CULTIVO DE Artemia sp. EM CONDIÇÕES LABORATORIAIS

June 19, 2017 | Autor: Sávio Guerreiro | Categoria: Artemia, Artemia salina, Artemia Culture
Share Embed


Descrição do Produto

CULTIVO DE Artemia sp. EM CONDIÇÕES LABORATORIAIS

Sávio Lucas de Matos GUERREIRO¹; Nuno Filipe Alves Correia de MELO²,
Glauber David Almeida PALHETA2, Raimundo Aderson Lobão de SOUZA2 Rodrigo
TAKATA2,

Resumo
O cultivo intensivo do microcrustáceo Artemia sp. é uma atividade
largamente explorada em alguns países com êxito, no Brasil esta atividade é
pouco expressiva. O presente trabalho teve como objetivo padronizar
tecnologia do cultivo de Artemia sp. em regiões distantes do mar, por meio
de testes de alimentação, temperatura, salinidade e tipos de sal (sal comum
NaCl ou sal marinho). No primeiro experimento foi avaliado os alimentos
fermento biológico, farelo de soja, farelo de Trigo, farelo de milho,
farelo de aveia, sendo que, nesse caso o farelo de aveia a melhor opção. As
temperaturas entre 25 e 29°C e as salinidades de 30 a 40 g de sal/L foram
as que proporcionaram maior sobrevivência aos animais. Ambos os tipos de
sal foram viáveis na produção de juvenis de Artemia.


Palavra chave: Dieta. Temperatura. Salinidade.

Introdução
A utilização dos náuplios de Artemia como alimento vivo na
larvicultura de peixes de água doce tem demonstrado ser excelente
alternativa para aumentar a sobrevivência e o desempenho das larvas
(JOMORI, et al., 2003). Porém, esse item representa a maior parte dos
custos de produção na larvicultura intensiva. Considerando-se que os
náuplios de Artemia recém eclodidos possuem tamanho médio de 250 µm, o
aumento de seu tamanho e biomassa poderia diminuir a quantidade de náuplios
necessários para alimentar as larvas, consequentemente diminuindo os custos
com o alimento vivo (ABELIN et al., 1991; NAESSENS et al., 1995). Outro
aspecto importante é o ajuste do tamanho da partícula (alimento vivo) com o
tamanho da boca das larvas e sua capacidade de ingerir o alimento.
O cultivo de Artemia envolve diversos aspectos; dentre estes, as
condições físicas e químicas do ambiente e o tipo de dieta são fundamentais
para a produção massiva de Artemia. Já existem estudos que avaliaram o
efeito da temperatura para a produção de juvenis e adultos de Artemia
(NAEGEL, 1999), e a combinação de temperatura com pressão de oxigênio e
média de consumo de oxigênio em adultos de Artemia (VARO, 1998).
O uso de alimento vivo para a aquicultura reflete diretamente na
produção de Artemia. Este microcrustáceo pertence a classe Anostraca e é
encontrado em todas as partes do mundo. Além de ter sua importância em
teste de toxidade de extratos de plantas, a Artemia tem sua maior demanda
para a alimentação de larvas em sistema intensivo de larvicultura (PORTELLA
et al. 2012).
Para o cultivo da Artemia é necessário analisar diversos aspectos
físicos e químicos do ambiente. Dessa forma, o presente trabalho teve como
objetivo padronizar técnica simples de cultivo de Artemia em laboratório,
avaliando o alimento, salinidade, temperatura e o tipo de sal no cultivo da
Artemia franciscana.

