Cultura juvenil negra em Portugal

Share Embed


Descrição do Produto

Outros tftulos

Associatioo Albuquerque, Rosana, Ligia Evora Ferreira e Telma Viegas,O Eendmeno deImigrantesem Portugal em eontuxtoMigrat1io: DuasD1cailasdeAssociatioismo Canotilho, ]os6 Joaquim Gomes (coordenador), DireitosHumanos,Estrangeitos,Comunidades Migrantese Minorias Ferreira, Eduardo de Sousa(coordenador),Helena Rato, F6tima Geada e SusanneRodrigues, Economiae Imigrantes:ContribuigdodosImigrantesparaa EconomhPortuguesa Figueiredo, Alexandra Lemos, Catarina Lorga da Silva e Vitor S€rgio Ferreia,loztens an Portugal:AndliseLongitudinaldeFontesEstat{sticas0950-1997) de Cultura Culturais: EstudosSociol6gicos Fortuna, Carlos,ldentidades,Percursos,Paisagens Urbana Multiculturais: Garcia, Jos€Luis (coordenador)e Diana Brito Nunes, Migragdese Relagdes Uma Bibliografia Garcia,Jos6Luis (organizador), PortugalMigrante: Emigrantese Imigrados,Dois Estudos lntrodutdrios num Contexto Histdricae lilentidade:oslooensPortugueses Pais,Jos€Machado, Consci€ncia Europeu Portes,Alejandro, Migragdeslnternacionais:Origens,Tipose Modosdelncorporagdo e Demogrdfica dasMigragdesna EuropaMulticultural Rugy, Anne de , DimensdoEcondmica emPortugal Cabo'oerdianos Saint-Maurice, Ana de, ldentiiladesReconstrutdas: Perspectioas Comparatiaas Vala, jorge (org.), NooosRacismos: Valis, Ant6nio, Manuel Muhongoou a Quedado Pescador Waters, Malcolm, Globalizagiio

ANToNIO CONCORDACONTADOR

CUI.JruRAJWENILNEGT{A EMPORTUGAL

CELTA EDITORA OEIRAS / 2OO1

lNorcr @Ant6nio Concorda Contador, 2001 Ant6nio Concorda Contador (n. 197f) Cultura fuvenil Negra em Portugal Primeira edig6o: Junho 2001 Tiragem: 500 exemplares ISBN: 972-774-111-8 D.l.: 166803/01 Composigio (em caracteresPalatino, corpo 10):Celta Editora Capa: Mdrio Vaz I Arranjo e imagem: Paula Neves Produzido por Arte M6gica, Lda. Impresso em Portugal

Indice de figuras

Reservados todos os direitos para a lfngua porfuguesa, de acordo com a legislagio em vigor, por Celta Editora, Lda.

Introdugdo.

Celta Editora, Rua Vera Cru2,28,2780-3050eiras, Portugal Enderego postal: Apartado 151, 278L-901Oeiras, Portugal Tel.: (+351)2L4 417 433 Fax (+351)2I4 457304 E-mail: [email protected] Pdgina: www.celtaeditora.pt

v11

PaTteI I IDENTIDADESIUVENIS NEGRAS 1 2 3

Os jovens negros portugueses Uma esteticajuvenil negra.......... Amfsica e os jovens negros poftugueses

1.1 25 37

PATTC II I UMA TERRA MAE, UM CORPO, UM ESTILO 4 5 5

O desterrit6rioAfrica: 6fricasem Portugal................... A mrisicanegra:o mediascape negro.......... Portugalidade: uma preseneasilenciosa

49 63 75

Conclusdo..

87

Glossdrio Refer6nciasbibliogr6ficas................

91 95

iNpIcE DE FIGURAS

Fotos Fotosde InOsGongalves,gentilmentecedidaspela autora,entreaspdginas8 e 9

Figuras 3.1 O third spaceidentitdrio dos jovens negros portugueses 6.7 Africanidade,negritude,portugalidade/ocidentalidade: a tensdoidentitdria

46 86

TNTRODUCAO

Belezadasnegras,dasporto-riquenhas em Nova Iorque.Paraal6mda excitagdosexualqueadv6mdapromiscuidade racial,6desalientarqueonegro,apigmentagdo dasragasescuras,6comoumapinturade rostonaturalqueseexalta da coloragdo artificialparacomporumabeleza(. ..) [JeanBaudrillard,Amtrique,19861 Formalmente,estetrabalho resulta de uma dissertagdofinal de mestrado em Comunicagdo,Cultura e Tecnologiasda Informagdo no Instituto Superior de Ci€ncias do Trabalho e da Empresaem Lisboa, decorrido entre 1997e199. De forma menos circunstancial, a temiitica aqui tratada remete para um percurso de pesquisa orientada, encetadodesdeosprimeiros anosde licenciafura emSociologia no referido instifuto. Foram, ao longo de cinco anos de curso, abordadasvdrias problem6ticassociol6gicasque de uma forma ou de outra circunscreviamum interessedominante em relagdodsquest6esdasmigrag6es,espagose pessoasnelas envolvidas, e em particular no contexto da sociedadeportuguesa de hoje. Rapidamente, esseinteressedefiniu uma tem6tica particular, directa derivagdo das quest6esdebasenasociologiadasmigrag6es,que tempor enfoqueespecificoos filhos dos migrantes. Neste sentido, esteesfudo sobreaspremissassociol6gicas que desembocamnuma definigdo de "culfura juvenil negra" em Portugal 6 o corol6rio "em aberto" destesanos de aprendizagem.

Problemas e problemdticas em estudo Aandlise aqui proposta sobrecultura juvenil negra em Portugal comegacom uma controv6rsia; a das definig6esutilizadas para caracterizaros filhos dos imigrantes dos PALOP vindos para Portugal, a partir das d6cadasde 1950-80 e na condigio assumida de guesttaorkers.lOs fundamentos de tais definig6es

Fluxo imigrat6rio 1

de forga de trabalho tempordria n6o qualificada.

CULTURA ]UVENIL NEGRA EM PORTUGAL

//sggqndngeraeeode imigrantes", "novos luso-africanos"- p6em em relevo uma pol6mica extraida dessaret6rica,que escondemecanismosde catalogag6odiferencialistasemtermosde detengdodopoder socialentreumin-group - os portugueses- e um grupo outsider(N. Elias)- as "minorias 6tnicas"nasquais,atravdsde um discursolegitimado institucionalmente/seinseremos filhos de imigrantes africanos.Essasdefinig6esapresentam-secomo uma tentativa de sistematizagdodo "processode identificagdo"(R.Gallissot)destesfItimos, que vemdar contadaimpraticabilidade da plenitude identitdria expressa no conceitode "identidade" sintetizada,dupla: luso-africana. Oprocessode identificagAodos filhos de imigrantes africanosPromove/ simultaneamente,uma leifura reinterpretativa de uma cetta "cultura das origens" africanas,de um passadohist6rico e migrat6rio que ndo lhes pertencee a aberfura do leque a outras refer6nciasvisitadas, extravasandoo reduto Portugal/PALOR e situando-senum territ6rio referencial imag6tico e ficcionado, que accionaa reapropriagdode referdnciasextraidas de outro tipo de cen6rios culturais ageogr6ficos. O quadro de referenciaisvisitado pelos filhos dessesimigrantes ndo 6, com efeito, o reconstruido atrav6s de uma simbologia tomada de empr6stimo,por umlado, ao universocultural e socialdos PALOPde origem dospais e, por outro, ao que seconstitui por via da insergdona sociedadeportuguesa. As refer€ncias,que viabilizam o processode identificagdo destes filhos de imigrantes, estruturam-seir volta da sua reapresentaq6oem imagens,emfiguragdes imagdticas,extraidasde quadros culturais que escapamaoscontextosfisicosda sociedadeportuguesa,dos PALOP,dos EstadosUnidos, da Inglaterra, etc.Aesta transformagdoem figura imag6ticadas refer€ncias,que gera um novo valor de identificagdo, est6 inerente uma reinterpretag6o,na base, do significado das nog6esde "cultura de pertenga", "otigens culturais", "terra-rnde",etc. Em suma/ nog6esque remetem para a territorializagdo das culfuras "de pertenga" e que/ em riltima instAncia,possibilitam a instrumentalizagdoe a legitimagdodos conceitostais como "etnia", "etnicidade" e "identidade 6tnica". Estasnog6esest6oagora sujeitasis condig6esque viabilizaffra sua readequagdoe o seu manuseamentoenquanto "refer6ncia", ou instrumento da identificaqSo. Amrisica africana remetepara essasreferdnciasinstrumentalizadas,ou operacionalizadas,no Ambito da consubstanciagiode um quadro mais lato de refer€nciasd "cultura das origens", d "etnicidade" e d "terra-mde", passando pela reinterpretagdode simbologias ligadas aos PALOR mas indo para al6m disso, ao abrir o leque de hip6tesesde reapresentagiode referenciaisds mais variadas simbologias ligadas a Africa (africanidade) e, por hip6tese, d negritude. Factomusicalpersi,amfsica africanatorna-sefactosocial,porvdios processosde reconstrugdodos simbolismos e referenciaisa ela associadose, consequentemente,pela pr6pria dinAmicade reinvengAoe reapropriagdodas "origens" africanas que a mesma ritualiza. A africanidade, iitualizada

TNTRoDUCAo

atrav6s da mrisica africana, delimita, por isso, um novo domfnio n6o 6tnico - no sentido da pertenga- onde as referdnciasnele presentesassumem,ao inv6s, contornos de componentesest6ticos,estruturados no Ambito da edificag6ode um processode identificagdo,tambdm ele, esteticizado. Os particularismos inerentesi adesdodos filhos dos imigrantes africanos ao estilo musical denominado rup vlm,eles tamb6m, efectivar a desconstrugdo do processode identificagdobaseadona unicidade, na unidade e na transgeracionalidade- comum a todos os imigrantes e descendentesde imigrantesdos PALOP- devido i projecgdoe exposiEio,atrav6sdosmedia,dos referenciaisculturais e simb6licos provenientes de um outro espagoreferencial associado ao rape dmisica negra em geral: a negritude. Estenovo espaqo/ abordado pelos filhos, traz consigo as hip6tesesde ligagdo e de entrecruzamento entre asrefer6nciasa uma africanidadecontextual,mediaticamenteredescobertasob o designio de "Novo exotismo", e as refer6nciasa essanegrifu de transnacional,transfronteiriga e transest6tica. Por riltimo, o espagode refer6ncia d portugalidade dos filhos de imigrantesafricanosapresenta-seenquanto metamorfosedo espagode pertenga a um vector "luso" presentena expressdo"novos luso-africanos" (F.Machado) e a um lado "luso" de uma identidadedupla "luso-africana".Esseespago de referdncia i portugalidade dilui-se, transfigura-se e vai encontrar novas ramificag6es,novas possibilidades de mociulagdodo seu potencial referencial com outras refer€nciaspresentesnoutros espagosde refer€ncia,mormente, ir africanidade e d negritude. Alinguaportuguesa, mesclada,reapropriada pelo rap atrav6s da emerg6nciade uma lingua de cal6o, afirma-se enquanto territ6rio linguistico por exceldnciade uma cultura juvenil potencialmente negra, ou cultura negra potencialmente juvenil. Cultura juvenil negra em Portugal. Tragadoeste quadro pr6vio, as quest6esde partida para o trabalho foram asseguintes:quais s6ooslimites da operacionalizagdodo conceito"novo luso-africano" para designaros filhos de imigrantes africanos?Qual6 a estrutura, e quais sdoos componentes,dos espagosde refer€nciavisitados pelos filhos de imigrantes africanosno Ambito da definigSodo seu processode identificagio? De que forma se processaa mutagSodo potencial "6tnico" em potencial "est6tico" dessasrefer€nciasvisitadas?Qual 6 a natureza do impacto, no processode identificagio dos filhos de imigrantes africanos, que deriva dessa"mutag6o" do significado das refer€ncias?De que forma 6 que a mrisica consumida simboliza ou corporifica essamutag6o?E de que forma 6 que essa mesma mtisica ritualiza o processode identificagdodos filhos de imigrantes africanos em Portugal? Dito isto, as problemdticasem an6lisepodem ser expostasda forma seguinte: por um lado, a abertura do espectronoque diz respeitoaosespagosde refer6nciavisitados pelos filhos de imigrantes africanos,atrav6s de um consumo de mrisica ritualizador do seuprocessode identificagio, viabiliza a ndo

CULTURA JUVENIL NEGRA EM PORTUGAL

exequibilidade das definig6es "segunda geragdode imigrantes" e "novos luso-africanos".Por outro, a pr6tica do consumode mrisicarifualiza oprocesso de identificagdodos filhos de imigrantes africanosatravdsda reapresentagdodas refer6nciasAafricanidade,irnegritude e iportugalidade, extrafdasde novos espaeosreferenciaisagora transest6ticos.

A malha te6rica Aprimeira parte do trabalho, ou sejaos tr6s primeiros capitulos, consubstanciar-se-doem torno dos contributos te6ricos trazidos d superficie no dmbito da problemattzaglo das quest6es previamente agendadas.Neste sentido, surgem/ com particular destaque,os desenvolvimentoste6ricos de N. Elias, A. Appadurai, P.Virilio,J. Baudrillard, G. Deleuze,F.Guattari,I. Chambers, L. Back, P.Gilroy, L. Sansonee S. Frith. O contributo te6rico dos quatro primeiros (N. Elias, A. Appadurai e P. Virilio e J. Baudrillard) apareceinserido nas aniiliseselaboradasa prop6sito da mutagdo do valor "de identificagdo", subtrafdo do conceito de "etnicidade" ou da vertente "6tnica" nas definig6esvalidadas para designar os filhos de imigrantes africanos.Anula-se a relagdoin-group/out-group(N. Elias) sob o deslgnio da transfiguragdoda etnicidadena sua pr6pria imag6tica,no seu simulacro (P.Virilio, J. Baudrillard), atrav6sda sua passagemda relagio intergrupal directa para o espectrodo mediascape (A. Appadurai), que lhe faz perder o seu potencial de "identificagdo por pertenga" (we-group6tnico), e faz emergir uma nova nogio grupal: a "comunidade de consumidores", consumidores gendricosreunidos circunstancialmenteem volta de uma "identificagdopor referdncia" a uma etnicidade (trans)esteticizada. Aetnicidade passaa sermaisuma refer€nciainscrita nos espagosde reapresentag6odo conjunto das refer€ncias"desterritorializadas" (G. Deleuze e F. Guattari). Estas intercruzam-se nessesmesmos espagos"rizom6rficos" (ibid.) onde,por riltimo, seprocessaa identificagdoenquanto "banda-sonora identit6ria portdtil e intercambi|vel" (I. Chambers). A mrisica est6, ent6o, presente,enquanto pr6tica de consumo que ritualiza (S.Frith) o processode identificagSo,pela escolhadas faixas/g6neros/estilos musicaise referenciais que,porriltimo, corporificama reinvengdodo significado de umanova eestet:'cizada"identificagdo por pertenga": da home-Iandd hood-landz(L. Back, P. Gilroy, L. Sansone).

"Espaqo do oafro bairro", isto 6, espago de definig6o identitdria possivel atravds da vinculaqSo a uma "comunidade de consumidores,,.

INTRoDUCAo

A questio metodol6gica Assumimos que a nafureza destetrabalho 6 prospectiva, no sentido em que pretende evidenciar as formas de validagio de um processode identificagdo dos jovens negros portuguesesatrav6s do consumo de determinados estilos de mrisica.Umconsumo que remetepafa a reapropriagdo/reapresentagdode uma particular e dinAmica leifura das "origens", de uma africanidade, de uma certa porfugalidade e de uma certanegrifude. Com isto, pareceu-nosser apropriado o recursoao uso da t6cnicada entrevista semidirectiva: "Quando se trata de entender,o question6rio nio 6 satisfat6rio porque a pergunta orienta a resposta,a pergunta nem sempre 6 entendida, o entrevistado ndo pode responder d pergunta porque n6o se auto-analisa,porque a sua culfura pessoalndo lhe permite utilizar de certosconceitos,porque ele ndo quer dizer o porqu€ de certascoisas" (Ghiglione e Matalon: 76). Optando por uma natureza qualitativa de abordagem metodol6gica, e privilegiando o recursoir entrevista semidirectiva,restava-nosdeterminar os pardmetros de selecgSodos jovens negrosporfuguesesa entrevistar.Essaop96o foi tomada com recurso d caracterizagio que deles €feita por Femando Luis Machado: "Trata-se de uma categoria constifuida basicamentepor jovens e criangas(filhos de pais imigrantes vindos dos PALOPnuma condigdo de'guestworkers'desdea d6cadade L960,e com um reforgo do fluxo migrat6rio a partir da ddcadade L980),que seencontramainda a frequentar o sistema de ensino ou em vias de insergdoou recentementeinseridos no mercado de trabalho (I994:1I9). Assim definimos que os jovens negrosportuguesesa entrevistar estariam compreendidos numa faixa etdria que iria dos 16 aos 28 anos.A opgio por nio entrevistar jovens negrosportuguesesligados directa ou indirectamente aos meios onde sdo difundidas e produzidas as mrisicas africanase rap, prende-secom a relevAnciaanalitica dos argumentos que poder6o utilizar os que n6o o estdo,ou os que nem sequeras ouvem. Foi nossa opg6o,tambdm, ir ao encontro de pessoasque, de uma maneira ou de outra, as difundem, mas t5o s6 no quadro de entrevistasexplorat6rias. A delimitagio de um espagogeogrdficoclaramentecircunscrito (um bairro, uma freguesia, etc.), onde se realizassemas entrevistassemidirectivas,nio nos pareceu ser_garantede poder estabelecerhip6tesesque correlacionassemo espagosocial envolvente e associabilidades,com a forma como osjovens negrosportuSuesesse apropriam daqueles g6nerosmusicais. Por isso, pareceu ser mais prudente elegermos.Vdriosespagos(bairros, freguesias,etc.),onde pud6ssemos ir ao encontro dos indivfduos entrevist6veis,garantindo, desia forma, uma certa representatividadesocioespacial. N9 que diz respeito Asentrevistas explorat6rias, dois motivos principais . determinaram a necessidadede as realizar.Primeiro, a impossibilidade de se trabalhar com base em "notas de campo", como seria poisfvel se se tivesse eleito um cendriopropicio (discoteca,bairro, etc.)i realizagdode um trabalho

CULTURA ]UVENIL NEGRA EM PORTUGAL

de campo. Como indagamos,a n6o delimitagdogeogr6ficada 6reaonde resid.emos entrevistadoscondicionou,por um lado, a garantiade uma certarepresentatividadesocioespacial,e por outro/ permitiu a correlagdode v6rios indfcios e pistas quer no ambito da construqdodas hip6tesesde estudo, quer das suasdesmontage.tse/ou demonstrag6ese verificag6escom maior confianga. No fundo, nunca sepretendeuelaborarum esfudo que implicasseulna observagio participante, no sentido em que estariltima viessealimentar o conhecimento acercade estrat6giasde gruPo na apropriagdode determinadosespagos de rivalidadese sociabilidadesinse(discotecas,festas,etc.),e na representagdo ridas no pr6prio espagode observagdo,como o poderiam set,noutro g6nerode trabalho, asdiscotecasafricanase/ ou a festasde hip hop. O quenosinteressava, empiricamente,era o espagosimb6lico,est6ticoe de identificagio,para o qualo discurso sobrea mrisica (africana,negra,etc.)remetesse.O que poderia facultar, e isso nio implicava a deslocagdoaos sitios propriamente ditos, a posigdo em relagdoaosesassumidados entrevistadosperante as suasrepresentag6es paqosfisicosonde essasmfsicas s6odifundidas e vivenciadas:discotecas,festas,etc.Por outro lado, a parca existdnciade informagdoe estudosno dominio dasciOnciassociaisqueproblematizememtorno dos estilosde mfsica africana abordadosnestetrabalho levou-nosa ir ter com pessoasque, de uma maneira ou de outra, estivessemem contactocom a "mfsica africana".Paraessefim/ as pessoaseleitasforam FernandaAlmeida e Galiano, ambosjomalistas na RDP Africa e ai respons6veispor programasradiof6nicosde divulgagdodos estilos musicaisafricanosem estudo.Oterceiro entrevistadode forma explorat6ria foi CarlosRodrigues,soci6logo,cujo tema de tesede licenciatura,que dera origem a um artigo escritoem co-autoria,ainda no prelo, fora "O fen6menodas discoe estrat6gias". tecasafricanas:espago,representag6es Para os dois primeiros entrevistados,a entrevista centrou-sena representag6oque os radialistast6m do priblico que ouve os seusProgramase ouve a RDP Africa de uma maneira geral. Procurou-sesaberse o priblico era tamb6m composto por jovens negros portugueses,e se sim/ quais eram as suas preferOnciasem termos de gostosmusicais,tendo em conta a est6ticaveiculada pela estag6o.Que tipo de mrisica africana se est6 a falar e se difunde na RDP Africa? Qual 6 o tipo de mrisica africana que os jovens negrosPortuguesesadoptam? E de que forma as adoptam? Centrada que estd a nossa andlise nos jovens negros portugueses, as perguntas ao Carlos Rodrigues - soci6logo- ndo deixaram de fazer transparecer as linhas te6ricasde abordagemtragadasa prop6sito da ritualizag6o do processode identificagdodos jovens negrosportugueses.Ritualizagdofeita atravdsde um tipo de consumo de mrisicae consumo de uma est6ticaparticular que define escolhasidentit6rias. Ambos os consumosremetem para as mrisicas africanase para as mrisicasnegras.Estasabordagensforam retomadas no tragado do guido das entrevistas,ai sim, semidirectivas, e aplicadas aos jovens negros portugueses.

TNTRoDUCAo

Agradecimentos Por riltimo, os meus sincerosagradecimentos:Alexandre Melo, carlos Rodrigues, FernandaAlmeida, Filomena silvano, Graciano Lobo, In6s Gonqalves, In€sde Paula vasques,Instituto Franco-portugu€s,Kiluanje Liberdadl, Marisa_Pott,Miguel vale de Almeida, pedro Fradique, Rui pena pires e Teresa Fradique.

Foto de InCsGonqalves

wq_

Foto de Ines Gongalves

Fotode InesGong al v es

ParteI I IDENTIDADESIUVENISNEGRAS

Foto de InCsGoncalves

Capftulo 1

os IovENs NEGROS P ORTUGUESES

e historicaSesubstituimosa identidadepelaidentificaqdo activa,em situagSo mente,isto6,sereconhecemos o ou osprocessos deidentificagdo, redescobrimos entdoumaformid6velplasticidade, possibilidades de modulagioperpdtuas. [Ren6Gallissot,"Sousl'identit6,le proc€sd'identification", 19871

A etnicidade sem etnias Arelevdncia de um quadro de andliseque define a particularidade dos filhos dos imigrantes dos PALOP pareceir esbarrarcontra a parca visibilidade dos seuscontornos sociol6gicos,enquanto grupo ou geragaoefectiva na sociedade porfuguesa: define-sea sua filiagdo e, simultaneamente,uma conscidncia de pertengade grupo, ou de geragdo,permitindo a delimitagAoda nog6o de "novos luso-africanos" (F.Machado) que,por suavez,se distinguird da consci€ncia de grupo, ou de gerag6o,dos pr6prios pais. Nesta medida, falar-se-6 em conflito geracionale evidenciar-se-6oos v6rticesdo mesmo:por um lado, o conflito de gerag6esou intergeracional,de valores familiares e, por outro, o conflito intergeracional de valores sociais (Mannheim em Attias-Donfut, 1988).Arefer€ncia aosnovos luso-africanosvai portanto no sentido da validag6o,ou n6o, das hip6tesesquanto d reprodugdoda mobilidade geracional em termos de estruturagdofamiliar e de poder social. A estetipo de aniilise, estd ancoradauma leitura que pretende comparar/ geracionalmente,os processosde "integrag60", " acultutagS,o"e " aspiragSo"- como os definiu Selim Abou -1dos pais imigrantesdos PALOP e dos seusfilhos, nascidos,na suamaioria, em Portugal. Paise filhos s6ovari6veis de quadros analiticosonde est6oponderadosos processosde integragdo, aculfuragdoe aspiragdoem ordem d sua an6lise comparada.Neste sentido, chegari averiguagSode que a uma primeira geragdode imigrantesprovenientes dos PALoPndo sucedeuma segunda,n6o conduz d validagdodL hip6tese 11

12

OS ]OVENS NEGROS PORTUGUESES CULTURA iUVENIL NEGRA EM PORTUGAL

de que a singularidade do "processode identificagio"- citando Ren6Gallissot -2 dos novos luso-africanosdeixe de ser por refer€nciais particularidadesdos moldes de insergdodos pr6prios paisna sociedadeportuguesa.Poder-se-d,contudo, indagar sobre a perda de significado do desfgnio de "segunda gerag6o"de imigrantes para os filhos, evidenciando os tragospeculiares dos seusvalores familiares e sociais,no sentido de sepoderem definir enquanto "getagSoefectiva" como a definiu K. Mannheim, e de a partir dessa efectividade surgir uma an6lisesobreos limites da operacionalidade das di mens6esfamiliar e social, cason6o se avancecom o contributo de outras. Dito isto, mostrar a relevAnciado processode identificagdo dos novos luso-africanosimplica, por um lado, desgarrarasespecificidadespr6prias do processo de identificagdo dos imigrantes guest workersprovenientes dos PALOP, das especificidadesdo processode identificagdo dos seus filhos, e por outro, destringar os particularismos do processode identificagdo destes riltimos enquanto recorrentes de um quadro lato de identificagdo cultural -iuvenil. A debil singularidade do processode identificagdodos novos luso-africanos,no discurso das ciOnciassociais,vem juntar-sea omnipresengada referOncia i etnicidade. Essa mesma apresenta-secomo conceito centrifugo; a partir do qual6 operacionalizadaparte substancialdas tentativas de delimitagio de uma satisfat6ria nog6o de identidade para os filhos de imigrantes. Com efeito, da estreita correlagdoentre aspirag6esde mobilidade e entre espagosde projecgdoprofissionais e sociaisdos pais e as mesmasaspirag6ese espaeosdos filhos, bem como, da estreitacorrelagdoentre os determinismos

O processode "integraE6o",remetepara o desenvolvimentoda relagdoentre os imigrantes e os sistemasecon6mico,social e politico do pais receptor.O processode "aculturagdo" remete,por seu lado, para a forma como a participagio efectiva e activa, tanto ao nlvel polftico, associativoou, simplesmente,civico, se ird constituir tendo em conta a gestdo do iniciiitico processode integragao.E por fim, o processode "aspiragSo"remetepara a construgaode um projecto de mobilidade social pelos imigrantes que passa,por um lado, pelo envolvimento do mesmo com o projecto de mobilidade social dos pr6prios filhos no pais receptor,e por outro ou simultaneamente,pela relativizagdodo projecto de "retorno". Ver S6lim Abou (1990:pp.127-139). O conceitode "processode identificagdo", segundo Ren€Gallissot (1987),vem dar conta da impraticabilidade da plenitude identit6ria, no caso por exemplo dos filhos de imigrantes.Furtando-sei l6gica,presenteno discurso comum das ci€nciassociais,do determinismo das express6esculturais dominantes- a cultura dos pais e a cultura do pais receptor ou de origem dos filhos - na elaboragio de uma definiqdo operacional de identidade - ou identidade 6tnica,Ren6Gallissot,avangacom a necessidadede seevidenciarem outros determinismos.Outros determinismos, ou simulacros de outros referenciais culturais transnacionais,que,no mesmosentido de ospresentementecitados,vao ser outras tantas refer€nciasdisponlveis em ordem a elaboragio, ndo de uma nogdode identidad,estrictu sensa,mas de uma matriz de possibilidadesde modulagdo dos pr6prios referenciais culturais, e, por conseguinte,de modulaEdodo processode identiiicagao dos filhos dos imigrantes.

13

da estruturagdofamiliar dos pais e os mesmosdeterminismos dos filhos, sobressaem,ndo apenas,e potencialmente,consci€nciase pertengasde geragdo conflituosas, mas tamb6m, a invariabilidade do peso de uma identidade colectiva etnicizada e etnicizante.Estamesmasobrep6e-see/ou substifui-se ao sincretismo de uma identidade individual erguida atrav6s de opgdes,de escolhasentre referenciaisculfurais disponiveis. No casodos novos luso-africanos,parecehaver uma ponderagdocom um pesodeterminante- em ordem a consubstanciagiode uma definigdo da sua identidade - das nog6esa que K. Mannheime W. Ditley deramo nome respectivamentede, "dadosnafurais" e "activo cultural intelectual".3Dados naturais ou stockpatrimonial culfural, legado pelas gerag6esanteriores, e principalmente pelos pais, apropriado - activado - pelos filhos, com o designio de o mesmo ser um vector chave na edificagdode uma conscidnciade e do grupo - colectivo - traduzivel nas nog6es,simultaneamente,de u)e-group, e de grouppariaou aindagroupdisgrace,4suplantando, por estavia, o conceito- sem poder coesivopara os efeitos - de geragio. A apropriagSo do tal stockpatrimonial cultural por parte dos novos luso-africanos,que seria/em suma, a legitimagdoda inclusdo, enquanto referenciais culturais, no processode identificaEdodos mesmos,de tragosparticulares de uma cultura das origens, tamb6m ela j6 reinterpretada pelos pr6prios pais, traduz-sepela apropriag6ode um outro legado cultural. Essemesmo assumeos contornos de uma conscidnciadetoe-groupegroupparia,enum certo sentido atravessatransversalmenteambasas gerag6es,mas indicia sobretudo que o determinismo da estruturagdofamiliar e das aspirag6esde mobilidade profissional e social dos pais - geragdoanterior - se sobrep6eao determinismo das opg6ese das escolhasdos referenciaisculturais dos filhos, no dmbito da delimitagdo do seuprocessode identificagdoenquanto geragdo efectiva,isto 6, enquantonovos luso-africanos.Por outras palavras,"(...) 6 atraves da equiparagSodos estatutossociaisentre novos luso-africanose filhos de pais portuguesessem origem nos PALOR e da consolidagdopor parte dos primeiros deumaposigio de gerag6o,que ganharelevAnciaa problem6tica da etnicidade (...)".s Simultaneamente,n6o 6 menosrelevanteafirmar que, 6justamenteo componentedtnicoda posigdode geragdodos novos luso-africanos que permite a sustentagioda problemdtica da etnicidade e a viabilidade concepfualda terminologia "novos luso-africanos".A etricidade presentena terminologia "novos luso-africanos"n6o permite a validagdodo factor 6tnico exquanto vari6vel culfural de parte inteira, isto 6, enquantovari6vel desligada da.fungdogeradora de consci-€ncia intergeracionald" we-group- (filhoI) de tmlgrantes dos PALOP ou (2.") geragdode imigrantes - e, conjuntamente, i;"nr6nio

4 5

contador(1ee8: 58).

Norbert Elias (1994a). Ant6nio Contador (1998:60).

t4

OS ]OVENS NEGROS PORTUGUESES

CULTURA JUVENIL NEGRA EM PORTUCAL

niveladora dasexpectativasde mobilidade dasestruturasfamiliares,dos espagosde projecgdosociaise profissionaisdestesfilhos de imigrantes, Paraosnovos luso-africanosa identidade 6 apresentadasoba sua forma 6tnica. Ou melhor, a identidade dos novos luso-africanosest6 etnicizada fazendo-sevaler mais pelos atributos pr6prios da filiagdo, do que pelos decorrentesdo seu processode identificagdo.O que leva a que a matriz de elementos centrais,na congregagdode uma hipot6tica consciOnciade pertengageracional dos filhos, estejaprimordialmente sujeita i reinterpretagio dos tragos memoriais da cultura das origens dos pais e i tomada em consideragdodas suas consci€nciasde gerag6o,com a particularidade dessasriltimas serem exequfveisno quadro de uma insergdo- aculfuragdo,integragdo,aspiragdo - no seio da sociedadeporfuguesa. Neste sentido, no casodos novos luso-africanos,i sociodinAmicada estigmatizagio, de que fala N. Elias,6e que se pode traduzir no facto de as expectativas grossomodode mobilidade social estarem dependentesda forma como os factoresque conduzem ao statusquosdogeridos,tanto pelos que det6m mais poder socialcomo pelos outros, pode-seacrescentaro factor 6tnico. Esteriltimo 6 encaradoenquanto elementocentripeto de uma potencial in6rcia na desregulagdo,por um lado e ainda segundoN. Elias,do poder de estigmatizar, e por outro, da l6gica de sobreposigdodo determinismo da identidade colectiva etnicizada,ou identidade 6tnica colectiva,em relagdoh identidade individual, quando o que est6em causa6 a elaboragdode uma tal "disponibilidade referencial",de que fala,por suavez, R. Gallissot (L987).Sendoque essadisponibilidade referencial revela-seatrav6s da apropriagSode variantes identit6rias, n6o forgosamente6tnicas,nemetnicizadasendo somentedisponibilizadas atravds da filiagdo. Estasindagag6eslevam-nos a reflectir sobreos limites da operacionalizagdodaquela que seria a riltima nog6oa serlegitimada pelasciOnciassociais, para designaros filhos dos imigrantes dos PALOP.Comefeito, a terminologia - novos luso-africanos- concepfualizadapor F. Machado,Te reinvestida por A. Contador,8surge agora como suporte da legitimagdo da ndo-escolha identit6ria e, paralelamente,da fixagio do argumento 6tnico enquanto legitimador de uma potencial consci€nciade gerag6o.Neste sentido em que, a "identificag6o por pertenga" e a "identificagdo por refer€ncia" - dimens6es do "processode identificagdo" delineadaspor R. Gallissot -e se cruzam no ponto em que a matriz de referenciaisculturais de pertengase confunde com a matriz de referenciais por projecgdo colectiva etnicizada. Sendo que a

identificagdopor pertengaseestrutura nas redesde relag6essociaise sociabilidades mais directas,e que a identificagdopor referdnciaseforma no espaqo de projecgdoda tal disponibilidade referencial,sujeita a express6esculturais n6o somentelocaise intergeracionais.Com o termo "novos luso-africanos", o processode identificagdo cede o seu lugar ao processode identificagdo por pertengae por refer€ncia6tnicase etnicizadas.Por outras palavras, o processo de identificagdo cede em detrimento da identidade 6tnica, e o hifen entre "luso" e "africanos" vem salientar a impraticabilidade da plenifude identit6ria individual, e a inviabilidade das identificag6espor pertengae por refer6ncia para estesfilhos de imigrantes, cason6o remetampara o cardcterestigmatizante da etnicidade, como sublinha Norbert Elias (ibid,). Como sepode indagar atrav6sdestaafirmagdode A. Appadurai(I995: L72):" (.. .) o lado direito do hffen mal pode conter a indisciplina do lado esquerdo", o que est6 em causa, com a utilizagdo da terminologia - novos luso-africanos- 6 a pr6pria visibilidade da identificagdo por refer€nciano processode identificagdo,relativamenteir omnipresengada identificagdopor pertengad etnicidade.O que conduz a que possamosestara falar deumaetnia, ou de um grupo 6tnico, quando nos referenciamosaos novos luso-africanos. Grupo 6trrico ou etnia constifuidos i volta da rememoragdo de um continuo hist6rico ou de um passadocomum,no sentidoem que estepermite a sedimentagdoe a passagemintergeracionalda consciOncia etnicizadade we-grouppara a identidade colectiva do pr6prio grupo - pais e filhos confundidos. Ora, o que est6aqui em causa6 saberseo lado direito do hifen - " africanss" - se refere h tal consci€nciaetnicizada de we-group,que torna vdlida uma identidade dtnica colectiva,atrav6sda qual pais e filhos partilham uma identificagdopor pertenqaa um passadoetnicizado comum, ou alude a uma expressdo"por refer€ncia" inserida num mais lato processode identificagdo? Ou ainda, seril o lado "africanos" um vector de uma disponibilidade referencial fortemente alicergadana rememoragdoe apropriagAode tragosparticulares da cultura do pafs de origem dos pais?

