mônica Zuneda, com os filhos g2) Sérgio Serafini, médico e professor da Escola de Medicina da Universidade Federal do Paraná; g3) Werney Serafini, administrador de empresas; g4) Edson Serafini engenheiro civil, e g5) Fernando Serafini, engenheiro agrônomo.1172

Mansueto Serafini Filho entrevistando seu pai. Foto Geremia, acervo da Escola Municipal de 1º Grau Eng,º Mansueto Serafini. 1170

“Prefeitura inaugura Galeria de Ex-Prefeitos”. Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Caxias do Sul, 15/06/2007 1171 Luiza, Edi. Histórico da Escola Eng.º Mansueto Serafini. Escola Eng.º Mansueto Serafini. 1172 Luiza, op. cit.

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Mansueto Serafini Filho foi funcionário do DAER, jornalista, fundador de três jornais semanários e colaborador em outros, vereador e duas vezes prefeito.1173 Administrador popular, nas suas gestões, entre outras realizações, deu-se início à coleta seletiva de lixo e à Feira do Produtor, que já tem 35 anos de bons serviços prestados à classe rural caxiense; foram construídas a Casa da Cultura e a Perimetral Norte, fez obras nas áreas de abastecimento e pavimentação, incentivou o esporte, promoveu a segurança pública e impediu que a Festa da Uva fosse privatizada, numa fase de crise econômica, conseguindo também que o controle acionário, então do Governo do Estado, fosse devolvido ao Município. 1174 1175 1176 1177 Recebeu várias homenagens e o vereador Zoraido Silva fez uma apreciação de alguns aspectos da sua trajetória: "As duas passagens de Mansueto pela Prefeitura foram marcadas por inúmeras obras em Caxias, transformando-a em cidade moderna e mais humana. Uma das principais obras da sua gestão é o sistema Faxinal [grande sistema de represas para abastecimento de água] [...] Caxias ganhou um plano de trânsito e transporte, acabando com soluções improvisadas. A cidade teve um tráfego mais ordenado com obras que humanizaram o trânsito”.1178

1173

Gargioni, Paulo. “Gente & Fatos”. Folha de Caxias, 21-23/11/2014 “Zoraido Silva valoriza a gestão do ex-prefeito Mansueto Serafini Filho”. Assessoria de Imprensa da Câmara Municipal de Caxias do Sul, 09/12/2014 1175 “Os 35 anos da Feira do Produtor são lembrados pela Câmara Municipal de Caxias do Sul”. Assessoria de Imprensa da Câmara Municipal de Caxias do Sul, 29/10/2014 1176 “20 anos no poder”. Gazeta de Caxias. Especial, fevereiro de 2013 1177 “Festa da Uva: controle acionário”. Gazeta de Caxias. Especial, março de 2014 1178 “Zoraido Silva valoriza a gestão do ex-prefeito Mansueto Serafini Filho”. Assessoria de Imprensa da Câmara Municipal de Caxias do Sul, 09/12/2014 1174

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O programa de Mansueto Serafini Filho na sua primeira candidatura a vereador, que foi bem sucedida.

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Bruno Serafini. Foto do Recreio da Juventude. À direita, sua esposa Theresinha com o diploma de Cidadã Caxiense ao lado do vereador Eloi Frizzo. Foto de Eloi Frizzo.

h) Bruno Serafini, outro filho de Mariota e Rizzieri, nascido em 11 de julho de 1918, foi estudante destacado como capitão da equipe de ping-pong do Colégio do Carmo, e “apesar de sua pequena estatura, soube sempre se impor e triunfar de todos os seus antagonistas”,1179 hábil também no futebol, presidente do Grêmio Cívico e Literário Euclides da Cunha no mesmo colégio,1180 presidente por duas vezes de outro grêmio estudantil independente, nomeado Joaquim Maurício Cardoso,1181 “entidade que reúne em seu seio a elite estudantil de Caxias”, fundado “para promover a confraternização, a união e o engrandecimento da digna classe estudantil de Caxias, que pelo seu íntegro brio e elevados predicados morais tem recebido integralmente da distinta sociedade de Caxias o estímulo confortável e o apoio intransigente em suas beneplácitas iniciativas”.1182 Formado em Medicina, tornou-se médico prestigiado, membro da Sociedade de Medicina de Caxias do Sul,1183 além de ser um dos fundadores e primeiro presidente do Rotary Club Cinquentenário1184, presidente do Recreio da Juventude 1185 e vice-presidente do Esporte Clube Juventude,1186 sendo hoje nome de rua. Foi casado com Theresinha Pretto, uma das fundadoras e primeira presidente da Liga Feminina de Combate ao Câncer, uma das fundadoras da Pastoral de Apoio ao Toxicômano Nova Aurora (PATNA), que pelo seu trabalho social meritório recebeu o título de Cidadã Caxiense. Mirian Nora, representando o Executivo, falou sobre a atuação de Theresinha na PATNA e na Liga: “Só pessoas com o dom da luta pela vida podem realizar este trabalho incansável, que requer muita força e muito amor”. O deputado estadual Kalil Sehbe discursou em nome da Assembleia e elogiou seu trabalho e dedicação: “Ela é uma pessoa que tem três princípios que norteiam sua vida: a família, a fé e a comunidade”.1187 O casal teve os filhos Eduardo, Maria Luiza e Márcia. Márcia foi rainha do Recreio da Juventude.1188 Floresceram outros Serafini em Caxias, mas são de ramos ao que parece não aparentados. 1179

“Esporte”. O Momento, 01/06/1936 “Fundação de um grêmio literário em um dos cursos superiores do Ginásio do Carmo”. O Momento 1181 “Fundação solene no Grêmio Estudantil Cívico e Literário J. Mauricio Cardoso”. O Momento, 27/06/1938 1182 “A memória impoluta de J. Mauricio Cardoso desrespeitada no Ginásio N. S. do Carmo”. O Momento, 30/04/1939 1183 “Reunião da Sociedade de Medicina de Caxias do Sul”. A Época, 16/11/1953 1184 “Rotary Cinquentenário 35 Anos”. Folha de Hoje, 07/05/1993 1185 Recreio da Juventude. Galeria dos Presidentes do Conselho Executivo. 1186 “Esporte Clube Juventude”. O Momento, 21/01/1950 1187 “Theresinha Serafini recebe Título de Cidadã Caxiense. Atuação na área de filantropia garantiu a distinção para homenageada”. Blog de Eloi Frizzo, 28/10/2008 1188 Recreio da Juventude. Recreio da Juventude 1912 – 2012: Edição Comemorativa dos 100 Anos 1180

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4) Celeste Artico (Celestina), outra filha de Osvaldo, nasceu em 25 de maio de 1888. Aparece na imprensa pela primeira vez em 1º de fevereiro de 1898, ainda uma menina, recitando um poema em louvor de São Leão XIII em festividade ocorrida na Catedral no dia 2 de janeiro.1189 Foi casada com Erich Raabe (Erico, às vezes grafado erroneamente Henrique) e dedicou-se ao lar e a obras beneficentes, sendo Dama de Caridade. Erico nasceu em São Sebastião do Caí em 7 de setembro de 1885, filho de Walter Raabe, natural de Breslau, na Polônia, e Catarina Müller, nascida em Dois Irmãos. Com 14 anos mudou-se para Caxias e logo começou a trabalhar, iniciando como aprendiz na ourivesaria de Eduardo Müller, e depois montando uma oficina própria. Em 1904 iniciou sua colaboração com Abramo Eberle,1190 ao mesmo tempo em que trabalhava para a metalúrgica de Amadeo Celestina Artico Raabe Rossi, já citado, e para a Casa Fracalanza, como diretor técnico.1191 Porém, sua maior contribuição deixou na metalúrgica que Abramo transformou em uma potência, ingressando como efetivo em 1923 e tornando-se chefe das seções de gravação e de artigos sacros e nos anos 50 gerente-geral.1192 Esteve diretamente envolvido com a criação das estátuas do grande Monumento Nacional ao Imigrante, fundidas na Metalúrgica Eberle.1193 Enquanto isso, integrava-se à comunidade assumindo outras funções públicas. Foi vereador eleito em 1928, permanecendo no cargo até a dissolução do Poder Legislativo pela Revolução de 1930.1194 Em 1937 assumiu um posto no Conselho Fiscal do Recreio Guarany, renovado em 1942, sendo sócio benemérito em 1951,1195 1196 1197 foi tesoureiro do Hospital Santo Antônio,1198 por muitos anos conselheiro do Grêmio Atlético Eberle, e seu aniversário era assinalado nas crônicas sociais, sendo “pessoa vastamente relacionada nesta cidade”, como assinalou O Momento em 1944.1199 1200 1201 1202

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“Il 2 gennaio in Caxias”. Il Colono Italiano, 01/02/1898 Tisott, Ramon Victor. “A família Eberle e o início do desenvolvimento industrial de Caxias do Sul”. In: Anais do XXVI Simpósio Nacional de História da ANPUH. São Paulo, julho de 2011 1191 “Hóspedes e viajantes”. O Brasil, 14/01/1921 1192 “Ampla repercussão da homenagem prestada à memória do saudoso dr. José V. Eberle”. A Época, 06/12/1953 1193 Lopes, Rodrigo. "Um marco do passado da Maesa". Pioneiro, 04/07/2014 1194 Onzi, Geni Salete (org.). Palavra e Poder: 120 anos do Poder Legislativo em Caxias do Sul. Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul, 2012 1195 “Jogo da bolla”. O Brasil, 30/06/1921 1196 O Momento, 05/07/1937 1197 “Nova Diretoria do Recreio Grarany”. A Época, 21/06/1942 1198 “Hospital Beneficente Santo Antonio”. O Momento, 25/01/1933 1199 “Caxias Social”. O Momento, 28/09/1938 1200 “Grêmio Atlético Eberle”. O Momento, 06/03/1939 1201 “Erico Raabe”. O Momento, 04/09/1943 1202 “Aniversários”. O Momento, 16/09/1944 1190

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O casal gerou 14 filhos, 64 netos e 42 bisnetos; suas Bodas de Ouro foram noticiadas na imprensa e relembradas recentemente por Valdir dos Santos.1203 Erico faleceu em 27 de junho de 1968, com 83 anos,1204 e depois batizou uma rua. Celestina o seguiu em 8 de janeiro de 1988, pouco antes de completar cem anos. Erico ganhou riqueza e prestigio, erguendo em 1933 um palacete para viver com sua grande família, e cuja construção foi saudada na imprensa como um belo acréscimo à paisagem urbana.1205 Assim de fato foi, até ser vendido e depois demolido nos anos 90 para dar lugar... a um estacionamento! Edificio notável, com uma cúpula de cobre única na cidade, foi uma perda insubstituível. Uma vez que Erico ocupou um cargo dos mais altos na Metalúrgica Abramo Eberle (muito conhecida pelo acrônimo MAESA), contribuindo significativamente para o seu sucesso, e em memória de vários outros parentes que dedicaram suas vidas a ela, cabe falar um pouco sobre esta grande empresa que se tornou um símbolo da pujança e da prosperidade dos caxienses. A partir de um início modesto como funileiro, Abramo aproveitou o rápido desenvolvimento do comércio em Caxias, diversificando suas atividades e fazendo contatos com os grandes centros de Porto Alegre e São Paulo. Seus negócios foram bem, e com Erico Raabe, à direita, com um amigo. o seu casamento com Elisa Venzon, de uma família próspera que mantinha um moinho e uma serraria, as coisas melhoraram ainda mais, pois Elisa se revelou uma colaboradora valiosa na administração da sua empresa e sua família se tornou uma parceira comercial. Em 1904 lançou-se no ramo da ourivesaria, e desde esta data iniciou sua convivência com Erico Raabe. 1206 1207 A partir da década de 1910 seu negócio se consolida, contando com um patrimônio de 800 contos de réis, uma grande fortuna, e ele inicia sua participação na política, sendo vice-intendente várias vezes.1208 Em 1936 foi feito cavaleiro pelo rei da Itália, uma apoteose pessoal, mas de elevado significado simbólico para Caxias, representando em sua pessoa o “enobrecimento” do trabalho dos imigrantes, ocasião em que seus funcionários lhe prestaram grandes homenagens.1209

1203

Santos, Valdir dos. “Fatos Históricos de hoje, 05 de agosto”. Ponto Inicial, 05/08/2014 “Falecimentos”. Informativo Gráfico, 1968, III (22):3 1205 “Edificações”. O Momento, 30/10/1933 1206 Tisott, op. cit. 1207 Tessari, Anthony Beux. Imagens do labor: memória e esquecimento nas fotografias do trabalho da antiga metalúrgica Abramo Eberle (1896-1940). Dissertação de Mestrado. PUCRS, 2013 1208 Tisott, op. cit. 1209 “Cav. Abramo Eberle”. O Momento, 02/11/1936 1204

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No período das Guerras a Metalúrgica entrou em sua fase dourada, tornando-se a maior empresa em seu gênero no continente, evitando os tropeços que fizeram outros sucumbir diante da carência de materiais e dificuldades que o período trouxe para os negócios internacionais, aproveitando sabiamente as oportunidades alternativas que surgiam. Ao mesmo tempo, foi uma das empresas requisitadas para trabalhar para o governo, produzindo espadas e outros artigos militares. Tornara-se um modelo e recebia frequentes visitas de personalidades ilustres. A MAESA criou um microcosmo em Caxias, com um grande complexo edificado e centenas de funcionários, e embora a disciplina fosse muito rigorosa, recebiam cuidados incomuns para a época em termos de assistência médica, jurídica, social e mesmo de estímulo recreativo, cultural e esportivo. Formara-se, mais do que uma empresa, uma comunidade, muitos de meus familiares ali viveram toda a sua vida produtiva, e são múltiplos os testemunhos de afeição de antigos funcionários, mostrando o apego que tinham pela empresa e admiração que nutriam pelo seu dirigente, que mantinha para com seus subordinados uma relação paternal. Na Metalúrgica também foi fundado o Grêmio Atlético Eberle, um dos mais destacados times de futebol em sua época. O falecimento de Abramo produziu comoção geral na cidade. Depois a empresa familiar passou por várias mudanças, acabando por ser vendida.1210 1211 1212 1210

Tisott, op. cit. Tessari, op. cit. 1212 Boletim Eberle; 1957; I (9). Edição Especial “30 Anos de MAESA”. 1211

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Érico Raabe, marcado com ponto amarelo, com a comissão de personalidades e funcionários da MAESA responsáveis pela fundição do Monumento ao Imigrante. À frente, da esquerda para a direita, vemos Humberto Bassanesi (secretário da comissão que planejou a construção do Monumento), o jornalista Mário Gardelin, Alberto Bellini, Américo Garbin (vice-presidente da comissão), Tito Bettini (coordenador de fundição), o advogado Heráclito Limeira, o prefeito de Caxias Euclides Triches, o diretor-presidente da Eberle, Júlio João Eberle; Hugo Argenta, um diretor não identificado, e os empresários Caetano Pettinelli, Érico Raabe, Armando Meneghini e Almir Rojas. Na fila de trás, o técnico industrial José Dallabilia, o irmão lassalista Teodoro Luís (um dos idealizadores do Parque Getúlio Vargas), o arquiteto Silvio Toigo (um dos idealizadores do complexo da MAESA), o empresário e presidente da Festa da Uva de 1950, Julio Ungaretti (atrás de Euclides Triches); duas pessoas não identificadas e, por fim, Pedro Buffon (o mais alto). Arquivo Histórico Municipal.

Hoje os edifícios da antiga Metalúrgica são patrimônio tombado, mas estão ameçados por um recente projeto de “revitalização” que pretende demolir parte de seus elementos e acrescentar outros, isso com a aprovação do poder público que antes tombara o edifício. Contradições à parte, a história da MAESA faz parte importante da história econômica e social de Caxias, e o palacete que Abramo ergueu para viver com sua família, também tombado, é um dos mais belos edifícios históricos da cidade, com rica decoração interna, estando em perfeito estado de conservação. Mas, vendo-se as equivocadas práticas conservativas que têm sido adotadas entre nós, com o incompreensível apoio das autoridades, sabe Deus até quando permanecerá íntegro... Além das suas atividades em Caxias, Erico foi industrial, comerciante e hoteleiro, com grandes investimentos em Pantano Grande. O início de sua atividade na região foi recuperada em matéria na revista Posto Avançado, que enfocou particularmente a carreira de seu filho Oscar Alberto: "São quase 50 anos de atuação no setor da revenda de combustíveis. À frente da Raabelândia, de Pantano Grande, o Dr. Raabe, como é conhecido, ingressou no segmento da revenda após começar a plantar arroz naquela região com o pai, enquanto estudava Agronomia na faculdade. 'A vila tinha apenas 16 casas na época, era o 5º Distrito de Rio Pardo. Com o engenho de arroz é que tudo começou. Fui para 326

lá depois que me formei e ajudamos a criar o município', relembra. Com a expansão da plantação de arroz, eles perceberam que o entroncamento da rodovia – em direção a Cachoeira do Sul, Rio Pardo e Pantano Grande – precisava, em breve, de um posto de abastecimento. 'Não tinha a BR 290, nem asfalto bonito. Mas era o entrocamento. E aí fizemos um contrato, com a Shell do Brasil, para um posto pequeno, a Raabelândia', recorda o empresário”.1213 Os negócios cresceram, passando a incluir uma mecânica, um hotel, um restaurante, uma mineradora, beneficiadora e comércio de calcário e uma distribuidora de combustíveis, que foram a origem das Organizações Raabe, hoje um conglomerado empresarial que integra a Raabe Calcários, a Raabe Combustíveis, a Raabe Comercial de Alimentos e a Raabe Arroz, Comércio e Transportes Ltda. Matérias publicadas no Diário de Notícias de Porto Alegre, mostradas nas páginas seguintes, dão um panorama de seus negócios.

1213

"Um multiempresário na revenda". In: Revista Posto Avançado, 2014; XXVII (81):15

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Celestina Artico e Erico Raabe

Vista parcial da Raabe Combustíveis Ltda. e do Motel Raabelândia. Foto Diário de Notícias.

Desempenhando papel destacado para o desenvolvimento de Pantano Grande, e atuando decisivamente em prol de sua autonomia, Erico foi aclamado como Pai da Emancipação de Pantano Grande,1214 e mereceu várias outras homenagens. A principal praça da cidade, doada ao Município pela própria família, foi batizada com seu nome, ali foi instalado um busto,1215 e 14 bancos da praça receberam placas com o nome de seus filhos, em solenidade “emotiva” e “revestida de extraordinário brilhantismo”, contando com a presença de muitas autoridades e caravanas de várias cidades. Mais tarde, também deu seu nome a uma rua. A inauguração da praça foi o destaque de uma longa matéria no Boletim Eberle, o órgão oficial da metalúrgica, em sua edição nº 78, ano VIII, de março-abril de 1964, reproduzida a seguir.

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Câmara de Municipal de Pantano Grande. História: A Emancipação do 5º Distrito de Rio Pardo. “Raabe Calcários e Exploração de Minérios”. Diário de Notícias, 10/11/1968

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Praça Erico Raabe e o busto em sua homenagem. Foto de Ubirajara Buddin Cruz.

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A solenidade de inauguração gerou outras notícias carregadas de prolixo e arrebatado entusiasmo, e na sequência reproduzo alguns trechos da publicada no Diário de Notícias: “Só os mais famosos poetas é que poderiam descrever a beleza e a grandiosidade das justas e eloquentes homenagens que foram prestadas, no dia 24 de maio do ano em curso, pela acolhedora e progressista população de Pantano Grande, a futura e imponente Cidade Raabelândia, ao ilustre casal de autênticos pioneiros, industrial Erico Raabe e sua dedicada e modelar esposa, d. Celestina Artico Raabe, fundadores de uma família digna de ser tomada como exemplo, em todos os sentidos, por milhares e milhares de outras famílias e pessoas de bem, espalhadas por todos os recantos da Terra de Santa Cruz livre, democrática, cristã e onde a criatura humana tem condições para viver uma vida digna e compatível com os anseios do homem de caráter bem formado. “Não é possível descrever-se numa rápida crônica ou reportagem as distintas facetas e a profundidade dos objetivos que moveram os sentimentos daquela formidável massa humana, composta de figuras mais representativas de Porto Alegre, Rio Pardo, Caxias do Sul, além de diversas outras cidades e municípios do estado e do país, dos mais distintos setores de atividades criadoras de riquezas e fiadoras da nossa liberdade, que ali marcaram o seu encontro para festejar a grandiosidade da obra realizada pelo clã dos Raabe, sob a nobre inspiração, amor e carinho do industrial Erico Raabe e sua esposa, d. Celestina Artico Raabe, em favor do aceleramento do progresso daquela região e do próprio Rio Grande do Sul. Um acontecimento de profunda expressão de reconhecimento público aos que sabem ser dignos do respeito e da admiração dos legítimos valores morais, culturais, intelectuais, religiosos, pelo que sabem realizar em favor de uma coletividade, em benefício de um estado, em prol de uma Pátria. “A verdade é que, na pessoa do fidalgo e feliz casal, industrial Erico Raabe e sua esposa d. Celestina Artico Raabe, não somente foram exaltados e homenageados todos aqueles lares que seguem os mesmos ditames da Família Raabe, espalhados por todos os rincões do estado e do Brasil, mas renovados os propósitos de todos aqueles que ali se encontraram, de dar o melhor de seus esforços, de seus propósitos e do seu saber, na edificação de uma Pátria digna, capaz de se igualar às outras Pátrias que lideram o progresso e comandam a evolução da própria civilixzzação. Foi uma festa de exaltação dos verdadeiros valores morais e patrióticos do homem de bem, do homem capaz e seguro de sua responsabilidade para com a sociedade em que vive e a Pátria que o acolhe. Uma festa de grandeza moral e de exaltação da Família, o alicerce sobre o qual repousa a segurança da própria Pátria. O desenrolar da solenidade “Com início às 10h30min, o reverendo padre Reinaldo Reinert, da Paróquia de Pantano Grande, oficiou a Santa Missa em ação de graças, na igreja da futura Cidade Raabelândia, pelo ilustre casal sr. Erico Raabe – d. Celestina Artico Raabe. “A solenidade contou com a presença de todos os filhos, genros, noras e seus descendentes, além de centenas de pessoas de remarcado destaque que para ali afluíram, homenageando o prestigioso clã dos Raabe. O templo tornou-se pequeno para acolher a todos.

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“O sermão foi feito pelo reverendo padre Arno Klein, em representação de dom Alberto Etges, bispo diocesano de Santa Cruz do Sul, tendo comovido a todos os presentes pela beleza de suas palavras dirigidas, de exaltação, ao casal, sr. Erico Raabe – d. Celestina Artico Raabe, cujo lar modelar e a vida exemplar, recebeu as graças do próprio Senhor. “Às 11h30 min na Praça Erico Raabe, foi inaugurada a respectiva placa, falando, nesta oportunidade, o coronel José Saldanha ferreira, que se congratulou com a operosa população de Pantano Grande, por conter em seu seio a presença da Família Raabe, composta de figura de extraordinária capacidade empreendedora e realizadora, seguros da grandeza do estado e do Brasil, razão pela qual naquele local em poucos anos, dada a gama de distintos estabelecimentos que ali implataram, estabeleceram bases para a futura e próxima Cidade Raabelândia. O orador, sob constantes aplausos, teceu um verdadeiro hino de louvor e de exaltação ao industrial e pioneiro sr. Erico Raabe e sua dedicada esposa d. Celestina Artico Raabe, além de destacar a capacidade de trabalho de todos os seus filhos, genros, noras e respectivos descendentes em favor do progresso e da grandeza do estado e do Brasil. “Por ocasião da inauguração do busto de Erico Raabe na praça que instantes antes havia sido doada pelas Organizações Raabe à população de Pantano Grande, usou da palavra o dr. Egydio Michaelsen, diretor do Banco Agrícola Mercantil (considerado o 15º filho da família, dada a sua vinculação à mesma, desde a sua tenra idade) que pronunciou um discurso maravilhoso, exaltando a casal homenageado naquele instante, industrial sr. Erico Raabe – d. Celestina Artico Raabe, como exemplo de uma família pura, digna, e que tem sabido cumprir com sua missão perante a sociedade, a Pátria e o próprio Deus. O orador acentuou que o industrial Erico Raabe, um dos diretores da famosa Metalúrgica Abramo Eberle, dadas as suas altas e reconhecidas qualidades artísticas, modelou muitos bustos, monumentos e distintas obras de arte perpetuadas em bronze espalhadas pelo estado e por todos os rincões do Brasil. Agora ele, o sr. Erico Raabe, quem assistia à inauguração de seu busto, em bronze, fundido nas mesmas oficinas da Metalúrgica Abramo Eberle, concepção feliz do escultor Ary Cavalcanti, para, naquela praça, como seu patrono, servir de modelo, de exemplo, para as atuais e futuras gerações da nossa juventude pura e sonhadora vivamente interessada na edificação de uma grande, bela e próspera Pátria. Todos saberão pelo tempo infinito que o patrono da praça ora inaugurada foi um exemplar chefe de família, um grande patriota, um homem realizado e plenamente vitorioso, tendo constituído uma grande descendência toda ela educada e devidamente capacitada para servir aos superiores interesses do estado e do Brasil, podendo plenamente servir de orgulho e de justo exemplo para todos aqueles que desejarem se inspirar em atos de homens de sentimentos nobres. [...] “O dr. Geraldo Roberto Coelho da Silva, prestigioso governador municipal de Rio Pardo, em formosa oração, em nome do governo e do povo daquela comuna histórica, exaltou a grandiosidade da contribuição das Organizações Raabe em prol do aceleramento do progresso de Pantano Grande, cujos benefícios refletem em prol do agigantamento do desenvolvimento do próprio Rio Grande do Sul. Teceu um verdadeiro hino de elogios ao ilustre casal homenageado, industrial Erico Raabe e sua dedicada esposa d. Celestina Artico Raabe, bem como aos membros do clã dos Raabe, pela sua capacidade empreendedora e realizadora. [...]

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“Às 13 horas, aos convidades, nas dependências das Organizações Raabe, foi servido um suculento churrasco regado a líquidos finos. Foi uma festa grandiosa, impressionante, pela beleza e pela fartura, além dos tipos de churrascos suculentos, fantásticos, havia carne de ovelha e de rês. Foram abatidos vários novilhos mamões de alta mestiçagem de raças nobres inglesas, bem como borregos. Para mostrar a grandiosidade da festa, basta se dizer que foi assado um quarto inteiro de um novilho, tendo sido transportado o respectivo espeto por dois membros da Família Raabe, que correram por todas as mesas, proporcionando a todos os presentes darem os seus cortes clássicos. [...] “No decorrer da festa, o deputado Cândido Norberto, em formoso discurso, exaltou as qualidades vitoriosas do fidalgo casal industrial Erico Raabe – d. Celestina Artico Raabe, além de tecer um maravilhoso hino ao trabalho que está realizando o clã dos Raabe, em distintos setores de atividades e do progresso do Rio Grande do Sul e do Brasil. O orador, ao concluir a sua belíssima oração, beijou as mãos do casal homenageado, industrial Erico Raabe – d. Celestina Artico Raabe, sob ensurdecedores aplausos de todos os presentes. [...] “O industrial Erico Raabe, após ouvir tantas e tão formosas orações, foi acometido de uma forte emoção. Aliás, diga-se de passagem, muita gente do clã dos Raabe ficou com os olhos cheios de lágrimas. Assim, em nome do casal homenageado, industrial Erico Raabe – d. Celestina Artico Raabe, fez uso da palavra o industrial Alberto Germano Raabe, vereador por Pantano Grande na Câmara Municipal de Rio Pardo, agradecendo em nome de seus genitores e de toda a família dos Raabe, as fidalgas e emocionantes manifestações que estavam recebendo dos mais representativos valores do Rio Grande do Sul”.1216

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Onar, J. Thadéo. "Revestiram-se de extraordinário brilhantismo as homenagens tributadas ao industrial Érico Raabe pela operosa população de Pantano Grande". Diário de Notícias, 28/05/1964

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O Palacete Artico Raabe nos anos 40, com alguns membros da família na frente. Foto de Jacob Kappes, Arquivo Histórico Municipal. A casa de madeira à esquerda foi onde viveram Augusto Artico e sua família.

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O palacete sendo demolido. Foto Gelson Aimi.

O Palacete Raabe, um dos edifícios mais icônicos de Caxias, tornou-se infortunadamente também um símbolo do descaso dos caxienses para com o seu patrimônio histórico, e sua demolição ilegal, quando estava em pleno processo de tombamento, é frequentemente lembrada e lamentada. Rodrigo Lopes em tempos recentes voltou ao tema em três artigos no Pioneiro, um tratando da sua venda e conversão em uma unidade das Lojas Arno, outro de seus últimos anos e outro da demolição. Diz ele no último: “Há 25 anos, a quarta-feira de Carnaval foi literalmente de cinzas para um ícone da arquitetura caxiense. A mansão da família Raabe, localizada na esquina das ruas Sinimbu e Borges de Medeiros, bem defronte ao Palacete Eberle, foi demolida às pressas em pleno feriadão (23 a 27 de fevereiro de 1990), deixando comunidade, defensores do patrimônio histórico e administração pública em choque. “Em processo de tombamento pelo Conselho Municipal de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (Compahc) de Caxias e na ‘listagem de indicação de obras arquitetônicas a serem preservadas’, o prédio também estava embargado desde o dia 22 de fevereiro daquele ano pelo setor de fiscalização da Prefeitura, presidido por Ernani Stradiotto. “Conforme relatos do Pioneiro de 28 de fevereiro de 1990, ‘as Lojas Arno, donas do imóvel, não possuíam licença para a demolição, mas trabalhadores já vinham há mais de uma semana realizando a demolição interna do prédio, o que alertou os fiscais da Prefeitura’.

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Operação de guerra “Ouvido pela reportagem da época, o então presidente do Compahc, Ângelo Guizzo Neto, revelou que até um registro no plantão da polícia foi feito, na tentativa de suspender a ação. “Nunca vi a derrubada de um edifício ser feita em tão pouco tempo, parece ter sido uma operação de guerra, pois num primeiro momento, nem tapumes de proteção existiam na calçada’, relatou, completando que o prédio “foi destruído em menos de quatro dias, justamente num período (Carnaval) em que praticamente nenhuma autoridade se encontrava no município. – As folhas de cobre daquela cúpula abobadada planavam – lembrou recentemente o arquiteto Juarez Marchioro. “Uma esquina que, pelos dias subsequentes, virou cenário para um misto de lamentação e revolta. Ah, sim: pelo descumprimento do embargo, os proprietários foram multados em… um salário mínimo. Discurso atual até hoje “Diretor do setor de fiscalização da Prefeitura e também integrante do Compahc da época, Ernani Stradiotto defendia, no Pioneiro de 1990, um posicionamento que cai como uma luva em 2015, exatos 25 anos depois: (…) este não foi o primeiro caso, nem vai ser o último, se não houver uma preocupação efetiva por parte da comunidade quanto à preservação de prédios históricos, da mesma forma na agilização do processo de tombamento, para evitar a repetição desse fato. Para Stradiotto, Caxias tem que decidir se quer ou não preservar prédios históricos. “Mario Michelon, então diretor do Museu e Arquivo Histórico também se manifestou à época: (…) a demolição do prédio da família Raabe foi um golpe na preservação cultural da cidade e entristece profundamente todos aqueles que estão trabalhando pela continuidade da história para as futuras gerações. A casa estava na listagem do Comphac para futuro tombamento e, caso entrasse o pedido de demolição na Prefeitura, ela possivelmente seria sustada, diz. Contudo, ressalta, o fato mais assustador foi a pressa com “esse marco cultural desapareceu”. É lamentável também a forma avassaladora que o poder econômico possui de transgredir até a lei para obter lucros”, diz. “A força do Compahc é apenas consultiva, mas dentro da situação que está se presenciando, deve ocorrer uma reunião de urgência para se saber que atitude tomar, principalmente em relação a outros prédios que também estão ameaçados de destruição”, complementa. 1217

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Lopes, Rodrigo. “Mansão Raabe: cinzas e ruínas no Carnaval de 1990”. Pioneiro, 03/02/2015

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O restaurante e lancheria Raabelândia em Pantano Grande. Foto jornal O Sepeense.

A família de Erico e Celestina foi extremamente ativa nos clubes Guaracy e Guarany e circulou com frequência nas crônicas sociais. Deixaram grande e ilustre descendência, com ramos espalhados principalmente em Caxias, Porto Alegre e Pantano Grande. O Diário de Notícias teceu-lhes grandes elogios:

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Seus filhos foram: a) Walter Raabe, empresário com a firma Raabe & Cia. Importadora,1218 casado com Aglaé Souza de Abreu, pai de pelo menos um filho, Walter Junior, engenheiro-chefe do 10º Distrito do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem.1219 b) Elydia Raabe (Lidia), casada com Angelo Ricardo Costamilan, historiador e vice-prefeito de Caxias, cunhado de Angelina e Adélia Paternoster, de quem já se falou no Volume I. c) Norma Raabe, casada com Rodolfo Storchi, funcionário da Metalúrgica Eberle, dirigente da Metalúrgica Triches e um dos fundadores da Metalúrgica Tomasi junto com Natalino Tomasi,1220 dirigente do Guaracy Clube, de “atividade incansável”,1221 da Comissão de Festas do Recreio da Juventude,1222 autor da música do Hino do Esporte Clube Juventude, contrabaixista na banda Típica Inspiración1223 e líder e baterista da banda Jazz Tupi.1224 d) Noemia Raabe, rainha do Guaracy Clube,1225 casada com Benno Eichler.

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“Firma Raabe & Cia. Importadora não sofreu desfalque”. Diário de Notícias, 22/02/1962 “O DAER dinamizando enriquece o sistema rodoviário do estado”. Diário de Notícias, 28/09/1962 1220 Entrevista com Claire Storchi Mezzalira. Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, 05/05/2010 1221 “O Baile Campestre do Guaraci Clube”. A Época, 20/04/1941 1222 “Recreio da Juventude”. O Momento, 29/01/1944 1223 Entrevista com Claire Storchi Mezzalira, op. cit. 1224 “Aniversários”. O Momento, 28/04/1945 1225 “1º Aniversário do Guaracy-Clube”. O Momento, 13/09/1934 1219

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e) Laura Raabe, casada com Cláudio Favaro, sócio da Favaro & Cia.,1226 pais de pelo menos um filho, Cláudio Filho. f) Ethel Raabe, diretora do Guaracy Clube, 1227 casada com Rafael Lúcio Buratto, filho dos pioneiros Rafael Buratto e Amalia Sartori. Ethel foi mãe de f1) Vera Buratto (03/01/1945), Miss Capão da Canoa em 1965 e representou a cidade no concurso Rainha do Atlântico Sul, sendo “garota lindíssima, que com sua simpatia, seu charme, sua graça, elegância e desembaraço leva, ao concurso dos Diários Associados, as esperanças de todos aqueles que veraneiam naquele balneário”,1228 casada com João Carlos Petersen Marafon (28/07/1942), com os filhos João Carlos Filho (19/10/1971) e Rafael (07/10/1974), f2) Gilda Maria Buratto (27/08/1946) casada com Jorge Luiz Ullmann (02/09/1944), com as filhas Sharon (20/09/1974) e Luciana (21/Abr/1978), e f3) Rafael Buratto (23/08/1959), casado com Marcia Brodbeck (09/03/1959), com as filhas Maria Luiza (11/08/1988) e Raffaela (27/04/1992). Esta família já foi abordada em detalhe no Volume I. g) Oswaldo Raabe, proprietário da Granja Cinturão Branco em Gravataí e premiado criador de galinhas da raça Leghorn, 1229 1230 conselheiro do Grêmio Atlético Guarany, casado com Hedy Anna Lamb (Nena), conhecida socialite.1231 1232 1233 1234 h) Lair Raabe, casada com Adelar Nora, comerciante, da Diretoria da União dos Caixeiros Viajantes, presidente do Recreio Guarany,1235 político do Partido Social Democrático, muito citado nas crônicas sociais, ambos festeiros de Santa Teresa em 1949, não medindo esforços “no sentido de dar a essa festa o brilhantismo e o entusiasmo que sempre a caracterizaram”.1236 1237 i) Ruth Raabe, tesoureira do Guaracy Clube, 1238 casada com Reinaldo Salatino “da alta sociedade local”, sócio benemérito do Departamento de Bochas do Esporte Clube Juventude, e da Diretoria do Recreio da Juventude.1239 1240 Tiveram pelo menos duas filhas, Sally Rose, destacada na crônica social, casada com um Flach, e Marlem Celeste, casada com Luiz Paulo Rech, filho de Arthur Rech e Italia Meneghini.

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“Aniversários”. A Época, 13/07/1950 “O Guaraci Clube comemorou o seu 6º aniversário”. A Época, 30/08/1939 1228 “Rainha do Atlântico Sul 65”. Diário de Notícias, 14/02/1965 1229 “Granja Cinturão Branco”. Diário de Notícias, 24/09/1959 1230 “Veredictos da Exposição Avícola”. Diário de Notícias, 01/09/1960 1231 “Sabonete Limol”. O Momento, 02/03/1936 1232 “Pastilhas Wild”. O Momento, 30/03/1936 1233 “Pelas Sociedades”. O Momento, 27/04/1936 1234 “Consórcio”. O Momento, 17/02/1936 1235 “Recreio Guarany”. O Momento, 15/07/1940 1236 “Caxias Social”. A Época, 26/07/1942 1237 “Santa Tereza – Padroeira de Caxias”. A Época, out/1949 – Edição do 11º Aniversário 1238 “Guaraci Clube”. A Época, 26/07/1942 1239 “Organizado o Departamento de Bochas do E. C. Juventude”. O Momento, 23/03/1946 1240 “Recreio da Juventude”. O Momento, 31/01/1948 1227

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j) Erico Mário Raabe, casado com Clelia Barconi, jogador e capitão do Esporte Clube Guarany,1241 radicado em Pantano Grande, onde foi presidente da Comissão de Emancipação da cidade, sendo alcunhado Pai do Município.1242 Seu nome batizou o Museu Municipal. Ali os Raabe deixaram descendência numerosa, destacando-se também Alberto Germano, nome de rua, Rosane, secretária municipal de Educação,1243 e Éricson Roberto, o Fritz, empresário, também ativo no processo de emancipação do município e primeiro vice-prefeito,1244 cargo que ocupou depois outra vez, também sendo prefeito e hoje nome do auditório da Câmara; sua esposa Maria Luiza Bertussi foi prefeita duas vezes.1245

Erico Mário Raabe. Foto Museu Municipal Erico Mário Raabe. Ao lado seu filho Ericsson Roberto.

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“Alcançaram pleno êxito as comemorações de aniversário do Recreio Grarany”. A Época, 28/06/1951 “Parabéns Pantano Grande pelos 24 anos de emancipação política”. Lucas Ilha, 20/09/2011 1243 “Secretária de educação de Pantano Grande concede entrevista ao Jornal Destak”. Jornal Destak, 28/11/2009 1244 Câmara de Municipal de Pantano Grande. História A Emancipação do 5º Distrito de Rio Pardo. 1245 Prefeitura Municipal de Pantano Grande. Gestões Anteriores. 1242

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Celestina (1) e Erico (2) com os filhos Valter, Norma, Erico Mário, Ruth, Alberto, Oscar, Laura, Osvaldo, Lair, Dory, Lidia, Noemia e Ethel.

k) Alberto Germano Raabe, radicado em Rio Pardo, onde foi presidente do Rotary,1246 vereador pelo distrito de Pantano Grande, líder do governo na Câmara Municipal e um dos líderes do movimento trabalhista, chamado de “influente prócer daquele próspero distrito”.1247 Foi casado com Jesuema Antonieta Bisol e faleceu em 13 de junho de 1966. l) Oscar Raabe, nascido em 1912, casado com Zelia (Zilia) Andreazza Zugno, trabalhou nas empresas Eberle, foi presidente do Recreio Guarany,1248 e membro do Conselho Consultivo do Grêmio Atlético Guarany.1249 Mudou-se para Porto Alegre na década de 40 para unirse a um grupo de comerciantes e exportadores de arroz com sede no recém-inaugurado Palácio do Comércio, e foi presidente das Organizações Raabe.1250

Oscar Raabe, foto Salimen. 1246

“Rotary”. Diário de Notícias, 25/07/1963 “Reestruturado o MTR de Rio Pardo”. Diário de Notícias, 24/11/1964 1248 “Recreio Guarani”. A Época, 11/06/1939 1249 “Gremio Atletico Guarany”. O Momento, 27/04/1936 1250 Badalotti, Mariangela. “Oscar Raabe”. Salimen – Uma História Escrita em Cores, 01/06/2009 1247

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Seu filho Oscar Alberto recebeu o Troféu Coopetrol em 2010, quando foi resumido seu currículo: “O homenageado, Oscar Alberto Raabe, é graduado em Engenharia Agronômica pela UFRGS desde 1965. Ingressou no setor [de combustíveis] ao tornar-se em 1970 sócio de um dos mais tradicionais postos de serviço do estado, a Raabe Combustíveis, no município de Pantano Grande, fundado em 1954 por seu pai Oscar e seu tio Erico. “Oscar Raabe teve uma intensa participação no desenvolvimento humano e social da cidade através da geração de empregos das empresas da família e a contribuição por meio da construção de praça, ginásio, igreja e escola municipal. Foi fundador e presidente do Liberais Esporte Clube, criou o Rotary Club de Pantano e também o de Rio Pardo. Desde 1974 é integrante dos mais atuantes da Sulpetro [Sindicato dos Revendedores de Combustíveis do Rio Grande do Sul], onde começou como 2º tesoureiro e atualmente é vice-presidente. Em 1992 tornou-se sócio-fundador da Coopetrol [Cooperativa dos Revendedores de Combustíveis], tendo desempenhado importante papel em sua administração e desenvolvimento. “Nos tempos atuais, Raabe trabalha pela melhoria da sociedade e da evolução econômica das empresas. É vice-presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul, conselheiro-curador da Fundação Gaúcha dos Bancos Sociais, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Calcário Agrícola e do Sindicato da Indústria de Extração de Mármore, Calcário e Pedreiras do Estado do Rio Grande do Sul.

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Oscar e a esposa. Foto Paulo Ávila.

“Paralelamente, atua como diretor das Organizações Raabe, composta pelas empresas Raabe Combustíveis, Raabe Calcários, Raabe Comercial de Alimentos, e Raabe Arroz, Comércio e Transportes. Ativo, organizado e trabalhador incansável, Oscar Raabe participa das lutas no interesse das categorias que representa. Esse perfil conciliador já lhe rendeu um troféu idêntico na edição de 2002. “Na vida pessoal, Raabe é um home de família. Casado com Elenita Alice, o casal tem três filhos e três netos. É um homem preocupado socialmente, sonha com uma sociedade mais justa e com oportunidades para todos através do desenvolvimento e do trabalho das entidades classistas. “Há quase 50 anos no segmento de combustíveis, e por suas lutas em prol dos revendedores, Oscar Alberto Raabe recebe o Prêmio Coopetrol 2010, Categoria Regional”.1251 m) Célia Raabe, casada com Antônio Machado, do Rio de Janeiro.

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Ávila, Paulo. “Oscar A. Raabe Destaque Regional 2010”. Coopetrol, 15/07/2011

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n) Dory Raabe, socialite,1252 1253 secretária do Guaracy Clube,1254 uma das fundadoras do primeiro Clube de Mães, participou por muitos anos do Movimento de Cursilho de Cristandade, com o marido foi membro ativo do Centro de Tradições Gaúchas Rincão da Lealdade, e segundo seu obituário, “espalhava alegria por onde passava, sendo esta sua maior característica”.1255 Foi casada com Dirceu Wisintainer, dono de uma concessionária de automóveis e nome de rua. O casal gerou: n1) Dóris Elise Wisintainer, casada com Claudio Pedro Giacomet. A Zero Hora publicou em 2015 o seu obituário: “Claudio Pedro Giacomet morreu em 31 de julho, em sua casa, em Porto Alegre. Ele tinha 73 anos. Sócio da Araupel S.A., Claudio trabalhava na empresa familiar do ramo madeireiro desde sua fundação, em Dory Raabe Wisintainer, foto da família Wisintainer. 1972. Ocupou o cargo de diretor administrativo-financeiro durante 30 anos e, desde 2002, integrava o Conselho Administrativo. O empresário nasceu e cresceu em Caxias do Sul, mas se mudou para Porto Alegre para estudar. Formado com láurea acadêmica em Engenharia Química pela UFRGS, em 1964, foi professor de química na instituição e lecionou matemática na Universidade de Caxias do Sul. Ele ainda foi homenageado pelo seu desempenho no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR) do Exército, em 1963. “Claudio deixa a mulher, Dóris Elise Wisintainer – com quem era casado desde 1966 –, os filhos, Guilherme, Claudia e Luciana, e os netos, Lucca, Luigi, Julia, Arthur e Bernardo. Segundo os familiares, ele foi um exemplo de integridade, bondade e dedicação ao trabalho e à família. ‘Deixa saudades e orgulho a todos que tiveram o privilégio de viver ao seu lado e aprender com seu legado’, afirma a filha Luciana”.1256 n2) Francisco Wisintainer, casado com Fabiane Parisotto, conceituado médico oncologista, autor de livros, diretor Administrativo da Associação Médica de Caxias do Sul, diretor Científico do Instituto De Vita, que tem louvada atuação na área do tratamento e prevenção do câncer, com iniciativas apoiadas pelo alto empresariado e pela oficialidade, membro do Grupo Brasileiro de Estudos do Câncer de Mama e das sociedades brasileira (SBCO), americana (ASCO) e europeia (ESMO) de Oncologia Clínica.1257 1258 1259

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Ellioth. “Réveillon no Juvenil”. O Momento, 13/09/1947 Gargioni, Paulo. “Sociedade”. Caxias Magazine, 07/02/1970 1254 “O Guaraci Clube comemorou o seu 6º aniversário”. A Época, 30/08/1939 1255 “Falecimentos desta quarta-feira”. Pioneiro, 17/12/2014 1256 “Obituário: Claudio Pedro Giacomet”. Zero Hora, 05/08/2015 1257 “Oncologista caxiense lança livro sobre Câncer de Mama”. Gazeta de Caxias, abril/2013 1258 “CIC oficializa adesão a programas de prevenção do câncer”. Assessoria de Imprensa da CIC, 27/10/2011 1259 Pulita, João. “Social do fim de semana”. Pioneiro, 23/03/2013 1253

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Os médicos Carlos Henrique Barrios e Francisco Raabe Wisintainer ladeando a secretária da Saúde de Caxias do Sul, Dilma Tessari, no lançamento do livro que os dois assinam sobre câncer de mama. Foto Luis Chaves/Gazeta de Caxias.

Maximiliano entrevistado pelo canal CQ7.

Henriette e Alexandre Wisintainer, foto José Zignani / Pioneiro.

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n3) Maximiliano Wisintainer, gerente comercial da Viezzer Engenharia, a mais ativa empresa de engenharia e construção do estado, palestrante na CIC, consultor da Administradora de Consórcios Maia,1260 1261 1262 presidente do Recreio da Juventude1263 e várias vezes membro da Diretoria do Rotary Club Cinquentenário, casado com Olga Maria Corazza e pai de Rafael, empresário, Gabriela, psicóloga, Sabrina, médica hematologista e cancerologista, e Ricardo, empresário. n4) Wiliam Wisintainer, representante comercial, casado com Margarete Tartarotti. São pais de n4a) Estevan, empresário graduado em Administração de Empresas, atuou na empresa familiar A. Wisintainer Administração e Participações Ltda. e hoje trabalha na Croasonho Franchising Ltda. n4b) Vanessa, arquiteta e urbanista, professora universitária e consultora comercial de mobiliário corporativo. n4c) Vivian, cirurgiã-dentista, casada com Frederico Sehbe de Carli, filho de Alexandre Campos de Carli e Ana Mery Sehbe. n5) Alexandre Antônio Wisintainer, empresário, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Caxias do Sul,1264 presidente da Festa da Uva, homenageado pela Câmara de Indústria e Comércio e pela Câmara Municipal,1265 casado com Henriette. n6) Margareth Wisintainer, destacada na galeria das jovens celebridades do ano de 1968 pelo conhecido colunista Paulo Gargioni, hoje médica, palestrante voluntária da Liga Feminina de Combate ao Câncer;1266 associada ao Instituto De Vita1267 e considerada uma dama de “impecável fidalguia”.1268 n7) Dirceu Wisintainer Junior, corretor imobiliário desde 1983, proprietário da empresa Dirceu Wisintainer Consultoria Imobiliaria e Empresarial Ltda., membro da Diretoria do Rotary Club Veneto. É casado com Suzana Maria Porto da Rocha e pai de Felipe, casado com Gabrielle de Souza. n8) Kátia Wisintainer, médica pediatra.

Margareth Wisintainer no centro da roda, palestrando na Liga Feminina de Combate ao Câncer. Foto da Liga.

n9) Gustavo Wisintainer, empresário, sócio da A. Wisintainer Administração e Participações Ltda., casado com Daniela de Queiroz Fochesato e pai de Nathalia.

1260

“Áreas de lazer ganham evidência entre os lançamentos de imóveis em Caxias”. Feirão Pense Imóveis, 09/06/2012 1261 Gregório, Jean. “Cirurgia plástica e turismo na nova onda do consórcio”. Jornal da Paraíba, 13/09/2009 1262 CIC. “Vendas - Módulo I: Ferramentas de Atuação”, jul/2010 1263 “Sede Social foi cenário para homenagens e reencontros de ex-dirigentes e ex-rainhas do Clube”. In: Revista do Recreio da Juventude, 2012; 3 (8) – Edição especial do Centenário 1264 Câmara de Dirigentes Lojistas de Caxias do Sul. Galeria dos ex-presidentes. 1265 Câmara de Vereadores de Caxias do Sul. Voto nº VG-25/2011 1266 “Metadados adere ao Outubro Rosa”. Dinâmica Comunicação, out/2014 1267 Brambilla, Miguel. “Dia Municipal de Luta contra o Câncer de Mama é comemorado em Caxias do Sul”. Sabe Caxias, 18/07/2014 1268 Pulita, João. “Social de terça”. Pioneiro, 12/10/2010

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Os Wisintainer são primos de Madre Paulina, canonizada recentemente. Francesco Wisintainer, avô de Dirceu, era irmão de Napoleone Wisintainer, pai de Paulina, cujo nome de batismo era Amabile Lucia. Segundo notícia da Rádio Gaúcha, “Veio para o Brasil em 1875, junto com a família de imigrantes que se instalou em Nova Trento, interior de Santa Catarina. Em 1890, deixou a casa dos pais, junto com a amiga Virgínia Nicolodi, instalando-se num casebre para cuidar de uma senhora doente de câncer. Depois de ser reconhecida como fundadora da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição e de fazer os votos religiosos, passou a chamar-se Irmã Paulina do Coração Agonizante de Jesus. Após a morte, em julho de 1942, aos 77 anos, peritos médicos, teólogos e cardeais da Congregação para a Causa dos Santos reconheceram como milagre duas graças atribuída a ela”.1269

Santa Paulina, foto Arautos do Evangelho.

1269

“Parentes gaúchos de Madre Paulina assistirão à canonização no Vaticano”. Rádio Gaúcha, 14/05/2002

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Comemoração da passagem do século pela Sociedade das Quatro Quadras. Foto tomada em 1º de janeiro de 1900. Marcados estão 1) João Artico, 2) Osvaldo I Artico, 3) João Paternoster, 4) Antonio Artico e 5) Augusto Artico.

5) José Artico é um filho de Osvaldo e Magdalena Artico do qual a família sequer sabia da existência até serem encontradas em 2015 duas referências na imprensa. Na primeira, de 1914, ele envia condolências à família do falecido Baptista Zanotelli, citado ao lado de João e Antonio,1270 e no cadastro eleitoral de 1922, onde se confirma sua filiação, ele aparece como casado, com 33 anos, ferreiro de profissão e residente na Sede Dante.1271 Daí em diante ele some do mapa. 6) Augusto Artico, meu bisavô, outro filho de Osvaldo, conforme sua certidão de casamento nascido em 5 de janeiro de 1881 (ou 5 de fevereiro de 1879, conforme consta no “santinho” que lembrou seu passamento), apelidado Gustelo, casou-se com Ema Panigas em 1900, e manteve a oficina de ferreiro que recebeu do pai, sendo por algum tempo sócio do irmão João e provavelmente também do irmão José. Depois assumiu a direção da empresa. Segundo a tradição familiar, ele colaborou com as obras da Catedral fornecendo pregos.

1270 1271

“Agradecimentos”. O Brazil, 03/10/1914 “Editaes”. O Brasil, 12/11/1922

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Foi um dos fundadores e conselheiro da Sociedade Recreio Dante, fundada em 1913 com fins recreativos e educativos, dispondo de boa biblioteca, oferecendo aulas noturnas de nível Elementar e um curso técnico de Comércio, funcionando nas dependências do primitivo Colégio do Carmo, então localizado nos fundos da Catedral. Além disso, propiciava para seus sócios sessões de cinema e teatro e outros “divertimentos moderados, instrutivos e morais”. A Sociedade foi dissolvida em 1933, e suas existências foram transferidas para a Fabriqueria da Catedral, que beneficiou com elas a Escola Paroquial Santo Antônio.1272 Ele também herdou parte da cantina de vinhos, sendo sócio do irmão Antonio, mas não se sabe exatamente que participação tinha no negócio além da formal, pois na imprensa Antonio é quem sempre aparece no comando e Augusto não é mencionado nominalmente nenhuma vez em associação com a cantina. Além disso, dizem as memórias familiares que sua ocupação sempre foi a ferraria. Seja como for, por algum tempo viveu muito bem, como provam as várias aparições na crônica social da sua primeira filha, Mariuccia, e Augusto Artico os poucos remanescentes de mobília de estilo, prataria e cristais que decoravam sua casa, mas acabou falindo com o irmão na crise dos anos 20. Para piorar sua situação, empenhou seus bens para cobrir as dívidas da cantina e acabou perdendo tudo, mas pagou tudo o que deviam. Seu filho Osvaldino deixou lembranças deste tempo de dificuldades, descrevendo a casa simples onde foram morar: “Meu pai era um homem crente, acreditava na honradez, não vacilou em hipotecar todos os seus bens pelo bem da empresa, só não avaliou que perderia também o que armazenara com seu trabalho de ferreiro, e ninguém lhe estendeu a mão na hora em que necessitou. [...] “A sala e o quarto de meus pais ficavam na frente e um corredor levava à cozinha, onde havia um fogão feito de tijolos ligados com barro, tendo uma chapa de ferro-gusa com três furos com arcos; para queimar se usavam galhos de pinheiros. Eu dormia no sótão, num colchão de palha de milho, usava calças longas, mas sempre com os bolsos cheios de pão. O chuveiro estava no porão; era uma lata de querosene e uma lata de azeite com o fundo cheio de furinhos, adaptada na base da lata de querosese. A água descia pela cabeça e caía numa grande tina. A água era aproveitada para a limpeza do pátio. Como não havia encanamento de água, ia-se buscar do outro lado da rua com baldes, onde havia um poço”.1273 1272 1273

Adami (1981), op. cit. Artico, op. cit.

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Como havia sido ferreiro, Augusto foi empregado pela Metalúrgica Eberle, mas, designado para o insalubre trabalho nas grandes fornalhas, acabou adoecendo e teve que aposentar-se precocemente, nunca mais recuperando a saúde perfeita. Como a pensão de Augusto era muito pequena, sua esposa e filhas assumiram o sustento da família trabalhando como costureiras. A perda de seu patrimônio, incluindo a sua casa, e depois a perda do emprego, transformaram-se em um estigma de fracasso que o envergonhou pelo resto da vida, o que é compreensível naquela sociedade patriarcal, onde o homem devia ser o provedor, embora fosse descrito como um bom esposo e pai e figura impagável, tendo também o apelido de Sanguanel, que significa algo como “diabinho”...1274 1275 Osvaldino também falou sobre o período na Metalúrgica, mostrando o lado folgazão de seu pai e o cuidado que tinha para com os filhos: “Gustelo, aos domingos, pela manhã ia à missa, e à tarde, com os companheiros, amigos e compadres que trabalhavam na empresa de Abramo Eberle, passavam o tempo jogando cartas, o quatrilho, canastra e outras variantes na bodega de Antonio; era o máximo que a sociedade lhes oferecia. O valor do jogo era uma garrafa de vinho, que era feito na colônia, bebido durante o jogo, e ao entardecer estavam todos embriagados. “Findo o jogo, já pelas horas do crepúsculo, galinhas recolhidas em seus galinheiros, já havia tocado a Ave Maria, os companheiros bastante alegres e felizes com a influência do bom vinho, e animados com o bicchieroto di vin começavam a cantoria de canções italianas, transmitidas pelos pais imigrantes; era só o que conheciam. Cantavam, cantavam... vozes de tenores, de baixos, graves como são os italianos. A euforia era tanta que perdiam a noção do tempo, e minha mãe, preocupada, me mandava procurar o pai e ver se conseguia convencê-lo de que voltasse para casa. [...] “O pai foi aquele que segurou a mãozinha do filho que tem um cofrinho, o porquinho, para ir ao banco depositar os tostões da poupança, ensinando a economizar... Foi aquele que cultivava a noite de São João, e ajudava a gurizada a fazer a fogueira e sapecar os pinhões... Foi aquele que carregou o filho nos braços em 1920 indo à Farmácia Morelli, onde o dr. Felix Spinato deu três pontos no corte do joelho... Foi aquele que ensinava a não desistir dos projetos e ser honesto... Foi aquele que nos fins de semana, de noites de rigoroso inverno de neves, convidava a vizinhança para comerem batata-doce com um belo garrafão de vinho, e depois cantavam La Bella Violeta e Il Mazzolin di Fiore... Foi aquele que fez do trabalho uma religião... Foi aquele que, velho, cansado, aposentado, sentava próximo da janela com o livro de orações em italiano, e rezava, rezava, rezava...” 1276 Augusto era devoto, foi festeiro de Santa Teresa,1277 membro da Obra Seráfica para as Missões dos freis Capuchinhos e benfeitor do Comissariado da Terra Santa no Brasil. Faleceu em 24 de junho de 1962. Mais tarde seu esforço foi lembrado, vindo a batizar uma rua. 1278

1274

Artico, op. cit. Longhi & Frantz, op. cit. 1276 Artico, op. cit. 1277 “Grande Festa”. Città di Caxias, 05/10/1914 1278 Câmara Municipal de Caxias do Sul. Lei nº 2606, de 26 de novembro de 1980 1275

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359 Certificado de benfeitor do Comissariado da Terra Santa no Brasil recebido por Augusto Artico.