Material e Métodos
O presente experimento foi desenvolvido no Laboratório de Aquicultura
Tropical-LabAqrat, do Instituto Sócio Ambiental de Recursos Hídricos- ISARH
pertencente a Universidade Federal Rural da Amazônia-UFRA.
Os cistos de Artemia franciscana foram adquiridos em uma empresa
nacional produtora de cistos. Os náuplios foram eclodidos em água
salinizada a 30 g de sal/L, com aeração artificial constante, temperatura
controlada a 30°C, por um período de 24h. A alimentação foi dividida
durante os experimentos. Na primeira administrou-se 0,2g/L de alimento até
o 6º dia experimental. A partir do 7º dia administrou-se 0,35g/L e essa
quantidade foi mantida até o final dos experimentos. Utilizaram-se aquários
de polietileno em forma cilíndrico-cônica, apresentando capacidade total 2
litros e volume útil de 1,5 litros. Os náuplios foram estocados na
densidade de 6 náuplios/ ml em cada aquário. A temperatura da água foi
mantida constante por meio de termostatos, sendo aferida diariamente com
aparelho multiparâmetro Hanna modelo 82023D50270F.
Para o primeiro experimento foram testadas cinco dietas, sendo que as
condições físicas e químicas do ambientes foram mantidas em torno de 30°C e
salinidade em 30 g de sal/L. O experimento foi conduzido em delineamento
inteiramente casualizado, apresentando cinco tratamentos (alimentos) com
quatro réplicas cada, por um período de 10 dias. Os tratamentos testados
foram: 1- Fermento biológico, 2- Farelo de soja, 3- Farelo de Trigo, 4-
Farelo de milho, 5- Farelo de aveia.
A água foi salinizada artificialmente por meio de sal comum não
iodado e os níveis aferidos com refratômetro de precisão (Figura 3). A
renovação de água foi diária e de aproximadamente 50%, utilizando um filtro
de 17 µm para evitar a sucção dos náuplios.
No segundo experimento utilizou-se a estrutura similar a do primeiro
experimento, sendo que neste a Artemia foi submetida a diferentes
temperaturas por um período de 10 dias. O experimento foi realizado em
delineamento inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e quatro
repetições. As temperaturas de 20, 25, 29 e 32°C foram escolhidas para
ensaio. O alimento utilizado nesse ensaio foi o que apresentou melhor
desempenho no Experimento 1. Os animais foram estocados em aquários de 1,5
litros de volume útil, na densidade de 6 náuplios/ml. As unidades
experimentais foram aeradas artificialmente e mantidas em salinidade de 30
g de sal/L.
A temperatura de cada tratamento foi mantida por meio de termostatos
que eram graduados de acordo com o a temperatura desejada no tratamento.
Para analisar se a graduação do termostato estava precisa utilizou-se uma
sonda multiparamétrica para a aferição da temperatura.
No terceiro experimento foi testado o cultivo de Artemia franciscana
em diferentes salinidades, sendo cultivado com o melhor alimento do
Experimento 1 e a temperatura mais adequada do Experimento 2. A densidade
de estocagem inicial foi de 6 náuplios/mL em aquários de 1,5 L de volume
útil, aerados artificialmente e por um período de 10 dias. O experimento
foi realizado em delineamento inteiramente casualizado, com quatro
tratamento (salinidades) e quatro repetições. As salinidades testadas
foram: 10, 20, 30, 40g de sal/L.
O quarto experimento foi realizado em delineamento inteiramente
casualizado, com dois tratamentos e seis repetições cada. Nesse experimento
foi testado dois tipos de sal para salinização da agua, o sal comum não
iodado (NaCl) e o sal marinho, utilizado em aquários marinhos. O
experimento foi realizado nas mesmas condições descritas anteriormente e
com a melhor dieta, temperatura e salinidade determinados nos Experimentos
1, 2 e 3, respectivamente.
Aos resultados de sobrevivência foram aplicados a análise de
variância (ANOVA) e teste de Tukey- Kramer, ao nível de 5% de
probabilidade, sendo os dados analisados pelo programa SAS System versão
8,0. Em todos os casos foram averiguadas as pressuposições de análises:
homocedasticidade (Levene's) e normalidade dos erros (Cramer Von Misses).

Resultados e Discussão
Os resultados observado no Experimento 1 mostraram que as dietas
influenciaram diretamente na sobrevivência da Artemia franciscana. O farelo
de milho e o de soja mostraram-se inadequados para o cultivo dos animais.
Entre os outros tratamentos, a aveia triturada foi o alimento que resultou
nas melhores taxas de sobrevivência (P0,05).