Da identidade dtnica i identidade est6tica Um esclarecimentosobre esta questdo d dado atrav6s da an6lise ao lado -

9

6

7 8

"A exclusSoe a estigmatizagio (...) sio armas poderosasusadaspelo :6ltimo(established) no sentido de manter a sua identidade (...) mantendo o outro (outsiiler)firmemente no seu lugar" (Elias 1994a:18). FernandoLuis Machado(1994:111-134). Ant6nio Contador (1998:57-83\.

"Ap".tunga situa-seno dominio das relagdessociaisde alta frequ€ncia,as do espagosocial imediato, istoEdohabitat e do trabalho, comuma possivel permuta da importAncia"; "As referEnciascomunitdrias (identificagEopor projecAio colectiva) s6o englobantese inevit6veis quando entendidascomo distintivos de categoria,mas para que tenham o potencial de identificagdo,terdo que ser reinvestidasnum quadro que projectea individuaIidade numa colectividade independentementeda forma que asiumir estafltima" (Gallissot, 1,987:17).

os tovENS NEGROS PORTUCUESES

CULTURA ]UVENIL NEGRA EM PORTUGAL

esquerdodo hifen na expressAo"novos luso-africanos".Com efeito, o v6rtice "luso" coloca em xeque a validagdo de uma identidade dtnica colectiva para pais e filhos, confundidos numa consciOnciaetnicizada dewe-grouptransgeiacional. O lado "luso" remetePara a gest6o,pelos novos luso-africanos,dos espaeosde projecgdoprofissional e social,com base,Por um lado, num percurso no sistemaeducativo portugu€s, e por outro, numa disponibilidade referencial manifestada em relagAoa express6esculturais escolhidas e aPropriadas, entre as demais, veiculadasem contextosparticulares da sociedade portuguesa. O passado comum etnicizado, elemento claramente congregador de uma identificagdopor pertengano casodos pais -Porque reforgo de uma sintonia grupal em relagdois nog6esde "cultura vivenciada do pais de origem",e de "projecto ds 1sf6116"-aparece de forma dribia na constituigdo do processode identificagdodos filhos. Com efeito, essepassadondo remete para experi€nciasde vida num pais dito "de origem" propriamente dito, nem de um passadocomum no casodos novos luso-africanos.Essepassado,pelo contrdrio,6 reapropriado e retranscritoemc6digos e refer€nciasque escaPam ao rinico dominio dapertenga,do 6tnico,passandopara o camPodo sincretismo cultural, e assumindo-seenquantovariante na formulagdo de uma identificagdoque, por conseguinte,nada tem de pertenga6tnica e etnicizada "africana", nada tem de poder n6mico na manutengSode uma transgeracional consci€nciade grupo 6tnico ouwe-groupimigrante dos PALOP. Apertenga parececeder o lugar A referdncia,e o Processode identifica96o,por conseguinte,assume-seenquanto processoselectivo de express6es culturais disponiveis, reinterpretadasem ordem i viabilizagdo de mrlltiplas e ndo exclusivasidentificag6espor refer€ncia. Dito isto, a preseneado hffen entre "luso" e"afticanos" permite que se coloque outra questdo:quais sdoasconsequ6ncias,para a gestdodo processo de identificag6opor parte dos filhos de imigrantes dos PALOR que derivam do reordenamento do espagocultural transnacional contido na expressdo "luso-africanos", tendo em contaa mudangade estafuto-depertenga a referdncia - do componente "africanos" na expressdo"luso-africanos"? Como salienta A. Appadurai (1996),a viabilidade das identificag6es culturais bipolarizadas ligadas entre si atrav6sdo hifen chegou ao seu ponto de saturagdo.Estasriltimas deixam de remeterpara identidades 6tnicassintettzadas,cruzando-seno ponto - no hffen - em que os espagosculfurais distintos de pertengase complementam. Esta ideia da complementaridade dos espagosculturais de pertengaetnicizadospermitiu a validagdode outros conceitos, como a "panetnicidade" ou a "transetnicidade",l0 apresentadosenquanto argumentos da compatibilidade entre as mriltiplas identificag6es por pertenga dos filhos de imigrantes. A erosdo da nog6o de identificagdo por

pertenga, em favor da identificagdo por express6esculfurais de refer€ncia apropri6veis,conduziu ir mutag6oda pr6pria nog6ode refer6nciai etnicidade, ao 6tnico.Atrav6s da operacionalizagdodo processode identificagdo,definivel enquanto processode selecgdodas variantesculturais disponiveis e transforrn6veis-endo enquantoprocessode gestdodasidentidades6tnicascomp6sitas presentesno espagotransdtnicoou transnacionalde pertenga- a etnicidade passa a ser urna, entre mriltiplas, variantes disponiveis de refer€ncia. O 6tnico 6 apropriado enquanto elementoinserido numa l6gica competitiva com os demais elementos,e pr6pria do processode identificagdodos filhos de imigrantes dos PALOR dando corpo i ideia de "plasticidade", como refere R. Gallissot (1987),na combinag6odas vari6veis de refer€ncia. Uma plasticidade esteticizadaque reflecteopg6esindividuais est6ticas,sendo que a etnicidade, ou a refer6nciaao 6tnico,6 uma entre outras opg6es.Esteticizando-se,a etnicidade permite a extensio das suaspossibilidades de modulagdo com outras variantes, gerando novas propostasde identificagdopor refer€ncia, novas plasticidades contextuais. As formas e os contextosde uso do denominado crioulo, no casode uma parte significativa dos novos luso-africanosda freguesiado Vale da Amoreira, citando um estudo de casoanterior (ver A. Contador, 1998),constituem um exemplo claro da mudanga de estatuto da etnicidade, da sua esteticizagdo.Com efeito: "(...) a veiculagdodo crioulo no seio familiar, assumidode antemdocomoveiculo da culfura dasorigens,passoua fronteira do reduto familiar e 6tnico peculiar - cabo-verdianosde 56o Vicente,cabo-verdianosda Praia e eventualmente guineenses- para ir consolidar novas raizesna rua, onde o seu uso ndo est6 restrito aos novos luso-cabo-verdianose/ou novos luso-guineenses,mas poder6 eventualmenteserfalado por novos luso-angolanos ou at6 mesmojovens portu gueses." (ibid., 62).Ao sair do dominio estritamente familiar, o crioulo, passade factor na identificagSopor pertenga,e unificador de uma conscidnciade we-groupimigrante de Cabo-Verdee/ou da Guin6-Bissau,v6lida para pais e filhos, a vari6vel na identificagdo por refer€ncia, n6o s6 dos novos luso-cabo-verdianosou novos luso-guineenses, como tamb6m de grande parte dos outros jovens,com quem partilham diversos,simult6neos e n6o exclusivos,espagosfisicos e simb6licos de referdncia. Com isto, o crioulo assumeos contomos de uma lingua de cal6opor excel€ncia,apropriada e falada por uma grande parte dos jovens em geral, no casocitado dos residentesno Vale da Amoreira. Um crioulo, cuja fondticae cujo l6xico estSoexpostosirsinflu€ncias de outras express6esfondticase lexicais apropriadas a partir de espagosde refer€nciados mais diversos: do "luand€s",r1 novilingua desenvolvida por jovens luandensese exportada atravds da sua

11 D. Meintel (1.993:53-78).

1,7

Ver Rui Ramos, "Luand€s, a nova lingua da lusofonia", "Ainda sobre o luand6s", "O linguajar luandense", em www.ciberduvidas.com/diversidad es / 0497.htrr.l

ru ifl 'ril

:,

18

CULTURAJUVENIL NEGRA EM PORTUGAL

migragSopara Portugal, aoblackengllsh,nova versdo- "negra" - ndo oficial do inglOsoriginal,l2 passandopelo kimbundo,lfngua origin6ria de certasregi6es angolanas.Este entrecruzamentode referenciaistransforma o crioulo original numa nova variante lingufstica,l3que pouco ou nada tem a ver com o crioulo falado em contextofamiliar cabo-verdianoe guineense.O novo crioulo apresenta-se,ent6o, enquanto c6digo linguistico pr6prio de um contexto urbano e juvenil particular. O seuconte(do sincr6tico,e a suareferCnciaao 6tnico, assumemuma forma est6tica,pela plasticidade das interligag6esentre os elementosconstituintesoriginais e asnovas contribuig6es.O que possibilita a nomeagdodesta novilingua enquanto crioulo, lfngua de caldo urbano e juvenil, falada por certosnovosluso-cabo-verdianose novos luso-guineenses e jovens porfugueses tout court. Em suma, o espagoculfural transnacional, materializado pelo hffen, contido entre os p6los "luso" e "africanos" na expressdo"novos luso-africanos", distende-se,dilata-se e dilui-se para fora dos limites da identificagdo por pertengaetnicizada e luso-africana.com o assumir da relevancia da nogio de processode identificagdo,para dar conta da mudanga de estatuto das variantes identit6rias multifacetadas e entrecruz6veis,a identificagio por referdncia emergee estendea disponibilidade referencial destesfilhos de imigrantes dos PALOR para 16dos dominios "africano" e "luso", isto €, para 16 da etnicidade. Desta justaposigdoentre elementosresulta uma plastiiidade que confereao processode identificagSono seu todo, incluindo a variante de referonciaao dtnico,um cardcterestdticoe circunstancial.Sendoque estamanifesta esteticizagSoda etnicidade nos conduz, irremediavelmenie, a formular ahip6tese de que 6 justamentea partir dos limites da operacionalizagAoda identidade 6tnica, enquanto identidade por pertenga-tonsci€ncia de pertenga- a um grupo - n)e-group - ergoida atravdsda ideia de partilha intergeracional da noqdode unicidade - etnicidade - e de unidade do pr6prio Brupo, que se ergue o conceito de "identidade est6tica,,.Sendoque a mesma se define pela partilha por um determinado grupo, nestecasojovens negros porfugueses,de um conjunto de variantesnomeadas,escolhidas,entrecruz6veis e reapropriadas a partir de espagosde referGnciamdltiplos. Estasnovas variantesd6o corpo a uma identificagdopor refer€ncia,que nao assumea unicidade e a unidade, enquanto factoresn6micos de coesio do pr6prio gnipo, apresentando-se, pelo contrdrio, sob a forma de um tabeltingmitavel,fazendo com que o processode identificagaodestesjovensestejasujeitoa novas express6esemergentes,suplantando ou alterando a nafureza das variantes de refer€ncia.Esta sujeig6odo processode identificagEoi relevancia circunstancial das variantes de refer€nciadominantes e emergentestem por detr6s, 72 IJ

Apropriado e retranscrito gramatical e foneticamente,em maioria, por certos negros dos EstadosUnidos. Ver gloss6rio.

OS JOVENS NEGROS PORTUGUESES

1,9

de facto, a questSoda escolhaindividual que 6, sobremaneira,uma questio est6tica. Confudo, estarelevAncialevanta outra hip6tese:no mesmo sentido em que a identidade 6tnica reflectiria os determinismos de uma identidade grupal ou colectiva 6tnica ou etnicizada,estar6,estaidentidade estdtica,sujeita a determinismos supra-individuais, localizadosno campo da "transesteticidade", tornando contexfualmentemais relevantescertasrefer6ncias,certasest6ticas,ou transest6ticas,em detrimento de outras?

A nostalgia da etnicidade Olugar da est6tica,na produg6o da etnicidade enquanto elemento de identificagdopor refer€nciae n6o por pertenga,situa-sena capacidadede mutagdo da prdpria etnicidade em produto - est6tico- de uma imaginagSocolectiva, ela pr6pria transformada em prdtica social,atrav6sda sua vinculagdo aos media. Aetnicidade cedeem detrimento da suapr6pria imagem, ou como salientaria P.Virilio (1988),a etnicidade 6 a suapr6pria e definitiva reapresentagio imagdtica, permitindo, desta forma, que a refer€nciaao dtnico se constitua enquanto transest6tica,atrav6sda validag5ocolectiva do seuvalor est6tico represent6vel,por exemplo, no processode identificagSodos, doravante, irvens negros portugueses.Neste sentido, e voltando ao presenteesfudo de caso,os v6rtices "luso" e "africanos", na definigio "novos luso-africanos",seriam pontos de interfer€ncia (nodes)entre territ6rios imag6ticosreapresent6veis e em constante"negociag6o",com a particularidade de n6o remeterem para referenciaisdtnicos - no sentido da pertenga- mas etnicizados - no sentido do seusignificado est6tico.Aestesterrit6rios, A. Appadurai (199q de onome de ethnoscapes: n6o validam qualquer consciOnciade grupo 6tnico ou we-group,sintetizam imagens dessaconsci€nciareapresentdvel,possibilitando a construgdode umas quaisquernarrativas identit5rias. Territ6rios imag6ticos que s6 remetem para espagosfisicos, no sentido da reapresentagdodos mesmos atrav6s de um imagin6rio colectivo e mediatizado, ou mediascape (ibid.).O ethnoscape 6,portanto, um conjunto de imagensreapresentadasetnicizadas,produtos da validagio - atrav6sdo mediascape -do seu significado est6ticocolectivo, e potencial de identificagdopor refer€ncia.O que quer dizer que qualquer imagem reapresentadaetnicizada,por refer€nciaao 6tnico, a etnicidade, constifui um elemento,uma variante, de numa narrativa identit6ria possivel, sem que a mesmaestejaobrigatoriamente associadaa um processode identificagio, cujo ponto de entrecruzamentosejao 6tnico ou a etnicidade:casopor exemplo de jovens portuguesescujospais n6o s6ode origem cabo-verdianaou guineense/mas que falam o crioulo porque o mesmo assume os contornos de um c6digo lingufstico - cal6o- intrajuvenil num determinado contexto urbano.

T { CULTURA JUVENIL NEGRA EM PORTUGAL

em orpermite, portanto, a reapresentagdodos ethnoscapes O mediascape em convertido identificagSo de dem d edificagdo d" ,t- qualquer Processo en-plasticidade modulagdo da narrativa. Uma narrativa geradaatrav6s tre variantes, dando, Por conseguinte,forma i ideia de que as variantes s6o intercambi6veis em fungdo de anseios,individuais e colectivos, de viv€ncia de protonarrativas "de vidas Possiveis", ou ainda narrativas "do Outro", est6centrado nas imagens e como afirma A. Appadurai (1,996).o mediascape baseadona nogao de narlativa transest6ticada qual surgem, e, Para a qual est6ticasdescontextualizadas,ou ainda contribuem, novas reapresentagSes "sem sentido do lugar " (ibid.). Aetnicidadepassa, ent6o,para o campo da imagem, imaginagaovisual, est6ticarepresentdvel,transest6ticasujeita a uma sintaxecolectiva e televisiva: "(...) Arevolugdo ser6transmitidapela televisao"(LastPoetsem Powell, 1997: t01). A etnicidade, " obra da imaginagao" (Appad ur ai, 1996: 31). A imaginag6o,ela pr6pria transfigurada em pr6tica social mediattzada para criar, iomo refereP.Viritio (1995),a ilusdo de que o mundo inteiro 6 o mediascapepor e, simultaneamente, excel€ncia,como tal, o coniunto de todos os ethnoscapes, Neste macromldia/ethnoscapeo actor social e telerepresenttiael. telepresente P.Virilio: "(...) o riltimo territ6rio urbano cedeo lugar ao teleactor,prossegue (...) recolhimento sobreo corpo animal da organizagaosocial e de um condicionamento outrora limitados ao espagoda cidade como ao esPagodo lar familiar " (ibid.:2a). Reenquadramentodo corpo elepr6prio telepresente/na susendo que o co{po 6 o lugar do nao-lugar da teleacgSo, perficie da teleacado, que nada mais tem a ver com o "aquLi"e o "agota" da acAdoimediata. Com iito, deixam de fazer sentido as nog6esde espagoou territ6rio "global" e "transnacional", por oposigdoao esPagoe ao territ6rio "local" e "nacional", em favor do espagoda acE6opresenteou telepresente,cujo ponto centripeto e, simultaneamente, centrifugo 6 o pr6prio corpo deste teleactor, ou "homem-terminal", citando de novo P.Virilio. Um novo enfoque sobreo co{Po,acumulador de representag6esimag6ticas das experiOnciastelevivenciadas,ganha forma, contrariando os fundamentos das nog6esde in-group,out-group,e we-4roupdesenvolvidas por N. Elias (L994a).Com efeito, as sociodinAmicasda estigmatizaqdo,e contra-estigmatizagSo,perdem o seu sentido enquantojogos de forga e de poder entre grupos comunit6rios,6tnicos e distintos, dos quais, um est6 "dentro" e outro "fora" do circuito de legitimagdoe controlo dos atributos ou factoresde divisdo entre ambos.Neste sentido,6 a pr6pria mudanga de significado dos elementos ou factoresde divisio entre in-groupeout-groupqlJevemalterar o sentido da demarcagdoentre os mesmos.Com isto, asnog6esde etnicidade, e de passadoetnicizado comum, transfiguradasem variantes est6ticasreapresent6veis,incorporando processosde identificagdo,esvaziam-sede conterido estigmatizante, ou contra-estigmatizante,isto 6, esvaziam-sede poder de identificagdo 6tnica e n6mica entre grupos comunit6rios. Apassagemfiltrante da

OS ]OVENS NEGROS PORTUGUESES

21

ehricidadepara o universo do ethnoscape acabapor legitimar a suareapresentagdo est6tica,imag6tica e medi6tica, atrav6s do mediascape, em detrimento do seu significado enquanto factor de coes6ode grupo 6tnico, e de suporte d legiti mag6o de um "dentro" e um "fora". A pr6pria perda de significado de um "dentro" e um "fora" cria a disfunEdodasnoqdesde "aqui" e de "agora",legitimando a noEdode n6o-territ6rio para definir o espaeoonde sepratica, doravante, o exercicioda reapresentagdodas variantes identit6rias, componentes est6ticas,imagensatemporaisend6ticas/por oposigdoa ex6ticas:"(...) 6 o fim do mundo exterior,o mundo interior transforma-sesubitamentenummundo e ethnoscapen6o delimitam qualend6tico " (Virilio,1995:38).Osmediascape quer repertoriagdono espagoe no tempo-placelessculture-(Meyrowitz em Fitzgerald, 1991,:193)- sendo que o corpo se assumeenquanto rinico elegeograficamenteacontexfuais mento de interconexdoentre asrepresentag6es e escolhidasatrav6s dos processosde identificaqSoancoradosnuma sintaxe que permanececolectiva/televisiva. O acessoi sintaxecolectivageneralizou-secom o desenvolvimento dos meiosde comunicag6ode massas,dosbens de consumoelectr6nicose da pr6pria indristria do lazer.O ponto central de ligagio ao que nos rodeia 6 a nossa pr6pria telepresenEa,e por ventura teleacgdona plataforma do mediascape, dando corpo d ideia de que o mundo inteiro 6 de facto end6tico, isto 6, reapre(Baudrillard em Gillespie, L995: sent6vel sob a forma de uma hiper-realidade 13), que promove e precipita a ligagio aos "outros ausentes" (Giddens em ibid,:3).A comunidadedos "outros ausentes"6 a comunidadedos consumidores na sua totalidade (Hebdige em ibid.:14),remetendoos processosde identificaEio para as acg6esde consumo e para as expectativasgeradas em torno de um consumoque sesubstitui aosconceitosde identidade e de classe. Aactividade do consumo 6 vista, portanto, sob a forma de uma acgSode mobilizagSodos atributos est6ticosreinterpretadosa partir de uma transest6tica vinculada ao mediascape, facilitadora da mediaqSoentre "o que se 6" e "o que $equer ser". E, precisamente,neste intersticio, enhe "o que se 6" e "o que se quer ser", que o conceito de "identidade est6tica" adquire operacionalidade,encontrando ressonAnciano conceito de "identidade flutuante" ("free-floating identity") desenvolvido por S.Hall (in ibid.:17).Apartilha de variantesde referOrrcianomeadas,escolhidas,entrecruz6veise reapresent6veis,por exemplo enhe e pelosjovens negrosportugueses,situa-senum plano de ac96oque extrapola osespaeosdobairro residencial,da escolae da famflia,situando-seno nio-espaqrt" 6 o da comunidade de consumidoresdessasmesmasrefer6ncias,a partir T qeurnmediascape e ethnoscape parttJhadose comuns.Estamudangana percepqdo e.apropriagdodo espagode refer6ncia,p6e em xeque,n6o somentea ideia tradiaonal de que a uma cultura correspondeurn espaqogeogrdficocircunscrito, mas tamb6m a de que, fruto dessaestreitaligag6o,surjam identidades comunit6rias legifimadamenteespaciais,temporais,hist6ricase tradicionais. Pelo contr6rio,

CULTURA JUVENIL NEGRA EM PORTUGAL

como refereS.Hall: "(...) quantomais a vida social6 mediada pelo marketing global dos estilos,das imagense dos lugares,mais asidentidades sedesancoram de 6pocasespecificas,dos pr6prios lugares,dashist6rias e tradig6ese parecem flufuantes" (ibid.:17)Estasimagense refer6nciass6o "flutuantes", por isso,reapresent6veis,e, enquadr6veisnumespagoque permite a reapresentagdo da pr6pria etnicidade - identificagSopor refer6ncia- sob a forma de uma nova, ou travestida, identificagdopor pertenEa,alterando o sentido do familiar, do hist6rico, do tradicional e do temporal. E exibida, atrav6s do mediascape, a reformulagdodas pr6prias nog6esde familiar, hist6rico, comunit6rio. EssareformulaEdotraduz-se na disponibilizagdo,para a comunidade de consumidores, das variantes necess6riase dos seus novos significados, em ordem ir construgdo,validag6o e legitimaESodas "novas" pertengas,que ndo s6omais do que "novas" refer6ncias"flutuantes", isto 6,variantesreferenciais "sem sentidodo lugar" (Meyrowitz emibid.:16). A deslocalizaEdodas refer6ncias,ou seja,d perda de sentido da nomeag5ode uma origem geogr6ficaque valide o significado dasmesmas,podemos acrescentara disfungdoda nogdode tempo, desancorandoo tal significado de um espagohist6rico reapresentdvele circunscrito, fixando-o num "n6o-tempo". A natureza flutuante das refer6nciasabre um precedentefundamental na estruturagdodos processosde identificagdo,ao permitir que sereapresente, se reinvente, a pr6pria g6nese,ou origem das referdncias.Com efeito,e no casoda refer€nciai etnicidade,a reinveng6oe a reapropriagdodo seuvalor est6tico, por exemplo,pelosjovens negrosportugueses,n6o se limita d reinven96o e d reapropriagSodo significado de elementosdecorrentesdos contextos familiar e hist6rico presentese recentes,mas vai para al6m disso. Reinvestem-seos pr6prios mitos fundadores das origens 6tnicas,da etnicidade e, por conseguinte,dastradig6ese dasnog6esde "terra-mde" e"pdtria" (home-Iand). "O que se 6" e "o que se quer ser" confundem-se, agota,atrav6s da reapresentaESodo conjunto das refer€nciasreapresent6veisno mediascape e no ethnoscape, que inclui a reinvengdoe a reapresentagdodos mitos fundadores das pr6prias referOncias.Este novo ndo-espaqoidentitirio, fazendo confundir o "o que se 6" com "o que se quer set", e n6o mais simbolizando a projecg5ode um no outro, adquire o seu sentido, ndo somenteem torno do cardcter vol6til das variantes das identificag6espor refer6ncia,como tamb6m em torno da leveza,da mutabilidade das g6nesesdas pr6prias variantes. Em suma, constituidas e validadas em volta dos seusatributos est6ticos reapresentdveis,as figuras imag6ticasque a etnicidade adopta, no processo de identificagSodos jovens negrosportugueses,por exemplo,s6otamb6m resultantes de um imagin6rio colectivo/televisivo transest6ticoque reagrupa d sua volta uma comunidade de consumidores. Parte da figuragdo est6tica e imagdtica da etnicidade centra-sena reapresentagdoda ou das g6nesesdos mitos fundadores dessaetnicidade enquanto refer€ncia,ou etnoreferOncia, travestida de "rl.ova" identificagdopor pertenga,v6lida para os jovens negros

OS JOVENS NEGROS PORTUCUESES

portugueses,como para o restanteda comunidade de consumidoresque pariilha desseimagindrio. Estareapresentag6odas g6neses,das origens da etnicidade,enquanto sintaxecolectiva,apresenta-secomo uma esp6ciede nostalgSada etnicidade num espaeotemporal onde presentee passadose confun//nertalgiasemmem6ria" (Appadurai dsp ,1996:170)- visto que o passado s6 6 v6lido sereapresentdvel(reinserfvelno presente),sereinventado num constitufdopelo rr ediascape e ethnoscape,perminao-espago(passado-presente) entindo, destamaneira, a reapropriag5odas referOnciaspassadas-presentes, of identity" (ibid.). quanto " labels",ou " slight badges

Capitulo 2, UMA ESTETICA II,IVENIL NEGRA

Serdalgudmnegro o suficiente?E o que 6 sernegroo suficiente,ao fime aocabo? [Isaaclulien, Migrancy, Culture,ldentity, 19941 (.. .) FelaKuti, o fundador da subcultura musical nigeriana chamadaAfro-Beat, aprendeu parte do seu radicalismo pol(tico em Los Angeles. (. .. ) Durante dez mesesentre 1969-70,Fela tocou em Los Angeles no clube Citadel de Haiti no SunsetBoulevard (gerido pelo actor negro Bemie Hamilton, aparecendomais tarde no telefilme Starskyand Hutch) mas o seu principal interesseresidia na aprendizagem sobre o nacionalismo negro. SandraSmith (agora SandraIsidore), uma mulher activano seiodosBlackPanthers,deuaFelauma c6pia da autobiografia de Malcolm X que o introduziu irsideias sobreo Pan-Africanismo, at6 entao censuradona Nigdria. "Sandra deu-me a instrugdoque eu sempreprocurei", recordou ele anosmais tarde. " Eu juro! foi ela quem primeiro me falou sobre.. . Africal Pelaprimeira vez ouvia coisasque nunca tinha ouvido sobreAfrica! Sandra fora a minha instrutora. [George Lipsitz, DangerousCrossroads,19971

A ficgio da identidade Opapel dos m6dia 6 determinante na reapresentagdo de umpassado-presente. da ebricidade t.r-u p-;""gdo imag6ticu do r".r significado llansnguragio :-nquanto refer€ncia est6tica, nos pto""ssor de iaenUicagdo, por exeriplo, dos [:* legros portugueses, estd e^mlarga medida aepenaenie do fluxb de inrormaqdo conzumivJl, e veiculado atrair6s dos canaii medidticos. A legitimagaode uma refer6ncia enquanto variante com significado transestdtico, colectie urbano, sediirenta-se no n6o-espag-o d o medinscape,e valida-se, no ]lluvenit rq'-espaeo da sua reapresentagao contextual, por uma comunidade de consurrudores, na qual estib inseridos tamb6m orlolrut r negros portugueses. A

CULTURA JUVENIL NEGRA EM PORTUGAL

reinvenEio das nog6es,e dos seussignificados,de "tradigao", de "etrticidade", de "g6nese"da etnicidade,de "terra-mde"ede"p6tria" -no sentidode estasremeterempara o PALOPde origem dos pais e/ou para o continenteafricanono seutodo - passa,no casodos jovensnegrosporfugueses,por esseprocessode reapresentaEsodas etnorefer€ncias,e dos seussignificados transest6tico,colectivo, juvenil e urbano,executadoporessacomunidadede consumidores,que,nao a outrosjovens, selimitando aospr6prios jovensnegrosportugueses,estende-se provavelmente,e em larga medida, transnacionais,negros,e utbanos. O mediascape possibilita que essacomunidade de consumidoresseaproprie de etnorefer6nciasex-centradasem relagdoaosespaeostradicionais das culturasde pertengaagoraesvaziadosde sentido.A caducidadeda noE6ode "espagotradicional da cultura de pertenga",acrescenta-se a impraticabilidade de uma outra delimitagdoespacial.Estadiz respeitoao territ6rio das identificag6espor refer6ncia,que n5o soma uma totalidade, na medida em que a mesma 6 compostapor variantes que sedefinem atrav6sda mutabilidade do seu significado, no sentido em que, cadavariante 6, de forma indeterminada, interconect6velcom outras mais. Esteprocessoconduz a que qualquer refer6ncia possaganhar nova figuragSoestdtica,gerando,por estavia, novas reapresentag6es.Com isto, o espaeode reapresentag6o, onde sepratica o processo de identificagSodosjovensnegrosportugueses,6umn6o-territ6rio, ou um "desterrit6rio". A pr6pria comunidade de consumidoresde etnorefer€ncias, na qual seincluem osjovens negrosportugueses,6 um grupo "desterritorializado", porque os actos de reinvengdo,e de reapropriagSo,dos significados das etnorefer€ncias,por estesriltimos, passama estarassociadosa um imagi n6rio colectivo consumivel e transnacional. Contudo, seo "desterrit6rio", no casoem estudo,6 o conjunto de consumidores e potenciadoresdas referOnciasestruturantesdo processode identificagSodo jovemnegro em geral,no qual seinclui o do jovemnegro porbugu6s,o "territ6rio" , por seutumo, 6 o corpo do jovem negro em geral (afortiori,e tamb6m, o do jovemnegro porfugu€s),ou teleactor,comoparececoncluir P.Virilio: lugar de converg6nciae de diverg€nciado bin6mio "informagio-acgdo". Para G. Deleuzee F.Guattari (1980),o "territ6rio" 6 o receptdculo,ou o inv6lucro, para onde convergemfragmentosde informagdodescodific6veisi luz desseenquadramento,assumindoos mesmosfragmentos de informag6o, a partir dai, um novo significado ou "valor de propriedade". Com isto, o territ6rio transcende,simultaneamente,o organismo e o meio, e a correlagdoentre ambos.Nesta medida, o processode identificagdo6 o territ6rio: por um lado, porque 6 o conjunto das identificag6espor refer6nciamut6veis, e de significado reapresent6vel,em funE6o das inter-conex6ese inter-relag6esentre va' riantes por referdncia,em circulag6o no mediascape, e por outro, porque a sus' tentabilidade das referGnciasna consubstanciagdoda identifiiagdo dos jovens negros portuguesesdepende,n6o somenteda reapresentagaodo valor transest6ticodas refer€ncias- incluindo etnorefer€ncias- para o "jovern