Ema e Augusto Artico com sua neta Vera Longhi

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Stella Panigas de Lazzer, Augusto Artico, Osvaldo Mirim Artico, Ema Panigas Artico e Amalia Panigas Pisani nas Bodas de Ouro de Augusto e Ema.

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Amalia, Giuditta com Antonio no colo, Tomaso, Ema e Stella Panigas. Esta foto, que é o único registro visual conhecido de Tomaso, Giuditta e Antonio, foi recentemente doada à minha coleção por Doroti Artico Chemello, a quem deixo registrados meus agradecimentos.

Ema, esposa de Augusto Artico, era filha de Tomaso Panigas, nascido em 1847 em Santa Giustina, província de Belluno, casado em 1867 com Giuditta Cecchini. Tomaso era filho de Antonio Panigas, nascido em 1822 em Feltre, província de Belluno, casado com Maddalena Viezzer. Giuditta era filha de Giuseppe Cecchini, de Feltre, e Regina Sacchetti. As vidas dos pioneiros são mal conhecidas e pobremente documentadas. Sua emigração, segundo as lembranças familiares, não se deveu a dificuldades econômicas, mas a uma série de tristes eventos. Na Itália a família tinha posses e terras, vivendo num palacete de três andares, inclusive viajando com uma pequena fortuna em ouro, mas já haviam perdido dois filhos, e Tomaso havia causado a morte da esposa de seu irmão disparando acidentalmente uma espingarda enquanto limpava a arma. Para o cúmulo da tragédia, ela estava grávida. Isso deve ter causado uma grande crise familiar. Viajaram em data ignorada, não existe registro de chegada, mas ela ocorreu sem dúvida antes de 1882, provavelmente em torno de 1879-1880, e ao que parece entraram no Brasil pela Argentina. Traziam as filhas Ema e Amalia, e no Brasil tiveram Antonio, Stella e Luiz. Consta que houve mais um filho, Umberto (ou Alberto), mas não se tem nenhum dado sobre ele, e deve ter morrido na infância. 362

Segundo a tradição familiar, seria este o palacete dos Panigas em Santa Giustina. A foto é antiga, e quando o edifício foi visto por minha tia Vera Longhi nos anos 80 ele já estava bastante modificado, mas ainda pertencia à família. Ao lado, a Capela de Santa Catarina em Caxias. Foto do blog Juventude Unida Buscando o Senhor.

Talvez tenham vindo outros Panigas da Itália, pois a partir dos anos 30 há alguns registros esparsos do nome na zona rural que não pertencem à minha família conhecida, como Zulmiro, Santo, Marianna e Gioseppina. Eles podem descender de Luiz, cuja vida é obscura, mas foi impossível traçar suas origens. Diz a tradição que Tomaso e sua família trabalharam primeiramente como agricultores, instalados onde mais tarde foi erguida, bem em frente à sua casa, a Capela de Santa Catarina, e teriam contribuído para a sua construção. Conforme lembranças de seu neto Osvaldino Artico, o patriarca era muito religioso, assistia missa todos os dias e cultivava a devoção no lar, estando sempre com um livro de orações em punho. Seu primeiro registro conhecido é de 1895, quando começa a ser citado nos Livros de Registro de Imposto sobre Indústrias e Profissões como dono de um comércio. Na mesma época abriu também uma bodega. Em 19 de maio de 1897 aparece junto com Angelo Viezzer e outros assinando uma ata da Comissione dei Traversoni, que colaborava com a comissão dos fabriqueiros na construção da Catedral.1279 A Comissione era formada por líderes dos travessões rurais, indicando que Tomaso já havia ganhado prestígio na comunidade. A imprensa o cita pela primeira vez participando das festividades de instalação da administração municipal em nova sede em 1899. A notícia, no jornal A Federação, órgão do Partido Republicano, o mostra ao lado das maiores autoridades da vila, o que reforça a impressão de que era figura destacada, e sugere que estivesse envolvido também com a política. Em 1903 ainda é citado como comerciante, e neste ano aparece explorando “jogos lícitos”.1280 Porém, em janeiro de 1911 estava com impostos em atraso, 1281 o que não deixa de ser estranho, pois em outubro do mesmo ano fez uma doação de dez mil réis para as obras da escadaria da Catedral,1282 uma quantia que estava longe de ser uma simples esmola. 1279

Le Comissione dei Traversoni per i Lavori della nuova Chiesa di Caxias, 19/05/1897. Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, SAR 0326 1280 Município de Caxias. Livros de Registro de Imposto sobre Indústrias e Profissões, 1903 1281 “Relação dos devedores”. O Brazil, 28/01/1911 1282 “Escadaria da Igreja”. Cidade de Caxias, 07/10/1911

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Livros de Registro de Imposto sobre Indústrias e Profissões, 1903

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Tomaso e Giuditta viveram em uma casa idêntica a esta, que existia exatamente ao lado desta. Sua casa serviu como ponto de referência geográfica em diversos relatórios da Intendência no início do século XX. Isso é mais uma evidência de que Tomaso se tornara pessoa largamente conhecida na cidade, o que, no entanto, contrasta com a pobreza dos registros na imprensa.

Ele manteria fortes laços com a Catedral, sendo músico e cantor do coro e, de acordo com Osvaldino, doou o primeiro órgão da igreja e ascendeu à posição de mestre-de-capela, o chefe do coro e responsável pela música sacra. Foi ainda membro do Comitato Italiano Pro Patria,1283 e professor de música, alfabetização e ofícios diversos, auxiliando outros pioneiros. Diz a tradição que Tomaso teria participado também da fundação e atividade da Banda Santa Cecília. Mas este é um caso em que a memória conflita com os registros. Adami e Costamilan, que escreveram longas passagens sobre a banda, Adami inclusive dando duas de suas formações, não acusam Tomaso entre os músicos, e nem como maestro ou como fundador. Tampouco a imprensa o cita ligado à banda, e o padre Brandalise, historiador da paróquia da Catedral, não o cita nem uma só vez. Sobreviveu uma fotografia em que Tomaso supostamente aparece com o grupo. Ele foi identificado pelo historiador Alvino Brugalli, mas ele não conheceu pessoalmente o pioneiro, e comparando suas feições com a fotografia que o mostra com a família, ilustrada antes, que foi preservada pelos seus descendentes e que é um documento de autenticidade inquestionável, não pode ser a mesma pessoa, e a identificação foi equivocada. Além disso, nesta foto o suposto Tomaso não está fardado nem empunha qualquer instrumento. Mesmo que ele não seja a pessoa da foto, poderia ter se associado à banda de outras maneiras, talvez como membro da Diretoria e não um músico efetivo, ou sendo um maestro suplente ou um convidado especial, ou mesmo compondo peças para ela. Por outro lado, sua bisneta Edelweiss de Almeida Vasques pensa que a banda à qual ele se ligou pode não ter sido a de Santa Cecília, mas sim uma banda militar. Considerando a completa ausência de testemunhos externos relacionando-o com a Banda Santa Cecília, acredito que Edelweiss deve estar com a razão, ainda mais porque seu sepultamento, segundo seu neto Osvaldino Artico, foi acompanhado pela banda do 9º Batalhão de Caçadores de Caxias do Sul (antecessor do 3º Grupo de Artilharia Antiaérea do Exército), e por isso deve ser este, enfim, o conjunto onde ele atuou. 1283

“Comitato Italiano Pro-Patria”. Città di Caxias, 31/01/1916

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Esta banda só é documentada na imprensa nos anos 30, e pode ter sido fundada somente nesta altura. Mesmo depois os registros são escassos, e aparentemente o conjunto deve ter-se limitado a ornamentar cerimônias e desfiles militares, mas essa impressão pode ser enganosa e poderia mudar radicalmente através da pesquisa nos arquivos do 3º Grupo de Artilharia Antiaérea, o que ainda está por ser feito. Alguns registros mostram que a banda teve efetivamente momentos de maior destaque, como na inauguração da nova sede da Escola Complementar em 28 de março de 1931,1284 a primeira escola pública para formação de professores da cidade; nas grandes celebrações cívicas organizadas pelos Caçadores em 24 de maio de 1933, que movimentaram toda a cidade;1285 nas solenidades de abertura da IV Festa da Uva de 1934,1286 no “sarau dançante” oferecido no mesmo ano pelo regimento no seu cassino,1287 e na suntuosa recepção e banquete no Clube Juvenil oferecidos pela Municipalidade a uma caravana de estudantes da Universidade Paulista, em 1935,1288 ocasiões em que a banda foi atestada a participar dos festejos. Deve também ter participado da Semana da Raça de 1933, à qual o 9º Batalhão aderiu “integral e espontaneamente”, dando cooperação “realmente inestimável” para aumentar o brilho da festa,1289 da inauguração do cassino do quartel, ocorrida em 1934,1290 e na grande festa do Dia da Bandeira do mesmo ano, quando houve cantoria de hinos cívicos acompanhados de um coro de cerca de mil vozes, 1291 sendo presumível que a banda tenha atuado. Em nenhum desses eventos o nome de Tomaso é citado, o que neste caso não significa muito, pois os componentes ou maestros da banda nunca são citados. Se Tomaso fez realmente parte do conjunto, como parece ser, ele deve ter estado lá, pois ao que se sabe permaneceu ativo até o final da vida. Sua atividade econômica principal na última etapa de sua vida deve ter sido a lavoura, sendo citado como agricultor em seu obituário.1292 Quando morreu, em 23 (?) de março de 1936, com 92 anos, já viúvo, seu sepultamento foi homenageado com cortejo solene.

A assinatura de Tomaso Panigas em um manuscrito do Arquivo Histórico Municipal.

1284

Bergozza, Roseli Maria. Escola Complementar de Caxias: histórias da primeira instituição pública para formação de professores na cidade de Caxias do Sul (1930-1961). Dissertação de Mestrado. UCS, 2010, p. 148 1285 “Grandiosa festa no Quartel do Nono Batalhão de Caçadores”. O Momento, 25/05/1933 1286 “4ª Festa da Uva”. O Momento, 15/02/1934 1287 “Caxias Social”. O Momento, 06/09/1934 1288 “A visita dos estudantes paulistas a Caxias”. O Momento, 16/03/1935 1289 “Alcançou extraordinario exito a Festa da Raça, em Caxias”. O Momento, 16/10/1933 1290 “Homenagem ao Cel. Poggi”. O Momento, 08/01/1934 1291 “Dia da Bandeira”. O Momento, 22/11/1934 1292 “Óbitos”. O Momento, 23/03/1936

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Ata da Comissione dei Traversoni onde aparece a assinatura de Tomaso. Acervo AHM.

Dos pais e da esposa de Tomaso nada se sabe. O sobrenome Panigas tem origem muito recente, o registro mais antigo encontrado é de 1711. A família é extremamente mal documentada na Itália. O que se sabe é que criaram tradição em Santa Giustina, onde aparecem no fim do século XVIII, e em Sospirolo, a pouca distância.1293 Sobre os Cecchini, Viezzer e Sacchetti há escassos sinais nos primeiros tempos caxienses. Um grande grupo Cecchin formou-se na 2ª Légua e tornou-se tradicional, com vários representantes de destaque, mas provavelmente não são consanguineos. Cecchini é uma forma típica da Toscana, mas Cecchin é a variente típica do Vêneto. Embora o ancestral Giuseppe Cecchini tenha vindo de Feltre, nesta região o nome nesta variante está ausente até o fim do século XIX, ao passo que na Toscana aparece desde o século XIV, gerando ramos camponeses e outros nobres e patrícios.1294 Não se sabe a qual deles minha família pertence. A origem dos nossos Sacchetti também é incerta. Da mesma forma, esta variante é típica do centro da Itália, mas em Caxias predominou amplamente a variante vêneta Sachet, cuja consanguinidade é duvidosa. Em Belluno, a suposta origem de Regina Sacchetti, eles estão ausentes até o século XIX. Alguns Sacchetti se radicaram na 15ª Légua de Caxias, procedentes de Verona, onde foram registrados como nobres no século XVIII,1295 mas foi impossível descobrir se são parentes de Regina. Os veroneses provavelmente derivam de uma ilutre família nobre florentina, atestada desde o século XI, que adquiriu grande poder e riqueza.1296 1297

Já o nome Viezzer parece ter uma origem única, Soligo, na Província de Treviso, onde apareceu como uma corruptela de svizzeri, “suíços”. Eram descendentes de mercenários suíços que se fixaram na cidade, tendo chegado ali acompanhando um frei que participou da construção da Ermida de San Gallo em 1430.1298 Depois permanecem na obscuridade até o século XIX, quando começam a se espalhar e aparecem alguns notáveis. Vários Viezzer estavam entre os pioneiros de Caxias, procedendo da mesma região de Belluno, e portanto devem ser parentes de minha ancestral Maddalena. Podem ser citados Giovanni Maria e seus filhos Angelo e Giuseppe, pioneiros da 3ª e 8ª Léguas, agricultores premiados e ativos colaboradores da Igreja, estando entre os fundadores de capelas e paróquias.1299 Almiro, agricultor, foi um dos fundadores da comunidade de Nossa Senhora de Lourdes, hoje populoso bairro e sede de paróquia, casado com Olga Mazotti, também uma líder, de família ativa na comunidade de Nossa Senhora do Rosário, onde tinham suas terras. 1300 Ernesto foi um dos pioneiros do distrito de São Marcos, depois se transferiu com a família para Toledo, estado de Santa Catarina, sendo um dos seus fundadores. Ali sua esposa Gentila Ruaro, após a morte precoce do marido, se revelou mulher empreendedora, sendo a primeira costureira do local, depois tornando-se comerciante e hoteleira, figura conhecida na comunidade, vindo a batizar uma rua.1301 1293

Casanova, Pieranna. “Festa degli alpini: annuale ritrovo sul monte Sperone”. Corriere delle Alpi, 17/08/2011 Rossoni, Ettore. L'Origine dei Cognomi Italiani. Storia ed Etimologi (1295-1950). Melegnano, 2014 1295 Schröder, Francesco. Repertorio genealogico delle famiglie confermate nobili e dei titolati nobili esistenti nelle provincie Venete. Alvisopoli, 1830 1296 D'Addario, Arnaldo. “Sacchetti”. Enciclopedia Dantesca, 1970 1297 Bennassuti, Luigi. La Divina Commedia di Dante Alighieri col Commento Cattolico. Civelli, 1808 1298 Tommasini, Anselmo. I santi irlandesi in Italia. Vita e Pensiero, 193 1299 “Família Viezzer comemora 100 anos de Brasil”. Pioneiro, 22/08/1979 1300 Machado & Aguzzoli, op. cit. 1301 Câmara de Vereadores de Toledo. Indicação nº 305/2013 1294

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Quando os Viezzer comemoraram 100 anos de chegada ao Brasil o Pioneiro publicou uma matéria de página inteira com várias fotos. Diz o texto: “A família Viezzer chegou a Caxias do Sul em 11 de janeiro de 1879, procedente de Mel, Belluno. Eram três casais, João Maria [Giovanni Maria] e seus dois filhos Giuseppe e Angelo. Giuseppe, casado com Augusta Viezzer, trazia um filho de um ano, Pedro. “Aqui, Giuseppe e Augusta tiveram mais oito filhos, que se tornaram o tronco de uma família que conta, atualmente, com mais de 900 descendentes, espalhados por Caxias, Canela, Canoas, Porto Alegre, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. “Pobre e numerosa, a família tornou-se rica pelo trabalho e pela religiosidade, sendo as reuniões familiares uma constante nesses 100 anos de Brasil. A família Viezzer foi uma fundadora da Paróquia de Santa Teresa de Caxias do Sul, e Pedro, um dos que mais trabalharam para angariar fundos que permitiram a construção da atual Catedral Diocesana. Participaram ainda da fundação da Capela São Ciro, hoje paróquia. Mais tarde, contribuíram também para a criação das paróquias de Lourdes e Sagrada Família, hoje São Ciro. “No trabalho, dedicaram-pse à agricultura e vitivinicultura, recebendo, em 1917, medalhas A atual igreja da paróquia de Lourdes, de cuja fundação participaram os Viezzer. Este prédio substituiu nos anos 40 a de ouro e bronze, em exposição agro-industrial realizada em Porto Alegre, com os produtos vinho primitiva capela de madeira. e graspa. Entre os descendentes da família Viezzer, hoje se encontram médicos, engenheiros, professores, contabilistas, comerciantes, pecuaristas, industriais, mecânicos e políticos. “No domingo [...] quase 900 descendentes de Giuseppe e Augusta Viezzer reuniram-se para comemorar o centenário da família no Brasil. Na Igreja de São Ciro, o clima era de festa. No altar, as [...] eram verdes e amarelas - as cores do Brasil – e verdes, brancas e vermelhas – como a bandeira da Itália. Durante a cerimônia, um grupo da família Viezzer deslocou-se até o cemitério, quando depositou uma coroa de flores junto ao jazigo da família. Seguindo-se as comemorações, realizou-se um grande almoço, quando Franco Solo, vice-cônsul da Itália, leu a mensagem enviada pela comunidade de Mel, berço da família Viezzer”.1302

1302

“Família Viezzer comemora 100 anos de Brasil”. Pioneiro, 22/08/1979. Obs: A página tem pouca legibilidade e pode haver erros de transcrição.

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Moema Viezzer, com o punho erguido, participando de uma passeata ecológica. Foto na Revista Sociologia.

O nome permaneceu com raros e inexpressivos registros na imprensa até os anos 60, com a notada exceção de Vera, rainha das Falenas.1303 Mais recentemente ganharam projeção e merecem nota, por exemplo, Pedro e Mário, nomes de rua; Olivir, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Caxias do Sul, da Diretoria de Infraestrutura e Política Urbana da Câmara de Indústria e Comércio, e diretor da Viezzer Engenharia e Negócios Imobiliários, grande empresa há 35 anos no mercado e com várias filiais em outras cidades;1304 1305 1306 Silvio, juiz da 5ª Vara Cível;1307 Claires, empresária de moda,1308 Antenor, festeiro da paróquia dos Capuchinhos, um dos organizadores dos Jogos de Bodega da Olimpíada da Festa da Uva 2010,1309 e Moema, que nasceu em Caxias mas fez carreira fora daqui, ganhando significativa notoriedade internacional. Escritora, educadora, socióloga, militante ecológica e militante feminista, Moema Viezzer foi exilada no período da ditadura, trabalhando por dois anos no Peru, Inglaterra e México. Voltando ao Brasil, em 1980 fundou a Rede Mulher de Educação. Como escritora sua obra mais eloquente é Se Me Deixam Falar - Domitila (1976), inspirada na vida da militante feminista e operária boliviana Domitila Barrios de Chungara, a quem conheceu pessoalmente. Sua contribuição relevante para as causas humanitárias foi reconhecida pelo Senado Federal, que lhe concedeu o Diploma Bertha Lutz, e foi também uma das 52 brasileiras incluída na lista de mil indicadas em todo o mundo para o Prêmio Nobel da Paz em 2005.1310 1311 1312 1313

1303

“Uma Peça em Quatro Atos: 2º Ato – O Baile”. Informativo Clube Juvenil, dez/2003 Cunha, Andreza. “Viezzer comemora 30 anos”. Pioneiro, 19/09/2009 1305 “Expediente”. Informações & Negócios, 2011; 20 (148) 1306 Sinduscon Caxias. 1307 “Atos de Desagravo Público fortalecem advocacia em Caxias do Sul”. Canal Prerrogativas - OAB, 10/07/2013 1308 Pulita, João. “Social de quarta”. Pioneiro, 24/09/2014 1309 “Jogos de Bodega ficam com as inscrições abertas até o horário de início das provas”. Redesul, 04/03/2010 1310 “Senado entrega prêmio e presta homenagem”. Jornal do Senado, 12/03/2007 1311 “Paranaenses integram lista para indicação ao Nobel”. H2Foz, 29/06/2005 1312 “Se Me Deixam Falar - Moema Viezzer”. Causa Operária Online 1313 Resk, Sucena Shkrada. “Desenvolvimento sustentável”. In: Revista Sociologia, 2015 (56) 1304

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Voltemos agora à descendência Tomaso Panigas e Giuditta Cecchini. Seus filhos foram: 1) Stella Panigas, nascida em 6 de fevereiro de 1892, foi casada com Antonio de Lazzer. Antonio nasceu em 15 de março de 1885, filho de Giovanni Vittore de Lazzer e Angela Corenghidi. Ver nota 1314 Victor Hugo de Lazzer, bisneto de Vittore, forneceu muitos dados sobre os pioneiros, e os trechos entre aspas são suas palavras. Giovanni Vittore de Lazzer nasceu em 21 de setembro de 1853, e sua esposa Angela Corenghidi em 16 de outubro de 1857. Ambos eram católicos e naturais de Fonzaso, na Província de Belluno, tendo chegado a Caxias em 1º de setembro de 1879. Giovanni Vittore era filho de Antonio de Lazzer, nascido em 9 de maio de 1822 e falecido em 1873, e Maria Giacomin. Os pioneiros traziam os filhos Agostino e Maria I, que faleceram pequenos, pouco depois da chegada. No Brasil nasceriam Antonio, Maria II e Anna. Vittore e sua família, assim que chegaram, “Subiram a picada aberta no meio do mato entre os barracões da 3ª e 6ª Léguas, e foram remetidos diretamente para o barracão da Sede Dante na 5ª Légua, que fora construído em 1878. Através da Estrada Conselheiro Dantas, construída a partir da Sede Dante rumo Angela Corenghidi e Giovanni Vittore de Lazzer. Coleção de aos Campos de Cima da Serra, partiram na Victor Hugo de Lazzer. direção nordeste, rumo à 7ª Légua. Vittore e Angela obtiveram o título provisório de metade do lote nº 06 da 7ª Légua, mediante débito com o Império do Brazil de 268$620. Somente em 28 de outubro de 1892, 13 anos após o pagamento integral da área, foi concedido o título definitivo de propriedade”. “Todos os grandes historiadores da imigração italiana, em especial o professor e amigo Mário Gardelin, destacam a preponderância da família e da religião nos diferentes fluxos da imigração, pois os relatos dos nossos historiadores dizem que não viajaram italianos para o Brasil e, sim famílias italianas. “O fascínio da propriedade por Vittore e Angela, a busca de ser dono de um pedaço de terra, era algo irresistível para os imigrantes, que na sua linguagem vêneta diziam: Quá noantri stemo bem perchê semo sul nostro. O significado de propriedade chegava a ser obstinação, uma ética, um ideal e um apego. A terra era uma condição para ascensão econômica da família. Para o imigrante Vittore, a propriedade era um bem intocável e o maior legado para os filhos, netos e bisnetos, que com o passar dos anos, foram os principais responsáveis pela criação do Bairro De Lazzer na cidade de Caxias do Sul.

1314

Seus descendentes preferem grafar seu sobrenome como De Lazzer, e não de Lazzer, mas neste estudo adoto a minúscula para ser consistente com a grafia de outras famílias que têm sobrenomes incluindo a partícula de. Quando o nome aparece como um logradouro, adoto a grafia maiúscula.

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373

Título de propriedade das terras de Giovanni Vittore de Lazzer. Coleção de Victor Hugo de Lazzer.

“Mario Gardelin no seu livro Os Povoadores da Colônia Caxias, descreve que a Estrada Conselheiro Dantas foi aberta inicialmente por um pique, que partia da sede da colônia até o extremo da 8ª Légua, com a extensão de 27 quilômetros, largura de 5 metros, 3 pontilhões, 60 boeiros e 2 pontes de alvenaria. “Sua importância econômica e cultural foi fundamental para que os tropeiros serranos contratados pelo Império pudessem trazer os colonos de São Sebastião do Caí e da Feliz. Por ela, os serranos adquirem cerca de vinte por cento dos lotes habitados no censo de 1882 a 1884 e dão a Caxias, como centro da colônia, perspectiva diferente. [...] “Antes da entrada dos caminhões, passaram por ela cerca de 12.000 cargueiros mensais, cavalos, tropas de muares, gado e perus em direção aos abatedouros da Forqueta e São Sebastião do Caí. Mais do que tudo, os trajes e costumes campeiros se tornaram comuns, pois a Estrada seguia na direção nordeste para São Ciro, Ana Rech, Boca da Serra, Vila Seca, Criúva, São Marcos e São Francisco de Paula. “No limite leste do seu lote partia uma outra picada na direção sul, junto ao Travessão Diamantina, caminho que permitia o deslocamento para São Luiz da 6ª Légua”. Vittore instalou sua residência e um estabelecimento comercial, composto de uma serraria e uma carpintaria, na confluência das duas estradas, com frente para a Estrada Conselheiro Dantas, estando desta forma na passagem de todos que se deslocavam da sede Dante em direção à 6ª e 8ª Léguas. Victor Hugo continua: “Vittore era alfabetizado e possuía o título de Dottore in Legno (Doutor em obras de madeira) pela Universidade de Pádua, motivo pelo qual as estruturas em madeira que construiu na época, incluindo sua casa, demonstram seu alto conhecimento de carpintaria e marcenaria. A serraria e a carpintaria operavam com torno de madeira movido por queda d`água, onde eram fabricados cepos de madeira para solado de tamancos, cabos de ferramentas, moldes de madeira para fundição e tábuas para a construção de casas e galpões”. Também foi agricultor, cultivando uma área de 20.000 m² de videiras hibridas americanas e européias, alem de produzir na sua cantina excelentes vinhos tintos de mesa. Foi conselheiro da Cooperativa Vinícola de Caxias, 1315 em 1916 recebeu medalha de prata pelo seu produto na III Exposição-Feira Agropecuária de Porto Alegre.1316 Esteve envolvido com a política e participou das atividades do Centro Borges de Medeiros, ligado ao Partido Republicano.1317 Seu filho Antonio de Lazzer casou em 1909 com Stella Panigas, então com 17 anos. A festa foi realizada na casa da família do noivo, tendo Abramo Eberle e esposa como padrinhos de casamento. O motivo da amizade entre as famílias estava no fato de que Vittore e Antonio de Lazzer fabricavam moldes de madeira para a Fundição Eberle. Stella dedicou sua vida à família e a ajudar o marido em seus negócios, e era uma grande devota de Santo Antônio de Pádua, tanto que a Associação Universal de Santo Antônio, sediada na própria Pádua, conferiu-lhe o diploma de zeladora em 2 de outubro de 1928 e incluiu seu nome do Livro de Ouro da sociedade. 1315

“Cooperativa de Caxias”. A Federação, 25/12/1918 “3ª Exposição-Feira Agro-Pecuaria”. A Federação, 22/09/1916 1317 “A Festa do Centro”. O Brazil, 18/09/1909 1316

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Casamento de Stella Panigas e Antonio de Lazzer. Coleção de Victor Hugo de Lazzer.

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Diploma de zeladora de Santo Antônio de Stella Panigas de Lazzer. Coleção de Victor Hugo de Lazzer. Abaixo, um menino desconhecido amigo da família de Lazzer, Angela, Vittore e as crianças Odila, Agostinho, o bebê Victor e Angelina Gema. Atrás de pé: Antonio e Stella. Coleção de Victor Hugo de Lazzer.

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Acima, o Grande Baratilho, de Antonio de Lazzer e Stella Panigas, onde Tomaso Panigas viveu com a filha. Eles aparecem na varanda. Foto de Victor de Lazzer.

Aproveitando o intenso movimento de carreteiros e tropeiros que passavam pelas terras da família, Antonio e Stella abriram um grande comércio de fazendas e secos e molhados, chamado Grande Baratilho, mais a Pousada dos Tropeiros e Carreteiros, uma bodega, um salão de bailes e um grande potreiro para os animais. Antonio foi também sócio do concunhado Antonio Pisani numa carpintaria, junto com Giuseppe Vincenzi,1318 que aparentemente encerrou suas atividades em 1922. Antonio herdou de seu pai o amor à terra, bem como os conhecimentos em carpintaria, construindo ele mesmo as estruturas do seu comércio. “O Baratilho comercializava os mais diversos produtos, como, queijo, cera, couro, açúcar, tecidos, querosene, farinha, fumo, salame, batata, cebola, etc. O casarão estava localizado em frente à antiga Estrada Conselheiro Dantas, hoje quarteirão formado pela ruas Angelo Muratore, Barão do Amazonas, Giácomo Geremia e Luiz Dall`Alba no Bairro De Lazzer. A Conselheiro Dantas propiciou os primeiros contatos sociais e artísticos com os Campos de Cima da Serra, incluindo o fato da Banda de Caxias, tocar nas festas de Cazuza Ferreira. “Nas décadas de 1910 a 1930, toda a 7ª Légua era considerada zona rural. As estradas eram de chão batido, as casas não dispunham de energia elétrica, água canalizada e muito menos de iluminação pública. A solução estava na água de poço movida com bomba manual, a iluminação com lampião a querosene e as estradas eram abertas e mantidas por operários munidos de picão, pá e carrinho de mão. O rádio e telefone chegaram ao final de 1930. Os carteiros não existiam, portanto a solução era buscar as correspondências na agência dos correios localizada no centro da cidade.

1318

“Junta Comercial”. A Federação, 29/07/1921

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Stella Panigas de Lazzer. Ao lado, Stella e Antonio de Lazzer.

“A ferraria do Bernardo e a selaria do Troian ficavam em frente à Estrada Conselheiro Dantas, hoje esquina da rua Barão do Amazonas com a rua Angelo Muratore. Os serviços de reparo e substituição de peças para carretas e utensílios para monta, encilha e atrelagem de animais eram realizados no local a qualquer momento. “A partir da abertura da BR 116 com largura de 30 metros no interior da sua propriedade, Antonio De Lazzer cedeu ao DNER em 1910 a faixa de domínio exigida pelo governo federal para a abertura desta importante estrada, bem como o local para a instalação do Posto da Polícia Rodoviária Federal. Nos primórdios dos anos de 1920, com a abertura da estrada federal BR 116 e o início do transporte rodoviário de cargas, Antonio de Lazzer construiu uma nova casa de comércio no entroncamento desta com a Estrada Conselheiro Dantas. Antonio e Stella, preocupados com a falta de ensino básico para as crianças do local, cederam ao município o local e colaboraram para a construção do Colégio D. Pedro II. A primeira professora do 1º e 2º anos colegial desta escola pública foi Ilse Antonieta de Lazzer, filha do casal. “Assim começava a se formar um núcleo urbano, em torno de um local de grande beleza natural. A partir de 1930 Antonio de Lazzer, em parceria com os filhos Agostinho, Victor e Antonio Filho, drenaram e ampliaram um lago existente e fundaram um clube balneário e recreativo com a denominação de Balneário De Lazzer”. Angelina Gema, filha de Stella e Antonio, nascida em 15 de agosto de 1915, deixou um depoimento sobre as atividades do pai, reproduzido por Giron & Bergamaschi em seu livro Casas de Negócio: 125 anos de imigração italiana e o comércio regional (EDUCS, 2001):

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Victor Hugo recolheu de Angelina outras informações: “O comércio era atendido pelo meu irmão Agostinho e meu esposo Amadio Perini. Os caminhoneiros que transportavam madeira das serrarias existentes em São Marcos e São Francisco de Paula, paravam para abastecer os caminhões e almoçar no restaurante da família. Após um bom churrasco, tinham o prazer da bela paisagem e do descanso junto ao açude”.

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Victor de Lazzer, filho de Antonio e Stella, em depoimento dado em 1995, falou sobre as transformações ocorridas no local: “Nos anos de 1935 a 1940, ampliamos o açude existente, transformando em um belo lago artificial para a prática de esportes náuticos e pesca. Construímos barcos para passeio, campo de futebol, cancha para jogo de bocha, vestiários, canchas de vôlei e basquete, churrasqueiras, quiosques, bar, banheiros e pistas de corrida. O local era muito freqüentado pelos caxienses durante as temporadas de verão, no período de dezembro a março, uma vez que na época, o deslocamento para as praias do litoral gaúcho era extremamente difícil e oneroso. O preço para entrada era extremamente acessível, porque funcionava somente nos três meses de verão, e era administrado por Antonio e demais membros da família. A cada ano, antecipando a nova temporada de veraneio, o lago era drenado e limpo, os peixes tarrafeados e comercializados. “O Balneário De Lazzer permaneceu em plena atividade nas temporadas de 1940 a 1960, principalmente nos finais de semana, quando os moradores da zona central da cidade se deslocavam para o local na busca da prática de esportes, lazer e recreação. Nos sábados e domingos de sol, o movimento era intenso, e no alto-falante próximo ao bar era costumeiro ouvir as músicas do Trio Irakitan, Angela Maria, Nelson Gonçalves e Demônios da Garoa. As belas músicas da época eram dedicadas às belas gurias que por lá desfilavam. O equipamento de som era a vitrola com discos (bolachões) da RCA Victor. As bebidas preferidas da época eram a grappete, marabá e a cerveja Pérola, deliciosamente saboreados com o pastel feito na hora. Para os que ainda lembram, no interior do lago havia um cercado de madeira, dentro do qual as crianças brincavam, porque o fundo era pavimentado com pedras irregulares de basalto. A água sempre límpida e quente. A moda na época era imitar o carnaval do Rio de Janeiro, logo as pessoas vestiam os trajes de banho copiados do cinema ou das candidatas a Miss Brasil que se deixavam fotografar em preto e branco na revista O Cruzeiro. Tudo era muito simples, espontâneo e natural”. Desta forma, Vittore e sua família foram os fundadores do que hoje é o bairro De Lazzer. O Balneário se tornou famosa área de recreio para os caxienses entre os anos 40 e 60. A área também serviu para exercícios do Exército e para excursões de escolares.1319 1320 1321 1322 1323 1324

1319

“Exercícios Tacticos Realizados por Duas Companhias do 9º B. C.”. A Época, 30/10/1938 “Excursão de Complementaristas”. A Época, 06/11/1938 1321 “Obteve Pleno Exito o Carnaval Aquatico”. A Época, 01/02/1951 1322 “Volei”. A Época, 01/02/1951 1323 “Alcançaram pleno exito as provas náuticas de domingo último, organizadas por Esportes na Onda”. O Momento, 29/01/1949 1324 “Sensacionais Provas de Ciclismo”. O Momento, 01/04/1950 1320

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Acima, vista aérea das terras dos de Lazzer, com o açude visível. Abaixo, o Balneário de Lazzer nos anos 50. Coleção de Victor Hugo de Lazzer.

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Uma notícia no jornal A Época descreve a realização de um Carnaval Aquático no Balneário em 1º de fevereiro de 1951: “Realizou-se domingo último, no Balneário De Lazzer, desta cidade, o anunciado Carnaval Aquático, festa que, conforme ouvimos no serviço de alto-falantes que lá funcionava, era em benefício do Abrigo de Menores São José. Um grande público compareceu ao Balneário De Lazzer, a fim de assistir ao desenrolar do programa cuidadosamente organizado. Após a chegada de Rei Momo, acompanhado de seu séquito, todo ele envergando maiôs que eram a última moda em 1850 nas praias de Copacabana, teve lugar uma partida de voleibol, entre uma equipe de senhoritas usando trajes de banho modelo 1850 e uma equipe de senhoritas com maiôs de 1951. Venceram as ‘antigas’, por uma vantagem de dois pontos. Seguiu-se um concurso de fantasias para crianças, ao qual concorreram diversos candidatos. “Os primeiros lugares couberam ao menino Geraldo Mascarello filho do sr. Eustachio Mascarello e de sua exmª esposa dona Maria Balem Mascarello, e à menina Jussara Balem, filha do sr. Italo Balem e de sua exmª esposa. Aos vencedores deste concurso foram entregues belos prêmios.

382 O Carnaval Aquático de 1951 no Balneário De Lazzer. Coleção de Victor Hugo de Lazzer.

“Em prosseguimento à festa, teve lugar o banho à fantasia e depois, a recepção às srtas Lia L. Lemos e Corália Santos, respectivamente Rainha do Comércio do Rio de Janeiro e Rainha do Comércio de Caxias do Sul. Às 17 horas foi feita a última apuração do concurso para escolha da Rainha do Balneário, colocando-se em primeiro lugar a srtª Ieda Pieruccini, em 2º, a srtª Helena Bergamaschi e em 3º a srtª Terezinha Manfro. Encerrando o Carnaval Aquático, realizaram-se as provas de saltos humorísticos, de trampolim, nas quais tomaram parte diversos concorrentes. Durante a festa em referência, foi disputado, também, um Torneio Triangular de voleibol, sobre o qual publicamos uma noticia mais detalhada em nossa página de esportes. Seja pelo elevado número de pessoas que compareceu na tarde de domingo ao Balneário De Lazzer, seja pelo programa apresentado, coroou-se do mais pleno sucesso o Carnaval Aquático, pela primeira vez realizado nesta cidade”.

Banhistas no Carnaval Aquático de 1951. Coleção de Victor Hugo de Lazzer.

Victor Hugo dá mais dados sobre a evolução da área: “A partir da lei municipal nº 470 de 21.10.1952, o prefeito Euclides Triches determinou a inclusão do local no perímetro urbano de Caxias do Sul. Modificações viárias importantes ocorreram, principalmente a ampliação da largura da importante Estrada Conselheiro Dantas de 20 para 40 metros. Os herdeiros doaram ao município esta nova faixa de domínio, permitindo, desta forma, que a Prefeitura Municipal abrisse a estrada para o tráfego de veículos em direção à zona norte da cidade. Muitos anos após, durante a administração do prefeito Mansueto de Castro Serafini Filho, esta estrada, que estava incluída no Plano Diretor Urbano, foi pavimentada com a denominação de Perimetral Norte.

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“Situada no km 148 da BR 116, a Curva da Zona era o point da época. No final de semana, a gurizada pegava o ônibus na Júlio, seguia até o Monumento do Imigrante, ponto final do transporte coletivo urbano. De lá, subiam a pé a BR 116 até chegar à famosa Curva da Zona, ponto obrigatório para beber uma boa cerveja. De lá, percorriam a distancia de 1 km até chegar ao Balneário De Lazzer. Na caminhada de 1 km, os foliões sempre cantavam o sucesso dos Demônios da Garoa, que tinha o seguinte refrão: Maloca maloca, maloca querida, foi di dondi nóis passemo os dia feliz di nossa vida. “Posteriormente os irmãos Agostinho, Victor e Antoninho aprovaram junto à Prefeitura o Loteamento Bairro De Lazzer, de acordo com a legislação em vigor, permitindo desta forma a execução do sistema viário, lotes e quadras atualmente existentes no Bairro De Lazzer. “Através da Lei nº 2.808 de 24 de maio de 1983, a Câmara de Vereadores aprovou por unanimidade a denominação da área verde do Bairro De Lazzer como Praça Antonio de Lazzer. Através da Lei nº 3092 de 13 outubro de 1986, o ex-prefeito Victório Trez autorizou a celebração de convênio com a Associação do Bairro De Lazzer, legalmente constituída para proteger, zelar, conservar e administrar a área verde de 12.740 m² doada pela família de Lazzer ao município”. Stella faleceu em 27 de dezembro de 1966. Hoje a área do antigo Balneário é densamente povoada, e só os mais antigos sabem de sua existência.

A família de Antonio e Stella de Lazzer. Na fila da frente: Amadeu Perini e Gema de Lazzer, Hilário Echel e Ilse de Lazzer, Antonio e Stella de Lazzer 384 e Odila Gardelin, cortando o bolo, Colorinda Peralta e Antoninho de Lazzer, Santina Bortolazzi e Augusto de Lazzer. Na fila de trás: Victor de Lazzer Guerino Bedin, Odila de Lazzer e Clari de Lazzer.

Antonio e Stella de Lazzer tiveram os filhos: a) Augusto (Agostinho) de Lazzer, comerciante, casado com Santina Bortolazzi (Bortolaz), com os filhos a1) Vanistela de Lazzer, que foi casada com Silvano Angelo Daneluz, o qual manteve intensa vida pública como líder estudantil, advogado, presidente do Movimento Democrático Brasileiro, secretário dos Serviços Públicos Urbanos, e presidente do PMDB Juventude na Ordem dos Advogados do Brasil, e hoje é nome de rua.1325 Foram pais de Franco, falecido, e Augusto. a2) Claudete de Lazzer, casada com Edson Balbinotti, pais de Gustavo e Marjorie. a3) Cesar de Lazzer, diretor do Enduro dos Vinhedos,1326 casado com Suzimara Lopes. a4) Cleomar Francisca de Lazzer, casada com Luís Bordin, pais de Estêvão, dono de uma empresa de serigrafia. a5) Adriana de Lazzer, professora de Artes no Colégio Angelo Guerra, casada com Nelson Manfro. a6) Janecir (Jane) de Lazzer, casada com Clademir Perini, ambos empresários da noite, responsáveis pelo conhecido pub Quinta Estação. 1327

Rosemary Carraro, Mari Estela de Lazzer, Vanistela de Lazzer e Jane de Lazzer. Foto de Jane.

b) Angelina Gema de Lazzer, professora do Município,1328 casada com Amadio (Amadeu) Perini, agricultor e comerciante, filho de Julio Perini e Maria Peteffi,1329 com os filhos b1) Iris Lourdes Perini, casada com Valmor João Viezzer, pais de Edson e Everton Luiz. b2) José Antonio Perini, casado com Denise Stangherlin, pais de Margarete, Marlise e José Carlos. b3) Jones Perini. b4) Sérgio Roque Perini, casado com Neurasilda Sebben, pais de Kátia e Sérgio Antônio, presidente do clube de voo livre Ninho das Águias. b5) Valter Perini, casado com Jane Maria de Carli, pais de Gisele, Janise e Thiago. b6) Osmar Perini. b7) Vilmar Perini, casado com Mariza Maffissoni, radicados em São Gabriel do Oeste, Mato Grosso do Sul, onde Vilmar tornou-se político de projeção, uma das pessoas “que marcaram a história política de São Gabriel”, na declaração do Diretório Municipal do PDT. A família de Mariza também tem tradição na área, destacando-se o prefeito Balduíno Maffissoni.1330 São pais de Luciano, Juliano e Leonardo 1325

Pereira, Mauro. Projeto de Lei nº PL-165/2011. Câmara Municipal de Caxias do Sul. Davi, Carolina Becker. “Organização do Enduro FIM dos Vinhedos 2004”. Inema, abr/2004 1327 Lopes, Rodrigo. “A Quinta São Luiz e o Quinta Estação”. Pioneiro, 02/05/2015 1328 “Edital”. O Momento, 19/07/1937 1329 “Edital”. O Momento, 27/09/1937 1330 “São Gabriel do Oeste: PDT empossa novos membros do diretório municipal”. MS Notícias, 03/06/2014 1326

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Perini. b8) Mara Mirtes Maria Perini, professora de Educação Física em Porto Alegre, casada com Airton Gomes, pais de André. b9) Paulo Roberto Perini, casado com Ana Felomena Althoff, pais de b9a) Karoline Althoff Perini, arquiteta, casada com André Gonçalves de Espindola, pais de Ana Carolina Perini de Espindola. b10) Valtoir Clarêncio Perini, governador do Rotary distrito 4700,1331 presidente do Recreio da Juventude e membro nato do Conselho Deliberativo,1332 empresário e diretor de exportação da Randon,1333 casado com Jane Lucena. c) Clari de Lazzer casada com Bruno Piccoli e depois com João Sartor, com os filhos c1) Rosemary Piccoli, casada com João Carraro, ambos empresários com a Metalúrgica Carraro em Curitiba, com descendência. c2) Marcos Antônio Piccoli, casado com Inês Ruaro de Meneghi (falecida), empresários com a Ben Fatto Indústria de Vestuário, pais de c2a) Ramon de Meneghi Piccoli, engenheiro mecânico, gerente industrial na OMT-Veyhl Brasil, vice campeão estadual de Judô classe Sênior,1334 casado com Camile Prado Ramos, c2b) Pablo de Meneghi Piccoli, sócio da Ben Fatto, casado com Thaís Boeira Neves, mestre em Design, pais de Pink, c2c) Franco de Meneghi Piccoli, sócio proprietário da revendedora de veículos Auto100 Multimarcas e gerente de vendas da Betiolo, e c2d) Ivna de Meneghi Piccoli, formada em Administração, coordenadora da Câmara de Jovens Administradores da Associação dos Administradores da Região Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul.1335 c3) Jorge Luiz (Sartor?), casado com Teresinha Hase (?), pais de Georgia e Matheus; depois casado com Simone Biasioli, gerando Thiago.

Valtoir Clarêncio e Jane Perini, foto Rotary 4700. Abaixo, Abaixo, Inês Ruaro de Meneghi e Marcos Antônio Piccoli, foto de Inês.

d) Ilse Antonieta de Lazzer, professora e diretora de escola, casada com (José?) Hilário Echel, com os filhos d1) Iara Echel, casada com Eduardo Pereira, pais de Fabiane e Luciana. d2) Edgar Henrique Echel, fundador com seus irmãos e sócio-diretor da Companhia Nacional do Aço Indústria e Comércio, em Alvorada,1336 casado com Fernanda Borges, pais de d2a) Gustavo Borges Echel, sócio do pai, casado com Cintia Lantmann Guimarães, dentista, e d2b) Joana Borges Echel, dentista, casada com Norton Albrecht Quites, empresário e conselheiro do Instituto de Estudos Empresariais,1337 gerando d2b1) Nicolas Echel Quites e d2b2) Antonella Echel Quites. d3) Joel Antônio Echel, sócio-diretor da Cia. do Aço, casado com Tânia Mara da Rosa, pais de d3a) Juliana Echel, formada em Administração, gerente de Controladoria e RH na Cia. do Aço, casada com Nilon Erling Jr., cirurgião vascular no Hospital Moinhos de Vento e na Santa Casa, professor adjunto na Universidade Joel Antônio Echel e duas netas, foto de Joel. 1331

“Pequeno Expediente”. Diário do Congresso Nacional, 23/03/1993 Recreio da Juventude. Conselho Deliberativo. 1333 Rotary Distrito 4700. Governadores do Distrito. 1334 “Resultados do Campeonato Estadual de Judô – Recreio da Juventude”. Portal do Judô Gaúcho, 29/11/2007 1335 “Faculdade IDEAU Campus Caxias realiza formatura”. Notícias IDEAU, 07/08/20177/08/2017 1336 “Cia. Nacional do Aço Indústria e Comércio”. Diário Oficial do RS - Industria e Comércio, 21/12/2012 1337 “Novo presidente e nova diretoria do IEE”. Instituto de Estudos Empresariais. 1332

386

Federal de Ciências da Saúde, em Porto Alegre,1338 autor de artigos e diretor científico da regional RS da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular,1339 gerando Julia e Felipe, e d3b) Cláudia Borges Echel, sócia do pai, casada com Marcelo Correa (?). d4) Roque José Echel, sócio-diretor da Cia. do Aço, casado com Miriam Maciel, arquiteta, pais de d4a) Pedro Maciel Echel, formado em Administração, diretor de Comunicação do Instituto de Estudos Empresariais,1340 d4b) Lucas Maciel Echel, engenheiro de produção, co-fundador com o irmão da Caindo a Ficha, empresa de consultoria profissional, e d4c) Tomás Maciel Echel, arquiteto. Os três irmãos são mebros da Federação Gaúcha de Triathlon. e) Antônio de Lazzer Filho, comerciante, músico e maestro, casado com Léa dalla Santa, falecida um ano depois do enlace, e depois com Colorinda Peralta, com os filhos e1) Gérson Antônio de Lazzer, político no Paraná, casado com Mara e pai de Karine, e e2) Jocelei de Lazzer, casada com Mauro e mãe de Sharise. Juliana Echel, o marido Nilon Erling Jr. e seus f) Odilla de Lazzer, casada com Guerino Bedin, da primeira filhos. Foto ME Magazine. Diretoria do G. E. Flamengo, ocupando o cargo de tesoureiro, 1341 1342 depois conselheiro e da comissão que construiu o seu estádio, com as filhas f1) Antonieta Libera Bedin, casada com Ivo Pedro Nora, sócio-gerente da Ivo Nora Representações em Porto Alegre; f2) Aneris Justina Bedin, casada com Ary Affonso Viola, comerciante de bebidas, conselheiro suplente do Sindicato da Indústria do Vinho do RS,1343 pais de Maurício Bedin Viola. Aneris fez um valioso levantamento genealógico sobre a família Panigas, que é a base para muito do que eu falo sobre este ramo. f3) Aydée Anna Bedin, casada com Leo Sperandio, empresário, pais de f3a) Rafael Bedin Sperandio, gestor de Marketing na empresa Planalto Transportes, casado e com uma filha, e f3b) Valeska Bedin Sperandio, rainha do Clube Juvenil,1344 casada com Paulo Tonet Camargo, vice-presidente de Relações Institucionais do gigante das comunicações Grupo Globo, vice-presidente da Associação Internacional de Radiodifusão, presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão e diretor do Comitê de Relações Governamentais da Associação Nacional de Jornais.1345 1346 A festa que deram em Brasília para comemorar suas Bodas de Prata, reunindo convidados de todo o país, foi descrita como “uma das mais elegantes realizadas no Lago Sul nestes últimos anos”.1347

1338

“Empreendimento que acompanha o crescimento da família”. ME Magazine, 2016; 10 (29) SBACV-RS. Diretoria. 1340 “Academia Internacional para Lideranças – IAF”. Friedrich Naumann Foundation for Freedom 1341 “A história da S.E.R. CAXIAS - 1ª Parte”. Papo de Gringo, 10/04/2011 1342 “Estádio do Flamengo”. O Momento, 23/12/1950 1343 “Sindicato da Indústria do Vinho do Rio Grande do Sul”. Diário de Notícias, 22/10/1968 1344 Clube Juvenil. Soberanas. 1345 “Paulo Tonet Camargo é eleito vice-presidente da AIR”. ANJ, 23/09/2013 1346 “ABERT elege novo presidente”. ACAERT, 30/08/2016 1347 “Bodas de Prata”. Plano Brasília / Gente, 31/03/2012 1339

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Antonieta, Aydée e Aneris na festa de Bodas de Prata de Valeska e Paulo Camargo. Foto de Osvaldo Rocha e Marlene Galeazzi / Plano Brasília Gente.

g) Victor de Lazzer, nascido em 6 de agosto de 1918, foi agricultor e notabilizou-se como músico. Seu filho Victor Hugo falou sobre o pai: “Victor tocava sax e clarinete, e juntamente com o irmão Antonio Filho, que tocava gaita, fundaram nos anos 50 os famosos Jazz e Típica Ouro e Prata, que abrilhantavam os grandes bailes nos Clubes Juvenil, Guarani e Juventude. Naqueles belos tempos os jovens dançavam até ao meio da noitada músicas de jazz. Após o intervalo de descanso, trocavam os músicos, e a Típica tocava os belíssimos tangos argentinos da época. Victor nos anos 80, já aposentado, criou com amigos a Banda do Garrafão, especializada em músicas do folclore popular brasileiro, italiano e alemão. Era um grande sucesso nas festas e bailes no interior do Estado, em cidades de colonização alemã e italiana. No período de carnaval era a preferida pelos sócios do Recreio da Juventude”. Victor casou-se com Odila Gardelin, também envolvida com o Juventude e membro da família do conhecido historiador Mário Gardelin. Ela foi destaque de uma matéria do Pioneiro em 2013, quando era a sócia mais velha do clube: “Dentre tantos torcedores antigos do Juventude, uma mulher se destaca. Odila Gardelin de Lazzer, 87 anos, é a sócia viva mais velha do clube. Nascida em 1925, seu primeiro registro no Juventude é datado de 1951. A paixão pelo clube vem do nascimento, mas aumentou muito mais pela convivência com o marido Victor de Lazzer, falecido há seis anos, quando tinha 82. Dona Odila representa a torcida do passado da história centenária do clube. Dona Odila viu o Juventude crescer e aparecer. No dia 29 de junho, ela quer dar os parabéns no aniversário alviverde. — Tenho três cadeiras no Estádio Alfredo Jaconi. Depois que meu marido faleceu, não fui mais aos jogos. Meus filhos que usam as cadeiras agora — conta a torcedora, mãe de Victor Hugo, Maristela e Lizane. 388

“Dona Odila se recorda de dois momentos marcantes que representam a paixão dela e de seu marido pelo Juventude. O primeiro, é fato raro ou até inexistente nos dias de hoje: — Meu marido era músico. Aos sábados, ele saía de casa com o carro e fazia propaganda dos jogos do Juventude, cantando nos alto-falantes e chamando as pessoas para comparecerem aos jogos nos domingos. Tudo com a gasolina dele. “O segundo momento que marca Dona Odila até hoje foi um presente dado pelo clube ao seu marido”.

Odila Gardelin de Lazzer. Abaixo, Carlos Alessandro dall’Agno e sua família. Foto de Carlos.

— Foi o dia que eu e ele choramos muito. Num jogo em Bento Gonçalves, ele tinha caído no estádio e perdido ou rasgado a camisa. Alguém do clube ficou sabendo e nos chamou. Deram uma camisa novinha para ele. Ficamos muito emocionados pelo gesto.1348 Victor e Odila tiveram três filhos: g1) Liziane de Lazzer, professora, casada com Carlos dall’Agno, empresário, pais de g1a) Karina dall’Agno, engenheira civil, sócia proprietária da Casa Magna Construções Integradas, casada com Christiano Berti, monitor de Sistemas e Negócios de TI da Unimed Nordeste e diretor da unidade de Medicina Diagnóstica da empresa MV, especializada em sistemas de gestão de saúde.1349 g1b) Carlos Alessandro dall’Agno, formado em Filosofia, com pós-graduação em Ética e Filosofia Política e MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas. É professor convidado de várias disciplinas na Faculdade da Serra Gaúcha. Trabalhou na Focco Sistemas de Gestão como gerente Comercial e Marketing durante seis anos e foi gerente Comercial na Mobitec Brasil na América Latina e África. Hoje é diretor de Vendas e Marketing na Planef Consultoria e proprietário da A3P Empowering People e da MDB Brasil Assessoria em Vendas e Marketing. É casado com Letícia Becon Vargas, formada em Psicologia, Psicologia Organizacional e Psicoterapia Familiar, trabalha como consultora e coach na empresa A3P Empowering People. O casal gerou Caetano e Maria Eduarda.

1348

Junior, Adão. “A 100 dias dos 100 Anos, Juventude tem Dona Odila como a sócia mais velha”. Pioneiro, 21/03/2013 1349 “Após revitalização de soluções, MV lança plataforma de Medicina Diagnóstica”. MV, 19/01/2017

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Victor Hugo de Lazzer em seu período como vereador. Foto do Arquivo da Câmara Municipal.

g2) Victor Hugo de Lazzer, nascido em 19 de maio de 1950, é engenheiro civil e construtor, foi vereador de 1983 a 1988,1350 secretário municipal de Urbanismo, candidato a deputado estadual,1351 titular do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural,1352 titular da Comissão Especial de Licitação da Fundação Centro Tecnológico Automotivo de Caxias do Sul,1353 conselheiro do E. C. Juventude e do Recreio da Juventude, 1354 1355 consultor de Meio Ambiente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços,1356 e membro da Comissão Julgadora do Prêmio Expressão de Ecologia.1357 É casado com Cristine Lima Celjar, nascida em 25 de agosto de 1957, formada em Arquitetura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, sendo pais de Victor, nascido em 23 de setembro de 1989, engenheiro mecânico e civil formado pela Pontifícia Universidade Católica do RS, além de dedicar-se à música tocando sax e flauta.1358 Victor Hugo deu muitas informações e documentos importantes para este estudo, pelo que deixo aqui meus agradecimentos.

1350

Lopes, Rodrigo. “Câmara de Vereadores: as antigas sedes do Legislativo caxiense”. Pioneiro, 30/12/2014 “PFL nas eleições de 1986”. O Farroupilha, 16/08/2013 1352 “Decreto nº 9.873, de 31 de março de 2000”. .Jornal do Município, 30/05/2000 1353 “Portaria nº 1, de 7 de agosto de 2006”. Diário Oficial da União, 16/08/2006 1354 E. C. Juventude. Conselho Deliberativo 1355 “Expediente”. In: Revista do Recreio da Juventude, 2011; 2 (4):2 1356 “CIC tem mais uma guarita de segurança”. CIC, 03/02/2010 1357 “Blog Consciência com Ciência recebe Troféu Onda Verde”. Blog Consciência com Ciência, 10/08/2011 1358 Pulita, João. “Social de segunda”. Pioneiro, 06/10/2014 1351

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g3) Mari Estela de Lazzer, professora, primeira diretora do Colégio Imigrante escolhida por votação direta, cargo desempenhado entre 1986 e 1988,1359 e depois sócia da De Lazzer Corretores Associados. Casada com Darcy Cardoso, são pais de Juliano e Caroline (Carol). g3a) Juliano é formado em Educação Física, já trabalhou para a Secretaria da Saúde de São Francisco de Paula ministrando luta olímpica no Sistema Único de Saúde,1360 atua como técnico do Departamento de Handebol do Recreio da Juventude,1361 foi o treinador da equipe medalhista de bronze na XIX Copa Mercosul de Handebol,1362 e um dos organizadores do Desafio HARDCROSS de 2013.1363 Hoje também dá aulas na Escola Raio de Luz e no Recreio. É casado com Renata Casali. g3b) Carol, nascida em 28 de outubro de 1980, é atleta de fama internacional. Na juventude treinou ginástica, Mari Estela e seu filho Juliano. Foto de Juliano. dança e handebol, depois se especializou em jiu-jitsu e wrestling, considerada pelo portal BJJ Heroes uma das mais dotadas praticantes femininas de wrestling.1364 Uma matéria no Gracie Magazine fala sobre ela: “Gaúcha de Caxias do Sul, a faixa-preta Caroline De Lazzer conheceu a fama como atleta e professora de Jiu-Jitsu em Abu Dhabi, na capital dos Emirados Árabes, onde mora há cerca de quatro anos. É lá no deserto do Oriente Médio que a lutadora de 32 anos, casada com o também faixa-preta Marcão Santa Cruz Oliveira, segue afiando seu jogo para tentar o ouro no Mundial 2013, em Long Beach, a partir do dia 29 de maio, na categoria meio-pesado. A primeira missão de Carol na temporada foi cumprida: no WPJJC (World Pro Jiu-jitsu Championship) de Abu Dhabi, em abril, ela venceu o peso até 72kg, ao superar Fernanda Mazzelli na final, por três vantagens. O que ela espera do Mundial na Califa? GRACIEMAG bateu um papo com ela para descobrir. GRACIEMAG: A festa pelo ouro em Abu Dhabi foi grande. E agora, como estão os treinos para o Mundial da IBJJF em Long Beach? CAROL DE LAZZER: “Optamos por manter o mesmo treinamento, muito wrestling, judô, Jiu-Jitsu, drills e muita atenção à preparação física. Após cada campeonato, a gente analisa cada detalhe para buscar corrigir os erros cometidos, algo importante para chegar pronta e confiante para um grande torneio. Meu treinamento será todo em Abu Dhabi, aqui temos um grupo de treino de alto nível que me ajuda em todas as áreas. Meu marido e treinador Marcos Oliveira se encarrega de organizar o cronograma de treinamento e a estratégia para cada adversária. [...]