As temperaturas de 25 e 29 °C foram adequadas para o cultivo dos
juvenis de Artemia sp., não apresentando diferenças estatísticas entre os
mesmos. Não foi observado variações nas temperaturas pré-estabelecidas,
como pode ser constatado na Tabela 2. A sobrevivência da Artemia na
temperatura de 20ºC foi estatisticamente menor em comparação aos demais
tratamentos (Tabela 3). Estudos anteriores de cultivo da Artemia foram
realizados em temperaturas ao redor de 25ºC, com resultados satisfatórios
de crescimento e sobrevivência (Naegel, 1999; Takata, 2007). No entanto, a
sobrevivência desse microcrustáceo pode ocorrer em uma amplitude térmica de
15 a 55ºC (Clegg, 2000).

Tabela 2. Valores médios da temperatura ao longo do período experimental.
" " " " " " "
"Temperaturas "9 horas"12 "14 "18 "Temperatura "
"(°C) " "horas "horas "horas "média "
"20°C "20,6±0,"20,7±0,"20,9±0,"20,6±0,"20,7±0,1 "
" "5 "3 "5 "3 " "
"25°C "25,2±0,"25,3±0,"25,8±0,"25,3±0,"25,4±0,2 "
" "6 "4 "3 "2 " "
"29°C "29,3±0,"29,8±0,"29,9±0,"29,4±0,"29,6±0,2 "
" "2 "6 "8 "5 " "
"32°C "32,1±0,"32,3±0,"32,5±0,"32±0,3 "32,2±0,2 "
" "1 "2 "4 " " "
" " " " " " "


*Médias seguidas de mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo
teste de Tukey (P>0,05).

Tabela 3. Valores médios de sobrevivência de juvenis de Artemia sp. no
experimento em que foi testado diferentes temperaturas.
" " "
"Temperaturas "Sobrevivência média "
" "(nauplio/ml) "
"20°C "1,33±0,57 a "
"25°C "3,33±0,57 b "
"29°C "2,00 ±1,00 b "
"32°C "1,66±0,57 b "
" " "


*Médias seguidas de mesma letra não diferem estatisticamente
entre si pelo teste de Tukey (P>0,05).


No terceiro experimento constatou-se que a salinidade de 10g de sal/L
não foi adequada para o cultivo de juvenis de Artemia sp., nos quais foram
observados animais vivos até o sexto dia experimental. Na presente
pesquisa, os melhores resultados de sobrevivência foram obtidos nas
concentrações de 30 e 40 g de sal/L (Tabela 4).


Tabela 4. Valores médios de sobrevivência obtidas no experimento com
diferentes salinidades.
" " "
"Salinidades "Sobrevivência "
"(g/L) "média(nauplio/ml) "
"10 "* "
"20 "0,6±1,1 a "
"30 "4±1 b "
"40 "3,6±1,5 b "
" " "


* Tratamentos que não proporcionaram animais vivos ao final
do experimento. Médias seguidas de mesma letra não diferem
estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (P>0,05).

No quarto experimento objetivou-se testar o tipo de sal para o
cultivo da Artemia i.e. sal comum (sem adição de Iodo) e sal marinho (com
todos microelementos contidos na água do mar). Não foi observado diferença
estatística na sobrevivência das Artemias ao final de 10 dias de cultivo. A
presença dos demais microelementos no sal marinho não foi capaz de
proporcionar uma maior sobrevivência das Artemias, que mostra que esses
animais não são exigentes em relação as características químicas a água
quando comparado aos demais animais de origem marinha. Uma possível
explicação para a não diferença entre os sais comum e marinho é a presença
desses microelementos no alimento ofertado. Antes dos alimentos serem
fornecidos, esses foram triturados, peneirados (0,8 µm), dissolvidos em
água e fornecidos para as Artemias. Nesse processo, parte dos nutrientes
presente nos ingredientes podem ter sido incorporados na água e, como
consequência, suprindo as quantidades traço desses microelementos
necessários para o bom desenvolvimento da Artemia. Seguindo essa linha,
Takata (2007) obteve importantes resultados de sobrevivência e crescimento
no cultivo de Artemia franciscana utilizando água salinizada
artificialmente com sal comum (NaCl sem iodo).