UMA ESTETICAJUVENIL NEGRA

negro em geral", mas depende,tamb6m, das idiossincrasiasresultantesdas intlconex6es e inter-relagOesentre estasrefer€ncias,extraidas da tal sintaxe colectivae televisiva, e outras, pr6prias de um contexto comunitdrio mais directo(a famflia, asredesde sociabilidades,etc.)dando, finalmente, o seu sentido, i nogSode "jovem negro portugu€s". Estasidiossincrasias,resultantesdo entrecruzamentode uma identidadecolectivatransesteticizadacomoutramais individual,ndo s6omais do que apossfvelmargem entre "o que sequer ser" e "o que se6": a margem que possibilita o paradoxo esquizofr6nico entre estesdois v6rtices de identificagdo, viabilizado pela capacidadede gestagio e criagdode novos significados, novasvariantese novas refer€ncias.Destamargemerguem-see centrifugam "li(ibid.:15-76),exercinhasde desterritorializaglo" (Iignesdeddterritorialisation) ciosde descodificagdode novas propostasde identificagAo,atrav6s de novas correlag6esentre variantes.As linhas de desterritorializagdogeram, elaspr6prias,amargem, atrav6sda sustentagiode uma tensdonecess6riaentre a anexag6o(territorializagdo) das variantes a um quadro contextual de identificagio por refer€nciamanifestamenteem uso, e a desconexdo(desterritorializa96o)das mesmaspela dinAmica,colectiva e individual, pr6pria da gestdoda tal esquizofreniaentre "o que se 6" e "o que se quer ser". Estasindagag6eslevantam a hip6tese de que os principios de definigdo do "processode identifi cagdo"sepodem equiparar aos do conceito de " rizoma" (rhizome)delineado por G. Deleuze e F. Guattari (1980).No sentido em que, qualquer ponto (refer6ncia/variante) de um rizoma pode e deve estar conectado- princfpio de conexdo um outro. Aheterogeneidade - segundo principio avangadopelos dois autores -manifesta-se atrav6s do cardcterinacabadoque assumemas diferentesrefer6ncias/variantes.Os autorescitam o exemptoda lingua, enquanto realidade essencialmente " (...)Elafazbolbo. nvJtui por caulese fluxos heterog6nea: subterrAneosao longo doJ valesfluviais (. . . Ela desloca-seim forma d.eman) chad-e6leo. " (ibid.:i+;. O.rionto, iir,grrade cal6ourbanoe juvenil, as"rrq.runio semelha-sea essarealidade heterog6near co*o rri*os, v6rias sdo as componentes lingulsticas desterrito nalu:adai (blackenglish,luandOs,crioulo cabo-verdiaque d6o o seusentidoa umtodo novo-essa esp6ciede cal?P"tuSuCs,etc.) rao;uvenil e urbano apropriado e falado por certosjovens negroi portugueses'O entrecruzamento dis fon6ticase formas sintdcticasdesterritoiializi-as, a sua territorialidade centrada, enraizad.a,emLuanda, na cidade TilAd. em Nova Iorque, Los Angeles, Lisboa ou ainda noutro contexto de i1'1-11": fim, essanovilingrrf, orr lingua de cal6o,6 ela pr6pria uma li:I",tl"iu.Por nna de desterritorializagao,umi fuga em ielagao ds sintaxese fon6ticas que e significado, na meiida em que a introdug6o ainda de novas Ti-1i":""Udo rrulucncias/novas iefer€ncias,no todoheterog6neo,alude-denovo e ad aeternum ldesterritorializaglo do pr6prio calao,-isto 6, A impraticabilidade de uma definitiva definigat au r.ri fotreti"u e d.asua sintaxe.

rrf"

UMA ESTETICA JUVENIL NEGRA CULTURA

NEGRA EM PORTUGAL 'UVENIL

O terceiro principio 6 o principio de multiplicidade. A multiplicidade remete para as leis de combinagdoentre as dimens6es (refer€ncias/variantes),que f.azemcomque a pr6pria multiplicidade mude de natureza em funqdo das combinag6esentre dimens6es.Neste sentido, um "agenciamento" (agencement) 6, precisamente,adiantam os autores G. Deleuze e F. Guattari, esta mudanea, este crescimento,das dimens6esnuma multiplicidade, atrav6s das suaslinhas abstractasde fuga ou de desterritorializagdo,permitindo que estase interligue com outras mais, alterando assima sua natureza original. O processode identificagdodos jovens negrosportugueses6, por isso,dinamizado pelo inter-relacionamento, pela combinagdo, das identificag6es por refer€nciareapresent6veis.Identificag6espor refer6nciadeterritorializadas atravds das linhas de fuga, ou de desterritorializagdo,em relagdoaos cendrios culturais escolhidose de eleig6o.As linhas de fuga, interligam as refer6ncias eleitas gerando, por um lado, uma nova reapresentagdoesteticizada das refer€nciasde partida, e por outro, um agenciamentoresultante da mudanga de significado das refer€nciasem constantecombinagdo. Quarto principio. Existe,contudo, um ponto em que 6lfcito pensar que o processode identificagio remetepara um conjunto estratificado, organizado e territorializado de refer€ncias,autorizando uma definigdo plausivel da identificagdodosjovens negrosportugueses.Esseponto resulta do encontro, da tens6o,entre as "linhas de segmentaridade" (Iignesdesegmentaritd)(ibid.: 15)- linhas de estratificagdoou de definigdo de uma territorialidade - e as linhas de desterritorializagdo.Estaslinhas cruzam-seno exactoponto - no hifen- de contactoentre a territorializagdo e a desterritorializagio dos espagosde identificag6o,delimitados por "o que se6" e "o que se quer ser". Atens5oentre aslinhas de segmentaridadee aslinhas de desterritorializag6oautorizam uma definigSoda identificagdodos jovens negrosportugueses,mas naturalmente uma definigSo"em acgdo",incompleta, em fuga, e em permanente desactualizagdoou desterritorializagdo,visto aslinhas de segmentaridade, tamb6m elas,sedefinirem tendo em contaa presengadas linhas de desterritorializagdo,impedindo o "resfriar", o statusquo da tensdo entre ambas. Esta tens6o, finalmente, cria a constantefuga e a reconstituigdoda identificag6o dos jovens negrosportugueses,num processode desterrito rializagdo/ redesterritorializagdo das refer€nciasesteticizadasreapresentdveis,reestratific6veis, re-significdveis: "(...) faz-seuma ruptura, traga-seuma linha de fuga mas arriscamo-nossempre a reencontrarnela organizag6esque voltam a estratificar o conjunto, formag6esque colocamde novo o poder no significante, atributos que reconstituem o sujeito" (Deleuzee Guattari, 1980:16). o quinto princfpio do rizoma,que adoptamospara redefinir o conceito - processode de identificagdoaplicadoaosjovensnegrosportugueses,6 oprincipio de cartografia. Esteprincfpio 6 fundamental pari p"rciber al6giia de requalificagSodas identificag6espor pertengaem identificag6espor refercncia, atrav6s da reapresentagdoesteticilada das pr6prias refeienciasfiltradas,

emediascape.Comefeito, segundoesteprincipio cosrovimos,pelos ethnoscape "eixo nenhum gen6tico" (axe gindtique) enquanto existe estrutura profunnio qual o rizoma a se "IJm erga: justific6vel rizoma n6o 6 sobre por nenhum da ou generativo. " (ibid. estrutural : 20).O rizoma define, anies, uma carmodelo ta onde est6oconectados,e simultaneamenteem fuga, os pontos - as refer€ncias- que lhe ddo um significado desterritorializado.Ndo existenenhum princfpio de gdneseou de enraizamentopassivel de estruturar, de baixo para cima, a evolugio das conex6esemtodas asdimens6ese multiplicidades do rizonna,Assim, no casodos jovens negros porfugueses/a passagem,como argumentamos,das refer6nciasconstituintes dos seuspro-essoJde identificagdo,do espectroda pertenEagrupal, intergeracionale 6tnica,para o campo d.a transest6tica,desagregouo conteridounificador entre gerag6ls- 1."geiagdo de imigrantes dos PALOP e seus filhos - das nog6esde "cultura das origens"r "tetra de origem", "origens", "taizes" e "terra m6e,,.No caso dos jovens negros portugueses,estasnogoesest6oesvaziadasdos seuscontornos generativosde uma tal consciOnciade pertengagrupal entre pais e filhos, em volta deum qualquer eixo gendtico,estrufuradasintergeracionalmenteapartir de um ponto hist6rico preciso.No sentido em que, a desterritorializigdo dasnog6esde "terra de origem" ," cttlfura dasorigens,,,,,terramde,,,etc.,atra_ v6sdosespagosdoethnoscape edomediascape,geialinhas de desterritorializagio, e, simultaneamente,linhas de segmentariadade,que convidam estasnogoesa safremdo campo da etnicidade e a passarempara o campo da transesteticidade.Estatransesteticidadeautoriza, por sua rrez,a eleigdbdaquilo que 6 reapresent6veldestasnog6esdesterritoriilizadas, assimcomo a reapresent5a9 {9 outrasnog6esde outros espectrosde referOnciastamb6m elasdesterritorializadas. Desteconjunto cartogr6fico que rerine tod.as as nog6esdestere respectivaslinhas d"edesterritorializagio e de segmentaridaItlTli:"d"s, o", o tal processode identificaEdodo jovem negro poitugu€s. "*1"1:re ror nm, o sextoprincipio: o principio de decalcomania.Esteprincipio, salientamos autoresi. Del&ze e i. Guaitari, comeeapor sedistinguir de ouque ndo entra em linha de conta no casodo rizoma: o princfpio T:$ylt" Com efeito, esterilrimo cenrra-senuma l6gica bin6ri" qrreir,::.TT:ltio. de reprodugdo,sem previamente haver o iso6mento do objecto, :,:ii_1_1. se quer-reproduzir.O principio de decalcomania,por seu ijle Rartes,.eu€ pr6xiriro da tdcnicafotograficatu da radiografia, na medida lT?,ljl1yis sao aqui, previamente, seleccioiados e isolados os-contornosdo ob:^':l!t" reprodugdo.Com isto, os autoresabordam a importdncia qq oer€covlclade, 5::t"f:ff:sterior e, por conseguinte,a preponderdncia da natureza fugaz do avaneamcom a oposigaoentre a ,,mem6ria curta,, 3T::::1"-memorlagao: -, * *rcrtrorla longa", e reafirmam, simultaneamente, o cardcter mriltiplo e .t"9T" Ooroposisaoir 6rvore, isto 6,Asnosoesd e g6nese, r aiz, llTll["::1: --"rr6s..r' rr mem6ria curta pressup6eo esquecimento q.ru.,Io processo/ nao se confundindo "t com o initante,has com o rizoma cole6tivo, temporal e

w

CULTURA IUVENIL NEGRA EM PORTUGAL

UMA ESTETICAJUVENIL NEGRA

31

(wrtablesourtdback) do indiiduo' e que' em {Itima ineftlnnervoeo";"a mem6dalonga (brdia, raqa,sociedadeou civilizaeeo)decalcae pat#lnlrdebol$o' aesimcomoa expedcnciado rualkAescoln da banda sonora' nel^prtpria" loeleuzee Guat' i6,9 define(Ir. Jarr, rlu" o qo" a" t""to iaa* cotttittoa. (irtsttsioelywknk experiercz)e'rr urna expericnciapdvada "git 4anerrflj.adapL.ce. zor d sobrernanela a"qoi,o",oiri".i u"i, rggo i+2b,fur^""r6riu"urtu, que rodei4 s€m deixar de delimitareste{ltimo' atrav6 da o r[rndo lzsscrlfrr?,datalcdtura"sens€ntidodolugal'(t{,tlh rcsaseofplaa):vitinaaa lebtao ao '.ieiiiei 6' atav€s daquilo quePode_ das suas rovimentae6es'isto corpoe it" tott.t^ po.ttto rn""el4ado voltandoa P.irilio,6e ot^ uo Estaslinhas definilinhas de segmmtaridade do aMfttn'" ".rlt as ^ai*,"op",e, iiunoe chamar Litfp"t"""t"*J."i"p.:t pr6Fia na exp€ri€ncia det'ttlking-man,e'6'mr,Iado corpo ""eta"rf.dainJormafaodohomern-remi;ldo riall 06contomos iovetnnegnou$ano, induindo o iov€mnegroporlugu€surbano. cons' da raq[retrte' as lintlas de desterdtorializaeio'tomando Po€slvela extm€aoda o exernplo os autoresG. Deleuzee F.Guattari,avingalicom da e€colhadasnanativas"portdteis",Parao mundo,o anibiente, aogao a" toa" u t i"to"i" aoe EstedoeUnidos, lomo eendoum'exemplo de og€ri&rci& uma esp€ciede con"(...) com o ..rrl&t@''hd simultaneamente imi sociedadeerguidade foda rizom6rfica,por contrastea toda a hLt6ria q; ar todeia: a""o*toeaoaoior"u-*to*-p"o"o"id"itul,qo"6detiPo-arborcscen_;rrtagaodoambientequenosrcdeiaeumProlongammtodonos6opr6pdo te:"(...)tudooquisepassoudeimiortante,tudooquesepassadeimportan-crrtPo"(ibin:49)' ocorPo reafirmao Prccessodeidmtificatao ahavdsde escolhasest€tifuarrotieatnick' nd.r7oulii,"u''ut"tta"*t,lg"t'Pos t"pro"ia"fo""i--u'u colla" cas,coladase interliSadascircunrtancialfimte u,oasls oubas (n o q"" ri";u *netao"i-Ji"t" e orres. avancoslaterai.'eu""""iuoe '.fabie manilesta a "Presensa-parbcrParizoma'amedcano 8r),para dar o 6eusentido!s narrativas,e o t".d"r. de"oa ;%'("1;;i,,'(D"*d;-Cr"i"",iis0ti. que o corpo(sotl[dt"' no ambiente circunda narrativas geo Pr6prio -destae *""161serveaquiparaporemrcwooniperconlmiJe**,ntriJot de desterritorializapr). Finalnente,o coryo em tr6n6ito,definindo aslinhas ai p""" ae- Ool fi*it"! ao ptoprio t"".itOrio "q"" i" g"of.Ii""*;t" de idenhJicaeao'ele ""t"do-*gao- fuga- e d€segllrelrtaridadedo Pr6prio ProceBso qeo,eEeinterconecta,inter-rcp".to",",tto-iio*'"pugo-aquiloqueG.Dele (dias?oricid'n' em movimento, e'n drAsPotu tamb€ur, e consequmtemente, - ge uze e F.Guattadclrar*m de delors,e quee aiiri LirOp-"'-"air"p" ftfy\DidsPgra' que Permitea definieaodos contomosidentit'dos soba fori*ao.,*rro.,o nao*"p uptopno"aJ,iunipeiespoqi, rJug""p"t ao Jco";; tlra dc um deiiSt, que seevidenciaPor um coniuntojn termulivel de narratitodosesDaco6derefercn.i"a""t"r.ito"i"rir!aoi,Lri*.""'aoir-"-.tog"Ji, vas_de^vida - e/ou de vidas Posslvers- ou ainda,como referclain cham;:;;fi;;;;;:,ilJ"J"r-tlJ"a.a.*ear"*r*e"ciag-evirian de"micronartativas":'( )O&'alhmnpossibt\l^attihiper-espaco4 finalmente,o conjtmtodeconeumidorel P'-ryumconirmto teedisponlvei-s."Este

derefercnciasestetici;dasflutuantes.

ffi*"ffiyi:ttrHL1"ff&ffit*:i;XT6'naosomenteum

Anogdo de micronarrativas levanta, novamente, a questio do lugar do Outro, ou dos "Outros ausentes",como prefere sublinhar A. Giddens, fazenUm corpo e um estilo negros do-osconfundir-secom a comunidade de consumidoresno seutodo, levando a que a nogdode espagodelimitado interclassistasetransfigure em espagodo O rinico territ6rio delimitdvel do processode identificagdo do jovem negro corlsumo. A dindmica da definigdo identitdria - eu e os outros ausentes portuguds 6 o seu corpo: corpo recePt6culoda informagdoveiculada e vincu' - cria-se,finalmente, nao num movimento de sentido vertical e ascendente Corpo ou corpo-terminal: lugar de conflu6n' - de baixo e mediascape. lada aosethnoscape para cima, da periferia para o centro - mas num movimento de da tensflo entre "o que se 6" e"o que se quer ser", delimi' car6cterrizom6rfico, cia,/converg@ncia fazendo emergir aquilo que G. Deleuze (1990)chama as tando a ope-ao,a escolhacontextual de narrativas, que seassumem,de segui zonas de vizinhanga" (zonesde aoisinage).As zonas de vizinhanga substi. da, como caducase ultrapassadas,pela dinAmica da desterritorializagdodos ruem as nogdes de "centro" e "periferia" na construgSo/reapresentagdodas significados das refer€ncias,e variantes est6ticas,que d6o forma ao Process0 refer€nciasex-centradas em relagdoa um espagogeogr6fico circunscrito, rede identificagdo. Corpo-colector das mem6rias, dos mitos, das est6rias,dos localizando-as num dehols/comoreferem, por stavez,os autoresG. Deleuze sons reapresent6veis. e!' Guattari (1980). Sendoque essedehorsZ,simultaneamente,o pr6prio meCorpo-inv6lucro das escolhas,e fio condutor das narrativas de vida tnscapee o corpo do indivfduo. .,r* p"t".,tso desterritorializado: a narrativa/ essa esp6cie de aural walk' As micronarrativas de vidas e/ou de vidas possiveisdelimitam/portan. como salienta I. Chambers (L994:49).O mesmo que de seguida se aPressa' to, a identificagdo do walkmanao soundscape, e deiimitam o espaeode identificomparar as narrativas de vida ds caminhadas do walkman,walk-man,u)aP jovens negros portugueses aosmediascape qos e ethnoicapede refeftnking-man.As refer€nciasest6ticas,as variantes,partes comp6sitasdo proces' :Ia: cia' O desiSnidentitd"riodos jov-ensnegros portugueses,reapresentadosob a so de identificagio, s6o os sons, as mrisicas que comp6em a banda sonofa

wr CULTURA JUVENIL NEGRA EM PORTUGAL

forma de uma cartografia das refer€ncias reinterpret6veis, evolui, por conse. guinte, entre zonas de vizinhanga, dando dnfaseis linhas de segmentaridade q de desterritorializagdodasmicronarrativasterritorializdveisno pr6prio corpo, Um corpo negro. Um estilo negro. Uma culfura negra/ como mencionq L. Back (1996),6um entrecruzamentode significados culturais que d6 o seq sentido a um processosincr6tico de identificaEdo,numa tensdo entre umq identificagdo d negritude e uma identificagAoi nacionalidade: "(...) O que significa ser "negro" no quadro de uma definigSo da identidade inglesa?, (Back, 1996:1.84).Tensdoentre negritude e nacionalidade, e tensdo entre "0 que se6" e "o que sequer ser", no sentido em que estesdois movimentos per. mitem que sevolte a colocara questdoda pertin€ncia do cardcteresteticizado do processode identificagdodos jovensnegrosportugueses,d luz de umestu. do mais fino sobreas componentes"negro", "negritude", "nacionalidade", n "portugu6s" associadasao corpo e i identidade. A reapresentagiodas referdnciasna consubstanciagiodo processodr identificagSo6 um processode construgdo(makingofl. Estemesmo, aplicado aosjovens negrosportugueses,remete paraum ethnoscape ondeestio presen. tes,n6o somente,figuras imag6ticascujo conterido estdticoremetepara aqui. lo que cham6mosno primeiro capitulo de "etnorefer€ncia", e que se desin. volve d volta da reapresentagdodas etnog6nesese das nog6esde "etnicida. de", "tetra-mde" , e, entre outras, "culfura de origem", mas tamb6m, figuras que remetem para referdnciastransest6ticaspartilhadas pelo consumo das imagens da negritude: reapresentag6es imagdticasda suaessOncia, da sua au. tenticidade, da sua aura e dos seusestere6tipos. Anegrifude 6 um "em construgdo"de significados,num agenciamentc de formas culfurais que celebraos valores est6ticosda negritude. Estesvalo resest6ticosnSoseresumem,no entanto,ao seudnico territ6rio de reapresen. tag6o:um corpo negro. Nestesentido,no casodos jovensnegrosportugueses, a negritude 6 tamb6m uma questdo de narrativa - micronarrativa - onde est6presentea gestdoda tensdoentre "o que se6" e "o que sequer ser,,, ages. tdo da tens6o entre "ser negro" e "ser portugu€s", e entre ,,sernegro poitu. gu€s" e "ser negro em geral". As reapresentag6es imag6ticas- esteticizadas- da negritude confun, dem-se, por conseguinte,e fundamentalmente, com asnog6ei de "autentici' dade", "ess6ncia" e "estereotipificagdo" construfdas sobre o conceito de "negritude". AnogSo de autenticidade, aplicada a negrifude, remete para a questa0 da autenticidade das formas e express6esdaiulfura r,"gtu reupt"sentadas, entre outros, pelos jovens negrosportugueses,perante aquilo que destarilti, ma 6 vinculada ao mediascape. Neste sentido, filar-se-6 de umjtransestddca negra reapresentadaatrav6sdo tal makingof de umestilo negro transnacional que passairremediavelmente para o campo da mrisica (negia): " (...) estatro' ca homogenefzaos estilos e a mrisica doslovens negros qul vivem e mpaises

NEGRA uMA EsrfTIcA tuvENlL

e o hip-hopderam um impulso adicional a um Processo diferentes- o rcggae. j azz e o blues"(Sansone,1995:1L4).Estilo negro, mrisica e o orr" .o*"qo u com negras transnacionais.Contudo, e segundo P. Gilroy (1996)'as ex"=rteti.u dominantes da atracgio destatransest6ticanegra, Para uma comupress6es que inclui osjovens negrosportugueses,est6osituairidudu d" "onsumidores das em dois planos paralelos, que, aPesardisso, ndo deixam de poder ser equacionadosenquanto antag6nicos.Assim, para estemesmo autor, a atracpor u5u transest6ticanegra Parecesituar-se,simultaneamente,na identi"do ii.uiao, pot parte dos jovens negros,a um sentimentode exclusdoem relagdo proi"sros de mobilidade social, em larga medida motivada pelo senti"os mento de discriminagdoracial. Mas,por outro lado, e simultaneamente-e ai resideo car6cterantag6nicoda atracA6oi transest6ticanegra - os jovens negros, que nascelam e foram socializadosno seio das sociedadesocidentais europeias, interpretam como seus os valores que promulgam o direito ao acessoem igualdade d mobilidade social,d realizagio pessoale ao consumo: "(...) estardentro mas ndo pertencerao Ocidente" (Gilroy, 1996:3).Dito de outra forma, se a autenticidade das formas culturais vinculadas a uma transest6ticanegra promulga a ancoragemdos seusconsumidores- jovens negros - a uma especificacontra-cultura negra libertdria - we-groupnegro - que situa assuasreferdnciasnum passadodo povo negro - african cravizado,ela n6o disfargapor outro, a sua erosdo- perda de autenticidade - pelo facto dessasrefer€nciasseterem tornado etnoreferlncias, por issoesvaziadas de conterido etnicizante e agrupador de uma macropertenga6tnica - africana- e diluidas no mediascape no meio de outras refer6nciasjuvenis e ocidentalizadas. Autenticidadeaersusperda de autenticidade: destatensdo geram-seas formas culturais negrasjuvenis que sio, doravante, como vimos, do dmbito da est6tica,da reapresentagdoimag6tica,e ndo da consciOnciaetnicizada de q"qo 6tnico "negro". Desta tensSonascemas linhas de desterritorializagdo das tormas culfurais negrasjuvenis que transformam, portanto, asidentificag6espor pertenga6tnica,em identifiiag6es por refer6niia a uma transest6tica 1"9t3 " iuvenil. A identidade estdticados iovens negros, e por conseguinte, do.siovens negros portugueses, ganha corpo na in"solubilidade, agiavada pera evtd€ncia da presengado corpo negro, desta tensdo entre o aut6ntico - roenhhcagdopor pertenga- e a perda (desterritorializag6,o)do autOntico - rqenttficagSopor refer€ncia- das formas culturais juvenis negrasvinculadas ao mediascape. .A.S.ettioda impraticabilidade da identificagdoao 6tnico,ao we-grouprregrottnicizado, geraessatensdonecess6ria,que conduz ir deslocaqaod'ocampo oncleseProcessaa identificag6odos joven, i"gro", pura os extremosda est6tica, transest6ticajuvenil t .rrr* equilibrio entre reapreimag6ticasda "gru, nigritude e"o-ptottl"ro doi valores "rr, e forriras culturais ocidenTlt?9fu_t tais/ocidentalLadas. Nesteientido, 6 definitivamente no campo do consumo

Gf-

CULTURA JUVENIL NEGRA EM PORTUGAL

esteticizadodas refer€nciasdesterritorializadasquer das reapresentag6es da negritude, quer dasformasculturaisjuvenis,que sejoga a ficqdoda identidade, e que,por riltimo, seconsolidauma identidade est6ticajuvenil negra,validada pelosjovens negrose, tamb6m,pelos jovens negrosportugueses. No dominio da tensdo entre "autenticidade" e "peida de autenticidade" ,L. sansone(1995)avanqacom um exemploelucidaiivo:o uso do cortede cabelo no casodos jovens, filhos de pais imigrantes do Suriname, residentes em Amesterd6o:um corte de cabelofiel ao autdntico de uma cultura negra de pertenga significaria que os jovens usassemum corte estilo roofsou natural hair,isto6, que ndo o alisassemou o desfrisassem. Esteestilo op6e-sea outro -manipulated hairor discohair:"o cabeloestilo"disco"eralubrijicado, aparado, redefinido vez sem conta, e, adicionando a coloragdocor de prata ou pequenosbolbos clarose coloridos, transmitia uma nogdode modeinidade e de alegria" (sansone, 1995:122).Confudo, refere ainda o mesmo autor: ,,Estas duas l6gicas de est6ticaestilizada sdoformalmente autOnticasporque ambas implicam um modelar particular de acordo com imagens esteieotipicasmetropolitanasda negritude. " (ibid.:r22).por outraspalivras, os dois estilosde corte de cabelo,aparentementeantag6nicosno que diz respeito d identifica96o por pertenga ao autdntico ou ao ndo aut€ntico - desvirtuado (sell-out) - remetem, afinal, para uma mesma reapresentaga0desterritorializada - pr6pria do contexto mediascape - da refeidncia - e nio da pertenga- d negritude, assumindo nestecasoduas variantes, uma afirmando uma ,,diferengaafricana",outra projectandoa negritude para os cendriosd.asdiscotecas atrav6sda imag6tica"modernidadee alegria".com efeito,estasduasvariantes inserem-seno discursolegitimado sobrea negritude, sobrea sua estereotipificagio; "naturalida de" uersus"manipulagao'i Estediscurso de construgio das pr6prias reapresentag6essobre ai imagens da negritude, incluindo as reapresentagoes sobreo corpo negro, e a imag6ticada pertengaa um passado comum - transformado em etnoreferOnciamediameiiate,dimensiona apr6pria narrativa identit6ri: jovens negros.Finalmente, €este discu.ro q.r" 9:r produz o discurso identitdrio, ou que ei.r s.rmu,agenciao discurso ficcional sobre a pl6pria ficado da identidade dos jovens negros, ,,semsentido do lugar" ou "flutuante". Com isto, argumenta ainda L. Sansone,, A negritude 6 mais relevante do-queser um crioulo com origem no suriname", ,,Ambas sao subculturase estiloscom coloraEdo6tnica", 7E.r*u questdode criagdoe de exploragdoe menosuma questdosurinamesa,,(Sansone ,1995:126). Dito isto,oprocessodeidentificagdodosjovensnegrosportugueses parece . fazer-sevaler pelo seucar6cterficcionul, qr.r",,ao ,e timiia, ou melh"oq,que transcendea pr6pria "ficEao.dasorigens".lo piocessode identificagdo, de construgao identitdria, 6 a pr6pria ficgao da identidade: regista_se o"rrruriu-unto do Ant6nio Contador (I99g: 64).

UMA ESTETICAJUVENIL NECRA

sentidodasnog6es,por um lado, de habitatcultural natural, resultandonum modo de "desabitar" ("inhabiting"- Iain Chambers,1994:4)os pr6prios ese tempo comunit6rio e hist6rico, que nio aquelesvinculados ao medias',ago iopt, por outro, esvaziamentodo sentido das nog6esde identificagdo por " a - substitufdapela identificaEiopor referdncia.A estesesvaziamenpertene ios vem sobrePor-seum modo de "habitar" a identificagdoatrav€sde um Processoque Podemosagora qualificar de rizom6rfico, e que setraduz na desteritorializagdo das refer6ncias,das variantes,colocando-asnum equilibrio cridco que permite, contudo, resitud-las e recontextualiz|-las atrav6s da reinveng6o,reapresentaqdodos seussignificados,num processo- ficcional, metaffrico e "em construgdo" - de identificag6o em movimento, incompleto, outro. Equilibrio critico das refer€nciase variantes,o mesmo ser6dizer, equilibrio critico entre "o que se 6" e"o que se quer ser", entre "ser negro" e "ser portuguCs",e entre "set negro portugu€s" e "ser negro em geral". Movimentag6oesquizofr6nicaentre essesv6rticespolarizados dando corpo ao processo de construgdoidentit6ria dos jovens negros portugueses,que se assume, portanto,enquantomicronarrativa:"(...) Logo a identidade constr6i-seem movimento" (Chambers,1994:25).

--'1

I

Capitulo 3 A MUSTCA E OS IOVENS NEGROS PORTUGUESES

Na estrada de Soho em Birmingham, hd uma pequena loja da mrisica (...) Entra-sena loja e as ondas polif6nicas dos ritmos e das melodias imp6em-se: sons da Bombaim an6rquica com os shubadsreligiosos do Punjab; ou o som de Apache Indian dominado pelo grande Qawwal Aziz Mian. As paredesestdosafuradas de posfersde estrelasde filmes indianos ao lado de outros, onde se destacaa iconografia dos deuseshindu, de gurus Sikhs e da insignia islAmica.Mllls 8 Boomsemsegundam6o e exemplaresd o Reader'sDigesfcompetem ao lado de DasKapitalparaatrair a sua atengdo.Asnovelas er6ticasindianas,pesadamente manuseadas,escondem-sepor detr6s de c6piasenvelhecidasdas revistas Sfardust e Cineblifz.Cassetespiratas de Bally Sagooencontram-sea um canto, num caixote onde esteoamontoadasoutras ofertasbaratas.O baixo e a bateria sincopados dolungle interrompemde repente... [Ashwani Sharma,Dis-OrientingRhythms,1996] Passeia minha mrisica ao meu irmdo, ele estd envolvido nas cenassoul e rap. Dei-lhe a minha mrisica porque ele 6 como eu. Percebe?Negro como eu. [Denis Roe (South Sound SystemSaxon Studio), em Les Back, NeraEthnicities and Urban Cult ure, 19961

A mfsica e o processo de identificagio Chegados a esta parte, podemos dizer que a ficg6o da identidade dos jovens negros 6 um agenciamento continuo de refer€ncias desterritorializadas, reapresentadas atrav6s da partilha - do consumo - de uma transest6tica negra, onde se articulam: estilo, corpo, passado-presente e mrisica num jogo tenso - metaf6rico - entre "o que se 6" e "o que se quer ser". Esta tensdo gera o movimento, ctia as linhas de fuga do rizoma identit6rio, do m6vel Processo de identificagio. O lugar da est6tica define-se pelo princlpio cartogr6fico; as

W j!i

CULTURA IUVENIL NEGRA EM PORTUGAL

est6tica'situam-senas tais refer€ncias,as variantes/ que formulam a pr6pria - as zonas de vizinhangu -'ur.upundo ao eixb gen6tico_"centro/periferia" e refer€ncias As mediascape. tal q"" a"iinem, afinal, o proprio territ6rio do variantesemdesterritorializagdoPermanente,peloprocessodedecalcomasintesefotogr6fica ,riu.i^p"d"m a plenitude identit6ria mas autoiizanluma escolhaperformativa/ uma -.urt6grafica i identit6ria sob a forma de uma o real e o hiper-real' prrJ*iinrr,criando o equilfbrio critico necess6rioentre que' simultaneamente' 'u.ir" o corpo e o dehors,infte o walkmane o soundscape o cotpotiza' rodeia o walking-mane porArelagio entre a mrisici e o processode identificagdoestabelece-se/ da met6fora do tanto, em duas dimens6es.Por um lado, como vimos atrav6s corpo, numa intenwalk-man(Chambers1994),a mrisicadefine o territ6rio do uma colagem musa experiCnciapessoalprivada, pela escolhaparticular de sintese' a pr6p-ria t6veide ,or,, i- refer€ncias/variantes - folmando' em bandasonora-identificaqao-debolso,port6til'm6vel'emdi6spora'Por deur.olhu partic,,lar pessoalde umabanda sonora debolso outro lad.o, realidade' o "rru fine o Outro esPaeo,o Lrpugo do^s"outros ausentes"' a outra todo' onde' por iirrdrropr,espago-da comunidade de consumidoresno seu identidade musiriltimo, seprocessaa identificagao,ou a experi€nciade uma para a escoremete que est6tica, identidade cal,enquanto experienciade uma 1997:109)' (Frith' " Jer um nao e ir send'o "(...) um tha e para o transformagdo, ^orri**to: constante em movimento, em E*p"iier,.iu identit6ria musical i hist6ria e ir est6tica,no sentido em que serelaciona quf alude itperformance, rr*u imag6ticavisual. Imag6tica musical. Aidentidacom o imagin6rio, "o* selfof possible .l.ide est6tica,e " i*ilirrd self' , {simultaneamente, " imagined "o que-se6" e """ confundir-se (ibid.:h}9),fazendo ues", ou aind'a"self-ii-prorrri" "o q-uese quer , " o ser negro em geral" e "o ser negro portugues"' ' es""r" O soindscape'6,emt.t*ul ummidiascape\mconjunto d.erefer6ncias transnavalidagao pela efectua se t6ticas - musicais - cuja reapresentagao identit6rio, colectivo. Como a etnicidacional dos seussignificahos "rt6ti"o, reapresentada,nas formas desimag6tica de, a mfsica transfigura-Sena Sua est6ticas;a mdsica 6, reapresentag6es suas as territorializadas que assumem o ex6tico, o Pasreapresenta que se end6tica, entSoe tamb6m, uma realidade met6fora enquanto mutaqSo i sua vdlida tornar sado-presente,por forma a identidade' da perfoimativa - narrativa Neste sentido,e debrugando-nossobrea forma como s. Frith (1997)efectua a ligagSoentre os conceitosde mrisicae de identidade, o enfoqueest6colocadonomovimento enaproblem6ticado sentidodo espago(de identificagdo). Assim, como salienta o referido autor: " O problema p6s-moderno 6 o nossomedo do sentidodo lugar (...), o que est6em jogo nessetipo de discussdo6 o problema do pro"""roldu rrossaexperi€nciado movimento entre posi' de identificagaogerada g6es"(ibid.:U0).A;ete foradowalk-man,-experi€ncia - o dehors Eu e o soundscape o numa tensdoentre a presengado corpo ' os