1359

Colégio Estadual Imigrante. Nossa Historia. “Atleta da seleção brasileira acompanha aulas”. Portal das Hortênsias, 10/08/2008 1361 Recreio da Juventude. Departamento de Esportes: Handebol. 1362 Brambilla, Miguel. “Recreio da Juventude volta com bronze e ouro da XIX Copa Mercosul de Handebol”. Sabe Caxias, 11/09/2014 1363 Desafio HARDCROSS 2013. Organizadores do Evento. 1364 “Caroline de Lazzer Jiu Jitsu”. BJJ Heroes - BJJ Fighter Database 1360

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Como foi a festa da vitória no WPJJC 2013, título conquistado diante de sua torcida? “Eu sempre desejei muito vencer o WPJJC. Desde 2009, quando vim morar nos Emirados Árabes, eu tinha dois objetivos: um era me tornar campeã do WPJJC; o o outro era fazer uma lutadora árabe campeã. Eu sabia que o caminho seria longo, pois era o início da implantação do Jiu-Jitsu feminino no país. Em 2012, optei não lutar, pois meu objetivo era estar 100% focada nas minhas alunas e dar toda assistência e segurança para elas durante a competição. Das minhas cinco alunas inscritas, quatro medalharam e duas foram campeãs. Uma delas, Shamsa Hassan, se tornou a primeira mulher dos Emirados campeã mundial. Este ano então decidi que era minha vez de ser campeã. Contei com o apoio do Marcos, dos amigos, das alunas e de meus colegas de treino, e todos tiverem um papel essencial nessa conquista. Acredito que a vida tem seu próprio tempo e quando damos o melhor de nós, somos recompensados com momentos assim, em que a vitória não é apenas um resultado, mas a soma de todos os momentos, as experiências, ou seja, a jornada que te levou até ali. O que ficou de lição após a vitória em cima de Fernanda Mazzelli na final? “Eu já tinha lutado com a Mazzelli em torneio de wrestling. Então a luta ocorreu do modo traçado. Marcos e eu tínhamos estudado o jogo de todas as meninas da categoria e treinamos para todas as situações. Eu sabia que não poderia errar com a 392

Fernanda, pois ela joga muito bem na guarda. A estratégia foi impor meu ritmo do início ao fim e foi o que ocorreu. Só pude respirar aliviada quando acabou, e venci por três vantagens”. Além do mundial de Abu Dhabi, Carol tem várias outras vitórias importantes. Na modalidade de jiu-jitsu foi campeã mundial (2006 faixa marrom), campeã mundial da CBJJO (2006, marrom), medalha de prata mundial (2004 púrpura, 2010 preta), e medalha de bronze mundial (2003 azul, 2009 preta). Em wrestling ganhou medalha de prata nos Jogos Sul-Americanos (2006) e nos Jogos Pan-Americanos (2006), e participou da equipe brasileira na etapa préolímpica de 2004 em Atenas e Pequim e nos Jogos Pan-Americanos de 2007.1365 É bicampeã brasileira,1366 e campeã de peso médio no Open europeu de 2013.1367 Depois das vitórias de 2013 ela decidiu afastar-se das competições para ter um filho, que nasceu em 2014, batizado Marcos Darkos, e no ano seguinte retomou seus treinamentos.1368 O seu marido Marcos “Santa Cruz” Oliveira também é uma celebridade no mundo do esporte. Iniciou seu treinamento em jiu-jisu com 20 anos e tornou-se faixa-preta, também se destacando em judô, wrestling e outras modalidades de Artes Marciais. Ficou em terceiro lugar no mundial de jiu-jitsu de 2001,1369 em 2002 foi vice-campeão,1370 e duas vezes campeão mundial.1371 Em 2009 foi contratado pelo governo dos Emirados para dar aulas para crianças 1372 e ingressou no Abu Dhabi Combat Club, onde é campeão acima de 99kg e campeão absoluto sem tomar pontos.1373 Venceu muitos outros campeonatos, como o Abu Dhabi Jiu Jitsu World Pro (2009 adulto, 2015 Master peso & absoluto); Abu Dhabi Grand Slam Tokyo (2015 Master); Abu Dhabi Pro Trials (2009); Pan Americano (2001 azul); Campeonato Nacional do Brasil (2001 azul); Brazilian Teams (2001 azul); Carol e seu marido Marcos Oliveira quando este recebeu a World FILA (2009) e European Open 2nd Place Medalha Pedro Ernesto da Câmara do Rio de Janeiro. Foto 1374 1375 (2013 Master). Foi o fundador da academia Gracie Magazine. Abu Dhabi Top Team, é treinador de grandes atletas, proprietário e presidente da griffe de roupas e equipamentos esportivos Ready Fight Gear, e em 2013 recebeu a Medalha do Mérito Pedro Ernesto da Câmara do Rio de Janeiro, a maior comenda do legislativo carioca, em reconhecimento de suas notáveis conquistas no esporte.1376

1365

“Caroline de Lazzer Jiu Jitsu”. BJJ Heroes - BJJ Fighter Database “Carol de Lazzer”. Pan UOL, 2007 1367 “European Open IBJJF Jiu-Jitsu Championship 2013”. VK, 2015 1368 Passela, Amith. “De Lazzer and Oliveira are living the moment again at Abu Dhabi jiu-jitsu championship”. The National, 22/04/2015 1369 "10 March Tussles Worth Watching". Sherdog, 01/03/2011 1370 "2001 IBJJF world championship results". International Brazilian Jiu-Jitsu Federation, 04/07/2012 1371 “BJJ champion Marcos Oliveira gives clinic”. Kuam News, 09/03/2015 1372 Passela, op. cit. 1373 Freitas, Vitor. “A queda do campeão absoluto master de Jiu-Jitsu em Abu Dhabi”. Gracie Magazine, 06/05/2015 1374 “Marcos de Oliveira”. BJJ Fighter Database 1375 “SpotLight on Marcos Oliveira World Pro 2015 Masters Absolute Champion”. Fighting Lifestyle UAE, 04/05/2015 1376 “Marcos Santa Cruz, recebe a Medalha de Mérito Pedro Ernesto”. Santa Cruz Tudo de Bom, 12/07/2013 1366

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Família Panigas Pisani. Atrás: Germano, Guerino e Antonio. Na frente, Margarida, Hilda, Antoninho, Amalia, Americo e ?.

Família de Antonio Pisani e Amalia Panigas. Sentados: Idemor Pisani, Antonio Pisani, Amalia Panigas e Valmor Pisani. De pé: Adelia Piva e Guerino Pisani, Amélia Albé Pisani e Germano Pisani, Hilda Pisani e Gerônimo Tonielo, Margarida Pisani e Ema Panigas Artico, Antonio de Lazzer e Stella Panigas de Lazzer, Orozimbo Webber e Vilma Pisani, Américo Filho. Bem atrás, o mais 394 alto, Augusto Artico.

Amalia Panigas

2) Amalia Panigas passou toda a vida dedicada ao lar e à família. Sua única menção na imprensa a mostra como juíza da festa de Nossa Senhora de Caravaggio em 1941.1377 Foi casada com Antonio Pisani, filho de Marino Pisani e Margherita Simioni Miotto, carpinteiro, sócio de Pisani, De Lazzer & Cia., com Antonio de Lazzer e Giuseppe Vincenzi,1378 depois dono de uma empresa própria com representação em São Francisco de Paula e no distrito de Ana Rech. Antonio é nome de rua. Foram pais de: a) Guerino Pisani, carpinteiro, que teve a mão direita “esfacelada” em um acidente de trabalho em 1917, tendo apenas 20 anos; 1379 depois foi várias vezes conselheiro e tesoureiro do Grêmio Esportivo Flamengo, 1380 1381 1382 1383 secretário da Sociedade Operária São José 1384 e tesoureiro da Liga Esportiva Caxiense.1385 Casado com Adelia Piva, tiveram os filhos:

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“Semana Religiosa”. O Momento, 19/05/1941 “Junta Comercial”. A Federação, 29/07/1921 1379 “Desastre”. O Brazil, 230/06/1917 1380 “Gremio Sportivo Flamengo”. O Momento. 13/06/1935 1381 “G. E. Flamengo”. A Época, 12/03/1939 1382 “Gremio Sportivo Flamengo”. O Momento. 28/06/1937 1383 “Nova Diretoria do Flamengo”. A Época, 19/04/1942 1384 “Soc. Operaria S. José”. A Época, 28/05/1939 1385 “Liga Esportiva Caxiense”. O Momento, 17/02/1941 1378

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a2) Waldyr Pisani, esportista, integrante do primeiro time de basquete do Grêmio Atlético Eberle. Rodrigo Lopes escreveu uma matéria: “No momento em que o basquete caxiense ganha visibilidade nacional com a participação no Novo Basquete Brasil (NBB), retomamos a história de uma das primeiras equipes formadas na cidade, o Grêmio Atlético Eberle. A trajetória do time começou em meados da década de 1940, por iniciativa de um grupo de colegas do Colégio Nossa Senhora do Carmo. Entre os pioneiros estavam os jogadores Lauro Augusto Picolli, Valdir Pisani, Jaime De Carli e Carlos Picolli. Como os recursos eram poucos, os jovens buscaram o apoio da Metalúrgica Abramo Eberle – em troca, batizaram o time com o nome do patrocinador. Com a equipe formada e o auxílio garantido, os atletas iniciaram os treinos. O local escolhido foi um terreno baldio na Avenida Júlio de Castilhos, próximo à esquina com a Rua Alfredo Chaves. “Por volta de 1949, o Grêmio Atlético Eberle iniciou sua trajetória no campeonato estadual, já com a responsabilidade de ser o único representante de Caxias na competição. Os jogos ocorriam em cidades como Grêmio Atlético Eberle em Passo Fundo. Da esquerda para a direita estão Santana do Livramento, Santa Maria, Rio Carlos Picolli, Darcy May e Jaime de Carli. Agachados: Valdir Pisani e Lauro Picolli. Foto: Studio Avenida, acervo de Armi Pisani Picolli. Grande e Porto Alegre – como não era comum o aluguel de ônibus, o deslocamento costumava ser feito nos carros particulares dos atletas. Um dos episódios mais curiosos ocorreu durante uma das viagens para Rio Grande, segundo o relato da senhora Army Pisani Picolli, viúva de Lauro Picolli (1927-2006). Ao se aproximar da cidade, o grupo encontrou um médico com problemas no carro, parado na estrada. Piccoli foi ajudar no conserto e acabou queimando o braço esquerdo em uma explosão, enquanto mexia no motor. A solidariedade do rapaz acabou desfalcando o time – ele ficou internado durante uma semana no hospital, intrigando os ouvintes da Rádio Guaíba, que transmitia os jogos. Conforme as lembranças da família, o público escutava que a equipe caxiense estava sempre perdendo, e o nome de Picolli nunca era citado. Dona Army só ficou sabendo do ocorrido quando o marido chegou em casa com uma atadura no braço – e o time, com uma sequência de derrotas.

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“O Grêmio Atlético Eberle era formado por 13 jogadores: Lauro Augusto Picolli, Valdir Pisani, Jaime De Carli, Carlos Picolli, Darci May, Plínio Bertoletti, Lídio Panerai, Nilo Onzi e Vasco Dani. Também integravam a equipe Airton Grossi, Wilson Camargo, Darci Merlotti e o Sargento Rodrigues. A equipe era treinada pelo jogador do Cruzeiro Leonardo Viafore, que vinha de Porto Alegre para orientar os caxienses. Presidido pelo senhor Armindo May, o time seguiu na ativa até meados de 1952. Os jogos de basquete do Grêmio Atlético Eberle costumavam reunir aproximadamente 200 pessoas, número bastante expressivo para a época. Logo que o time foi formado, a quadra era bastante precária: o piso de chão batido era forrado com pó de tijolo para evitar que os jogadores se machucassem. Durante as partidas, alguns torcedores mais corajosos subiam em um muro e dividiam espaço com chuchuzeiros para prestigiar o time. Somente por volta de 1945 o espaço foi reformado, ganhando iluminação, piso de cimento e arquibancadas. A inauguração da nova quadra foi marcada por uma partida contra o Corinthians, de Santa Maria“.1386 Casado com Ivete Finco, Waldyr foi pai de Evelise Pisani, Valdir Pisani e Fernando Pisani. a3) Walderez Pisani, casada com Luiz Jahir de Zorzi, associado ao grande Grupo De Zorzi e hoje nome de rua, pais de a3a) Luiz Jahir de Zorzi Jr., diretor executivo do Consórcio Reflorestador Estrela, representante comercial da Financiera Maderera SA e hoje proprietário da Verde Camino; a3b) Jeferson de Zorzi, sócio da empresa familiar, depois da falência reiniciou sua carreira como sócio fundador da Star Lumber, Agropecuária Estrela, Rio do Frade Geração de Energia, Complexo de Geração Eólica Bojuru, Estreito da Lagoa, Corrente dos Ventos e Farol da Solidão,1387 e a3c) Delis de Zorzi, rainha da Festa da Uva, casada com o empresário André Benato e mãe de Bruno e Lucas de Zorzi Benato. João Pulita a enfocou em matéria no Pioneiro, que reproduzo logo adiante.

Delis de Zorzi, foto Geremia.

1386

Lopes, Rodrigo, “Memória: os primórdios do basquete em Caxias do Sul”. Pioneiro, 02/03/2016 Salazar, Suzane Marie Gantzel. “Dois olhares sobre o planejamento sucessório”. Alliance Governança e Família, 12/05/2015 1387

397

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“Quando menina, Delis de Zorzi acompanhava com admiração e repleta de sonhos o corso alegórico da Festa Nacional da Uva. Mal esperava ela que, alguns anos mais tarde, figuraria soberana no principal carro do mesmo desfile, como uma das mais carismáticas rainhas da história da celebração, esta que marcou o ano de 1989. Nos últimos dias, Delis recorda com nostalgia seus dias de realeza, numa edição que foi pautada pelo tema A Maior Festa do Século. Ainda muito lembrada pelos admiradores da festividade, ela tem retomado a atmosfera, o aroma e suas muitas e inesquecíveis experiências como rainha durante as visitas aos Pavilhões da Festuva e aos desfiles cênicos, que se encerram neste fim de semana, após 17 dias que já entraram para a história de Caxias do Sul.

Walderez Pisani de Zorzi e sua filha Delis. Foto Daniela Xu / Pioneiro.

“Representante do Clube Juvenil no concurso, a aquariana liderou o trio composto também pelas princesas Jaqueline Carpeggiani e Thaís Grazziotin Costa, e, juntas, tiveram a essencial responsabilidade de propagar o espírito da Festa da Uva pelo país. Delis rememora vivências tocantes e também as cômicas, como quando colheu uvas em seu traje típico e sofreu com os sapatos de salto em pleno parreiral ou ainda quando teve de manter a pose de soberana em seu lindo e pomposo vestido mesmo no calor intenso do Rio de Janeiro. “Sempre reconhecida por seu carisma e delicadeza notáveis, Delis é bacharel em Educação Física e pós-graduada em Educação do Movimento, mas descobriu sua verdadeira vocação profissional com a Programação Neurolinguística (PNL), que desenvolve desde 2011. Atraída aos estudos para solucionar problemas pessoais, ela não apenas resolveu seus dilemas como decidiu propagar a prática como trainer da PNL Way, empreendimento focado em treinamentos e cursos que ela ministra. Sua dedicação é tanta que, após ser habilitada pelo próprio co-criador da PNL, Richard Bandler, ela integra constantes atualizações nos Estados Unidos com este mestre e também com o renomado palestrante motivacional Anthony Robbins”.1388

1388

Pulita, João. “Carisma Real”. Pioneiro, 05/03/2016

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Vania Beatriz Merlotti Herédia. Foto Thiago da Luz Machado / Gazeta de Caxias. Ao lado, Lauro Piccoli, foto CDL.

a4) Vanir Pisani, destacada no livro Nossas Mulheres, de Leonor Aguzzoli e Maria Abel Machado, que enfoca mulheres que ajudaram a construir a cidade;1389 casada com Darcy Hermano Benetti Merlotti, enólogo da grande Vinícola Mosele, com os filhos: a4a) Darvan Alexandre Pisani Merlotti, arquiteto, diretor na ESDM Arquitetura, Engenharia e Consultoria; a4b) Ivandra Maria Pisani Merlotti, casada com Nilton Pasinato; a4c) Gabriela Merlotti, funcionária pública da Saúde, casada com Sergiano de Oliveira Chaves, pais de a4c1) Giana Merlotti Chaves, psicóloga, a4c2) Matheus Merlotti Chaves e a4c3) Lucas Merlotti Chaves; a4d) Vania Beatriz Merlotti, nome amplamente reconhecido nos meios acadêmicos como insigne historiadora e socióloga. Formou-se em Ciências Sociais e Filosofia, doutorou-se em História das Américas pela Universidade de Gênova, pós-doutorou-se em História Econômica pela Universidade de Padova e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; é Professora Titular da Universidade de Caxias do Sul, foi coordenadora da pesquisa da UCS, é membro do Instituto Histórico de São Leopoldo, e foi presidente do Departamento de Gerontologia da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia/RS. 1390 Tem vasta bibliografia publicada, enfocando, entre outros temas, migrações, envelhecimento populacional, políticas públicas, trabalho e políticas sociais, história regional e história de empresas,1391 e alguns de seus trabalhos foram usados como referência neste estudo. É casada com Antonio Carlos Guimarães Herédia, arquiteto e escritor sobre urbanismo e humanismo.

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“Bernardete Conte e sua Mnemosine”. Jaque Zattera, 2009 CNPq. Currículo Lattes. Vania Beatriz Merlotti Herédia 1391 “Caxias sempre teve vocação empresarial”. Gazeta de Caxias, out/2014 1390

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Paulo Piccoli e sua mãe Army. Foto Programa Oli Paz.

a5) Army Pisani destacou-se por ser a primeira mulher a atuar na contabilidade de um banco na cidade.1392 Casou-se com Lauro Augusto Piccoli, conhecido empresário, e foram grandes amigos de meus pais. Abriram as lojas de roupas Kitty Moda Feminina, Kittymen e Kitty Calçados, que por certo período ditaram a moda caxiense. O casal já foi mencionado há pouco a respeito do time de basquete do Grêmio Atlético Eberle. Lauro hoje é nome de rua. A Câmara Municipal relembrou sua trajetória: “Diplomado na primeira turma da Escola Superior de Guerra (ADESG), Lauro também foi contador do Colégio do Carmo em 1946. Na cidade de Novo Hamburgo foi vicepresidente da primeira Feira Nacional do Calçado (FENAC) em 1961, presidente do CDL em 1964 e Presidente do Rotary Oeste em 1966. Já em Caxias do Sul, Lauro Piccoli foi presidente do CDL na gestão 1974/75, foi presidente do Rotary Cinquentenário de 1977 a 1978, vice-presidente da Câmara de Indústria e Comércio (CIC) de 1981 a 1982, integrou a diretoria da CPDU e fez parte também da fundação do MOBRAL em 1984. Além disso, Lauro foi presidente da Federação do CDL do RS de 1983 a 1985, sendo o primeiro presidente do interior a assumir este cargo. Ainda foi vice-presidente da Confederação Nacional Lojista (com sede no Rio de Janeiro) em 1986. No esporte, destacou-se na fundação e participação atuante no basquete gaúcho e também na sua presidência frente ao Esporte Clube Juventude na gestão 1969/70. Lutou pela abertura do comércio de Caxias do Sul nos sábados à tarde e destacou-se entre a categoria dos comerciários pelos relevantes serviços prestados, sempre de forma ética e valorosa. Faleceu no dia 27 de maio de 2006, aos oitenta anos de idade”.1393

1392

“Foto de 1945 retrata a formatura da primeira turma de contadoras do Colégio São Carlos”. Colégio São Carlos, 25/01/2012 1393 Spiandorello, Francisco de Assis. Projeto de Lei nº PL-180/2012. Câmara Municipal de Caxias.

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Patrick Piccoli, foto CDL.

Lauro e Army foram pais de a5a) Lauro Filho, empresário, casado com Juliana Beretta, e a5b) Paulo, continuador por algum tempo das lojas dos pais, depois introdutor em Caxias da franquia O Boticário, casado com Débora Lenzi. O informativo da Câmara de Diretores Lojistas recuperou a trajetória da franquia: “Em meados dos anos 80, Paulo Augusto Piccoli recebeu um convite para comercializar os produtos da marca O Boticário em sua loja de multi-marcas, chamada KKK. Seu pai, Lauro, possuía a loja Kitty e ainda muito jovem, Paulo solicitou um pequeno espaço dentro do estabelecimento para vender produtos para os amigos. Este pequeno espaço ficava em um dos cantos da Kitty e foi chamado de KKK - canto quente da Kitty. Posteriormente, Paulo realocou a KKK para outro endereço, onde comercializava roupas e calçados de griffe, além de oito produtos da marca O Boticário, que ficavam expostos em um pequeno móvel. Atento aos novos cenários de mercado que surgiam no final dos anos 80, Paulo encerrou as atividades da KKK e focou no promissor modelo de negócio O Boticário que começava a se desenhar. “De lá para cá, a evolução é a marca registrada do negócio. Em 2012, depois de um criterioso processo de incorporação, a empresa passou a ser gerida pelo sistema de tributação do Lucro Real; mudou sua razão social de CP KKK para CP Dreams e passou a contar com o quadro societário familiar formado por Paulo Piccoli, o filho e sucessor Patrick Piccoli, a esposa e operadora Déborah Piccoli e a filha Evelyn Piccoli. Dois anos antes, começou o processo de sucessão que daria continuidade ao negócio já

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existente. Baseado em visão arrojada e sempre de longo prazo que serviam de molde para o grupo que crescia vertiginosamente”.1394 Patrick também é membro da American Marketing Association e do NeuroLeadership Institute, autor de dois livros sobre estratégia, Um Toque Estratégico - Golfe, Poker e Sax, que aborda estas três práticas e sua relação com a tomada de decisões do dia-a-dia, e Avance com Estratégia, que discorre sobre a busca de equilíbrio entre o lado profissional e o pessoal. Mantém o programa Equilíbrio como Estratégia na TV Soluções, é palestrante e colunista da Revista Afrodite.1395 1396 1397 b) Vilma Pisani, casada com Orozimbo Webber, comerciante,1398 da Diretoria da Associação dos Comerciantes,1399 sua família assumiu a Madeireira Pisani na morte do fundador Germano, e hoje é nome de rua. Seus filhos: b1) Iracema Webber, casada com Olinto dos Santos, pais de b1a) Geraldo Webber dos Santos, pediatra e médico do trabalho, suplente de vereador em Presidente Getúlio/SC,1400 b1b) Ricardo Webber dos Santos, clínico geral e médico do trabnalhop em Caxias, b1c) Álvaro Webber dos Santos, b1d) Isabel Webber dos Santos, e b1e) Ivan Webber dos Santos, quando jovem participou de uma gravação histórica do Coro da Universidade de Caxias do Sul, descrita em uma matéria de Roni Rigon de 2017: “A Universidade de Caxias do Sul vive neste momento a repercussão de 50 anos de sua fundação. Em sua história repleta de ações e projetos exitosos na área do desenvolvimento pedagógico e cultural, destaca-se a constituição do Coro da Universidade de Caxias do Sul, em 1968. Na revista Orquestra Sinfônica da Universidade de Caxias do Sul, o maestro Manfredo Schmiedt enaltece o cinquentenário da instituição e oferece um conteúdo consistente do universo da música clássica, onde são apresentados os personagens do passado e também músicos da atualidade local. Por sua vez, o Coro da UCS é lembrado pela sua trajetória, cujo propósito inicial foi de promover e levar o canto à comunidade caxiense. “Os primeiros ensaios foram realizados na antiga Escola de Belas Artes, tendo como maestro Nestor Wennholz. Entre 1973 a 1976, Anita Bergmann Campagnolo assumiu a regência. Ao retornar de estudos na Alemanha, o maestro Wennholz retoma sua função. Por ocasião dos 15 anos da fundação da UCS, o Coro da UCS participou dos festejos com uma das atrações artísticas da solenidade oficial. No dia 31 de março de 1982, o reitor Abrelino Vasata apresentou a evolução da UCS e anunciou o lançamento do disco vinil do coro de vozes. Naquela época, participavam do grupo alunos, professores, ex-alunos e pessoas da comunidade. “O disco em vinil registrou a história e o trabalho de um grupo de pessoas comprometidas com a beleza da música. No verso da capa do disco vinil há significativas referências dos integrantes que dedicaram seu esforço para a cultura musical. O reitor Abrelino Vasata enalteceu o coro pelo seu engajamento com a arte

1394

“Franquia, um dos negócios mais promissores da atualidade”. O Lojista News, 2013; 6 (26) “Lançamento livro Avance com Estratégia do escritor Patrick Piccoli”. Programa Oli Paz, 05/12/2011 1396 “Entrevista Patrick Piccoli”. TV Câmara Caxias do Sul, 21/10/2011 1397 “Você não pode perder a palestra com o tema Loveback”. Universo Secretárias UNIMED, 24/04/2015 1398 “Edital”. O Momento, 08/02/1940 1399 “Correspondencia Oficial”. O Momento, 08/11/1934 1400 Eleições e Política. “Eleições 2012: Dr. Geraldo – 55555” 1395

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Apresentação que deu origem ao disco de 1981. Foto Mário André.

erudita e a sensibilidade de levar a magia da música para diversos públicos além das fronteiras de Caxias do Sul. “Os protagonistas do disco produzido em 1981 são: Maestro Nestor Wennholz, ensaiadores Marly Caberlon Záttera e Renato Felipini. Sopranos: Anita Furlan, Cenira Filippini, Flávia Rossi, Ineiva Kreutz, Isabel Rossi, Janice Salgado, Justina Onzi, Niura Fontana, Sylvia Rocha. Contraltos: Magda Irigonhê, Margarete Zanchin, Maria Gobetti, Marly Záttera, Rosália Pegoraro, Salete Kreutz. Tenores: Euclides Cattani, Ivan Webber dos Santos, Renato Felippini, Roseana Medeiros e Sérgio Lopes. Baixos, Décio Scariot, Giovani Valverde, Marco Trintinaglia, Nélio Enderle, Rudimar Moz e Venâncio Assumpção. A comissão de produção era composta por Irmgard Bornheim, Nestor Wennholz, Renato felippini, Valdir dos Santos, Sérgio Giacomello e Ruy Pauletti”. 1401 Depois Ivan graduou-se em Licenciatura Plena - Educação Artística/Desenho, com especialização em Arte e Educação, e mestrado em Serviço Social. É professor assistente da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul desde 1989, das Faculdades Integradas São Judas Tadeu deste 2009 e Professor da Rede municipal de Ensino da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Segundo seu currículo Lattes “possui larga experiência em Gestão Pedagógica na Educação Infantil Pública com cruzamentos em Reggio Emilia e nas abordagens das múltiplas linguagens interligadas aos fundamentos da educação contemporânea. Atua principalmente nos seguintes temas: materiais educativos, hemeroteca de apoio didático, processos criativos, fabulação, fundamentos da arte e da história da arte em uma perspectiva das teorias contemporâneas. Assessoramento e potencialização criativa da educação escolar e dos processos criativos e educativos sociais não - escolares ligados ao conceito socioeducativo nas práticas da educação social relacionadas com as políticas da Assistência Social”.

1401

Rigon, Roni. “Memória: Vozes Inesquecíveis no Coro da UCS”. Pioneiro, 21/08/2017

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Paulo Francisco, Júlia, Andrea e Marcelo Webber, foto de Thaynne Andrade.

b2) Sérgio Webber, secretário da Federação dos Antigos Alunos do Carmo,1402 diretor-presidente da Plásticos Pisani,1403 uma evolução da madeireira, e um dos fundadores, presidente e sócio honorário do Rotary Cinquentenário, 1404 casado com Lilian Tomasi, depois casado com Berenice Schneider. Com a primeira esposa foi pai de b2a) José Antônio Webber, diretor da metalúrgica Forma Inox, e b2b) Paulo Francisco Webber, diretor da Pisani, quando recebeu da Prefeitura homenagem pelos 40 anos de atividade da empresa que “tem uma história de sucesso construído com seriedade, transparência corporativa e responsabilidade social e ambiental”, casado com Andrea Varaschin, advogada, conselheira titular da OAB Subseção Caxias do Sul,1405 gerando Júlia Webber, graduada em Design de Moda, e Marcelo Webber. b3) Valdir Webber, presidente da Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul,1406 casado com Helena Chisté, tendo os filhos b3a) Luís Eduardo Webber e b3b) Maria de Fátima Webber. c) Antonio Pisani Filho, comerciante em Santa Maria, 1407 falecido precocemente em 1941. d) Hilda Pisani, casada com Jerônimo Tomiello, agricultor, com os filhos d1) Odila Tomiello, casada com Harry Heidrich, com os filhos Harriete, Guilherme e Harlete Rosy. d2) Dante Eloi Tomiello, casado com Isabel, pais de Eloísa Fátima, Margarete Regina, Beatriz Cecília, Guiomar, Dante Filho, Elisabete e Marta Cristina. d3) Léa Tomiello, casada com Lauro Müller, com os filhos Ricardo, Renato Luís e Fernando Henrique. d4) Clacyr Tomiello, professora, uma das 1402

“Federação dos Antigos Alunos do Carmo – FAC”. O Momento, 24/05/1947 Ritzel, Lúcia. “Caxias combate a recessão com exportações”. Diário do Congresso Nacional, 23/03/1993 1404 Rotary Club Caxias do Sul – Cinquentenário. “Rotary Club Caxias do Sul Cinquentenário comemora 55 Anos”. 1405 OAB Subseção Caxias do Sul. Quem Somos. 1406 “Modelos de reaproveitamento de lixo já motivaram várias viagens”. Pioneiro, 18/07/2013 1407 “Felicitações”. A Época, 01/01/1940 1403

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fundadoras do Ginásio Barão de Tramandaí, casada com Milton Hoffmeister, professor, um dos idealizadores e fundador do Museu Histórico de Tramandaí 1408 e secretário municipal de Turismo, que segundo Antônio Albuquerque “trabalhou muito para a divulgação de seu município, bem como do litoral norte”.1409 Foram pais de d4a) Anderson José Tomiello Hoffmeister, exprefeito de Tramandaí, e d4b) Clayton Hoffmeister, nome de rua. Em 2017 foi inaugurada a Escola de Educação Infantil Clacyr Hoffmeister. Segundo a Prefeitura, e escola “é coordenada pela Associação Educacional Cidade das Flores, entidade sem fins lucrativos conveniada com a Prefeitura, que atenderá cerca de 100 crianças, do berçário a pré-escola. Participou da solenidade o ex-prefeito Anderson Hoffmeister que agradeceu a homenagem de colocar o nome de sua mãe na nova escola de educação infantil. A professora Clacyr Tomiello Hoffmeister foi uma das pioneiras da educação em Tramandaí, onde lecionou no Instituto Barão e Escola Almirante Tamandaré, além de criar o curso de Ensino Médio no Instituto Barão de Tramandaí”. 1410 e) Walmor Pisani, sócio do irmão Antonio em Santa Maria,1411 um dos fundadores do Lions Clube local e segundo vice-presidente da primeira Diretoria, muitas vezes membro da Diretoria, chegando à Presidência em 1966-67, quando Inauguração da Escola de Educação Infantil Clacyr Hoffmeister. Foto promoveu várias atividades beneficentes e a Prefeitura de Tramandaí. Anderson está discursando. 1412 fundação do Lions Clube Restinga. Foi também um dos pioneiros do radioamadorismo local, coordenou o 29º Rancho do Radioamador Gaúcho, e é hoje nome da Sala de Rádio na sede da União Santamariense de Radioamadores.1413

1408

“Conheça um pouco do Museu de Tramandaí”. Blog de Germano Clemente Müller, 19/03/2010 Albuquerque, Antônio. “Turismo no Litoral Norte do Rio Grande do Sul”. Antena Quente, 30/07/2013 1410 “Inaugurada Escola de Educação Infantil”. Prefeitura de Tramandaí, 01/09/2017 1411 “Viajantes”. A Época, 07/01/1940 1412 Lions Clube Santa Maria-Itararé. Distrito LD-4 RS. Presidentes do Lions Clube Santa Maria-Itararé. 05) 1966/1967 – Walmor Pisani 1413 União Santamariense de Radioamadores. Pequena Cronologia Histórica da USRA. 1409

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Walmor Pisani. Foto do Lions Clube Itararé. Ao lado, sua esposa Elsa Tomasi Pisani. Foto Zero Hora.

Walmor Pisani foi casado com Elsa Tomasi, também radioamadora e Rainha dos Radioamadores de Santa Maria.1414 O obituário de Elsa traz mais informações: “Vítima de complicações pulmonares, Elsa Tomasi Pisani morreu em 28 de julho, em Santa Maria, aos 92 anos. Viúva de Valmor Pisani desde 1984, deixa os filhos Carmen Lúcia, Volmar, casado com Sônia, e Vilmar, casado com Ângela, além dos netos Diego, Cristiano, Fernanda, Leandro, Thais e Bianca, e bisnetos, Bruno, Valentina, Pedro e Pietro. Durante a vida, conquistou muitas amizades. Cativou a todos com sua personalidade conciliadora, sincera e carinhosa, segundo os familiares. Os natais em família eram festejados com alegria e união. Nascida em 19 de junho, comemorou seu aniversário de 92 anos com lucidez. Exercendo a atividade de radioamadora, com seu marido, prestou serviços à comunidade na época em que as comunicações eram precárias. O casal foi um dos fundadores do Lions Club Itararé, em Santa Maria. Durante anos, veranearam em Capão da Canoa, lugar onde conviveram com amigos e viveram momentos felizes com a família”. 1415 Os filhos de Walmor e Elsa são: e1) Carmen Lúcia Pisani, comerciante de flores e decoradora, casada com Neltair Bento da Silva, presidente do Instituto Riograndense do Arroz,1416 com os filhos Diego e Fernanda.

1414

Rodrigues, Ivan Dorneles. Radioamador na História, 21/05/2014 “Obituário”. Zero Hora, 07/08/2013 1416 “Processo: 02000.002363/95-68”. Diário Oficial, 20/01/1997 1415

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Cristiano Pisani e sua família, foto de Cristiano.

e2) Volmar Pisani é médico anestesiologista e foi presidente do Riograndense Futebol Clube,1417 casado com Teresinha e pai de e2a) Cristiano Pisani, médico eletrofisologista no InCor – HCFMUSP, casado com Francine Diefenbach Xavier, arquiteta, e pai de dois filhos , e2b) Thaís Pisani, e e2c) um filho não identificado. e3) Vilmar Pisani é engenheiro civil, proprietário da Construtora Pisani, “tradicional colaborador”, patrono da temporada de 2014, assessor do Departamento de Obras e vicediretor de Patrimônio do Riograndense, envolveu-se com a construção de um novo pavilhão do Estádio dos Eucaliptos.1418 1419 1420 1421 Foi também conselheiro do Avenida Tênis Clube, 1422 presidente do Lions e várias vezes membro da sua Diretoria. É casado com Angela Paulina Grandeaux.1423 Angela, arquiteta e empresária, foi vice-presidente de Patrimônio do Avenida Tênis Clube, colaboradora no projeto do seu Ginásio Poliesportivo, e em 2014 recebeu o Prêmio Personalidade do Ano ASCON/SINDUSCON.1424 1425 Hoje ela é professora da Fundação Regional Integrada campus Santiago e titular da Secretaria de Município de Estruturação e Regulação Urbana de Santa Maria.1426 O casal tem dois filhos, mas só foi identificada Bianca.

1417

Conrad, Vinícius. “Presidenta do Riograndense renuncia”. EsporTchê, 07/08/2015 “Riograndense fecha parceria com o SESC”. Riograndense Futebol Clube, 17/12/2014 1419 “Mais um passo dado para a construção do novo pavilhão”. Riograndense Futebol Clube, 01/11/2014 1420 “Trabalho em duas frentes”. A Razão, 20/03/2013 1421 Tech, Bruno. “Riograndense anuncia nomes da nova diretoria executiva”. Esportes Sul, 12/11/2013 1422 Avenida Tênis Clube. Conheça os membros da Diretoria do ATC – Gestão 2015-2017 1423 Lions Clube Santa Maria-Itararé. Distrito LD-4 RS. CL Vilmar Pisani. 1424 Avenida Tênis Clube. Poliesportivo. 1425 Sindicato da Indústria da Construção Civil e a Associação da Indústria da Construção de Santa Maria. Personalidades do Ano - 2014 1426 Secretaria de Município de Estruturação e Regulação Urbana. Equipe. 1418

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f) Américo Pisani, comerciante e industrial, por algum tempo radicado em Santa Maria, 1427 membro da Diretoria do Flamengo,1428 vice-presidente1429 e presidente,1430 gozando “de grande prestígio no seio do Clube da Baixada Rubra”.1431 Foi casado com Celia Frantz de Villas Boas, sobrinha de meu avô Antonio Frantz, e circulou com a família nas crônicas sociais,1432 1433 tendo os filhos: f1) Gessy Pisani. f2) Juarez Antônio Pisani, funcionário do Instituto de Previdência e Assistência Municipal de Caxias, casado com Elaine Braghirolli, psicóloga, pais de Ricardo e Silvana. f3) Jane Pisani, formada em acordeão com nota máxima e realizando “uma prova das mais brilhantes” no Conservatório Musical Rossini de Porto Alegre,1434 casada com Walmir Antônio Girardi, diretor da transportadora Rápido Girardi, pais de f3a) Walmir Antônio Girardi Junior, auditor-fiscal na Secretaria da Receita Federal, f3b) Gilberto Girardi, gerente-geral da Rápido Girardi, casado com Martha Carvalho Gonçalves e com um filho, e f3c) Fernando Girardi, sócio da empresa familiar.

Jairo Américo Pisani, foto Jornal de Santa Catarina.

f4) Jairo Américo Pisani, empresário, fundador da Transportadora Pisani,1435 casado com a professora Ivone Demori e pais de f4a) na Célia Pisani, médica dermatologista e f4b) André Pisani, continuador da empresa do pai. f5) Américo Pisani Filho, médico especializado em Angiologia e Cirurgia Vascular, casado com Mari Alice Falcão, com o filho Matheus Falcão Pisani. f6) Jussara Pisani, casada com Paulo Girardi, empresário, pais de Gustavo e Eduardo, este diretor da Girardi Investimentos S/A. O casamento de Eduardo em Belo Horizonte com a mineira Flávia Serravite foi considerado um dos acontecimentos sociais do mês de agosto pela revista Fotos & Festas.1436 1437

1427

“Viajantes”. O Momento, 09/03/1946 “O Flamengo empossou nova Diretoria”. O Momento, 31/12/1949 1429 “Telegrama Endereçado ao Esporte Clube Internacional”. A Época, 04/10/1953 1430 S. E. R. Caxias. O Clube: Ex-presidentes. 1431 “Presidencia do G. E. Flamengo”. A Época, 04/10/1953 1432 “Aniversários”. O Momento, 18/11/1944 1433 “Aniversários”. O Momento, 07/09/1947 1434 “Conclusão do Curso de Aluna do Professor Caffi”. A Época, 24/12/1953 1435 “Obituário de terça-feira”. Pioneiro, 03/12/2011 1436 Lopes, Rodrigo. “Mais carrocinhas na praia”. Pioneiro, 08/02/2014 1437 “Casamento de Flávia e Eduardo”. Fotos & Festas, 12/04/2011 1428

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João Otavio Zanettini e Jacira Pisani na frente, com seus filhos Juliana, Giovana, dentistas, e Marco Túlio, médico, todos atuantes na clínica familiar. Foto Clínica Zanettini.

f7) Jacira Pisani, médica especializada em Cardiologia e Pediatria, sócia-fundadora da Eletrocor Laboratório de Diagnósticos – Clínica Zanettini em Caxias, e diretora da sua Unidade de Ecocardiografia, por muitos anos supervisora em campanhas de vacinação contra paralisia infantil, titular do Conselho de Representantes da Associação Médica de Caxias do Sul, membro da Associação Brasileira de Pediatria, da Sociedade de Ecocardiografia do Rio Grande do Sul, da Associação Brasileira de Ecocardiografia, da Sociedade Brasileira de Cardiologia, da Associação Médica Brasileira e da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo. Jacira é casada com o médico João Otávio Zanettini, co-fundador da clínica, Mestre e Doutor em Cardiologia, painelista e coordenador de mesas em muitos congressos e seminários, autor de artigos, premiado com o 2ºlugar na categoria Tema Livre no XII Congresso de Cardiologia do Rio Grande do Sul, professor adjunto de Cardiologia da Faculdade de Medicina da UCS, subchefe do Departamento de Medicina Clínica e preceptor na Residência Médica do Hospital Pompéia, um dos fundadores do Sindicato dos Médicos de Caxias do Sul, secretário, conselheiro e presidente do Departamento de Cardiologia da AMECS. São seus filhos: f7a) Giovana Zanettini, dentista, casada com um Sonda, f7b) Juliana Zanettini, dentista especializada em Ortodontia, f7c) Marco Túlio Zanettini, médico cardiologista, e f7d) Américo Zanettini.

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g) Idemor Pisani (Edmor, Edemor), radicado em Santa Maria, onde foi presidente do Lions Clube local, desenvolvendo um trabalho beneficente.1438 Casado com Diná Quadrado, foi pai de: g1) Irineu Sérgio Pisani, médico, um dos pioneiros da Anestesiologia em Bento Gonçalves, cofundador da Clínica de Anestesiologia e Respiração, que evoluiu para a Clínica de Anestesiologia e Tratamento da Dor de Bento Gonçalves, presidente da V Jornada Gaúcha de Anestesiologia, que foi o primeiro congresso médico organizado na cidade, membro da Sociedade de Anestesiologia do Rio Grande do Sul, do Conselho de Representantes da AMRIGS e da Comissão de Normas do CR.1439 Casou-se com Neida Hollweg, gerando g1a) Roges Hollweg Pisani, cardiologista, membro da diretoria do Hospital Tacchini em Bento Gonçalves,1440 e g1b) Marcel Hollweg Pisani, angiologista e cirurgião vascular no Hospital Tacchini. g2) Idemor Pisani Filho, anestesiologista, especialista em Acupuntura, e atuante na Clínica de Anestesiologia e Tratamento da Dor de Bento Gonçalves.1441 Do seu casamento com Luísa nasceu Leonardo Pisani. g3) Gládis Amélia Pisani, casada com Jatyr Proença, membro do Lions de Itararé,1442 pais de g3a) Martha Pisani Proença, dermatologista, especialista em Dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia e pela Associação Médica Brasileira, titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia, e g3b) Jatyr Pisani Proença, graduado em Odontologia, com especialização em Implantodontia, mestrado em Engenharia Tecidual e doutorado em Odontologia pela Universidade de Granada, professor do curso de especializaçâo em Prótese-Implante na UNINGA em Porto Alegre, autor de artigos e revisor científico de periódicos nacionais e internacionais,1443 casado com Maria Carolina Guilherme Erhardt, dentista, mestre e doutora em Odontologia Clínica, professora adjunta na UFRGS, autora de artigos e membro do Conselho Editorial do Journal of Contemporary Dental Practice1444 e da Revista RFO-UPF.1445 São pais de Enzo, Pietro e Lucca Erhaidt Proença. g4) Marcos Antônio Pisani, casado com Ediane. g5) Lia Maslova Pisani, mestre em Engenharia de Produção, atuante na UFSM, casada com Eduardo Cidade, pais de Eduardo Pisani Cidade. g6) Antoninho Pisani.

1438

Lions Clube Santa Maria-Itararé. Distrito LD-4 RS. Presidentes do Lions Clube Santa Maria-Itararé. CL Idemor Pisani - Presidente 1976/1977 1439 “História da Anestesiologia em Bento Gonçalves”. Clínica de Anestesiologia e Tratamento da Dor de Bento Gonçalves. 1440 Hospital Tacchini. Direção e Conselho de Administração. 1441 “História da Anestesiologia em Bento Gonçalves”. Clínica de Anestesiologia e Tratamento da Dor de Bento Gonçalves. 1442 “13ª Convenção do Distrito Múltiplo LDa”. Lions Clube Santa Maria-Itararé Distrito LD4, 25/06/2012 1443 Centro Clínico Odontológico. Nossa Equipe. 1444 The Journal of Contemporary Dental Practice. Editorial Board. 1445 RFO-UPF. Corpo Editorial.

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Idemor Pisani. Foto Lions Clube Santa Maria-Itararé. Ao lado, Irineu Sérgio Pisani. Foto de Irineu.

Jatyr Pisani Proença e sua família, foto de Jatyr.

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h) Margarida Pisani (ou América, como consta na imprensa nos proclamas de seu casamento), casada primeiro com Firmino Piva e depois com Julio Machado da Silva, diretor técnico do Flamengo,1446 enólogo da Secretaria Estadual da Agricultura, “esforçado e prestimoso amigo da classe rural”, a quem a Associação Rural de Caxias devia “favores de incalculável valor”; designado chefe do entreposto do vinho em Pelotas, sua transferência para lá foi lamentada na imprensa pela perda que representou para Caxias. 1447 1448 i) Germano Pisani trabalhou com o pai quando jovem, e depois lançou-se em uma carreira independente abrindo uma fábrica de marmelada,1449 que em 1936 já era destacada entre as principais empresas da cidade por um jornal do Rio de Janeiro1450 e foi a origem de um grande grupo empresarial. Copio aqui o texto que escrevi para seu artigo na Wikipédia:

Germano Pisani e a esposa Amélia Albé.

Sua primeira indústria empregava engradados de madeira para embalagem e transporte, e a necessidade fez com que fundasse uma carpintaria para produção do material. Como na entresafra havia pouca demanda, a carpintaria passou a produzir caixas e engradados para refrigerante e cerveja, estrados e outros itens para as empresas locais.1451 A carpintaria evoluiu para uma forte madeireira, que na década de 1950 já fazia negócios de vulto e comprava em Lages, Santa Catarina, grandes quantidades de madeira. Ali a Madeireira Germano Pisani abriu uma filial em 1965, comprando a estrutura da Sociedade de Resserrados Catarinense, e prosperou, ensejando o batismo com seu nome do bairro que cresceu em seu redor.1452 1453 Nos anos 1970, quando Germano se retirou da direção, assumida pela família Webber — associada aos Pisani por casamento de sua sobrinha Vilma Pisani com Orozimbo Webber —, deixava a madeireira como uma das maiores fornecedoras brasileiras de embalagens de madeira para a indústria de bebidas.1454

1446

“Dirceu será eliminado?”. A Época, 18/06/1939 “Associação Rural de Caxias”. A Época, 01/01/1940 1448 “Dr. Julio Machado”. A Época, 23/07/1939 1449 "Família do primeiro patrono grená recebe homenagem na Confraria". Imprensa S.E.R. Caxias, 04/12/2015 1450 "Circulou hoje numero especial de Terra Fluminense". O Momento, 20/07/1936 1451 Madeireira Germano Pisani. A Pisani Madeiras. 1452 Imprensa S.E.R. Caxias, op. cit. 1453 "Bairro Pisani construído por trabalhadores em 1957". Correio Lageano, 24/04/2012 1454 "Pisani Ind. de Plásticos Ltda". O Presente Rural, 01/12/2009 1447

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Paralelamente à sua vida empresarial, Germano Pisani desenvolveu intensa atividade comunitária e esportiva.1455 Foi vereador pelo Partido de Representação Popular (1948-1951), na primeira legislatura depois de dez anos de recesso parlamentar sob o Estado Novo;1456 fabriqueiro da nova e monumental Igreja de São Pelegrino e um dos principais beneméritos da paróquia;1457 festeiro de São José e de São Cristóvão, conselheiro do Orfanato de Santa Teresinha,1458 dono do Cinema Guarany, e participou da construção do Hospital Pompeia.1459 No futebol, foi presidente do clube Rio Branco;1460 um dos fundadores e primeiros dirigentes da Liga Esportiva Caxiense, que passou a organizar os campeonatos da cidade e disseminar a prática do esporte pela região;1461 um dos idealizadores e fundadores do Grêmio Esportivo Flamengo (atual SER Caxias), membro da primeira diretoria,1462 diretor de campo,1463 diretor esportivo,1464 conselheiro,1465 três vezes vice-presidente,1466 1467 1468presidente duas vezes (1936 e 1941),1469 e presidente da comissão para a construção do seu primeiro estádio.1470 Décio Vianna testemunhou em 1954 que Germano Pisani. Foto do blog Camisas e Manias. ele não apenas dirigiu os trabalhos mas também engajou-se pessoalmente nas obras: "Ainda sábado à tarde víamos, por exemplo, um Germano Pisani, de mangas arregaçadas, roupa suja como um autêntico obreiro em plena faina, marretando duro lá no campo do Flamengo".1471 Foi casado com Amélia Albé. Em 1980, após sua morte, foi inaugurado um busto diante da fábrica caxiense.1472 Em 2014 sua memória foi homenageada pelo clube ao qual dedicou muitos esforços, sendo chamado de "o primeiro patrono da S.E.R. Caxias e figura importante para a cidade de Caxias do Sul". Na ocasião foram entregues uma camiseta e uma placa para sua filha adotiva Irma Moretto de Carvalho e seu neto Newton Carvalho.1473 1474

1455

"O dia de hoje, 28 de dezembro, na história regional". Canguçu em Foco, 28/12/2012 Centro de Memória da Câmara Municipal de Caxias do Sul [Geni Salete Onzi (org.)]. Palavra e Poder: 120 anos do Poder Legislativo em Caxias do Sul. Ed. São Miguel, 2012 1457 “Igreja Matriz de São Pelegrino da cidade de Caxias do Sul”. O Momento, 22/04/1944 1458 “Orfanato Sta. Terezinha”. O Momento, 07/09/1946 1459 Imprensa S.E.R. Caxias, op. cit 1460 Imprensa S.E.R. Caxias, op. cit 1461 "Liga Esportiva Caxiense". O Momento, 01/06/1936 1462 “Grêmio Esportivo Flamengo completou 15 anos de existência”. O Momento, 15/04/1950 1463 “Grêmio Esportivo Flamengo". O Momento, 11/05/1936 1464 "Desportos". A Época, 09/10/1938 1465 "G. E. Flamengo". O Momento, 07/08/1943 1466 “Grêmio Sportivo Flamengo". O Momento, 13/06/1935 1467 “Grêmio Sportivo Flamengo". O Momento, 28/06/1937 1468 “O Flamengo tem nova Diretoria”. A Época, 23/03/1941 1469 Brambilla, Miguel. "Última Confraria Grená de 2014 é sucesso". Sabe Caxias, 05/12/2014 1470 "Estádio do Flamengo". O Momento, 23/12/1950 1471 Vianna, Décio. "O Campo do Flamengo". A Época, 01/04/1954 1472 "Grupo Pisani homenageou seu sócio fundador". Pioneiro, 28/05/1980 1473 Imprensa S.E.R. Caxias, op. cit 1474 Brambilla, op. cit. 1456

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A empresa que ele fundou prosseguiu depois de sua retirada em uma trajetória em geral ascendente, passando por várias adaptações e mudanças. Em 1973 a Madeireira Pisani substituíra o material da produção pelo plástico, a partir de novas tendências de mercado e da joint venture com a empresa belga DW Plastics, sendo fundada a Plásticos Pisani S.A., com matriz em Caxias do Sul, que se especializou na produção de caixas plásticas para garrafas e alimentos, contentores industriais, pisos para granjas e móveis. Em 1995, por razões estratégicas, foi aberta uma fábrica em Pindamonhangaba. Em 1998 a LINPAC Mouldings Ltda, pertencente ao grupo inglês LINPAC, assumiu o controle, adquirindo 75% das ações, passando a chamar-se LINPAC Pisani Ltda. Em 2002 a empresa ingressou no segmento de autopeças. Em 2009 foi encerrado um processo de reestruturação e o controle voltou para a família juntamente com a CRP Companhia de Participações, que passaram a planejar uma expansão com mais duas novas fábricas e a especialização da unidade de Pindamonhangaba no setor de autopeças. Em 2011 foi aberta uma fábrica no Recife. A revista Valor Econômico falou sobre a empresa em 2009: “Concluído o processo de reestruturação societária que nacionalizou o controle da Plásticos Pisani, de Caxias do Sul (RS), a empresa prepara agora um plano de expansão para os próximos dois anos. O programa, estimado em R$ 20 milhões no período, inclui o aumento de 30% na capacidade instalada com a construção de duas novas fábricas e a especialização da unidade de Pindamonhangaba (SP) na produção de autopeças, disse o diretor-presidente Paulo Webber. A reestruturação, finalizada em agosto, incluiu a Pisani S.A., holding da família Webber, e a gestora gaúcha de fundos de investimentos CRP Companhia de Participações, que adquiriram por um valor não revelado os 75% do capital da empresa que pertencia ao grupo inglês Linpac. Fundadores da Plásticos Pisani, os Webber detinham os 25% restantes e agora passaram a controladores majoritários. Já a CRP ficou com uma ‘participação relevante’, segundo o diretor da gestora, André Lenz. [...] “A Pisani tem 320 funcionários e pode produzir até 2 mil toneladas mensais de produtos injetados de plástico nas duas unidades, mas vem operando num ritmo médio de 70% da capacidade instalada, disse Webber. As duas novas fábricas somarão mais 600 toneladas/mês e terão o foco direcionado para embalagens destinadas aos setores industrial, de alimentos e bebidas. [...] Com uma carteira de 4 mil clientes, desde pequenas padarias e agricultores até gigantes como a Brasil Foods, Marfrig, Coca-Cola, AmBev, Volkswagen, GM e Peugeot/Citröen, a Pisani prevê um faturamento bruto de R$ 150 milhões neste ano, basicamente no mercado interno, igual ao do ano passado. [...] Segundo Webber, cerca de 20% da matéria-prima utilizada pela Pisani é reciclada em duas unidades específicas em Caxias do Sul e uma em Pindamonhangaba. O empresário explicou que o índice de reciclagem de caixas plásticas no país é de 100%”.1475 Enquanto isso o ramo madeireiro baseado em Lages continuava em atividade, produzindo cercas, isoladores elétricos e caixas para peixe e hortifrutigranjeiros, mas o pico do movimento ocorreu entre as décadas de 1960 e 1970, quando chegou a ter mais de 300 funcionários. Depois de 2009 o declínio se acentuou e em 2012 trabalhavam cerca de 90 pessoas.1476 Em 2014 a assembleia geral aprovou um plano de falência, estando em recuperação judicial.1477

1475

“Pisani volta a ser controlada pela família fundadora”. Valor Econômico, 28/09/2009 "Bairro Pisani construído por trabalhadores em 1957". Correio Lageano, 24/04/2012 1477 "Movimento falimentar". Clipping Sindivarejista, 11/12/2015 1476

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Ivete e Argemiro Panigas. Coleção de Ismar Panigas.

3) Antonio Panigas casou-se com Eugênia Berwanger, filha de Francisco Xavier Berwanger e Margarida Brandenburger, natural de Cruz Alta, tendo o filho Argemiro, nascido em Caxias em 30 de março de 1917. Sobre Antonio nada mais se sabe, a não ser que foi sepultado em Caxias em 24 de outubro de 1923.1478 Seus descendentes de Cruz Alta afirmam que parece ter falecido com apenas 28 anos, o que coloca seu nascimento em 1891. Após a morte do marido, Eugênia mudou-se para Cruz Alta levando o filho ainda pequeno, de oito anos. Lá ela veio a casar novamente, com o viúvo Ulisses Hoffmeister. Ao lado de sua casa vivia o casal Rosino Hoffmeister e Cristina Schroeder, pais de Ivete, com quem Argemiro iniciaria um namoro. Aos 18 anos, alistou-se no Exército, tornando-se cabo enfermeiro, e no ano seguinte começou a trabalhar como carteiro dos Correios. O namoro se fortaleceu e no dia 31 de dezembro de 1938 Argemiro e Ivete casaram. Ele tinha 21 anos e a noiva, já grávida, 17. Cristina nesta altura havia enviuvado, e o novo casal passou a residir em sua casa. Argemiro trabalhou nos Correios até sua aposentadoria em 1968, e depois ocupou-se como autônomo, vendendo produtos alimentícios e de higiene até o início dos anos 80. Faleceu em 5 de setembro de 2005 e Ivete em 24 de abril de 2008. O casal teve os filhos Itamar, Ivan e Ivandro. a) Itamar Panigas, nascido em 4 de setembro de 1939, estudou na Escola Técnica de Comércio de Cruz Alta, 1479 e depois graduou-se em Economia pela APROCRUZ, atual UNICRUZ – Universidade de Cruz Alta, trabalhando como bancário até aposentar-se. Casou-se com Maria Eneida França, do lar, nascida em 29 de abril de 1945. Tiveram os filhos Ismar e Naira. a1) Ismar Panigas nasceu em 29 de abril de 1966, formou-se em Engenharia Civil pela Escola de Engenharia da UFRGS, especializou-se em Gestão da Qualidade na Construção Civil pela PUCRS e em Produção Mais Limpa pela UFRGS, 1480 obtendo um mestrado em Administração na UFGRS.

1478

“Cemitário Público”. O Momento, 31/01/1935 “LIVRO N.º 93 Escola Técnica de Comércio de Cruz Alta - Cruz Alta”. Diário Oficial da União, 23/11/1966 1480 Humana Engenharia para Pessoas. Direção: Eng. Ismar Panigas, Me. 1479

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Foi vereador,1481 candidato a deputado federal,1482 professor de pós-graduação em Relações Internacionais na URI Santo Ângelo, em Gestão do Agronegócio na ULBRA e em Gestão do Pessoas da FEMA Santa Rosa, consultor do SEBRAE estadual e nacional, palestrante em diversos eventos e entidades, coordenador da 9º Coordenadoria Regional de Educação,1483 membro do Conselho Curador da UNICRUZ,1484 e consultor de empresas. Atualmente é professor de pós-graduação em Engenharia do IPOG – Instituto de Pós-Graduação e proprietário da empresa Humana Engenharia, na cidade de Cruz Alta. Casou-se com Roseane Sommer Castilhos, nascida em 21 de setembro de 1965, formada em Educação Física pelo IPA – Instituto Porto Alegre, e em Fisioterapia pela UNICRUZ, com especialização em Ciência do Movimento Humano pela UNICRUZ e Orientação e Supervisão Escolar pelo CENSUPEG, é instrutora de Pilates pela TAO Pilates (Santa Catarina) e professora estadual. Tiveram os filhos Bruno e Carolina. Carolina, nascida em 4 de outubro de 1990, é formada em Direito pela UNICRUZ e está se mudando para Dublin, Irlanda. Bruno, nascido em 21 de agosto de 1995, é estudante de Engenharia Civil na PUCRS.