Tabela 5. Valores médios de sobrevivência obtidas no experimento com
diferentes tipos de sal.
" " "
"Tipo de Sal "Sobrevivência(náupli"
" "os/ml) "
"Sal Comum "3,6±0,5 a "
"Sal Marinho "4,6±0,6 a "
" " "


*Médias seguidas de mesma letra não diferem estatisticamente
entre si pelo teste t de student.


Por meio dos experimentos supracitados pode-se padronizar um pacote
tecnológico na produção de Artemias sp. a partir de sua fase naupliar até a
fase de adulto com elevadas taxas de sobrevivência. Dessa forma, altas
taxas de produção de biomassa de Artemia podem ser atingidas para a
alimentação de organismos aquáticos, desde a fase larval até a adulto, como
exemplo os peixes ornamentais e os camarões. Este trabalho visou contribuir
em métodos para que a Artemia seja cultivada em condições laboratoriais,
sendo que tomou-se como base as características de seu habitat natural para
oferecer as condições necessárias para efetuar o processo de crescimento e
mantê-los para a alimentação das demais espécies que são criadas.

Conclusão
- A aveia triturada é a melhor opção para a alimentação da Artemia;
- O farelo de milho e soja não são recomentados no cultivo de Artemia
sp.;
- A salinidade adequada para o cultivo da Artemia sp. em água
salinizada artificialmente com NaCl (sem iodo) está entre 30 e 40 g de
sal/L;
- A salinidade de 10 g/L não é uma opção para o cultivo de Artemia
sp.;
- A temperatura adequada para o cultivo da Artemia sp. está entre 25
e 29°C;
- O sal comum e o sal marinho são opções adequadas para o cultivo da
Artemia sp

Referências

ABELIN, P.; TACKAERT, W.; SORGELOOS, P. Ensiled Artemia biomass: a
promision and practical feed for penaeid shrimp postlarvae. In: P. Lavens,
p. Sorgeloos, E. Jaspers and F. ollevier (Editors), Larvi'91 – Fish and
Crustacean Laviculture Symposium, European Aquaculture Society, Gent. P.
125-127, 1991.

JOMORI, R.K; CARNEIRO, D.J; MALHEIROS, E.B.; PORTELLA, M.C. Growth and
survival of pacu Piaractus mesopotamicus (Holmberg, 1887) juveniles reared
in ponds or at different initial larviculture periods indoors. Aquaculture,
221, p.277-287. 2003.

NAEGEL, L. C. A. Controlled production of Artemia biomass using an inert
commercial diet, compared with the microalgae Chaetoceros.Aquacultural
Engineering. v. 21, p. 49-59, 1999.

NAESSENS, E.; PEDRAZZOLI, A.; VARGAS, V.; TOWNSEND, S.; COBO, M. L.; DHONT,
J. Evalution of preservation methods for Artemia biomass and application in
postlarval rearing of Penaeus vannamei. In: P. Lavens, E. Jaspers and I.
Roelants (Editors), Larvi'95. European Aquaculture Society, Gent. P. 338-
341, 1995.
TAKATA, R. 2007. Produção de juvenis de Artemia franciscana e análise da
utilização de dietas vivas e inertes na larvicultura intensiva do pintado
Pseudoplatystoma coruscans. Dissertação de mestrado – Centro de Aquicultura
da Unesp, Caunesp. 117p.

VARO, I.; TAYLOR, A.C.; AMAT, F. The effects of temperature and oxygen
tension (PO2) on the oxygen consumption rates of adults of different
Artemia strains. Comparative Biochemistry and Physiology, Part A. v.120,
p.385–390, 1998.
Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.