A MOSICA E OS JOVENS NEGROS PORTUGUESES

Outros, os outros ausentes- servepara validar a hip6tese de que a mrisica - apr6tica de relacionamentod mrisica no sentido lato - 6 a chave para entender os contornos do processode identificagdo.Com efeito, a mdsica possibilita a construgdodas nog6esdo Eu e dos Outros, no contexto de uma perforfitanceidentit6ria, que se servedas refer6ncias/variantescomo elementosest6ticosdesterritorializados e redesterritorializdveis.Nestesentido,a mfsica 6 uma pr6tica esteticizadaque ndo define o processode identificaESo,mas que, ao inv6s, est6contida nesteriltimo; articulada com as demais pr6ticas que remetem para os c6digos dticose para asideologias sociais(ibid.), e que,for fim, sifua o Eu no dehorse vice-versa.O car6cterestdticoda prdtica - consumo/ experiOncia- musical n6o remete para a realidade, como se esta estivesse num outro plano de an6lise.Pelo contr6rio, a esteticizagioda pr6tica musical 6 apr6pria ritualizaqdo dessarealidade- a comunidade de consumidoresno - contida na pr6pria pr6tica. Por outras palavras,a acseutodo, o soundscape tividade (acto:consumo,etc.)musical ritualiza a identidade (musical),ou por fltimo, ritualiza o pr6prio processode identificagdo. Amrisica colocaentdo,segundoS.Frith, a questSodos espagosde identificagdo,atrav6sda problem6tica da delimitagdoentre o individual e o colectivo, que se traduz na problem6tica da escolhaindividual relativamente aos constrangimentosde uma l6gica colectivafamiliar, que o autor chamade "16gicacultural" (culturallogic):" (...) Existeum mist6riono que diz respeitoaos nossospr6prios gostosmusicaispessoais","(...) algu6m ter6 ditado as conveng6es"(ibid.:121).Isto6,como6 que sedefineo gostomusicalpara um individuo, previamente sujeito a uma escolhamusical quendo fez, mas que lhe foi transmitida atrav6s do seu contexto familiar, como se essaescolha simbolizasse/ou ritualizasse,a experiGnciaimediata de uma consciOnciade pertenga comunitdria, consci€nciade pertengade zoe-group etnicizado? No entanto, a quest6on6o est6na articulagdoentre o "individual" e "colectivo", como S. Frith a entende.Como jd demonstr6mos,outra tensdo6 gerada entre um individual e um colectivo, ambos derivados da permuta entre aproblemdtica anterior e uma outra. IJma "nova" problem6tica que vem dar €nfaseao sentido do colectivo ndo etnicizante, mas enquanto refer€ncia ou variante est6tica,porque interpenetrada de significado imag6tico atrav6s da sua presenea no mediascape. O colectivo, cedendo o seu lugar i sua pr6pria reapresentagdo, transforma-senuma refer€nciaesteticizadae assumeo car6cter de refer€ncia,deixando de lado o seupotencial de pertenga.A "l6gica culfural" permuta,assim,com umnovo significadode relerdnciaa um colectivo. cssesignificadoassumeos contornosde uma escolhade narrativa para um "colectivo" esteticizado.Com isto, e voltando a S. Frith, n6o s6 o individual, como o colectivo,6 mat6ria de escolhasque remetempara reapresentag6es do valor est6tico,inclusive da pr6tica musical. Aidentidade, ou oprocessode identificagdo,6ent6oesta(micro)narrativa, que I. Chambers (1994)v6 sob a forma de banda sonora,microcontextualizando

t't;

l.f

40

PORTUGAL CULTURAJUVENILNEGRA EM

A MUSICA E OS ]OVENS NEGROS PORTUGUESES

41

assim como para estilos tais como a kizomba,o kuduro, e o zouk.Estesestilos, prossegueainda V. Monteiro, manifestam um sentido do local africano atranarrativa Processo v6s de sonssin6nimos de cantosde sofrimento, de esperanga,sensuais,satiripr6priu eeraa gerauma ^u,,ut"'Jigst;;; equiHbrioentreo colectivt e oindividual o (1997), Frith cose urbanos,sejamelescabo-verdianos/senos referirmos i morna,coladera,e iort6til.paras. referensePensarmosno colectivo enquanto miis' 6 n6o que aofun dnd,ousejamelesangolanos,senos referirmo s d kizomba,ao kuduroe, de pessoal, ioer€ncia e critico - o hifen - entre "o que se6" ponto exacto o cizada,que certamaneira,ao zouk,emboraesteriltimo remetapara akizomba,elapr6pria cia transesteti de todas asidentificat"nverg€ncia/conflu€ncia d" ser", uma reapropriagdodo som zoukdas Antilhas francesas(Guadalupe,Martiniquer "o que se ";;;i" etc.). ca, Numa abordagempreliminar estesestilosmusicais,inseridos no dog6esporrefer6ncia,oudetodasas"vozesartificiais"(ReeemFitt]l997:122)' de identificagilo'oplay-acting o instancia, fltima Processo em minio da "mrisica africana", parecemaludir ao universo da "l6gica cultural" oue determinam/ nacoer€nrecorrente crensa uma j;il;;;;id" de atrav3s que de nos fala S.Frith (1997):uma mfsica africana que remetepara o dtnico, H;;ffi;,;it997:122) (Frith, naquilo que o 6tnico tem de pertenga,de identificagdopor pertenga de uma pessoal' cia -^- t -A;;;r"rporracr1"iu en#e a identidade,ou o processode identificagao,e as consci€nciaintergeracionalde grupo 6tnico-zoe-group -partilh6vel de pais refea ficadodas identificaq6espor para filhos. A presengada mrisica africana no processode identificagdo dos suasformas narrativas, estabelece-sg in"oT familiaresafinidades jovens negros porfuguesesseria a preseneade mais um factor de consolidar€ncia,reaprur"r1t"aJ"u'hi'tO'iu' devida'tornando culproximidades derivadas de "l6gicas gdo do "6tnico", enquanto "dado nafural" ou "activo cultural intelecfu al", civentadas, to*unao "i'""'''tanciais ficqio da identidade ganha' atrav6s da " tando, respectivamente,K. Mannheim e W. Ditley (in Contador L998:58). turais", como as aufir'tuS' f ith' Esta Estasnog6esreafirmam, por um lado, a identidade por pertengaao colectivo pr6ticamusical,oscontornosdeumexerciciodeconstrug6oidentit6ria;delido consumo de mrisica' onde esetnicizado, e reafirmam, por outro, o facto das refer€nciasdisponiveis se simita-se,desterritorializando-o,um Percurso detmaperformancede ventrfloquo fuarem num territ6rio culfural nafural com proeminente realce geogriifico, t6o proiectado, .to q.'o'idiano, sob u fo'*u enf itn f gg7z122)- os encontrosficcionados pu7o,*l';'--pott"classista e etnogrdfico. Neste sentido, a mfsica africana,enquanto referdncia - " blackface "o encontrosentre "o ser negto" e ser ao 6tnico, viria colocar de novo a an6lisedo processode identificagdo dos fitre "o que se 6" e "o qt'u sequer ser"' os pot*gttcs" e"o sernegroem geral"' "Ji-' lhos dos imigrantes africanos por contraponto,ou por mimetismo, naquilo p.*dtct;, ""]io "tt " emque esteseop6e ao princfpio de decalcomania,emrelagdodsformas de insergio - integragdo,aculturagdo,aspiragdo- dos pr6prios pais na sociedadigital de portuguesa. A m(sica africana:wotld music e di6spora No entanto, outra an6lise6 possivel. Amrisica africana corporifica, por exceldncia, a etnoreferAncia, a reapresentagdoimag6tica da etnicidade, do 6tniArelagdoentreapr6ticamusical_oexerciciodoconsumodemrisica-eo ent6o' pelo co, que passa pela reapresentagdodo imag6tico corporizado pela insergio processode identificagdo dos iovens negros PortuguesesPassa' a reapresentaventrioquo/quePromove dos pais na sociedadeportuguesa.Os processosde integragio, iculturagio e 5:::#il";';;i;;i'*on'Lde ao mediascape' vinculadas - transest6ticasest6ticas de aspiragdo, vivenciados pelos pais, assim como o ritmo tribal e a cad6nciarequotidiano no 96o petitiva do fraseados6nicoamel6dico da mfsica africana,passamparao lado que,pelaviadaescolha,facultamaPossedeumaidentificagdodebolso'inindividual e colectiva' Dessasest6domediascape,paraolado das refer€nciase variantes ao 6tnico disponibilizatercambi6vet,portatil, Jo Eu e dos Outros' passapela negT:IlTg:eses das pelo seuconterido esteticizado,no sentido em que estasremetem,por um ticas,cuia reup."r"r,iuqao por parte dos iovens ao esPaco alude que uma destacam: se d'uas mt'i"a, dL lado, para um imaginiirio da di6spora secularafricanaem direcgio ao ocidenpr6tica do consumo te, que inclui, ao mesmo tftulo e num mesmoplano: a migragdodos pais, a midereapresentagdodeumaimag6tica"africana"'outraqueremeteparauma e negraiobressaemas mdsidos conterrAneosdos pais, a exploragdo da m6o-de-obra vinda de qragdo imag6tica "negra" .Assim, das Jst6ticasafricana derivadas de tiansest.ticas vinculadas Africa, a escravafura e o pr6prio tr5fico de escravos.E remetem, por outro casafricana "."gr", "pi."r, "r"oif,ur, portugueses se reapresenlado, para um imagindrioque transfigura o mito do etemo retomo em valor aosmediascape/ioundiiapeque os iovens negros mrisica africana e mdpor ent"ende se que o ecol6gico ocidental,ligado ao mito do parafso perdido. clarificar tam. Importa, Portanto, Neste caso,a mfsica africana ganha contomos de "ttova" mrisica africasicanegra,eoque,emtermosest6ticos/transest6ticos'estasoPg6eseesco,,rruto,i! e Guattari, 1980)ou de valor de (Deleuze na, e metamorfoseia-se lhas t6m de ernworld music;uma mrisica est6tica- ligada f.lriuJuJ",, ao imagindrio ocidental transnacional que propOeuma vis6o estereotipadi dos identificagdo Para estesriltimos. Vseguindo espagos- de novo geograficamentecircunscritos- de referGncia,repondo na Amrisica ur.i"u"u, ul"i entendida enquanto "ritmo local", o fundnd' coladera' a morna' a coiro tais estilos pira Monteiro (1998),,.*"t

numT":1o Pt*:1q::111,1**to n"" colocados o individuoe o soundscape de identificagdo de bolso' o

CULTURA JUVENIL NEGRA EM PORTUGAL

ordem do dia a questdodo equilibrio entre "centro" e "periferia". Por outras palavras, o imagin6rio produzido em torno dawoild musictemete Para uma 'tnortd aesthetic,paraarecriagdode um esPaqo- territ6rio - etnocantricodo Outro, dos "ouiros ausente;" incorporados numa periferia de produgdo cultural - musical - que sedefine pelo "aut€ntico", " ex6tico",pe1a"tradig6o" a um centro cultural ocidental "desvirtuado"' e "prueza",po, "ortltuponto Com o ressurgimentoda ques"contaminado"' "end6tiio", e "d6sregrado^", pelo tal eixo gendtico dividida cultural, tao daiipolarizagao da produgao ,,centro/perifetiai',6 posta em causaa nogio deleuzianade "zonas de viziend6ticadanog6ode espagodoI'u,e de espagodo nhanEa".^Estareapresentagao outr;, alude n6o i6 a uma an6lisepsicodram6tica da nogdode hiper-realidade, no sentido em que estareflecte o ewaziamento dos significados securizantesde distfincia, genuinidade e unicidade culfurais, como tambdm alude d leaPresentagdodo pi6prio passadono tempo presente,enquanto recriag6o,reinvengdode uma ascdticinoslalgiade um passadon6o vivido, reinvengdodo pr6prio passado, do Outro, isto 6, das pr6piias diferenga,genuinidade e unicidade culturais, cenkaise perif6ricas:'(. . .) a ;gia dasdiferengas,tem todasasqualidadesde um melodrama,de um psicodrami", "simulamose dramatizamosnum actoacrob6tico a aus6nciado Outro" (Baudrillard em Erlmann,1996:468)' Contud.o,a produgao desta"nova" diferenqa,salientaainda V' Erlmann (lgg6),n5o est6mais ligada d nog6o,avangadapor N' Luhmann, de que 6 o pr6prio sistema que prbd.t, a diferenga,enquanto antitese dos.valores que associados.fuestecaso,ao inv6s, a diferengaest6contida rizomorfiit u ""tao camenteno pr6prio centro,enquanto seuelementoexc€ntrico.Esteelemento, estevalor, autoproduz-se Por um Processode criagSo,desterritorializaglo, e reapresentagdode novos iignificados, novas refer€ncias,gue alimentam a pr6pria nog6o de diferenqa,bu seja,que a mant€m "viva". E, portanto, aqui qnu r" enquadra a mdsica africana, ela pr6pria desterritorializagSodos seus significados que, por forga, a "territorializam" num constantementenovo "a-ut€ntico",';genuino" , " plJlo", "ex6tico", e "perif6rico" reinventados a Partir do centro patu o centror"(...) A woild musicn6o 6 a nova mfsica do " non-westernworld" (Erlmann, 1996:475). No entanto, inevitavelmente, o eixo "centro /pefiferia" fracturou-se' A produgao dessanova diferenga legitima o etnocentrismo,mas coloca o pr6prio centro numa esp6ciede periferia de si pr6prio; isto 6, os anterioresvaloies que viabilizavam a distAncia,a unicidade cultural, n6o est6omais ir merc€ dasielagoesde proximidade,no uso c6modoe l6gico de uma rede de significados dependentesda troca directa. Os novos significados e valores, voltando a j. Biudrillard (1997),surgem, proliferam, a partir de conting€ncias,de estadosde emancipaEdoocasionais,transit6rios, sem o minimo ponto de ancoragem/ isto 6, sem territ6rio, sem corporizaqdo/sem terra de origem, sem origem, semrafzes,e sempassadode pertenga.Aprodug6o de uma nova diferengafaz apelo a raizes "alugadas" a um Passado"de aluguer", de bolso,

A MOSICA E OS ]OVENS NEGROS PORTUGUESES

pofielil, e tudo isto em fungio de um gosto, de escolhas,que reflectem um ipagin6rio mediatizado, flutuante, mas centrfpeto: "A woild music, neste de um universo que por detr6s de toda ponto de vista, pareceser o soundscape issa ret6rica a prop6sito das raizes se esqueceu da sua pr6pria g6nese" (Erlmann, 1996:475). Importa, aqui chegados,focar do novo o papel dos media, do mediascape, naprodugdo e na validag6odos novos significadosda diferengaque n6o sdolegitimados,como vimos, pelo retorno h dicotomia " centro/ periferia". Isto pordestercitorializao pr6prio centro e a pr6pria periferia, incorqueo mediascape porando estesseusnovos sentidosnum gostocriado num fnico e novo centro que, por conting6ncia,tamb6m ele deixou de o ser.Por isso,os dnicos territ6e o corpo - lembrando novamentea met6rios que subsistems6oo mediascape forado walk-mandel. Chambers(1994)- do novo agentecultural por excel6ncia: o "homem-terminal", ou "teleactor", como o designa P. Virilio (1995). Assim, apagando-seos significados de "centro" e "periferia", com eles v6o tamb6m os significados de "emissor" e "receptot", num desaparecimentosimulado, imaginado, inventado, que, contudo, volta a coloc6-losde novo em acg6onum terreno, agota,visual, numa paisagem- landscape - televisiva e colectiva,por issouna, porisso comumnovo sentidodo eterno.Umeterno que ndo tem nada para sereapresentar:"(...) senio houver mais nada para representar,a procura de alguma experiOnciaaut6nticacom um sentido do verdadeiro transforrna-senum empreendimentoem v6o "(Erlmann, 1996:481).

A mfsica negra: a negritude acessivela custo moderado Aprimeirahip6tese levantadano que diz respeitoir relagdoentre amrisica neSraeoprocessode identificagdodosjovensnegros,e emparticular dosjovens negrosporfugueses,6 a de que a mrisica negra ritualiza, por excel6ncia,a tal transest6ticanegra veiculada pelo mediascape e vinculada ao mesmo. Um rifual com caracteristicasde autodidactismo popular, atribuindo ao conceito de negritude uma forma outernational,e servindo-se das etnorefer6nciasrefer€nciasa Africa, h diSspora africana, ao trdfico de escravos,etc. - para vincar o car6cter rizom6rfico da pr6pria negritude, produzida e espalhando-se- desterritorializando-se- no " centt6",a ocidente,com um discurso pronunciadamente perif6rico. Confudo, v6rios autores, nomeadamente L. Back(1996),salientah que a cultura negra,e por conseguinte,a mrisicanegra, surgem do encontro,da tensSo,contingencialentre asnog6esde tradigdo,autenticidade e arcafsmo,atribuid.ase peiiferia, e entre a reapresentag6odestas mesmasnogOesnum espagode recriagio, que seserve/por via da mrisica, da elech6nicae das novas iecnologias-ioisas d6 "6sn1,ei - para asreposicionar numa est6tica/transest6ticatelevisiva e colectiva,que perde em africanidade o que ganha em negritude. Assim como a mrisita ifri"ur,u, a mrisica

A MUSICA E OS JOVENS NEGROS PORTUCUESES ^^

CULTURA JUVENIL NEGRA EM PORTUGAL

autodidacta da tecnologia no dominio da produgSo musical popular, numa am6lgama conceptual que junta um certo revivalismo do espirito festivo do neglaPromoveomesmodiscurso,amesmaest6ticadeworldmusic,erguida " Motherland",isto 6, erroots" the to , be-bop,do R8B e dofunk, comasvanguardasestdticaseuropeias- sobretudo Africa,, " to ,,'back uaik ae com as nog6es da etnicidade quen6o esteticizagdo - que fazem da electr6nicao alicercedas novas linhas de montagem alemds remetemparauma que guida comnoqOes as invensobretudo, como, A cad€nciairreverente da batida - ou breakbeat- em parelha com a etnicizadas, musical. hist6iicas s6 reinterpreta atrmqades uiro-tclgi"o.'contra um discurso pr6prio de uma linha de baixo circular, sao o cendrio sonoro auspicioso o indolOncia inventando ia, ert"ti"irundo-as, ,,civirizidor/coronizador". Mde Africa uersus guerras as derimas,verdadeirasbataihasvernacularesonde o arrojo da para e nefasto ocidente visto como ou insulto verbal, prevalece em detrimento de um fraseado po6tico, estiga, Babylon. e metaf6rico pr6prio da mrisica pop em geral. O rap 6 anti-elipttco mel6dico Este6,emlargamedida,eentreoutros'odiscursodoestilomusicalneartisticas express6es de leque vasto introduz nas rimas mais as histdrias de vida dos negros do Bronx (Nova um porque de gro denomi nadorip.Parte (Los ou de Watts Angeles), cruzando-ascom a distopia e o diferenciaIorque) pldsticasepertormativasl,orap6,aexpress6omusicalporexcelOnciadaiuAcer1970' de d6cada da partir a Unidos legitimado pela 6tica estdtica - do sonho americano. O rap 6, por lismo Estados aos |ffi;;d." " "iu""" indissoci6vel group e groupoutsider,voltandessa tensio entre established isso, cadoritmo,quandosefaladerap|argumenta^-Secomalinearidadeeoestilo a que ,ii levando caracteriza, o que (1994a). ds definig6es de N. Elias o rap apresenta-se esinclopado Consequentemente, do inconfundivelmente repetitivo de apelidada africana, misica aa triUa banda sonora, soundscape, dessa tens6o. ritmo enquanto o se tegam paralelismos intre aus€ncia O rap lparte de uma "nova" urbe, cujoslimites extravasamos seussimtradicional, e o d,o,ip' i""t"uda prosa e da poesia'imputa-se-lhes eterna de designio um de volta f ples contornos geogr6ficos,desterritorializando-seem novas reapropriag6es controv6rsia Je metaforizagaoe bltmia de africaraizes das autenticidade a suas estruturas, dos seusespaeos/das suasruas, das suasparedese muproclama das negra p"rir"riu cultuial, se o "o, Como ".rp Africa' de longe bem (M. Aug6). O rap, enquanto componente do hip dos seus "ndo lugares" ros, construida nas e o sentido d" trdu."grltide d6cada da meados de partir e a na hop,participa desterritorializagdo do corpo da urbe transformando-a, ficunidos iiuo dg*odas cidadesdo; Estados num de ndo-lugaresdesterritorializacionando-a, identificando-a, conjunto delgS0deumagrandepartedasurbeseuroPeiaseocidentais-setivesse improvisada, iuntando n6o-lugar, metdfora ou pardbola ouperformance dos. O palco do rap 6,por exceldncia, a rua, n'm acto truirfigrrrua " "iutiitrpirfy2 da desterritorializagdo do Todo onde floresce o cal6o,novilingua que Cidade, osdoisfconesproeminentesdorap:porurn.lado/osseusactores_discjocdo geral em econsumid.ores grffiters d6 corpo aosfaits-diaers, clichds e ds hist6rias quotidianas. Sendoque esta aos keys,mestresde cerim6nia,breakdancirs, e neurbana est6tica uma de novilfngua de um 6 ela uma linha fuga, uma desterritorializagdo pr6pria de estilo musicalrap,e por outro, a reapresentagdo dos ficgao recriaEio na conjunto rap verefer€ncias linguisticas inventariadas e reapresentadas. O d"'"""olu" de gra que Ihe est5 urrJ"iuao, qtt" '" rap, " do comercial take.off O rifica negritude. e este princfpio heterogeneidade da lingua, avangado por Deleuze e da de G. mitos das origens Oaafricanidade popular uso do reforqo o F. jovens (1980); Guattari lfngua que alguns negros o cal6o, o crioulo de cal6o, indissoci6vel au rrru pruseneano mediascipe,marca portuguesesusam nas canE6esrap qve praticam, participa na sua desterritorializagdo,na criagdodassuaslinhas-linguas-de fuga,e,por conseguinte, na validagdo do rap enquanto forma de expressdo artistica e performativa de Comosejamobteakdance,adangaperformativa(aclobatica)doritmos6nicosincopado rup.bgaffiti,expressaoartisticaepldsticafazendousode uma negritude ficcionada-logo vivida -pelos jovens negrosportugueses. _oubreakbeat_i-portopJ e hierarquias pr6prias' desprayspata,rrossuportesmai, ,,u'iud6" " tottt t6cnicas'regras Onde situar o rap em crioulo, lingua-de-cal5oproduzido e consumido de todo o movimento iuvenil' urbano' artistico e iiniiu !*pr"rrao pierti.u po, pelos jovens negros portugueses?No espectroda "nova" mrisica africana ou "xcel€ncia hop-ohiphopabarca,Portanto'oscomPonentescitados'a p"ri.r*il".aeiominadoftip de na categoria dimens6es de rap portugu€s negro? ,oDling-ouapr6tica saber:o estilomrrri.ut rop,qrr! r"'desdotra e-duas

$

manipulaqdo sonoru utrurrd, do uso de gira-discos,e mais tarde'

do samplere do sequen-

breaKdancee o "iuao"_"oucing(MC_Mestredec-erim6nias),ouanldticadeintroduziraprosaea poesia amplificadi por um microfone nos ritmos do rap' E' finalment-e'.o (1994)' e Fernando Jr' (7997), Rose,(1994) ra graffiti.Vei Contad6r e Ferrei 'r"Jiu ir"gur i*provisada num bairro cercadopara o efeito. Estasfestasmarcam o inicio musi" sejuntavam os Dj,s e Mc,s que viriam a fazer hist6ria desteestilo do rap,potqlelS cal.Paraal€mdestesactoresdacenahip-hop,luntavam-se-lhesosbreakdancersemgruPos/ desaou crews.Movidos por uma invariavel e necess6riarivalidade, os breakdancers vista a com performativa batalha de num clima acrob6ticos fiam-se em figuras e estilos umafamabai-rrista,cujaposteridadedependiadorenovardoarrojodaspr6priasactuag6esou performor."r. V"iRo"e (1'994),e Contador e Ferreira (1997)'

O rap em crioulo-lingua de cal6o 6 uma nova desterritorializagdo da negrifude vinculada a urna transest6tica negramedia mediatee esteticizada, num esPagode definigdo identit6rio que tamb6m abarca as desterritorializag6es, ou as rleaPresentag6esde uma certa portugalidade: reapresentagdes das express6ese formas culfurais territorializ6veis no espago da sociedade portuguesa. A essa portugalidade ficcionada e vivenciada pelos jovens negros portugueses, acrescentam-se as reapresentagOesda africanidade e, sobretudo, como avanea P.Gilroy (1995), as reapresentag6esda negritude que perturbam, promovendo

_l CULTURA JUVENIL NEGRA EM PORTUGAL

Figura3.1

dosjovensnegrosportugueses O third spaceidentitario

Parte II I UMA TERRA MAE, UM CORPO, UM ESTILO

do Eu - senseof self a criagaodas suaslinhas de fuga, a definiEaodo sentido segundo-P'Gilroy' estas - dos iovens negrosPortugueJes'Na pr6tica, e ainda de uma esp6cie ,"upill"rrtuqOes da ,,egritiae- aefinem-sepela manifestag6o de uma linguade iesposta negra d mJdernidade, traduzivel na legitimag6o no caso dos jovens g"- I transest6tica- particular. Linguagem essaque' uso de um crioulo negros portugueses,poier-se-e ftaduz-ir n-acriagdo e no especi hnlua de cala-o,mas tlmb6m por c6digos gestuaise comportamentais ficos,expressosatrav6sd.errmaPosturaestereotipadadoblackmodernism. prosaico Posfura'ou performancedo ,appi' negro portuguOs num cen6rio da "acrioulizad.o"", ondecoabitam, um qiotidiano portugu€s' e a expressao negras opressaosecular do povo africano, do povo negro' Posturasestdticas partir de uma transest6ticinegra que reafirma anegritude este;il;;;" ,'(...) "play acting" de uma cbnsci6ncianegra globa1"."A ticizada enquanto est6vel)e exidentidade negra (. . .) 6 vivida como um coerente(sen6o sempre perimental sentido do ser" (Gilroy, L996:73)' eblackism' Este6 o rap, misicanegra, seguindoainda P.Gilroy, sin6nimo d de a construgdo motiva o que, sJntido-em no mais do queblackness, Pt1g:it? no e que, um sentido da negritude recortada,"simplada" (do ingl€s sampling) se e seleccionadas, dominantes express6es suas as situam exactoponto ondJse apropriadas,reaprecruza com outras express6esdominantes,seleccionadas, critico, onde se equilibrio o tensdo, a define sentadas.Este entrecruzamento (Bhabaem joga num novo espaeoposicional de identificagdo,ou "third space." 'Sfirma,1996:55)identit6rio, a constanteexpans6o,fuga,daspos.sibilidadesde movimentag6ese conex6esentre"o qu" ru d'" "o qateseq-uerser". Mas onde se joga, tamb6m, a constante"digitaliiagdo", desterritorializagio, das hist6rias pa-rticularesde vida dos jovens negros Portugues€s, " (--') fora de uma exPeri6ncia particular, de uma cultura farticular"lHal em Sharma,1996:41)'

I'

t$

Capitulo4 o DESTERRITORIoArnrce: ,(rnrcns EM poRTUGAL

Amrlsica africana 6 vivida pela segundageragdocomo uma esp€ciede obriga96o em manter os lagoscom Africa, as nossasrafues,custe o que custar. [Kiluanje, 22 xtos, profissional de audiovisual] Fossoat6 comprar/por exemplo,um CD da Ces6riaEvora, mas ser6para oferec€-lo i minha mde. [Susana,23 anos, assistentede marketingl

Africa em casa: home music, home iilentity

t6rio "Africa" 6 essacomunidade de consumidoresque seapropria ias ex-centradasem relag6oaos espaqostradicionais da culLde pertengaafricana,agora despojadosde sentido geogr6fico.Aimag6tiAfrica" transforma-se num territ6rio onde se multiplicam identificagdes lefer€ncia rizom6rficas, que,como vimos, n6o somam uma totalidade, na em que s6ocompostaspor variantesque sedefinern atrav6sda mutado seusignificado. Nestesentido,cadavariante deuma africanidade ica 6, de forma indeterminada, interconect6velcom outras demais que ao dominio da pr6pria africanidade. Isto leva a que qualquer refeia possa agora ganhar outra figuragdo est6ticae imag6tica gerando, por via, novas reapresentag6es, e consequentemente,novas micronarrativas ficg6es da identidade.

Atrav6s das entrevistas realizadas aosjovens negros portugueses, no deste estudo, verificou-se que essanova africarridade, embora disegue linhas de segmentaridade que definem , desterritorializada, conjuntos coniuntos distintos de reapresentagdo Uma reapresentacdo das refer€ncias a Africa. Uma africanidade definida mediante um peculiar relacionarnento com as africanas consumidas, desenvolvendo, por rlltimo, repercuss6es 49

-l CULTURA'UVENIL NEGRA EM PORTUGAL

e estfmulos diferentesno pr6prio Processode identificagdo dessesjovens negros portugueses. " de uma africanidade imag6tica o primeiro conjunto de reapresentag6es dita "tradicional". Estasmdsiafricana mrisica de remete para um consumo jovens negros portugueses ouque os geral aquelas cas s6o de uma maneira iniciagdo hprdtica do consude considerada vem em casados pais, numa fase a mornata colacomo musicais estilos dos mo de mrisica. Nestesentido, acerca projecta esse que discurso um derae o fundnd, principalmente, 6 produzido intergeratransmissdo da acto inici6tico para o camPo da aprendizagem gt aficano. w eoup zado etnici cional - de uma certaconscienciade grupo emcasadospais.Eles coma mrisicaforam,obviamente, Osprimeiroscontactos africanosantigos Discos sempretiveramdiscos;o meu pai compravadiscos. tradicional mrisica (...) osestilosiam desdeo fun5n6,passandopelacoladera, africana. 126,22anos,ajudantede padeiro] Amrisica apresenta-se,Por conseguinte,enquantobastidoda cultura africana original que se relacionacom o "aut€ntico com Poucosmeios" enquanto nomenclatura distintiva do pr6prio gruPo, cujas linhas de desterritorializagdo n6o ultrapassam o reduto da casa,do grupo e da"'we-comunidade". contudo, o poder n6mico intergeracionalda f6rmula "mrisica africana tradicional" desfai-se, saindo do estreito espaeofamiliar e comunit6rio etnicizado. Neste cape/ soundscape,a p artir dessanova sentido, por via da sua in clusilono medias apreens6oda mrisica africana tradicional, v6o consolidar-sereapresentag6es Essasrearilom6rficas da "mrisic a africana", geradasno e Para o mediascape. presentag6esfazem refer€nciaa uma africanidadetransformada, consumivel que a por projecgdode uma figuragdo imag6tica de Africa Para o soundscape, 1az gartharcontolnosde uma certa- outra - africanidade original, tradicional, tribal, aut€ntica.Uma africanidade sin6nimo de "taizes da civilizagflo" e "bergo original dos sereshumanos e afortiori de todos os negros". Aforga dasmrisicasafricanastem a ver com a forgadas comunidadesafricanas. [FernandaAlmeida,30 anos,jomalista na RDPA.frica(entrevistaexplorat6ria)] Esta 6 a projecgdo da mrisica africana para o camPo dawoildmusic' validada enquanto tal pelas suas caracterfsticas de "paraiso" cultural cujos rinicos recursos, garantes da sua originalidade e autenticidade, s6o os escassosmeios de produgAo, um certo autodidactismo, e a perseguigdo de um ritmo rriusical que, pela sua organicidade, ratifica a manutengdo dos lagos entre uma comunidade transnacional - que P. Gilroy (1996) chama The Black Atlantic - onde se confundem africanos e negros, africanidade e negritude/ reaPresentag6es da africanidade e reapresentag6es da negritude.

o DESTERRITORTo ArnIce: AFRICASEM poRTUcAL

Naquela altura, a mrisica africana,para mim, era sin6nimo de criatividade e originalidade, ndo havia, no som africano, muita influ€ncia das sonoridades do exterior do continenteafricano.Pode-sedizer que nessaaltura era o verdadeiro som africane(.. .) Era a verdadeiramrisicadas "roots". (...) No inicio da minha iniciagdod mrisicaafricana,achoque esselado me atraia inconscientemente.Agora, e com o passardos anos,sei que procuro esse lado da sonoridade da mrisica africana, esselado orgAnicodo ritmo. [Virgflio,25 anos,vendedor na Virgin Megastore] Hd a mfsica africana de raiz, aquela que ndo utiliza tecnologiasofisticada,mas com o tempo essafoi perdendo impacto, e hoje quasetodos os mfsicos africanos usam instrumentos que se encontram i venda em Africa, na Europa e nos EstadosUnidos.(...) Portanto, a mrisica tradicional j6 ndo 6 bem tradicional, porque utiliza instrumentos que j6 n6o sdo verdadeiramente tradicionais. [Galiano,38 anos,jomalista na RDP Africa. (entrevista explorat6ria)] Amfsica africana trazida para casa pelos pais dos jovens negros porfugueses 6 essa mdsica africana travestida emworld music, que se esvazia em etnicidade, em consci€ncia de pertenga etnicizada a um we-group africano, e se reposiciona no espectro das refer€ncias musicais ocidentais e urbanas. Esta muta96o faz-se atrav6s da esteticizagdo da pertenga etnicizada que adquire o valor de propriedade de etnoreferdncia, forjando-se ndo a partir dos espagos familiar e comunitdrio etnicizado, mas apafttr do mediascapeque incorpora as reapresentag6es sobre mrisica africana feitas pelos jovens negros portugueses. Neste sentido, a mfsica africana tradicional dos pais alude a uma nova reapresentagdo imag6tica de uma Africa das roots, de uma africanidade que remete para o aut6ntico, o tribal, o genuino, erguida nostalgicamente pelos jovens negros portugueses, e que inclui a reapresentagSo da pr6pria reapresentagdo imag6tica de uma certa Africa, de uma certa africanidade, posta em pr6tica pelos pais. A africanidade dos pais qual 6? A africanidade reapresentada pelos pais, e exposta no espago familiar, mescla a refer6ncia ao aut6ntico e ao tradicional exposto num ritmo musical particular africano, com outro, que configura o espago de reapresentagdo de uma certa modernidade, presente no ritmo e na produgSo musical brasileira e latino-americana em geral. Isto 6, a africanidade reapresentada pelos pais, tamb6m ela incorpora elementos de um cefto black rnodernism(Gilroy, 1996), especificados pela introdugdo de elementos musicais novos - brasileiros - que nao se afastam, conhrdo, de uma linha est6tica que se apresenta enquanto resposta afuicanizada-perif6rica d modernidade ocidental. O vector - o hlfen - que interliga os elementos dessa resposta continua a ser o ritmo; ritmo met6fora da diSspo ra, das raizes e da origem.