1481

“8ª Sessão ordinária”. Câmara de Vereadores de Cruz Alta, 07/04/2008 Políticos do Brasil. Professor Ismar Panigas (2006) 1483 “1ª Sessão Solene Entrega Título Nova Geração Empreendedora”. Câmara de Vereadores de Cruz Alta, 10/03/2008 1484 “Novos integrantes do Conselho Curador iniciam mandato com missão de pensar o futuro da Fundação Unicruz”. UNICRUZ, 20/02/2008 1482

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a2) Naira Panigas, nascida em 24 de outubro de 1968, é formada em Pedagogia pela UFRGS, com especialização em Marketing pela UFRGS, trabalhou na São Paulo Alpargatas e é corretora de imóveis em Porto Alegre. Agora separada, foi casada com Ademir Lorenzzoni, que trabalhou como vendedor e atualmente é representante comercial, morando em Curitiba, capital do Paraná. Tiveram o filho Pedro, nascido em 18 de dezembro de 1997, estudante de Psicologia na PUCRS. b) Ivan Panigas, nascido em 23 de novembro de 1948, formou-se em Engenharia Civil pela UFSM – Universidade Federal de Santa Maria. Casou-se com Rita Elisa Facchini, nascida em 9 de março de 1955, que cursou o magistério e formou-se em Pedagogia pela UNICRUZ, com especialização em Educação, aposentando-se como professora estadual. Foi pesquisadora em Educação e tem bibliografia publicada.1485 Moram em Cruz Alta e tiveram os filhos Tiago e Cristiano. b1) Tiago Panigas, nascido em 15 de abril de 1981, é formado em Educação Física pela UNICRUZ, com mestrado em Ciência do Exercício pela UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina, e trabalha com preparação e recuperação física.

1485

Rita Elisa Facchini Panigas. Plataforma Lattes

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Cris Panigas em primeiro plano, com a banda Seu Baldecir. Foto Toque no Brasil.

b2) Cristiano Panigas (Cris), nascido em 30 de maio de 1976 e radicado em Florianópolis, é formado em Educação Física pela UNICRUZ, trabalhando como preparador físico e músico percussionista das bandas Seu Baldecir e Tem Pero Verde. A Seu Baldecir ganhou fama e já gravou discos, fez turnês nacionais e foi uma das dez selecionadas para o Circuito Cultural do Banco do Brasil, além de participar de grandes festivais como a Maratona Cultural de Florianópolis e o Circuito Cultural da Ribeira, em Natal.1486 1487 1488 O jornal Potiguar Notícias falou sobre o conjunto: “Com um repertório autoral que passeia livre pelo samba, rock, jazz, blues, bossa e funk, a banda catarinense Seu Baldecir se apresenta pela primeira vez em Natal, no próximo domingo, dia 9, às 19h, em Nalva Melo Café Salão, dentro da programação do Circuito Cultural da Ribeira. A entrada é gratuita. Esse é o primeiro show da Turnê Nordeste, que também passará por João Pessoa, Fortaleza e Mossoró. A realização é da Zoon Fotografia, Seu Baldecir e Circuito Fora do Eixo Nordeste, com apoio do Ministério da Cultura. Além do show no próximo domingo, Seu Baldecir se apresenta dia 12, em Fortaleza, na Noite Fora do Eixo, no Buoni Amici’s Sporto Bar, junto com o cearense Caio Castelo e o grupo colombiano Elixir Tafari; dia 13, no Cidade Junina, em Mossoró; dia 14, no Projeto Quanto Vale o Show, no Centro Cultural Espaço Mundo, em João Pessoa; e dia 16, novamente em Natal, encerrando a turnê no Jazzy Rocks Bar. Formada há três anos, em Florianópolis, Santa Catarina, a banda Seu Baldecir aposta na diversidade musical, fazendo um som elaborado com pitadas de música brasileira, rock e blues, com progressões rítmicas inspiradas e uma mistura sonora instigante. O grupo é formado por Cris Panigas (percussões), Gustavo Costa (contrabaixo elétrico e acústico), Lu Araújo (vocais, piano, flauta transversal e clarinete), Jesus Leoneti

1486

Seu Baldecir. Toque no Brasil. Costa, Gustavo. “Show Inédito! Seu Baldecir em São Paulo!” Guia Cultura São Paulo 1488 Noronha, Mariana. “Primeiro Festival de Artes Integradas dia 15 de novembro”. Cultura Contada, 15/10/2014 1487

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(percussão e bateria), Rodrigo Montoro (violões, guitarras, harmônica e vocais de apoio) e Samuel Tortato (guitarras). O repertório das apresentações da Turnê Nordeste é baseado no primeiro CD da banda, Metaforicamente Falando, lançado em 2012. Canções como Bom Vivant, Calendário, Calma, Simplesmente Ser Humano, Assassinaram o Samba, Pasárgada, Baile de Primavera, Gororobalização, Domingo. O disco de Seu Baldecir pode ser baixado, gratuitamente, no site da banda www.seubaldecir.tnb.art.br. Lá é possível também conhecer outros detalhes da banda e fotos. A turnê nordestina do Seu Baldecir foi viabilizada pelo apoio fundalmental do Ministério da Cultura, através do Edital de Intercâmbio e Difusão Cultural e tem como parceiros Circuito Cultural Ribeira, Prefeitura de Mossoró, Prodisc, Centro Cultural Espaço Mundo, Jazzy Rocks Bar e Nalva Melo Café Salão; e tem como colaboradores a Rádio Universitária, Som Sem Plugs, Curva dos Ventos, Exclusive Sex Shop, Casa da Praia e Piazzale Itália”.1489 c) Ivandro Panigas, nascido em 4 de agosto de 1960, é formado em Economia pela UNICRUZ e proprietário da loja Ortobom Colchões na cidade de Videira, estado de Santa Catarina. Casouse com Sandra Mara Pereira, nascida em 21 de julho de 1960, do lar, e tiveram os filhos Ivandro Júnior, Ananda e os gêmeos Felipe e Camila. c1) Ivandro Panigas Jr., nascido em 25 de setembro de 1983, é formado em Educação Física e mora em Videira, onde é educador físico. Separado de Simone Lago Machado, tem um filho, Pietro Machado Panigas, nascido em 21 de março de 2012. c2) Ananda Panigas, nascida em 13 de setembro de 1985, é estudante de Administração e mudou-se recentemente para Cruz Alta. c3) Felipe Panigas, nascido em 1º de agosto de 1989, trabalha na loja Ortobom com seu pai. c4) Camila Panigas é estudante de Design de Interiores e Design 3D e trabalha como publicitária.

Ivan, Ismar e Ivandro Panigas. Foto de Ismar.

1489

“Banda Seu Baldecir estreia Turnê Nordeste”. Potiguar Notícias, 05/06/2013

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Sobre 4) Luiz Panigas pouco se sabe, só pude encontrar o seu registro no cadastro eleitoral em 1933, e que foi casado com Adelia de Bortoli, tendo pelo menos dois filhos, Itacir e Joana. Os de Bortoli foram principalmente agricultores na primeira metade do século XX, e a família permaneceu pequena, sendo mais comuns em Bento Gonçalves e Farroupilha, mas o seu parentesco com os caxienses é incerto. Alfredo José é o personagem mais notório até os anos 60, sendo fabriqueiro da atual Igreja de São Romédio1490 e vereador. Hoje o nome é mais conhecido na cidade através da empresa De Bortoli Materiais de Construção. O sobrenome Panigas, também grafado Panigaz, Panegas, Panegaz, Panegaso e Panegasso, permanece raro em Caxias, a família se dispersou muito, mas vem se destacando Carine, conhecida atriz, cenógrafa, fotógrafa, produtora e diretora de teatro e cinema, com muitas aparições na imprensa e desenvolvendo diversos projetos culturais, atuando com grandes artistas.1491 1492 1493 A outra filha de Tomaso e Giuditta, 5) Ema Panigas (ou Emma), minha bisavó, nasceu em 26 de maio de 1882, e faleceu em 7 de novembro de 1975. De sua infância e juventude já nada se sabe, mas na foto da próxima página ela aparece junto com sua futura concunhada Ema Tomasi e uma amiga vestidas com elegância, seguindo a moda da região italiana no fim do século XIX. Isso é uma boa indicação do nível de vida de sua família neste período. Diz a tradição, como já foi referido, que os Panigas trouxeram da Itália uma quantidade de ouro. No pior da crise após a falência do marido Augusto Artico, Ema teve um sonho em que sua mãe, já falecida, a aconselhava a se dirigir a Porto Alegre e adquirir uma máquina de costura para iniciar-se na confecção. Ema seguiu o oportuno conselho, que se revelou profético, e sendo devota, entregou o destino da família à proteção de Santo Expedito. Através da costura ela e suas filhas puderam sustentar a casa. Prefácio da biografia de Santa Ana, pertencente a Ema, com a sua assinatura.

1490

Tessari, op. cit. “Força do Hábito estreia nesta terça em Caxias do Sul”. Olá Serra Gaúcha, 10/06/2014 1492 Brambilla, Miguel. “Volux abrirá show do artista Frejat em Caxias do Sul”. Sabe Caxias, 02/07/2014 1493 IEACen / SEDAC. Caxias do Sul. 1491

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?, Ema Tomasi (Emeta) e Ema Panigas.

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Missa em casa de Ema. À extrema esquerda, cortada, é Irma Artico, depois Leda Artico Longhi, Celestina Artico Raabe, Ema Panigas Artico, uma irmã e uma assistente não identificadas, e dom Cândido Bampi.

Seu filho Osvaldino deixou interessantes lembranças de seu trabalho: “Devido à falência da Vinícola Artico & Cia., a família de Augusto Artico perdeu seus bens. Nessas condições, minha mãe Ema não esmoreceu, enfrentou o revés e tomou a iniciativa de ir a Porto Alegre para adquirir uma máquina de fazer bainhas abertas. Nesta ocasião eu tinha dez anos. Minha mãe necessitava ir a Porto Alegre para praticar o manejo da máquina e me levou junto. Para ir à capital, o meio de transporte era o trem. Levantamos bem cedinho, era ainda noite quando chegou o Casara com o carro puxado por dois cavalos, ia nos levar à estação. Lembro do meu estado de excitação ao ver de perto aquele monstro expelindo fumaça e vapor por todos os lados. Minha mãe segurava a minha mão com receio de que eu me aproximasse. Acomodados no vagão de 1ª classe, esperávamos o trem partir. No mesmo vagão estava o sr. Luiz Gastaldi Valiera, arquiteto construtor, que nos serviu de guia e deu orientação, por ser muito viajado. [...] “Finalmente chegamos a Porto Alegre, na Estação Navegantes. Já declinava o dia, entardecendo... Na chegada a família Sartori nos esperava, de quem seríamos hóspedes no Bairro Navegantes, e ficamos uma semana. A afilhada da mãe, dona Felicità Sartori, nos acompanhava à Agência Singer, a fim de aprendermos a usar a máquina e enfiar as duas agulhas, bastante complicado. Ver nota 1494 No fim do curso, a mãe foi comprar um presente para o pai e as filhas, e tocou a mim uns novelos de lã laranja, com os quais a Mariuccia em Caxias fez um lindo pulôver. [...] 1494

Trata-se da família de Alberto Sartori, filho de Salvador, de quem os Artico eram amigos. Sua história se encontra no Volume I. Felicità era a esposa de Alberto, mas não pode ter sido afilhada de Ema, pois era seis anos mais velha que ela, nem mesmo afilhada de casamento, pois quando casou Ema tinha apenas 13 anos. Osvaldino obviamente se enganou. Ou quem sabe Ema tenha batizado algum dos filhos da amiga.

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“Na pequena cidade de Caxias havia três empresas de tecelagem de seda: a Pizzamiglio e a Panceri, Ver nota 1495 na rua Savóia, hoje a Vereador Mario Pezzi, e a Scavino, nas proximidades do Cemitério Municipal. Essas indústrias produziam lenços de seda, usados no pescoço. Para dar acabamento, eram feitas bainhas abertas nos quatro lados dos lenços. Minha mãe fora contratada pela indústria para executar o trabalho; por isso, da manhã à noite, quando estava na máquina de bainhas, pedalava, pedalava, pedalava... e ritmando com o pé entoava as canções típicas italianas. Quando ia fazer o almoço, a Mariuccia assumia a máquina, auxiliando para atender a grande procura da confecção e superar a necessidade econômica do lar. Eram os famosos lenços usados pelos maragatos e chimangos, partidos políticos rivais. [...] Este período foi de muita crise financeira para meus pais. Na infância não se avalia o trabalho e o espírito empreendedor dos pais para sustentar os filhos, mas minha mãe tinha fé em Deus e em seu trabalho. Diariamente um de nós levava os lenços prontos para a indústria e trazia pacotes de outros. [...] “Os anos foram decorrendo, os filhos crescendo, a Mariuccia havia casado, mas a Itala a substituiu na máquina e a mão de obra artesanal garantia o sustento da família. [...] Terminada a II Guerra Mundial, o mundo se transformara. A seda e casimira foram substituídas por produtos sintéticos. Muitas profissões se extinguiram, as tecelagens de seda encerraram suas atividades e isso se refletiu na casa dos Artico”.1496 Ver nota 1497 Nos tempos difíceis, a sogra Magdalena Artico deu grande ajuda nas costuras, assim como a família de sua cunhada Celestina Artico Raabe, em cujo terreno na rua Sinimbu havia uma casa de madeira onde viveram por muitos anos e montaram a sua loja de confecções, depois mudando para uma outra, semelhante, na avenida Júlio de Castilhos. As outras filhas, Anéris e Ada, aprenderam com Itala e passaram a colaborar, e a confecção se diversificou, produzindo enxovais, cortinas, toalhas de mesa, roupas íntimas, capas de colchões e muitos outros itens com trabalhos de bordado, assegurando-lhes uma vida simples mas digna e razoavelmente confortável. Mas se a perda foi vasta, nem tudo foi perdido. Embora rústicos, os casarões de madeira onde viveram de aluguel eram bastante espaçosos, possuíam três pisos com um pé-direito de 4 a 5 metros, que transmitia uma deliciosa sensação de amplidão e abrigo que hoje as casas e apartamentos modernos não oferecem, mesmo que tenham muitos metros quadrados de superfície. Não sei como repercutiu exatamente a derrocada no íntimo de quem a sofreu, não sei o quanto eram antes orgulhosos do seu sucesso, mas a mim, ao menos, a lembrança que tenho dessas casas e sua gente nesses tempos de “mediocridade” é apenas de pura felicidade e calor humano.

1495

A Tecelagem Panceri pertencia à família de Henrique Panceri, casado com minha tia Marisa Frantz, abordados no Volume I. 1496 Artico, op. cit. 1497 Nem todas as tecelagens fecharam nesta época. A Tecelagem Panceri permaneceu ativa até os anos 80.

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A antiga casa Artico da rua Sinimbu. Na frente do térreo funcionava a loja e confeccão de Ema e suas filhas. Abaixo, Edelweiss de Almeida Vasques, minha mãe Elisabeth, Ana Vasques e Roberto Longhi. Na frente Floriano Artico Correa, Hugo Vasques, eu de pescoço espichado, meu irmão Marcelo e Patrícia Vasques. Ema Panigas Artico está sentada com Luciano Artico Tessari no colo.

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Ema faleceu com 93 anos, ainda comandando sua casa como uma abelha-rainha na colmeia de suas operosas filhas, que estavam sempre, infatigáveis, ao seu redor. No tempo em que a conheci irradiava uma aura de majestade e severidade que se mesclava belamente com uma profunda doçura, daquelas que só se consegue depois de uma vida virtuosa e cheia de experiências ricas, de muito trabalho e amor, e também de muitos sacrifícios, que refinam a alma, removem suas impurezas e deixam ao final dessa alquimia somente ouro de bom quilate, cujo brilho, no seu caso, podia não ser imediatamente visível atrás de sua figura monolítica, austera e inabalável, que impunha respeito pela simples presença, mas se expressava através do seu amável sorriso e sua generosidade para com todos. Estava frequentemente agarrada no seu rosário e sobrevive um diploma que atesta sua associação, junto com o marido, na Obra Seráfica para as Missões dos Capuchinhos. Osvaldino assim a recordou: “A saudosa lembrança de nossa querida e extremosa mãe deixou em nossos corações uma profunda dor. Todos que a conheceram quiseram-na muito, era uma simples mulher, era boa e carinhosa em sua constância e dedicação. Tão simples, mas agiu com força e sabedoria nos percalços dos seus 93 anos; nunca se abateu, sem perceber escrevia a história da família, e embora velha e fraca, se alteava, crescia e se avultava em quaisquer circunstâncias. À sua sombra as dores se apagavam; assumia a simplicidade, entretanto enriquecia com a felicidade, o amor e a caridade dos filhos, netos e bisnetos. A sua própria agonia foi um rosário de fé”. 1498

Abaixo, remanescentes do jogo de taças de cristal soprado artesanalmente que pertenceu a Ema e Augusto.

Algumas raras peças da fase de apogeu, verdadeiras relíquias que escaparam de ser transformadas em dinheiro para pagar os credores, evidenciam que por algum tempo Augusto e Ema viveram com grande conforto, permitindo-se ao luxo de possuir joias, objetos artísticos, mobília de estilo, louças finas, prataria e cristais, equiparando-se em dignidade a outras famílias tradicionais da cidade, embora nunca tivessem estado entre as mais ricas. Mesmo em decadência financeira, o casal foi tronco de grande e respeitada descendência, hoje espalhada por vários pontos do Brasil e até no exterior.

1498

Artico, op. cit.

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Comida, pelo menos, nunca faltou na mesa, e as refeições, no tempo em que participei delas, ainda uma criança, eram invariavelmente pequenos banquetes. Osvaldino falou também sobre as tradições gastronômicas da família: “A vila dos imigrantes pioneiros deixou alicerces marcados com os costumes herdados pelos descendentes até hoje na arte de cozinhar. Não esqueci as tradições e gostos culinários, já que tudo o que os homens e mulheres fazem tem como centro a mesa sagrada das refeições, como Jesus na Santa Ceia. “A arte da culinária que os imigrantes trouxeram foi adaptada aos frutos que encontravam na nova terra, ao progresso que se desenvolvia e à sua criatividade. A vila crescia e a culinária foi se transformando. [...] A culinária foi uma das tradições e costumes que minha avó Magdalena Artico trouxe da Itália e transmitiu às filhas e noras. “Todos os dias me vêm à lembrança minha mãe no fogão de lenha mexendo nas panelas, fosse o minestrone, ou o risoto, ou a fortaia. Ouço o martelo batendo os bifes para ficarem bem macios, colocando-os depois sobre a chapa do fogão, enfumaçando toda a cozinha, mas o cheiro era de dar água na boca. Outra ocasião, fazendo a tripada, que diziam mondongo... lembro a polenta acompanhada do codeghin e costelinha de porco. E o festival da polenta, do queijo, do salame, dos agnolini de galinha, dos tortei, das lasanhas, dos canelones, da pasta sciuta e muito mais. Minha mãe sabia fazer de tudo, e classificar sua comida de saborosa é muito pouco. “Em qualquer atividade no lar ou nas paróquias, o anúncio se resumia em convidar a comunidade para o almoço do meio-dia ou à noite para uma mesada com pratos da região. Lembro de minha mãe fazendo o pão nosso de cada dia para seus filhinhos, e eu ao lado com um pedacinho de massa modelando um cabritinho com dois feijões pretos para marcar os olhos. [...] Noutro momento, ela a mexer com a abóbora para fazer os tortei, enquanto a galinha pendurada pelas pernas, na janela, aguardava a ocasião de ir para a caçarola. Mas faltava alguma coisa para a sobremesa: era o espichar a massa para fazer os grostoli e cortar em retângulos para serem fritos. [...] “Fazer os agnolini era verdadeiro artesanato culinário na arte de espichar a massa bem fininha, cortar com a carretilha em quadradinhos, rechear e dar o formato de cappelletti. O segredo maior era preparar o recheio: carne do peito da galinha, ovos, queijo, temperos verdes. Era tarefa das noites de serão, as comadres trabalhando e tagarelando os últimos acontecimentos da vila”. 1499 Talvez o trauma das guerras e carestias e a ameaça constante da fome na Itália, que seus antepassados viveram na própria carne, tenha lançado os seus descendentes numa certa “gulodice compensatória” na colônia. Minhas tias-avós se tornaram famosas na família pela absurda quantidade de comida e outros itens de “sobrevivência básica” estocados nas despensas, como dezenas de latas de azeite e pilhas e pilhas de sacos de farinha, açúcar, arroz e feijão, parecendo verdadeiras prateleiras de supermercado, como se esperassem para qualquer momento o desencadear de uma nova guerra; não podiam ver os filhos, sobrinhos e netos sem oferecer-lhes comida, e não podiam dar-se por contentes senão se eles comessem bastante.

1499

Artico, op. cit.

429

Eram todas elegantes na juventude, mas quase todas se tornaram matronas corpulentas, assim como minha avó estava se tornando antes de ficar cronicamente doente do estômago – o que não deixa de ter um aspecto simbólico –, sendo a comida um importante elemento de ligação afetiva entre os membros da família. Além dos aspectos óbvios de sobrevivência e saúde física, a preocupação com o alimento tinha um importante lado ritual, sendo as refeições preparadas com muito cuidado, ocasiões entre as mais sagradas para a família, e sendo o prazer da degustação estampado nas faces dos comensais a melhor prova do sucesso tanto da habilidade da cozinheira quanto de sua competência como mulher e como Mater italiana arquetípica, (super)protetora e (super)nutridora. Coisas da psique feminina colonial, comum a muitos dos imigrantes, ao que parece, através das quais se estruturavam hierarquias familiares e relações de afeto.

Augusto e Ema Panigas Artico, ao centro, e sua família em seu redor. Atrás: Itala Artico, Silvia Gedoz e o marido Osvaldino Artico, Enio de Almeida, sua mãe Mariuccia Artico de Almeida, Leda Artico e seu marido Alcides Longhi, e Anéris Artico Correa. Na frente: Eunice, filha de Mariuccia, Doroti, filha de Osvaldino, Edelweiss, filha de Mariuccia, Elisabeth, o bebê Vera e Beatriz, filhas de Leda, e Ada Artico Tessari.

430

Ema Panigas e Augusto Artico na sua festa de Bodas de Ouro.

431

Augusto Artico e Ema Panigas com seus filhos Ada, Leda, Mariuccia, Osvaldino, Anéris e Itala.

Todos os filhos de Augusto e Ema tiveram algum dote artístico. Osvaldino foi requisitado ourives, e as filhas criaram primorosos trabalhos na confecção da família, procuradas para fazer grandes enxovais para noivas, além de itens menores, dos quais ainda guardo alguns exemplares. As filhas foram também todas muito religiosas e passaram vidas de grande trabalho. 1) Maria Wilma Rosa Artico, a Mariuccia, nascida em 8 de setembro de 1906 e morta em 8 de setembro de 1988, em sua juventude foi apreciada cantora e atriz amadora nas festas locais, cultivando um talento precoce. Foi citada n’O Brazil em 14 de novembro de 1914 a representar no colégio um monólogo, em outra nota ela apresenta um “drama” com outras colegas, e em sua apresentação das “interessantes cançonetas O Carteirinho e A Pianista”, com acompanhamento de Ida Finco, na formatura do ano de 1915, “não deixou nada a desejar”, na ocasião entregando uma carta ao benfeitor do colégio, o vice-intendente José Baptista, que o deixou “desvanecido”.1500 Apresentou-se nas cerimônias de abertura da Feira Agro-Industrial de 1916, quando o jornal O Brazil noticiou: “As graciosas meninas [...] foram muito aplaudidas pela graça com que desempenharam os seus papéis, notadamente a inteligente menina Mariuccia Artico”, 1501 e foi noticiada novamente apresentando-se em 1918, junto com outras senhoritas da elite, em uma alegoria teatral numa festa em benefício dos marinheiros brasileiros que lutaram na I Guerra.1502 Ela foi a única entre suas irmãs que apareceu na crônica social,1503 1504 pois sendo a mais velha, aproveitou o final do período em que os Artico tinham dinheiro de sobra, sendo, além disso, extrovertida e de simpatia cativante.

1500

“Collegio Elementar”. O Brazil, 01/10/1916 “A Exposição”. O Brazil, 11/03/1916 1502 “Agradecimento”. O Brazil, 26/10/1918 1503 Michielin, op. cit. 1504 “Caxias nas Festas do Centenario”. O Brasil, 15/06/1922 1501

432

Citação de Mariuccia, aqui chamada na variante Mariettina, em uma longa matéria sobre as iniciativas beneficentes organizadas pela população para socorrer financeiramente os soldados italianos combatentes na I Guerra Mundial.

433

Mariuccia Artico e seu marido Otacílio Juventino de Almeida. Coleção de Edelweiss de Almeira Vasques.

Aos 17 anos Mariuccia casou com Otacílio Juventino de Almeida, escrivão da polícia e guardalivros da Industrial Madeireira e da Madeireira Pisani, filho de Abrelino Macário de Oliveira de Almeida e Anna Amelia Xavier de Oliveira da Silva. Segundo a tradição familiar Anna Amelia era uma baronesa ou filha de um barão da nobreza brasileira, mas esta história não pôde ser confirmada por documentos, embora sua neta Edelweiss tenha lembranças de parentes de Abrelino, que uma vez visitaram Caxias, referindo que viviam em Pelotas, e que lá tinham posses e prestígio. Mariuccia separou-se dele em 1936, Otacílio faleceu jovem e pouco se sabe de sua vida. Depois Mariuccia viveu como florista, sendo ao que parece a primeira da cidade, com seus arranjos muito requisitados para festas; foi também costureira, professora, fazia partos, cuidava de doentes e ajudava nos orfanatos costurando as roupas das crianças. O casal teve os filhos Enio, Eunice, Enno e Edelweiss: a) Enio de Almeida, contador da indústria de sapatos de Alcides Longhi, depois foi diretor da empresa Intral, hoje aposentado e residente em São Paulo, casado com Brunilda Rossato. O casal teve os filhos: a1) Marciano, médico, proprietário e presidente da empresa Aite Gestão em Saúde em São Paulo, pai de Paula e Fernanda Valery. a2) Heloísa Helena, formada em Artes Plásticas, casada com Linertte dos Santos, engenheiro e gerente de Vendas da empresa Hidrosistemas; têm os filhos Marina, médica com especialização em Hematologia; Fernando, formado em Propaganda e Marketing, trabalha no Itaú, e Gabriela, advogada na empresa Lazzari, Moretti & Moraes Advocacia. a3) Ricardo, médico oncologista, sócio da São Germano Oncologia em São Paulo, pai de Carolina e Guilherme. b) Enno de Almeida, casado com Dalila Spinato, tabeliã, com os filhos b1) Soraia, estudante de Antropologia, com as filhas Fabíola de Almeida Rodrigues, casada com Vormi de Ávila Vieira; Nataniela Rodrigues, Fabiane Rodrigues, casada com Rodrigo Rangel, e Carolina Rodrigues. b2) Vanali, advogada, casada com Silvio Mozart Moura de Souza, representante comercial, pais de Mayla, advogada. b3) Everton, casado com Adriana Spinato de Almeida, enfermeira, pais de Dalila. b4) Priscila, casada com Cesar Lerias, pais de Marco Caetano. 434

Brunilda, Marciano, Enio, Ricardo e Heloísa de Almeida. Coleção de Ana Maria Vasques.

Fabiane de Almeida Rodrigues, Beatriz Longhi Nonnenmacher, Patricia Vasques, Vanali de Almeida e Carolina Rodrigues Galli. Na frente, Edelweiss de Almeida Vasques. Coleção de Ana Maria Vasques.

435

c) Eunice Magdalena de Almeida, contabilista do INSS, falecida em 1976, foi casada primeiro com Nelson Cruz, o Margarida, notado jogador do E. C. Juventude e da Renner de Porto Alegre. Tiveram os filhos c1) Salete, falecida em 1965; c2) Olivio, e c3) Sergio, paramédico em Vancouver, Canadá, falecido em 2012, casado com Nina Cruz, sendo pais de Fábio, formado em Nutrição; Cristian, falecido em 2004, e Alex, que teve formação em Carpintaria na Universidade Burnaby mas trabalha como EMCEE/ Producer (mestre de cerimônias), é também músico e cantor de rap. Da segunda união de Eunice, com Olírio de Oliveira, nasceu o filho c4) Olírio Jr. d) Edelweiss de Almeida, professora e Mestre em História, uma das fundadoras do Colégio Abramo Eberle, orientadora educacional em várias escolas caxienses, função na qual deu amparo e direção a estudantes com dificuldades e suas famílias, também com formação em Teologia e palestrante na Seicho-no-Ie de Caxias. Edelweiss foi casada com Raymundo Antonio Rotta Vasques, guarda-livros de apreciada competência e bancário prestigiado no Banco do Brasil, muito ativo na associação dos funcionários do Banco (AABB), medalhista nas equipes de natação, atletismo, bochas e outras modalidades, diretor de vários departamentos Eunice e Edelweiss esportivos, muitas vezes redator da seção de Esportes da Revista da AABB,1505 1506 1507 e um dos fundadores da Liga Caxiense de Futebol de Mesa, inspirada no Departamento de Futebol de Mesa que ele dirigia na AABB.1508 Adauto Sambaquy, conhecido cronista esportivo, o considera um dos ícones do futebol de mesa do estado,1509 e escreveu um elogioso obituário na ocasião de seu falecimento em 2013: “Meu sábado, em plena convalescença por causa da retirada de uma ferida duvidosa de minha perna esquerda, não poderia iniciar-se de maneira pior. Sendo obrigado a ficar em repouso, parto para o meu companheiro computador, com a intenção de colocar as correspondências em dia. Dentre os diversos e-mails, destaca-se um, da Ana Maria Vasques, a filhinha do meu amigo Raymundo. A raridade de aparições de correspondências dela para mim me fez voltar os olhos e abri-lo em primeiro lugar. E o choque trazido pela mensagem encheu-me os olhos de lágrimas. Vou reproduzi-lo:

1505

Revista da AABB, 1963; II (20). Expediente. Vasques, R. A. “Esportes na AABB”. In: Revista da AABB, 1963; II (19):26-31 1507 Vasques, R. A. “Esporte na AABB”. In: Revista da AABB, 1964; II (22):34-38 1508 Lopes, Rodrigo. “Os 50 anos da Liga Caxiense de Futebol de Mesa”. Pioneiro, 04/05/2015 1509 “Conhecendo o craque”. A Coluna de Adauto Celso Sambaquy, 03/02/2010 1506

436

Atrás: Ana Maria Vasques, Edelweiss de Almeida Vasques, Raymundo Vasques e Raymundo de Almeida Vasques. Na frente: Ema Panigas Artico, Mariuccia Artico de Almeida com Hugo de Almeida Vasques no colo, e Patrícia de Almeida Vasques. Coleção de Edelweiss de Almeida Vasques.

Prezado Sambaquy, Meu pai veio a falecer hoje de manhã às 6 horas, após 10 dias de internação por males de rins, vesícula e quadro de descompensação clínica agravada pelo diabetes. Quero te dizer que o pai vinha muito recluso e, apesar de sempre lúcido – até o colocarem ontem em estado de sedação, já não enxergava mais, então somente ouvia notícias e outras que eram lidas para ele. Divertidos momentos foi ler o que escreveste sobre ele, foste o amigo “Samba” – como ele te chamava aqui – que permitiu que sua nova família (esposa, filho e nora) soubesse um pouco mais de sua antiga vida e do quanto seu bom humor e “tiradas” vêm de longo tempo. Pena que não puderam dar um abraço pessoalmente, mas ele recebeu o teu carinho e afirmação amiga. Obrigada sempre por isso. Ana.

437

Detalhe de página da Revista da AABB ano II nº 19 de 1963, com foto do primeiro campeonato de futebol de mesa da cidade, dirigido por Raymundo Vasques.

“Então, como num passe de mágica, recordei diversas passagens em que estivemos juntos na cidade de Caxias do Sul. Ao receber a revista editada pela AABB e descobrir que ele era o diretor do Departamento de Futebol de Mesa. A apresentação que forcei quando recém admitido no Banco, ao diretor do Departamento de Futebol de Mesa, dizendo que era praticante e que gostaria de poder frequentá-lo. A sua amizade imediata. Seu carisma entre os botonistas caxienses, sempre com piadas prontas, alegrando os ambientes que frequentávamos. Sua condição de pai, carregando sempre o seu filho Raymundinho para jogar com os demais meninos que frequentavam o departamento, chefiados pelo Sérgio Calegari, que organizava e cuidava dos campeonatos infantis. Nas vezes em que ia buscá-lo em sua casa e, juntos, frequentávamos o Vasco da Gama, o Juventus, o Guarany, o Noroeste, mostrando aos interessados pelo esporte como era praticado. Sua organização de campeonatos, com tabelas pré-moldadas e, os nossos jogos, os quais sempre foram clássicos, que se iniciaram em 1963 e continuaram até 1972. Foram 52 partidas que representam 2.600 minutos que estivemos frente a frente, sem contar quando tínhamos de apitar um a partida do outro. Enfim, estivemos muito tempo de nossas vidas juntos, praticando o esporte que amávamos. 438

“Mas, o Vasques ainda praticava o futsal. E nos diversos torneios promovidos pela AABB, lá estava ele, dando seus chutinhos e por vezes marcando gols, principalmente se o goleiro adversário fosse o Calegari. Então, na semana seguinte, a gozação corria solta na agência. Em 1973 vim transferido para Santa Catarina e, algum tempo depois, o Vasques também alçou voo rumo a Curitiba. De lá, telefonou-me dizendo que viria até Brusque, trazendo o temível Vitoriense para dar uma surra no meu G. E. Flamengo. Infelizmente, nunca apareceu por aqui e só voltei a ter notícias dele, quando essa coluna o mencionou e a Ana procurou o meu endereço com o meu filhão Daniel Maciel. “Chegamos a conversar por telefone, mas, infelizmente não consegui me encontrar com ele pessoalmente, deixando para que nosso encontro seja no plano espiritual, onde todos deverão aportar algum dia. Raymundo, marcado com ponto, entre a equipe de natação da AABB. Na extrema direita está meu pai Murillo. “Meu querido amigo, hoje, iniciaste uma nova viagem. Que sejas bem recebido por todos aqueles botonistas que te precederam. Que, ao encontrares, trate logo de ir formando um clube de Futebol de Mesa, pois quando eu for, levarei o meu time para aquela revanche prometida quando ainda estava em Curitiba. Vá em paz e que o Nosso Pai Celestial te acolha com o carinho que mereces”.1510

A edição de 2013 da Copa Primos da Associação de Futebol de Mesa de Caxias do Sul, sucessora da Liga, foi dedicada à sua memória.1511 Em 2015, quando a Associação celebrou seus 50 anos de fundação, os jornais Show de Bola e Pioneiro publicaram artigos alusivos à data, onde a importante contribuição de Raymundo a este esporte foi reconhecida.1512 1513

1510

“Perdemos o Raymundo Antonio Rotta Vasques”. A Coluna de Adauto Celso Sambaquy, 22/04/2013 “Copa Primos 2013”. Blog da Associação de Futebol de Mesa de Caxias do Sul, 21/04/2013 1512 Prezzi, Rogério. “Um brinde aos 50 Anos de História”. Show de Bola, 11/05/2015 1513 Lopes, Rodrigo. “Os 50 anos da Liga Caxiense de Futebol de Mesa”. Pioneiro, 04/05/2015 1511

439

Edelweiss marcada com X. Coleção de Edelweiss de Almeida Vasques.

Edelweiss e Raymundo foram pais de: d1) Ana Maria Vasques, formada em Administração com pós-graduação em Relações Humanas, com especializações nas áreas de Segurança Digital, Planejamento Estratégico, Formação de Equipes, Dinâmica de Grupos e Administração de Pessoal, bem como nas áreas financeiras de Pagamentos, Licitações, Caixa Executivo e Tesouraria, entre outras; ocupou as funções de caixa executivo e assistente em agências do Banco do Brasil de Estreito, Coqueiros e Florianópolis, estado de Santa Catarina, e gerente de grupo na Gerência de Logística em Florianópolis. Teve também formação parcial em Arquitetura e tem um lado artístico, fez cursos de extensão universitária em História da Arte, Desenho e Design de Interiores e um curso profissionalizante de Pintura, e tendo estas habilidades foi encarregada do Espaço Cultural do Banco do Brasil em Florianópolis. Casada com Vilmar Marques Cavalheiro, bancário aposentado do Banco do Brasil, que teve também formação em Teologia, sua união produziu Marcelo, formado em Publicidade e Propaganda, trabalhou no Grupo RBS de Florianópolis e atualmente é responsável pela Equipe de Eventos do Hotel Mercure, do Grupo Accor na mesma cidade.

440

No alto, Patrícia, Ana, Patrícia e Raymundo, embaixo, Ana, Hugo, Raymundo e Hugo. Coleção de Edelweiss de Almeida Vasques.

d2) Raymundo Vasques, cinéfilo e gerente de Contas de Comércio Exterior do Banco do Brasil em Porto Alegre, casado com Anna Giordani, enfermeira, atuante no Instituto Oncológico DeVitta em Caxias. São pais de Daniel, Mestre e doutorando em Educação Física, foi professor municipal em Caxias, depois mudou-se para a Bahia, concursado na Universidade Federal do Recôncavo, encarregado de implantar o curso de Educação Física no núcleo universitário da cidade de Amargosa; voltou a Caxias em 2012 e hoje é professor no Colégio São José. Casou-se com Fernanda Sebben, bacharel em Administração com especialização em Marketing, trabalhando atualmente como gerente de Relacionamento no Bradesco de Caxias, responsável pela Carteira de Investimentos dos clientes Bradesco Prime. d3) Patrícia Vasques, formada e pós-graduada em Educação Física pela UCS e Fisioterapia pela Feevale, já deu aulas na Academia Nova Forma e no Colégio do Carmo em Caxias, atua como personal trainer e terapeuta na área de melhora motora e terceira idade, casada com Luiz Carlos Veronez, instrutor do SEST/SENAT nas áreas de Cargas Perigosas, Primeiros Socorros, Transporte e Legislação. d4) Hugo Vasques, campeão estudantil de xadrez em nível nacional, depois formou-se engenheiro mecânico, foi funcionário da Prefeitura de Camaquã e hoje trabalha como policial rodoviário federal, lotado em Camaquã. Casou-se com Liliane André, formada em Filosofia e Línguas; é professora estadual e ministra aulas de Inglês.

441

Patrícia, Raymundo e Ana. Coleção de Edelweiss.

Vilmar Cavalheiro, Edelweiss de Almeida Vasques, Ana Vasques, esposa de Vilmar, Ana Lúcia Giordani e seu esposo Raymundo Vasques, Luiz Carlos Veronez, esposo de Patrícia, Líliane André e seu esposo Hugo Vasques. Na frente, Marcelo Vasques Cavalheiro, filho de Ana e Vilmar, e Patrícia Vasques. Coleção de Edelweiss. 442

O casal à esquerda não é parente. Depois vem Daniel e Fernanda Vasques, Marcelo Cavalheiro, Patricia Vasques e Luiz Carlos Veronez. Na frente Edelweiss, Ana Maria Vasques e Vilmar Cavalheiro. Coleção de Ana Maria.

Da segunda união do velho Raymundo, com Celia Baciquet, nasceu Ricardo Vasques, graduado em Educação Física e pós-graduado em Dança de Salão, bailarino e coreógrafo, participante de vários festivais em Santa Catarina, parceiro de Roger Berriel na produção e organização do grande festival Baila Costão, ministrante de workshop na XIII Mostra de Dança de Salão de Florianópolis – Baila Floripa, sócio-fundador e diretor da escola recreativa e profissionalizante Ateliê da Dança, credenciada pela Funarte e destacada na retrospectiva de fim de ano de 2012 do blog Dança Catarina como “uma das melhores academias de dança de São José na Grande Florianópolis”, 1514 1515 1516 1517 1518 casado com Thaís Lentz.

Ricardo Vasques e Thaís Lentz. Foto de Ricardo.

1514

Fusco, Neville. “Quem nunca desejou se estrela e receber os aplausos de plateia ainda que fosse por uma única noite?” Dança Catarina, 11/12/2014 1515 “Os sonhos que a música tece na dança para 2013”. Dança Catarina, 30/12/2012 1516 “XIII Mostra de Dança de Salão de Florianópolis – Baila Floripa 2014”. Cinemaskope, 14/04/2014 1517 Barros, Keyla. “Dezembro: o palco é dos artistas de final de ano!” Dança em Pauta, 12/12/2014 1518 Funarte. CODANÇA: Instituições de Ensino: Ateliê da Dança.

443

Ada Artico em sua Primeira Comunhão.

2) Ada Artico, nascida em 28 de fevereiro de 1927, é a única ainda viva. Quando tinha apenas 11 anos, teve uma poesia de sua autoria publicada no jornal O Momento, numa campanha contra a bebida, surpreendente, para a sua pouca idade, pelo assunto, pela forma (um acróstico) e pela veemência da expressão, que reproduzi acima. Casou-se com Bruno Tessari, comerciante, conselheiro do Grêmio Esportivo Vera Cruz,1519 e pracinha da Força Expedicionária Brasileira, lembrado por Adami como um dos “corajosos e resolutos” caxienses que lutaram na II Guerra.1520 1521 Era filho de Antonio Tessari e Elisa Scopeli. Sua família será em breve abordada. Depois levou uma vida difícil, toda voltada ao lar, costurando e ajudando o marido que perdeu uma perna, mas a pensão de Bruno como pracinha era razoável, e com a ajuda de sua irmã Itala construíram um lindo chalé de madeira semelhante ao de meus avós Longhi, onde passei bons momentos em minha juventude, pois seu filho Luciano era um dos primos mais chegados e com quem eu e meu irmão mais aprontamos estrepolias, e depois, quando fomos para Porto Alegre estudar, dividimos por um tempo um apartamento.

1519

“Grêmio Esportivo Vera Cruz”. O Momento, 12/08/1950 “Ao povo de Caxias do Sul”. O Momento, 25/10/1947 1521 Adami (1950), op. cit. 1520

444

Casamento de Ada Artico e Bruno Tessari. Ao lado, Mauren Tessari Seidl, Ema Elisa Tessari Seidl, Ada Artico Tessari, Luciano Tessari e Celso Seidl. Na frente: Antonio Tessari e Cleci dal Pai Tessari, Alexandre dal Pai Tessari e Maurício Tessari Seidl. Coleção de Ema Elisa.

Além de a) Luciano Tessari, nascido em 1965, que fez próspera carreira no ramo da Informática como analista de sistemas e consultor de grandes empresas, hoje dedicado ao ramo imobiliário, Ada é mãe de b) Ema Elisa Tessari, nascida em 1950, formada na UCS em Ciências Físicas e Biológicas e Pedagogia, pós-graduada em Métodos e Técnicas de Ensino, professora nos colégios São José, Imigrante, Presidente Vargas e no curso pré-vestibular Cursão. Foi casada com Celso Seidl, nascido em 1948 e falecido em 2004, formado na UCS em Técnicas Contábeis, atuou na área financeira na Cooperativa Madereira Caxiense, na Madereira Nesello e na Best Malhas. Celso veio de uma família com membros destacados, como Hugo, prestigiado funcionário da Metalúrgica Eberle e presidente do Recreio Guarany;1522 1523 Nilse, rainha do Recreio Guarany;1524 Luís, da Diretoria da Festa da Uva;1525 Sérgio, um dos fundadores da Associação dos Comerciantes de Materiais para Construção de Caxias do Sul e Região Nordeste do RS,1526 e Tomás, líder de conhecida banda.1527 Ema e Celso tiveram dois filhos: b1) Maurício Seidl, cirurgião-dentista, com especialização em Dentistica e Ortodontia.

1522

Lopes, Rodrigo. “Eberle: um relógio de ouro no jubileu de prata”. Pioneiro, 17/12/2014 Boletim Eberle; 1957; I (9). Edição Especial “30 Anos de MAESA”. 1524 Peter. “Sociedade”. Caxias Magazine, 03/09/1960 1525 “Definida Comissão Social”. Correio Riograndense, s/d. 1526 Associação dos Comerciantes de Materiais para Construção de Caxias do Sul e Região Nordeste do RS. Diretoria. 1527 Sgarabotto, Ivan. “Programação do Mississippi Delta Blues Festival - Sábado 22/11”. Mais Nova FM, 22/11/2014 1523

445

Alexandre, Cleci, Antonio, Ada, Ema e Maurício. Coleção de Antonio Tessari.

b2) Mauren Seidl, médica formada na UCS, com especialização em Dermatologia pelo Hospital de Clínicas da UFRGS. Atuou como médica contratada da UFRGS e hoje mantém consultório privado em Caxias e é professora da Faculdade de Medicina da UCS. Já participou de mais de 100 congressos, apresentando muitos trabalhos. Foi uma das organizadoras da I Jornada de Dermatologia da Universidade de Caxias do Sul em 2001.1528 É membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica.1529 Recebeu os prêmios Mérito Científico da Sociedade Brasileira de Clínica Médica e o Mérito Docente da UCS.1530 Tem dado uma série de palestras e entrevistas sobre variados aspectos da Dermatologia; muitas dessas palestras tratam de assuntos de interesse popular e são gratuitas ou têm caráter beneficente.1531 1532 1533 1534 1535 1536 1537 1538 1539 1540 Em 2014, quando esperava sua filha Carolina, foi destacada numa matéria da Revista da UNIMED, mostrada a seguir. É casada com Daniel Schamann, médico anestesista.

1528

Plataforma Lattes. Mauren Seidl. Farano, Juliana. “Creme de placenta de ovelha ou muco de caracol: você usaria?”. Ig São Paulo, 16/11/2012 1530 “Medicina: O médico que eu quero ser é tema de semana acadêmica”. Atos e Fatos, Edição nº 910 1531 “Estudantes de medicina participam do Curso de Especialidades Médicas”. Núcleo Acadêmico SIMER, 28/05/2015 1532 “Glamour”. Pioneiro, 09/06/2011 1533 “Paralelas”. Pioneiro, 02/03/2012 1534 “Top 5 mitos de Pele”. Revista O Caxiense, 23/11/2012 1535 “Dermatologista ressalta cuidados para evitar o melasma”. Olá Serra Gaúcha, 28/07/2011 1536 “Palestra gratuita sobre os cuidados com a pele e o cabelo durante a gravidez”. Mamis & Mimos, 29/02/2012 1537 Ucha, Danilo. “O dia”. Jornal do Comércio, 21/09/2011 1538 “Secretaria da Saúde e Hospital Geral promovem capacitação sobre diagnóstico e conduta em lesões de pele”. TV Caxias, 24/08/2015 1539 Rizzi, Sabrina. “Estudo caxiense aponta que a tatuagem de henna pode causar dermatite”. Rede Sul de Rádio, 08/12/2010 1540 “Palestra gratuita sobre cuidados com a pele”. Sincontec Notícias, 27/09/2010 1529

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Mauren, marcada com ponto vermelho, atuando na Campanha Nacional de Prevenção do Câncer de Pele, tema em que ela é especialmente interessada. À direita, Mauren com sua filha Carolina, entre sua avó Ada e sua mãe Ema Elisa. Fotos de Mauren.

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448

Alexandre, Cleci e Antonio Tessari. Foto de Antonio Tessari.

O outro filho de Ada foi c) Antônio Augusto Tessari. Trabalhou como programador e analista de sistemas na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, e analista no Grupo Zivi-Hercules e na Universidade de Caxias do Sul; depois, passou a professor de Computação em ambas as universidades. Como já foi mencionado antes, foi por duas gestões presidente do Trino Polo de Informática de Caxias do Sul, uma grande reunião de cerca de 100 empresas do setor de Informática e Tecnologia da Informação no Município, mais órgãos do governo, entidades de ensino superior e entidades de classe, associação que tem os objetivos auxiliar na consolidação do Parque Tecnológico, ampliar e dinamizar o potencial de TI da região da serra gaúcha, trocar experiências, criar parcerias e oportunidades, e atualizar e capacitar os profissionais para manterem as empresas locais em boas condições num mercado globalizado e competitivo, gerando grande progresso para a região.1541 1542 O Trino Polo foi apresentado como Caso de Sucesso na 6ª Conferência Brasileira de Arranjos Produtivos Locais (APLs), realizada em Brasília em 2013, quando Antônio declarou: “Esta participação é o reconhecimento do trabalho que vem sendo realizado pelo Trino Polo nos seus 11 anos de atuação. O governo do Rio Grande do Sul já havia reconhecido o Trino Polo como o primeiro APL de TI do Estado, e agora o Ministério nos oportuniza este espaço para apresentarmos nosso trabalho para representantes de APLs de todo país”.1543 Também presidiu entre 2011 e 2014 a Associação das empresas filiadas. A partir de 2015 passou a integrar os conselhos Administrativo e Fiscal do Trino Polo.1544 Foi palestrante convidado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

1541

Quadros, Carlos. “Bancada Empresarial: Entrevista Antonio Augusto Tessari”. Canal 4 Digital, 25/09/2014 “PoloSul.org e Trino Polo buscam alinhar ações”. O Nacional, 20/12/2012 1543 “Trino Polo é Caso de Sucesso em evento nacional sobre Arranjos Produtivos Locais”. Olá, Serra Gaúcha!, 27/11/2013 1544 Toazza, Silvana. “Conheça Antonio Augusto Tessari, presidente do Trino Polo de Caxias”. Pioneiro, 22/09/2011 1542

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451 dos 10 O presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços, Carlos Heinen, entrega a Antonio Tessari placa comemorativa anos do Trino Polo. Foto Julio Soares/Objetiva.

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Foi também sócio-diretor da Decisão Organização e Informática e da Decisão Gestão Empresarial, desde 1988 grupo com forte presença na área de Sistemas de Gestão, concentrado no setor metal-mecânico, mas com interesses nos segmentos de plásticos, móveis e indústria do fumo, com clientes na serra, na Grande Porto Alegre, interior do estado, no Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro, incluindo empresas de peso como a Bepo, Metalgusa, Metalúrgica Hassmann, Saccaro e muitas outras, que têm deixado testemunhos da qualidade do seu serviço.1545 1546 1547 1548 1549 1550 1551 Disse, por exemplo, Julio Ricardo Rech, diretor Administrativo-Financeiro da Bepo, conhecida empresa do ramo de componentes automotivos: “Em julho de 1995, a Bepo firmou contrato com a Decisão Informática. Desde então vem trabalhando em parceria, desenvolvendo projetos que culminaram na evolução dos nossos métodos, processos e controles, aliados a um suporte que se mostrou preparado para suprir todas as necessidades, tanto na parte de implementação como elaboração de soluções. Queremos manisfestar nossa satisfação. Agradecendo ao empenho por parte da Direção e seus colaboradores por nos propiciarem eficiência e confiabilidade em seus produtos e serviços". Além de suas atividades empresariais, Antônio tinha como hobby fazer trilhas em jipe e foi presidente do Jeep Clube de Caxias do Sul.1552 Foi casado com Cleci dal Pai, nutricionista, e pai de Alexandre, falecendo em 5 de março de 2016.

Na foto da esquerda, Antônio sendo entrevistado por Carlos Quadros, comemorando os 25 anos da Decisão Informática em reunião almoço na CIC. Foto CQ7.com. Na outra foto, seu filho Alexandre Tessari (à direita), discutindo a regularização dos food trucks com o vereador Gustavo Toigo, que está empenhado no assunto. Foto Fernanda Ramos Paglioli / Câmara de Caxias.

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Merker, Júlia. “Caxias terá evento sobre captação de recursos”. Baguette, 20/08/2014 “9º Meeting de Tecnologia debate inteligência de mercado”. Assessoria de Imprensa da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias, 02/09/2014 1547 “FTSG renova parceria com Trino Polo”. Faculdade de Tecnologia da Serra Gaúcha 1548 Renner, Maurício. “Decisão aposta em ERP para fumageiro”. Baguete, 05/04/2013 1549 Toazza, op. cit. 1550 “Diálogos Aliar: Conectando ideias com Antonio Augusto Tessari”. Aliar Consultorias. 1551 “Decisão Informática comemora 25 anos com novo site e selo de aniversário”. Olá Serra Gaúcha, 25/03/2013 1552 Jeep Clube de Caxias do Sul. Atividades 2001: Diretoria 2001 1546

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Alexandre, à extrema direita, palestrando sobre empreendedorismo e ideias inovadoras na Faculdade de Tecnologia de Bento Gonçalves. Foto Ftec Bento. Abaixo, logotipo do Cartel Andante. Foto de Alexandre.

Alexandre Tessari é graduado em Administração de Empresas com habilitação em Comércio Exterior pela Universidade de Caxias do Sul, com extensão em Business Administration na Universidade de Macau, na China, e tem mestrado em Gestão de Negócios pela Universidade de São Paulo. Foi assistente de exportação da Rent a Brain Consultoria Empresarial, analista de exportação da Randon, sócio e gerente comercial da EcoYou Design Sustentável, sóciofundador e por oito anos gerente-geral da Link Gestão – Negócios Internacionais, e participou da Diretoria da CIC Jovem. Atualmente se dedica à área gastronômica e ao comércio internacional, trabalhando também, através da Aggatour Viagens & Turismo, como guia de turismo de negócios para viagens corporativas, missões empresariais e feiras internacionais, principalmente para países da Ásia. 1553 1554 É um dos fundadores, tesoureiro e presidente da Associação Caxiense de Food Trucks, que reúne empresários de venda de alimentos em veículos especiais que podem atuar em pontos fixos ou itinerar por vários locais e cidades. Alexandre tem o seu negócio próprio, o Cartel Andante, especializado em comida mexicana, e também atende casamentos, formaturas, aniversários e eventos empresariais. Com apenas um ano de atividade, já participou de muitos festivais e feiras e está fazendo sucesso, sendo destacado em matéria do conhecido website de gastronomia Destemperados, que assinalou sua popularidade e lhe fez elogios.1555 Esta atividade é nova na região, ainda está pleiteando sua plena regularização, e Alexandre tem sido um de seus grandes promotores e divulgadores, associando-se a projetos da Faculdade de Tecnologia, da Associação de Produtores dos Vinhos Finos dos Altos Montes e a grandes feiras como a Mercopar e a Plastech Brasil.1556 1557 1558 1559 1560 1561 1553

Mattana, Beta. “Brasil-China”. Olá Serra Gaúcha, 09/04/2012 Alexandre Dal Pai Tessari. Linkedin 1555 Mascarello, Silvia. “Cartel Andante: sabor do México na Serra Gaúcha”. Destemperados, 25/05/2015 1556 “Prefeitura de Caxias do Sul estuda regularização de food trucks”. Rádio Gaúcha, 22/10/2014 1557 “Audiência pública vai debater liberação de locais para atuação de Food Trucks em Caxias do Sul”. Mais Nova, 24/09/2015 1558 Valentini, Camila. “Food truck como empreendedorismo”. Blog FTEC, 03/05/2015 1559 “Mercopar 2015 abre espaço para os food trucks”. De Zotti – Assessoria de Imprensa 1560 “1º Festival de Vinhos e Food Truck da Serra Gaúcha”. Bon Vivant, 03/08/2015 1554

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O truck do Cartel Andante. Foto de Alexandre.

Cleci é filha de Anna Felicetti e Mário Antonio dal Pai. Mário fez notada carreira na Contabilidade, sendo delegado do Conselho Regional da classe, um dos fundadores do Sindicato dos Contadores e Técnicos em Contabilidade de Caxias do Sul e Região Nordeste (Sincontec Serra) e seu primeiro presidente, e um dos fundadores do Sindicato dos Administradores do estado, tendo contribuído para o desenvolvimento e profissionalização dos seus pares. Seu trabalho relevante lhe valeu muitas homenagens, como a Medalha Monumento Nacional ao Imigrante, concedida pelo Município a quem se destaca em sua profissão, e o tornou o patrono oficial dos delegados do Conselho Regional. Recentemente seu nome batizou o auditório da sede do Sincontec Serra.1562 1563 1564 1565

Mário Antonio dal Pai, à esquerda, recebendo do prefeito de Caxias a Medalha Monumento Nacional ao Imigrante. Foto FENACON. 1561

“Plastech Brasil entra na onda dos food trucks”. Plastech Brasil, 06/08/2015 “Sincontec Serra inaugura Auditório Mário Antonio Dal Pai”. Sincontec Serra, 18/12/2012 1563 Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul. Delegados Regionais. 1564 Sindicato dos Administradores no Estado do Rio Grande do Sul. Fundadores. 1565 “Homenagem”. In: Revista Fenacon, 1999; (48):6 1562

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Bruno Tessari pertencia a uma família, como disse o jornal Pioneiro, “que desfruta do mais largo conceito em Caxias do Sul, notabilizando-se em numerosas profissões, participando da vida empresarial, cultural, política, religiosa e social”.1566 O fundador, Egidio Tessari, casado com Catterina Sartori [não aparentada com Salvador Sartori], chegou em 1892, procedente de Schio. Foi agricultor e fabriqueiro da Igreja de São Romédio, e depois passou a trabalhar como construtor, participando das obras da Catedral, da Estação Ferroviária, do Quartel do Exército, do Lanifício São Pedro em Galópolis e da Casa Canônica. Tiveram os filhos Maria, Giuseppe, Antonio (pai de Bruno), Scolastica, Francesco, Pietro, Rosina e Nilla.1567 Giuseppe casou com Josephina Pezzi (Josefina), filha de meus tataravós Pietro Pezzi e Teresa Tomasoni, nascida em 15 de maio de 1884 e hoje nome de rua. Giuseppe seguiu os passos do pai e abriu com os 11 filhos homens (teve mais duas mulheres) uma empresa de construção civil, que ergueu, no todo ou em parte, grandes edifícios na cidade, como os pavilhões da Industrial Madeireira e da Gethal, o Orfanato Santa Teresinha, a torre da Igreja de São Pelegrino, os colégios do Carmo, São José e São Carlos, os hospitais Nossa Senhora de Pompeia e Nossa Senhora da Saúde, as igrejas Nossa Senhora da Saúde na 2ª Légua, Nossa Senhora das Neves na Linha 40, São Caetano na Linha Feijó, e a do Seminário Nossa Senhora Aparecida. 1568 Foi uma família com vários interesses, montaram um coral, um grupo de teatro que também trabalhava com marionetes, e formaram um time de futebol composto todo com os filhos. 1569 O próprio Giuseppe escrevia os textos para o teatro familiar, além de ser também poeta. 1570 Faleceu em 18 de maio de 1956 e hoje é nome de rua (José Tessari). O historiador Mario Gardelin deixou um testemunho sobre a família, por ocasião de uma homenagem que os pioneiros receberam em 1981: “Os homenageados, sábado à noite, em São Romédio, são Giuseppe e Josefina Tessari. Não privei, diretamente, da amizade do venerando casal que tantos filhos e tanta presença teve em nossa história. Confesso, entretanto, que os encontrei muitas vezes em minhas peregrinações pelos documentos. Giuseppe Tessari foi um incansável construtor. Como pedreiro, deixou a marca de sua mão e de seus filhos, que o acompanharam na profissão, em dezenas de prédios, alguns alterosos e com capacidade de longa duração. De ambos, entretanto, através dos filhos ou de amigos, muitas foram as notícias recolhidas. Giuseppe Tessari veio com seus pais de Schio, a cidade vêneta, da província de Vicenza. Aqui, casou-se com Josefina Pezzi, nascida em 1884, de família que madrugou no alvorecer de nossa história. Mãe primorosa, ela foi a encarnação perfeita da pioneira. Incansável no trabalho, era uma cozinheira de mão cheia, qualidade compartilhada também pelo marido, especialista em churrascos e na preparação de rãs, de que os Tessari, segundo soube, eram grandes caçadores. Nas horas que não eram consumidas na profissão de pedreiro, o lavrador acordava em Giuseppe, que se revelava tão dextro na enxada como na trolha. E quando nem uma nem outra profissão permitiam o ganha-pão, lá se ia ele, com alguns dos filhos, à nossa Boca da Serra, Gramado ou Santa Lúcia do Piaí, a recolher a boa erva-mate, que prodigamente nascia pelos matos. Os Tessari conheciam a tarefa desde a compra ou a colheita ao transporte a Caxias e seu preparo num saboro barbaquá. É uma faceta de comerciante e de extrativista que não era comum entre nossos primeiros povoadores.

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“Confraternização da família Tessari”. Pioneiro, 10/09/1981 Tessari, op. cit. 1568 Tessari, op. cit. 1569 Tessari, op. cit. 1570 “Fatos Históricos de hoje, 18 de maio. O dia de hoje, 18 de maio, na história regional”. Ponto Inicial online 1567

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Na fila de trás, da esquerda para a direita, os irmãos Giuseppe, Francesco e Pedro Tessari. Na fila do meio, à esquerda (de preto), o patriarca da família, Egídio Tessari. Ao lado direito, a filha Madalena Tessari e o outro filho, Antônio Tessari, com a esposa Elisa Scopeli. À frente, sentada à esquerda, Rosina Tessari. As outras pessoas da imagem não foram identificadas. Coleção família Tessari.

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“De Josefina, há ainda uma recordação primorosa, que mostra como naqueles anos, embora não houvesse práticas didáticas ou noções pedagógicas, cultivavam-se valores absolutos. À noite, lavados os pratos, ela enfrentava o catecismo, ensinando-o aos filhos ou, então, presidia a oração do terço, uma prática que era comum e muito difundida em nossas famílias. De Giuseppe narra-se o seu gosto pelo teatro. Afirma-se que sabia compor suas peças, ensaiá-las com os filhos e depois apresentá-las, para grande gáudio dos convidados. [...] Os treze filhos cresceram vigorosos e, embora Giuseppe não tivesse estudado latim, sabia que uma mente sã reclama um corpo são. Abriu um campo de futebol em suas terras e os filhos compuseram um time de 11 jogadores. Ficou famoso pela destreza e decisão nas competições. Giuseppe represou o arroio e criou um balneário, que terminou transformando-se no Palermo.[...] “Idoso, cansado, o casal Tessari acertou as contas e distribuiu os bens em vida, desejoso de que a grande e bela família prosseguisse unida. São passados vinte e cinco anos desde que Giuseppe e Josefina adormeceram na paz do Senhor. Hoje, ele é recordado pelo seu espírito empreendedor, personalidade forte, um pioneiro na mais ampla e legítima acepção da palavra, alegre, forte e criativo. Ela, uma senhora franzina, com um coração de rara bondade, infinita dedicação ao trabalho, à família e ao lar. Os filhos, netos e bisnetos voltam a evocar o nome do casal. Longos foram os caminhos trilhados. Dos treze, apenas cinco estarão confraternizando. [...] De longe chegam os aplausos. A Itália, pela voz do embaixador Jacoangeli, do cônsul-geral Nottargiacomo e, de Veneza, Pellizari e Garzia, consignam os seus mais calorosos elogios à memória dos pioneiros. É o aplauso de aquém e de além-mar a quem serviu com seu trabalho a duas pátrias, ambas agradecidas”.1571 Giuseppe e Josephina foram pais de: a) Egidio Tessari II; b) Égide Tessari, casada com João de Bortoli, com cinco filhos; c) Maria Tessari, casada com Adelino Pezzi, pais de cinco filhos que abriram uma grande fábrica de bebidas; d) Pedro, duas vezes tesoureiro da Sociedade Igreja de São Romédio,1572 casado com Marina Boff e pais de cinco filhos; e) Angelo Simão Tessari, solteiro; f) Américo Tessari, fundador do grande Balneário Palermo, clube recreativo e social muito popular entre os anos 60 e 80, casado com Izaltina Hoffmann e pais de quatro filhos; g) Attilio Pedro Tessari, casado com Délia (?) e pais de uma filha; h) Natalino Lourenço Tessari, casado com Gentila (?), pais de sete filhos; i) Waldomiro Tessari, casado com Ester Novello e pais de sete filhos; j) Vittorio Marcos Tessari, casado com Benvinda (?) e pais de três filhos; k) Rosalimbo Tessari, casado com Attilia (?) e pais de seis filhos, sendo lembrados como ativos membros da comunidade e muito prolíficos, deixando, até 1981, 202 descendentes.1573 l) Adelino Tessari, membro da Sociedade Igreja de São Romédio e nome de rua, casado com Estra (depois Ester) Boff, pais de três filhos. Estra foi uma das principais professoras da história de São Romédio, estimada por todos e louvada pela Prefeitura pelo bom desempenho. 1574 Dava aulas de alfabetização, matemática elementar, história, geografia, civismo, higiene, desenho, canto, costura, bordado e catecismo, e nas horas extras organizava grupos de teatro. Morava na Vila Pistola e todos os dias percorria a pé cinco quilômetros para chegar a São Romédio, naquele tempo um caminho ainda pouco transitável, apenas uma picada no meio da mata, onde, segundo Tessari, “ainda se ouviam os uivos do leão baio”. 1571

Gardelin, Mario. “Os Tessari”. Pioneiro, 11/09/1981 Livro de Atas da Associação Igreja de São Romédio. 1573 Tessari, op. cit. 1574 “Portarias de Louvor”. A Época, 28/01/1940 1572

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A Capela de Nossa Senhora das Neves na Linha 40 (foto da Prefeitura) e o tradicional Colégio do Carmo, construídos pela empresa dos Tessari.

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O Balneário Palermo. Foto em Adami (1966).

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O governador José Ivo Sartori, Volnei Sebben e Raul Tessari. Foto Lato Senso Assessoria de Comunicação.

Adelino e Estra foram pais de Raul Tessari, casado com Salete Spiandorello, diretor e conselheiro da Agrale, fortíssima empresa fabricante de tratores, presidente do Conselho Deliberativo da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços, 1575 diretor, secretário e conselheiro de Administração da Marcopolo S.A., outro gigante, “cuja atuação em muito contribuiu para que a companhia atingisse a liderança inconteste no setor em que atua”, conforme consta em ata oficial da empresa; 1576 sendo hoje a maior fabricante nacional de carrocerias de ônibus, com 39,2% de participação no mercado, e uma das mais importantes no mundo.1577 Raul foi recipiente do Troféu O Equilibrista do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças 1578 e do Prêmio de Economista Destaque Especial do Conselho Regional de Economia do Rio Grande do Sul, 1579 sendo também presença assídua nos clubes, tesoureiro do E. C. Juventude,1580 ativo no Lions e presidente dos festejos de 50 anos do clube. 1581 m) João Antônio Tessari, outro filho de Giuseppe e Josephina, nascido em 2 de setembro de 1920, casado com Ana Baratto e pai de seis filhos, foi vereador, sub-prefeito, três vezes presidente da Associação Rural,1582 1583 1584 e hoje é nome de rua. É ele o Tessari historiador de São Romédio, autor de Memórias (1994), que uso extensamente neste estudo.

1575

Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul. Ex-presidentes Conselho Deliberativo Marcopolo S.A. Ata da Assembleia Geral Ordinária, 02/04/2004 1577 Bueno, Eduardo & Taitelbaum, Paula. Indústria de ponta: história da industrialização do Rio Grande do Sul. Buenas Ideias, 2009 1578 Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças. Troféu O Equilibrista 1579 “Corecon entrega prêmios a economistas e jornalistas”. Jornal do Comércio, 13/12/2012 1580 “Nova Diretoria do Esporte Clube Juventude”. A Época, 14/01/1954 1581 Pulita, João. “Social de sexta”. Pioneiro, 17/06/2011 1582 “Inaugurada a Escola Assis Brasil em São Marcos”. A Época, 14/08/1952 1583 “Nova Diretoria da Associação Rural”. A Época, 04/04/1954 1584 “Homenageado o Prefeito em Ana Rech”. A Época, 21/02/1952 1576

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Mário Gardelin deixou um belo testemunho sobre ele, dizendo que em sua atuação pública prestou “magníficos serviços”,1585 e continua: “Foi líder rural, e de pulso e de ação. Foi vereador combativo e extremamente competente. Foi sub-prefeito do 1º Distrito; foi líder católico, de desassombrada fé e coragem. E participou como poucos da vida caxiense. [...] Além de tudo, ele honrou um sobrenome digno, e que identifica uma família, hoje com mais de cinco mil descendentes, que trabalha pelo nosso progresso. [...] Era um excelente ator, que punha em cena, entre outras peças, a de Martino e Mariana, em dialeto mais do que puro, já que os Tessari são vicentinos, naturais de Schio, onde ainda têm remotíssimos parentes. [...] A apresentação era ampliada com canções antigas e letras por ele inventadas. “Elegeu-se e reelegeu-se vereador. Sua missão João Antonio Tessari. Foto em Tessari, op. cit. era a de promover e defender a agricultura e, os lavradores, evidentemente. Foi eleito presidente da Associação Rural. Fê-la uma tribuna, em que não poupava brados e impropérios, se preciso fosse. É claro que estou usando uma expressão forte. Não tinha receios e muito menos se intimidava, fosse quem fosse. Nisto era, sem dúvida, um líder comprovado. E era um tempo em que a cidade de Caxias do Sul assumia os seus lavradores. Os jornais estavam cheios de suas reivindicações e os deputados federais e estaduais, todos, sem exceção, se empenhavam em dar andamento e acompanhar a esse trabalho. Está certo que outros eram os tempos, menor o eleitorado e não havia a segmentação hoje existente, em que os eleitores foram compartimentados e nem todos se sentem, na política, com vocação plena. Reivindicávamos unidos. Respeitadas as particularidades, havia deputados de Caxias e não projeções parciais. Tessari, na sua atuação na Câmara de Vereadores, encarnou, com perfeição, essa filosofia. “Dele, há uma cena que não olvidarei. Foi nomeado sub-prefeito do 1º Distrito. Numa de nossas chuvas torrenciais, uma quadra foi alagada. Tessari foi o primeiro a chegar. Percebeu que, se fosse removida uma barreira, as águas fluiriam livres. Tirou os sapatos, arregaçou as calças, fez vir uma pá, e em poucos minutos os lotes estavam livres. Os proprietários haviam alarmado a cidade, os jornais e a rádio. Cheguei pouco após, em missão informativa. Ainda o vi a dar as últimas pazadas, diante do olhar mirífico dos contribuintes que, de suas janelas, serenos, olhavam esse homem a trabalhar como um mouro. Não o elogiaram nem estranharam. Tessari devolveu a pá. E a passos largos, quase triunfantes, foi para o automóvel preto da Sub-Prefeitura, que o havia trazido. É assim que desejo recordá-lo. É o homem autêntico, que sempre ele foi”. 1586

1585 1586

Gardelin, Mário. “Os Tessari”. Pioneiro, 11/09/1981 Gardelin, Mário. “Apresentação”. In: Tessari, op. cit.

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Em 1981 os Tessari realizaram uma grande festa de reencontro, que foi amplamente noticiada na imprensa e gerou homenagens do embaixador e do cônsul da Itália, do sindaco de Schio e várias outras autoridades.1587 1588 1589 1590 1591 1592

1587

“Confraternização da família Tessari”. Pioneiro, 10/09/1981 “Descendentes de velhos pedreiros confraternizam”. Folha da Tarde, 10/09/1981 1589 “Família Tessari confraterniza”. Correio do Povo, 10/09/1981 1590 Gardelin, Mário. “Os Tessari”. Pioneiro, 11/09/1981 1591 “Família Tessari realizou festa de confraternização”. Jornal do Comércio, 14/09/1981 1592 Tessari, op. cit. 1588

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3) Ilda Artico, nascida em 1908 e falecida com um ano, vitimada pela bronquite e sepultada em 1º de dezembro de 1909.1593 4) Itala Artico, nascida em 6 de fevereiro de 1915 e falecida em 25 de novembro de 1988, permaneceu solteira e foi costureira por toda a vida. Teve uma personalidade jovial, contava histórias engraçadas, tinha uma risada musical, gostava de viajar (fez várias excursões com a família nos anos 80, junto com sua irmã Anéris) e dizia que tinha nascido de um repolho. Muito devota, participava do Apostolado da Oração na Catedral e foi uma das fundadoras e zeladora das Capelinhas Domiciliares,1594 que faz itinerar oratórios portáteis pelas famílias da paróquia, sendo recebidos com as honras de verdadeiras igrejas, ainda que em miniatura. Uma dessas capelas, em madeira entalhada em estilo neogótico, foi oferecida pela Catedral a Itala pelos anos que passou como zeladora, foi conservada pela família e é uma preciosa relíquia da artesania sacra colonial.

Itala Artico

1593 1594

Município de Caxias. Registro de óbitos 1909-1934 Brandalise, op. cit.

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Itala Artico fazendo graça em uma das viagens da família.

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Itala Artico, marcada com ponto amarelo, com o Apostolado da Oração.

5) Anery Artico, mais conhecida como Anéris ou Néi, nascida em 8 de fevereiro de 1922 e falecida em 21 de maio de 1993. A Néi quando jovem foi dotada de grande beleza, depois foi costureira como Itala, e como ela de uma fé ardente, além de ser exímia cozinheira. Morou algum tempo em Antônio Prado e teve uma vida cheia de dificuldades, mas foi também uma figura impagável, dramática, de riso fácil, grande contadora de histórias, sempre carinhosa e generosa para com todos. Itala e Anéris foram as filhas de Ema e Augusto com quem mais convivi, morando no final da vida em um apartamento ao lado do de minha avó Leda, deixando doces lembranças. Os momentos mais memoráveis, contudo, são sua participação nas grandes excursões que fazíamos pelo Brasil nos anos 70 e 80, lotando todo um ônibus com a família, sempre uma empreitada cheia de descobertas e muita diversão, havendo durante os trajetos horários reservados para a contação de piadas e “causos”, e também para a reza do terço, logicamente puxado por Anéris e Ítala.

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A lembrança de Primeira Comunhão de Anéris

Nessas viagens o já mencionado “trauma alimentar” das Artico assumia seus aspectos mais hilariantes, pois elas não viam diferença fundamental entre um restaurante e um supermercado, e de todos os restaurantes onde parávamos, especialmente se era um rodízio, as tias saíam com uma ou mais sacolas repletas de sobras e até pratos feitos. Algumas vezes aquele bando barulhento e escandaloso, que deixava os garçons tão transtornados quanto divertidos, ganhava a simpatia das gerências, que ao fim das refeições mandavam passar uma bandeja de balas e outras guloseimas, da qual por certo esperariam que cada pessoa tirasse apenas uma, mas então era a glória: elas sem a menor cerimônia confiscavam a bandeja e a despejavam inteira em suas sacolas que pareciam sem fundo, acumulando uma quantidade de comida “só para o caso de alguma emergência” que poderia fazer o almoço de um orfanato, e que depois distribuíam para toda a grande sobrinhada que viajava junto, que se regalava com os “lanchinhos“ improvisados. E se depois de dias de intensa atividade a fome batesse no meio da noite era só passar pelos seus assentos e pedir. De suas sacolas mágicas saltava uma coxa de galinha, um sanduíche, um naco de churrasco, uma fatia de pizza, um chocolate ou outro bocado para sossegar os famintos.

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O casamento de Agripino Correa e Anéris Artico.

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As irmãs Artico: Anéris, Mariuccia, Leda, Itala e Ada.

Anéris foi casada com Agripino Perez Correa, que trabalhou como guarda-livros (contabilista), filho de Floriano Correa e Coleta Perez. Com Anéris foi pai de Floriano Augusto. Floriano, advogado, foi professor, titular do Conselho Municipal de Entorpecentes1595 e dedicado ao trabalho social com dependentes químicos. Muito ligado ao Esporte Clube Juventude, foi seu diretor de Propaganda e doou para o acervo do clube uma camiseta usada pelo jogador Everaldo, que depois fez destacada carreira na Seleção Brasileira, recebendo-a diretamente das mãos do ídolo depois de uma vitória do Juventude contra o Farroupilha de Pelotas em 1965.1596 Considerada uma relíquia, a doação deu manchete de página inteira na contracapa do Pioneiro em 29 de maio de 2008 e foi o destaque das comemorações dos 97 anos do Juventude.1597 Floriano foi casado com Eloísa Cislaghi, professora especializada em Folclore, realizando sua pós-graduação na Faculdade Palestrina com uma pesquisa sobre o aproveitamento artesanal de penas de aves.1598 Eloísa foi uma grande companheira e um apoio constante para Floriano, que teve uma vida difícil, mas faleceu precocemente. Floriano a seguiu em 15 de janeiro de 2017 após uma batalha contra o câncer. Floriano Correa

1595

Prefeitura Municipal de Caxias do Sul. Decreto nº 15.041, de 1º de dezembro de 2010 Provin, Fabiano. “A estrela brilhou primeiro no Ju”. In: Revista O Caxiense, 2010, I (29):19 1597 Esporte Clube Juventude. “Incorporação da camisa de Everaldo abre comemorações”. 1598 Correa, Eloisa Cislaghi. O Aproveitamento Artesanal das Penas de Aves. FAMUPA, 1984 1596

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O casamento de Floriano Artico Correa com Eloísa Cislaghi, ladeados por Anéris e Agripino Correa.

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6) Osvaldo II Mario Artico, mais conhecido como Osvaldino, nasceu em 8 de maio de 1913. Estudou no Colégio do Carmo e nas férias trabalhava na pousada e comércio do tio Antonio de Lazzer, entrando em contato com a cultura gauchesca trazida pelos tropeiros que lá pernoitavam, e lendo para eles as notícias do Correio do Povo, já que quase todos eram analfabetos. Em 1929 fez um curso técnico de provador de vinho orientado pelo perito Joaquim Resende, sendo empregado pela Cantina Antunes e servindo ocasionalmente como consultor da Estação Experimental do Estado, a convite do seu diretor Moacir Falcão. No ano seguinte, por conselho da mãe, passou a trabalhar também na Metalúrgica Eberle. Casou-se com Silvia Gedoz em 3 de abril de 1937. Foi Integralista, mas renunciou a esta corrente no Estado Novo. Uma carta aberta que publicou na imprensa é interessante por mostrar algumas de suas ideias políticas e cívicas, e logo será reproduzida. Fez um curso de desenho promovido pelo Grêmio Atlético Eberle,1599 do qual foi bibliotecário, 1600 e tornou-se ourives da Osvaldino Artico Metalúrgica, atuando no setor de gravação de medalhas e placas, escultura e criação de objetos artísticos. Nos anos 40 associou-se às joalheiras Rosinato e Mosele, expondo seus trabalhos em várias Festas da Uva. Foi o criador de uma joia oferecida pelos locais ao presidente da Itália Giovanni Gronchi em 1974, de uma medalha oferecida ao presidente do Brasil Ernesto Geisel em 1975 e da medalha Erico Veríssimo, muito louvada na imprensa. Foi um dos fundadores da Banda Marcial do Colégio do Carmo,1601 jogador de bolão e orador oficial do grupo Bolão Caipora, premiado em competições locais. Sempre ligado à cultura gauchesca que conheceu na infância, foi membro ativo do CTG Rincão da Lealdade, o primeiro Centro de Tradições Gaúchas de Caxias, assessorando seu fundador Joaquim Pedro Lisboa.1602 1603 Faleceu em 30 de junho de 2004, deixando um livro de memórias sobre os Artico que foi fonte valiosa para este estudo.

A Banda Marcial do Carmo. Foto em Adami (1966).

1599

“A 2ª Exposição de Desenhos do G. Atlético Eberle”. A Época, 01/02/1942 “Grêmio Atlético Eberle”. A Época, 04/02/1940 1601 Adami (1966), op. cit. 1602 Artico, op. cit. 1603 Rigon, Roni. “Bodas de Ouro”. Pioneiro, 16/04/2002 1600

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Casamento de Osvaldino Artico e Silvia Gedoz

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Osvaldino e Zila Turra, rainha da Festa da Uva de 1958, diante do estande na Festa em que ele expôs seus trabalhos de ourivesaria.

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Osvaldino entregando ao presidente da República Ernesto Geisel a medalha de ouro Mérito da Tradição Joaquim Pedro Lisboa, criada por ele mesmo, em 14 de fevereiro de 1975. À sua esquerda, ao fundo, de óculos e sorridente, está a sua esposa Silvia, vestida ao caráter do tradicionalismo gauchesco.

A nora de Osvaldino, Maria Ignez Spadari, casada com o filho Luiz Fernando, deixou um interessante relato sobre o sogro e a sogra Silvia: “Vô Osvaldo, assim o chamamos, sempre contava sobre sua vida, contava dos tocos de vela guardados para poder ler quando era pequeno, sempre amou ler. Fã do escritor gaúcho Érico Veríssimo, presenteou a todos seus filhos com a saga O Tempo e o Vento, e também amante da música clássica. Seu escritório era pequeno para abrigar tantos livros e discos. No final da sua vida quase nada enxergava nem ouvia, então para escutar músicas usava fones de ouvido para não atrapalhar devido ao volume alto. [...] Foi ele quem confeccionou, entre outras, a matriz da medalha em honra a Érico Veríssimo. Ele era um artista na ourivesaria (gravação). [...] Tinha paixão pela astronomia e apontava a estrela Dalva para seus filhos e netos, assim como os ensinava a desenhar. Outra paixão foi o tradicionalismo gaúcho, tendo participado do CTG Rincão da Lealdade junto com sua esposa, que era a responsável pela biblioteca daquela sociedade. “Vô Osvaldo aprendeu com sua mãe a fazer bifes à milanesa, sendo seu prazer fazê-los até estar vivo, exatamente como era costume na sua casa materna. Também o vi fazendo massa de tomate e sabia fazer um xarope de guaco inigualável. Quanto a alimentos tinha o maior gosto em comer queijo serrano e de presenteá-los a seus filhos. “Vó Silvia foi professora de Artes na escola fundamental e de Português no segundo grau e uma artista com a pintura em porcelana. Sempre gostou de escrever, relatou muito sobre o que vô Osvaldo contava e sobre sua vida. Sentindo a chegada de sua morte, escreveu frenéticamente até o passar da meia-noite que antecedeu sua morte. Sua maior paixão: seus filhos e netos”. 477

Enquanto acompanhava seu marido no tradicionalismo gauchesco, Silvia também não deixava de lado as tradições de suas origens suíças, sendo membro da Associação Valesana, que preserva a herança cultural dos imigrantes suíços no Brasil.1604 1605 Nascida em Carlos Barbosa em 5 de outubro de 1917, trabalhou na Eberle quando jovem, depois se tormou estimada professora na Escola Normal Duque de Caxias e no tradicional Colégio São Carlos, paraninfando várias formaturas.1606 1607 1608 Era pessoa inteligente, articulada, inquisitiva, ótima contadora de histórias e de grande cultura. Seu passamento em 27 de fevereiro de 2012 foi honrado com um Voto de Pesar da Câmara Municipal.1609

1604

Associação Valesana do Brasil. Ata n°: 04/2013 Associação Valesana do Brasil, op. cit. 1606 “Biblioteca Padre Antonio Vieira”. O Momento, 11/05/1942 1607 “Escola Técnica Comercial”. O Momento, 01/12/1945 1608 Paz, Valéria Alves. História do Colégio São Carlos de Caxias do Sul, Rio Grande do Sul (1936-1971). Dissertação de Mestrado. Universidade de Caxias do Sul, 2013 1609 Câmara de Vereadores de Caxias do Sul. Voto nº VP-88/2012. 1605

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Osvaldino e Silvia tiveram quatro filhos: Doroti, Tadeu, Augusto e Luiz. a) Doroti Maria Artico, nascida em 6 de outubro de 1938, professora, casou em 1963 com Lineo Agostino Chemello, nascido em 22 de novembro de 1934, professor de Física. Ambos são ativos membros da Associação Valesana do Brasil,1610 1611 da qual foram presidentes, sendo Doroti também a secretária por muitos anos. A Associação Valesana tem sócios em várias cidades e sede em Carlos Barbosa. Ao longo da elaboração deste estudo Doroti cedeu-me graciosamente os únicos retratos autênticos que existem dos pioneiros Osvaldo Artico, Magdalena de Nadai, Tomaso Panigas e Giuditta Cecchini, preciosas relíquias familiares, e deixo aqui registrada minha gratidão.

1610 1611

Atas da Associação Suíço-Valesana. Torino-Carlos Barbosa - 06/04/2014 Belmonte, Tom. “A raiz e o orgulho helvético no Rio Grande do Sul”. Swiss Info, 02/05/2012

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Doroti e Lineo marcados com pontos, em foto na matéria da Swissinfo.

O casal Chemello foi destacado em uma matéria do website Swissinfo referente à Associação, intitulada A raiz e o orgulho helvético no Rio Grande do Sul: “Com uma alegre e calorosa racletteessen a reportagem da SwissInfo.ch foi recepcionada em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, na última semana de abril. “O motivo: conhecer um pouco da Associação Valesana do Brasil (AVB) e da Sociedade Filantrópica Suíça do Rio Grande do Sul. A primeira, completa duas décadas em junho próximo e está prestes a adentrar o mundo digital. A co-irmã, com mais de 80 anos de história, vive, em contrapartida, a busca por reestruturação para se manter na ativa. “A entrevista acontece em uma residência do bairro Cidade Baixa, o mais cultural e boêmio da cidade. Os donos da casa, Lineo e Doroti Chemello, não medem sorrisos e são anfitriões orgulhosos da herança helvética. Ele é ex-presidente da AVB. A esposa, atual secretária da entidade. Junto de ambos nos aguardam Maria Elisa Neis, presidente da AVB, Loni Edith Sassen de Araújo, presidente da Sociedade Filantrópica Suíça do RS, e Gernot Haeberlin, cônsul honorário da Helvécia em terras gaúchas. Sotaque suíço-francês na pampa gaúcha “Fundada em 7 de junho de 1992, a Associação Valesana do Brasil foi criada logo após um grupo de gaúchos-suíços visitar por 13 dias o país de Guilherme Tell, quando das comemorações dos 700 anos de fundação da Confederação Helvética. ‘Nos sentimos

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prestigiados na visita, repassamos e recebemos informações sobre nossos ancestrais e decidimos levantar a bandeira suíça em terras gaúchas’, conta Lineo. “Comemorando duas décadas em 6 de junho próximo, a AVB prepara uma grande comemoração que se estenderá por três dias de novembro próximo. O local escolhido é o município de Carlos Barbosa, de pouco mais de 25 mil habitantes e sede da entidade, na serra gaúcha. “A região foi berço, em 1875, do desembarque das primeiras famílias suíças vindas do Cantão de Valais e que tinham como destino a chamada Colônia Santa Maria da Soledade, hoje Carlos Barbosa. ‘O que vale frisar é a grande integração e interação que houve com os italianos e alemães’, assinala Lineo, um estudioso da história suíça no Rio Grande, assinalando que as etnias, literalmente, desbravaram as encostas e vales serranos, no que é hoje considerada a região mais pujante do RS. “Além da sede de Carlos Barbosa, a AVB está distribuída em outras duas coordenações: Caxias do Sul e Porto Alegre. Em todas, cerca de 130 filiados mantém vivos os costumes e a cultura helvética. [...] A expectativa que povoa o imaginário dos gaúchos-suíços é da chegada da representação helvética para os festejos que ocorrerão em novembro. Até o final deste mês a delegação que virá de Valais deve confirmar quem e quantos irão ao Rio Grande do Sul. “Esperamos com carinho por nossos irmãos e vamos recebê-los com entusiasmo”, assegura Maria Elisa. O desafio da reestruturação “Situada em um endereço nobre da capital gaúcha, no bairro Moinhos de Vento, a Sociedade Filantrópica Suíça no Rio Grande do Sul (SFS) foi criada no ano de 1928. Com 84 anos de história, vive há mais de uma década um ostracismo que nem de longe faz lembrar os tempos onde recursos arrecadados em eventos como chás e festas tinham por finalidade entidades beneficentes e assistenciais. “O momento de transição é, em parte, explicado pelo cônsul honorário da Suíça no RS, Gernot Haeberlin. ‘A verdade é que envelhecemos enquanto associação, não conseguimos atrair mais os jovens e pagamos o preço de algumas administrações mal sucedidas’, assinala com transparência. [...] “Até então acompanhando atenta a conversa, a sorridente e espirituosa Doroti Chemello acredita numa resolução coletiva para a questão. ‘Somos todos suíços, sem diferença desta ou daquela entidade. Por isso, podemos construir alternativas juntos. Talvez seja este o nosso maior desafio’, acredita Doroti. “É nesse clima de esperança e de unidade que a entrevista chega ao fim, com a reportagem a SwissInfo.ch sendo convidada para as batatas assadas, queijos, bifes e saladas da racletteessen. Na comunhão da mesa, dos alimentos e do riso enxergamos a irmandade e o orgulho dos descendentes suíços com sua história no Rio Grande do Sul. Orgulho que visibiliza também na bandeira e no mapa helvético que adornam a sala dos Chemello, em perfeita harmonia com o verde-amarelo da bandeira brasileira”.1612

1612

Belmonte, op. cit.

481

Abaixo, Osvaldino Artico entre seus colegas no Colégio do Carmo. Ele está ao centro, com as mãos na cintura. Foto Rodrigo Lopes

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Lineo Chemello e Doroti Artico com os filhos Luiz, André e Alexandre.

Lineo e Doroti são pais de: a1) André Chemello, nascido em 15 de janeiro de 1965, engenheiro mecânico de carreira internacional, especializado em Gestão, atuante em várias grandes empresas, sócio-gerente da ForteFarma, agente de prospecção de mercado nos Estados Unidos para a ACLC Corporation, operador de scanner e plotter grandes formatos na Winter Park Blueprint, responsável pelas vendas e serviços de grandes contas na XEROX – Brasil e foi controlador interno de vendas no mercado nacional para a LUPATECH CORP. – MICROINOX. Atualmente trabalha como engenheiro de Vendas em Colônia, na Alemanha. Tem um lado esportivo, que começou a desenvolver em 1983 participando de trilhas de enduro de regularidade, fazendo depois raids de jipe. Em 1992 percorreu Uruguai, Argetina e Chile, num trajeto de 7.000 km em 15 dias com uma moto Elefantre 30.0. Em 2003 participou com Rhuppert Toledo da Aventura Panamericana, percorrendo as três Américas num jipe Cherokee, saindo da Flórida, nos Estados Unidos, e depois de 45 dias chegando a Ribeirão Preto, Brasil, num total de 17.000 km e 12 países visitados, aventura que teve ampla divulgação. Foi um dos organizadores da expedição Porto Alegre-Ushuaia de Moto,1613 e com a esposa, do campeonato Brasilian Mountainbike Rennen na Alemanha.1614 É casado com Carmen Lucia Franck Sosniski, nascida em 26 de outubro de 1969, que teve formação em ballet clássico e Educação Física, sendo hoje dona de uma academia especializada na técnica de pilates em Colônia (Carmen Lucia Ganzheitliches Training), oferecendo também cursos de yoga e hidroginástica.

1613 1614

Porto Alegre-Ushuaia de Moto. Organizadores. Brasilian Mountainbike Rennen. Organisatoren.

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a2) Luiz Chemello, nascido em 15 de janeiro de 1965, engenheiro, representante exclusivo no Brasil da empresa italiana Brianza Plastica S.p.A., casado com Daniela Jomada Braga, nascida em 21 de julho de 1969, tendo os filhos Maria Eduarda, nascida em 27 de dezembro de 1997 e Eleonora, nascida em 18 de março de 2007.

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a3) Alexandre Chemello, nascido em 8 de setembro de 1967, economista, foi instrutor da empresa de Informática SISNEMA.1615 Hoje é sócio da loja especializada em bicicletas Espaço do Ciclista, em Porto Alegre.1616 Também é adepto de aventuras, iniciando com enduro de moto em Porto Alegre e na região de Caxias do Sul. Participou de várias provas do Campeonato Gaúcho de Raid e tornou-se campeão na categoria estreantes em 2000.1617 Casou-se com Rita Luciane Bortoluzzi da Silva, nascida em 12 de junho de 1970, sendo pais de Andreana, nascida em 30 de julho de 1999.

1615

SISNEMA 25 Anos. Treinamentos oficiais. “Com modelos cada vez mais sofisticados, bicicletas ampliam mercado no país”. Zero Hora, 08/01/2012 1617 Porto Alegre-Ushuaia de Moto. Organizadores. 1616

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André Chemello, Vera Guimarães Artico, Doroti Artico Chemello e Alexandre Chemello. Foto de André, no interior da loja Espaço do Ciclista.

b) Osvaldo Tadeu Artico, nascido em 16 de março de 1946, engenheiro e empresário no ramo da Informática, foi casado com Vera Guimarães, nascida em 20 de dezembro de 1949, professora na Escola Pastor Dohms.1618 Tiveram os filhos: b1) Luciano Artico, nascido em 1º de fevereiro de 1977, médico especialista em Oncomastologia e Ginecologia/Obstetrícia, pós-graduado em Sexualidade Humana, atuante no Ambulatório Central da Universidade de Caxias do Sul, proprietário da clínica Sexuality - Centro de Saúde Sexual, pesquisador com grande bibliografia publicada, vencedor do Segundo Prêmio Saúde Brasil, promovido pela Aguilla Produção e Comunicação, “um concurso nacional para estudantes universitários de Medicina que desenvolvem trabalhos socialmente responsáveis, interagindo com as comunidades”, e do Melhor Tema Livre na categoria Trabalho Original, promovido pelo Hospital Fátima; 1619 é casado com Graziela Rech, nascida em 23 de junho de 1980, médica ginecologista e obstetra, pós-graduada em Sexualidade Humana, médica da Associação Farroupilhense Pró-Saúde como funcionária pública e sócia da clínica Sexuality,1620 sendo pais de Henrique, nascido em 28 de julho de 2012. b2) Patrícia Artico, nascida em 11 de setembro de 1973, jornalista, já trabalhou para o DETRAN e para as lojas Gang e hoje é gerente de Comunicação da agência Press à Porter em São Paulo. É também fotógrafa, com a foto Viva a Vida em 2004 foi a vencedora do II Concurso Nacional de Fotografia, promovido pela Secretaria Nacional Anti-Drogas, recebendo o prêmio no Palácio do Planalto, em Brasília.1621 1618

“Participação em eventos fora da escola”. Blog Dohms, 15/05/2009 CNPq. Currículo Lattes: Luciano Guimarães Artico. 1620 CNPq. Currículo Lattes: Graziela Rech Artico. 1621 “Gaúcha vence prêmio nacional de fotografia”. Coletiva, 21/06/2004 1619

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Osvaldo Tadeu Artico e Vera Guimarães, ladeados pelos filhos Patrícia e Luciano.

488 de Perucas do Patricia Artico apontando para a sua foto premiada, e na foto ao lado, à extrema direita, Luciano Artico, no lançamento do Banco Hospital Nossa Senhora das Graças, para pacientes em tratamento quimioterápico. Foto de Luciano.

Augusto Mario Artico e Ilona Cenatti, com os filhos Bernardo e Bianca. À direita, Bianca Artico com seus chocolates. Foto de Bianca.

c) Augusto Mário Artico, nascido em 4 de junho de 1951, engenheiro eletrônico, radicado em Salvador, outro aficcionado pelas grandes viagens. Fez muitas vezes o trajeto Salvador – Caxias do Sul de moto, foi presidente do Moto Clube da Bahia, organizador de enduro de regularidade e atualmente faz parte do G10, um grupo de motociclistas que viaja constantemente pelas estradas do Nordeste do Brasil.1622 É casado com Ilona Cenatti, nascida em 18 de outubro de 1954, tendo os filhos: c1) Bianca Artico, nascida em 23 de novembro de 1983, gestora de eventos e projetos na empresa Licia Fabio Produções e Eventos, e sócia-proprietária da chocolateria Chocomigas. c2) Bernardo Artico, nascido em 10 de março de 1988, agente administrativo, também adepto do motociclismo. d) Luiz Fernando Artico, nascido em 30 de abril de 1950, empresário e professor de Física no Núcleo Estadual de Educação de Jovens e Adultos. É casado com Maria Ignez Spadari, nascida em 16 de agosto de 1950, licenciada em Ciências e Matemática pela UCS, com especialização em Matemática e Aplicações, já atuou na Escola de 2º Grau Mutirão, no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, foi coordenadora no Centro Integrado de Assistência ao Educando e atualmente é professora titular da Faculdade da Serra Gaúcha.1623

1622 1623

Porto Alegre-Ushuaia de Moto. Organizadores. CNPq. Currículo Lattes: Maria Ignez Spadari Artico.

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Luiz Fernando Artico e Maria Ignez Spadari com os filhos Marina, Fernanda e João.

O casal tem os filhos: d1) Fernanda Artico, nascida em 28 de junho de 1978, dentista especializada em Endodontia, casada com Alberto Sartor Detanico, nascido em 6 de maio de 1978, trabalha na Aquarium Tintas, é membro da comunidade beneficente Anjos da Esperança, dedicada a promover a doação de sangue, órgãos, tecidos e medula, e membro do Capítulo Rosacruz de Caxias, onde ministra palestras, sendo pais de Sofia, nascida em 20 de novembro de 2009, e Antônia, nascida em 2 de outubro de 2011. d2) Marina Artico, nascida em 14 de maio de 1982, médica e pesquisadora com muitos trabalhos publicados, ganhadora do Prêmio Saúde Brasil em 2002, casada com o empresário Pedro Eurico Gazzola Rech, nascido em 14 de setembro de 1982.1624 d3) João Artico, nascido em 3 de setembro de 1980 e falecido jovem em 7 de setembro de 1993.

1624

Pulita, João. “Social de sexta”. Pioneiro, 03/11/2014

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Luiz Fernando Artico e Neide Fabian, vice-diretora do Núcleo Estadual de Educação de Jovens e Adultos, entregando o currículo escolar para a aluna Natiele da Silva. Foto do Núcleo.

Fernanda Artico e Alberto Detanico com suas filhas. Foto de Fernanda. À direita, Pedro Eurico Gazzola Rech e Marina Spadari Artico. Foto Duda Ribeiro / Pioneiro.

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A grande família de Osvaldino Artico e Silvia Gedoz em 1989. Atrás: Alexandre Chemello, Luiz Chemello, Lineo Chemello, Ilona Cenatti Artico, Augusto Mario Artico, Vera Guimarães Artico, Osvaldo Tadeu Artico, Maria Ignez Spadari Artico, Luiz Fernando Artico e André Chemello. Sentados: Doroti Artico Chemello, Silvia Gedoz Artico, Fernanda Spadari Artico, Osvaldino Artico, Bernardo Cenatti Artico, Luciano Guimarães Artico e João Spadari Artico. Atrás destes estão as meninas Marina Spadari Artico, Bianca Cenatti Artico e Patrícia Guimarães Artico. Coleção de Doroti Artico Chemello.

A tradição oral sobre os primeiros Artico já está praticamente perdida, mas uma valiosa síntese foi preservada por Osvaldino em seu livro Recordações da Família Artico, inédito. Mesmo com a decadência financeira de alguns, o prestígio inicial da família sobreviveu, e os grupos com quem se relacionavam eram bem posicionados, incluindo laços de amizade ou parentesco com famílias como os Chittolina, Rovea, Eberle, Rossi, Sartori, Paternoster, Spada, Corsetti, Serafini, Pieruccini, Andreazza, Mosele, Comandulli, Bonalume, Manfro, Gallò, Falcão, Sassi, Rosa, Segalla e muitas outras que se distinguiram na cidade em seus primeiros tempos. 1625 Essas associações deram à família Artico vida nova e maior circulação social, e a terceira e quarta gerações tiveram, como vimos, numerosos membros em posições muito públicas. Os ramos descendentes cresceram muito, se dispersaram e sabe-se pouco deles, mas atualmente o sobrenome ainda floresce em Caxias e outras cidades.

1625

“Agradecimentos”, O Brazil, 02/08/1913

492

Antes de falar da outra filha de Augusto e Ema, Leda, minha avó, merece detalhamento a expressiva tradição de costura, bordado e tecelagem manual que floresceu entre as filhas e netas de Ema Artico, e que se repetiu em outros troncos familiares. Saber costurar, bordar e fazer tricot e crochet era um requisito básico para qualquer moça até os anos 60, fazendo parte tanto da preparação de toda futura dona de casa, estando incluído até no currículo das escolas, como de um folclore artístico de raízes imemoriais, que deu frutos verdadeiramente maravilhosos na região colonial italiana, onde estas artes, ainda que em vias de desaparecimento, sobrevivem em especial na zona rural, mas tenta-se hoje seu resgate em clubes de mães e outros grupos.1626 A importância dessa tradição já foi amplamente reconhecida, sendo um patrimônio cultural característico da região. Cleci Favaro comenta sobre uma das formas de aplicação dessas artes manuais: “No processo de ocupação das chamadas Velhas Colônias italianas do Rio Grande do Sul, os imigrantes construíram um corpo de valores positivos, destinado a servir de suporte emocional e veículo de comunicação externa. Por meio do bordado de imagens e inscrições sobre panos de parede ou panos de cozinha em tecidos rústicos, as mulheres contribuíram para alimentar o sonho de uma vida melhor. Desejo de todos, realização de alguns, as penélopes do século XX deixaram naqueles objetos testemunhos de um modo de fazer, pensar e agir: museus locais e exposições estimulam o resgate de antigas técnicas e temas de bordado; os produtos, comercializados nas feiras e festas regionais, convertem-se em renda para mulheres excluídas, pela idade, do mercado de trabalho formal”.1627 Mais do que estar inserida numa tradição de trabalho doméstico comum a toda a região, a produção das Artico assumiu um novo significado diante de sua transformação em negócio. Ema teve de viajar a Porto Alegre para adquirir sua primeira máquina de costura comercial, onde também aprendeu a operá-la, junto com o filho Osvaldino, ainda um jovem, mas esperto o bastante para a mãe levá-lo junto para aprender também, na verdade, para depois ensiná-la, pois ela temia não dominar tudo com o pouco tempo e recursos de que dispunham para isso, estando nesta época no pior da crise financeira. Sobrevive na família um catálogo autorado por Marli de Gili, dos anos 30 ou 40, Novedades para Bordar Letras y Monogramas, do qual ao lado vai uma página, que pode ter sido seu ou de uma de suas filhas, e que traz uma ampla variedade de modelos para bordados de monogramas e ornamentos, e que é uma evidência da internacionalização do gosto em Caxias, com letras em estilo Déco e ProtoModernista, junto com modelos mais românticos e fantasiosos próprios para peças usadas respectivamente por mulheres e crianças. Nas páginas seguintes são apresentadas várias peças produzidas pela família, mostrando o refinamento e complexidade desta arte onde tantas mulheres caxienses gastaram seus dias, seus olhos e seus dedos. 1626

Luchese, op. cit. Favaro, Cleci Eulalia. “Penélopes do século XX: a cultura popular revisitada”. In: História, Ciências, Saúde Manguinhos, 2010; 17 (3) 1627

493

Grande toalha de crochet criada por Ema Panigas Artico. Uma obra dessas proporções leva muitos meses para ser terminada, mesmo se a pessoa passar apenas fazendo isso, e só quem já tentou esta arte sabe o quanto ela exige de planejamento e cálculo de geometria, 494 atenção, destreza manual, paciência e conhecimento do comportamento e resistência das fibras e fios, sem falarmos no talento puramente estético.

Peças produzidas pelas mulheres da família. A primeira bem acima é provavelmente autorada por Ida Sartori Paternoster, e a outra ao lado é de Beatriz Longhi. No centro, à direita, o floral estilizado é bordado por Leda Artico e sua filha Beatriz; à esquerda, a peça 495 branca oval é recente, uma das últimas feitas por Leda, com um fio finíssimo, e os dragões abaixo são uma fantasia romântica dos anos 60 bordada por Beatriz para seu próprio enxoval.

No alto, detalhe de toalha bordada por Beatriz Longhi. O tecido tem o estampado quadriculado de fábrica, mas toda a496 faixa geométrica branca com margem vermelha é bordado de linha entremeada de trabalho com fita azul. Abaixo, cabides forrados de fita por Itala e Anéris Artico.

Avental bordado por Beatriz Longhi com risco de Itala Artico

497

Acima, grande toalha bordada por Elisabeth Longhi com bela barra de crochet tecida por Leda Artico Longhi, parte de um jogo de mesa com 498 mais doze guardanapos. Abaixo, detalhe de uma toalha de crochet criada por Irma Artico.

499 Acima, grande toalha de crochet criada por Itala Artico. Abaixo, peças bordadas por Elisabeth Longhi.

Faziam encomendas grandes e pequenas, como enxovais para noivas, os quais lembro serem faustosos, ricos em rendas e ornamentos sobre tecidos finos; também confeccionavam cortinas, capas para colchões, colchas, forravam cabides e botões, faziam consertos de roupas e outros serviços do gênero. As peças que sobrevivem em sua maioria foram produzidas para a ornamentação do próprio lar, com exemplos das três gerações nas fotos. Durante muito tempo na região da colônia, em todas as classes sociais, não havia mesinha ou mesona, criadomudo, bandeja, prateleira, aparador ou pedestal de vaso ou estátua, e mesmo encostos e braços de sofás e cadeiras, que não tivesse por cima uma toalha ou guardanapo bordado ou em renda de crochet, filet, frivolité ou outra das muitas técnicas tipicamente cultivadas na região. Nas roupas femininas os ornamentos se repetiam, assim como em lençóis, colchas e toalhas de banho e numa variedade de outros itens de consumo comum, sendo onipresentes. Também da família de Ema vem o melhor testemunho que temos do tempo em que o governo impôs dura repressão à cultura italiana na região, sobrevivendo um salvo-conduto que Ema foi obrigada a obter na polícia para simplesmente poder viajar a São Marcos e visitar sua irmã, que lá residiu uma temporada. Este período coincidiu com aquele em que a família estava tentando se reerguer depois da falência, aumentando sobremaneira as dificuldades. Lembranças dos antigos, não apenas de minha família, falam que houve muitas ações repressoras da polícia, pessoas eram presas, espancadas e intimidadas por cultivarem as tradições ou simplesmente falarem a língua estrangeira, e que adotou-se a prática da “delação premiada”, disseminando uma atmosfera de terror na comunidade, temendo-se que qualquer palavra dita em italiano, mesmo em reuniões de amigos, pudesse ser ouvida por um dos muitos espias oficiais e acabasse resultando em sérios problemas não só para o “criminoso” como para toda a sua família. Alguns estudiosos recentes, citados por O salvo-conduto de Ema. Maestri,1628 consideram essas narrativas um pouco exageradas, considerando que o grande declínio das tradições e do uso da língua que se observou desde então se deveu a uma complexa reunião de motivos, mas o fato é que há múltiplos testemunhos sobre uma grande e sofrida repressão da italianidade no entre-Guerras, como foi observado na Introdução. 1629

1628 1629

Maestri, Mário. A Lei do Silêncio: história e mitos da imigração ítalo-gaúcha. EST Edições online. Ribeiro, op. cit.

500

A contribuição das mulheres da família Artico para o crescimento de Caxias e sua sociedade foi lembrada no livro Nossas Mulheres... que ajudaram a construir Caxias do Sul, de Machado & Aguzzoli, publicado em 2005, e já referido quando falei de Ida Sartori, tendo toda uma seção para Ema e suas cinco filhas, cuja página de abertura está ilustrada ao lado. 7) Noris Leda Artico, nascida em 10 de novembro de 1918 e falecida em 16 de outubro de 2011, ajudou os pais no tempo da crise trabalhando desde pequena como caixa e vendedora nas Casas Pernambucanas, até casar-se com Alcides Longhi em 10 de setembro de 1938, quando passou a se dedicar ao lar. Ela foi tendeira em uma das primeiras Festas da Uva, aparecendo em uma célebre fotografia em que as tendeiras estão de mãos dadas em torno do chafariz da Praça Dante Alighieri, que então jorrava vinho, mostrada abaixo, onde ela aparece indicada pela seta. Tinha habilidades artísticas no crochet, além de ser grande contadora de histórias e cozinheira de mão cheia. Foi autora de receitas que ficaram famosas na família, especialmente seus bifes à milanesa, os pudins de leite e de laranja e os gnocchi.

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Leda com seus patrões na frente das Casas Permambucanas.

Mais que uma avó, Leda foi minha segunda mãe. Passei grande parte de minha infância em sua casa, desde poucos meses depois de nascer, já que meus pais sempre trabalharam o dia todo. Muito devota, com especial apego a Santo Expedito e aos Sagrados Corações de Jesus e Maria, passava horas a rezar o terço e a falar-me sobre os santos da religião católica. Contava também histórias de fadas, príncipes e princesas, que encantavam todos os seus netos. Inventou uma canção de ninar que ela recitava para os netos adaptando a letra à ocasião, que segue abaixo; Dorme, dorme, meu netinho, fecha os olhos e vai sonhar. Dorme, dorme, meu netinho, que a vovó vai descansar. Não tenho sono vozinha, não quero dormir nem sonhar, quero uma história bonita que a vovó vai me contar. Fica quieto meu netinho, que a vovó já não vai descansar, vai uma história bonita para seu netinho contar: 502

Era uma vez, meu encanto, uma linda princesinha que vivia muito triste no palácio da rainha. Todo o dia a princesinha triste ia ao bosque encantado que ficava toda a noite pelo luar iluminado. Um dia a linda princesa pediu à mimosa abelha que lhe fizesse depressa uma casinha vermelha. E a abelha, zunindo e cantando, com suas asas de ouro, fez para a princesinha uma casinha, um tesouro. E a linda princesinha triste, batendo palmas de contente, de triste que antes era tornou-se então sorridente. Mas um dia ao entrar no bosque, viu na casinha vermelha mais que um raio de luz, mais que um zunir de abelhas. Viu um príncipe encantado, com lindos cabelos louros, trazendo ao peito medalhas que bem valem um tesouro. Agora escuta netinho, o que a vovó vai dizer: essa história que estou contando deves tu bem conhecer. A casinha linda do bosque, netinho, é o meu coração, e tu netinho amado é o príncipe da minha afeição.

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A melodia da cantiga com a primeira estrofe. Repete-se em todas as estrofes.

504 Biografia de Santa Inês e livros de orações e novenas gastos e sujos de tanto uso que foram de Ema Artico e Leda Longhi. O primeiro no alto foi impresso em Milão em 1902, a biografia de Santa Inês foi impressa em Turim e data da década de 1910-20. As duas novenas abaixo foram impressas no Brasil na década de 1950.

Noris Leda Artico Longhi

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Também com ela aprendi a cozinhar e fui iniciado na arte do crochet, além de aprender um pouco do italiano em seu dialeto regional. Enquanto sua surdez parcial permitiu, adorava assistir novelas na TV, mas depois isso se tornou difícil, acompanhando apenas as imagens. Mas mantinha-se sempre atualizada lendo o Pioneiro todos os dias, e à medida que envelhecia, passou a iniciar a leitura pelo necrológio, para verificar se suas relações ainda viviam, já que no final da vida pouco saiu de casa. Depois ia para as notícias, lendo o jornal integralmente. A família de Alcides e Leda conheceu um período de prosperidade mas nunca viveu com luxo. Porém, mesmo nas crises econômicas por que passou, nada lhe faltou de essencial, e é significativo que todos os filhos receberam educação nos melhores colégios da cidade, uma das maiores preocupações de Leda, que se impôs a tarefa pessoal de ver todos bem formados. Mas, como se fora alguma maldição atávica, ela também teve de enfrentar o que sua mãe enfrentou, e o que suas avós enfrentaram: ver seu mundo cair, e, assim como elas – e ainda mais notavelmente por ter uma saúde precária, por muitos e Rosário que foi de Augusto Artico e depois de Leda muitos anos foi aflita por úlceras gástricas e crises de Longhi vômitos recorrentes que a deixavam prostrada, desde jovem teve severas limitações auditivas e depois de um atropelamento ficou manca – precisou muitas vezes fazer das tripas coração, revelando uma mulher de extrema garra e objetivos muito claros e pé-no-chão atrás de seu aspecto magriço, miúdo e frágil e sua índole carola, desempenhando um papel fundamental na adaptação da família a um contexto muito mais austero. Alcides, tendo de engolir suas objeções morais ao jogo que não fosse por divertimento, em certa época chegou a trabalhar no cassino do Juventude para poder colocar o pão na mesa, e tinha de dar graças a Deus por ter tido a oportunidade do emprego, a despeito da reputação que já granjeara em toda a cidade. Agora, em retrospecto, chega a surpreender que tenha descido tanto sendo tão conhecido e tão bem relacionado. Sempre foi uma história um pouco obscura, pois ele não tinha o hábito de compartilhar problemas que entendia como seus com a família. A tradição patriarcal italiana, com seu senso de honra e de orgulho viril, impunha fardos que talvez fossem desnecessários, mas eram outros tempos... Seja como for, Leda criou seis filhos nascidos em rápida sucessão com enorme dificuldade, e foi obrigada a entregar Vera para sua mãe criar, ficando lá até os 15 anos, pois ela já não tinha condições de administrar a prole, chegando também uma dose dupla: os gêmeos Villi e Vitor. Este, ao contrário do que foi noticiado, não foi um “robusto pimpolho”, mas nasceu pequeno e com baixíssimo peso, cabendo ao nascer em uma caixa de sapatos, e exigindo, assim, cuidados especiais. Tempos bicudos... Apesar de tudo o que passou, nunca a ouvi reclamar da vida, a não ser de sua surdez, que era o seu “trauma” e a fazia sentirse envergonhada – como se tivesse culpa disso. 506

Bodas de Ouro de Leda e Alcides, com os filhos, genros, noras e netos. De pé estão Aluysio Nonnenmacher e Beatriz Longhi Nonnenmacher, Ricardo Longhi Frantz, Vitor Longhi, Gisele Sebben Longhi, Roberto Longhi, Siloé Hainzenreder Longhi, Tânia Carvalho Longhi, Villi Longhi, Vera Longhi e Murillo Frantz. Sentados: Leonardo Hainzenreder Longhi, Lucas Hainzenreder Longhi, Marcelo Longhi Frantz, Grasiela Sebben Longhi, Alcides Longhi, Leda Artico Longhi, Christian Carvalho Longhi, Karine Carvalho Longhi e Elisabeth Longhi Frantz.

Minhas memórias do convívio com meus avós Artico-Longhi, com quem mais convivi, partem de quando o pior havia passado, mas ainda haveria muitas crises imprevistas, e muitas delas, muito fundas, como ocorre com toda gente, principalmente alguns divórcios na família, que lhes deram grande desgosto. Sempre fiéis aos preceitos da religião e preocupados com a preservação do bom nome da família, além de sofrerem com as dificuldades dos filhos, vinham de uma época em que romper o casamento era um pecado e socialmente o fato determinava grande dose de ostracismo e má fama para os separados. Mas houve também muitos períodos amenos, e são especialmente inolvidáveis os verões na praia de Noiva do Mar, onde Alcides havia construído uma pequena casa, depois de passarmos anos e anos perambulando de praia em praia em casas alugadas, diferentes a cada verão. Ali passou a se reunir toda a família, literalmente empilhada nos poucos quartos que havia, e pela sala, cozinha e a garagem também quando preciso fosse, pois logo apareceram netos e agregados, num ambiente extremamente despojado e em certos aspectos totalmente precário, mas num clima de festividade, descontração e alegria constantes. Em termos de calor humano, realmente nada faltou, e tendo isso, pouco fez falta o resto. Na página seguinte reproduzo uma matéria no Pioneiro tratando dos veraneios dos caxienses nos anos 50, com um depoimento de Silvia Gedoz Artico, que lembra aquele adorável clima de improviso e ao mesmo tempo de celebração com a família, que Alcides e Leda preservaram até o final.

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Transcrevo a seguir partes do depoimento que dei a Vera Longhi e incluído no seu livro sobre a família, e que narra algumas de minhas experiências com eles: “Grandes momentos na ‘vida rural’ no lote da vó eram os domingos de churrasco. Quando o dia era bom, o vô Longhi e os homens da casa acendiam o fogo na velha churrasqueira de tijolos empilhados e assavam um delicioso churrasco, e comíamos todos na mesa entre as árvores, depois ficávamos por lá jogados, conversando e simplesmente gozando as amenidades da vida em família em um ambiente extremamente deleitoso. Se era verão e o povo não se deslocava para a sede campestre do Juventude, geralmente havia depois do almoço o banho de mangueira ou balde, para delírio da criançada, que se esbaldava entre gritos de alegria e correrias pelo gramado. [...] Na parte calçada do lote se fazia de tudo. Era desde quadra esportiva até salão de festa. Jogávamos muita pelada ali, havia em certa época uma tabela de basquete, às vezes estendíamos uma corda à guisa de rede de vôlei, e o chão de pedra era ideal para pular corda e o jogo da bidra. [...]