I CULTURA JUVENIL NEGRA EM PORTUGAL O DESTERRITORIo AFRICA: AFRICAS EM PoRTUGAL

Depois,ouvia-seemcasamuita mrisicabrasileira.ou seja,a minhainiciagdoit mrisicatinhasobretudoaver como queosmeuspaisouviam:mrisicacabo-verdianae mrisicabrasileira. [Patr(cia,26 anos,advogadaestagidria] A mrlsicabrasileiraocupaum espagomuito fortena r6dio em Cabo-Verde. [CarlosRodrigues,30anos,soci6logo(entrevistaexplorat6ria)] Paraa16mda mrisicabrasileira, ou latino-americanaem geral, asmrisicasrock epop dosanosL960e70marcam,tamb6m,a suapreseneanoesPechodasmdsicas ouvidas iniciaticamente pelos jovens negros Poltugueses, e trazidas para casapelos pais. Estesestilos musicais Pertulbam a linearidade do discurso acetcada africanidade do ritmo e do panorama sonoro da mfsica, que de interligaEdoentre" africaniza' configura um quadro cultural -musicaldos". O rocke amrisica pop dospais - imigrantes dos PALOP - permitem a introdugdo da tecnologia, da amplificagflo,num territ6rio musical e cultural que privilegia, como vimos, os escassosmeios de produgfio, o autodidactismo e um certo arcafsmoconcePtual,para legitimar a sua genuinidade e o seu afrocentrismo. O blackmodernismdos pais, 6 o blackmodernismque anuncia,j6 nos anos 60-70,o paradoxo entre os esPaeosde segmentaridadedo pr6prio processode identificagdo dos Pais,que se situa j6 num (des)territ6rio ddbio: "estar dentro mas ndo pertencerao Ocidente". Afragilidade tensaentre a tecnologia e a amplificaqdodo rocke dapop music,e o arcafsmoe a rudimentaridade da mrisica africana tradicional, gera o desconforto/ o esquizofrenismo necesserio,entre, Por um lado, uma identificagdoa uma africanidadq que reclama para si a herangado parafsoperdido, do eterno e mitico retorno ds origens,da didspora seculardos africanosPara Ocidente, e Por outro, uma ocidentalidade que anuncia amplificadamenteo conforto deumsonho americano )reuropeia,desejose aspirag6esde mobilidade social.Neste sentido,amotna,acoladeraeofundndn\o deixam, tamb6m, de ser',Paraos Pais,estilosmusicaisque, conceptualmente,seaproximam de um conceitode zuorldmusic-Ndo por serempercebidasenquantomrisicase est6ticasafricanastradicionais vine artmau)orldaesthetic,mas culadas ao mediascape, Porque os Processosde migragdoe de insergdona sociedadeportuguesa precipitam o desejode aquisigdode um quadro de direitos e principios de cidadania que incorPoram os eixos valorativos "cenho/periferia". Por isso,essaaspiragaoao usufruto da cidadania no seio da sociedadeportuguesa favoreceo deslocamentodessasest6ticasafricanastradicionais, do campo da pertengagrupal, perif6rica, para o campo da referdncia esteticizada comunitdria, experimentada, nostalgicamente,pelos imigrantes dos PALOPa partir de um certo "centro": Portugal. Em casa, ouvia-se muito mrisica, sobretudo mrlsica africana. Mas ouvfamos tamb6m rock'n'roll, aquele rock'n'roll antigo. Tinhamos 16 dois ou tr6s discos

desses, ndoerammuitos,masn6s,osmiridos,gost6vamos muito daquilo.prinhamosaquiloa tocarvezessemconta.Dang6vamos tamb6m,e osnossospais adoravamver-nosa dangar.Erauma festa! 12.'ano] lcil,23 anos,estudante Lembro-me,tamb6m,de o meupai compraralgunsdiscosde bandas-sonoras de filmesamericanos, de policiaisdo g6nerosdrieB. 23 anos, assistente de marketing] [Susana, Ouviamosdiscosqueo meupai traziae queiam desdea "Yozdo povo" at6ao Teixeirinha,passandopelosAbba.Ele compravamuitosdiscos,inclusive,de mfsica queestavana modana altura. [Virgilio,25anos,vendedorna Virgin Megastore] Dito isto, a africanidade reapresentadapelos jovens negros portugueses constitui-se tamb6m a partir da reapresentagdoda africanidade ensaiadapelos pais. Da referdnciaao aut€ntico e ao tradicional, como emblemas de um certo diferencialismo l6gico cultural, presentena mdsica africana ouvida em casa,num perfodo consideradode iniciagio ao consumo de mdsica, passa-se a uma referonciaao aut€ntico e ao tradicional, enquanto esferasconceptuais de um certo blackmadernism.Este mesmo 6 posto em prdtica a partir de um centro,onde coabitam,nummesmoplano estdtico,porumlado,o ritmo, a escassezde meios, o autodidactismo, e o mitico eterno retorno dsorigens - fcones por exceldnciada referdnciai cultura (rmisica) africana e d sua derivada latina - e por outro, aspirag6esde mobilidade ascendenteem termos de poder social. Estasaspirag6esde mobilidade social s6o simbolizadas pela relevAnciade um discurso acercado aut€ntico e do tradicional, presente r:rasmornns,rtascoladeras enosfundnds,enquadr6vel no campo da reapresentagdodo autdnticoe do tradicionalno espaqomusical definido pelaworld music.para al6m disso,a difusdo em casadasmdsicasrockepop,escolhaspaternas,marca a projecgdodessedesejode mobilidade socialpor parte dos pais, para o dominio de uma africanidade contrariada e reinventada h luz de um vanguardismo rocke pop. As mrisicas africanas, apelidadas de tradicionais pelos jovens negros porfugueses entrevistados, sdo, por isso, sem drivida, as mrisicas da banda-sonorade uma identidade, ouprocessode identificagdode trazerporcasa. Processode identificag6oesse,que seprojectapara fora dos limites do we-lar, do we-grupo e da zue-comunidadeetnicizada,porqu" faz apeloa referenciais est6ticosque se desterritorializam apartir do mediascape, num jogo tenso entre refer€nciasde uma certa Africa ou de uma certa africanidade perif6rica, e referonciasa uma africanidade concepfualizadaa partir da sociedadeportuguesa.O eixo "centro/periferia" reaviva-se,como vimos, n6o pela recriagdo de um discurso a partir de uma periferia cultural, mas a partifde um centro

I

r /

CULTURA JUVENIL NEGRA EM PORTUCAL

que se reinventa umoutro perif6rico, contido e validado no e Para o centro' As imagenstelevisivassobreAfrica, difundidas a partir de Portugal, sdotamb6m disso exemplo, como salientamosjovensnegrosportuguesesentrevistaimag6ticasde uma africanidade perif6rica a dos: imagens ou reapresentag6es mediate. media centro partir de um (...) Tenhoumaideiapdssimasobreaquiloquesev€na TV emrelagdoa Africa: porques6mostramo iadofamintodeAfrica,naomostramoutrotipo deAfrica, etc' fazercoisascertas,desenvolvida, a Africa queconsegue [26l As imagensdeAfrica quemechegamatrav6sda TV s6oimagenstristes;coisas queme afligem,imagensde guerrae de fome. [Pio,25anos,vendedorna FNAC] Uma periferia do e para o centro.As mrisicasafricanastradicionais, do e para o centlro,sao,portanto, aquelasque permitem a reinvengdode umcerto ethnouma ceita afriianidade se cluza com uma certa latinidade, soundscape,onde por via, da afinidade do significado das suasbasesmusicais com um tronco comum: o ritmo.

Africa na discoteca: bl ack p ost-modernisn ApreponderAncia do ritmo volta a estal em evid€ncia no segundo conjunto de reapresentagdesde uma certa africanidade imag6tica, que remete para o consumo de uma dita "nova" mrlsica africanapelos iovens negros portugueses.Esseconsumo manifestaj6 uma escolhaefectuadapor estesriltimos. Depois de uma faseinici6tica, emque amrisica ouvida 6basicamenteescolhidae -trVzid.aparacasa pelos pais, d6-seum corte, a Paltir sensivelmenteda adolesc6ncia,iom o panorama musical desenvolvido ao longo da infAncia. Rompe-se com um certo blackmodernismpatetnal, que mescla as referdnciasao eterno e mitico retorno )rsorigens, via mrisica africana tradicional e, de uma certa maneira, via mrisica brasileira, com as referBnciasa um sonho europeu de mobilidade social ascendentee de progressodo nivel de vida, via mfsicas rocke pop,de Elais aosAbba.Apartir dessecorte, as escolhasmusicais dos jovens negros portuguesesdispersam-se.Contudo, um legado reaPresentado dessaprimeira faseinicial evidencia-se/marcando Presengano discurso que estes mant6m sobre as opg6es de estilos musicais que Passam a designar como seus:esselegado 6 o ritmo. O ritmo 6 sem drivida, para essesjovens, muito importante (. ..) Em massa, os jovens preferem mrisica para dangar: ndo importa se as letras n6o dizem nada de

O DESTERRITORIo ATRICA: AFRICAS EM PoRTUGAL

especial,ndo interessaseserepetemat6 ao fim da mrlsicasem muitas variag6es, ndo interessase o pr6prio ritmo se repete at6 h exaustSo. [Femanda Almeida,30 anos,jomalistana RDPAfrica (entrevistaexplorat6ria)]

ritmo, elementorizom6rfico, desterritorializado do espagoreferencialmudos pais, vai encontrar novas linhas de fuga, novas linhas de desterrito/ no espaeoreferencialmusical, destafeita, dos pr6prios filhos. Um novo/ que perde em organicidadeo que ganha em sinteticidade,num de decalcomania do ritmo da mrisica africana tradicional para outro/ sinteticamenteatrav6sdo uso da tecnologiaao servigo da produgdo que incorpora/por isso,outros novos elementossonoros/pr6prios de contextosmusicais.Com efeito, para al€m da recriagdode uma certa inidade, e autenticidade, extraida do conceito de mrisica africana tradi, atrav6s da reapropriag6odo seu ritmo orgAnico,outras paragens sos6o abordadase trazidas parc aplataforma da conceptualizagdodessa a mfsica africana. A tecnologia aplicada ) criagio musical, que faz uso samplers,T das "caixasde ritmos"2 e dos "sequenciadores"3define, porum estes dltimos enquanto novos instrumentos da nova mrisica africana,e, , outro, define um conceitode criagdomusical interpretado a partir do unidas mrisicas electr6nicasocidentais,sobretudo, do technoe do house. A mrisica africana mudou muito com o uso das tecnologias. [Galiano, 38 anos,jomalista na RDP Africa (entrevista explorat6ria)] H6 um grande debate) volta das origens.dessas mrisicas(zouk,kuduro,kizomba). Sesdoafricanas?Ses6overdadeiramenteafricanas?No fundo, eu acho que elas se sifuam entre o tradicional e o modemo. [Carlos Rodrigues, 30 anos, soci6logo (entrevista explorat6ria)] Hoje em dia, o que 6 das roots j6 ndo presta,e j6 ndo sepesquisa:na mrisica africana/ agora/ imperam os tecladose os sintetizadores,como que a dizer para o resto do Mundo, que tamb6m os africanos sabemmexer com a tecnologia. [Virgflio,25 anos, vendedor na Virgin Megastore] mfsica de danga africana, tamb6m se notam agora muito as influOncias de

Aparelho electr6nico que permite a gravaE6o e a modificagio de sons, frases musicais extraldas a partir dos suportes mais diversos. Aparelho electr6nico que permite a construgao de ritmos musicais atrav6s debatidas sintetizadas e incorporadas na sua mem6ria. Aparelho electr6nico que permite a construgdo de frases musicais atrav6s da reprodugAo e da inter-jung6o dos sons gravados e filtrados atraves dos samplers e das "caixas de ritmos".

56

CULTURA JUVENIL NEGRA EM PORTUGAL

O DESTERRIToRIO AFRICA: AFRICAS EM PORTUGAL

57

,,dos martelinhos,, (o _ mrisica mrisicas de danga europeias o acid house, a com essasbatidas e techno).Algunsmrisicoi misturam ritmos mais africanos Europa, e ddo a estasnovas certos'elerientosdessasmdsicasque sefazem na outros mrisicas africanas,nomes comokizomba, kuduro,entre

da tal organicidade do ritmo que remetepara o "tradicional,, e o ,,aut6ntico,, africano,mas) luz da reinvengdodessaorganicidadeque setraduzno discurso de um certo blackpost-modernism,experimentado destivez pelosjovensnegros portugueses'Aorganicidade do tal ritmo africano6 agorattu,rurtidu sinteiicamente - com o uso da.tecnologia- por forma a consubstanciaruma resposta africanad p6s-modernidadeocidental,anunciadapelasmrisicastechno,hiuse dotechno,potquetemrepetigdes'sdopoucasasfrases e (...\Okudurosegueaslinhas quatro pelascluberaaecultureseuropeias(Reynolds,1998j,(Thornton, L995).okudupalavras e maior, de alteragdo sem cantadase6 sobretudoritmo repetido ro, o zouke akizomba,s6o,portanto, uma esp6ciede desterritorializagdoda afrioucinco_quetodaagenterepeteat6aofinaldam(sicacomonotechno. canidade,num quadro-culturalque autorila doravante a incorporagdode um explorat6ria)] (entrevista Africa RDp na [FemandaAlmeida,3danos,iomalista novo exotismo, num discurso que matiza a africanidade com a electr6nica. Esseblackpost-modern-ism assenta,portanto, na reinvengdoda preponderdncia Simboiosdeumap6s-moclernidadeest6ticajuvenilocidental,otechnoeo e ardo ritmo africano na definigdo de uma africanidadevivida nao em casamas no popu-1oT:lu:t11e6o,musical iiii, purti"rpam do renovar de um certo palco entertainer -na pista simples de das (Dfi; discotecas ditas africanas,e ndo mais na companhiados tistica com o advento do novo papel d'odiic-iockey Champais, a I. mas por escolha voltando pr6pria jovens dos walk-man, negrosporfuguesesnuma comunhdo ,r*.ovo a mfsico. o DJ 6 de uma formi "i"ru patrofestiva que -black mas club culture mrisicas, onde escolher se a celebia o ial riti-ro e a sua d.anga. bers (1994).U mwalk-man qrtendo selimita de um espirito cina a ritual izagfuodetodo um comportamentojuveniiatravds ougo (mrisicaafricanade danga)nasdiscotecas e o housedefiafricanas, e at6dango,masn6o iiUertario luvenit poprriul em plena pista de danga.O techno o entre meestoua vercomprarumCDcomessa " distancias as encurtarn mrisica. Ndomediz nada.Aquilopara - ,ounitcopee- que nemlandicnpr, ,oro-oao, mim 6 mrisicadediscoteca: porque ritualizam sefor irdiscoteca e estivera tocartrmkuduroeud.ancorpo e o dehors,entrea pista de dangae o mundo exterior' go, mas contempondo mais numa do que isso. certa uma de identificaEio de iuventude ptocesso piOptio o junta' hifeniza' o Eu lze,22 anos,ajudantede padeiro] raneidade end6tica.O D] activa esseprocesso,que quase do t6cnicas das atrav6s e o outro ausente,o novo ex6tico, nomeadarrbnte, Gosto de danEar,sobretudo, as mdsicas africanas estirokuduro.zouk. de elemensamplinged.esequenciaqdoquepermitem, atrav6sda reprodug6o reapresentagSo a [Gil,23 anos,estudante1^2." novas' ano] tos de outras m{rsicas1agrauadusna construgSode que "novo" IJm novo' contexto musical (tornar presente) do pasJado os mais novos, jd circulavam ai nas discotecasafricanas,e n6s passamos i'origTnai" iaut6ntico^um " , o " gentJino",mas um "novo original"' um aqui ,rao e o ,o muitos ritmos da "nova" mfsica africana.Ali6s, ses6 pass6ssemosessa ,,novo aut€itico" e um "novo genuino". Estast6cnicasaludem, Por consemrisica, a malta jovem agarrava-semais i RDp Africa. ser denomiguinte, h reinveng6ode "novas ilrisicas" - que podem',tamtrdm' tecnologia de [FernandaAlmeida, 30 anos,jomalista na RDp Africa (entrevistaexplorat6ria)] utilizagao nadas " africanas", i luz de urna sinteticidade foi que ritmo de um - que desregulao "aut€ntico" contidclna organicidade As discotecas africanas afirmam-se como o microcosmo onde convergem e extrafd.od.oseu contexto originai - a -rn(rsica africana tradicional" - Pata centrifugam ficgdes narrativas do processo de identificag6o danga"' de africana dos jovens nerecriar um outro (novo) cont"exto:a "nova mrisica gros portugueses, com referCncia a uma Africa que, tradicionalmente, estd 56oaquelast6cnicasdosamplinged.asequenciagso,utilizadasnacons. edificag6o P^oucopresente nos ritos e na celebragdo do ritmo itrav6s da danga. se os estitruqdo rfhnica e sonorado technoe dihouse,que s6oempregues.na ro-smusicais por excel6ncia,presentes na kuo como estilos por pista de danga, s6o okuduro, akizomda dita "nova mrisica africanade danga".Estadefine-se zouk, € para reafirmar o simulacro de um ,,novo aut6ntico,, como e de um ?: " " duro,o zouke akizombs.Estesnovos estilosmusicaisafricanossurgem tradicional" pr6prios de uma africanidade reapresentada n6o j:,Y" atravds da desterritorializag6o,ou nova leitura, da mdsica africanatradicional, ir luz 4

das m]6sicas techno, O fen6rneno das raaes,festas organizadas sob o patrocinio sonoro espfrito festivo e lido ressurgimento b como cunhado jungle, tem sid6 sobretudo, housee 6 alheio, tamrnoesndo ds alusivo "libertag6o" bert1riohilppie dos anos 60-70. Ao clima de b 6 m , o p a p e ld a "su a "d r o g a p o r e xce l€n cia ,o e cs tasy'V erR eynol ds(1998)'Thornton (1995).

muslca/ que/ por um lado, incorpora elementos de urna p6s-modernidade ocidental e que, por outro, admite a reinvengdo de um rauitting6fnico, configurado elemento esteticizado de uma outra (noval africanidade. inl11t9 uma africanidade reinventada e vivida atrav6s da mrisica de danga e de uma peculiar club culture que reafirma as pistas de danga das discotecas africanas como um novo ethnoscape(Appadwai,!996).

I O DESTERRIT6RTo Apnlce: AFRICASEM PoRTUGAL

CULTURA JUVENIL NEGRA EM PORTUGAL

Os mais novos sdomuito mais consumistasdo que os pais, t€m necessidadede aparecer,de seafirmarem de outra maneira:vdo )s discotecasafricanasde dance musiceAsdiscotecasafricanas.Afirmam-se pela danga:dangammrisica rftmica, que 6 a mrisica de todos osjovens,e dangamoutra mrlsicacomuma nafurezaritmica e mel6dica pr6pria de uma certa maneira de fazer mrlsica africana. Em suma/ a mrisica para os jovens tem que ser-danEdvel:rftmica e mel6dica, e tem que ter qualquer coisa de africano. [Galiano,38 anos,jornalista na RDP Africa (entrevista explorat6ria)]

Diriamosque/Porprincipiodedecalcomania,amrisicabrasileira,o de modernidarock,n,roll upop *uririntroduzem simplesmenteo elemento " orn-a,acoladera a rc onde pais, pelos validida de num contextode africanidade, obstruindo a estanques, el,ementos enquanto e o fundn6s6o reapresentados turno' a suarizomorfizaqao.J|okuduro,o zoukteakizombaafirmam' Porseu validaafricanidade numa p6s-modernidade combinagao,a interjungao, da tamb6m fungao em necessariamente da pelosiilhor, qt" purru u definir-se nestasnovas dessacondiqaop-6s-moderna.Disso 6 exemplo a incorporagdo, dos estilos lado' um produgao, da Por mdsicas africanas, dos componentes c6digo um to.do outro' musicais euroPeus,ocidentiis, technoehouse,epor $.e da ao nivel similitudes de a16m para est6ticoe visual a estesassociados.Pois, c6digo um evidencia-se exemPlo, concepgaoda mtisica fechnoe dokudrrloPor est6ticoe visuai novo associadoa esteriltimo, que se afastade outro c6digo a ver mais ter6 Este africano. visual por referenciaao autentico e ao genufno e nos legitimados contudo, estdo, com a *rlri"u africana tradicional' Am6os se que imag6ticas figurag6es Popara os mediascape/ethnoscape,projectando em'que alimentam, ambos,fica6esda identidade dem tocar no exactoponto -d" .r* certo regressoemocional a Africa' Um regresso atrav6s do estimulo excem(tico e idealizado atrav6sda mtisica e dos espagosda sua viv€ncia por africanas. discotecas as l€ncia, para os jovens negros portuguesesl que s-6o ,,emoc"ionui.,qn-un6o deixa de ser por reapresentag6ode ii* rugrurro e um novo ex6tico,erguido desdej6-em casa,atrav6s dasmornas,dascOladeras africanas mtisicas dosfundnds.Esseno"voexotismoabarca,tamb6m, asnovas de danga,e 6 posto em pr6tica, consecutivamente,atravds da pr6pria dan91' Adangacomoprolongamentod.oritmo,ritualizagdodapr6priamrisicaafri.urru, porq,re protong"amentoda ritualizagdo do processo-de.identificagdo. Como se o ritmo afri"cano,"profanado" pelas novas tecnologias ocidentais, ndo fosse,doravante, suficiente para;uslificat Por um lado, a legitimidade desseregressoficcionado, e justificar, por outro, a legitimiclajfe da identificagaoque ie espalharizomordcamentepor entre uma africanidade consumivel e colectiva e,-simultaneamente,extenifvel para al6m das fronteiras da identificagdodos jovens negros portugueses,e dos pr6prios africanos' Eunaoacreditoqueosmrisicosmaisnovos- osquetocame fazema dita nova mrisicaafricanaie danga- ndotenhamumaligaqdofortea Africa,mesmose ndo nasceramem Africa, e se estdomuito maisenraizadosem Portugalpor a Africa,a exemplo.A mrisicaquefazeme quetocam6 umaespdciederegresso Africa' a mfsica faz-lhester vontadede regressar (...)Umadasformasdedangardessesjovensnasdiscotecasafricanas6 " empar" ou,,agarrados". N6o 6 usual ver issonas discotecasportuguesas.Porqu6? Porque isso 6 tipico de uma certa maneira de viver a mfsica africana, ou uma maneira africana de viver a mrlsica de danga. [FernandaAlmeida,30 anos,jomalista na RDPAfrica (entrevistaexplorat6ria)]

(56o jovens) que querem dangar ou ficar parados a ver quem danga. lze,22 anos, ajudante de padeirol Seforespor exemplo a uma discotecaafricana,o que tu ld encontrasnem sequer 6 uma culfura africana,j6 6 uma coisamuito europeia.Os hiibitos estdocompletamente alterados;ndo sepode entrar de t6nis, nem vestido normalmente. Tens que ir de sapatose vestido de uma forma muito rigorosa,o que de certamaneira 6 ridiculo porque issondo tem nada a ver comAfrica. O rigor das roupas,dos estilos e das marcasn6o define nenhuma cultura africana. [Kiluanje, 22 anos,profissional de audiovisual] Chateia-mesobretudo nas discotecasafricanaso facto de estar expostaali e ter que estar sentadao tempo todo porque ndo sei dangarde maneira certa aquelas mfsicas. [Iolanda, 27 anos,enfermeira] (...) Haviapessoasadangarportodoolado, acurtir. Emais,eramtodosjovense pretos e pareciam estar no mesmo comprimento de onda do que n6s. [Virgflio, 25 anos, vendedor na Virgin Megastore] Prova dessa africanidade consumivel e colectiva, 6 a presenga cada vez maior dos denominados "branc ss" - 611pylas-s pelos jovens negros porfugueses, curiosos em relagio |rs mfsicas africanas. Eles procuram os espaeos que consideram "tipicos" africanos: dos restaurantes ds discotecas. O encontro com o tradicional esbate-se entdo na descoberta de uma africanidade interpenetrada de uma p6s-modernidade aparente: a electrificagao, a sinteticidade, do som africano, validam afirmativamente um regresso a uma Africa que sai do dominio do autdntico e do tradicional, e se ionsolida atrav6s do tal black post-modernism, mais cosmopolita, mais desenvolvido. Uma Africa imag6tica menos "africana", menos mediatiziivel e menos "colectiva".

5

- Ver gloss6rio.

r

;{

60

CUTTURA JUVENIL NEGRA EM PORTUGAL

Sealgum estrangeirovier a Portugal, e estiver interessadoem ir a uma discoteca africana,6 normal que estejair esperade ouvir percurss6ese mdsicas africanas tradicionais,o som puro de Africa. Emvez disso,levacomzoukekuduro,ecom um showde roupas de altas marcas. [Virgflio, 25 anos,vendedor na Virgin Megastore] Tambdmexistembrancosque vdo hs discotecasafricanassem terem grande relacionamento com pessoalafricano, vdo porque acham aquilo ex6tico. 126,z2anos,ajudantede padeirol (O kuduro,o zouk,etc.)s6o mrisicasafricanasmas j6 "avangadas";ou sejasdo mrisicasafricanasque tanto podem ser ouvidas por africanos,como Pornegros, como por brancos. lcit,23 anos, esfudante 12.oano] O zouke o kuduroj6 estSomais ocidentalizadosdo que africanizados.O ritmo 6 ocidental,sobretudookuiluro parecetechnodo principio ao fim, apesarde alguns gritos ou frasescantadasno meio, que remetem para algo de africano. De uma maneira geral, aquilo 6 mrisica ocidental feita por Pessoasque t€m algo a ver com Africa, para um priblico que tamb6m ele tem algo a ver com Africa' [Kiluanje, 22 anos,profissional de audiovisual] Neste sentido, a mdsica africana ndo ,5okuduro, akizomba e o zouk,mas amorna,acoladeraeofundnL,na l6gica deumregresso emmassa de todo o Ocidente ds raizes da civilizag6 oviaatalworld aestheticpr6pria dawoild music, enquanto que Africa se representa nostalgicamente uma p6s-modernidade techno e house atrav,6sdokuduro, dakizomba, e do zouk. Estas s6o as mfsicas africanas de danga literalmente importadas dos cen6rios por exceldncia do consumo dos simbolos da p6s-modernidade: os Estados Unidos e a Europa. Aredescoberta de um som "afuicano" atrav6s do consumo dokuduro, dakizomba e do zouk,pelosjovens negros portugueses, quase exclusivamente a partir de um microcosmos que n6o 6 mais o lar familiar, mas a discoteca africana, levanta a hip6tese de que o talblack post-modernism, experimentado pelos mesmos, remete, simultaneamente/ para um regresso emocional, ficcionado e simulado, a uma world-Africa, figura de estilo da motherland e das roots,e para uma nostalgia de um futuro e.td6tico colectivo e mediatizado, onde caLe uma Africa da mrisica de danqa, da club culture e da p6s-modernidade. ]5 n6o se conseguedizer que a mrisica de danga- tipokuduro - 6 uma mrisica cabo-verdiana,angolana,sdo tomense,nem se foi feita por um cabo-verdiano, angolano,etc. (...) Anova mfsica africanade danga6 uma mrisicaque influenciasobretudo os que estdoem Portugal, em Lisboa.

o DESTERRIToRIo AFRICA:ATnIcas EM PoRTUGAL

OI

(. ' .) A RDP Africa abriu as portas de Africa para essetipo de mrisica que n6o existia tanto lii. ou seja,para al6m de trazer para cd mfsica africana tradi_ cional, tambdm se levou at6 ld mrisica dita ,,africana" feita c6. (. . ') o kuduron6o nasceuem Angoraou em Cabo-Verde,nasceu aqui em Portugal, e muitos dos grupos de sucessode mfsica de danga africana em Cabo-Verdendo vivem em Cabo-Verde,mas sim na Holanda. (" ') Em MoEambiquenuma qualquerdiscotecav€em-sejovens a dangar techno. [Femanda Almeida, 30 anos,jomalista na RDp Africa (entrevistaexprorat6ria)] Chama-se ao kuduro e ao zouk,entre outros, "mrisica africana moderna,,. Eu Pensoque chegaa ser "moderna" (porque usa tecnologia)mas ndo chegaa ser "afficana". [Virgilio,25 anos,vendedor na Virgin Megastore]

Capitulo 5 A MUSICA NEGRA: O MEDIASCAPE NEGRO

O que chama verdadeiramente a atenEaodas pessoas6 o ritmo (da mrisica negra) e ndo as letras. IGil,23 anos, estudante 12."ano] A mrisica do Michael Jacksonfez-me ter vontade de voltar a ouvir mrisica cabo-verdiana. [Patricia, 26 anos,advogada estagidria]

Michael Jackson na MTV

Amrisica negra entra no processode definigdo do consumo de mfsica dos jo;yens negros porfugueses atrav6s de uma escolhaestimulada pela reapresenta,gdode uma certajuventude e de uma certanegrifude imag6tica,colectiva,televi,siva. Anogdo de "mdsicartegra" convive com outra de ,,cultura negra",ambas confundidas no mediascapeonde est6o reapresentados os co{pos, as hist6rias e os estilos pr6prios de uma juventude e negritude ficcionadas e consumiveis. Aac-

,96ode reapresentagdodos valores de propriedade destanegritude televisiva est6 ,"dependentede uma escolhaperformitiva traduzivel no tJ jogo de ventrfloquo, as simulagdes da identidade ganham contomos de definigdo identit6ria

.por excelCncia.Neste sentido, a negritude ficcionada pelos jovens negros portur,Suesespassapela acgSodomediascape,onde estdoinventariadasformasimag6ti,cascorp6reasdas refer€nciasidentit6rias presentesnos aideo-clips. (...) Aquilo que me interessava na mfsica eraosoideo-clips.Portanto a mrisica interessava-me pela imagem, nunca pelo gosto da mrisica em si (. .. ) eu gravava imensas coisas da TV e comprava cassetes com gravag6es de aideo-clips. [Kiluanje, 22 anos, profissional de audiovisual]

63

o+

CULTURA JUVENIL NEGRA EM PORTUGAL

E atrav6s da TV que receboas miFoi atrav6s da TV que conheci obreakdance. nhas influ6ncias dos EstadosUnidos, dos negros' etc' [Pio,25 anos,vendedor na FNAC] e das re6s dosaideo-cllps Comeceia gostardo Michael Jacksontamb6m muito atrav portagensquepassavamnaTV'Paraal6mdisso'ouviamuitomfsicanegranaTV' iput.i.iu, 26 anos,advogadaestagi6rial N6sgrav6vamosmuitamrisicacomogravadornasm6os,,colado,,aoaltifalannum programa qualquer te da TV, d esperaque o cantor ou a cantoraaParecesse demrlsicaecantasseumoudoistemas.EstavatodaagentesilenciosaParaque nas gravagoes' as vozesndo aparecessem llolanda, 27 anos,enfermeira] EusintoqueemPortugal,omeuambientelevou-memaisparaamrisicanegra, o acessoh vida dos a partir dos meus 15-12anos,com forte influencia da MTV; da televisdo' ATV atrav6s africana mrisica dboa artistas.Ndo conseguesaceder que admiras pelas artistas dos imagens as tem aquelepoder d-ete fazer idolatrar aparecemna porque simplesmente ou levam, mrlsicasque fazem,pelavida que TV(...)AgoraimaginaqueeuPoracasoouviumamrisicadoFelaKuti(mrisico nigeriano,invento"rdo,'Afro-Beat,,)quegosteiequeriasabermaissobreele. O nde6quee u v o u v e ru mc l i p d o F e l a K u ti ?(...)A i ascoi sascompl i cam-se' Megastore] [Virgilio, 25 anos,vendedor na Virgin de selecqSo,Plesente os aideo-ctipsSao uma figuragSo ideal-tipo doprocesso e F. Guattari (1980), Del"ure C. por de decalcoilania avangado pii""rpit das imagens enca", selectividade uma no sentidb em que estes remetem para deadaspeloprincipiodedecalcomaniadoritmoedamtisicareapresentados' do procesuqrri ,u saiienta a relevdncia, Por um lado, da fugacidade i"*fetit conferemumcar6cter lhe que ,o, po, oritro, dos seus contornos rizom6rficos " isso, intercambi6mrittiplo e descontinuo. As ficg6es da identidade sao, por 1980): uma Guattari' & (Deleuze veis e remetem para a tal "mem6ria curta" se connao enquanto Processo/ mem6ria (curtai que traduz o esquecimento fundindoc om oin s ta n te ,* u ' .o * o ri z o ma c o l e c t i votemporal enervoso da tal (ibid).Apresenga da mrisica negra no plocesso selectivo de construqdo jodos )burrdu identificaEdo de o processo particular, quJritualiza o fac"ionoru'i vens negros Portugueses, atrlv6s do consumo de mfsica, vem salientar Excentradas esquecimento. esse gelar to das mrisicas africanas ndo poderem apartrt em relagdo d produg6o d.euma imagetica;juventude negra",,acciorada (ibid.),reme' longa" a "mem6ria do mediascapJ,as m(sicas africanasiitualizam contendo para o mimetismo e para a traduEao do "autentico" e do "tradicional" "aut€ntrdo tidos nas mesmas. Essahahugao reapresentativa do "tradicional" e que co,, n6o valid aaizornorhzagdo da mrisica africana, pelo conk6rio, Permite