Um dos churrascos dos Longhi. Em primeiro plano, Milton Frantz, e da esquerda para a direita, Alcides Longhi, Elisabeth Longhi Frantz, Marcelo Frantz, Aluysio Nonnenmacher, Beatriz Longhi Nonnenmacher, Roberto Longhi, Vitor Longhi, Leda Artico Longhi, Gisele Longhi, Vera Longhi, Ivone Marques e eu com minha gata Mica.

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A casa de Alcides e Leda. Abaixo, o antigo serrote de Alcides e a máquina de costura de Leda.

“Fazer um almoço de família sempre foi uma empreitada com clima de festa que movia metade do povo. A outra metade se envolvia com o aspecto social e polemista da reunião. Discutia-se principalmente política, religião e futebol, todos os três pontos que nunca se deve discutir porque nunca se chega a uma conclusão, mas fazia parte do deleite do evento uma acalorada e explosiva e humorística e inconclusiva discussão destes assuntos antes, durante e depois da comilança. O movimento aumentava ainda mais quando se fazia uma comida como gnocchi, tortéi, panqueca, os famosos bifes à milanesa... Preparar a comida, cozinhar, escolher as saladas, colocar a mesa, era um torvelinho excitante de cheiros, cores, gentes, olhares, abraços e beijos, sons, vozes, risadas, que durava horas e nunca vai sair da memória. Clássicos também os dias em que o vô inventava de fazer vitelo. No dia anterior já se começava ‘o agito’, como diz o tio Beto, deixando-o de molho no tempero. No dia seguinte, já de manhã, a fervura da carne, depois o preparo do forno, o assamento, e então o regalo do prato pronto, um dos preferidos da família. Os bifes à milanesa também são lendários. Nunca se provou bifes tão finos, tão sequinhos, tão bem 510

empanados e saborosos como os da vó Leda, sempre com a assessoria da tia Vera, que tem mão cheia na cozinha, sendo especialista nos molhos e massas, e da tia Bea, que gerenciava geralmente a parte instrumental, operacional e higiênica da refeição, pois sempre odiou o fogão. “Eu também, sempre metido na cozinha, ajudava a fazer a comida [...] Quando o negócio era panqueca, então - momento de glória pessoal - eu que pilotava o fogão, pois eu havia aprendido a fritar as panquecas dando o célebre volteio no ar quando tinha de virar a massa para fritar do outro lado. Ninguém me batia na acrobacia com panquecas. [...] “A própria casa era fascinante para uma criança. Havia um misterioso porão, pouco iluminado, escavado na terra nua, onde havia as ferramentas de carpintaria do vô Longhi, martelos, pregos, brocas, serras, e uma grande mesa de madeira rústica com gavetas guardava estes tesouros, alguns talvez herdados de seu pai e avô, que foram carpinteiros. Também havia prateleiras com garrafas e outros objetos irreconhecíveis, mas necessários para o clima de mistério. O tanque de lavar roupa também ficava lá, e logo a seguir uns buracos escuros e quase inacessíveis onde se depositava todo tipo de quinquilharia e objetos fora de uso, como madeiras, ferragens de camas, pedaços de pranchas, etc, em meio a muito pó, terra e... aranhas de todos os tipos! [...] “Depois havia também o sótão, com duas peças principais, uma na frente, onde havia camas para os hóspedes e para a criançada, e outra nos fundos, com a mesa de passar ferro, os armários e a linda máquina de costura da vó. Às vezes eu pedia para ela me ensinar a costurar na máquina. Ela bem que tentou, e até aprendi um pouco, mas nunca consegui ir adiante. [...] Mas o mais aventuresco era se enfiar nas duas águasfurtadas que se localizavam debaixo de onde o telhado se rebaixava, que não tinham iluminação, e onde também se guardavam inúmeros objetos fora de uso, mas mais ‘civilizados’ que aqueles guardados no porão. Hoje, ao lembrar disso tudo, sinto o porão como uma coisa mais primitiva, arcaica, telúrica, racial, uma atmosfera relíquia dos verdadeiros imigrantes do século anterior... ali no meio daquele ferramental tosco e meio enferrujado com muitas décadas de idade mas ainda em uso, muitas das ferramentas feitas pelo próprio vô Longhi, se respirava ainda o ar dos ancestrais remotos da Itália, se sentia um pouco do que deve ter significado colonizar uma floresta virgem... Já o sótão guardava parte da memória de uma célula familiar urbana. Havia baús e caixas com antigas coleções de tampinhas de garrafa, chaveiros, botões de futebol de mesa, que pertenciam aos tios Beto, Vitor e Villi, e remanescentes de brinquedos das tias Bea e Vera, e da mãe Bety, como bonecas de pano, roupas velhas, quinquilharias diversas, todas fascinantes. Eu passava tardes e tardes por ali, perdido no meio das coisas. “Era bacana quando eu e meu irmão Marcelo dormíamos na casa. Geralmente ficávamos nos quartos do andar principal, mas às vezes íamos para o sótão com os primos Tessari ou Baratto... e daí era aquela algazarra, tanta que até os tios Beto e Vitor frequentemente entravam na bagunça, para fazermos brigas de travesseiros, descer as escadas escorregando em colchões ou cobertores como num tobogã, ou inventar qualquer outra estrepulia, e geralmente eles eram os que mais bagunçavam o coreto. E as bagunças com os tios raramente se limitavam ao sótão. O corredor, a sala e os quartos do andar de baixo acabavam sendo invadidos pelo bando em polvorosa. Muito memorável tudo isso”.

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Leda Artico Longhi aos 85 anos

Leda nunca teve boa saúde mas viveu mais de 90 anos, e no final da vida enfrentou com galhardia uma longa e debilitante doença, auxiliada de perto pelas filhas e principalmente por Vera, com quem vivia, mas, paradoxos da vida, quanto mais ia se “desmaterializando”, mais acentuada se tornava sua veia cômica e teatral de impagável contadora de histórias, fazendo às vezes todos rolarem de riso simplesmente com um gesto, uma expressão, um olhar ou poucas palavras. Sempre rodeada de imagens de santos, não perdendo a hora do terço e a missa na TV, em seus últimos anos dizia que às vezes as imagens que mantinha em seu quarto, de onde já raramente saía, pareciam lhe sorrir, o que lhe dava imenso contentamento interior.

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Às vezes também, antes que a doença derradeiramente lhe roubasse parte do entendimento, ela até fazia “profecias” que acabavam se cumprindo. Talvez, sendo tão devota e vivendo uma vida tão sacrificada e de tanta doação de si aos outros, talvez tivesse merecido alguns favorzinhos dos céus, quem sabe?... ou talvez fosse a intuição e a experiência de quem viveu muito e viu muito, aprendendo muito e sabendo como certas coisas sempre acabam. Ela foi destacada no livro de Machado & Aguzzoli, já citado, junto com as mulheres Artico. Todos os seus filhos de uma maneira ou outra se tornaram lideranças respeitadas, e seus netos, embora a maioria ainda jovens, já estão dizendo a quê vieram, e dizendo bem, dando muitos motivos para a família se orgulhar, como logo veremos. Seus filhos são: 1) Vera Mari Longhi, nascida em 8 de novembro de 1944, formou-se como professora de Matemática. Ingressou no magistério estadual em 1966 e deu aulas no Colégio Estadual Mestre Santa Bárbara, em Bento Gonçalves, ao mesmo tempo ensinando no Ginásio Estadual Novo Hamburgo em Caxias.1630 Fez vários cursos de aperfeiçoamento na UCS, na Fundação de Recursos Humanos do Estado, na Faculdade de Educação Campos Salles e participou de simpósios e seminários, habilitando-se para dar aulas até o nível então chamado Científico. Quando foi fundado o Colégio Imigrante, em 1968, tendo à frente Maria de Lourdes Vargas Lunardi, foi convidada para assumir uma Vice-Direção, ocupando-se da parte administrativa da escola, assumindo em 1969.1631 O Imigrante desde logo se definiu como uma escola diferenciada, com ênfase na preparação profissional dos alunos, oferecendo vários cursos técnicos e oficinas, tanto que sua primeira denominação era Ginásio Estadual Orientado para o Trabalho.

Vera Longhi em sua Primeira Comunhão. Abaixo, seu diploma de professora.

1630

Secretaria de Estado dos Negócios da Educação e Cultura. Portaria 17868 – Proc. 85 05/68. Porto Alegre, 17/12/1968. 1631 Secretaria de Educação e Cultura. Apostila 22820. Proc. 11618/69-SEC. Porto Alegre, 19/12/1968

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Marisa Formolo, Vera Longhi, Beatriz Moretto e Dolores Berti

Sua eficiência e amizade foram agradecidas pelo corpo docente com uma placa de prata, mostrada ao lado, e em Sessão Solene da Câmara Municipal, quando o Imigrante foi homenageado pelos seus 40 anos de atividade, foi assinalada sua contribuição nos difíceis primeiros tempos “da história de inovação e de sucesso do educandário”, quando ali trabalhava apenas uma pequena equipe.1632 Depois de quatro anos nesta atividade, quando Maria de Lourdes assumiu a chefia da 4ª Delegacia Regional de Educação, pelo bom trabalho desempenhado no Imigrante Vera foi novamente convidada a assessorá-la, indicada para o cargo de delegada-adjunta,1633 1634 da mesma maneira centrada no trabalho administrativo, e em várias ocasiões representou a Delegacia em cerimônias oficiais. A 4ª Delegacia coordenava a Educação em Caxias e mais oito municípios no entorno. Ao término deste período, sua superiora endereçou-lhe um Ofício de Louvor pela sua “eficiente colaboração emprestada à causa educacional”, e “por ter desempenhado com abnegada dedicação e exemplar dinamismo, não só as tarefas que lhes foram confiadas, mas, também, pela disponibilidade sempre demonstrada”, encerrando com a expressão dos seus “mais reconhecidos agradecimentos”.1635

1632

Câmara de Vereadores de Caxias do Sul. 86ª Sessão Solene da XIV Legislatura, 29/05/2008 Secretaria de Educação e Cultura. Portaria 008759. Porto Alegre, 31/07/1975 1634 Adami, Sonia Regina. “Nós, as Mulheres”. Pioneiro, 11/03/1978 1635 4ª Delegacia de Educação. Of. Circ. 4ªDE / AE / 87-79. Caxias do Sul, 29/08/1979 1633

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Acima, Vera recebendo homenagem de Maria de Lourdes Vargas Lunardi. Abaixo, placa de prata recebida da Associação Rural de São Francisco de Paula pelos relevantes serviços prestados àquele município durante sua passagem pela Delegacia de Educação. À direita, troféu recebido do 3º Grupo de Artilharia Antiaérea de Caxias pela sua constante assistência às atividades educativas promovidas pelo Exército.

Recebeu também Portaria de Louvor do secretário de Estado da Educação e Cultura “pela eficiente colaboração”, “tornando-se por isso merecedora de reconhecimento”.1636 Nesta época começava sua participação ativa na política, ingressando na Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra 1637 e estreitando laços com personalidades políticas de outras regiões do estado e da capital.

1636 1637

Secretaria de Educação e Cultura. Portaria 0000 68. Porto Alegre, 06/03/1979 Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra. Diploma, 16/10/1985

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516

Adami, Sonia Regina. “Nós, as mulheres”. Pioneiro, 11/03/1978

Pioneiro, 07/01/1978

Seu trabalho na 4ª Delegacia de Educação foi notado em outras instâncias, sendo por sua causa convidada a participar da organização da XIV e da XV Festa Nacional da Uva (1978-79 e 1980-81), assumindo na primeira, na gestão de Flávio Ioppi, a Comissão de Hospedagem, recepcionando, acomodando e ciceroneando visitantes ilustres e procurando colocação para visitantes que não encontravam vagas na rede hoteleira local, e na segunda, sob o comando de Flávio Salomoni, a Direção Administrativa, cargo imediatamente abaixo da Presidência, coordenando toda a organização do evento.1638 1639

Vera Longhi dando entrevista diante da réplica da Caxias antiga no parque de exposições da Festa da Uva. Junto com ela estão Vivaldo Vargas de Almeida, secretário municipal do Turismo, e Flávio Salomoni (à direita), presidente da Festa da Uva, todos marcados com pontos. Foto da Festa Nacional da Uva. 1638 1639

Rigon, Roni. “Memória: Festa da Uva homenageia ex-presidentes em 1984”. Pioneiro, 31/10/2013 Adami, Sonia, op. cit.

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A gestão Salomoni introduziu várias outras feiras paralelas à comemoração da tradicional Festa da Uva, entre elas a Feira Nacional de Materiais de Construção (FENAMCO), a MECANOSUL, voltada ao setor metal-mecânico, e a Feira do Gado Leiteiro, todas grandes eventos. Foi também uma gestão que gerou algumas polêmicas. A primeira envolveu o cartaz da Festa, confeccionado por agência de Porto Alegre, o que despertou a irritação das agências locais.1640 Quando o presidente da República, que tradicionalmente abre a Festa, abriu esta, cargo ocupado então por João Batista Figueiredo, este recusou-se a receber os agricultores, reflexo da tensão existente entre o poder público e a classe produtora num período que vinha sendo difícil para os camponeses.

1640

Zottis, Alessandra. “Festa da Uva de Caxias do Sul/RS: A mémoria de uma festa através de seus cartazes”. In: Rosa dos Ventos, 2009; 1 (0)

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Vera não guardou registros de imprensa de suas atividades, porém, uma busca nos jornais digitalizados pelo Arquivo Histórico permitiu recuperar algumas notícias, a fim de tanto documentar quanto fazer honra ao seu monumental trabalho de supervisionar toda a organização de um evento que, na edição de 1981, quando foi diretora Administrativa, chegou à marca de 800 mil visitantes (contabilizados apenas os pagantes nos pavilhões de exposição, o que não representa a totalidade) e se desenvolveu em um sem-número de programações simultâneas, mobilizando virtualmente a cidade inteira,1641 isso sem levarmos em conta todas as outras feiras e atividades que a Festa da Uva como empresa promove ao longo do ano, num trabalho ininterrupto.

1641

“Festa da Uva teve 800 mil visitantes”. Pioneiro, 17/03/1981

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O seu trabalho foi particularmente complexo e desafiador porque na década de 1970 a Festa entrara em um processo de mudança de seu perfil, assumindo um modelo de administração empresarial e deixando em segundo plano os produtos da terra e principalmente a uva, para direcionar-se para as indústrias e o maquinário, uma vez que Caxias já se tornava um dos maiores polos metal-mecânicos do país, mas nessa abertura a novos conceitos e horizontes perdera-se grande parte do apelo comunitário, e é de assinalar que nesta mesma época o controle acionário fora assumido pelo Governo do Estado, ficando Caxias à mercê de decisões muitas vezes alheias aos seus desejos e interesses. Neste período os caxienses passaram a criticar duramente as administrações da Festa, desgostosos com os rumos que sua celebração máxima vinha tomando, e gerou-se uma profunda crise de identidade, pois parecia fazer-se dela uma mercadoria, quando antes era entendida “como uma dádiva”, como referiu Cleodes Ribeiro.1642 Ainda que esse estado de coisas não tenha sido resolvido completamente na gestão Salomoni – e mesmo hoje ainda se debate a que propósito serve a Festa da Uva na contemporaneidade –, a fim de atrair novamente os locais, a uva foi enfatizada e foram desenvolvidos outros projetos paralelos que visavam prestigiar as tradições e as comunidades rurais, bem como envolver os núcleos comunitários urbanos em suas especializações tradicionais. Entre as ações empreendidas neste sentido estavam a criação do Festival da Canção Folclórica e a recuperação da celebração da Sagra, uma festa de colheita ligada à Igreja. 1643 1644 1645 Esse interesse ficou expresso especialmente no corso alegórico, com um roteiro fortemente dedicado ao resgate da História da colonização, como conta o Pioneiro na matéria da página seguinte. As propostas foram bem recebidas, e a XV Festa foi coroada de êxito, recebendo uma visitação inédita, o que fez o presidente Salomoni declarar-se, mesmo antes do encerramento, “realizado e satisfeito”.1646 1642

Ribeiro, op. cit. Simas, Milton. “Festa da Uva”. Sisnema, 03/03/2002 1644 “O sucesso do Festival da Canção Folclórica”. Pioneiro, 14/02/1981 1645 “Sucesso em muitas realizações garante êxito da grande festa”. Pioneiro, 07/02/1981 1646 “Até agora, 350 mil pessoas visitaram o parque”. Pioneiro, 05/03/1981 1643

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Vera (1) ciceroneando o governador do Estado Amaral de Souza (2) e o vice-presidente da República Aureliano Chaves (3) no encerramento da XV Festa da Uva. Foto do Pioneiro, 17/03/1981 521

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Ao terminar sua participação na Festa da Uva, Vera recebeu a Medalha do Cinquentenário e do Centenário pela sua destacada atuação. Em 1982 mudou-se para Porto Alegre a convite de Balthazar de Bem e Canto, secretário de Estado da Agricultura, atuando como assessora especial do Gabinete e intensificando seu envolvimento na política. Na mesma época foi membro do Conselho Estadual de Cultura, assumindo na vaga deixada por Guilhermino César, participando nesta função da avaliação de projetos culturais, das propostas de tombamento de bens patrimoniais e assessorando o Executivo estadual em questões correlatas.1647 1648 1649 Neste ínterim, em 1984 foi homenageada Medalha 50 Anos de Festas da Uva 19311981 e 100 Anos de Exposições Agro- pela Presidência da XVI Festa da Uva pelo notável trabalho Industriais 1881-1981 realizado nas edições anteriores e pela colaboração na presente edição, recebendo um diploma, evento registrado na notícia acima. Permaneceu por algum tempo secretariando João Jardim, o sucessor de Balthazar, e depois voltou a Caxias. Ali assumiu em 1986 a chefia da 4ª Delegacia da Educação. Seu mandato foi breve, mas desenvolveu projetos culturais e educativos em parceria com a UCS e escolas, além do trabalho eminentemente administrativo. Em sua saída em 1987 recebeu Portaria de Louvor do secretário de Estado da Educação e Cultura “pela eficiência e colaboração que sempre demonstrou no desempenho de suas funções, tornando-se digna de reconhecimento pelo muito que dedicou a favor da causa da educação, contribuindo, desta forma, para a concretização dos objetivos desta Pasta”.1650 1647

Estado do Rio Grande do Sul / Secretaria de Educação e Cultura. Proc. 01.653/87-19.00. Porto Alegre, 18/02/1987 1648 Secretaria de Educação e Cultura. Processo 01.653/87-19.00, de 18 de fevereiro de 1987 1649 Conselho Estadual de Cultura. Telegrama ao Governador do Estado. 19/03/1987 1650 Secretaria de Educação e Cultura. Portaria 07969. Porto Alegre, 13/03/1987

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Vera assinando o termo de sua posse como delegada de Educação. À direita está Maria de Lourdes Lunardi, e à esquerda o secretário da Educação e Cultura, Plácido Steffen.

Depois de aposentar-se no funcionalismo público, mas desejando permanecer útil à sociedade, passou a colaborar com a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), sendo sua vice-presidente, 1651 participando nesses anos do processo de restauro do belo prédio histórico do antigo Patronato Agrícola, onde a APAE tem sua sede, e das outras atividades da entidade, que dá assistência educativa, social e médica e preparo profissionalizante a mais de 550 pessoas com necessidades especiais de todas as idades. Também fez expressiva doação para a construção das monumentais portas de bronze da Igreja de São Pelegrino, recebendo um diploma de Legionária Benemérita da Arte, sendo inscrita no Livro de Ouro da paróquia.

1651

Brizolla, Francéli. Políticas Públicas de Inclusão Escolar: negociação sem fim, vol. II. Tese de Doutorado. UFRGS, 2007

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O carnaval do Recreio da Juventude. Vera é a segunda da esquerda para a direita, ladeada pelas amigas Marília Golin e Dunia Thomé. Abaixo, sua primeira viagem à Europa nos anos 60.

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Vera desde jovem revelou personalidade independente, foi da vanguarda da revolução dos costumes nos anos 60, fumou desde cedo, o que era grande transgressão, ficou solteira por opção e fez sua primeira viagem à Europa desacompanhada, o que também uma moça de sua geração não fazia. Não surpreende que ela tenha feito suas melhores amizades num grupo de mulheres de mesmo caráter: extremamente ativas na vida comunitária e com perfis de liderança, a exemplo de Zila Parmeggiani e Ivone Marques, que se relacionaram com homens de maneira efêmera ou apenas socialmente ou só se ligaram tarde na vida, o que parece-me sinalizar os tempos, propondo para as mulheres caxienses, mesmo que ela e seu grupo não fizessem disso uma bandeira – possivelmente nem tendo plena consciência do seu pioneirismo neste aspecto –, a possibilidade de viverem uma vida digna, produtiva e respeitável permanecendo sozinhas e donas de si mesmas, rejeitando o modelo patriarcal, em sua geração ainda uma força poderosa, que determinava para elas o casamento inevitável e a sujeição aos maridos. Pedindo a vênia do leitor para uma alegoria, parece-me ver nela figurado antes o modelo da Palas Atena, inventiva, irredutivelmente livre, intimorata batalhadora que impõe respeito aos homens, uma força civilizadora, promotora da cultura, da educação, da racionalidade, do senso de ordem e de disciplina, e sendo ao mesmo tempo, sem haver nisso contradição, uma protetora da cidadela, do círculo doméstico e das artes tipicamente femininas, pois além das suas atividades públicas e das suas qualidades pessoais já descritas, que se afinam às da deusa grega, Vera foi a grande cuidadora de sua mãe na sua longa doença final, depois de sua morte se tornou o novo polo agregador da família, é cozinheira de mão cheia, preservadora das receitas tradicionais familiares e criadora de outras originais, e é autora, ainda, de um livro de memórias sobre a família Longhi, fonte básica para grande parte do que foi aqui transcrito sobre este tronco e seus associados. Assim, não será por simples acaso que coube a ela herdar a casa de seu pai e alguns objetos que são como que Paládios Ver nota 1652 para nossa família: o Cristo que pertenceu a Ema; a capelinha que Itala recebeu da Catedral, a placa das famílias fundadoras de São Romédio e a chuteira-troféu dos ex-presidentes do Juventude, que foram de Alcides. 1652

O Paládio era uma estátua da deusa Atena preservada em Troia, que a tradição dizia ter caído do céu, sendo venerada como símbolo da força da cidade e da sua invencibilidade. Segundo narra Homero, os deuses só permitiram que Troia caísse para os gregos depois que eles capturaram o Paládio.

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O Cristo de Ema, a capela neogótica de Itala, a placa das famílias fundadoras de São Romédio e o troféu de ex-presidente do Juventude de Alcides, hoje todos em posse de Vera, que herdando também a casa, onde até hoje se realiza a maioria das reuniões familiares, e possuindo todos esses objetos simbólicos, parece ter herdado também o papel de chefe do clã descendente de Alcides e Leda Longhi.

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Beatriz e sua irmã Elisabeth. Ao lado, Beatriz em sua formatura.

2) Beatriz Ignez Longhi, nascida em 10 de julho de 1939, formou-se como professora de Educação Física em Porto Alegre, no curso do IPA. Antes mesmo de formar-se já dava aulas em Caxias no Colégio Abramo Eberle. Atuou por dois anos também em Flores da Cunha, depois deu aulas em vários outros colégios caxienses, como o Penna de Moraes, o São José, o La Salle, o São Rafael e o Cristóvão de Mendoza, este o maior colégio público da cidade, onde chegou a ser vice-diretora na gestão de Karla Michielon, envolvida não só no trabalho administrativo e educacional, mas também na promoção de eventos comunitários, uma vez que durante a sua temporada na Vice-Direção o Colégio comemorou os seus 50 anos de vida, realizando grandes festejos. Sua formação em Educação Física incluiu especialidades desconhecidas na cidade, tendo seus conhecimentos requisitados pela Universidade de Caxias e diversas escolas, dando muitas palestras e cursos para formação de multiplicadores. Ao mesmo tempo, por muitos anos deu aulas de natação no Recreio da Juventude e no Clube Juvenil, onde também ministrou cursos de ginástica.

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Pioneiro, 14/09/1993

Personalidade carismática e uma comunicadora nata, desde a juventude Beatriz teve grande trânsito na sociedade caxiense, e aproveitou-se dessas qualidades para cooptar seus muitos amigos e conhecidos para iniciativas meritórias. Tanto no trabalho social como no educativo, dedicou-se a agregar e estimular grupos, multiplicar saberes e apoiar seus concidadãos de várias maneiras, devolvendo à comunidade os benefícios que recebeu, o que, como declaroume, sempre foi uma de suas metas pessoais mais importantes. Além da docência, devotou sua vida principalmente a duas importantes entidades beneficentes de Caxias: a Liga Feminina de Combate ao Câncer e o Lions Clube São Pelegrino. Foi uma das refundadoras da Liga, quando a entidade, depois de um período de recesso, foi reorganizada e reativada, sendo sua presidente por quatro anos, e ganhando um troféu por torná-la em sua gestão a entidade beneficente mais ativa da cidade.

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São muitos os elogios que já recebeu na imprensa pela sua dedicação à causa, chamando-a de “batalhadora”, “benemérita”, “incansável”, e outros termos semelhantes,1653 1654 1655 1656 1657 como fez o cronista João Pulita, que disse: “Todo dia é hora de louvarmos a sensibilidade e a forma com que Beatriz Nonnenmacher dedica para a Liga Feminina de Combate ao Câncer e ao Lions Clube São Pelegrino. Ela é gente que enobrece o sentido desta palavra”.1658 Também foram muitas as felicitações que ganhou em cartões, cartas e ofícios de entidades, autoridades e indivíduos, preservados em seus álbuns pessoais, reconhecendo e louvando o seu importante trabalho comunitário. A Liga dá assistência, apoio e encaminhamento a pacientes oncológicos, funcionando junto ao Centro de Saúde e em estreita parceria com uma série de patrocinadores privados e públicos. Na gestão de Beatriz foi fundada a Liga Jovem, para concentrar-se no atendimento de crianças. É uma entidade que ganhou o respeito e a estima de toda a comunidade caxiense pelos benefícios que tem produzido para uma grande população necessitada, recebeu um Voto de Congratulações da Câmara em 2004 pelo trabalho desenvolvido, 1659 e em 2007 novamente foi homenageada pelos vereadores no Dia Municipal de Luta contra o Câncer de Mama, recebendo um diploma “em reconhecimento dos relevantes serviços prestados à comunidade”. 1660 Nesta ocasião, a vereadora Ana Corso traçou um breve histórico da entidade e resumiu suas atividades: “Fundada em 4 de maio de 1984, a Liga Feminina de Combate ao Câncer de Caxias do Sul teve como primeira presidente a sra. Maria Tereza Spalding Verdi. Na ocasião, a Liga ficou instalada em uma sala do Centro de Saúde, onde permanece em atividade até os dias atuais. Certamente o trabalho de voluntários e das presidentes fez com que a Liga Feminina de Combate ao Câncer de Caxias do Sul tivesse o seu trabalho reconhecido, crescesse e se multiplicasse. [...]

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Ruzzarin, Camila. “Presidentes da Liga Feminina de Combate ao Câncer de Caxias do Sul”. Tá na Pauta. Laboratório Online de Jornalismo da UCS, 07/03/2004 1654 Pulita, João. “Social”. Pioneiro, 27-28/04/1996 1655 Pulita, João. “Passos”. Pioneiro, 04/06/2002 1656 “Liga Feminina de Combate ao Câncer”. Pioneiro, 21/04/1995 1657 Gargioni, Paulo. “Adido, Adesg e Glamour”. Pioneiro, 07/05/1991 1658 Pulita, João. “Gente é feita para muito brilhar”. Pioneiro, 14/09/1991 1659 Câmara Municipal de Caxias do Sul. 433ª Sessão Ordinária no 4º Período da XIII Legislatura, 04/05/2004 1660 Câmara Municipal de Caxias do Sul. 329ª Sessão Ordinária da XIV Legislatura, 18/07/2007

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“Neste ano de 2007, a Liga Caxiense de Combate ao Câncer de Caxias do Sul é formada por um grupo de 40 voluntárias que atuam na área da prevenção, através de palestras de valorização da vida e de prevenção do câncer, realizadas junto à comunidade, a partir do convite de diversas instituições. “A Liga também presta apoio à comunidade através de dois plantões semanais, os quais são realizados no Hospital Geral, nas segundas e quartas-feiras. Em cada um desses plantões são atendidos, em média, 15 pacientes portadores de câncer, os quais são encaminhados por médicos da rede pública de Saúde. Tais pacientes vêm em busca de autorização para exames que o SUS não fornece, medicamentos, alimentação, transporte para realizar o tratamento fora de Caxias, nos casos em que isso se faz necessário, ou até mesmo passagens urbanas. “São atendidos mais de 400 pacientes cadastrados. Entre estes, aproximadamente 30 são crianças ou adolescentes, os quais recebem acompanhamento regularmente. O auxílio com medicamentos, exames, transporte e alimentação vem totalizando um valor aproximado de R$ 15.000,00 mensais. “A Liga Caxiense de Combate ao Câncer de Caxias do Sul é uma entidade que não possui renda fixa, tampouco recebe verbas provenientes de órgãos públicos. Ela se mantém através da realização de diversos eventos e de ocasionais doações. “A Liga Jovem é um departamento da Liga Caxiense de Combate ao Câncer, composto atualmente por 21 voluntárias. Essas jovens reúnem-se todos os sábados pela manhã e visitam mensalmente as crianças portadoras de câncer. A Liga Jovem também realiza encontros festivos com as crianças e seus respectivos familiares em datas especiais, como Páscoa, Dia das Crianças e Natal. [...] “Certamente o trabalho realizado por estas pessoas que compõem a Liga Feminina e que a idealizam é reconhecido pela comunidade caxiense, que hoje a homenageia reconhecidamente neste dia tão importante de combate ao câncer de mama”. Em 2014, por ocasião do seu 30º aniversário, a Prefeitura prestou-lhe homenagem e a reconheceu como valiosa colaboradora das instituições públicas de saúde. 1661 1662 Apesar da grande cobertura da imprensa para as suas atividades e do reconhecimento dos órgãos oficiais, a Liga ainda não teve o seu caminho reconstituído pelos historiadores da cidade, uma lacuna incompreensível que precisaria ser corrigida, em vista do relevante papel comunitário que a entidade vem desempenhando há décadas.

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“Liga Feminina de Combate ao Câncer de Caxias do Sul é esperança para pessoas em tratamento”. Pioneiro, 07/06/2012 1662 “Liga Feminina de Combate ao Câncer completa 30 anos”. Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Caxias e Assessoria de Imprensa da Câmara Municipal de Caxias do Sul, 23/05/2014

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Beatriz, ao centro, de azul, como presidente da Liga Feminina de Combate ao Câncer, na foto junto com sua Diretoria: Lélia Varaschin, Maria Alberti Cesa, Maria Teresa Verdi, Magda Corsetti, Therezinha Martini, Zila Turra Pieruccini e Délcia Fedumenti. Foto da Liga.

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O evento mais importante dentre os muitos que a Liga promove é a escolha da Glamour Girl, com a qual Beatriz colaborou inúmeras vezes, que agrega grande número de clubes e entidades e reverte em contribuições vultosas para o trabalho social da Liga.

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Troféu recebido por Beatriz como presidente da Liga quando a transformou na entidade beneficente mais ativa da cidade. Ao lado, troféu recebido em homenagem ao seu trabalho na Presidência em 1996-1997, comemorando também os 25 anos de atuação da entidade.

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Ao longo de décadas foi também membro ativo do Lions Clube São Pelegrino, que ajudou a fundar, permanecendo quase invariavelmente nas Diretorias e sendo sua presidente por duas gestões, ao lado do seu finado esposo, Aluysio Edison Nonnenmacher. 1663 Seu clube é tradicional na cidade, e recebeu o reconhecimento da Câmara Municipal em seus 40 anos de existência, homenagem à qual se associaram muitas outras personalidades, como a governadora do Estado Yeda Crusius, o senador Paulo Paim, o deputado federal Ruy Pauletti, o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Alceu Moreira, o prefeito de Caxias, José Ivo Sartori, o reitor da Universidade de Caxias do Sul, professor Isidoro Zorzi, o secretário municipal da Cultura, Antônio Feldmann, o presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul, Milton Corlatti, a presidente do Conselho da Mulher Empresária da CIC, Marta Michelon, entre outras.1664 Um texto da Diretoria de 1992/1993, quando era presidente e se comemorou os 25 anos do clube, retirado d’O Leão Pelegrino, o órgão informativo oficial (Ano XXV, nº 25) ilustra os valores do casal:

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Lions Clube São Pelegrino. Trajetória Fotográfica dos 30 Anos dos Lions Clube Caxias do Sul São Pelegrino, 19681998 1664 Câmara Municipal de Caxias do Sul. 437ª Sessão Ordinária da XIV Legislatura, 27/05/2008

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Lions Clube São Pelegrino. Trajetória Fotográfica dos 30 Anos dos Lions Clube Caxias do Sul São Pelegrino, 1968-1998

O São Pelegrino originou diversos outros clubes, e entre suas incontáveis obras beneficentes se destacam sobremaneira a participação na criação da Fundação Caxias, que centraliza o atendimento aos necessitados da cidade, o apoio permanente à Liga Feminina de Combate ao Câncer,1665 e a criação, em parceria com o Hospital Pompeia, do Banco de Olhos, entidade que tem sido responsável por grande número de doações e transplantes de córneas e outros tratamentos oculares,1666 da qual Beatriz foi uma das fundadoras e uma das principais organizadoras do primeiro evento para coleta de verbas em seu benefício.1667

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Lions Clube São Pelegrino. Memorial do Lions Clube Caxias do Sul São Pelegrino, 1968-1995 Hospital Pompeia. Histórico da Captação de Órgãos e Transplantes no Hospital Pompéia. 1667 “Promoção social beneficente mostrou moda primavera-verão” Jornal de Caxias, 22/09/1979 1666

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Beatriz não é uma só, mas muitas, e expressa com a maior naturalidade suas várias facetas, que vão da mais cândida simplicidade e despojamento da eterna menina dada a travessuras e irreverências até a sofisticação da dama elegante habituada aos grandes salões, mas mantém como traço básico uma exuberância que a torna a force of Nature, como dizem os norteamericanos; leva um espírito de festa aonde quer que vá, atrai todos para o seu redor e tem o dom de dar cor, calor e vida a tudo, e como grande contadora de histórias dramatiza suas narrativas transformando um caso banal em um evento tão memorável quanto impagável. Com ela vivi na infância felizes momentos, tanto nas reuniões na casa dos Longhi em Caxias, no seu apartamento, onde passei muitos fins de semana, na casa da praia e também nos clubes, onde foi professora de natação minha e de meu irmão, e eterna guardiã. Não teve filhos, mas foi uma segunda mãe, assim como Vera, que ficou solteira, para todos os seus sobrinhos e vários agregados, especialmente nos verões, quando a casa em Noiva do Mar ficava lotada da criançada que os pais deixavam lá por meses para Bea e Vera e os avós Longhi cuidarem, de fato ajudando, assim, a criá-los.

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Sua vasta rede de relações, que é realmente vasta, invariavelmente torna o trajeto ao longo da avenida Júlio de Castilhos entre sua casa em São Pelegrino e a de sua irmã Vera na Praça Dante, que poderia ser monótono e feito em vinte minutos, numa revista de duas horas do que tem acontecido na cidade, cumprimentando e sendo cumprimentada por dezenas de pessoas no caminho e parando para conversar um pouco com a maioria delas, ficando informada de tudo o que se passa, o que é impressionante para uma cidade que hoje tem mais de 460 mil habitantes. Na praia fazia o mesmo, conhecendo a maioria dos veranistas. Sempre me espantei com sua capacidade comunicativa e sua memória prodigiosa, sabendo todos os nomes, os nomes dos pais, dos filhos, a história de todos, etc etc etc... Sua sobrinha Grasiela Sebben Longhi tem lembranças das temporadas na praia com as tias e os avós, retiradas do livro de Vera Longhi: “Quando chegavam as férias escolares, íamos todos para a praia, Noiva do Mar. Como meus pais trabalhavam, quem cuidava de mim e da minha irmã era a tia Bea (a mãe da praia). Era uma tarefa muito difícil para a vó ter que distrair toda aquela criançada durante três meses. Mas criatividade e muito amor nunca faltaram para elas. A vó Leda costumava cantar e nos fazer interpretar as músicas dançando. As que nós mais gostávamos eram a da Princesa e a da Margarida. Já a tia Vera gostava de cantar O meu chapéu tem três pontas e algumas músicas em italiano, como Nella cantina. Durante a novela não podíamos fazer barulho, pois o vô Longhi queria assitir TV. Então a tia Bea reunia a turminha, distribuía um pote de margarina vazio para cada um e saíamos para ‘catar brilhantes’ (‘brilhante’ era qualquer pedrinha que brilhasse no chão, e realmente achávamos que tinham algum valor). Lembro-me também que o vô me chamava de Mosquito Elétrico, pois eu não parava quieta. Sempre após o almoço o vô Longhi dava para os netos os ‘perdidos’. Os ‘perdidos’ normalmente eram chocolates Bis, e eram assim chamados porque seriam os chocolates que o Coelhinho da Páscoa perdeu no caminho. E quando dava um ‘perdido’ ele dizia: ‘Feliz Natal e camaféa!’. Ver nota 1668 Até a hora de comer era divertida. Para passar a ‘marmelada vermelha’ (como chamávamos a goiabada) no pão, a vó Leda fingia que o pão era uma casinha e com a goiabada ela ia pintando o ‘telhado’, a ‘porta’, e assim por diante. Sinto-me privilegiada por ter tido uma infância tão boa. Agradeço muito aos meus avós e tios por tudo isso, e pretendo passar toda essa alegria aos meus filhos e sobrinhos”. Seu marido Aluysio Edison Nonnenmacher, com quem casou-se em 1962, era filho de Matilde Rhenz e Antonio Silvestre Nonnenmacher. Antonio, nascido em São Sebastião do Caí em 8 de junho de 1900, em uma família alemã, foi um conhecido dentista de Caxias, vivenciando a fase de transição entre o semi-amadorismo dos práticos e a profissionalização universitária. Sua trajetória foi descrita por Teresinha Tregansin em seu livro O Dente de Ouro, que recuperou a história deste ofício na cidade e região. Antonio fez seu aprendizado como prático em Montenegro, fixando-se em 1928 no distrito caxiense de Santa Lúcia do Piaí, onde constituiu sua família e fez clientela, permanecendo ali até 1936. Como o distrito não oferecia boas possibilidades de educação para os filhos, mudouse para a sede urbana, abrindo um consultório na rua Dr. Montaury, no centro da cidade, depois mudando-se para outro na avenida Júlio de Castilhos.

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“Camaféa”, um neologismo intraduzível, era usado nas mais variadas situações, expresso às vezes como um trovão, que servia para colocar ordem em qualquer bagunça que estivesse acontecendo.

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Aluysio Edison Nonnenmacher e Beatriz Longhi

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Continua Tregansin: “Perspicaz e interessado, viajava com os colegas de profissão, sempre que eram oferecidos cursos de atualização em Porto Alegre. Na década de 1940 frequentou um curso em Montevidéu, onde aprendeu a fazer coroa de jaqueta de acrílico, que era novidade na época. No retorno a Caxias, as primeiras experiências, com este aprendizado, foram efetuadas no amigo alfaiate, Edmundo Fadanelli, que possuía uma sala de trabalho contígua à sua. Em uma oportunidade, confeccionou uma dentadura especial para o cliente Kalil Sehbe. Era uma prótese dotada de molas de ouro presas com parafusos fixados no primeiro molar superior e, no inferior, na mesma altura. Engenhoso, disciplinado, desenvolvia sua atividade sempre vestido com jaleco branco e seu gabinete apresentava-se com asseio e organização. As horas de lazer eram aproveitadas de maneira variada. Apreciava jogar bochas e chegou a ser campeão na década de 1940, no Recreio Guarany. A premiação veio através de um móvel repleto de cristais que fez a alegria de sua esposa. Outro lazer também lhe era muito atraente: a música. [...] “E era na bandinha que animava bailes e festas de igreja, na localidade de Feliz, que Antonio extravasava muita alegria. Tocava, animadamente, pistão e, entre outros músicos, atuava em bandonion seu amigo, o dentista Otmar Rauber. Incontáveis apresentações preencheram seu currículo musical, o que o tornou querido e popular. [...] “Antonio Silvestre Nonnenmacher honrou a sua profissão oferecendo sempre trabalho de qualidade a quem o procurava. O reconhecimento da comunidade veio através da indicação do vereador Dino Périco para que fosse dado o seu nome a uma das ruas da cidade. Na solicitação o vereador assinalou que Antonio Silvestre Nonnenmacher ’foi um dos primeiros dentistas que aqui se estabeleceram, contribuindo grandemente com a sua profissão para o bem da comunidade’.”1669 Além da bocha e da música Antonio tinha outra paixão: o futebol, sendo torcedor entusiasta e colaborador assíduo do grande rival do E. C. Juventude, o Flamengo, chegando a ser seu presidente.1670 Faleceu em 13 de agosto de 1966, deixando a esposa e os filhos Aluysio, casado com Beatriz Longhi; Nair, professora, casada com Aldemor Velho; Suely, professora secundarista, solteira; Olavo, dentista, casado com Luiza Veit, e Edite, casada com Olmiro Ferrucio Faccioni, agricultor que junto com Aluysio participou da revolução agrícola de Santa Bárbara do Sul, depois membro do Lions e secretário municipal dos Transportes;1671 1672 é tio do notório Victor Faccioni, jornalista, economista, advogado e político, Cidadão Emérito de Caxias, um dos fundadores da Universidade de Caxias do Sul, deputado estadual por três mandatos, deputado federal quatro vezes e constituinte, secretário extraordinário de Estado e chefe da Casa Civil do governo Triches, secretário do Interior, Desenvolvimento Regional e Obras Públicas do governo Amaral de Souza, conselheiro de Comércio Exterior da FIERGSCIERGS, entre muitas outras atividades.

1669

Tregansin. Teresinha Isabel Rihl. O Dente de Ouro: dentistas prático-licenciados nas antigas colônias italianas do RS: 1897-1960. E.A., 2000 1670 S. E. R. Caxias. Ex-presidentes. 1671 “O trânsito em Caxias vai ficar como em São Paulo, diz ex-secretário dos Transportes de Caxias”. Pioneiro, 16/12/2011 1672 “Prefeito recebe visita de Olmiro Ferrucio Faccioni”. Assessoria de Imprensa - Prefeitura de Caxias, 17/06/2014

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Matilde e Antônio Nonnenmacher, seu filho Aluysio e sua nora Beatriz Longhi. Coleção de Beatriz.

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O sobrenome Nonnenmacher é antigo, tem registros na Alemanha desde o século XIV, e alguns ramos foram patrícios e armígeros, mas não descobri se são todos consanguíneos. Como não se conhece os ancestrais imediatos de Antonio, fica impossível localizar a origem do seu ramo. No Rio Grande do Sul eles se multiplicaram, e vários chegaram a posições destacadas, como Marisa, uma autoridade na Antropologia, com estudos que se tornaram referência; Adriano, delegado de polícia em São Leopoldo e Ivoti, e seu membro mais notório é a top model de fama internacional Gisele Bündchen, cuja mãe é uma Nonnenmacher.1673 Além de Aluysio podem ser citados em Caxias Maurício Luís, conselheiro do Recreio da Juventude,1674 Raquel, sua sobrinha, oficial de justiça, e Índia, colaboradora voluntária e conhecida palestrante da Delegacia da Mulher.1675 Nascido em 16 de outubro de 1934, logo após prestar o serviço militar, Aluysio iniciou sua vida como triticultor em Santa Bárbara do Sul, junto com seu cunhado Olmiro Faccioni. Depois de alguns anos, voltou a Caxias e formou-se em Economia e Administração de Empresas, ingressou no serviço público estadual e passou a dar aulas de suas especialidades em colégios locais, entre eles o Imigrante, onde fez parte da primeira equipe e chegou a ser secretário, tesoureiro e vice-diretor, e presidente da Comissão de Finanças das obras do novo prédio.1676 Fez um curso de aperfeiçoamento e obteve uma especialização em Geografia e História, também dando aulas dessas matérias. Do Colégio Imigrante recebeu uma medalha de Honra ao Mérito e uma placa de prata, ilustrada abaixo, em “profundo reconhecimento pela inestimável colaboração prestada no período 75-79”, quando o estabelecimento expandia suas instalações e se tornava um colégiomodelo, e foi lembrado na sessão da Câmara que homenageou o Imigrante em seus 40 anos de vida, quando o vereador Francisco Spiandorello se referiu à fundação do educandário como “uma façanha, uma epopéia, na época, porque foi a primeira escola do Rio Grande do Sul orientada para o trabalho. [...] Os professores daquela época se realizaram, foram parâmetros na educação, viveram, amaram aquela escola”.1677

1673

Biografias. Guia da Semana. Boletim Informativo do Recreio da Juventude, 2009 (21) 1675 “IPAM promove palestra sobre Violência contra a Mulher". Assessoria de Comunicação IPAM, 06/08/2007 1676 “O pavilhão que será inaugurado”. Pioneiro, 06/08/1977 1677 Câmara Municipal de Caxias do Sul. 439ª Sessão Ordinária da XIV Legislatura, 29/05/2008 1674

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Acompanhou em pé de igualdade a esposa em suas obras beneficentes, sendo um dos fundadores e ativo membro do Lions São Pelegrino, seu vice-presidente quatro vezes, presidente duas vezes, além de participar de diversas outras gestões como secretário, diretor Social ou tesoureiro. Representou o seu clube em várias convenções leoninas regionais e nacionais. 1678 Como já foi dito e como é sabido de todos em Caxias, o Lions São Pelegrino é clube de grande atividade comunitária, realizando um sem-número de ações beneficentes. Ao longo das gestões de Aluysio na Presidência, podem ser destacadas as campanhas para recolhimento de livros para crianças carentes do Colégio João Triches; para doação de óculos para alunos do MOBRAL; para arrecadação de fundos para a Escola Maternal Metodista, o Círculo Operário, a Fundação Caxias, o MOBRAL, o laboratório do Colégio Imigrante; a doação de materiais escolares para o Colégio Cristóvão de Mendoza; o pagamento de centenas de exames médicos para pessoas carentes; a doação de mantimentos para o Lar da Velhice, de roupas para a Creche Irmã Maria Angélica, de materiais para a Creche Jardelino Ramos e a Escola Teotônio Vilela, de mais de 800 livros técnicos para os cursos profissionalizantes do Colégio Imigrante; a rifa de um automóvel, que beneficiou várias entidades; a fundação da ARATI, entidade de assistência à terceira idade; a doação de livros para a Universidade de Caxias e a Escola Estadual Santa Catarina; o apoio permanente ao Banco de Olhos e à Liga Feminina de Combate 1678

Lions Clube São Pelegrino. Memorial do Lions Clube Caxias do Sul São Pelegrino, 1968-1995

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ao Câncer; a participação nas Campanhas do Agasalho e a construção de um monumento público assinalando a presença do Lions em Caxias. Isso representa apenas diminuta amostra de todas as campanhas em que se engajou como líder de seu clube, naturalmente sempre incentivado e assessorado pela esposa, sem contar a multidão de outras em que foi colaborador. Representou o Lions na Comissão de Cultura da XVII Festa da Uva, na Feira Nacional de Saúde e na Comissão para a Municipalização da Saúde.1679 1680 Além disso, foi conselheiro do Banco de Olhos.1681 Recebeu várias homenagens, troféus, medalhas e placas de seu clube em reconhecimento de sua marcante atuação ao longo de décadas, e foi destacado entre os fundadores vivos na cerimônia da Câmara Municipal que homenageou o São Pelegrino na passagem do seu 40º aniversário.1682

1679

Lions Clube São Pelegrino, op. cit. Lions Clube São Pelegrino. Relatório Anual – Gestão 1992/1993 1681 Lions Clube São Pelegrino. O Leão Pelegrino, 1998/1999; XXXI (31) 1682 Câmara Municipal de Caxias do Sul. 437ª Sessão Ordinária da XIV Legislatura, 27/05/2008 1680

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Homenagem recebida pela sua Presidência do Lions de 1973-1974.

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Na casa de Noiva do Mar, diante de uma das oliveiras que plantou.

Falecido em 1º de outubro de 2013, Aluysio foi figura notável, de hábitos simples, nunca perdeu sua ligação inicial com a terra, e mantinha visões muito pouco ortodoxas sobre o mundo. Era dono de grande senso de humor e proverbial capacidade de engajar os ouvintes em suas histórias, que contava com muita verve. Do pai herdou o amor pela música e pelas bochas, sendo um dos melhores jogadores da cidade, recebendo dezenas de prêmios em competições locais e praianas, incluindo os títulos de campeão SulAmericano, pentacampeão da Liga Caxiense e bicampeão nos Jogos Abertos promovidos pela Prefeitura, além de ganhar muitas outras medalhas de prata e bronze individuais e vários outros importantes troféus com sua equipe da Sociedade Esportiva e Recreativa Medianeira. Pessoa de muitas realizações e obras beneficentes na comunidade e tantos prêmios no esporte, nunca o ouvi se gabar de nenhuma de suas importantes conquistas, as quais a maioria a família sequer conhece, tal sua modéstia. Tocava acordeão e tinha um repertório de valsas, polcas e outras do gênero gauchesco, bem como tirava muitos tangos portenhos. Com ele fiz muitos duetos arranhando um violino nas temporadas na praia de Noiva do Mar, para o divertimento dos parentes e amigos da vizinhança.

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Apenas algumas das dezenas de premiações que ganhou individualmente em campeonatos de bocha. Abaixo, Aluysio, o terceiro da direita para a esquerda, com camisa branca, com seu grupo de bochas e os prêmios que ganharam como equipe.

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556 Meu irmão Marcelo e eu com nossos “pais da praia” Aluysio e Beatriz

Os irmãos Longhi na praia de Santa Teresinha: Elisabeth, Vitor, Beatriz, Roberto, Vera e Villi. Abaixo, Vitor entre seus avós Augusto e Ema Artico.

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Eu e Vitor Longhi em Torres

3) Vitor Augusto Longhi, nascido em 22 de abril de 1947, é meu padrinho de batismo, e foi grande parceiro de brincadeiras na minha infância, comandando com seu irmão Roberto o grande grupo de meus primos em incontáveis aventuras e fuzarcas de todos os tipos. Estudou no Colégio do Carmo, participando de sua Banda Marcial Cinquentenário e formando-se com distinção, recebendo em 1960 um Diploma de Honra pela sua boa conduta, assiduidade e aplicação aos estudos. 1683 Desde a juventude esteve fortemente ligado ao esporte, especialmente o futebol. Jogou na equipe do Carmo, vencendo um campeonato estudantil em 1964. No ano seguinte tornou-se comentarista esportivo da Rádio Difusora, participando da primeira transmissão nacional da rádio, realizada a partir do Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, durante uma partida entre a seleções da Rússia e do Brasil.

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Colégio de Nossa Senhora do Carmo. Diploma de Honra. Caxias do Sul, 12/12/1960

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Vitor, na fila de trás, o terceiro da esquerda para a direita, com o Macan Futebol Clube, campeão municipal de futsal em 1968. Abaixo, Vitor marcado com um ponto amarelo, com o time do Flamengo, campeão municipal de futsal em 1970.

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Nesta época jogava em vários times de futebol, atuando como goleiro: o Noroeste, vencedor em 1965 do campeonato municipal de futsal; o time da Rádio Difusora Caxiense, campeão do Torneio da Amizade de futebol de campo em 1966, o Macan Futebol Clube, campeão municipal de futsal em 1968, e o Grêmio Esportivo Flamengo, campeão municipal de futsal em 1970. Neste ínterim serviu no 3º Grupo de Artilharia Anti-aérea de Caxias, membro do 1º Batalhão de Infantaria, dando baixa como sargento. Com o time do seu batalhão foi vencedor da Taça General Mallé de futebol de campo em 1966. Nos anos 60 anos havia iniciado um namoro com Maria Elisa Sebben, com quem viria a se casar em 1975. Formou-se Técnico em Contabilidade em 1968 na Escola Técnica de Comércio mantida pelo Colégio do Carmo e fez um curso de Engenharia Florestal em Curitiba. Começou trabalhando na Industrial Madeireira, ocupado com reflorestamento na Fazenda Santo Inácio em Bom Jesus. Como seu trabalho como reflorestador não tinha um cronograma muito fixo, ao mesmo tempo ajudou na Lancheria Itamaraty, que seu pai fundara, e tornou-se empresário da noite, abrindo no fim dos anos 60, também com o pai mais Americo Belotto, a boate Barbarella, se bem me lembro, a primeira a ter luz negra em sua pista de dança, fazendo sensação na época. Mas o negócio não durou muito, em virtude da trágica e precoce morte de Belotto. Então decidiu estudar Educação Física na escola superior do Instituto Porto Alegre (IPA), residindo em casa de Vasco Baratto, seu primo, e trabalhando na torrefação de café do tio Orestes Baratto. Durante seu período de estudos, jogou na equipe de futsal do IPA, sendo campeão estadual em 1972, e participou de muitos festivais esportivos em outras modalidades, tanto como desportista quanto na condição de técnico, entre eles os VI Jogos InterMunicipais do Rio Grande do Sul (Cachoeira do Sul, 1972),1684 a Corrida do Fogo Simbólico da Pátria (São Paulo, 1972),1685 os II Jogos Universitários de Estudantes de Educação Física (Santa Cruz do Sul, 1972),1686 e o I Encuentro Internacional de Mini-Basket (Montevidéu, 1973).1687

Vitor no centro da fila de trás, com o time do IPA, campeão estadual em 1972

1684

Secretaria de Educação e Cultura. Diploma. VI Jogos Inter-Municipais do Rio Grande do Sul. Cachoeira do Sul, 29/10/1972 1685 Liga da Defesa Nacional. Diploma. Corrida do Fogo Simbólico da Pátria. São Paulo, 1972 1686 Diretório Acadêmico da Educação Física. II Jogos Universitários de Estudantes de Educação Física. Santa Cruz do Sul, 14/09/1972 1687 Federación Uruguaya de Basketball. Recuerdo. Montevideo, 1973

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Paralelamente, fez cursos de especialização em judô, formando-se Mestre em Defesa Pessoal em 1972,1688 e em basquete, com aproveitamento máximo, graduado em 1973,1689 e colaborou ocasionalmente com o Conselho Municipal de Desportos de Caxias na organização de eventos esportivos.1690 Obteve seu diploma de Licenciado em Educação Física pelo IPA em 7 de dezembro de 1974, passando a lecionar em Caxias, atuando no Colégio Emílio Meyer por muitos anos, e chegando à vice-direção do Colégio Abramo Randon. Ao longo de sua carreira como professor fez vários outros cursos de aperfeiçoamento em basquete, vôlei e judô e em técnicas pedagógicas,1691 1692 1693 1694 1695 coordenou o Curso de Especialização em Arbitragem de Voleibol mantido pela 5ª Coordenadoria regional de Educação, 1696 e assumiu a Divisão de Esportes da 5ª Coordenadoria, organizando inúmeras atividades esportivas e eventos em toda a área de atuação da Coordenadoria, que abrangia muitos municípios na região. Permaneceu no magistério público estadual até os anos 90, mas não chegou a se aposentar, preferindo explorar outras oportunidades, sempre envolvido ao mesmo tempo em várias atividades, embora o esporte tenha permanecido como um interesse central ao longo de toda a sua vida. Ainda nos anos 70 iniciara sua colaboração com o Esporte Clube Juventude, sendo o preparador físico quando o time retornou da fracassada fusão com o Flamengo e iniciou uma fase ascendente. A revista Placar dedicou matéria ao retorno do clube à sua antiga identidade, e sendo entrevistado, Vitor falou sobre as técnicas inovadoras que estava aplicando no condicionamento físico dos atletas, prometendo “muita correria”.1697 O programa teve sucesso e em 1975 o Juventude sagrou-se campeão da Copa Governador do Estado do Rio Grande do Sul, que comemorava os 100 anos da imigração.1698 Neste ano também foi escolhido como o melhor preparador técnico do Brasil pela CBF.

Sua faixa de campeão da Copa Governador

1688

Teresópolis Tênis Clube. Certificado. Porto Alegre, 18/11/1972 Organização de Difusão da Educação Física e dos Esportes. Certificado de Aproveitamento. Porto Alegre, jul/1973 1690 Conselho Municipal de Desportos. Atestado. Caxias do Sul, 14/08/1974 1691 4ª Delegacia de Educação. Atestado. Caxias do Sul, 06/09/1993 1692 Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Certificado. Curso de Especialização em Técnica Desportiva Basquete. Porto Alegre, 19/08/1978 1693 Secretaria da Educação do estado do Rio Grande do Sul. Certificado. Projeto de Melhoria na Qualidade de Ensino de Educação Física no 1º e 2º Graus. Caxias do Sul, 15/08/1992 1694 3º Congresso Brasileiro de Esporte para Todos. Campo Grande, 20/07/1986 1695 Conselho Municipal de Desportos. Certificado. XI Seminário Gaúcho de Esporte. Caxias do Sul, 21/09/1975 1696 5ª Coordenadoria Regional de Educação. Certificado. Caxias do Sul, 21/05/1986 1697 Fonseca, op. cit. 1698 Michielin, op. cit. 1689

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A equipe do E. C. Juventude em 1975. Marcados com pontos estão Alcides Longhi, à esquerda, e Vitor Longhi, à direita. Abaixo, Pastelão, Vitor e o técnico Gainete com as faixas de campeões da Copa Governador.

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Sua atuação foi elogiada na imprensa: “1975. Sem dúvida alguma um ano de extrema benevolência para o esporte de Caxias do Sul. Diversos acontecimentos marcaram indelevelmente a atividade esportiva e consequentemente trouxeram um destaque todo especial para a cidade. Primeiro tivemos o retorno do E. C. Juventude, que na mesma oportunidade dotava a cidade de um majestoso e moderno estádio. Aqui assistimos um autêntico festival de futebol, com as melhores equipes brasileiras. [...] A cidade inteira vibrou, não só com a volta do Ju, como se envaideceu com a maravilha que representa o Alfredo Jaconi. [...] “E agora, no final do ano, a indesmentível e agradável conquista da Copa Governador pelo E. C. Juventude, um justo prêmio à massa verdoenga que via renascer em 75 o seu time do coração. Vencidos os 365 dias de mais um ano – o de 1975 – está-se na difícil tarefa de escolher aquelas figuras que dentro do esporte, no caso o futebol, destacaram-se sobremaneira. [...] Gainete [técnico do Juventude] também brilhou mas apenas em boa parte de 1975. Em compensação ressalta-se, com um destaque todo especial, o seu companheiro de jornada, Vitor Longhi – jovem dinâmico e sobretudo um autêntico profissional. Está recém iniciando e iniciou com o pé direito”.1699 Essa conquista foi especialmente importante porque, somada ao bicampeonato no ano seguinte, e tendo também ganho o título de Campeão do Interior, deu direito ao clube de participar pela primeira vez do campeonato brasileiro na Série A.1700 Nesta mesma época foi fundado o time dos veteranos do Juventude, do qual também fez parte como jogador,1701 e entre 1976 e 1977 foi diretor do Departamento de Esportes do Recreio da Juventude, introduzindo modalidades novas e promovendo vários progressos, como o informativo do clube mostrará logo adiante.

1699

“Marcaram Futebol em 1975”. Pioneiro, 31/12/1975-03/01/1976 Esporte Clube Juventude. Linha do Tempo. 1701 Souza, Luiz Carlos de. “Sêniors do Juventude resgatam a história”. Pioneiro, 25-27/12/1995 1700

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Manteve uma escolinha de basquete que chegou a se apresentar em um grande show esportivo em Porto Alegre, do qual participaram os celebérrimos Harlem Globetrotters dos Estados Unidos, dos quais guardamos fotos autografadas, e por muitos anos deu aulas de natação no Recreio da Juventude e no Clube Juvenil; fui seu aluno em ambas as atividades. Depois abriu uma academia de condicionamento físico e foi personal trainer, sendo um dos primeiros profissionais da cidade neste campo de trabalho.

Foto oficial de Jack Scott, um dos Globetrotters. Seu autógrafo, incluído no canto inferior direito, consta no verso da foto. Abaixo, o casamento de Vitor e Maria Elisa Sebben.

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Foi casado com Maria Elisa Sebben, nascida em 1º de setembro de 1950, que até aposentar-se desenvolveu bela carreira como farmacêutica-bioquímica e chefe do Laboratório Flemming. Além de ser respeitada pela classe médica caxiense, que frequentemente buscava seu conselho nos diagnósticos mais difíceis, levou o laboratório onde trabalhou a ser o preferido do público pela alta qualidade dos serviços oferecidos. Também produziu uma linha de cremes cosméticos e sabonetes com fórmulas que ela mesma desenvolveu. Maria Elisa tem grande inteligência e ideias avançadas, e nas temporadas passadas na praia sempre foi uma grande parceira para conversas sobre ciência, tema que sempre me interessou. É filha de Mario Angelo Sebben e Clarice Peccin (Peccini), conhecidos comerciantes e hoteleiros em Caxias, ele presidente do Sindicato de Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares da Região Uva e Vinho. A família também abriu a Galeteria Peccini, celebrada pelo seu galeto al menarosto, um dos pratos mais tradicionais e apreciados da culinária local, ali assado em uma máquina rotativa inventada pelos proprietários e que depois foi largamente copiada.1702 Rodrigo Lopes enfocou recentemente, em artigo no Pioneiro, a história da família Sebben no Brasil: “A Associação dos Descendentes da Família Sebben promove neste domingo, dia 12, em Garibaldi, a oitava edição de sua confraternização bianual. A programação inicia-se com uma recepção junto à Igreja Nossa Senhora de Caravaggio, às 9h, seguida de missa de ação de graças e almoço comemorativo na sede da entidade. “Mário Guilherme Sebben, um dos organizadores do encontro, fornece alguns detalhes da trajetória dos avós, os imigrantes italianos Mario Giovanni Sebben e Clelia Corso Sebben. Antes de chegarem ao Brasil – já casados, em 1925 –, ambos atuaram na Primeira Guerra Mundial (1914-1918): ele como soldado, ela como enfermeira. “Posteriormente instalado em Farroupilha com os filhos italianos Mario Angelo e Luigi, o casal teve mais dois em solo brasileiro: Nela e Nelson. Na cidade serrana, o patriarca deu início à produção de rodas de carreta, que ajudou-o no sustento da família a partir de 1926. O dote “O documento com o dote da matriarca Clelia Corso incluía, entre outros itens, quatro lençóis de linho, uma cama, uma cômoda sem espelho, duas blusas pretas e dois pares de meia, totalizando cerca de 790 liras, das quais 90 deveriam ser abatidas para as despesas. O casamento com Mario Giovanni Sebben ocorreu em 29 de novembro de 1921”. As origens “Conforme o pesquisador Mauro Bartolomeu Sebben, praticamente todos os Sebben que migraram para o Brasil nas levas de 1875, 1876 e 1925 eram oriundos de Fonzaso. Trata-se de uma pequena comunidade da província de Belluno, ao norte da Itália, com mais de 2.000 anos. Atualmente formada por cerca de 3 mil habitantes, Fonzaso abriga pelo menos 10 ramos distintos da família Sebben.

1702

Peccini, Rosa. História e Cultura da Alimentação: a Galeteria Peccini e o patrimônio histórico de Caxias do Sul (1950-1970). Dissertação de Mestrado. UCS, 2010

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À esquerda, sentado, o patriarca Mario Giovanni Sebben, a esposa Clelia Corso Sebben e o filho Mario Angelo (ao fundo), juntamente com um grupo de funcionários na oficina onde o italiano produzia rodas de carreta entre os anos 1920 e 1930. Abaixo, Mario Giovanni Sebben e o casamento de Mario Angelo Sebben e Clarice Peccin. Coleção família Sebben.

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“A família Sebben, registrada no Bellunese e no Instituto Genealógico Italiano, em Florença, Itália, consta ter origem de Siben, nome de uma antiga cidade sede episcopal da região do Tirol, nas proximidades de Bressanone. Sua origem provém ainda dos nomes Sibíona, Sabiona e Seben. A distinta notoriedade gozada por essa família é comprovada pelo brasão de armas que possui e que era privilégio das famílias de nobreza ou de grande notoriedade”. 1703 Mario e Clarice foram os fundadores do balneário Noiva do Mar, loteando terras que possuíam no litoral norte e onde montaram outro hotel. 1704 Vitor trabalhou por muitos anos com seus sogros como gerente e diretor financeiro do seu grande empreendimento, 1705 sendo da mesma forma um dos fundadores do que hoje é uma aprazível e densamente povoada praia de veraneio. Em função disso, seu pai Alcides construiu uma casa nesta praia, onde convivemos com os Sebben assiduamente em gostosas temporadas. Eles já eram vizinhos de Alcides em Caxias, e desde longa data as famílias eram amigas. A filha Maryland em particular foi uma companheira de brincadeiras em minha infância, e também uma companhia para minha avó Leda, que logo após eu nascer foi atropelada e passou um ano de cama em recuperação. Maryland, que era um pouco mais velha que eu, estava sempre presente ajudando-a a me entreter, já que minha mãe trabalhava fora e me deixava aos cuidados de Leda. Mario e Clarice tiveram seis filhos, a maioria radicados em outros locais, como Mauro e Maryland, empresários nos Estados Unidos e Rio de Janeiro, Marta, que conduz os negócios do falecido pai na praia, e Vera, psicóloga em Porto Alegre e louvada pela destacada atuação em um programa de voluntariado em Trieste, na Itália, onde passou alguns anos alinhada à corrente anti-manicomial, e considerada por Galhano et alii como um dos expoentes da reforma psiquiátrica brasileira,1706 mas Mário Guilherme se destacou em Caxias como grande empresário, fundador e presidente do Grupo Datasys, que engloba as empresas Datasys, de tecnologia e informática voltada para a gestão pública, Apliquim Brasil Recicle, pioneira no Brasil na reciclagem de lâmpadas de mercúrio, com uma rede de filiais, e Dueto.1707 1708 1709 Mário é casado com Isabel Celli, cuja família teve uma conhecida malharia. Seu filho Guilherme (Guila), foi diretor de Projetos e Captação de Recursos da Prefeitura, secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Emprego no governo Sartori, e eleito vereador para o período 2013-2016.1710 1711

1703

Lopes, Rodrigo. “Família Sebben: um encontro de gerações”. Pioneiro, 09/10/2014 “Mário Angelo Sebben”. Informativo do Sindicato de Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares da Região Uva e Vinho, s/d. 1705 Imobiliária Noimar SA. Termo de Posse de Diretor. Caxias do Sul, 20 de janeiro de 1981 1706 Galhano, Henrique et al. “A Histórica Experiência do Voluntariado de Trieste: Venite a vedere!” In: Anais Franca e Franco Basaglia International School, 2014 1707 “Palestra do presidente do grupo Datasys“. FenaInfo Clipping, s/d. 1708 “Apliquim Brasil Recicle estrutura rede nacional para a descontaminação de mercúrio”. Abras Brasil, 24/08/2012 1709 “Palestra: "Lâmpadas Fluorescentes e sua relação com a PNRS (Lei 12.305/10)". Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio, Indústria e Agricultura, ago/2014 1710 Machado, João Henrique. “Guilherme Sebben é o novo secretário de Desenvolvimento Econômico de Caxias”. Pioneiro, 12/01/2009 1711 Câmara de Vereadores de Caxias do Sul. Guilherme Guila Sebben 2013-2016. 1704

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Vitor e Maria Elisa são pais de Gisele e Grasiela. a) Gisele Cristina Longhi, nascida em 22 de abril de 1976, formada em Ciências Contábeis, é produtora de eventos, já tendo assumido grandes responsabilidades como produtoraexecutiva da Câmara Riograndense do Livro, organizando a Feira do Livro de Porto Alegre em várias edições,1712 e vários projetos paralelos da Câmara, alguns por anos sucessivos, como as comemorações do Dia Internacional do Livro, o seminário Repensando a Feira, o seminário Organização de Feiras de Livros, o 1º Salão Internacional do Livro de Porto Alegre, o Encontro de Editores do Mercosul e a Expolivro Zona Norte, e foi parecerista do Ministério da Cultura analisando os projetos que pleiteavam recursos para ações culturais. Participou ainda da produção do The Best Jump, evento esportivo da Sociedade Hípica PortoAlegrense, e da I Bienal do Mercosul. Atualmente está envolvida com o Projeto MudaMundo, que busca “reforçar a importância de trabalhar os temas apresentados nas histórias em sala de aula e comprometer cada educador brasileiro com a transformação social necessária para a construção de um país mais justo”.1713

1712

Sperinde, Angélica. “Câmara Municipal de Porto Alegre deve participar da Feira do Livro 2012”. Assessoria de Imprensa da Câmara Municipal de Porto Alegre, 19/06/2012 1713 MudaMundo. O Projeto.

572

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Tito e Gisele

É casada com João Tito Siliprandi, com quem forma um casal brincalhão, agregador, dinâmico e sempre de alto astral, ele nascido em Porto Alegre em 17 de julho de 1960, corretor de seguros, descendente de imigrantes que se fixaram nos Campos de Cima da Serra, estando, segundo Barbosa, entre as principais famílias pioneiras da colonização italiana naquela região.1714 Deixaram grande descendência, que se espalhou para várias outras cidades e produziu comerciantes e políticos destacados, como Perfetto, bisavô de Tito; Pedro Affonso, seu avô; João, seu tio,1715 1716 1717 e Edi, seu primo, filho de sua tia Ida, radicado em Cascavel, no Paraná, onde foi grande dono de terras, dono da Rádio Cidade e acumulou enorme fortuna. Foi um batalhador pela criação do estado de Iguaçu, que não se concretizou, mas seu trabalho pela região lhe valeu dois mandatos como deputado federal pelo Paraná.1718

1714

Barbosa, Fidélis Dalcin. Imigração Italiana – nº 40. Projeto Passo Fundo, 31/12/1978 “Notícias de Lagoa Vermelha”. A Federação, 18/08/1926 1716 “Assassinato”. A Federação, 23/06/1923 1717 “Vacaria, num invulgar entusiasmo cívico, movimenta-se para o pleito de 3 de maio próximo”. A Federação, 26/04/1933 1718 Lopes, Sérgio. "Raízes do Movimento Pró-Criação do Estado do Iguaçu". In: III Seminário do Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Cascavel, UNIOeste, 18-22/10/2004 1715

574

Acima, João Tito, Gabriela, Gisele e João Vitor. Abaixo, Gisele é a segunda da direita para a esquerda, no II Seminário MudaMundo. Foto Antonio Lovato.

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A família de João Tito. Da esquerda para a direita, o irmão Vitor Afonso, João Tito, a irmã Maria, a mãe Maria Thereza, a irmã Emma e o pai Alceu. Foto da família Siliprandi.

Na Itália os Siliprandi têm registros pelo menos desde o século XV,1719 deram vários ramos ilustres, alguns foram aristocratas e tiveram palácios em Craviana e Mântua.1720 1721 Os pais de Tito foram Maria Thereza Schenini Cademartori, professora, cujo ancestral veio da Itália para lutar ao lado de Garibaldi, e Alceu Siliprandi, representante comercial. Casaram em Itaqui e depois se radicaram em Porto Alegre, onde tiveram, além de João Tito, os filhos Vitor Afonso, comerciante, casado com Beatriz Paz Dellamora; Maria, médica neurologista, casada com Bruno Kuwer, e Emma, casada com Vicente de Azevedo Marques. Emma, socióloga, engenheira agrônoma e Doutora em Desenvolvimento Sustentável, ganhou grande projeção, sendo membro do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional,1722 consultora da FAO e do PNUD e coordenadora de projetos desses organismos, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação da UNICAMP, e participa de várias associações e redes internacionais e nacionais sobre agricultura, alimentação, agroecologia, gênero e políticas públicas, com ênfase na organização das mulheres rurais.1723 Tito e Gisele são pais de João Vitor, nascido em 13 de novembro de 2006, e Gabriela, nascida em 8 de julho de 2008, e estão radicados em Porto Alegre. Tito teve outros filhos antes de se unir a Gisele: Marcelo, com Lis Rosany Scherer, e Vinicius, com Thais Pinheiro Lippo.

1719

Canova, Andrea. “Paul Butzbach e Domenico Siliprandi in due nuovi documenti Mantovani (1476-1477)”. In: Forner, Fabio; Monti, Carla Maria & Schmidt, Paul Gerhard (eds.). Margarita amicorum: studi di cultura europea per Agostino Sottili, Volume 1. Vita e Pensiero, 2005 1720 “Villa Mirra e Castello per la XX Giornata FAI di Primavera”. Notizie Comuni-Italiani 1721 Le Residenze di Mantova. Palazzo Siliprandi - La Storia 1722 Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Ata da VIII Reunião Plenária, 23/02/2013 1723 Grupo de Pesquisa em Mudanças Climáticas – UNICAMP. Emma Cademartori Siliprandi.

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Cícero, Vitória recém nascida e Grasiela. Foto de Grasiela.

b) Grasiela Sabrina Longhi, nascida em13 de outubro de 1979, cirurgiã-dentista e Doutora em Endodontia, coordenadora do Programa Sorrindo para o Futuro, mantido pelo município de Sinimbu em parceira com o SESC; é pesquisadora e tem trabalhos publicados. É casada com Cícero Gründling, nascido em 21 de setembro de 1977, cirurgião-dentista e Especialista em Prótese Dentária e em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, pesquisador com muitos trabalhos publicados, e presidente da regional de Santa Cruz do Sul da Associação Brasileira de Odontologia. Estão radicados em Santa Cruz do Sul, onde a família Gründling é conhecida de longa data, e mesmo jovens já estão bem inseridos na comunidade, já tendo aparecido nas crônicas sociais.1724 1725 1726 1727 1728 1729 No entanto, são pessoas simples e amistosas, com um grande bom humor, muito dedicadas ao trabalho. São pais de Vitória, nascida em 23 de dezembro de 2014.

1724

“Sorrindo para o Futuro: Programa mostra avanços nas escolas do município”. Assessoria de Imprensa Prefeitura de Sinimbu 1725 Plataforma Lattes. Grasiela Sabrina Longhi Gründling. 1726 “Programa de saúde bucal alcança resultados positivos”. Assessoria de Imprensa - Prefeitura de Sinimbu, s/d 1727 “Acontecendo: na maior descontração”. Gazeta do Sul, 28/10/2009 1728 “Borbulhantes: a noite só delas”. Gazeta do Sul, 21/06/2005 1729 “Acontecendo: as coisas boas da vida”. Gazeta do Sul, 20/08/2005

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578

Gazeta do Sul, 02/09/2011.

Cícero é filho de Raul Gründling, cirurgião-dentista, e Rejane Lima, professora. São conhecidos membros da comunidade, citados várias vezes nas colunas sociais.1730 1731 1732 1733 1734 Tem o irmão Cesar Augusto, cirurgião-dentista, casado com Roberta Gerhardt, arquiteta, pais de Eduarda. Seus avós maternos foram Francisco Mendes Lima, taxista, e Iracema Fontoura, professora. Do lado paterno é neto de Otmar Gründling, empresário, dono de uma fábrica de latas e uma fábrica de café, e Hildegardis Josefa Etges, professora. Entre os Gründling de Santa Cruz podem ser destacados Ernesto, capitão; 1735 Roberto, político e nome de rua; Alberto e Alfredo, nomes de rua; Edgar, diretor da conhecida fábrica de bebidas Polar, antiga Cervejaria Estrela; Edmundo, também do ramo de bebidas com a Fábrica Celina, que lançou várias marcas e foi destacada no àlbum do Centenário de Rio Pardinho, e Elemar, pioneiro da radiofonia local,1736 prefeito, um dos idealizadores e realizador da primeira Oktoberfest, e primeiro presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas,1737 entre muitos outros.

Ana e Vitor.

Tendo ambos gênios fortes e personalidades independentes, Vitor e Maria Elisa acabaram se separando. Depois Vitor se uniu a Ana Jocélia Ferreto, mãe de duas filhas de um casamento anterior, Alethea e Ariane.

1730

“Bom dia”. Gazeta do Sul, 07/11/2014 “No meio da multidão”. Gazeta do Sul, 26/02/2008 1732 “Planeta Alegria”. Gazeta do Sul, 11/10/2010 1733 “A chegada de 2010 - I”. Gazeta do Sul, 02/01/2010 1734 “Debs: brilhantes como sempre”. Gazeta do Sul, 20/09/2008 1735 “Santa Cruz”. A Federação, 25/07/1902 1736 Ferraretto, Luiz Artur. “Os 60 anos das Emissoras Reunidas, de Arnaldo Ballvé”. In: Uma História do Rádio no Rio Grande do Sul, 2006 1737 Câmara de Dirigentes Lojistas de Santa Cruz do Sul. Histórico. 1731

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Ana foi grande parceira para festas e boas conversas, e tinha habilidades artísticas, produzindo belas flores e arranjos com cascas de árvores, fibras e outros materiais. Ficaram juntos por cerca de vinte anos, mas como Ana era outra mulher “de faca na bota”, ainda mais que Maria Elisa, também esta união acabou em conflito e separação. Vitor sempre foi impulsivo, e em parte a isso se devem suas várias mudanças de rumo, mas teve a coragem de deixar as “zonas de conforto” e aventurar-se, acreditando em seus ideais, sendo um inovador na maioria das atividades a que se dedicou, mesmo que algumas não tenham durado muito, e atrás de sua fachada de durão que não se dobra facilmente tem uma imensa capacidade de emocionar-se. Se tivesse de resumi-lo em uma palavra, diria que é uma imagem da Paixão, uma potência que não prima pela constância, mas sem a qual este mundo seria privado de muito de sua cor, de sua beleza, de sua fertilidade e criatividade e de sua capacidade de renovação. 4) Roberto Alcides Longhi, o caçula de Alcides e Leda, nascido em 14 de setembro de 1949, também fortemente ligado ao futebol, jogava nos juniores do E. C. Juventude e foi convidado a fazer carreira no clube, mas preferiu a profissão de dentista, formando-se na UFRGS e se tornando respeitado profissional na sua cidade natal, mas nunca gostou de publicidade e leva uma vida discreta. Atendeu nos Sindicatos Reunidos de Caxias por 25 anos, além de manter um consultório privado. Em 1972 participou como convidado em uma ACISO (Ação Cívico-Social) prestada pelo 3º Grupo de Canhões do município de Esmeralda e, no mesmo ano, a convite da UFRGS, participou do Projeto Rondon em Porto Velho, dando atendimento odontológico a escolares. Foi um dos fundadores e da primeira Diretoria do Sindicato dos Odontologistas de Caxias, que tem uma abrangência regional sobre mais de 30 municípios, e foi da Diretoria da Associação Brasileira de Odontologia, seção RS/Nordeste, durante duas gestões. Também jogou no primeiro time dos sêniors do Juventude, fundado em 1975.1738

1738

Roberto recém nascido com seus avós Augusto Artico e Ema Panigas Artico.

Souza, op. cit.

580

Acima, Alcides, Villi, Vitor e Roberto Longhi. Abaixo, Roberto atendendo nos Sindicatos Reunidos de Caxias.

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Roberto jogando nos juniores do Juventude em 1967 em uma preliminar do Ju contra o Internacional de Porto Alegre. Ele está no centro da primeira fila, segurando a bola.

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Atrás: Roberto, Siloé, Villi, Tânia, Vitor, Maria Elisa e Aluysio. Na frente: Murillo, Elisabeth, Alcides, Leda, Vera e Beatriz

Roberto foi casado com Siloé Reck Hainzenreder, nascida em 28 de julho de 1950, cirurgiãdentista, de tradicional família da região litorânea entre Três Cachoeiras e Torres, onde os Hainzenreder já deram empresários e políticos, como Gabriel, vereador, e Alzira, vereadora por quatro mandatos e atual vice-prefeita de Três Cachoeiras.1739 1740 Os Reck também são família tradicional na área, com comerciantes, empresários, políticos e membros que batizaram ruas, como Pedro e José Otávio; Maurício foi vereador, 1741 Carmen, professora e secretária municipal de Assistência Social,1742 e Batista Reck Mengue, secretário municipal da Agricultura.1743 Siloé tem uma personalidade forte, exuberante e colorida, possuindo um grande senso de humor e talento para a arte. Dona de uma cabeça aberta, seu casamento com Roberto de início foi encarado pelos seus sogros com alguma reserva, justamente por suas ideias e comportamento avançados para a época, mas logo conquistou a todos, se revelando extremamente amiga a carinhosa, entrosando-se perfeitamente na família. A separação do casal foi um triste acidente de percurso. Ela deixou saudades, mas também muitas lembranças felizes. Assim como ocorreu com os Sebben, apesar de em sua maioria residirem em outras cidades, minha família manteve ótima convivência com a família de Siloé nos verões em Noiva do Mar, onde eles construiram uma casa vizinha à casa dos meus avós, e em especial a matriarca, Adélia, um poço de pragmatismo e tranquilidade e uma enciclopédia de expressões impagáveis, foi parceira constante para o carteado, os bolinhos de chuva, os mariscos na farofa e outras amenidades que hoje são tesouros da memória. Adélia é figura notória em sua cidade, ajudando muita gente, e pelos seus relevantes serviços à comunidade recebeu da Câmara de Vereadores o título de Cidadã Emérita de Três Cachoeiras, aprovado por unanimidade.1744 1739

Câmara Municipal de Três Cachoeiras. Gabriel Borges Hainzenreder Câmara Municipal de Três Cachoeiras. Alzira Hainzenreder Scheffer 1741 Câmara Municipal de Três Cachoeiras. Maurício de Barros Reck. 1742 Prefeitura Municipal de Três Cachoeiras. Histórico de Três Cacheiras. 1743 “SENAR realiza curso de agrotóxicos em Três Cachoeiras”. A Folha, 19/12/2014 1744 “Informativo da Câmara de Vereadores de Três Cachoeiras”. Jornal do Mar, 18/03/2011 1740

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Coluna de Paulo Gargioni, Pioneiro, 11/06/1985

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A família de Siloé: atrás estão Rubens, Bruno, Sílvia, Suzana e Siloé. Na frente, Ricieri, Margarita e Adélia, a matriarca. Foto de Lucas Longhi.

Os outros filhos de Adélia são 2) Sílvia, arquiteta e diretora da APAE de Torres, casada com Milton Dalcegio, engenheiro e empresário da construção, casal bem inserido na sociedade local, rotarianos, membros da Diretoria do seu clube, e comendadores de festas da APAE, pais de Guilherme e Isabela;1745 1746 3) Margarita, pedagoga, casada com Tadeu Rostirolla, exbancário, atualmente corretor de imóveis, com os filhos Francisco, Carolina e Gabriela; 4) Ricieri, autônomo, aventureiro e um legítimo “faz tudo”, casado com Evelyn Veit, designer e comerciante de móveis, com o filho Eduardo; 5) Bruno, protético dentário, casado com Olizete Rocha, com os filhos Mauro e Elisa; 6) Rubens, protético dentário em Caxias, casado com Dirce Borges, que trabalha ajudando o marido, com as filhas Victoria e Bruna, 1747 e 7) Suzana, protética dentária, casada com Mathias Schaf Filho, Doutor em Letras, professor de português na Áustria por alguns anos, também grande latinista, professor do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculos da UFRGS e autor de obra de referência,1748 1749 1750 com os filhos Matheus, Gabriel e Wagner. Mathias tem um filho de um casamento anterior, Frederico. Roberto e Siloé são pais de a) Lucas Longhi, nascido em 29 de novembro de 1979, meu afilhado de batismo, de personalidade alegre e amistosa, imbuído de altos princípios formouse advogado, foi um dos criadores do Núcleo de Prática Jurídica do curso de Direito da UCS quando ainda um estudante, e recebeu um Voto de Congratulações da Câmara Municipal. 1751 Participou da organização de vários seminários ligados à universidade, depois foi conciliador no Juizado Especial Cível de Caxias do Sul, e faz muitos trabalhos pro bono auxiliando pessoas carentes, sendo sócio de um escritório de advocacia. Além disso, tem sido o advogado de toda a família, dando grande ajuda em inventários e outras questões. Lucas é adepto do montanhismo, tesoureiro da Federação Gaúcha, tesoureiro e diretor técnico da Associação Caxiense de Montanhismo.1752 1753 1754 1745

APAE Três Cachoeiras. Profissionais que fizeram parte desta entidade. “Empossado novo Conselho Diretor do Rotary Clube de Torres”. Jornal do Litoral Norte, 29/07/2013 1747 Pulita, João. “Social de quarta”. Pioneiro, 15/05/2013 1748 Lindegaard, Vítor Santos. “Um infinitivo cheio de personalidade”. 1749 Schaf Filho, Mathias. Do acusativo com infinitivo latino ao nominativo com infinitivo português. Tese de Doutorado. Universidade Federal de Santa Catarina, 2003 1750 “Um ano depois, reforma ortográfica gera pouco impacto”. Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Educação Superior do Estado de Goiás 1751 Câmara Municipal de Caxias do Sul. 184ª Sessão Ordinária da XIV Legislatura, 07/06/2006 1752 Federação Gaúcha de Montanhismo. “Eleições da Gestão 2009/2011”, 28/08/2009 1746

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Leonardo, Lenara, Guilherme Dalcegio, Lucas e Helena

Lucas é casado com Helena Ferrari Cogorni, engenheira química, bolsista de pesquisa da Universidade de Caxias do Sul com projeto de secagem de tomates;1755 também esportista, 1ª colocada no ranking da Federação Gaúcha em duas modalidades femininas em 2008, vencedora da 2ª etapa do Campeonato Gaúcho de Dificuldade em 2008, segunda colocada na 1ª etapa de 2009, secretária e conselheira da Associação Caxiense de Montanhismo. 1756 1757 1758 1759 Em suas atividades esportivas já escalaram grandes montanhas da América do Sul. São pais de Isadora, nascida em 11 de dezembro de 2012, e de Ana Júlia, nascida em 10 de janeiro de 2017. Helena é filha de Janir Cogorni, construtor, e Joana Adele Ferrari, professora. Possui um irmão, André, engenheiro mecânico, casado com Daniele Faccin Hubner.1760 Ambas as famílias de Helena têm tradição em Bento Gonçalves, onde se radicaram. Dos Cogorni, João é nome de rua; Alzir, tio de Helena, é advogado, secretário do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários de Bento Gonçalves e delegado junto à Federação dos Empregados em Estabelecimentos Bancários do Rio Grande do Sul,1761 em nome do Sindicato venceu um processo milionário contra o BANRISUL que se arrastava há 20 anos.1762 É também diretor da histórica Vinícola Mena Kaho, fundada nos anos 20 pela família Roman, cuja tradição declara origem no Império Romano, ligada aos Cogorni pelo casamento de Lucia Catarina Roman, avó de Helena. A vinícola em anos recentes foi reestruturada, passando a se dedicar ao cultivo orgânico da uva, com produto certificado pela Ecocert Brasil. 1763 1764 João

1753

Associação Caxiense de Montanhismo. “Comunicado Nova Gestão”, 24/04/2013 “ACM-RS Associação Caxiense de Montanhismo”. Thomas Schulze - Montanhismo, Escalada e Educação Física, 06/07/2011 1755 Centro de Ciências Exatas e da Tecnologia – UCS. Projeto Secador de Tomates, 2002-2004 1756 Associação Caxiense de Montanhismo. Conselho Diretor. 1757 Federação Gaúcha de Montanhismo. Ranking 2008. 1758 Associação Caxiense de Montanhismo. “Campeonato Gaúcho de Dificuldade - II etapa – Resultados”, 19/08/2008 1759 “SME apoia 1ª etapa do Campeonato Gaúcho de Escalada Esportiva”. Portal da Prefeitura de Porto Alegre, 23/06/2009 1760 “Hora do sim”. Jornal do Povo, s/d. 1761 Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários de Bento Gonçalves. Histórico. 1762 “Sindicato de Bento Gonçalves vence ação trabalhista contra o Banrisul”. Imprensa Fetrafi-RS, s/d. 1763 “Sustentabilidade na produção de sucos e vinhos”. Cordeiro & Vinho, 10/05/2013 1764 “Rota Cantinas Históricas em Bento Gonçalves reúne passado, presente e belas paisagens”. ClicRBS, 18/10/2014 1754

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A sede histórica da Vinícola Mena Kaho. Foto da Vinícola. Abaixo, o deputado Antenor Ferrari. Foto da Assembleia Legislativa.

Heleno, filho de João e primeiro diretor da Vinícola em sua reestruturação, morto precocemente, foi homenageado pela sua luta pelo meio ambiente.1765 Os Ferrari estavam entre os pioneiros de Bento Gonçalves, e deixaram vasta descendência em todo o estado. No início foram agricultores, depois se lançaram em variados empreendimentos, e imprimiram forte marca na política local e estadual. Entre os que ganharam notoriedade podem ser citados os pioneiros João Batista e Francisco, tios-avós de Helena, ambos nomes de ruas; Gilberto, diretor Financeiro da Câmara de Dirigentes Lojistas;1766 Carlinho e Flávio, vereadores; Renato Moacir, neto de Francisco, vereador duas vezes; Fernando César, tio de Helena, vereador em três legislaturas1767 e secretário municipal de Habitação e Assistência Social,1768 e Antenor, outro tio, presidente da União Caxiense de Estudantes Secundários, um dos fundadores do partido MDB no estado e seu vice-presidente, deputado estadual em três mandatos, notabilizou-se pela fundação da Comissão dos Direitos Humanos e Meio Ambiente na Assembleia e pela autoria da Lei dos Agrotóxicos, um marco na defesa do meio ambiente.1769 1770

1765

Associação Bento-Gonçalvense de Proteção ao Ambiente Natural. Homenagens. Câmara de Dirigentes Lojistas de Bento Gonçalves. Sobre a CDL. 1767 Câmara Municipal de Bento Gonçalves. Vereadores e Suplentes a partir de 1948. 1768 “Programa Cidadania e Segurança Alimentar reúne famílias beneficiadas”. Portal da Prefeitura de Bento Gonçalves, 18/09/2007 1769 “Quem é Antenor Ferrari”. Jornal da EMATER, s/d. 1770 Eitelwein, Gilmar. “Antenor Ferrari: atuação destacada em prol dos direitos humanos e meio ambiente”. Agência de Notícias da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, 10/04/2008 1766

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Lucas, Helena e Isadora, Lara, Leonardo e Lenara.

O outro filho de Roberto é b) Leonardo Longhi, nascido em 29 de novembro de 1979, cirurgião-dentista,1771 trabalhando em Porto Alegre e Caxias, apreciador de astronomia e xadrez (foi 5º colocado nos Jogos Abertos da Prefeitura em 2011),1772 e como o irmão é um grande boa-praça, já realizou trabalho voluntário atendendo pessoas carentes durante seus estudos e agora faz o mesmo para a entidade assistencialista Servos de Cristo; é casado com Lenara Bettiato Pasquale da Silva, formada em Turismo e trabalhando em intercâmbios internacionais de estudo e trabalho; são pais de Lara, nascida em 18 de outubro de 2013. Lenara tem uma irmã, Naiara, formada em Arquitetura e Urbanismo, e é filha de Lucila Bettiato e de Gilberto Pasquale da Silva. Gilberto é diretor Administrativo-Financeiro da Moinho do Nordeste S.A. / Nordeste Alimentos, e foi por muitos anos secretário do Conselho Fiscal e diretor Administrativo da Lupatech S.A., empresa destacada com o Prêmio Vilson Kleinübing e o Prêmio Expressão Ecologia pela preocupação com a preservação do meio ambiente.1773 1774 1775 O casal é ativo no Rotary Club Pérola das Colônias, sendo ela presidente do Conselho Diretor e ele secretário.1776 Pela sua decisiva participação na campanha Combustível Salva Vidas, Lucila recebeu o honroso título de Companheiro Paul Harris.1777 São avós de Lenara, pelo lado paterno, Ibo da Silva, filho de pai português e mãe espanhola, caminhoneiro, e Terezinha Maria Pasquale, filha de italianos, do lar. Do lado materno, Ivo Affonso Bettiato, filho de italianos, agricultor, e Pressila Anesi, filha de italianos, professora e agricultora. Na família Bettiato se destacam, por exemplo, Bruno, da Diretoria da Copa União de Clubes;1778 Gabriela Bettiato Lentz da Silva, Glamour Girl Caxias do Sul 2014;1779 e o padre João Bettiato Bonetto, professor do Seminário do distrito de Fazenda Souza, fundador do Seminário São José

1771

Associação Brasileira de Odontologia. Monografias. “2011 - Torneio Aberto Municipal - Caxias do Sul”. Wikispaces, 30/04/2011 1773 Lupatech S.A. Ata de Reunião do Conselho Fiscal, 14/12/2010 1774 Lupatech. Membros da diretoria, idade e cargo. 1775 “Lupatech investe em tratamento de efluentes”. Gazeta Mercantil, 08/07/2002 1776 Rotary Distrito 4700. Rotary Club Caxias do Sul – Pérola das Colônias. 1777 Rotary Distrito 4700. Brasil Rotário, abr/2009 1778 Copa União de Clubes. Ata da Assembleia Geral, 07/05/2014 1779 “Dia Municipal de Luta contra o Câncer de Mama é comemorado em Caxias”. Assessoria de Comunicação da Secretaria da Saúde de Caxias do Sul, 18/07/2014 1772

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em Orleans, estado de Santa Catarina, primeiro diretor da Escola Profissional e Social do Menor de Londrina, estado do Paraná, e vigário em várias paróquias brasileiras, incluindo Fazenda Souza e Forqueta.1780 Entre os Pasquale, que tiveram um ramo entrelaçado aos Pezzi de São Romédio, Antonio e Patrício são nomes de rua. A Roberto, além de eu dever uma gigantesca conta odontológica que ele nunca quis cobrar, atendendo toda a sua grande família de graça e sendo o “confessionário” de todos, um protótipo do amigo e do bom conselheiro, também devo belas vivências na infância e juventude, sempre um tio brincalhão e incansável, organizando as mais variadas diabruras para entreter seus sobrinhos. Mesmo depois de casado, mas antes que viessem os filhos, eu e meu irmão passamos muitos fins-desemana com ele e Siloé dedicados à pura diversão, vendo filmes e as antigas lutas-livres na TV e comendo frango frito até altas horas da madrugada, e até hoje, com o seu grande senso de humor, seu espírito sempre jovem e sua capacidade de colorir as histórias que conta, é invariavelmente o grande animador das reuniões familiares. Hoje Roberto está casado com Lurdes Margarete Andrade Soares, catarinense nascida em 1º de novembro de 1969, advogada, com pós-graduação em Gestão em Saúde para o Trabalhador. Atuou no setor privado por 25 anos na função de analista Administrativo e Financeiro, fazendo também um trabalho social através da sua participação no Rotary Clube Ana Rech, do qual foi secretária entre 2009 e 2011.1781 1782 Pelas suas atividades beneficentes Lurdes recebeu da Fundação Rotária do Rotary Internacional o honroso título de Companheiro Paul Harris. Lurdes chegou há pouco em nossa família, mas já conquistou a todos por sua delicadeza, simplicidade, inteligência, bom coração e grande senso de humor.

Roberto e Lurdes

1780

Congregação de São José de Murialdo. Pe. João Bonetto. Rotary Internacional. Distrito 4700. Rotary Clubs do Distrito: Rotary Club Caxias do Sul Ana Rech: Conselho Diretor - Período: 2009/2010 1782 Rotary Internacional. Distrito 4700. Rotary Clubs do Distrito: Rotary Club Caxias do Sul Ana Rech: Conselho Diretor - Período: 2010/2011 1781

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Paulina Ribeiro e Evaristo Soares, ao lado, Servelina Ribero e Plauto de Andrade, avós de Lurdes. Coleção de Lurdes.

Lurdes é a sexta filha de Hercílio Soares e Luci Teresinha Andrade, descendentes de portugueses. Hercílio, nascido em 3 de junho de 1934 em São Joaquim, no estado de Santa Catarina, era filho dos agricultores Paulina Maria Ribeiro (02/11/1893 – 17/07/1989) e Evaristo Luís Soares (26/10/1889 – Nov/1968), ela natural de São Joaquim e ele de Vacaria, Rio Grande do Sul, sendo o derradeiro de oito irmãos. Luci Teresinha, nascida em 15 de dezembro de 1943 em Capão Alto, Santa Catarina, a sétima de oito irmãos, era filha da comerciante Servelina Maria Ribeiro (Capão Alto, 16/03/1902 – 24/12/1980) e do tropeiro Plauto Antunes de Andrade (Capão Alto, 29/09/1902 – 24/09/1983). Hercílio casou com Luci Teresinha em 10 de junho de 1961 na Catedral de Lages, Santa Catarina. O casamento produziria oito filhos: Liamar, Lucimar, Jovane, Pedro Paulo, Antônio, Lurdes, Jorge Luís e Marcia Regina. Hercílio foi criador de suínos e comerciante no ramo de carnes e produtos alimentícios. Em meados de 1975 vendeu a casa e seu estabelecimento comercial e partiu de Santa Catarina com a família rumo a Caxias do Sul, em busca de melhores condições de trabalho, e hoje está aposentado. Sua esposa Luci era muito religiosa, havia recebido educação em colégio de freiras, não faltava à missa dominical, e por muitos anos foi zeladora da Capelinha da Comunidade de São Francisco no bairro Kaiser. Também gostava de escrever cartas, mantinha um baú com santinhos e um caderno de recordações. Faleceu em 14 de dezembro de 2009.

Luci Teresinha Andrade e Hercílio Soares, coleção de Lurdes Soares Longhi.

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Vitor e Villi Longhi em sua Primeira Comunhão.

5) Villi Vitório Longhi, gêmeo de Vitor, nascido em 22 de abril de 1947, estudou no Colégio do Carmo e participou do seu Grêmio Estudantil, sendo desde jovem interessado em temas políticos. Ainda um estudante compôs um texto para sua mãe que recebeu o primeiro prêmio da escola, mostrado na página seguinte. Ele também deixou um interessante texto sobre o que pensava a respeito do estudante ideal, que reproduzo depois do outro. Depois Villi transferiu-se para Porto Alegre a fim de graduar-se na universidade e acabou se radicando na capital. Nesta época foi citado nas crônicas sociais entre os destaques da “jovem guarda”. 1783 1784 Formou-se em Engenharia Elétrica Eletrotécnica e obteve Mestrado em Ciência da Computação pela UFRGS, passando a desenvolver carreira na iniciativa privada e a dar aulas no Instituto de Informática da UFRGS. Como executivo foi responsável pelas áreas de Tecnologia da Informação e Planejamento Estratégico em grandes organizações: a Klabin Riocell, gerenciando o redesenho de vários processos administrativos; a Iochpe, onde foi superintendente de Sistemas de Informática, e o Grupo Sulbrasileiro, sendo membro do seu Comitê Estratégico.

1783 1784

Gargioni, Paulo. “Sociedade”. Caxias Magazine, 21/02/1970 Gargioni, Paulo. “Sociedade”. Caxias Magazine, 28/02/1970

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Painel Estudantil, número 5, ano I

Foi casado com Tânia Carvalho, filha de Lauro Carvalho e Irma Moretto. Germano Pisani, pai adotivo de Irma, era filho de Amalia Panigas Pisani, irmã de minha bisavó Ema, e Irma era pelo sangue da família da esposa de Ludovico Sartori. As duas famílias já foram abordadas antes. Lauro foi funcionário da Industrial Madeireira, conselheiro Fiscal do Círculo Operário, secretário da Associação dos Cronistas Esportivos, e grande nome do E. C. Juventude na mesma época em que meu avô Alcides estava em seu auge, assumindo a Tesouraria quando Alcides foi diretor, e sendo depois ele mesmo presidente por duas vezes.1785 1786 1787 1788 1789 Tânia é psicóloga, tem gosto refinado e grande sensibilidade para a arte, decorando sua casa com requinte e beleza. Enquando durou seu casamento com Villi foi uma tia muito amiga, com a qual tive grande afinidade, sempre uma ótima parceira para longas conversas. Tem os irmãos 1) Newton, dentista e representante comercial da Nestlé, casado com Simone Flores Malheiros, com o filho Rubens; 2) José Humberto, representante comercial da Gazola, casado com Gilce Stigmamiglio, com os filhos Lauro Fernando e Felipe, e 3) Marília Regina, socióloga do SENAI, membro da Rede Brasileira de Monitoramento e Avaliação e assessora técnica da Secretaria de Estado do Trabalho, Cidadania e Desenvolvimento Social, coordenando um grande e inédito levantamento sobre as carências sociais do estado em parceria com outras instituições;1790 é casada com Roberto Rossarola Chukst, vice-presidente Financeiro da TRS Gestão e Tecnologia S.A. e diretor da empresa TOTV RS, sem filhos.

1785

Michielin, op. cit. “Associação dos Cronistas Esportivos”. O Momento, 31/03/1955 1787 “Círculo Operário Caxiense”. O Momento, 15/04/1950 1788 “Flamengo e Juventude empossaram as novas diretorias”. O Momento, 22/01/1949 1789 “A participação de clubes locais nas Olimpíadas do SESI”. A Época, 11/03/1951 1790 “Parceria viabiliza mapeamento das carências sociais do RS”. Assessoria de Imprensa do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, 28/10/2015 1786

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A família de Tânia comemorando os 88 anos de seu pai Lauro. Foto de Marília Carvalho Chukst. Abaixo, Marília Chukst entre seus pais Irma Moretto e Lauro Carvalho, com o pequeno João Pedro Longhi, neto de Villi e Tânia. Foto de Christian Longhi.

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Casamento de Villi e Tânia no registro civil, junto com Roberto Longhi e sua irmã Vera, Vitor Longhi e sua esposa Maria Elisa, Leone e seu esposo Roberto Toigo, e José Humberto Carvalho e sua esposa Gilce. Alcides Longhi é o terceiro a contar da direita.

Villi e Tânia são pais de Christian, nascido em 8 de setembro de 1976, e Karine, nascida em 12 de abril de 1979, ambos formados em Administração de Empresas e Mestres em Gestão Empresarial. Christian foi casado com Maria Carolina Correa Pinto Nakada (Lola), nascida em 8 de fevereiro de 1978, médica obstetra e ginecologista. O casal gerou João Pedro, nascido em 3 de novembro de 2010, e Eduardo, nascido em 8 de março de 2015. Lola é filha de Mario Issamu Nakada, engenheiro elétrico, e Susana Maria Corrêa Pinto, professora, tendo os irmãos Ana Rita, advogada, divorciada, mãe de Ana Cássia Nakada de Almeida; e Felipe, eletricista, casado com Daniela Bressolin, agente de turismo, pais de Júlia e Gabriel. Jovens dinâmicos e empreendedores, Christian e Karine desenvolvem carreiras promissoras que os levarão sem dúvida a serem em breve grandes empresários, como já dão provas precoces, aliando a esses talentos personalidades gentis e amistosas. Em 1995 Villi abriu com os filhos uma consultoria de Informática, a MBS Consulting, atuante em todo o Brasil e com contatos no exterior, que tem como foco a consultoria nos domínios da estratégia empresarial, processos de negócio e apoio, estrutura organizacional, cadeia de valor, gestão de pessoas, tecnologia da informação e transferência de tecnologia, tendo clientes de peso como as empresas Randon, Karsten, Brasil Telecom, Renner, Trensurb, e as instituições estatais Banrisul, Petrobras, o Conselho Regional de Administração, a Prefeitura de Porto Alegre e o Tribunal de Contas da Bahia, entre muitas outras. Sua equipe tem também organizado muitos encontros, cursos e seminários de alto nível e participado de outros tantos apresentando o seu trabalho. 1791 1792 1793 1794 1795 1796 1797

1791

Tribunal de Contas do Estado da Bahia. “Consultoria traça o mapa dos processos auditoriais”. Longhi, Villi Vitório. “A importância do Planejamento Estratégico como ferramenta de gestão em Tribunais de Contas”. In: Revista TCMRJ, 2012; (50):14-18 1793 “Sefaz implantará Projeto de Redesenho do Modelo de Gestão e Execução da Ação Fiscal”. JusClip, 16/01/2014 1794 “Calçadistas gaúchos não desistem da China”. Sindicalçados, s/d. 1795 “CRA-RS apresenta Planejamento estratégico 2014-2020”. Conselho Regional de Administração, 25/11/2013 1796 “Seminário sobre projeto de mapeamento será apresentado nesta sexta”. Tribunal de Contas do Estado do Tocantins, 21/02/2011 1797 “MBS Consulting anuncia novos cursos”. Baguete, 28/02/2008 1792

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Christian, Maria Carolina (Lola) e Karine. Abaixo, Karine fazendo uma apresentação no BPM Day da Serra, realizado em 31/10/2014 na Faculdade da Serra Gaúcha, em Caxias.

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Mais tarde surgiu da MBS uma operação derivativa, a BPM Soluções, com foco na modelagem e automação de processos críticos, da qual Christian é sócio-diretor, e Karine é representante da MBS no Conselho. Esta empresa, da mesma forma, atende grandes clientes, como ChinaInvest, Procempa, Procergs, Agência Nacional de Energia Elétrica, Unimed, Banricoop e Tintas Killing, entre outras, e conquistou o prestigiado Troféu Ouro no 2010 Global Awards for Excellence in BPM & Workflow, concedido pela Workflow Management Coalition, pelo case de automação da gestão de contratos da Unimed.1798 1799

O prefeito de Porto Alegre entrega o primeiro projeto de edificação aprovado pelo município integralmente em meio eletrônico. Christian está semiescondido atrás da senhora de vestido estampado em primeiro plano. Foto Assessoria de Imprensa da Prefeitura.

Entre as realizações recentes mais importantes do grupo vale descatar uma parceria com a Prefeitura de Porto Alegre, através do Programa Gaúcho da Qualidade e Produtividade, para a elaboração de um novo sistema de aprovação eletrônica de projetos de edificações, encurtando o prazo de entrega das licenças, que podia chegar a dois anos, para cerca de um mês ou menos.1800 Diz o Jornal da Cidade:

“Porto Alegre dará um passo significativo na modernização dos processos de licenciamento urbano-ambiental. Será lançado nesta sexta-feira, 24, o novo Sistema de Aprovação Eletrônica de Projetos de Edificações, que marca o início da digitalização dos processos urbanísticos no âmbito da prefeitura da Capital. A inovação será apresentada em solenidade no Paço Municipal, às 10h, com a presença do prefeito José Fortunati. A principal mudança é que o novo sistema permitirá a análise simultânea dos projetos por todas as secretarias envolvidas. Atualmente, após ingressar no Escritório Geral de Licenciamento e Regularização Fundiária (EdificaPOA), o projeto percorre diversas setores até chegar à Secretaria Municipal de Urbanismo (Smurb), que emite o parecer final. Com o novo modelo, o projeto será digitalizado e enviado ao mesmo tempo, em meio eletrônico, para os órgãos atuantes nas diversas etapas de aprovação”.1801 Outra participação importante foi no evento Desafios do RS, promovido pela Agenda 2020, um movimento de ampla escala da sociedade gaúcha para um futuro melhor, que se desenvolve em 11 fóruns temáticos, onde Christian foi um dos quatro consultores convidados pelo Programa Gaúcho da Qualidade e Produtividade para participar como um dos facilitadores da discussão.

1798

Renner, Maurício. “BPM Soluções distribui BizAgi”. Baguete, 16/03/2011 “Unimed Porto Alegre conquista prêmio internacional de gestão”. Portal Fator Brasil, 03/12/2010 1800 “Inovação permite análise simultânea de autorização para edificações”. Sinduscom, 25/10/2014 1801 Gomes, Catarina & Bandeira, Élio. “Prefeitura lança sistema de aprovação eletrônica de projetos”. Jornal da Cidade, 24/10/2014 1799

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Um trecho do artigo que Villi escreveu para a Revista do Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro define o que é Planejamento Estratégico, um dos principais focos de sua atuação: “A palavra estratégia (strátegos, originária do grego, então utilizada na área militar), principalmente a partir da década de 1960, adquiriu o significado de ‘como uma empresa define respostas aos desafios competitivos’ no seu setor de atuação. Nas economias mais desenvolvidas, esta nova abordagem rapidamente se desenvolveu em universidades, expandiu sua aplicação no setor privado e chegou aos demais setores. Um planejamento estratégico é um instrumento de gestão que se proprõe a atingir resultados de alto desempenho. “Analisando as dezenas de escolas metodológicas que se dedicaram ao tema, Henry Mintzberg deduziu que em todas se concordam que estratégia é: • Planejamento, direção, guia, alvo; • Modo de atuação futuro, trajetória para ir de a situação atual para situação futura; • Padrão que permite manter a coerência ao longo do tempo; • Perspectiva, pois olha para dentro e para o alto em direção a uma visão ampla. “[...] O elemento motivador para utilização do instrumento de planejamento estratégico é oferecer melhores resultados para a sociedade”. 1802 Algumas declarações que deu em entrevista durante o desenvolvimentro do Projeto de Mapeamento e Redesenho apresentado aos servidores do Tribunal de Contas do Estado do Tocantins, mostram a complexidade do seu trabalho:

1802

Longhi, Villi Vitório. “A importância do Planejamento Estratégico como ferramenta de gestão em Tribunais de Contas”. In: Revista do TCMRJ, 2012; XXIX (50):14-18

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“A busca pelo cenário ideal, em que todos exerçam suas funções de maneira mais proveitosa para gerar resultados mais eficazes. Esta é a finalidade da implantação do Projeto de Mapeamento e Redesenho apresentado aos servidores do Tribunal de Contas na tarde desta sexta-feira, dia 18. Os servidores assistiram a um vídeo que conta a história dos 22 anos do Tribunal de Contas. Em seguida, o presidente conselheiro Severiano Costandrade falou da importância de todos os funcionários participarem das atividades que envolvem o Projeto. É necessária a transversalidade dos setores, todos trabalharem integrados, pois não admitimos uma instituição com castas, afirmou. Na sequência, os consultores Villi Vitório Longhi e Cláudio Dreyssig explicaram sobre o projeto. O Projeto entrará em sua segunda fase a partir da próxima semana, quando vão começar os treinamentos com as equipes envolvidas. O primeiro estágio foi de entrevistas com conselheiros, auditores e servidores. Ao todo, são seis etapas que finalizam em dezembro deste ano, e resultam na implantação de um Plano de Ações, com os riscos e avaliações referentes às atividades administrativas e gerenciais executadas pelo Tribunal de Contas. Todo o fluxo de ações do Tribunal será mapeado. Com o auxílio dos consultores, as 23 equipes de análise composta por servidores de todas as áreas, auditores e conselheiros irão identificar o que é feito, como é feito, quais as falhas ou desconexões. Depois disso, será planejado como as atividades do TCE devem ser otimizadas. Durante o seminário, o consultor Villi Longhi lembrou que a gestão de mudanças pressupõe construir juntos, ou seja, todos os servidores, tanto da área administrativa quanto da área de fiscalização, devem estar integrados no Projeto”.1803 Minha convivência com Villi na juventude foi mais limitada, tendo ele se estabelecido cedo em Porto Alegre, mas nos primeiros tempos em que me radiquei na capital para estudar a casa dele e de Tânia foi um refúgio constante, e quase religiosamente as quintas-feiras eram o dia em que eu ia roubar uma janta e bater um bom papo com o casal. Villi tornou-se uma pessoa verdadeiramente cosmopolita, viaja pelo Brasil e o mundo em seus negócios e adquiriu grande cultura, tornando-se uma imagem de futuro, pelo seu espírito empreendedor e progressista, suas ideias avançadas e seu profundo Villi com seu filho Christian e seus netos Eduardo e João Pedro. Foto de envolvimento com a ciência da Christian. Computação, que é cada dia mais onipresente na vida de todos e transforma aceleradamente os nossos cotidianos, mas também uma imagem de otimismo pela sua capacidade de reinventar-se constantemente, uma vez que depois de sua difícil separação adquiriu novos hábitos e interesses e pareceu remoçar, e quando suas empresas passaram por uma crise deu a volta por cima desenvolvendo projetos inovadores, não se deixando abater nas adversidades e mantendo uma atitude jovial.

1803

“Servidores acompanham seminário de projeto de mapeamento”. JusBrasil, s/d.

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Acima, João Pedro e Eduardo e com os pais Maria Carolina e Christian. Foto de Christian. Abaixo, a família de Maria Carolina: atrás, os irmãos Ana Rita, Felipe e Maria Carolina e o pai Mario Nakada. Na frente, a mãe Susana. As crianças são Gabriel, João Pedro, Ana Cássia e Júlia. Foto de Susana.

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Elisabeth Longhi em sua Primeira Comunhão

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6) Elisabeth Ana Longhi, minha mãe, nascida em 30 de setembro de 1942, é escritora de talento precoce. Começou a praticar muito jovem, e quando ingressou na Escola Normal São José, cursando Belas Artes, participou ativamente da organização das suas Sessões Literárias presidindo o Departamento Cultural e Social do educandário. Já se destacava pela qualidade dos seus textos e também pela sua oratória, 1804 1805 sendo a oradora na formatura de sua turma. Na Escola Normal fora fundada uma seção da Juventude Estudantil Católica (JEC), da qual também foi presidente. A JEC buscava promover os valores da Igreja Católica entre a juventude através de uma série de encontros e seminários, muitas vezes paralelos a festividades e ações da Igreja ou da Escola, como o Jubileu e Sínodo Diocesano de 1959 e a Semana do Estudante no mesmo ano.1806 1807 Alguns desses eventos mobilizavam grandes grupos, a exemplo do IV Encontro Regional Sul da JEC Feminina, com a participação de dezenas de municípios gaúchos e representantes de outros estados.1808 Em nome da JEC escreveu uma coluna permanente no jornal Pioneiro entre 1959 e 1961, divulgando o movimento. Na crônica de 19 de setembro de 1959 ela se congratulava com seus pares pelos resultados que vinham aparecendo:

Formatura de Elisabeth, entre seus pais.

“[...] Quem não acredita na juventude de hoje deveria ter presenciado as reuniões que foram levadas a efeito, para constatarem que ainda existem jovens que creem e esperam, jovens que vibram e amam, sentem e realizam. Mocidade feliz e correta que procura na Verdade e na Justiça a força para cumprirem sua verdadeira finalidade. Tiveram estes a felicidade de compreenderem que ‘Alguém’ está à sua espera sempre e em toda parte. [...] Seus olhos são claros e serenos, seus sorrisos, confiantes, pois compreenderam que é grande cousa ser criatura, e um dever sublime tornar-se digno disto”.1809 Através desta coluna seu talento como escritora desabrochou e ela passou a chamar a atenção geral.1810 1811 A editoria do jornal descreveu sua contribuição: “A srtª Elisabeth Ana Longhi é uma das mais sublimes e virtuosas colaboradoras que Pioneiro possui, pois através de suas educativas, espirituais e expressivas crônicas ela cativa aos seus leitores”. 1812 Noutra nota, o jornal diz que ela “no setor literário, entre os colaboradores que possui o Pioneiro, é uma das mais valiosas, pura virtuosa e de grande expressão, tem ganhado os melhores comentários de todos os nossos leitores”.1813

1804

“Sessão Literária da Escola Normal São José de Caxias do Sul”. [Pioneiro?], xx/xx/1958 “Concurso de Oratória no Colégio São José”. Pioneiro, xx/xx/1958 1806 Longhi, Elisabeth Ana. “A JEC em Ação”. Pioneiro, 19/09/1959 1807 Longhi, Elisabeth Ana. “A JEC em Ação”. Pioneiro, 03/10/1959 1808 “Magnífica Congregação Estudantil no Quarto Encontro Regional Sul da JEC Feminina”. Pioneiro, s/d. 1809 Longhi (19/09/1959), op. cit. 1810 “Boas Recordações”. Pioneiro, 04/11/2003 1811 Adami, João Spadari. História de Caxias do Sul. Tomo III – Educação. EST, 1960 1812 Editorial. “A delicadeza de nossa colaboradora Elisabeth”. Pioneiro, xx/03/1961 1813 Editorial. “Cordial saudação de Elisabeth”. Pioneiro, 22/06/1961 1805

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Ao mesmo tempo, participava de atividades culturais fora da escola, promovidas pelo Instituto Cultural Ítalo-Brasileiro e o Instituto Cultural Brasileiro-Norte Americano, onde seus dotes como jovem intelectual da mesma forma já se faziam notar, bem como sua distinção e graça pessoal.1814 1815 Iniciava também sua participação na vida dos clubes sociais, organizando eventos e festas, como o Baile das Máscaras, a escolha da Miss Brotinho 1816 e o concurso da Boneca Viva.1817

1814

[Nota sem título]. Caxias Magazine, 27/08/1960 [Nota sem título]. Pioneiro, 19/09/1959 1816 “Alunos do Belas Artes agradecem ao Pioneiro”. Pioneiro, 08/07/1959 1817 “Maria Pruinelli é a Boneca Viva de Caxias”. Pioneiro, xx/08/1959 1815

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Sua visão idealista de mundo, em que a sociedade evolui de maneira ordenada, cultural e sem conflito, onde todos conhecem os seus direitos e deveres e os cumprem à risca, respeitando as hierarquias e leis tradicionalmente estabelecidas, vendo-as como úteis parâmetros e ferramentas para o bom funcionamento da sociedade, foi expressa com eloquência nos escritos que deixou no Pioneiro, todos ricos em imagens evocativas e associações entre vários aspectos da vida e da sociedade, demonstrando possuir um ágil domínio da palavra, uma larga bagagem cultural e uma aguda sensibilidade para o Belo, o Justo e o Bom,1818 1819 1820 1821 1822 1823 sendo expressivos registros do universo feminino caxiense de sua geração em seus estratos mais educados e politizados. De todos os seus textos, o que considero o mais perfeito em forma e expressão poética é o que segue abaixo. Foi publicado no Pioneiro no início dos anos 60, mas o recorte preservado não traz data precisa. “Nestes dias quentes e luminosos, em que acordamos sentindo a carícia de um raio de sol, que penetrando por nossa janela vem brincar em nossa face... Nestas manhãs radiosas em que abrimos a janela e abraçamos com o olhar a imensidão azul do céu... Nestes dias assim, tão claros, invejo o morno raio de sol que tem o dom de iluminar e despertar... “Invejo-o por saber incutir no coração humano emoções aureoladas de doce beleza, por dizer baixinho a cada um: ‘Bom dia amigo, vem comigo e eu te ensinarei a consumir de sol a tua vida, iluminando, aquecendo, alegrando. Revelar-te-ei o segredo de penetrar no âmago do teu amigo, despertando nele o desejo de ser para os outros o que sou para ele: um pequenino raio de sol que dá calor, luz, consolação’... “Quisera, como ele, ter o condão de conduzir-te, meu amigo, minha amiga, pelo caminho que minha ansiedade vislumbra mas que minha pequenez encontra tanta dificuldade em alcançar. Que bom seria se ele tivesse sobre ti a influência que tem sobre mim; quão feliz eu seria se pudesse aquecer teu coração e despertá-lo da indiferença que o sufoca. Quem bom se eu fosse para ti um pequenino raio de sol que orientasse e protegesse... “E não podendo ser raio de sol, que alegria poder ser uma gota de orvalho, não rio, não mar, apenas uma gotícula de água para poder ser refrigério neste deserto árido da vida. Rolar pelo espinho e pela flor, sem vaidades, orgulhosa apenas de poder proporcionar um pouco de suavidade àqueles que, cansados de ingratidões, anseiam por uma amizade sincera. Diluir-me, em cada alma, deixando em todas uma parcela de graça e bonança. Refletir o céu e a terra na transparência amena de uma gota de orvalho, e dar frescor e paz...