A MUS1CA NEGRA: O MEDIASCAPE NEGRO

aquelasnog6escontinuem a agir e a definir as "novas" mrisicas africanas:6 por isso que o kuduroe akizomba,em particular, s6oestilosmusicais interpretados a partir de uma legitimidade cultural que mimetiza um "aut6ntico" e um "genuinamente africano",apesar de nelesestaremincorporados indfcios de principios de decalcomaniaque remetem para outros gdneros musicais ocidentais,como o technoe o house. A mrisica ne gra 6 a mdsica do mediascape negro: um territ6rio imagdtico onde se insere tamb6m a mrisica africana reapropriada pelo seu potencial "negto" consubstanciadoatrav6sda reapresentagdonostdlgica do seu passado onde figuram referdncias- etnoreferdncias- 2e /'n6ys aut€ntico" e ao "novo tradicional africano". Amfsica negra 6 a mdsica de uma negritude, do talblack atlanticde que nos fala P.Gilroy (1996),definida atravdsde uma imag6tica que seassumeenquanto transest6ticapartilh6vel por todos os negrose ndo s6. Neste espaqode definigSopor referonciaa uma negritude colectiva e est6tica,os EstadosUnidos, surgem enquanto territ6rio - espagode reapresentagSo-dotal"rizonta americano"(Deleuze& Guattari,1980):os Estados Unidos, metdfora do conjunto dos modos de "desabitar" os espagosde definigdoidentit6ria, simbolo referencialda "escolha"e da liberdade dos negros, por excelGncia.Neste sentido, a extensdodas linhas de fuga que transportam estasnog6espara um exterior - um dehors- saemdo reduto geogr6fico que 6 a sociedade norte-americana,e desenham um desterrit6rio ageogrilfico, imag6tico e ficcionado onde seinserem reapresentagdes da negritude vivenciadas pelos jovens negros em geral; jovens negros portugueses,jovens negros ingleses,jovens negros senegaleses,etc. Com isto, a relevAnciada presengado negro norte-americanoMichael Jackson,atrav6s da passagemdos seusaideo-clipsna televisdo portuguesa, permite a incorporagdono discurso sobrea negritude das reapresentagdes da africanidade extraidas das mdsicas africanastradicionais. No sentido em que o discurso sobrea negritude valida apresengadasreapresentag6es de umpassadoafricano,que remetepara a experidncia particular das di6sporasafricanasonde estdoabarcadasas refer6nciasdsexperi€nciasmigrat6riasdospais dosjovensnegrosportugueses.Nesta medida, o MichaelJacksone a Whitney Houston,por exemplo,acabampor integrar o FeIaKuti, o Banae a CesdriaEvora, entre outros, no tal discurso sobre a negritude, incorporando o potencial "negro" da africanidade extraida das suasmrisicasem proveito do pr6prio discurso. Essesjovens estdo mais pr6ximos das sonoridades anglo-sax6nicas do que africanas, talvez por pressSo dos canais de informagdo: TV, riidio, revistas. os seus modelos ndo sdo africanos, ou pelo menos ndo africanos no sentido tradicional, os seus her6is s6o sobretudo afro-americanos. Porque eles n6o deixam de se rever nos negros ingleses e negros franceses por exemplo.(...) As pessoas nho nascem referenciadas (...) [Galiano,38 anos, jornalista na RDP Africa (entrevista explorat6ria)]

CULTURA JUVENIL NECRA EM PORTUGAL

nem cabo-verdianos' (...) Pelo facto tamb6m de ndo se sentirem portugueses' tornam-se quasepresasf6ceisda cultura norte-americana' soci6logo (entrevistaexplorat6ria)] [Carlos Rodrigues, 30 anos, Primeiroatelevisdocresceconnosco.Atelevisdo6umdosfactoresquemaisintelevisdo/e as cenasque um gajo fluencia os iovens.Desdeputo que um SajovO tamb6m' como muitas das coiquer na vid.a,grande parte viu-as na televisdo'E Unidos' 6 6bvio que uma Ju, qrr" purruil na tefevisaot€m a ver com os Estados sejaosEstadosUnidos' ("') das grandesinflu€ncias dos iovensc6emPortugal Amrisica negra' pode-se O qrr" *u.ca a diferengasdoos EstadosUnidos' diz er que6 a re p re s e n ta g d o d a mrl s i c a afri cananorestodoMundo.orap,o rePresentama imagem da liberblues,s6omisicas negrasque representavame g o ilt.,,do s6 conseguiuver issoatrav6sda mrlsica' da mfsica ;;;;;;t ""gror. negra(...)Osmovimentosqueestiveramligadoslsmrlsicasnegras(blues'rap' etc.)forammuitoimpottantesn6os6paraosnegrosdosEstadosUnidos/como tamb6m para os negros do resto do Mundo' lze,z2anos, ajudantede Padeirol atrav6s da televisdo' os americanostomaram conta do Mundo praticamente, dos computadores,da informdtica' ("') de ver' Desde muito Os filmes, os clips, tudo isso eu vejo e Sostomesmo cedoquegostomaisdeverfilmeseouttascenasnatelevisdodosEstadosUnidisso' a maiorparte das coidos, ao q.L vindos de outros sitios quaisquer'A16m sido atrav6sda televisSo, tem susque sei sobrea situaqaodos negios no Mundo e, sobretudo, atrav6s de filmes norte-americanos' [Gil,23 anos, estudante 12'oano] coisaque aqui emPortuL6 (EUA) a comunidade temuma forgamuito grande' gal 6 imPens6vel. [Pio,25 anos,vendedor na FNAC] dos cantoresnegros' dos O Michael ]ackson, os jackson 5, marcam aquela fase cantoresnegrosnorte-americanos'(.'')AmrisicadoMichael}acksonfez-meter de a apreciar'Foi vontade de voltar a ouvir mrisica cabo-verdianae ter vontade comoumtalismd'TinhaquepassarpelamrisicadoMichaelJacksonparavoltar, voluntariamente, ir mrisica das minhas raizes' [Patricia, 26 anos,advogada estagidria] e da maior parte dos Os ztideo-clipsda\Alhitney Houston, do Michael Jackson abriram os horizoncantoresnegrosforam importantes para mim' Sinto que me negros que vivern outros os fizeram qtte tes em relagdoaquilo que eru- u "qttilo neste planeta, e nomeadamentenos EstadosUnidos' [Susana,23 anos, assistentede marketingl

A MUSICA NEGRA: O MEDIASCAPE NEGRO

A culturanegra(emPortugal),provavelmente ndoexistgseexiste6 soba formade umamisturadealgunshdbitosentre rapazes deorigemcabo.verrdiana, angolana,mo_ gambican4etc.,isto misturadocomh6bitosnorte.americanos, de certaforma,que v6ematrav6sda televis6o, do cinema,da mrisic4dafa importdnciadosaideo-clips. [Kiluanje,22 anos,profissionalde audiovisual] Como para as novas mrisicas africanasde danga,o legado do ritmo aparece enquanto elementoconsubstanciadorda refer€nciaa umanegritude que cont6m a africanidade,visto que a preponderanciado ritmo na mrisica negra surge como sendo uma reapresentagSo- desterritorializagdo- do ritmo presentenas mrisicasafricanastradicionais. Neste caso,tamb6m, o elementoritmico da mrisica negra passapor um processode identificagdoque o f.az confundir-se com a sua pr6pria imag6tica:o ritmo, simbolo de um territ6rio imag6tico onde,estSocongregadostodos os legadoshist6ricos da luta dos negros, transportados nas suas di6sporas e percursos migrat6rios. Transformldo, desterritorializado a partir da sua simples definigdo musical, o ritmo 6 a sua pr6pria imag6tica,a suapr6pria reapresentagdotransportadapara o espectro do mediascape negro. Nesta medida, a mrisica negra ta-mb6msL consolida enquanto amel6dica e caracteriza-sepor um ritmo repetitivo e sincopado, por oposigdoi mrisica ocidental "btanca" definfvel por um ritmo, por regra, nao repetitivo e por uma melodia. Estesaspectos,ou partescorp6reis da organica do pr6prio ritmo da mfsica negra e da sua imag6tica, deiimitam a resposta "negra" - transest6tica- n6o s6 d modernidade ou p6s-modernidadb ocidental branca da mfsica pop, mas tamb6m d pr6pria hist6ria do relacionamento entre o mundo ocidental e a Africa, determinada pelos contornos ,,centro /periferi a", " colonizador/coloni zado". o ritmo da mrisica negra prop6e uma imag6tica rizom6rfica da negritude por desterritorializagao dai experiCnciasda escravaturae das di6sporassecularesdos negros e dos africanbs, retranscritas no pr6prio ritmo das mrisicas de JamesBrown ou de Michael Jackson,destronando, por conseguinte,o pr6prio impacto das mensagens veiculadas pelas letras cantadasnessasmdsicas.o ritmo assumeo protigonismo da "mensagem" enquanto metdfora dessamesma resposta negra e, neste sentido/ assume ele pr6prio o papel de ritualizador db procesio de identificagdodos jovensnegroi Aqui, nab 6 a mdsica,enquanto cLnjungdode letras cantadase ritmo tocado, que seprojectaenquanto r1tualda identidade, como vimos atrav6sde s. Frith (r997),mas 6, de forma inequivoca, o pr6prio ritmo que determina os parAmetrosdessa ritualizaql,o. Eu acho que a mrisica negra vem da mrisica africana: tem aquela batida que 6 declaradamente africana. A mrisica em geral tem muita percussdo. ou seja, a base da mrisica negra, como da mrlsica africana, 6 a percussdo, abatida. lcil,23 anos, estudante 12.oano]

-!

CULTURA JUVENIL NEGRA EM PORTUGAL

(...) o estilode mrisicaquerealmentegostoe compro6 soulmusic,RtB, principalmenteLaurynHill. Tamb6mgostode Light HouseFamily,mrisicaanglo-sa*6r-ti.u.r"gtu.Achoquetemaver comoritmo. Istofaz-melembrarquetamb6m mrisicast€m,defacto,esseelodeligagdo gostodemrisicalatina.Achoqueessas Ritmoalegree quente' que6 o ritmo especiallatino-negro-americano. marketingl de 23 anos,assistente [Susana, Por conseguinte,a mdsica negla vai Para a16mdas novas mrisicas africanasde experimentadopelosjovensnedang4 na delimitagdodeunblnckpost-modernisru da grosporhrgueses.Na medida em que a questdo sinteticidade-organicidadedo ittno dust onasmdsicasafricanasde dangasitua a relevAnciasociol6gicado ritrno no especlrodeuma africanidadeproposta,comovimos, enquantoetroreferOncia, Ao Passoque na mdsicanegla o lifrno 6 o componentede ligaqSoi worli aesthetic. negdtude, enquanto refer6nciatransest6ticareapresentadapelos jovens negros/ substituindo-sed lingua - irsletrascantadas- e passandoele pr6prio a seruma esp6ciedelingua francadaexpressaodanegrifude. Nestesentido,e aindano caso dimrisicanegra, a questdoda sinteticidade-organicidadedo ritmon6o apelai argumentagdoiomoJvalores datradigdo e da autenticidadedamrisica e do seuritiro, em fungaode uma certal6gicacultural, mas faz apeloaopotencialde desterritorializagdode uma transest6ticanegra que seestendeatrav6sdas suaslinhas de fuga- dofunk ao rap, do R?B ao soul,do jazzao drum'n'bass- gerando,soba forma de um agenciamento,uma cultura juvenil negra partilhada por jovens negros portugueses,jovens negros em geral, e jovens em geral. Amrisicanegrareflecteumavivdnciadiferentedamfsica africana,(. '.) reflecte Unidos,da Europa.(.'.) a viv€nciadosEstados vivo aquinaEuropae dafserobrigadoa serinfluenciadopelamfsica negra e n6opelamrisicaafricana.Setivesseumaviv€nciamuito africana,talvez maissujeitoirsinfludnciasda mrisicaafricana,massintoquefaqoparestivesse e por issosinto-memaispr6ximoda mrisicanegra' te destasociedade [Pio,25anos,vendedorna FNAC] (...) E jd quendohd aquiemPortugalumaculturanegra,ou sejaj6 quendoh6 valorizadadeformapositiva,ent6o6 maisf6cil umaculturanegraportuguesa, fazerpartedaquelaquej6 existe. [CarlosRodrigues,30anos,soci6logo(entrevistaexplorat6ria)]

A MUS1CA NEGRA: o MEDIASCAPE NEGRo

colagemdoritmo utilizadonasmfsicasnegrasaoritmo dasmrisicasafricanas. IGil,23 anos,estudanteL2."anol Apesarden6operceberquasenadadasletras,no inicio,ficavafascinadocoma explosdo do ritmo e da vocalizaE6o dasletras(...). [Virgilio,25anos,vendedorna Virgin Megastore] Se o ritrno, transformado na sua pr6pria figuragdo imag6tica, remetendo para uma certanegritude e uma certajuventudg ritualiza o processode identificagdo dos jovens negros,qual 6 ent6o o novo lugar da lingua na mrisica negra?E quais sao as suas fung6esno pr6prio processode identificagdo dos jovens negros? As respostasa estas quest6espodem ser encontradas se se fizer uma an6lisedos discursosdos jovens negrosportuguesesentrevistadosno ambito deste esfudo, no que diz respeito aosmotivos pelos quais consomem ou n6o mdsica rap, e ds formas como o fazem. O rap,nvrtafase de introdugSoao g6neroporparte dosjovensnegrosporfugueses,surge na sua versio em blackenglishlconsumida atrav6s de gravag6es em cassetesa partir dos discos originais norte-americanos/e de aideo-clipsem programas musicaisna televisdo.Em Porfugal, nos meadosda d6cadade 198Qe nos sitios onde vivem os jovens negros portugueses enkevistados, a moda do breakdancef.azentpqdo,trazendo consigouma sonoridadeparticular que n6o remete, directamente,para a mdsica negra de Michael |ackson ou Whitney Houston, nem tdo pouco para as mfsicas africanastradicionais de Ces6ria Evora ou Barra.O rap parece,d partida, sero resultado de uma mesclagemmusical particular e contexfual,porumlado, de uma certafashionableblackness-"blackis acolor" (Powell, 1997)-presente, desdemeadosda d6cadade 1960,na cenada produ96o artistica negra norte-americana, e por outro, de um revivalismo pro-black - "proud to beblack' (ibid.)- asst:midopor uma ala de artistas comprometidos em dar continuidadeaosdiscursoslibertdriosde MalcolmX e deMartinluther King. Nesta medida,o rap surgecomo urna reinterpretagdomusical rizorn6rhca, a meio caminho entre um certo espirito negro festivo presenteno be-bopjazz, no funk e no disco,e rxn certo activismo de wi-group "afro-americano" presenteno blues,no free-jazze, entre outras, nas mrisicas dosproto-rapperswatti prophets, Last Poetse Gil ftott-Heron (Contadore Ferreira,Lggn. O rap entra(emPortugal)pelamdode jovensquevivem nossitiosondeessa mrisicaflrii. A influ€nciadossonsamericanos ter6sido,nestescasos,maisforte

O rap:fight the power em crioulo lingua de calio

que a dos sons africanos. [Femanda Almeida, 30 anos, jomalista na RDP Africa (entrevista explorat6ria)]

(.. .) E o problema da lingua - o uso do ingl€s - no caso da maior parte das mr1sicas negras 6 ultrapassado, porque o que chama verdadeiramente a atengAo das pessoas n6o 6 a lingua com que se canta, mas.q intenFidade das batidas e a

VeirsSondo oficial do idioma ingl€s - fon6tica e gramaticalmente- falada em grande Parte por negros dos Estados Unidos residentes em bairros suburbanos das grandes cidades.

70

CULTURA JUVENIL NEGRA EM PORTUGAL

A MUSICA NEGRA: o MEDIASCAPE NEGRo

7"t

O elementocomumentretodosessesg6neros(demrisicanegra)ser6o ritmo, a batida. [CarlosRodrigues,30anos,soci6logo(entrevistaexplorat6ria)]

tamb6m. os negros s6ouma cenamaior. os africanossdos6 aqueles pretos que vivem em Africa. Os negros s6o os pretos do Mundo inteiro. [2,6]

naturalmentecoa curtir essamisica (rap).Tamb6m Naturalmentecomeeamos a ver queo raptinhaa batida,e sabesquea batidana mrisicaParaos megamos africanos6 fundamental. lze,22anos,ajudantede padeirol

Na minha vida houve um momento de viragem no que diz respeito d minha rigagSod mfsica (. ' .) esseperiodo foi mais ou menosem g9-90,ptr artura do surgimento do hip hop,na altura em que se usavam as calEaspaia baixo, o surgimento de grupos como os public Enemy e os NWA, com aqueles rel6g[s enormes. (. . .) Os oideo-cllpsdos Public Enemy eram rodados na rua com multid6es normalmente negras.As mrisicaseram de reivindicagdo,de luta e de afirmagdo daquilo que eles pensavam, assim como os NWA; a situagdo does negros no EstadosUnidos. (...) Depois, aconteceu-meaquilo que aconteceutamb6m com um negro em Paris,em Londres,ou noutro sitio qualquer,identifiquei-me com aquilo; ;Es negro e dquilo comove-te". Ligas-tedquilo porque 6s preto. Inevitavelmente. [Kiluanje, 22 anos,profissional de audiovisual]

Por um lado , o rap distancia-sedasmfsicas africanastradicionais pelo uso da tecnologia na sua concePgaosonora/mas nao seafastade umpadrdo rftmico marcado pela repetigdo,e por uma cadenciasincopadaque j6 define as mrisicas ditas Aas "roots" ou/ ainda, "das origens" africanas,tocadas,nomeadamente, por escravos,glupos tribais e mrisicos contemPoraneosafricanos. Mas, por outro lado, o rnp distancia-sedas novas mdsicasafricanasde danga, nio pelovinculo aumm6todo de produgdo sonoraassentenatecnologia,mas pelJreapresentagdode um certo manifestopro-blacka partir de Ietrasrappadas que fun-ionam como verdadeiros instrumentos guturais, acrescentandoamplificaqaoh percussaoda ritmica dobreakbeat-ritmo do rap.Avoz (dosnegros), atravds do rap, surgesob a forma de uma semidicgdo,de um semicanto, ieinventada a partir dos bairros suburbanosde Nova Iorque, onde a hist6ria da oralidade dos contadoresde hist6rias africanos (ou griots)e, dos "poetas dertta",voltarh a estar em destaque,agora (a partir da ddcadade 1980)num novo espirito semifestivo, semi-reivindicativo: " O rap na sua componente vocal ou expressiva- a palavra, ayoz - enquadra-sePelfeitamentenesta herangaancestral(do griot).Mas o rap vaibeber essainflu€ncia claramentea pr6ticas orais mais recentes,existentesna comunidade negra americana,96nerospresentesnasruas da Am6rica negra;como o "preaching", o " toasting", e afins iomo o "boasting", o " signifuing" ou as " dozens". Pr6ticas orais que alguns chamariam "poesia de rua", onde secontamhist6rias ou anedotas/ou se desafiam,como nas " dozens",em jeito de desgarrada,dois ou mais interlocutores,que num di6logo rimado de tom algo provocat6rio sevio mimoseando um ou outro" (Contador e Ferreira, 1997:1.6). Associavaa batidaa Africa.E mesmoasletrasfalavamde Africa.Tinhasimplesmentea ver comAfrica.E issotu curtessempre.Nasletrasn6ofalavams6 de Africa, tambdm eram do "contra". E sabesque quando uma Pessoa6 jovem vai atrds de tudo o que 6 do "contra". (...) O rap 6 uma mrlsica dos "de fora": porque 16na Am6rica, ndo s6o s6 os "bumbos" (negros) qtrefazemrap, h6 tamb6m os porto-riquenhos, os latinos (...) orapternfundamentalmenteaver como gueto,e comoh6 muitomaisbumbosno gueto, pode-sedizer que (o rap) 6 mrisica maioritariamente de negros. (...) O rap dirige-se aos negros,Porque os negros englobam os africanos

Esta 6 a voz.do ray quepassa para o mediascapeaopermitir a recolocagdo na agendapolitica e dos media da questdo da negritude dos Estados unidos e a esteticizagdo de uma imag€tica a partir dessa r'nova,,- anos g0 e 90 - negrifude, erguida atrav6s de um equilibrio tenso e contextual, entre, por um lado, um discurso pro-black-brackismmais do queblackness - que s6rve de mote para reforgar o efeito hipn6tico das batidaJritmicas circulaies d.o rap,produzidas a partir de uma caixa de e, por outro, um novo enfoque sobre o litmos, corpo negro, onde estio confundidas as nog6es de ,,corpo_reiept6culo,,, numa alusdo d nogio de "homem-terminal" de p. virilio, meiefora ficcionada dos desejo.s de liberdade, das di6sporas, dos negros ap6tridas, e ,,corpo-espect6culo", manifesto performativb est6tico com cnfase no fisico, no cabelo, na pele e na nudez do corpo negro. Ambos, "discurso/ritmo,, e ,,co{p9 negro,, anunciam uma linguagem

d1 ne,srifudeque,passando pelomediascape, ritualizao proces_ ITn:\*:a so oe rdentiticagdodos jovens

negrosa partir de contextoslocais.Neste senti_ do, o blackenglishgerandorinhaJde fuga - de desterritorializagdo - enconna "segmentarizagdo,,de um novo crioulo _ lingua de cal6o, ff:::-p]:r"rte por jovens negrosportuguesesa part'ir de Miratel1g"1d1-p,interpretado lo ot-d" cacilhas (margem sul do Tejo).b criouro,iingua dL calao, afirma a sua "heterogeneidade" pela desterritoriarizaqilo de &tras influ€ncias ringuisticas, para al6m do 6lackenglish,enomeadamente, o luand6s, o pr6prio crioulo cabo-verdiano,o portuguGs,gerando assim novos significados dnoreapresentadosno ip delicaao ,,negra" em portigal. A africani_ Il", i6.t::r na reapresentagdode um crio-uloq.r" proj"cta para fora :11" ":aA.pr:sente qo contexto "u tradicional familiar cabo-verdianoou g,ritre"nsi,. seencontrana

CULTURA JUVENIL NEGRA EM PORTUGAL

dozensnorte-amenrua/ no bairro/ nas "guerras de estigas",2simulacros das Portugal' e nos esem consumido e canas/presentesagora no rap prodizido e de uma juvenportuguesa' negra p;q;a" identificigao de uma luventude de uma a imagem projectando e rua, na Lie portugu esatoutcourf.Coiocado o (o dehors)' pltu urbana atrav6s do mediasca7g ."tiu';"""#ude -o-."*tujiol dessa identificaqdo de iuventude caldo,ritualiza o processo urba"iio"io,lingua de, favorecindo a reapresentagdona pr6pria imag6tica da "juventude amttsicarap exemPlo, ,rul, du outras referenciiasque lhe est6oasiociadas:Por graffiti e do e a cultura hip hop q.r", .o*o vimos, engloba aquela, a16mdo breakdance. avercomAfrica(" ')' Mesmoassim'h6umacertamanei(...)orapj6temmenos ra de fazetrap' Pofpartedos filhos de imigrantesafricanosq-ue6 particular: 6uma muitosdelescantarnemcrioulo,um criouloquej6 ndo6bemcrioulo,que misturadeingl€s,portugu€soufranc€s_alinguadaterraondevivem_com o rinicoelementoafricanonesserapfeito por crioulo.O crioulo6 praticamente essesjovens,quei6 ndosdototalmenteafricanosde facto' explorat6ria)] lGaliano,38anos,jomalistana RDPAfrica (entrevista H6umaculturanegraemPortugal,masachoquendo6umaculturanegra africa"pura". Eu achoquehaumamisturaentrea "culfuranegra"e a "cultura e crioulo' em na". O rap6 umiomexemplo, osjovensquefazemrap' cantam tamb6mseidentificamcomAfrica (.")' [Patricia,26 anos,advogadaestagidria] jovens neo rap emcrioulo, lingua de cal6o,interpretado e consumido por que identidade gros portugueses, alide, por conseguinte,a uma ficgdo da identificaiao f*orui"ndo a plenitude identitlria, configura um9sp1e.o.de gdo definido por um conjunto intermitente de "zonas de vizinhanqa"; espanegritude, )r africanidade e d ios onde estaoreapresentadasas refer6nciasd "zoportugalidade pofestes jovens negros portugueses.O entrelagado das segmas nas de-vizinhanga" delimita um esPagoreferencialem movimento/ mentado num momento - enfoque- temporal, num actoperformativo, que permite desvendaro tal third spaieidentit6riode que nos-falaBhabha(fn Shar,,banda sonora de bolso" de que nos fala ainda I. Chambers 6.a,I996),ou a (Lgg4]).oupermiteainda delimitar a "identidade est6tica",sendoela um compro*i5o rbb reserva,nervoso,negoci6vel,estabelecidoentreasrefer€nciasreapresentadasnas tais " zorrasde vizinhang a" , emfungao do sentido das linhas di desterritorializagao,ou de fuga, das pr6prias refer€ncias.Aidentidade

e Desafio verbal d desgarrada entre duas ou mais pessoas, atlaves de termos ofensivos pejorativos.

A MI]sIcA

NEGR A: Q MEDIASCAPE NEGRo

est6tica,6 em sfntese,apar6bola cartogrdfica- fotogr6fica * em acgdo,em movimento, do conjunto de reapresentag6esoperacionalizadasatrav6s da desterritorializagdode v6rios elementosque, no encontro das suaslinhas de fuga, geram zonas de vizinhanga referenciais, possibilitando a definigdo identitdria dos jovens negros portugueses.o sentido geogriifico, ffsico, da identificagdo, exercita-sepor via do corpo e da sua presenea/enquanto corpo-personificagdodas escolhasmusicais, logo identit6rias. Mas tamb6m por via do mediascape, espagoageogr6fico,por onde, de forma simultaneamente centrifuga e centripeta,circulam aslinhas de desterritorializagdoe segmentarizagdodas referdnciasreapropriadas(negritude/africanidade/portugalidade), no casoem estudo, pelos jovens negros portugueses. Nesta medid a, o mediascape anula o efeito de "l6gica cultural", revelado por s. Frith (1997),desfazendoa l6gica de uma cultura territorial demarcada geograficamente.Por conseguinte,o mediascape autoriza l6gicas culfurais circunstanciais ageogr6ficas,que se desfazemd velocidade da constituigdo de novos entrecruzamentosentre referenciaisdesterritorializados, e a partir de cen6riosculturais inscritos no mediascape e,por isso,reapropriav6is. Esta impossibilidade em localizaruma cultura conduz a que ndo seja possivel, tio Pouco/ situar uma culfura juvenil negra porfuguesa num territ6rio fisico tradicional-home-Iand-mas sim, nastais zonasde vizinhanga circunstanciais - hood-land- onde asreferonciasreapresentadas(dportugalidade/africanidade/negritude) se desterritorializam, e onde, por riltimo, se emancipa o processode identificag6o dos jovens negros porfugueses.

I

Capitulo 5 PORTUGALIDADE: UMA PRESENQASILENCIOSA

(O Paulo de Carvalho) tem uma mrlsica que eu adoro, e que me faz lembrar imenso a minha infAncia aqui em Portugal. Mas 6 incrfvel, porque nem sequer tenho um disco dele. [Patricia, 26 anos,advogada estagi6ria]

, O titulo deste riltimo capitulo alude ao tltulo de um livro de Jos6Ramos TiSilenciosa.A obra deste nhordo (1988),Os Negrosem Portugal: Uma Presenga inventariagdo das formas que ashistoriador brasileiro concentra-se/pois, na Temdticade eslusas. ,sumiu a participagdodos negrosnas pr6ticas culturais constatado, atrav6s de fudo essaque se tornou efectiva depois de o autor ter sobre mrisica ,{hvestigag6esfeitas no Brasil, no dmbito de uma outra pesquisa presenqa em Porpopular brasileira, que os negros/desdea sua mais remota um papel ,tugal - do s6culo XV d primeira metade do s6culo XX - tiveram no desenvolvimentode pr6ticasreligiosas(irmandades,confraprociss6ese pedit6rios), no desenvolvimento de pr6ticas liter6rias (a lira de cordel, as gazetas,os folhetos de humor, os almanaques,etc.), de ,outrasmais variadas pr6ticas:taurom6quica,teatral, musical (o fado-cang6o) finalmente. no evoluir da lingua portuguesa, como refete ali6s o pr6prio J. do: " A constAnciadas refer€nciasa uma lfngua de negros, em quase s6culosde hist6ria do teatro em Portugal, leva a imaginar que setal forcorrompida de falar o portugu6s de mistura comtermos africanoschegou constifuir quaseum dialectona rnetr6pole,alguma consequdnciadever6ter de tal intercdmbio lingufstico. E, na verdade, embora a sintaxeporcontinuasse inatingida, pelo facto de as alterag6es da fala de negro se

circunscrito semprei fon6ticae i morfologia da lingua de empr6stimo, l6xicon6o deixaria de acusar, afinal, exemplos resultantes de t6olonga troca

'cultural. " (ibid.: 343).

Se os negros est6o presentes nas pr6ticas particulares, na vida social e portuguesa, num perlodo amplo de tempo, suficiente para deixar

l 76

CULTURA ]UVENIL NEGRA EM PORTUGAL

marcasnas definig6esdessasmesmasprdticas,os rastosdessaPresenganegra foram-se tornando t6nues,mormente na abordagem ao discurso sobre "cultura portuguesa". Este facto,legitimado por uma indiferenga cientifica e Popular, e pot uttr preconceito oficial, 6 salientado num texto datado de 1938, cujo autor 6 Oliveira Martins,l e que o pr6prio ]. Tinhordofaz questaoem citai: ',Os escravos/repugnante legado da descobertada Africa e do dominio ultramarino, punham na sociedadeuma mancha torpe; e na fisionomia das massas,borr6es de col negla/ pelas ruas e Pragasda capital' Tinham-see tratavam-se como gado. Criavam-se rebanhos de mulheres PaIa crias, porque um pretinho novo, desmamado apenas/jd valia 30 a 40 escudos.As negras solam ser fecundase ingavam ascasasde negrinhos e mulatinhos, como diabos, chocarreiros,ladinos, quem gostaria deles?" (ibid.:362). Neste sentido, e para voltar ao l6xico utilizado neste trabalho/ as refer€nciasi africanidade (asmarcasdos africanos,negrosescravizados,impressasno desenvolvimento rizom6rfico de certaspredcasculfurais na sociedade porfuguesa ao longo de cinco s6culos),reapresentadasno Processode identihcagdode uma certa cultura portuguesa, foram "branqueadas". Isto 6, os referenciaisnegrosforam atenuados,ou mesmo dissolvidos (como6 o caso/Por exemplo, da participagdodosnegrosna constituigdodo fado-cang6o,em final de sdiulo XVIII, iniaio do s6culoXIX). As raz6esprendem-se com a ndo legitimag6o,com asdevidas distdnciassociaise hist6ricas,de nenhum ethnoscape, onde essas"etnoreferOncias"h africanidade, gerando as suas linhas de fuga, consolidariam,por um lado, zonasde vizinhanga,pelo seu entrecruzamento com outras, nomeadamente/ a portugalidade, e consolidariam, por outro, um discurso oficial, popular e cientifico, envolto de uma 6bvia mestigagem. Dirfamos entao, utilizando uma terminologia actual, que essasrefer€nciasd africanidaden6o passaramParaum hipot6tico Processode legitimagdodo seu valor de propriedade referencial,que, no presentecontexto/ Ao inv6s, a seconsubstanciariaatrav6sda sua Passagemp arao mediascape. ciene apropriado gerado noticioso, "noticia" facto sua nao inclusdona ,no de desterrilinhas as suas assim dizer, por tffica e popularmente, estancou, torializagio, de fuga, anulando, Por conseguinte,o seu estado de rizoma: "Embora tenha ficado noticia de um ou outro negro ligado a esta fase do fado saido das dangase cantosdo fado brasileiro - como, segundoTinop, "o preto Martinho, criado de umas fidalgas dos Anjos", que sobressaiu como cantor, ou o guitarrista joSo da Preta, citado no livro Hist6ria do Fado pelo mesmo autor -, o certo 6 que, a partir do surgimento dos fados em tom lamentoso, respons6velpela fama da Severa,a partir de meados da d6cada de 1840, a antiga cang6o dos pretos e mulatos do Brasil Passou

Oliveira Martins (1938: 13-14).