1818

Longhi, Elisabeth Ana. “Poema Angustiado”. Pioneiro, xx/xx/1961 Longhi, Elisabeth Ana. “Felicidade a Dois?” In: O Mefeciano, abril/1964; I (2):2 1820 Loth, E. (pseudônimo literário de Elisabeth Ana Longhi). “A Grande Batalha”. In: Painel Estudantil, jun/1962:7 1821 Loth, E. (pseudônimo literário de Elisabeth Ana Longhi). “Se queres ser um Homem”. In: Painel Estudantil, 1962:7 1822 Longhi, Elisabeth Ana. “A JEC em Ação”. Pioneiro, 01/01/1960 1823 Longhi, Elisabeth Ana. “A JEC em Ação: Noite de Estrelas”. Pioneiro, 11/02/1961 1819

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“Quisera ser gota de orvalho ou raio de sol, ou ainda pedra, flor, perfume, ser enfim qualquer cousa que te inspirasse a ser melhor e tivesse a ventura de alcançar as teclas sensíveis de tua alma. Serei feliz mesmo se não for nada disso, sendo apenas a garota que sou, serei feliz se tiver alguma influência benéfica sobre ti, jovem amigo. Se, sem receios, vieres descansar junto a mim, repartindo comigo a dor que te atormenta, se eu puder te oferecer paz e alegria, pureza e afeição, serei a mais feliz de todas as mulheres!” Abaixo trago outro texto para ilustrar melhor o seu estilo e seus valores.

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Murillo Frantz, ao lado da esposa Elisabeh, marcados com pontos. Murillo, erroneamente, não foi citado como fundador. Matéria de Roni Rigon no Pioneiro de 05/12/2003

Não por acaso, suas posturas, bem como seu poético estilo literário, de um irredutível romantismo, ao mesmo tempo delicado e impetuoso, e cheio de imagens visionárias, interessaram os intelectuais caxienses, que a convidaram, sendo ainda uma estudante, para participar da fundação da Academia Caxiense de Letras, da qual foi segunda secretária, sendo verbetada em 1960 no Dicionário dos Intelectuais Caxienses de João Spadari Adami. 1824 1825 Leonir Santos assim falou no Jornal do Comércio sobre os seus primeiros anos: “O jovem sempre buscou alternativas para mostrar suas capacidades e garantir o seu espaço na sociedade. Isso é tão certo que sempre tivemos exemplos de jovens que lutaram por um ideal em suas vidas. Ao voltarmos os olhos para o passado, mais precisamente 1962, veremos que Caxias do Sul não fugiu a essa regra, e que pudemos contar com uma jovem talentosa e batalhadora junto às artes. Com apenas 16 anos de idade, a então estudante Elisabeth Longhi foi a primeira jovem a participar da Academia Caxiense de Letras. Estudante do Colégio São José, foi convidada pelos precursores da Academia, João Spadari Adami, Ciro de Lavra Pinto, Osvaldo de Assis e Nelly Veronese Mascia, a fazer parte das reuniões dominicais intituladas Domingo Literário. Era necessário, na época, que jovens participassem desse tipo de atividades, mesmo porque os adolescentes eram movidos por ideais de luta, valores, e a militância juvenil era realidade dentro das escolas. Elisabeth, participando da Academia, teve a oportunidade de desenvolver novos valores, atuar em encontros de jovens, seminários, eventos, e expor seus sentimentos. Com o apoio de professores, passou a 1824 1825

Adami, João Spadari. Dicionário dos Intelectuais Caxienses, Editora São Miguel, 1960 Academia Caxiense de Letras. Membros fundadores.

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expressar o pensamento juvenil da época, através de uma coluna semanária concedida pelo jornal Pioneiro. O tempo foi passando, e o sonho de se criar uma instituição voltada às letras foi se concretizando. A ideia repercutiu e levou várias pessoas a apoiar o projeto, dando asas ao lema da saudosa Nelly Veronese Mascia: A Academia Caxiense de Letras há de vingar”. 1826 Seu nome seria lembrado quando a Câmara Municipal celebrou Sessão Solene em 2002 alusiva aos 40 anos de fundação da Academia.1827 Enquanto despontava na cultura e na sociedade locais, envolveu-se romanticamente com um outro jovem dinâmico que batalhava pelos mesmos ideais, Murillo Frantz, também formado à luz dos preceitos da Igreja, defendendo a família, o trabalho digno e honesto, a fé, a doação aos outros e a harmonia em sociedade. Ambos devotariam suas vidas na direção desses ideais que estabeleceram desde cedo, e com uma clareza de propósitos e determinação que os tornaram líderes na comunidade caxiense. Com ele veio a se casar em 26 de janeiro de 1963.

Da esquerda para a direita, Alcides Longhi, Antonio Frantz, Elisabeth, Murillo, Leda Longhi, Mauro Frantz, sua então namorada Marlene, Ida Paternoster Frantz e Milton Frantz. As crianças são Thaís e Adriana Panceri, filhas de Marisa Frantz Panceri. Matéria no Pioneiro, a data da publicação não foi preservada. 1826

Santos, Leonir. “Academia Caxiense de Letras (V)”. Jornal do Comércio, 03/06/1996 Câmara Municipal de Caxias do Sul. 29ª Sessão Comemorativa em Homenagem aos 40 anos da Academia Caxiense de Letras, do 2º Período Legislativo da XIII Legislatura, 13/06/2002 1827

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Foto de casamento de Elisabeth, editada a partir de original PB de Geremia.

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Também colaborou ocasionalmente, depois de casada, na Revista da Associação Atlética Banco do Brasil, órgão informativo do banco onde seu marido trabalhou, escrevendo crônicas e responsabilizando-se pelas seções AABB e a Mulher e AABB em Sociedade,1828 1829 1830 1831 1832 e outros textos publicou n’O Mefeciano, a revista do Movimento Familar Cristão, do qual o casal participaria ativamente ao longo de dez anos.

I Salão de Arte de Caxias do Sul, com as artistas Mirene Missaglia, Dóris Paternoster, Elisabeth Longhi, Marisa Rossatto e Clevi Puerari.

Tendo se formado professora de Belas Artes na Escola Normal, Elisabeth em sua juventude foi também pintora, adquirindo uma sólida técnica acadêmica, capaz de obter efeitos em trompel’oeil. Realizou algumas exposições e colheu boas impressões. Sua produção pictórica foi toda destruída pela autora em uma crise de implacável autocrítica, mas sobreviveram três estudos que realizara com a supervisão dos seus professores, e uma pequena tela toda de sua autoria, em posse de sua irmã Beatriz, com temática floral, mostrada na página seguinte, que atesta a boa qualidade de seu trabalho, que poderia tê-la levado bem longe se tivesse perseverado. Ao casar abandonaria a pintura, mas ocasionalmente continuou a praticar outras técnicas criativas. 1828

Frantz, Elisabeth A. Longhi. “Falemos de Alegria”. In: Revista da AABB, 1963, II (12):33 Betty. “AABB em Sociedade”. In: Revista da AABB, 1966; III (35):37 1830 Betty. “AABB em Sociedade”. In: Revista da AABB, dez/1965, especial de Natal. 1831 Betty. “AABB e a Mulher”. In: Revista da AABB, 1965; III (32):36 1832 Betty. “AABB e a Mulher”. In: Revista da AABB, 1966; III (35):40 1829

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A única obra acabada que sobreviveu de sua produção pictórica.

Mas ela mesma prefere canalizar seu interesse em Arte para outras direções, tendo sido professora desta disciplina por muitos anos, e depois se tornou uma grande organizadora, intérprete, incentivadora e conselheira de muitos artistas, tendo em seu currículo a organização de um sem-número de eventos culturais e a realização de várias curadorias de arte.

Elisabeth com seus filhos Ricardo e Marcelo, 1966.

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E mais que professora, tornou-se uma educadora na mais plena acepção da palavra. Integrou a primeira equipe da Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus Imigrante, mais conhecida como Colégio Imigrante, dando aulas de Artes Domésticas, mas teve a oportunidade de colocar em prática suas ideias pedagógicas em grande escala quando assumiu a Direção, sendo sua segunda diretora, projetando o Colégio em âmbito estadual por suas propostas avançadas e apoio à arte e cultura, passando a ser visto como um modelo. 1833 1834 Em sua gestão (1975-1979) a infraestrutura física da escola foi significativamente ampliada com a construção de um prédio para os setores administrativos, liberando muitos espaços para uso como salas de aula, foram criadas oficinas para formação profissional em ofícios técnicos, foi fundado o Grupo de Teatro e Artesanato, com a participação de alunos do Imigrante e de outras escolas da cidade, além de fomentar a integração do Colégio com a comunidade através do Círculo de Pais e Mestres, do Clube de Mães, do Clube de Xadrez e do Grêmio Estudantil. 1835 1836 Também em sua época foi lançado o Festival Imigrante de Teatro Estudantil, mobilizando estudantes de todo o estado e considerado um marco na história do teatro na cidade.1837 1838

1833

“Integração entre a Escola e a Comunidade: A fórmula para Imigrante ser colégio-modelo”. Pioneiro, 16/08/1977 1834 Câmara Municipal de Caxias do Sul. 86ª Sessão Solene da XIV Legislatura, 29/05/2008 1835 “Colégio Imigrante”. Jornal do Comércio, 16/08/1977 1836 “O Pavilhão que será inaugurado”. Pioneiro, 06/08/1977 1837 Comunidade do Colégio Imigrante. Nossa Historia. 1838 Câmara Municipal de Caxias do Sul. 86ª Sessão Solene da XIV Legislatura, 29/05/2008

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Jornal do Comércio, 16/08/1977

Sua filosofia na educação acompanhava um grande movimento de renovação nos métodos educativos, favorecido pela gestão aberta de Airton Vargas na pasta estadual da Educação, com quem a escola formou uma estreita parceria. Disse ela no Papel Inteligente, o órgão informativo da escola, em 1979: “Vivemos hoje uma realidade em que o ato educacional deixou de ser uma simples transmissão de conhecimentos para se tornar uma experiência complexa, que busca atingir o indivíduo na globalidade de seus aspectos e dimensões, na sua realidade física, intelectual, afetiva, social e espiritual”. 1839 Apesar do sucesso das suas propostas, o trabalho foi difícil, esbarrando principalmente na falta de verbas. A situação foi agravada com a construção do prédio novo, como mostra a notícia seguinte, mas graças à intensa mobilização da comunidade os obstáculos foram sendo superados.

1839

Frantz, Elisabeth Ana Longhi. “O que diz a Direção”. In: Papel Inteligente, 1979 (4):22

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O Papel Inteligente, o jornal do colégio, foi um instrumento importante para a integração entre os vários setores, a equipe, os alunos e a comunidade. Trazia artigos sobre vários temas educativos, culturais e sociais, com contribuições de professores, alunos, pais e outros, assinalava os progressos conseguidos e os planos futuros, marcava o calendário escolar intra e extra-classe, noticiando a agenda esportiva dos alunos e outras atividades, e incluía uma seção de humor. Outro trecho, publicado no número 3, na coluna permanente O que diz a Direção, mostra suas preocupações de índole humanística e holística: “Os jovens necessitam desenvolver habilidades fundamentais, crescer, entender e praticar direitos e deveres, cultivar valores morais e espirituais. O conhecimento de si e do outro, o respeito às regras estabelecidas, a análise crítica dos fatos, tudo se faz necessário tendo em vista o presente e o futuro [...] e nesta luta envolver os pais, conquistar toda a comunidade. A estes anseios, Papel Inteligente se une, comunicando, divulgando, prestigiando, revelando valores. Com orgulho, neste seu primeiro aniversário, ele mostra o que faz a esta comunidade e seus filhos, ele que é mais que uma iniciativa pioneira, mais uma demonstração da capacidade realizadora de nossa gente”.1840

1840

Frantz, Elisabeth Ana Longhi. “O que diz a Diireção”. In: Papel Inteligente, (3):22 – Edição do 1º Aniversário

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Sua proposta de educação integral, contemplando a razão e a sensibilidade, estimulando as múltiplas capacidades do ser humano e suas melhores tendências, buscando formar cidadãos retos e plenos que vivam suas vidas de modo a serem úteis à sociedade, agindo como multiplicadores de uma ética elevada e de um ideal de bem trabalhar para bem servir, não através da uma retórica vazia mas do exemplo vivo, remetem-me à antiga Paideia grega, cujo escopo sua atividade parece atualizar com grande similitude, sem ignorar a realidade e as novas oportunidades do mundo contemporâneo, antes fazendo de seus aspectos mais promissores frutífero uso, demonstrando a possibilidade e dando os instrumentos para construirmos um futuro melhor para todos, bastando para isso querermos, pondo as mãos à obra. Sua retirada voluntária da Direção em 1979, ano em que se desligou também da escola, foi embelezada pelos protestos da Delegacia de Educação e da comunidade do Imigrante em peso solicitando sua permanência, mas como a saída ocorreu por força maior e era decisão irredutível, o protesto se tornou uma grande homenagem pelo trabalho desenvolvido. Os pais, professores, alunos e funcionários lhe entregaram uma placa de prata em reconhecimento “do seu esforço e amor”, a 4ª Delegacia de Educação entregou-lhe um cartão de prata e cumprimentos pela sua “abnegada dedicação e exemplar dinamismo [...] e pelo brilhante e criterioso trabalho realizado”,1841 a Secretaria Municipal de Educação também enviou calorosas felicitações,1842 a Câmara Municipal endereçou-lhe um Voto de Louvor pelo seu “excelente trabalho”,1843 e o já então deputado Airton Vargas a cumprimentou “pelo extraordinário trabalho em prol da causa da Educação e da Comunidade em geral”.1844 Seus álbuns pessoais estão cheios de cartões, cartas, bilhetes e ofícios de pais, alunos, colegas, funcionários do colégio e de outras instituições e entidades, em que sua passagem pela escola é enaltecida, a exemplo do cartão enviado pelos coordenadores de setor, ilustrado na página seguinte. Em 1983, relembrando sua atuação e afirmando que sua presença permanecia “indelével”, a Direção e os professores lhe presentearam outro cartão de prata, mostrado a seguir. Em 2008, quando o Imigrante foi homenageado em sessão da Câmara de Vereadores pela passagem de seus 40 anos, sua destacada contribuição foi lembrada, sendo assinalado que “sob a direção da professora Elisabeth Ana Longhi Frantz, a escola vive uma série de experiências que a tornam conhecida no âmbito estadual e a projetam como um dos melhores estabelecimentos de ensino da cidade”.1845 Ao sair do Imigrante se transferiu para o Colégio Emílio Meyer, onde assumiu um cargo de coordenação e usou sua experiência para organizar e dinamizar o Serviço de Orientação Educacional, o Círculo de Pais e Mestres e o Clube de Mães, entre outras atividades. Neste educandário viria a se aposentar. 1841

4ª Delegacia de Educação. Of. Circ. 4ªDE/AE/87-77 de 22 de agosto de 1979. Secretaria Municipal de Educação e Cultura. Of. 283/79, de 26 de dezembro de 1979 1843 Câmara Municipal de Caxias do Sul. Of. 803-A/79, de 26 de dezembro de 1979 1844 Vargas, Airton Santos. Of. nº 49/80. Porto Alegre, Assembleia Legislativa do Estado, 07/01/1980 1845 Câmara Municipal de Caxias do Sul. 86ª Sessão Solene da XIV Legislatura, 29/05/2008 1842

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Essas qualidades de administradora e agregadora, mais sua natureza de verdadeira diplomata no trato com as pessoas, permitiram que tivesse grande trânsito na sociedade local, tornandose em sua maturidade, assim como suas irmãs, um exemplo do melhor que o patriciado local poderia produzir, mesmo não pertencendo aos estratos econômicos superiores desta classe, sendo repetidamente elogiada nas crônicas sociais tanto pelas suas contribuições à comunidade como por sua beleza, distinção e elegância. 1846 1847 1848

1846

Maria, Jussara. “Flores e abraços”. Pioneiro, 04/10/1980 Gargioni, Paulo. “Cultura e Variedades”. Pioneiro, 08/01/1991 1848 Pulita, João. “Moda”. Pioneiro, 02/07/1997 1847

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Lado a lado com suas atividades educativas profissionais, desenvolveu ativo trabalho no Departamento Social da Associação Atlética Banco do Brasil e do Recreio da Juventude ao lado do esposo, organizando festejos e atividades culturais, destacando-se e sendo convidada, junto com Murillo, para participar da Diretoria da XV Festa Nacional da Uva (1980-1981), integrando também sua Comissão Social.1849 1850 1851 1852 1853 1854 1855 1856 A passagem de Elisabeth pelo Social dos clubes e pela Festa da Uva não requer aqui detalhamento, pois já foi abordada quando falamos de Murillo, no Volume I, ocorrendo em estreita parceria com o esposo, e a marcamos apenas com algumas imagens.

Elisabeth e Murillo, da Diretoria Social do Recreio da Juventude, marcados com pontos preto e laranja, com a Presidência do clube e as debutantes do ano. Década de 80.

1849

“Associação Atlética Banco do Brasil. Diretoria para o período 1965 a 1966’. In: Revista da AABB, 1965; III (30):2 “Apresentadas Oficialmente as Candidatas ao Concurso de Miss A.A.B.B. 1963”. In Revista da AABB, 1963; II (17):3-4 1851 Mara. “AABB em Sociedade”. In: Revista da AABB, 1963; II (20):30-32 1852 Informativo Social do Recreio da Juventude, 1977; (7) 1853 “A Extensa Programação do Departamento Social”. In: Informativo Social do Recreio da Juventude, 1976; (6) 1854 “A abertura da Festa”. Pioneiro, 21/02/1981 1855 “Festa da Uva no Rio e São Paulo”. Pioneiro, xx/05/1980 1856 “Comissão de Festas e da Rainha inicia promoção da Festa da Uva – 81”. Pioneiro, 31/05/1980 1850

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Murillo e Elisabeth homenageando Annemarie Brugger, que passava a coroa de rainha do Juventude para Marília Conte, que está à direita. Ambas foram também rainhas da Festa da Uva e contaram com o ativo apoio do casal Frantz.

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Elisabeth, embora com a grande participação do marido, desenvolveu outra atividade como a líder principal do Departamento Cultural do Clube Juvenil ao longo de oito anos (19982006), sendo provavelmente a mais longeva diretora deste setor na história do clube. Além de promover o lançamento de livros, concertos, exposições de arte, palestras e seminários, sua contribuição de maior relevo foi idealizar e executar, com seus colaboradores – especialmente as historiadoras Cleodes Ribeiro, Heloísa Bergamaschi e Luiza Iotti, a museóloga Tânia Tonet, o fotógrafo Joel Giordani, o jornalista Charles Tonet, o escritor José Clemente Pozenato e o arquiteto Renato Solio – um grande projeto de organização do seu acervo histórico. 1857 Este trabalho, financiado pela Lei de Incentivo à Cultura, recuperou e sistematizou grande parte da documentação de um clube cuja história se confunde com a história de Caxias, acompanhado de uma pesquisa histórica que colocou o material em seu devido contexto, criando um banco de dados digital e físico que possibilitou o fácil acesso desse material a pesquisadores e futuras Diretorias. Os resultados foram apresentados ao público em um grande ciclo de exposições e eventos, desenvolvido ao longo de quatro gestões, e intitulado Uma Peça em Quatro Atos, subdivididos em Cenas e Sequências, com cada seção enfocando um aspecto distinto.1858 1859

Alguns documentos recuperados no projeto de resgate do histórico do Juvenil organizado por Elisabeth. Acima o hino do clube publicado no convite para a inauguração da primeira sede própria em 1928; abaixo, à esquerda, foto do time de futebol do Juvenil em seu campo próprio na década de 20, e à direita, foto de um jantar oferecido ao presidente da República Getúlio Vargas na festa da Uva de 1954.

1857

“Centenário: Acervo Fotográfico resgata um século de história”. Informativo Clube Juvenil, dez/2001 Clube Juvenil. Uma Peça em Quatro Atos. CD, 2005. 1859 Informativo Clube Juvenil, dez/2004 1858

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Este vasto projeto materializou em parte os objetivos inciais do Departamento de Acervo e Pesquisa Histórica, criado na gestão de Flávio Aguzzoli (1989-1990), e teve impulso na gestão de Milton Comazzetto (1999-2000), com a criação em 1999 da Comissão do Centenário, presidida por Elisabeth e Murillo, preparando as comemorações previstas para marcar os 100 anos de vida do Juvenil em 2005.1860 Na gestão de Claudemir Tedesco (2001-2002) foi montado o Primeiro Ato: O Personagem e o Cenário, mostrando a importância do Personagem (o clube) em seu Cenário (a cidade). Foram apresentadas exposições na Sede Social, no Centro de Convivência da UCS, no Shopping Iguatemi e no Centro Cultural Dr. Henrique Ordovás Filho e foi realizada a primeira etapa da recuperação de documentos, ao mesmo tempo iniciando o resgate e registro da memória oral do clube. 1861 Na gestão de Gelson Palavro (2003-2004) veio à luz ao Segundo Ato: O Baile, enfocando as atividades sociais e a influência do Juvenil na moda, na música e na cultura de Caxias, destacando os famosos bailes propriamente ditos. Foram recuperados cerca de 500 fotografias e documentos que estavam guardados em más condições e inacessíveis, apresentando parte dessas imagens em exposições na Sede Social, no Shopping Igatemi e no Centro de Convivência da UCS . Também ocorreram paralelamente apresentações de música, dança e performances. 1862 Na gestão de Carlos Bellini (2005-2006) foi enfim comemorado o centenário, apresentando o Terceiro Ato: A Obra e seus Autores, homenageando os antigos presidentes e suas realizações, junto com diversos eventos culturais. 1863 1864 1865

1860

Informativo Clube Juvenil (dez/2001), op. cit. Informativo Clube Juvenil (dez/2001), op. cit. 1862 “Uma Peça em Quatro Atos: Segundo Ato – O Baile”. Informativo Clube Juvenil, dez/2003 1863 “Centro de Cultura recebe 3º ato de exposição cultural”. Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Caxias do Sul, 11/05/2006 1864 De Lucena, Fabiana. “Programação Centro de Cultura para este mês”. Assessoria de Imprensa da Prefeitura Municipal de Caxias do Sul, 03/05/2006 1865 Frantz, Murillo Moacyr & Frantz, Elisabeth Ana Longhi. “Acervo Cultural Clube Juvenil: memória preservada”. In: Juvenews, 2007; XIV (5) 1861

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O Quarto Ato, que prevê o lançamento de um livro sintetizando os resultados, ainda está por ser finalizado, mas o projeto teve uma conclusão “provisória”, apresentando-se uma grande exposição montada no Shopping Iguatemi, paralela a palestras e ao lançamento de um CD e um DVD que documentaram o progresso do projeto até então, junto com festejos integrados à comemoração do centenário, que contaram com a participação da Orquestra Sinfônica de Caxias e apresentações de dança e performances.1866

1866

Frantz, Elisabeth Longhi. “Gran Finale”. In: Juvenews, 2006; XIII (4)

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O projeto teve excelente acolhida na comunidade, que reconhece a importância do clube.1867 Pelo relevante trabalho realizado, Elisabeth recebeu um cartão de prata da Presidência, e foi objeto de menção e agradecimento especial do presidente da Câmara de Vereadores quando o clube foi homenageado em Sessão Solene por ocasião do seu centenário.1868 No ano de 2010 o presidente Renan Ribeiro Mendes a convidou para colaborar novamente, montando uma exposição de caráter histórico no saguão da Sede Social, um dos eventos associados ao grandioso Baile Municipal, que assinalou ao mesmo tempo o centenário da elevação da vila de Caxias à categoria de cidade, os 105 anos do clube e os 100 anos da chegada do trem, um dos acontecimentos mais marcantes das primeiras décadas de vida da comunidade. O Baile foi organizado em parceria com a Prefeitura e teve o caráter de solenidade oficial, contando com a presença do prefeito, do vice e várias outras autoridades, entre políticos e representantes de associações civis e do alto empresariado.1869 1870 Na segunda gestão Mendes (2011-2012) deu outra importante contribuição estruturando e montando o Espaço de Memória, um pequeno museu instalado na Sede Social, abrigando os arquivos do clube e uma exposição permanente de objetos, fotografias e documentos. A atividade contou com o apoio principal de Liliana Heinrichs, diretora do Departamento de Patrimônio Histórico da Prefeitura, e do arquiteto Renato Solio, parceiros constantes nas outras iniciativas de Elisabeth na chefia do Departamento Cultural. Em reconhecimento deste trabalho, Elisabeth recebeu outra placa de prata da Presidência.

1867

“Mostra de documentos no Iguatemi Caxias integra festejos do centenário do Clube Juvenil, um dos mais tradicionais da cidade”. Pioneiro, 12/04/2006 1868 Câmara de Vereadores de Caxias do Sul. Ata da 6ª Sessão Solene da XIV Legislatura, 23/06/2005 1869 ”Baile Municipal”. In: Juvenews, 2010; XVIII (2):12-13 1870 Blume, Gilberto. “Sociedade em Festa”. Pioneiro, 26-27/06/2010

634

635 Murillo e Elisabeth destacados entre as personalidades presentes no Baile Municipal. Página do informativo Juvenews, 2010; XVIII (2):13

No meio de todas essas tarefas, seu interesse pela arte a levou a se associar ao Núcleo de Artes Visuais (NAVI), vindo a tornar-se presidente no período 1995-1997.1871 1872 O NAVI tem uma sede com oficinas bem equipadas e espaço de exposições, desenvolve regularmente atividades variadas, incluindo cursos, palestras e exposições, integrando grande número de artistas e instituições de toda a região e articulando contatos até com o exterior, deixando uma forte marca na cidade desde sua origem.1873 1874 1875 1876 Entre as promoções mais relevantes de sua gestão destacam-se a inédita integração do Núcleo à Festa Nacional da Uva em 1996, apresentando a grande exposição A América que Nós Fizemos no próprio Parque de Exposições, paralela ao lançamento do álbum de gravuras O Passado Revisitado; a participação na organização e na apresentação da grande mostra panorâmica da arte estadual Arte Sul 96 montada no Museu de Arte do Rio Grande do Sul em Porto Alegre, evento promovido pelo Instituto Estadual de Artes Visuais (IEAVI); o encaminhamento de um convênio com a UCS para livre acesso dos membros do NAVI às oficinas artísticas do Campus 8; a parceria com a Prefeitura para promoção da exposição outdoor Pinte Caxias através da publicação das imagens criadas em muros e tapumes da cidade no calendário ilustrado do Município, distribuído em todo o Brasil; a integração aos festejos oficiais comemorativos dos 120 anos da imigração, a celebração dos oito anos da entidade com uma grande exposição que marcou a inauguração do novo prédio da Câmara Municipal, paralela a uma mostra na UCS, e a participação na instalação da Coordenadoria Regional de Artes Visuais, órgão criado sob os auspícios do IEAVI para assessorar na discussão da política oficial do Estado para as artes, e cuja primeira reunião de todas as coordenadorias regionais do Rio Grande foi sediada pelo NAVI. 1877 A matéria na página seguinte dá uma pequena ideia da amplitude das atividades do Núcleo e sua grande penetração na vida comunitária. O Núcleo foi declarado de utilidade pública pela Municipalidade, e em 1999 seus 10 anos de existência foram comemorados em Sessão Solene da Câmara, quando Elisabeth foi lembrada com as outras presidentes, como “justa homenagem a quem colocou seus nomes a serviço da arte e do seu desenvolvimento”. Na ocasião, foi assinalado também que “o Núcleo de Artes Visuais é quem aniversaria, mas não temos dúvidas em afirmar que quem está de parabéns é Caxias do Sul, porque conta com este grupo de singular valor e importância. Parabéns a todos que fazem do NAVI esta gloriosa realidade. Os cumprimentos deste Poder Legislativo”. 1878 Na mesma oportunidade a reputada historiadora Cleodes Piazza Julio Ribeiro assim se referiu ao trabalho da entidade: “O que o NAVI tem feito ao longo de uma década [...] foi um processo educativo de valor transcendente: promoveu a educação do gosto entre os cidadãos. Serviu-se de espaços consagrados, para mostrar o que de melhor estava sendo feito em arte contemporânea nesta cidade. Mais do que isso, criou ou fez nascer galerias em espaços insuspeitados, muitas delas fruto de cumplicidades de outras instituições, entidades, empresas e até mesmo dos ateliês de emoldurações. Por fim, dilatou o

1871

NAVI. NAVI 15 anos. Caxias do Sul: NAVI / Prefeitura Municipal, 2006 NAVI. Página oficial. 1873 “Núcleo de Artes Visuais promove a cultura regional”. Jornal do Comércio, 21/09/1995 1874 “A arte voltada para Caxias”. Pioneiro, 27/03/1997 1875 Sebben, Ademar Roberto. “Essencial”. Jornal do Comércio, 30/09/1996 1876 “A arte em evidência”. Pioneiro, 21/03/1997 1877 NAVI [Frantz, Elisabeth Ana Longhi & Garbin, Odete]. Relatório de Atividades, 1995-1997 1878 Câmara Municipal de Caxias do Sul. 70ª Sessão Extraordinária, de caráter Solene, em homenagem aos 10 anos do Núcleo de Artes Visuais, no 3º Período da XII Legislatura, 29/04/1999 1872

636

conceito de sala de exposições e elegeu a própria cidade como seu equivalente, utilizando o que ela tem de mais acessório, impessoal e público: seus muros e tapumes. [...] O NAVI educou e educa para o estético, refinou e refina sensibilidades, tem mudado comportamentos, socializado conhecimentos, divulgado novos conceitos em relação ao objeto de arte. O NAVI tem contribuído para a formação de um público cada vez mais amplo que é capaz de valorizar o trabalho artístico e de decodificar a linguagem das artes, desde as manifestações mais formais até da mais desafiadora vanguarda”.1879

1879

Câmara Municipal de Caxias do Sul, 29/04/1999, op. cit.

637

Em cerimônia no Centro Cultural Dr. Henrique Ordovás Filho em 2013, novamente o trabalho das presidentes foi elogiado, e o secretário da Cultura, Antonio Feldmann, agradeceu a contribuição do NAVI no desenvolvimento cultural de Caxias do Sul e lembrou sua ajuda em um dos momentos mais dramáticos da história artística da cidade: “Foi o NAVI quem se mobilizou e captou recursos para a restauração do painel do Aldo Locatelli, no hoje Centro Administrativo Municipal, que foi destruído em um incêndio”. 1880

Cerimônia no Centro Cultural Ordovás em homenagem ao NAVI e seus ex-presidentes. Foto da Prefeitura Municipal, fotógrafo Antonio Lorenzett, 7 de novembro de 2013. Os ex-presidentes ladeiam o secretário da Cultura, que está ao centro. Elisabeth é a segunda pessoa a partir da direita.

Foi também uma das refundadoras da Liga Feminina de Combate ao Câncer na segunda etapa da vida desta associação, sendo sua secretária por três gestões. O trabalho da Liga já foi descrito na seção sobre sua irmã Beatriz. Além disso tudo, com o marido, Elisabeth participa do Rotary Club Cinquentenário,1881 e com ele presidiu o clube duas vezes, coordenou os festejos dos 35 anos e secretariou a Governadoria do Distrito 4700. 1882 1883 No âmbito da atuação feminina do Rotary, foi presidente da Casa da Amizade das Esposas de Rotarianos e, neste cargo, integrou a comissão que fundou a Sociedade Caxiense de Rotarys Clubes de Caxias do Sul, adquirindo, com os demais clubes, sede própria para a entidade.1884 1885 Sua gestão desenvolveu muitas atividades culturais, como palestras e exposições de arte, e beneficentes, contemplando organismos como a Associação dos Clubes de Mães, o projeto Casa do Menor, creches, hospitais, centros ocupacionais, o Abrigo da Velhice, a Associação de Pais e Amigos de Deficientes Visuais, e várias outras entidades.1886

1880

“Prefeito em Exercício prestigia a comemoração dos 25 anos do NAVI”. Departamento de Comunicação da Secretaria da Cultura, 07/11/2013 1881 Pulita, João. “Circuito”. Pioneiro, 22/11/2011 1882 “Rotary Cinquentenário 35 Anos”. Folha de Hoje, 07/05/1993 1883 Gargioni, Paulo. “Incidente, Miss Brasil e Rotary”. Folha de Hoje, 01/07/1994 1884 Gargioni, Paulo “Liga, Porcelana e 3º Grupo”. Pioneiro, 07-08/07/1990 1885 SOCARSUL. Protocolo de Aquisição da Sede Própria, 07/07/1989 1886 Casa da Amizade das Esposas dos Rotarianos de Caxias do Sul. Relatório de Atividades, 30/06/1990

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639 Festa de Natal da Casa da Amizade para crianças carentes. Elisabeth está ao centro, de vestido branco.

640

Paulo Gargioni. “Quinta na Primeira Classe”. Folha de Hoje, 21/10/1993

Por todas as suas atividades comunitárias desde sua juventude, Elisabeth foi citada pelo vereador Francisco Spiandorello em Sessão Solene da Câmara entre as personalidades que exerceram “forte influência nos destinos da vida estudantil, universitária e também no futuro de Caxias do Sul”, sendo uma das lideranças caxienses “que, com expressão e marcante atuação, dinamizaram a Caxias em que hoje vivemos”.1887 É casada há mais de 50 anos com Murillo Moacyr Frantz, tendo os filhos Ricardo e Marcelo, todos já abordados no Volume I.

1887

Câmara Municipal de Caxias do Sul. 104ª Sessão Solene da XV Legislatura, 03/05/2012

641

1) Milton Frantz 2) Aluysio Nonnenmacher 3) Tania de Carvalho Longhi 4) Villi Longhi 5) Siloé Hainzenreder Longhi 6) Orestes Baratto 7) Romilda Longhi Baratto 8) Mariuccia Artico de Almeida 9) Ada Artico Tessari 10) Itala Artico 11) Anéris Artico Correa 12) Zila Parmeggiani 13) Maria Elisa Sebben Longhi 14) Vitor Longhi 15) Vera Longhi 16) Marcelo Frantz 17) Lucas Longhi 18) Flora Longhi Mattana 19) Alcides Longhi 20) Beatriz Longhi Nonnenmacher 21) Leda Artico Longhi 22) Silvia Gedoz Artico 23) Murillo Frantz 24) Elisabeth Longhi Frantz 25) Karine Longhi 26) Gisele Longhi 27) Grasiela Longhi 28) Roberto Longhi 29) Ricardo Frantz 30) Christian Longhi 31) Dóris Maggi 32) Leonardo Longhi

642



643

Isso não é um epílogo

Ricos ou pobres, nobres ou plebeus, ao chegarem a Caxias do Sul os imigrantes não tinham nada diante de si senão uma floresta virgem para desbravar, e para complicar, não receberam toda a ajuda que lhes fora prometida, muitos tendo vindo iludidos com a lenda da Cocanha americana que os agentes da colonização faziam circular na Europa.1888 A tarefa foi literalmente espinhosa, pois a floresta que abriram, com um denso dossel de araucárias, deixa no solo um grosso tapete de galhos e folhas com espinhos finíssimos. Registros dos primeiros tempos falam de fome, epidemias, altas taxas de mortalidade, especialmente infantil,1889 e até, como já vimos, se verificaram períodos de grande inquietação social, mas os registros também falam de muita fé e muita união em torno de objetivos comuns. A fé, realmente, foi um dos grandes eixos estruturadores e o maior cimento social da comunidade, pois mesmo a língua original não era compartilhada por todos. A religião sim era uma só, e ela ligou a todos com um elo poderoso, um catolicismo tantas vezes ardente, que se revelou uma fonte de alegria, força, consolo e inspiração, e também gerou uma grande quantidade de tradições, folclore, arte e arquitetura de características únicas. Na verdade, eles traziam uma cultura milenar de imensa sofisticação, e só faltavam condições materiais de expressá-la, condições que em breve seriam alcançadas.

A pungente rusticidade desta Pietà do fim do século XIX, procedente da zona rural, a tornou um dos ícones do Museu Municipal de Caxias, onde está acervada.

Vários historiadores já apontaram a forte solidariedade que uniu os colonos caxienses naqueles tempos de escassez e improvisos, e que foi fundamental para que a colônia prosperasse tão rapidamente como fez, tornando-se em meros cinquenta anos uma das maiores economias do estado, onde já havia até um teatro de ópera e uma grande Catedral decorada com talha dourada e estatuária de grande porte, o que não deixa de surpreender, diante das fortes agitações sociais e conflitos políticos das primeiras décadas.

1888

Maria, Ilva. “Paese de Cuccagna. Tradições locais e regionais: a colonização italiana no alto da serra, sul do Brasil”. In: Organon, 2004; 18 (37) 1889 Seyferth, Giralda. “As identidades dos imigrantes e o melting potnacional”. In: Horizontes Antropológicos, 2000; 16 (14)

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Detalhe do altar mor da Catedral, obra de Francisco Meneguzzo da década de 10, quando a cidade já enriquecia. Partindo de toscos esboços de arte feitos a facão e canivete, em trinta anos o gótico europeu se manifestava com sofisticação através de vários talentosos artífices. Alguns deles vieram para cá já com um sólido treinamento artístico, como foi o caso de Tarquinio Zambelli e seus filhos. Com Stangherlin e Meneguzzo, foram os pioneiros da arte caxiense. Ao mesmo tempo, sobrevive importante acervo de arte eminentemente popular.

Porém, como mostraram muitas dessas vidas que acabei de descrever, e como reza um velho ditado, a coroa não se ganha sem a cruz, e a bibliografia, assim como as lembranças, falam também de dores, de perdas e fracassos, de decepções e desilusões, de renúncias e de sacrifícios, pois se os pioneiros foram tantas vezes heroicos, nunca deixaram de ser humanos, e alguns, perdendo-se nos descaminhos da vida, chegaram até a abandonar sua humanidade, tornando-se brutos, egoístas, ladrões, trapaceiros e mesmo homicidas. Se por um lado a história da imigração tem se prestado ao discurso ufanista e étnico, exaltando demasiado a bravura dos imigrantes e mais um rol de qualidades incomuns a eles atribuídas, criando mitos e levando a novas distorções e preconceitos, querer minimizar a importância de todos os mitos de que a História foi revestida, que são muito do que lhe dá cor e calor, não me parece ser entender bem essa História, pois ela é entretecida também de mitos, de sonhos, de esperanças e também de ilusões, sempre foi, e em elevado grau, e através deles o abstrato se tornou realidades concretas e criou importantes identidades e modelos, definindo certos caminhos para a sociedade e descartando outros. Como entender a própria imigração se não a pensamos como a aposta de todas as fichas em um grande sonho idealista, numa verdadeira utopia? E, também, não havia a opção de voltar atrás. Precisava dar certo.

645

A capa do primeiro da série de grandes álbuns comemorativos de datas marcantes na história de Caxias, onde é reafirmada a importância da contribuição dos imigrantes para o desenvolvimento da cidade e do estado. A composição da capa é típica do período ufanista do início do século XX – uma figura idealizada coroada de louros tendo aos pés um capitel clássico, livros e uma paleta de pintura com pincéis, símbolos de uma cultura e uma história milenares, uma âncora, referente à travessia marítima, mais uma bigorna, malho e roda dentada, símbolos da indústria, ao lado de foice, enxada e pá, instrumentos do trabalho na terra, cujos frutos a figura vitoriosa e soberana sustenta no alto, contra duas faixas cruzadas com as cores (aqui já 646 e o apagadas) do Brasil e da Itália a representar a união entre as duas nações – e por si mostra a ligação com o passado europeu papel civilizador do qual a sociedade local se imbuiu e através do qual se auto-retratou, muitas vezes de maneira grandiloquente, sendo esta auto-imagem magnificada ainda uma parte importante da identidade cultural dos italianos no Rio Grande do Sul.

E até que deu. Fazer uma cidade tão próspera em tão pouco tempo não pode ser considerado resultado banal. Eu, como tantos outros, que temos essa herança no próprio sangue e convivemos com alguns dos antigos pioneiros, sabemos que, para nós, pelo menos, o que eles fizeram foi muito significativo. Além disso, é natural do ser humano celebrar o que percebe como conquistas, e não precisamos com isso minimizar as conquistas alheias, pois aqui a ideia não é esta. Depois de ter tataravós e bisavós enriquecidos, o destino se encarregou de dissipar essas fortunas, seja na sucessiva divisão do patrimônio entre os filhos, em geral numerosos, ou nos azares dos negócios. A geração dos meus pais teve de lutar muito e conseguiu estabelecer um padrão de vida confortável, mas a riqueza que a família saboreou antes nunca mais deu sinal de vida. Praticamente todos os meus tios e tias, inclusive minha mãe, se tornaram professores do Estado, cronicamente mal pagos. Na minha infância, ainda se ia às procissões da Capela do Santo Sepulcro, se corria pelo campo de margaridas ao fundo da Igreja de São Romédio, lugar que tem um dom Angelina Sartori Paternoster Costamilan e a filha Nelly especial, e mais importante de tudo, uma bisavó que viera da Itália, pioneiríssima, ainda vivia, ainda se falava italiano em sua casa, se comia a polenta, o galeto, as massas, os articiochi, a sopa de agnolini, o radicci com pancetta e a carne lessa com crem como antigamente, e se contava histórias sobre os antepassados e sobre o que fora aquele período inicial, de duras privações, mas também de momentos de glória. Mas a família se expande sem cessar, o contato com os primos mais distantes foi se perdendo, e as memórias foram se apagando também. Por isso às vezes é bom fazer voltar o filme. É uma verdadeira saga, e a propaganda, embora muitas vezes distorcida e seletiva, não exagera no que diz ter sido um gigantesco, dramático e visionário esforço todo o processo colonizador, o qual não por acaso já produziu tanta literatura acadêmica e tantos filmes e romances, e mesmo tanta sátira e humor, mas às vezes não parece real. Cento e tantos anos já tornam tudo distante... Mas é, e às vezes uma foto, uma frase, aperta o botão do elo atávico, e se entende que a vida vem de muito longe, que não é um acaso, um acidente, que houve sempre propósito.

647

Ao centro Angela e Giovanni Vittore de Lazzer, à direita Stella e Antonio de Lazzer, à esquerda Maria e Humberto Previdi. Ao fundo a Estrada Conselheiro Dantas e o casarão da família, onde mais tarde funcionou o Grande Baratilho de Antonio e Stella. Coleção de Victor Hugo de Lazzer.

.

Mesmo se eu não fosse da família a que pertenço eu a admiraria. Não porque alguns foram ricos e tiveram ancestrais na nobreza, embora isso tenha seu lado de fascínio, mas antes pelo inverso – porque muitos foram pobres agricultores e pequenos empreendedores, aqueles que deram de comer a todos os outros e lançaram os fundamentos da posterior riqueza da cidade –, e porque foram ousados, inventivos, incansáveis e amorosos, generosos e agregadores, além de serem muito divertidos, o que é também fundamental. Olhando para essas pessoas, eu me sinto pequeno. Apesar das suas contradições e fraquezas, essa gente em geral foi adepta da vida em família e da cooperação em sociedade, e desde que chegou tem sido bem vista pelos seus concidadãos, que lhe têm confiado atribuições de responsabilidade e a homenageado de várias maneiras. Parece-me que isso vale o registro. Ao mesmo tempo, os sinais visíveis de toda essa rica História local – os documentos, os edifícios, as estátuas e pinturas, tanta arte e folclore – continuam sendo desvalorizados, perdidos, destruídos, roubados, descaracterizados e demolidos em nosso meio, na maior parte das vezes com o beneplácito, ou pela impotência, das autoridades encarregadas inatamente de sua proteção e fomento.

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Os modelos antigos não precisam ser todos imitados no presente, mas os elos de continuidade com o passado devem sim ser preservados em nome do conhecimento da História e da coesão da sociedade, como já o demonstraram tantos pesquisadores, e os testemunhos materiais, assim como os imateriais, são elos vitais, portadores como são de informações e significados únicos e insubstituíveis.1890 1891 Falando especificamente sobre o patrimônio edificado, mas descrevendo um fenômeno que afeta todo o campo patrimonial, diz Marcelo Caon: “Após a implantação de instrumentos legais para preservação do patrimônio edificado, a postura preservacionista ganhou força, embora fosse necessário criar uma consciência coletiva na comunidade, pois a lei não era suficiente para garantir a permanência da herança edificada. Se os homens, munidos de valores contemporâneos, agem sobre determinadas circunstâncias, a aplicabilidade da lei teria que receber o aval da comunidade. Por conseguinte, a preservação de Caxias do Sul nunca foi um debate pacífico e contínuo [...] O assentimento da população, políticos, jornalistas ampliou-se e ganhou contorno maior nos anos 2000, já que dificilmente alguma edificação pode sofrer intervenção sem amplo debate público. Esse processo despertou uma parcela pequena [grifo meu] da memória coletiva local, pois as edificações que não estão nos inventários oficiais continuam a ser destruídas, Ver nota 1892 o que de certa forma leva a apontar que os descendentes dos colonos pouco se preocupam em manter os registros dos seus, seja como forma de afirmação do mito local, seja como fonte para pensar a sociedade futura ou ainda como garantia da identidade ante a veloz fragmentação do mundo hipermoderno [...] Algumas edificações estão em precário estado de conservação, enquanto outras passam por um processo de ‘revitalização’ que descaracteriza e apazigúa seu cenário, transformando-o em locais de comércio, casas noturnas e o locus de turismo que, em última análise, são enquadrados na indústria cultural”.1893 A Igreja em particular tem sido a responsável por grande destruição do patrimônio histórico local, e seria bom lembrar e relembrar que a Igreja é uma instituição que sempre dependeu da benemerência da sociedade para florescer, sendo a depositária de inestimável acervo de arte e arquitetura invariavelmente financiado pela população, mas tem se caracterizado por permitir a dispersão dos seus acervos e a degradação ou destruição de muita arquitetura sacra da região, interferindo em suas decorações históricas e adotado a perniciosa prática das “revitalizações”, que suprimem os traços originais dos edifícios e acrescentam modernismos injustificáveis, uma prática condenada por todas as convenções internacionais referentes ao patrimônio, pois desvirtuam os testemunhos materiais da História, apagando partes sobre partes da memória coletiva e criando uma “História” artificial. Casos como a repintura dos murais históricos de Antonio Cremonese no Santuário de Caravaggio, que é Patrimônio Histórico Estadual, a redecoração do interior da Catedral e a mutilação do seu altar-mor e do seu púlpito neogóticos, que não tinham paralelos em todo o estado, são casos para ficar gravados, não como exemplos de boas práticas conservativas e de respeito pelo legado ancestral e pelo que a sociedade ofereceu à Igreja de boa fé, mas como 1890

Museu e Arquivo Histórico Municipal. “A cidade ficou igual a tantas outras… As diferenças?” In: Boletim Memória, 1993; (16) 1891 Cerqueira, Fábio Vergara. “Patrimônio Cultural, Escola, Cidadania e Desenvolvimento Sustentável”. In: Diálogos, 2005; 9 (1): 91-109 1892 De fato, mesmo as que estão não têm qualquer garantia sólida de preservação, pois o próprio poder público vem autorizando intervenções arbitrárias não apenas em imóveis inventariados, mas também nos tombados, como nos recentes casos dos prédios históricos da Metalúrgica Eberle e no portal da antiga Cantina Antunes. 1893 Caon, Marcelo. Memória e Cidade: o processo de preservação do patrimônio histórico edificado em Caxias do Sul 1974-1994. Dissertação de Mestrado. PUCRS, 2010

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Acima, Caxias em 1910. Foto Mancuso, AHM. Abaixo, vista recente do Centro Histórico de Caxias. Foto de Eng.químico.cxs em Skycraper City

monumentos do seu descaso e ignorância, pois o próprio Vaticano reprova tais atitudes e reconhece a importância central do patrimônio como instrumento privilegiado de evangelização e de proteção e fomento da identidade sociocultural das comunidades que lhe deram origem.1894 Enfim... Hoje Caxias, assim como muitas outras, é uma cidade de quase puro concreto, poluída, barulhenta, engarrafada, enclausurada e violenta. Günter Weimer, estudando essa transformação, disse que se antes a cidade era... “[...] aberta, florida e ajardinada, ao fim ela se apresentou gradeada, cercada, onde até mesmo cercas eletrificadas, que no passado se constituíram em símbolo de campos de concentração, passaram a ser instaladas em nome da busca de uma pretensa garantia de integridade física. Elas passaram a ser talvez o maior indicador do comprometimento da qualidade de vida dentro dos limites urbanos. Esta situação caótica acabaria por trazer ao período seguinte problemas cada vez mais graves diante dos quais o próprio Poder Público haveria de capitular”.1895

1894

Pontifical Commission for the Conservation of the Artistic and Historical Patrimony of the Church. Circular letter regarding the cultural and pastoral training of future priests in their upcoming responsibilities concerning the artistic and historic heritage of the Church. Rome, 15/10/1992 1895 Weimer, Günter. “As cidades da colonização italiana no contexto da urbanização do Rio Grande do Sul”. In: Giron, Loraine Slomp & Nascimento, Roberto Revelino Fogaça do. Caxias Centenária. EdUCS, 2000

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Aquele contexto do imigrante, aquela vida dos primórdios da colônia, foi muito bela em certos aspectos, pois havia um forte senso de cooperação social, tomava-se banho no arroio do Tega e, como lembrou Graciema Paternoster, naquele tempo ia-se dormir sem precisar trancar as portas. Por outro lado, bem depois da primeira leva de imigrantes – que basicamente encerrou quando iniciou a I Grande Guerra –, na época da revolução nos costumes dos anos 60, a cidade já começava a receber um vasto contingente populacional de outras partes do Brasil e do estado, passando de 54 mil habitantes em 1950 para 180 mil em 19751896 e chegando a 2011, segundo o último Censo, com a explosiva marca de 465 mil habitantes, uma população nova que teve grande dificuldade de ser aceita e se integrar a pleno à sociedade bastante xenófoba e endogâmica que ali se formara e florescera fortemente unida antes de sua chegada, mas que em termos numéricos suplantou rápida e largamente aquele grupo fundador e passou a definir novos rumos para o conjunto social, tendo outras origens étnicas e culturais, outras expectativas e necessidades, e fazendo outros tipos de demandas. 1897 Quem, como eu, que ainda pegou nos anos 60 e 70 o resto daquele tempo descrito por Graciema, sabe o quão vasta e sentida foi a perda daquele espírito “familiar” que até aquela época existia na cidade, na qual, como costuma dizer minha tia Beatriz Longhi, “todo mundo era da família”, e, sendo todos “da família”, não havia “estranhos”, e não havia medo. De fato, até ali a maioria das famílias vivendo na área urbana mais central acabaram ficando aparentadas, pelo menos de longe, pelos casamentos sucessivos num grupo original relativamente reduzido, assim como ocorreu na comunidade de São Romédio, que evoluiu um pouco à parte da Sede Dante, e lá, como se sabe, todas as famílias pioneiras, cada casal quase sempre com muitos filhos, acabaram casando entre si e virando parentes. Como informam os registros europeus, muitas já eram aparentadas mesmo antes de emigrarem. Apesar de tão modernizada, Caxias ainda tem uma cultura de base bastante conservadora e dependente da elite, que tende a ser conservadora e orgulhosa do seu passado e das tradições. Diz Miriam de Oliveira Santos: “Os descendentes de imigrantes italianos não são mais a maioria no total da população, mas continuam sendo a maioria nas classes mais altas: são eles os donos da maioria das indústrias e grandes lojas da cidade. As famílias italianas são as famílias ‘tradicionais’ da cidade, os fundadores dos clubes, as Damas de Caridade, enfim, para usar um termo que embora desgastado é bastante preciso, formam a ‘elite’ local”. 1898 Mas, é claro, se fôssemos hoje derrubar uma nova floresta e constituir uma nova sociedade, provavelmente não seria avisado imitar os pioneiros em tudo. Poderíamos, por exemplo, começar não derrubando toda a floresta, como eles praticamente fizeram, nem transformando o Tega em um esgoto a céu aberto, nem permitindo que a desigualdade entre as classes se tornasse tão acentuada a ponto de forçar tanta gente a recorrer à violência para simplesmente poder sobreviver.

1896

Giron (1977), op. cit. Weimer, op. cit. 1898 Santos, Miriam de Oliveira & Zanini, Miriam Catarina Chitolina. “Especificidades da Identidade de Descendentes de Italianos no Sul do Brasil: breve análise das regiões de Caxias do Sul e Santa Maria”. In: Antropolítica, 2009; 27 (2):21-41 1897

651

Estampa do Sagrado Coração de Maria que pertenceu a Ema e Augusto Artico e depois à sua filha Itala, e que hoje está comigo.

E entre as suas contradições, o imigrante também sempre teve mil conflitos psicológicos jamais declarados ou sequer entendidos, e nunca resolvidos senão ao custo de rios de lágrimas, como parece ser o dom especial da raça latina, ser dramático, exagerado, e gostar do martírio, como amava tanto Jesus e sua cruz e suas chagas, e como ficou tão bem descrito n’O Quatrilho de Pozenato, entendendo como algo condenável o prazer natural e o que está fora dos planos prescritos pela hierarquia social, em que pese o manifesto amor ao progresso dessa hierarquia. A moral cristã, a moral trabalhadora, a moral familiar, claro, sempre a estragar a festinha do diabo... O diabo para eles, católicos devotos, ou pelo menos declarados, para nós, largamente profanizados, é o aceitável presente, onde já não é admissível, por exemplo, pensar que vamos nos arruinar moralmente ou que vamos parar no Inferno se nos separarmos do marido ou se formos gays. 652

É difícil prever o que as novas gerações farão com as tradições e valores dos seus ancestrais e com o escasso patrimônio histórico que ainda sobrevive sob essa insaciável fome de progresso a todo custo que caracteriza tanto Caxias quanto toda a civilização ocidental contemporânea. Eu mesmo, que herdei e aprecio tantas dessas tradições, muitas vezes não sei o que fazer com elas, e os mais jovens parecem saber ainda menos. Bem, parece que algumas tradições têm mesmo que morrer, pois aquelas tradições, que hoje nos preocupamos em estudar e resgatar, aliás, como é preciso para pelo menos termos uma informação histórica decente, além de belezas e saudades inegáveis nos legaram estereótipos culturais que já perderam sua função, e, também, como decorrência natural, um mundo à beira da exaustão, o qual, mesmo com todo o conhecimento científico acumulado em tempos recentes, estamos dando um jeito de piorar por nossa própria conta. Se esta florescente cidade hoje pode ser considerada de certa forma um grande sucesso, como tem sido amiúde descrita e proclamada na imprensa e pelos órgãos oficiais, por outro lado, assim como ocorre em grande parte do mundo, algo deu muito errado... E agora? Para onde vamos? A História deve ter algo a nos dizer a respeito, que precisamos entender melhor, e urgente. Talvez coisas boas e necessárias para hoje e para amanhã também tenham sido deixadas para trás.

653 Luiz, Pedro, João e Francisco, filhos de Pietro Pezzi e Teresa Tomasoni. Foto em Tessari, op. cit.

Estampa do início do século XX que decorava a casa de Ema e Augusto Artico. Um símbolo da fartura que os imigrantes esperavam conhecer no Brasil.

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...deixei Este padrão ao pé do areal moreno E para diante naveguei. A alma é divina e a obra é imperfeita. Este padrão sinala ao vento e aos céus Que, da obra ousada, é minha a parte feita: O por-fazer é só com Deus. . – Fernando Pessoa. In: Mensagem: III Padrão

Praza a Deus derramar suas bênçãos sobre minha família, sobre a ilustre cidade de Caxias do Sul e toda sua gente, e conceder-lhes Sua proteção, força, sustento, alegria e sabedoria, para que sigam no caminho do Bem e da Virtude, evitando as armadilhas e perigos da vida; que vele por todos os descendentes dos pioneiros, e que o seu nobre exemplo de coragem, honradez e dedicação ao trabalhado e à comunidade permaneça vivo para inspirar as gerações vindouras nos tempos difíceis que se aproximam.

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