PORTUGALIDADE: UMA PRESENQASILENCIOSA

definitivamente aos brancos de Portugal, numa contfnua ascensdoque a levaria do escuro das tabernaspara as luzes dos sal6es." (Tinhor6o, s+o;. Dito isto - e voltando agora n6o s6 ao l6xico e d terminologia adoptados neste estudo, como tamb6m ds problemdticas- a presenEadas refeiencias i africanidade e d negritude, na edificagdode um discurso contemporaneo sobre "culfura portuguesa" e "cultura, juvenil portuguesa,,, v6lido nos camposcientfficos,populares e medidticos,permanecefurva e por definir. Se, por um lado, as mtisicas africanasditas tradicionais (morna,coladera,funrinti), e asnovas mrisicasafricanasde danga(kuduro,zouk,kizomba)ndo fazem parte do leque de g6nerosde mfsicas popular ou de dangavisivelmente consumidos na sociedadeporfuguesa, por outro lado, no casodas mfsicas negras,e do rap emparticular, a sua inclusdo no discurso vivo sobre "cultura jivenil ,,negio,, nSgra em 9m_Portugal", apela i transfiguragdo dos seu potencial cliiusula distintiva no dominio da pertengagrupaldtnica entre jovens portuguesesbrancos e jovens porfuguesesnegros.Esta clausula inserir-se-il num processo/voltando a N. Elias (1994a),de demarcagdodas fronteiras em termos de poder social diferencial, entre o',in-group,,,ou os jovens porfugueses .rriiiaratificar a " francos,g o ottt-group", ou osjovens porfuguesesnegros.Isto legitimidadg da presenga,no discurso sobre culturis juvenis em portugal, das nogdesde "etnicidade", "minoriadtnica",,,grupo 6tnico,',,,segunda"gerag6ode imigrantes", "jovem luso-africano,,e ,,multiculturalismo,,: ,,Empor_ tugar,o raptemvindo a serutilizado paraprotagonizarumamensagem de tolerancia racial, por um lado, e de denrincia de injustigassociais,por outro. A sua legitimagdo, n6o s6 como estilo musical, mas tamb6m coiro discurso -'politicamente correcto' de prefer€ncia- foi ela pr6pria contemporanea da (re)descobertada'multiculfuralidade'pela classepolfti"u, e com ela,d.a mediati-zagdode_espagos culturais d margem das formls de expressdo,institucionalizadas'. Esteprocessocontribui de forma bastantesignificativa para aracializagio do fen6meno'rapportuguOs'e implicou em ceria medida i sua pr6pria'formatagdo'. " (Fradique, 1998:II2). (...) E comoo rap,aspessoas j6 ouvemmaso rap ndo6visto comoumamrisica quea maiorpartedosjovensemPortugalouga.Issondosepassa,por exemplo, emFranga,emInglaterra,ou,sobretudonosEstadosUnidos.portantosinto-me um negroportugu6samericanizado, massempreafricano,porqueeun50rene, go as minhas origens. [Gil,23 anos, estudante 12.oano] (...) Ndo me revejo naquele discurso da rev olta(norap)nomeadamente sociedade portuguesa. [Patricia, 26 anos, advogada estagi6ria]

contra a

O rap ern Portugal sempre foi muito conotado com ,,vandalismo,,, ,' gangs,' e

CULTURA ]UVENIL NEGRA EM PORTUGAL

criar a ideia de que o rup era outras coisasassim.Acho que sedeixou demasiado uma mfsica de contradiqdo,de protesto' [Laura, 24 anos, secret6ria] Aclassificagdoque6feitaaquiemPortugal'nomeadamentepelosmass-meilia' deumaculturanegra,6umaclassificagdonegativa;osimigrantestemsempre' que v6m de baixo' sdo ou quasesemPre/rlma conotagdonegativa' Sdopessoas pessoasquetrabalhamnasobras,eh6,quasedeformainconsciente'umavis6o os filhos dessesimigrane uma classificagaonegativasdos negrosemPortugal. 6 por isso que elesprefetesndo querem ser clalsificados dessaforma negativa, rem refugiar-sena cultura negra norte-americana' (entrevistaexplorat6ria)] [Carlos Rodrigues, 30 anos, soci6logo lingua de caldo, consumiNeste sentido, o tal "rap portuguas" ourap emcrioulo umestilo musical que remete do eprodrrrido por iovensnegros portugueses' 6 um centro deum Outi exOaco a partir de um centro e Para p*u'" p-a"gao o rnp Plrtu$u1s vem validar a - a sociedade portuguesa. Por outras palavtas' p,",u.gudasreferen"ciasaumaafricanidade(oNovoEx6tico)reapresentada jovens negros portugueses' O atrav6s deumrapconsumido, entre outros, por g6neromusicalrap,enquantoescolhaperformativa'fazcomqueosiovensnedas referencias negras eleitas' Mas do ponto de $os portugu"r", ," upi'opii"m a validagdo de uma reaii"ti ao ariorr, u ir,"l*ao do rap no mediascapepermite africano' ex6tico' isto 6 uma presentagSo imagdtica corp6rei d9 91o.""gro' ,,Outro'ausenfe,,, (GiddenJem Gillespie,3), materializado i"uprur"r-,tugao do que cola metaatrav6s de uma m$sica, uma estltica, umestilo e uma identtdade jovens negros dos Portugueses' foricamente ao corPo negro dos Outros, ao de cima quando as Masparavoltar d cultura negraportuguesa (" ') ela s6 vir6 negros' existem que Portugueses Pessoasse mentalizarem n6o 6 (.. .) A maior parte das Pessoastem a percepgdode que se 6 negro Mas isso portugu€s, 6 africano, no mdximo tem a nacionalidade portuguesa. negros' portugueses pr6prios tamb6m estdna cabegados (entrevistaexplorat6ria)] [Carlos Rodrigues, 30 anos, soci6logo Quesounegrosou.Eutenhoh6bitosmaisocidentalizadosdoquea|ticanizados,masseiquesoutamb6mafricano.Masn6oseibemdizerporqu€. [Kiluanje, 22 anos,profissionalde audiovisual] ndo as tenho' Gostavade ter muito mais influ€ncias africanas,mas infelizmente lrfelizmente ou felizmente, ndo sei? [Pio,25 anos,vendedor na FNAC] (...) Os Portuguesesainda ndo sehabituaram a ver e a viver a cultura africana

PORTUGALIDADE: UMA PRESENCASILENCIOSA

que existeno seioda sociedadeportuguesa enquanto uma coisatamb6m portuguesa.Tanto mais que quando mostram imagens de Africa, s6 mostram imagens de pobreza,imagens tristes e que levam as pessoasa terem uma opinido tamb6m ela negativa em relag6od cultura africana. [Laura, 24 anos, secret6ria] O grande problema da identificagdo6 que aspessoasmuitas vezesquerem pertencera um grupo, e legitimam escolhasque porvezesn6o t€mnada a ver como "Eu": (.. .) h6 pessoas,por exemplo, que rejeitam o lado "portugu6s", e dizem, "eu sou africano". Mas dentro delas,elas sabemque t6m ld dentro o "lado portugu€s", coisasque elasconstruirame que ndo vale a penanegar,porque estd16. [Iolanda, 27 anos,enfermeira] Os negros em Portugal v6em-semuito enquanto africanos,at6 porque a imigra96o (africana)continua a vir muito para Portugal. Aligagdo entre Portugal e os paisesafricanoscontinua muito intensa,ao contr6rio daquela que une Africa e os EstadosUnidos. (. ..) Hii negrosnosEstadosUnidos,ndo h6 africanos:dizem que t€m raizes africanas/mas ndo sdo africanos. 126,22anos,ajudantede padeirol Por conseguinte, a expressdo das referOncias d portugalidade no processo de identificagdo dos jovens negrosportugueses impede a emancipagio dos componentes "roofs" ,"homelAnd" e "autenticidade", tal como sdo extraidos das mrisicas africanas pelos jovens negros portugueses em contexto familiar. Isto, porque esses componentes estdo agora projectados num mediascapeque favorece, por urn lado, a sua reapresentag6o, a partir de um cetro centro - a sociedade portuguesa - e/ por outro, a criagdo de um novo valor de propriedade para as " roots" , a " alJtenticidade" , a"tradig6o" e a"homeland" .Estraziados de conterido de identifica96o por pertenga, esses componentes rizomorfizam-se atrav6s de um processo de emancipagdo de um "Novo Ex6tico", que fomenta umnovo significado para os mesmos/ gerando "novas" roots,"novas" autenticidades, "novas" tradig6es, "novas" homelands,apropridveis, doravante, tanto por jovens negros portugueses,como por jovens brancos porfugueses, ou ainda por porfugues es tout court. Do lado dos portugueses,inicialmente, penso que ter6 a ver com a curiosidade; uma forma de danEardiferente, uma batida diferente. [Carlos Rodrigues, 30 anos, soci6logo (entrevistaexplorat6ria)] Mas jd hd uma maior mistura, uma aproximagdodos padrdes culturais portugueses,por exemplo musicais, com os padr6es africanos.]d ouvi uma mrlsica de dangaafricana de sucessofeita sobrea basede uma mrisica famosado cantor portugu6s tamb6m de sucessoPaulo Gonzo. [FernandaAlmeida, 30 anos,jornalistana RDPAfrica (entrevistaexplorat6ria)]

CULTURA ]UVENIL NEGRA EM PORTUGAL

por outro lado, a expressdodas referenciasiportugalidade impede aplenituentre o espagode de da tens6oidentit6ria,localizada rru rottu-de viiinhanga de reapresenesPago outro e o i"upr"r""tugdo das refer6nciasi africanidade, escolhida do reapresentag6o a tagio das reier€ncias d negritude. Como vimos, de danga,6 africana mdsica ritlro, da batida, atrav6s d"aemancipag6oda nova - Promodo ocidente efectivadacom o uso da teqrologia - coisado "centro", conceptualmente culture, vendo, consequentemente,umiparticular blackclub u " q"afastadada eJtdticapromovida urn to*o das nog6esde 'autenticidade" e dos coladeras das nuinidade", extraidas dos espagosde viv€ncia d as mornas' r .' fundnds. i ocidentalidade/remeAportugalidade, aqui matizada nas-refer6ncias e d sinteticidade reier€nciasi tecnologia,ir.electrificaE6o t" pu*rl*usiectro (incluinmusic' culturaisemusicais"brancas":orock,apop JJaur Nesohoilse. "*ptuJs6es e do os rocli& pop portllgtteses),e de uma certamaneira, o techno musicag6neros ta medida, opu*tutiti-ro conceptualentre estesdois riltimos particular, is e as novas mdsicas africanasde danga,okuduro e akizombaem pelos joveio dar enfasea um novo black(post)modetnism,posto em pr6tica detrimento vens negros portuguesesa partir das-discotecasafricanas- em fede outrJs - onde est6or"r.rtidos, de forma desterritorializada, elementos se que ferenciais que promovem outra tensaoidentit6ria. Uma outra tensao situa, desti viz,nas zonas de vizinhanga entre o esPagode reapresentagdo das referenciasi portugalidade/ocidentalidade e os esPaeosde reapresenta(o a batida, a danga,etc.)' Aos quais 96odas refer€nciis d afiicanidade ritmo, dada a se junta, de uma certa maneira, o esPaeode refer€nciasi negritude, percepgaomanifestada,como vimos, por parte dos jovens l:glot Pofiugueses entrevistados, em relag6o i presengJde uma proximidade/similitude conceptual entre os ritmos e as batidas das mfsicas africana e negra. (...)Paramim,aquilo(orock)erabarulho,eapartirdaindoprecisavadesaberse tipo de eram brancos ou pretos. Mas a verdade 6 que hs tantas associavaesse branco", mrisica- essetipt de barulho - aosbrancos,e dizia: "Essamrisica de ,,osbrancos s6 fazem barulho". o rap temmais aquele ritmo que eu gostava e gosto. IZe,z}anos, ajudantede Padeirol osEul,embro-meque osvideosquepassavamnaalturaeramos dos gruposcomo a mais ter Podia rope, Bon Jovi, etc. Eu ndo me sentiaminimamente ligado aquilo. comigo' ndo mas ver com osmeusvizinhos, osmeus amigos,asminhas namoradas, [Kiluanje, 22 anos,profissional de audiovisual] Como nem somosportugueses,nem africanos,acabamospor apanhar um pouco de tudo o que est6no-ar.E como 6l6gico, a influ6ncia dos amigos e dos colegas de escola 6 muito determinante. Como nas escolash6 uma maioria de

PORTUGALIDADE: UMA PRESENCA SILENCIOSA

81

alunos portugueses(brancos)6 normal que |rstantastamb6m eu me sentisseinfluenciada pelas mrisicasque elesouviam; a mrisica inglesa (rock€t pop),a MTV e coisasassim. [Laura, 24 anos,secret6ria] O problema 6 que isvezes essamrisica (nova mrisica africanade danga)ndo tem qualidade. (...) Devemoster a preocupagdo em mostraros sonsde qualidade,os sons africana. fi6is da tradigSo (. ..) Anova mrisica africana de danga6 isso,mrisica feita com caixa de ritmos e pouco mais. Amalta quer isso: quer ir irs discotecasdangar sobre aquele ritmo. (.. .) A nova mrisica africanade danEa6 uma mfsica que influencia sobretudo os que estdoem Portugal, ou em Lisboa. [Femanda Almeida, 30 anos,jomalista na RDPAfrica (entrevistaexplorat6ria)] Aexpress6o das refer€ncias d portugalidade, inscritas no Processo de indentificag6o dos jovens negros portugueses, desenha-se pela gestSo, por parte dos mesmos, de uma tensdo multipla, necessdria, nervosa e em fuga, que desterritorializa os espagos, no seu todo, de reapresentagio das refer€ncias. Esta tensdo gera zonas de vizinhanga - os espagos do processo de identificaqdo - em fungdo das linhas circunstanciais de fuga e de segmentaizagdo dessas referdncias. A impraticabilidade da plenitude identitSria saliente na expressdo "novo (jovem) luso-africano", como vimos no primeiro capitulo, reforga-se com estesnovos desenvolvimentos acerca dosespagos dereapresentagdo das refer€ncias e das respectivas zonas de vizinhanga. Com efeito, nessa mesma exPrcssdo, os dois lados, "luso" e " afficano" ,n6o se tocam, ndo se desterritorializam, o que impossibilita acriagdo de zonas devizinhang4 que conduzempor suavez d gestdo de uma tens6o nervosa e necess6ria para o Processo de identificagdo' Os componentes "luso" e "afficarro" lifenizados, viabilizam, pelo contr5rio, a sfntese impossivef o duplo posicionamento identit5rio, impratic6vel nos dois lados do hifenE a associagdodasduas palavrasque me soapouco verdadeiro ("luso-africana"): n6o me consideropropriamente"lusa", nem me consideropropriamente "africana" e ndo achoque a junEdodasduaspartesvenha resolvero problema (...) Deveria existir uma palavra que englobasse50%Portuguesae 507oafricana' [Patricia,26 anos,advogada estagi6ria] (. ..) Eu sou portuguesa:nasci em Lisboa,vivo em Portugal, mas 6 verdade que ao mesmo tempo sinto que tenho a ver com Cabo-Verde,em coisasem que ndo me identifico com a cultura portuguesa. [Laura, 24 anos,secretdria]

CULTURA JUVENIL NEGRA EM PORTUGAL

82

Africanidade

->

queremetepara: O Organicidade do ritmo/batida "autenticidade", "tradicional", "homeland' (+latinidade) J Blackmodernism

Figura6.1

I RocR& pop house tr Tecnofogia/fechno, ) Postmodernism

identiteria a tensao portugalidade/ocidentalidade: negritude, Africanidade,

("Negra") d6 um ar pejorativo, d6 um ar redutor ir cor da pele' Parece-meestranhaa associagaodessasduas Palavras,"portuguesa" e"rtegta". Ndo 6 usual a associagSo, porque geralmente,e 6 de certezao que pensaa fiEior palte daspessoasde c6lnao se pensa que Possaexistir um portugues ou rrna portuguesa de cor negra, com urna cultura negra. Prefuo dizer "luso-africana" 6 mais c6modo para ambos os lados. [Susana,23 anos, assistentede marketing] A expressao "jovem negro Portugues " faz daimpraticabilidade da plenitude identit6ria o seu mote, na medida em que o Processo de identificaeao se situa no tempo e espago referenciais e circunstanciais onde se gera e, onde evolui, a tensdo entre as refer€ncias em fuga ir negritude, i africanidade e i portugalidade/ocidentalidade. Neste sentido, a emanciPaqdo dessatensdo mdltipla, e, por conseguinte, a desterritorializagdo do pr6prio Processo de identificagdo dos jovens negros portugueses, evolui na gestdo da impraticabilidade entre as " roots" e a "tecnologia", entre o " rock" e o " rap", entre as nog6es de "organicidade" e "sinteticidade". O talblackpost-modernism, experirnentado por estes, evolui, assim, por gestdo da tensdo entre as nog6es de "organicidade / av tenticidade", reapropriadas a partir do ritmo das mdsicas africanas tradicionais e met6foras da homeland,e as nog6es de "sinteticidade/ndo autenticidade", extraidas do contexto de reapresentagAo da produgSo cultural e musical a Ocidente, met6fora dababylon. Esta 6 a tensdo emancipat6ria de novas formas desterritorializadas de mrisica africana e negra. Mas 6 tamb6m a tensao que recoloca nos espaeos de reapresentagdo das refer6ncias as noEdes de "colonizador" e "colonizado". Estas mesmas afiguram-se, agorat enquanto icones das referdncias a um passado-presente de luta pelos direitos e liberdade dos africanos (PALOP e restantes paises de Africa), mas mesclado, doravante, com o passado-presente dos negros norte-americanos de luta pelos seus

PORTUGALIDADE: UMA PRESENQA SILENCIOSA

direitos e pela sua liberdade. Nestesentido/asreferCncias d portugalidadecontextualizarn o passado-presentede um Porbugal colonizador, evangelizador, "branqueador" dos africanos dos PALOR e, simultaneamente,de uma africanidade aut€ntica/ genuina e tribal. Estasrefer6nciasest6oagora disponiveis numa zona devizinh€meaque,aomesmotitulo, asmisturacomoutrasreapropriadasa partir das experi€nciasde todos os africanos e negros escravizadose colonizados, dos quadrantes mais diversos e das formas mais diversas: " Sugeri que as criticas i modernidade articuladas por sucessivasgerag6esde intelecfuais negros t6m o seu sistemade propagagdorizom6rfica ancoradonuma proximidade contigua d inarr6vel e terrivel experi6nciada escravatura" (Gilroy, L996:73).Nesta medida, a refer6nciah tecnologia,d sinteticidade,presenteno rock,no technoou napopmusicremete,tamb6m,de uma forma sub-repticia,pararefer6nciasauma ocidentalidade (que inclui a portugalidade) perturbador4 poluidora do continuumhist6ico africano genuino, aut6ntico e gloriosamente arcaico. Percebique a minha cor remetiaparaum universoque tem a ver com Africa - asroots- mastamb6mcomasideologiasdosnegrosaonivel mundial,sem deixarao mesmotempode sertamb6mportuguds. [Virgilio,25anos,vendedorna Virgin Megastore] Asociedadeporluguesa,apesarde remeterde forma referencialparaurnespaeo de reapresentagdodas referCncias)rocidentaiidade (tecnologia,rock,techno,etc.), n6o aparecesob a forma de uma tena prometida (promisedland)t" (. . .) estar dentro mas n6o pertencerao Ocidente" (Gilroy, 1996:3).Terraprometida, no sentido de se consubstanciarenquanto espagoterritorial, por excelGncia,de projecg6o das aspirag6esde mobilidade profissional e social dos jovens negros portuguesesentrevistados.Asociedade porbuguesaaparece,pelocontr6rio, enquanto designio de uma fatalidade hist6rica-a escolhadestepafs de imigragSopor parte dospais.Estesfactoreslevama queumprojecto de emigragdoparaoutrospaises da Europa intramurossejaequacionado(nomeadamenteHolanda e Inglaterra), mas que, pelo contrdrio, a ida efectiva para o PALOP de origem dos pais n6o o seja,preferindo osjovens negrosportuguesesentrevistadosensaiarum "regresso emocional", exercitado,como vimos, atrav6sdo consumo de mfsica africana ("tradicional" numa faseinic i6ttca,e "nova e de d arrga"apostedod)e do estimulo das refer6nciasdesterritoializadas, em jogo nas pistas de dangadas discotecas africanase, de uma certamaneira,no consumode rapem crioulo lingua de caldo. As pessoas t6mumaconscidncia hquiloqueaspirama famaisclaraemrelagAo zer,e que6 dificilmenteconcretizdvel gostam nosPALOP.Contudo,aspessoas de ter essas refer€ncias - "tenho origem cabo-verdiana" - mas gostam de exibir isso como um cartdo de visita. Agora quando se trata de ir para 16viver e trabalhar, as coisas mudam de figura. [Carlos Rodrigues, 30 anos, soci6logo (entrevista explorat6rio)]

84

CULTURA JUVENIL NEGRA EM PORTUGAL

para a Conchichina! Se Como proiecto de vida, tamb6m pode fazer sentido ir situagdo de vida, apareceruma oportunidade que me faga melhorar a minha sefor InglaAgora qualquer' pais ou outro agarrd-la-ei:poderd serCabo-Verde, tena,i6 dd Parair na boa! 126,22 anos, aiudante de Padeirol Paramimoimportantendo6ofactodopaisserafricano,oimportante6eucon. pouco imporsiderar que a experiencianessepais poderd ser enriquecedora, em dia eshoje diferenqa j6 muita faz ndo tando o pais e* ti' 1.'.1 etem do mais, 6 informagao ir o acesso porque tares aqui (Portugal) ou nos Estadosunidos, mais f6cil. [Kiluanje, 22 anos,profissionalde audiovisual] ou outro se calhar estou-me mais rapidamente a ver ir viver para Inglaterra, pais europeu, do que Para Africa' [Pio, 25 anos,vendedor na FNAC] acessoa coiEstouhabituadaa umritmo de vida de cidadeeuropeia;a rapidez de f6rias' passar para s6 6 sasb6sicas,como a assistenciam6d.ica,etc. Cabo-verde [Laura, 24 anos,secret6ria] QuandoregresseideCabo-Verdesenti-medeslocado,PofqueachavaquePer. e estou muito tencia aquilo, contudo, as condig6esde vida sdobem diferentes' habituado a viver aqui na EuroPa' [Virgflio,25 anos,vendedor na Virgin Megastore] fora; Eundo quero sair daqui. Estou muitohabifuada aPortugal. Possosairpara Londres, Holanda, mas n6o para Africa' lSusana,23 anos, assistentede marketingl lincom efeito, a zona de vizinhanea refelencial onde se s itua o rap emcrioulo autoriza gua de cal6o, consumido e praticado por jovens negros PortuSueses, Xfugu u r"gmentarizagdo das refer€ncias ir africanidade, h negritude e dpor" poium lado, do uso dessa novilingua q-uemescla crioulo tugalidade,-itrav6s, cafio-verdiano, luandCs, kimbundo, blackenglishe portugu6s, e Por outro/ das tem6ticas e das prosas reivindicativas dos raps ensaiados em Cacilhas ou em Miratejo - nu iuu, no bairro - fora de Cabo-Verde, de Mogambique e de Angola - do contexto familiar - e finalmente fora do Bronx (Nova Iorque) de fratts (Los Angele s). O black englishreaparece reaproPriado nesse " rap portuguas" por refer€-nciaao mediascapenegro,onde umpro-blackism se alia a uma yainionabte blacknessna edificagio de uma nova interpretagdo tecnol6gica e iransest6tica dos significados Jo ritmo tribal e orgAnico das mrlsicas africanas. Como que a ap"lar a outro regresso emocional, est6tico, a uma nova terra

PORTUGALIDADE: UMA PRESENCA SILENCIOSA

prometida (promisedland) - homeland- agora desterritorializada, simultaneamente/em mriltiplos microcosmosterritoriais, que sdo os bairros de residdncia -hood-lands - onde sdoprojectadas,consumidase reinventadas es- onde estddelimitada sasrefer€ncias,e num macrocosmos- ou mediascape por riltimo, tem lugar o Processo uma comunidade de consumidores,onde/ juvenil negra portuguesa/ experimentada de identificagao de uma cultura jovens tanto por negros portugueses, como por outros jovens portugueses (brancos). porqueachoque os portugueses Eu souum negroportugu€samericanizado, t6m uma mentemuito fechada,e nosEstadosUnidos6 diferente.Por isso,eu ndo me sintomuito influenciadopelosportugueses. L2.'ano] [Gil,23anos,estudante Averdade6 queemPortugalcrescia ver sdries,telefilmes,filmesdistoe daquilo em ingl€s,e irstantasdominasessasllnguaem detrimentode outras(...). 126,22anos,ajudantede padeirol O meu lado portugu€s, 6 o lado de um jovem que foi criado em Portugal. [Pio,25 anos,vendedor na FNAC] N5o tenho nenhum tipo de atracgdopor mrisica portuguesa moderna. [Patricia, 26 anos,advogada estagidria] Quando eu tinha os meus 16-L7anos,o que aconteciaera que eu e os meus amigos (negros)absorviamosmuito os hdbitos europeus,ocidentais,norte-americanos.O que acontecehoje em dia 6 que sdo os miridos dessaidade, mas agora brancos,que estSoa absorveros estilos e os hdbitos dos mirldos negros que vivem em Portugal.(...) Essesh6bitos vieram dos bairros. Estdo nos bairros onde residem esses negros,antesde seremtranspostospara a TV.Ai residea grande novidade. Porque os brancos at6 h6 pouco tempo ndo tinham nenhum tipo de contacto com esseshdbitos/ com essasmodas, mas a pouco e pouco, comeEarama absorv€-los.Por isso,hoje tujd encontrasbrancosa falarem em crioulo, e a usarem express6estipicamente dos jovens negros dos bairros sociais. O facto de esses brancos seremperme6veisao uso do crioulo, ndo 6, quanto a mim, pelo prazer de falarem em crioulo. Teveque haver outro tipo de influ6ncias primeiro, para que o crioulo fossevisto como algo de distintivo. O crioulo acabapor funcionar como uma lingua urbana, que vai ligar i cultura negra norte-americana.Por riltimo, se de facto existeuma cultura negra em Portugal, ela tamb6m integra essesbrancos,e secalhar ela existeporque dela tamb6m fazem parte jovens brancos portugueses. [Kiluanje, 22 anos,profissional de audiovisual]

-]

CONCLUSAO

Toda a vida das sociedadesnas quais reinam as condig6esmodernas de produTudo o que era gdo anuncia-secomo uma imensa acumulagdode espectdculos. vivido directamente transformou-senuma representaEdo. du spectacle,1992] [Guy Debord, La soci4td (...) O corpo negro como um teatropfblico. [RichardPowell, BlackArt andCulturein the20th Ctntury,1997] 6 aquilo que ndo tem representag6opossivel porSereio teuespelho...Asedugdo que a distdncia entre o real e o seu duplo 6 nela abolida. []ean Baudrillard, De la sdduction,!9791 Parafraseando Guy Debord: "(...) uma imensa acumulag6o de espect6culos": esta 6 a met6fora c6nica e visual por exceldncia do processo de identificagdo' A qual resulta da possibilidade de modulagdo ao infinito dos entrecmzamentos entre refer€ncias. Refer6ncias que d6o forma, que ddo corpo,ao corrceito de "processo de identificagao" avangado por R. Gallissot e desenvolvido neste trabalho. Se o espect6culo remete p ara o palco, o mesmo remete para o actor QU€,rlo seguimento do paralelismo tragado, se prefigura em acto Performativo do processo de identificagSo. Umacto, cujo mapahist6rico desenha quebras, ruptrnas,ziSaezagues, retrocessos no Ambito de escolhas de um rumo identit6rio, atravds de um fio condutor cartogr6fico, rizom6rfico, portdtrl, de bolso, em fuga. Aperformance identit6ria 6 esta ideia de one man's show que avanga Por escolhas sincopadas na procura de novas aliangas, novas uniSes, entre express6es referenciais dominantes e emergentes, fixando e desancorando significados e sentidos, na continuidade circunstancial da pr6pria performance.A danga dos elementos referenciais permite que a hist6ria germine um sentido interpretativo, est6tico, flutuante, com potencial de identificagdo Para o actor. Finalmente, o palco. O corpo. Um corpo negro. Territ6rio por excelOncia 87

I

coNcLUSAo 88

89

CULTURAJUVENILNEGRA EM PORTUGAL

Pelo daperformance,manifesto da escolha,do gosto, do estilo interpretativo. de decalcomania,as refer€nciasvoltam sob apar€nciastransest6ti;;Jdr" ias transfiguradas, sendo que o priblico 6 a comunidade de consumidores qual valida,por um lado, a inveng6ode lugaresndo unidos pel6 mediascape.O de uma territorializ6veis de'pertenEaidentit6iia, e por outro, a reinvengdo reapresentaglo de zonas e espagos lugares, multiplicidade impritic6vel de ,,(...; possibilidaJesde modulagdo perp6tuas" (Gallissot, das refer€ncias: 1987:16). a EstepequenopreAmbulo,num estilo metaf6rico,servepara voltarmos luso-africanos", "novos conceito inscreveros limites da operacionalizagilodo eSPade pertenga"luso" e" africano".Com efeito/eSSeS para fora dos espagOs d portugalirefer6ncias das ios, transfigrrruio" u^ "rpuqor iu r"apresentag6o o esdade/ocidlntalidade e dlfricanidade, remetem,agorae tamb6m,para a desterrivernsalientar da negritude.Esteprocesso pagode reapresentagao dos fiior'ializaSaodas refer€ncias,o'u elementos reapropri6veis, por parte referenmatriz uma de lhos de imigrantes dos PALOR no dmbito do desenho careccial ao nivel identit6rio. Estamatriz estrutura-setendo em conta o seu reapresentagSo de espagos ter mut6vel, indefinido, perme6vel e liquido. Os pondas refer€nciasgeram, pot conseguinte,entrecruzamentos,nos exactos tensdo dessa lugar O elas. tos onde ,e g"ra u ter,sdbresultanie da fricgSoentre identit5ria, lue cria assuaspr6prias linhas de tuga,6 a " zonade vizinhanga"' Azona de vizinhanEadetermina o equilibrio identitario prec6'rio,necessariafotomente instdvel, entre refer€nciasque/ num precisornomento' autoriza a identificade do processo grafia,a cartografia, dos contornoi circunsianciais entre o momento em que lao. po, outras palavras,6 nesseexactointersticio, o acio fotogr6fico / cartogr6ficodasrefer€ncias,e omomento ime," "orrrr*u qn" seopera de novo a desterritorializaglo dessaordiatamente a seguir, "il dem fortuita entre refereicias, qn" o p.o.esso de identificagao se localiza. serd precisamentenesseintersticio entre a fixagaodas referenciasd portugalidade/ocidentalidade, h africanidade,ir negritude,-ea sua fuga imediata, qu"eseprojecta,doravante,o processode identificagSodos iovens negrosPortog.rur"r. Os lugaresde identificagSopor pertenEagrupal - we-groupetricizado-- deram 1u[ar a espaqosde refer6nciaque seconstituem d volta da mutaou "esteticizado"' 96o dessepoteicial "etnicizado" em potencial "est6tico" -:nde seperfilam fie Estaoperaqao6 executadanum territ6 tio - o mediascap centrifugade esselugar 6 guraEaesimagdticas,imagensest6ticas.Omediascape e portugalidanegritude iaoTcentrlptiEao das reier€ncias d africanidade, de/ocidenjtalidade. Referenciasessasconvertidas em figuraE6esimag6ticas ep ossiatrav6sda emulagflod,eum imagin6rio colectivo.Sendo queo mediascap os se inserem onde consumidores, de bilita a identificaEsode uma comunidade jovens negros portugueses,a um imagin6rio colectivo transest6ticoreapropri6vel e desterritorializiv el. As refer€nciasd africanidadedos jovens negrosPortugueses/Passam

do contexto familiar pata a rua, o bairro, mas passamtamb6m par a o mediascape.Essas refer6nciasd africanidadeganhampotencialnegro pela sua desterritorializag6o, que possibilita, ainda, o seuentrecruzamentocom outras refer€ncias.Este entrecruzamentode refer€nciasdefine, por fim, uma zona de vizinhanga referencial.As refer6nciasir africanidade sdo o ritmo, a batida, a danga.Elementoscentrfpetosde uma africanidade em di6spora digital. O ritmo, a batida e a danqas6orecriadospelo uso da tecnologia(refer€nciah ocidentalidade) atrav6sdas caixasde ritmos, dossamplerse dos sequenciadores. Aparato t6cnico utilizado, mormente, na produgdo das mrisicastechnoehouse.Esta mistura conceptual entre um ritmo das roots,que remete para uma certa organicidade afticana,e o uso das tecnologias,na concepg6ode um fraseado sonoro que recria essemesmo ritmo, agora de forma sintetizada, encontramo-la na criagdodas novas mrisica africanasde danga.Novas mrisicas africanasde dangae os seusespaeosde vivGnciapor excel€ncia:asdiscotecas africanas.Lugaresondeo "africano" semesclacom a negritude,na emin6ncia da gestagdode um significado para uma blackclub cultureem Portugal. Black clubcultureessaque seevidenciapela n6o vinculagdoa nenhum potencialde pertenqaetnicizada, ou potencial " africano". Pelo contr6rio, esta culfura negra particular faz ref.er€nciaa um novo significado "passado-presente"da africanidade,incorporando nessenovo "ritmo"/ nessanova "batida", das novas mdsicasafricanasde danga,asrefer6nciasd negritude que, de forma esteentreouticizada,remetemparaumpassadocomum africanoreapresentado, tros, pelos jovens negros portugueses:o passadoda escravatura,o passado-presentedasdi6sporasafricanas,a luta pelosdireitosdosnegrosnos Estados Unidos, as lutas pela independ6nciados paisesafricanoscolonizados. As novas mdsicas africanas de dangaremetem para uma africanidade tecnol6gica,no sentido em que a tecnologia 6 usada na recriagio de um "ritmo africano" com o auxilio das caixasde ritmos e dossamplers.Esta africaniexercitadopelosjovens dade tecnol6gicapossibilitao tal blackpost-modernism negrosportuguesesa partir daspistasde dangadas discotecasafricanas.Por conseguinte, a mrisica estdno processode identificagdo dos jovens negros portugueses,enquanto elemento rizom6rfico, enquanto elemento ritualizador, da impraticabilidade da plenitude identit6ria. No sentido em que os esquemas/as escolhas,as opE6es,em relagio ao consumodos estilose g6neros de mrisica (africana, negra, portuguesa, ocidental) revelam um entrecruzamento das refer€nciastrazidasir tona pelas opg6estomadas,pelas escolhas feitas, e reveladasatrav6s do discurso identitdrio. Esteentrecruzamentodas referCnciasdesenha, por riltimo, zonas particulares de vizinhanga. Zonas das referOnciasir africanidade onde, precisamente,flriem as reapresentagOes (extraidasdo consumode mrisicaafricana"tradicional","rrovae de danEa"), reapresentag6esdas referdncias)r negritude (extraidas das mrisicas negras/ R€tB,funk, soul,rap,etc.)e das refer€nciasi portugalidade/ocidentalidade (extraidasdas mrisicas rock& pop, techno,house,etc.).Estass6o as zonas de

CULTURA ]UVENIL NEGRA EM PORTUGAL

vizinhanga que propiciam a "fotossintese" das linhas de fuga e de segmentaporfurizagdoaas ief*C""ias "visitadas", "ah)gadas", pelos jovens lggtot identificagdo' de processo seu o possivel momento em que 6 g,r"r"r, no "xacto

GLOSSARIO'

Luand€s sem dinheiro ...'.......triste, Ancorado de vinho ou whisky .........garrafa Angala....... uma bebedeira Apinhar uma tona .............'...apanhar .........Luanda Banda......... ......'.'..camisa Bila, bilau Bitola, tubiacanga..................cerveja BodaOdda).....................'.......festa ...'."..carro B6ter.......... ....'.'..muito;"16tembuddegarinas","t6mbu6depulas"; Bu6............. na acepgSooriginal, comorefereRui Ramos,a palavta'bu6" correspondeao franc€s"beaucoupde" ...........queda Chocolate utiliza-setamb6mo diminutivo "cochiCoche(6) .................................6ocado, to" (6). (sapato),feio, rato .........t6nis Dbengo...... ...........desenrascar Descalhar ........cuecas Diampunas ..................dro9a Djonji levar a melhor sobrealgu6m ...........enro1ar, Engongar f6cil ........est6 Est6anduta do m6s .........fim Fim duma.. .........mortalha Flutcha....... Fubada,balada.......................funje Com o auxflio da consulta aos documentosdisponibilizados atrav6sda Internet por Rui Ramos (www.ciberduvidas.com/diversidad"s/0a9Z.t tlnt;. Este gloss6rio apre^senta-se como complemento ao apresentadono artigo de Ant6nio Contador (1998:57-83)' 9L

CULTURA ]UVENIL NEGRA EM PORTUGAL

....'.."'..'.calga Gardina de marca (grifado:bem vestido) .........rouPa Grife........... das sflabas) (inversdo ...'.'...feio Iof6............. ....'..'.casaco Kikuto........ velho (usa-secom um sentidode respeito' Kota ou cota ................'...........mais muitas vezes nada tem a ver com a idade' mas com a posigdohier6rquica num grupo) .........Preso Ku2u.......... ...............'....'..'.......mulato lara Laton, ......."mulata Latona.......' de uma raparigaatraente;"aqueladama ovo.........'....'..".....'.......di2-se Levar leva ovo" gira .'......'......'.rapariga M'boa ....'....'............negro bumbu Makala, " devagar,devagarinho" "Malemb6,Malemb6" ...'......' Mauanzas.. '........6cu1os ...'.'........chaPada Mbenda ....'....'.......cornboio Mboio ...'.....charro M61a........... velho ....'...'.....'mais Muadi6 (puta) .....'..branco Ngueta........ numa nice!" "estou ....'....boa, Nice............ ....'....chap6u Pe1ito.......... ("pi9" vem de "pioneiro"' 3 antigadegigPi6, candengue.."..'...........'....crianqa nagdooficial das criangasna Angola marxista) .'.'.....comida Pit6u........... algudmtenta enganaroutro' esseoutro ...............'......'..quando "Querer colo" retruca: "queres colo o qu|?" Ruca.'......... Se bem....... Solar.....,.,.... Tape(teipe) Tchaco........ Tejo,jut6 Tibado........ Tibar............ Tonado....... Ui (0........... U1d.............. Xu16............

""""'carro porreiro, interessante;"essa latona 6 se ..........bom, bem" "este tchaco 6 sebem" ' bom", ex':"essepit6u sola"("estacomida '......."estar est6boa") ...'....televisdo (comida) .........pit6u estripido .............burro, .'."....b0bado ........beber .........b€bado sujeito .........homem, .........re169io "Como est6 o teu xul6?" ("como est6 a .........sariJe; tua sarlde?")

GLOSSARIO

93

Crioulo cabo-verdiano (algumas express6es) Badiu 8ir6ti.......... Dodu(o)..... E modi?!..... Grogue M6s............ Sim6...........

..................cabo-verdiano da Ilha da Praia .........p6nis .........doido ........."com6?!", ot)."'tfusbom?!" ...............aguardente de cana ........rapa2 .........assim mesmo

Black english (algumasexpress6ese reapropriagdes) Boy.............

.........meu; utilizado geralmenteno final das frases, "ouve 16este som, boy" Checkar (do inglOs to check)...prestaratengdo a, ou escutar com ateng6o; "ckecka 16isto, man" Dread......... .........9ajo, porreiro Feeling....... .........sentimentos, press6gios,"'tow c6,com uns feelings que isto ndo vai resultar" Man.,....,..... ..,......o mesmo que"boy"; "com6!,man" Phat (fat).... "essesom 't6.bu1da phat, man" .........bom Skills ........... ........inspirag6o, "essegajo tem cd uns skills" Stoned........ .........b€bado, drogado,"o muadi6 't6 completamente stoned" Tape........... .........cassete Vibe............ .........loucura,"'t6s com vibes,ou qu6?"

REFERENCIASBIBLIOGRAFICAS

AA.W (1997),Post-ColonialCulturesin France,Londres, Routledge. AA.W. (1993),Free-Style-lnteraieras, Paris, Florent Massot e FrangoisMillet. AA.W. (1989),Identitdculturelleet situationdecrise,Paris, La PensdeSauvage. Paris,LTlarmattan. sociales, AA.W. (1990),ks €trangers dnnslnuille:Ieregarddessciences Abou, Selim (1990),"L'insertion des immigres: approdre conceptuelle" em AA.W, Irs Paris,LTlarmattan, pp. 127-139. sociales, etrangersdnnsIa ville: Ie regarddessciences Abou, S6lim (L99),introdugSoao capitulo "La ville et les 6trangers:des situations particulidres en France" em AA.W., Lesetrangersdansla aille: Ie regarddessciences sociales, Paris, L'Harmattan, pp. 366-371. of ContemAllan, StephenCicala (org.) (1991),CreatiueEthnicity:Symbolsand Strategies porary Ethnic Life,Utah, Utah StateUniversity Press. Allen, George e Unwin (orgs.) (1985),Youthand Leisure,Londres, Polity Press. Amit-Talai, Vered e Helena Wulff (orgs.) (1995),YouthCulture:ACross-CulturalPerspectiae,Londres, Routledge. Appadurai, Arjun (1996),Modernity at Large:Cultural Dimensionsof Globalization, Minnesota, University of Minnesota Press. Attias-Donfut, Claudine e Nicole Lapierre (1994),"La dynamique des generations", Communications,59. Attias-Donfut, Claudine (1994),"G6n6rations et filiation", Communications,59. Attias-Donfut, Claudine (1991),G€n€rations et 6gesde la uie,Paris,PUE. Attias-Donfut, Claudine (1988),La sociologie desgdndrations,Paris, PUF. Back,Les (L996),NetaEthnicitiesand UrbanCulture:RacismsandMulticulture in Young Lioes, Londres, UCL Press. Balibar, Etienne e Immanuel Wallerstein (L990),Racenation classe:les identitis ambigu€s,P aris, La D6couverte. Balibar, Etienne (1984), "Sujets ou citoyens? (pour l'6galite)", Les tempsmodernes, 452/ 453/ 4s4, pp. 1726-1753. Barreio, Ant6nio (1.995)"Portugal na periferia do centro: mudanga social, 1960 a 1995",AndliseSocial,XXX (34),pp. 841-856. 95

CULTURA JUVENIL NEGRA EM PORTUGAL

qitiques,Paris,seuil' etI'obtus,essais graindelaooix:I'obuie Barthes,Roland.(1982),Le Galil6e. Paris, (1997), total, Ecran Baudrillard, Iean Baudrillard, Jean(1986),Amirique, Paris, Grasset. Baudrillard, lean (1979),De Ia stduction,Patis,Galill6e. Baudrillard, Iean (1972), Pour une ffitique de l'1conomiepolitique du signe, Patis, Gallimard. Paris, Seuil. Baudrillard, Jean(1970),La soci|ti de consommntion, Bazin, Hugues (1995),La culturehip-hop,Paris, Descl6ede Brouwer' Beauchesne,Herv6 (1.989),"Rupture, crise et changement chez l'adolescent entre deux cultures,,,em AA.W. ,Identitd,cultureet situationdecrise,Paris,La Pens6e Sauvage,pp. 25-31. Beck, Ulrich, Anthony Giddens e Scott Lash (1994),ReflexiaeModernization:Politics, Tradition and Aestheticsin The Modern social order, Cambridge, Polity Press Reflexiaa,Oeiras, Celta Editora, 2000)' (ed. portuguesa, ModernizaEdo Benayoun,Chantal (1990),"Les 6trangersdans la ville: les chemins du cosmopolitissociales,Patis, me,,, em AA.W., LesetrangersdansIa aille: le regarddessciences L'Harmattan , pp.372-377. Bjdrklund, Ulf (1987),"Ethnicit6 et 6tat-provid ertce", Reuueinternationaledessciences (sob o tema "Ph6nomdnesethniques"), 1I7' pp. 21"3L' sociales Blacking, ]ohn (1980),Le sensmusical,Paris, Minuit. Bourgois,Philippe (1992),"A, h pursuite du reve americain:culture et ideologie dans pp. 133-161. l'6conomiedu crack", Lestempsmodernes,548, Burnett, Robert (1996),TheGloballukebox:TheInternationalMusic Industry, Londres, Routledge. Camilleri,Carmel (1992),"Evohtiondes structur,esfamilialeschezlesmaghrebinsetles por(2),pp' 133-145' internatianales,S europimnedesmigrations tugaisde France",Ranue Camilleri, Carmel (L984),"Probldmespsychologiquesde l'immigre maghrebin", Les tempsmodernes , 452/ 454, pp . 1'876-t901. Cannon, Steve(1997),"Paname city rapping: B-Boys em the banlieues and beyond" em AA.W., Post-ColonialCulturesin France,Londres, Routledge, pp' 150-166' Catani, M., e S. Pallida (1989),"Devenir franqais:pourquoi certains jeunes y renondemigrationsinternationales,5(2)' pp.89-105. cent?", Reoueeuropdenne Chambers,Iain (1994),Migrancy, Culture,Identity, Londres, Routledge. Chombart, De Lauwe, Paul-Henry (1971),Pour unesociologiedesaspirations:1l|ments humaines,Paris, Denodl/Gonthier. pour uneperspectioes nouaellesen sciences PopularCultureandPost-Modetnism,Novalor' Collins,Jim(1989),lJncommonCultures: que, Routledge. Contador, Ant6nio e Emanuel Ferreira (1997),Ritmoe Poesia:Os CaminhosdoRap,Lisboa, Assirio & Alvim. Contador, Ant6nio (1998),"Consciencia de geragSoe etnicidade: da 2'u geragdoaos e Prdticas,28, pp. 57-83. novos luso-africanos", Sociologia, Problemas Couper,Kristin(1987),"Blackbritish: categoriesocialeou double identit{" L'hommeet la soci€td , 83, pp . 52-57.

REFERBNcIAS BIBLIoGRAFIcAS

Cox, K. R. e R. G. Golledge (orgs.)(1981), BehaviouralProblemsemGeograpltyReaisited, Nova Iorque, Methuen. Angeles,LonCross,Brian(1993),lt'sNotAboutASaIary...,Rap,Race + ResistanceinLos dres, Verso. Debord, Gtry (1992),La soci4tldu spectacle, Paris, Gallimard. Deleuze,Gilles e F6lix Guattari (L980),Milleplateaux:capitalismeet schizophrenie 2,Paris, Les Editions de Minuit. Deleuze, Gilles (L993),Critiqueet clinique,Paris,Les Editions de Minuit. Deleuze, Gilles (1990),PourparlersL972-1990, Paris, Les ltditions de Minuit. Dubet, Frangois (1987),"Conduites marginales des jeunes et classe sociales" Reuue XXVII, pp.265-286. frangaisedesociologie, Elbaz,Mikha€l e FranEoiseMorin (1993),"Trajetssocio-identitairesde generationsde migrants en Franceet au Qu6bec",Reaueeuropdenne desmigrationsinternational es,9:3,pp. 5- 11. Elbaz,Mikha1l(1993),"Lesh6ritiers: generationsetidentites chezlesjuifs sepharades ir Montr6al" Reoueeuroptennedesmigrationsinternationales,9:3,pp.13-28. Elbaz,Mikhael (1990),introdugdo ao capitulo " Les sciencessocialeset la question des 6trangers",emAA.YY.,Lesetrangersdanslaaille:Ieregarddessciencessociales,Paris, L'Harmattan, pp. 1,4-23. Elias, Norberl (1994),TeoriaSimb1lica,Oeiras, Celta. Elias, Norbert (1994a),TheEstablished and the Outsiders,Londres, Sage. Erlmann, Yeir (1996),"The aestheticsof the global imagination: reflections on world music em the 1990s",PublicCulture,S, pp.467-487. Escal,Frangoise(1979),Espaces sociaux,espaces musicaux,Paris, Payot. Escoubar, Eliane (1996), "Barthes ph6nomEnologtre?", Communications,63, Paris, Seuil. Eshun,Kodwo (1998\,MoreBrilliantthantheSun:AdoenturesinSonicFiction,Londres, Quartet Books. Etzkom, K. Peter (7982),"Sociologiede la pratique musicaleet des groupes sociaux", Reoueinternationaledessciences XXXIV: 4, Unesco. sociales, Femando jr., S. H. (1994),TheNew Beats:ExploringtheMusic, Culture,and Attitudes of Hip-Hop, Nova Iorque, Anchor Books. Fields, A. Belden (1994),"AperEus du probleme des generations:Mentr6, Ortega et Mannheim", L'hommeet la soci6t6,t11,,t12: 7-22. Fiske,]ohn (1994),"Radical shopping em Los Angeles:race,media and the sphereof consumption" , Media, Culture €t Society,16:3. Fitzgerald, Thomas K. (1991),"Media and changing metaphors of ethnicity and identity" , Media, Culture €t Society,13:2, pp. L93-214. Fradique,Teresa(1998), CultureisintheHouse:oRapemPortugal,aRet1ricadaTolerdncia e as Politicasde Definigdode ProdutosCulturais, tese de Mestrado, Departamento de Antropologia/ISCTE, Lisboa. Frith, Simon (1997),"Musicand identity" em Hall, Stuarte Paul du Gay (orgs.),Questions of Cultural ldentity, Londres, Sage.

CULTURA JUVENIL NEGRA EM PORTUGAL

, 83:7 -1'l'. Gallissot, Ren6 (1987a),"Au-deld de la mode identitaire", Lhomme et la soci4td etla socieproces d'identification" (1987),"Sous l',identite,le ,L'Homme Gallissot,Ren6 t6,83 12-27. Gallissot, Ren6(1990),"Perspectivehistorique en France:histoire sociale,histoire urbaine,histoire nationale" em AA.YY.,Les etrangersdansla aille: Ieregard des scien' Paris, L'Harmattan, pp. 94-108. cessociales, Gans,H. (L992)"second-generationdecline: scenariosof the economic and ethnic fustudies,lS:2,pp. turesof the post-1965americanimmigrarrts",EthnicandRacial 173-192. Gaudier, ]ean Pierre e Philippe Hermans (1991),Desbelgesmarocains:parlerd I'emmi' gri, parler de I'emmigr6,Bruxelas,De BoeckUniversit6. onPost-SoulBlackCultu' andBohos:Notes George,Nels on(1992),Buppies,B-Boys,Baps, re, Nova Iorque, Harper Collins. desminoritds,Paris, PUF. Georges,Pierre (L984),G1opolitiques thdorieset sociologiques: Ghiglione, Rodolphe e Benjamin Matalon (1985), LesenquAtes pratique,Paris, Armand Colin, 81.;(ed. portuguesa, o Inqu1rito:Teoriae Prdtica, Oeiras, Celta Editora, 1997). da Modernidade,Oeiras, Celta' Giddens, Anthony (1992),As ConsequAncias EthnicityandCultural Change,Londres,Routledge. Gillespie, Ma ie (1995),Television, Gilroy, Paul (L993),Small Acts:Thoughtson the Politicsof BlackCulture,Londres, Serpent's Tail. andDoubleConsciousness,Londres,Verso. Gilroy,Paul (1996),TheBlackAtlantic:Mofurnity Giraud, Mich eL(1987),"Mytheset strat6giesde la double identit€", L'hommeetlasoci6' t4.83:59-67. Gdkalp, Altan (1984),"Enfants de migrants en Europe Occidentale:socialisation difsoferentielle et problematique multiculturelle" ,Reaueinternationaledessciences ciales,I}I.,UNESCO, PP. 515-529. Gongalves,Helena (1994),"Processosde (re)construqdode identidades culturais num e Prdticas,t6:135-1'49' Problemas bairro de habitagaosocial", Sociologia, Paris, Universit6 Paris X, Col. Green, Anne-Marie (1993),De la musiqueen sociologie, Psychologieet P6dagogiede la Musique. desmiGuibentif, Pierre (1996),"Le Portugal faced l'immigration" , Reaueeurop1enne 12:1, pp. 121-138. grationsinternationales, Music,and IllustratedHistoryof BreakDancing,Rap Hager, Stephen(1984),Hip-Hop:The Grffiti, Nova Iorque, St. Martin's Press' Culturallfuntity,Londres,Sage' Hall, Stuarte Paul du Gay ( orgs.)(7997),Questionsof Londres, Routledge. Hannerz, Ulf (1996),TransnationalConnections, Harper, Dean (1990),"Vivre dans deux cultures: le point de vue du sociologue" em destraaailleurs.migrantset de leur famille", AA.W., La conilitionsocio-culturelle UNESCO, pp.337-345. Hesmondhalgh, David (7995),"Flexibility, post-fordism and the music industries", Media,Cultureanil Society,183. Hily, Marie-Antoinette e Michel Oriol (1993),"Deuxibme g6ndration portugaise: la

nrrnnErsctesBTBLTocRAFIcAS

desmigrationsinternatiogestion des ressourcesidentitaires", Reuueeurop1enne nales,9i3, pp.81,-92. Hobsbauwm, E. e T. Ranger (orgs.) (1992), TheInuentionof Tiadition (A canto Book), Cambridge, Cambridge University Press. Howes, David (org.) (1996),Cross-CulturalConsumption:GlobalMarketsLocalRealities, Nova Iorque, Routledge. Jackson,]ohn A. (1991),Migragdes,Lisboa, Escher. jelloun, Tahar Ben (1990),"L'emergence des societespluriculturelles" em Futuribles 02/1990:57-63. Juteau,Danielle (1990),"L'6tude des relations ethniques dans la sociologiequebecoisociase francophone" em AA.W , Lesetrangersdansla oille:le regarddessciences les,P aris,L'Harmattan, pp. 24-42. King,AnthonyD.(org.) (1991),Culture,GlobalizationandTheworld-system:Contempoof ldentity, Londres, MacMillan. rary Conditionsfor theRepresentation Lapassade,Georgese Philippe Rousselot(1.990),Le rap oulafureur dedire,Paris, Loris Talmart. Lapeyronnie, Didier (1987),"Assimilation, mobilisation et action collective chez les jeunes de la secondegenerationde l'immigration magrhebine",Reauefrangaise XXVII, pp.287-318. de sociologie, Lapeyronnie,Didier(1992),"L'exclusionetlemepris", Lestempsmofurnes,545,546:2-17. and the Lipsitz, George,Dangerous Crossroads(1997),PopularMusic, Postmodernism Verso. Poeticsof Place,Londres, delamarginalisationdlaparticipatiLlaumet, Mafia(1984),ks jeunesd'origineetrangere: L'Harmattan. on, CIEM, Paris, Lopez,D. e Y. Espiritu (1990),"Panethicity em the United states: a theoretical framepp.198-224' work", EthnicandRacialStudies,13l.2, (1992), em Portugal: contrastese politiza96o", Lrtls "Etnicidade Machado, Fernando 12:123-L36. Prdticas, Problemas e Sociologia, Machado, Femando Luis (1994a),"Imigragdo, etnicidade e minorias @tnicasem PorProblemas e Prdticas,76:187-192. tugal", Sociologia, Machado, Femando Luis (1994),"Luso-africanosemPortugal: nas margensda etnicie Prdticas,1'6:117-L34. Problemas dade", Sociologia, Malewska, Hanna (1984),"Crise d'identite, problemes de deviance chez les jeunes immigres", Lestempsmodernes,452/ 453/ 454:1794-t811. Mattelart, Armand e MichEleMattelart (!995),Histoiredesth€oriesdela communication, Paris, La D6couverte. McRobbie, Angela (1994),Post-Modernism and PopularCulture,Londres, Routledge. Meintel, Deirdre (L993),"Transnationalite et transethnicite chez des jeunes issus de ilesMigrationsInternationales, milieux immigres a Montrlal",Reaue Europ€enne 9:3,pp. 63- 78. Monteiro, Vladimir (1998),Lesmusiquesdu Cap-Vert,Paris, Chandeigne' Morley,DavideKevinRobins (1995'l,spacesofldentity:GlobalMedia,ElectronicLandscapes and Cultural Boundaries,Londres, Routledge.

100

CULTURA JUVENIL NEGRA EM PORTUGAL

Moro, Marie Rose(1989),"Le bateau ivre: apport de la mythologie a l'analyse des interactionsmere-enfanten situation de crise" em AA.VY.,Identitd culturelleet situation de uise, Paris, La Pens6eSauvage,pp. 43-51. Morris, Lydia (1997), "Globalization, migration and the nation state: path to a post-national Europe?", British lournal of Sociology,48:2, ]unho. (1987),Musicolagiegindrale Nattiez,]ean-]acques etsdmiologle,Paris,ChristianBourgois. Nicolas, G., (1973),"Fait 'ethnique' et usagesdu concept d'ethnie", Cahiersinternationnauxdesociologie, 54. Pais,]os6Machado (1996),Culturasluaenis,Lisboa,ImprensaNacionalCasada Moeda. Potter,Russell(1995),SpectacularVernaculars: Hip-HopandthePolticsofPostmodernism, Nova Iorque, StateUniversity of New York Press. Pottier, C6line (1993),"La'fabrication' socialede mediateurs culturels: le casde jeunes filles d'origine maghrebine",Reaueeuropiennedesmigrationsinternationales, 9:3, pp. 177-189. Poutignat, Philippe elocelyne Streiff-Fenart(1995),ThioriesdeI'ethniciti,Paris,PUF. Powell, Richard I. $997), BlackArt and Culture in the 20th Century,Londres, Thames and Hudson. Pred, Allan (1981),"Of paths and projects: individual behavior and its societal context" emCox K. R. e R. G. Golledge(orgs.),BehaaiouralProblemsinGeography Reoisiteil,Nova lorque, Methuen. Relmolds,Simon (1998),EnergyFlash:a lourney ThroughRaaeMusic andDanceCulture, Londres, Picador. Richmond, Anthony (1984), "Adaptation et conflits socio-culturels dans les pays d'immigration", Reoueinternationaledessciencessociales.Tema "Migration", L01,UNESCO, pp.527-567,. Richmond, Anthony (1987),"Lenationalisme ethnique et lesparadigmesdessciences sociales",Tema"Ph6nom€nesethniques",Reoueinternationaledessciences sociaIes!1'J",UNESCO, pp. 3-17. Roberts, Kenneth (1985),"Ethnic minorities" em AA.W., Youthand Leisure,George Allen & Unwin, Londres, pp. L45-157. Rocha-Trindade,Maria Beatriz(1993),"Perspectivassociol6gicasda interculturalidade", Andlise Social, XXYIII (123-124),p p. 879 -885. Rose,Tricia (1994),BlackNoise:Rap musicand BlackCulture in ContemporaryAmerica, Londres, WesleyanUniversity Press. Ross,Andrew e Tricia Rose (orgs.) (1994),MicrophoneFriends:YouthMusic I Youth Culture,Londres, Routledge. Ruiz, Catherine (1996),"De l'inacfualit6 de Roland Barthes", Communications,6s,Paris, Seuil. saint-Maurice, Ana (1997),Identidades Reconstruidas: Cabo-verdianos emPortugal,oeiras, Celta. sakolsky,Ron e Fred welHan Ho (orgs.)(799s),soundingoff! Music assubaersion/Resistance/Reoolution, Nov a Iorque, Automedia. Sansone,Livio (1995),"The making of a black youth culture: lower-classyoung men

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

101

of surinamese origin in Amsterdam" em Amit-Talai, Vered e Helena Wulff (orgs.) YouthCulture:A Cross-Culturalp erspective, Londres, Routledge. santamaria, Ulysses (1986),"Noirs made in usA: de la discrimination a la participation", Lestempsmodernes,485, pp. 1-8. santos, Maria de Lourdes Lima (1991),"politicas culturais e juventude" , Antilise social,XX{I, pp. 991-1009. Sayad,Abdelmalek (1994),"Le mode de vie des generations,immigres,,,,Lhommeet Ia sociit6, 111/ 112:L55-17 4. Schaffer,Murray (1991),Le paysage sonore,paris, ]ean Claude LattEs. Schmidt, Maria Luisa (L985),"Aevolugdo da imagempriblica da juventude portuguesa:1974-84" em Andlise Social, XXI (82-38-89)pp. 1053-1066. Schumacher,Thomas (1995),"This is a sampling sport: digital sampling, rap music and the law in cultural productions", Media, Culture I society, 17: 2, April. seabra, Teresa(1997),"Estrat6giasfamiliares de educagdodas criangas", sociologia, Problemas e Prdticas,23,pp. 49-70. sharma, Ashwani (1996),"sounds oriental: the (im)possibility of theorizing asian musical cultures" em AA.w., Dis-orienting Rhythms:The politics of the New AsianDanceMusic,Londres,Zed Books,pp. 15-32. sharma, sanjay, john Hut e Ashwani sharma (orgs.) (1996), Dis-orienting Rhythms: ThePoliticsof theNeutAsian DanceCulture,Londres, Zed Books. shusterman, Richard (1992),"The fine art of rap" em pragmatistAestheticsLioing Beauty,RethinkingArf, Blackwell, pp. 20t-235. silbermann, Alphons (1982),"Les viseescognitives de la sociologie empirique de la musique", Revueinternationaledessciences sociales, XXXIV 4, Unesco. sim6es, Cristina (org.) (1992),A Comunidade Africanaemportugar,Lisboa, Colibri. Small, Michael (1992),BreakIt On Dozln, Nova Iorque, Citadel press. so, Alvin (1990), social change and Deaelopment:Moilernization, Dependency,and World-SystemTheories,Calif6rnia, Sagepublications. supicic, Ivo (1988),Lesfonctions sociales delamusique:musiqueet socitfi, Bruxelas,universit6 de Bruxelles. Taylor, Timothy (L997),GlobalPop:world Music, world Markets,Londres, Routledge. Thornton, sarah (1995),Club Cultures:Music, Mediaand subcultural CapitalCambrid.ge, Polity Press. Tinhordo, jos6 Ramos (1988),os Negrosem portugal: umapresengasilenciosa,Lisboa, Caminho. Todd, Emmanuel(1994),Ledestinilesimmigris:assimilationet sdgrdgation ilanslesil6moparis, pp. 9-3g. cratiesoccidentales,Seuil, Tom6,Maria Alice e TeresaPires Carreira (rg94), portugaiset luso-frangais, CIEM, paris, L'Harmattan. Toop,David (1999),Exotica:FabricatedsoundscapesemaRealworld,I-ondres,serpent'sThil. Toop,David (1992),RapAttackN o.2:African Rapto GIobaIHip-Hop,Londres, serpent's Tail.

r02

CULTURA JUVENIL NEGRA EM PORTUGAL

d l'assimilation:enquatesur lespopula' Tribalat, MichEle (org.) (1996),De I'immigration e en Fr ance,Paris' La d6couverte/INED' tions d' origine etrangDr ,,dontacts,interactionsmetissages:comm€nt lesetudier?" em (1gg0), Valensi,Lucette AA.w.,Lesetrangersdanslallille:leregarddessciencessociales,Paris,L,Harmattan, PP. 109-L15' Anthropologyof Ethnicity: Beyond vermeulen, Hans e Gora Govers (orgs.) (1996),The "Ethnic Groupsand Boundaties",Amsterdio' Het Spinhuis' Virilio, Paul (1988),La Machinede Vision,Paris' Galil6e' Galil6e' Virilio, Paul (1995),In uitessedelibiration, Paris' Warne,Chris(1997),"TheimpactofworldmusicemFrance"emAA'W'Post-Colo' nial Culturesin France, Londres, Routledge' pp ' 133-1'49 Presenga' Lisboa' da Comunica7do' Wolf, Mauro (1995),Teorias d'immigres: l'apport d'une approZ'roulot,Zalia(1988), "La reussitescolaircdesenfants cheentermesdemobilisation,,,Reoueftangaisedesociologie,Julho.Setembro.

Outras refer€ncias AA.W. (1.995),"Elementaryroundtable:hiphop'88-'95"'emwww'elementarymag'com' .(1gg5),,,Guerrilheiros na metr6pole,, entrevista aos memAgualusa, Jos6Eduardo bros do gruPo Kussondulola, 12/07' an interview with jean BauBayard, Caroliire e Graham Knight, "vivisecting the 90's: drillard", www.ctheory'com' socaise urbanas:oPefaBonixe, Luis (1998),,,Valeda Amoreira investe em condig6es 08/03' Piblico' Moita"' da gdo de revitalizagdono concelho ilustradodo,,rap,',DidriodeNoticias,l0/03. Caetano,MariaJoao(1998),,,Dicion6rio do Indepe-ndente' Carona, Manuela (1998),"Afro-noites" ,IndY, suplemento doPiblico'31/10/97 suplemento Sons' tempo", do Catal6o,Rui (1998),"As'pontes doPiblico'02/01" suplemento Sons' 'reunir"" missao Catal6o, Rui (1998),"Hip-ftop' nta",Prtblico'30/n' na vez Catal6o,Rui (1998),"Outra Catal6o, Rui (L998),"O princlpio da onda" , Prtblico'08/05' Cataldo, Rui (L997),"A lingua. .'brasileira", Prtblico'05/ 12' Cataldo,Rui(1.997),"GeneralD:elesabemesmoondequerchegar"'Prtblico'07/11' aos membros do Cataldo,Rui (1.995),"Ndo condenamoso rap ltadicional" entrevista grupo D a We asel,Pop Rock,suplemento do Prtblico'79/ 07' Costa,Jorge,"Letras sobrerup", revista 20 anos,Fevereiro' Couto, Mia (199,5),"Uma luso-af onia?", Prtblico'26/ 03' Debrix, Frangois,"JeanBaudrillard: plastic surgery for the other" www'ctheory'com suplemenFerreira,Nun o (1994),,,Rap:avoz dosnovos afric anos", PilblicoMagazine, to doPiblico,tS/03. ArtPress' Francblin, catherine, (1996),"IemBaudrillard: la commedia dell'arte", revista 216,pp.43-48. Galh6s, Claudia (1995),"H6 um rap sul-africano?",Blitz' 14/L1'

REFERENcIAS BIBLIoGRAFIcAS

103

Galopim, Nuno (1995),"Rapriblica: cr6nicas da primeira geragdo",Compacto,suplemento do Didrio de Noticias,07/ 02. Gongalves,Pedro (1997),"Alex e os putos do bairro: ainda 6 s6 o comego?",Blitz, 03/12 GonEalves,Pedro (1997), "Langar as redes" entrevista simultAnea ao Melo D (ex-membrodo grupo CoolHip Noise)e PacMan (membro do grupoDaWeasel),29 / 07 GonEalves,Pedro(1997),"LideresdaNovaMensagem:comentdriosao 6lbumKOM-tratake',Blitz,06/06. Gongalves,Pedro(1995),"BlackCompaNovaIorque:p6de umlado,carapinhadooutto" , Blitz, 14/ 11. Gongalves,Pedro (1994),"O grandebaile:balanEoafro de GeneralD" , Blitz,27/I2. Hilburn, Robert (1992),"KRS-One: Hard Raps from a Teacherem the Street. ", Los AngelesTimes,sec.F:'1,.,t8 / 04. ]acobetty,Luisa(1994),"Na praia com...GeneralD" , Vida,revista do lndependente, 12/08. ]ourde,Michel(!994),"Baby foot" entrevistacomMC Solaar,Lesinrockuptibles,Margo. Kaplan, E. Ann (1991),"The significanceof MTV and rap music em popular culture", New YorkTimes,sec.LI:2.,29/12. Kroker, Arthur (L998),"DeleuzeandGuattari: TWoMeditations",wwwctheory.com Luis, Alexandra, "O ritmo das palavras", Valor,29/01,, Maio, Luis (1997),"Portugal:uma hist6ria que danga" , Sons,suplemento do Pdtblico,17/ 1,0. Maio, Luis (L997),"Ritmos da mestigagem", Sons,suplementodo Pdtblico,0S /12. Maio, Luis (1995),"Rap portugu6s: a classede 95", Pop Rock,suplemento do Pitblico, 07/03. Maio, Lufs (1992),"Los Angeles: oEsons da ft:ria", PtfiblicoMagazine,stplemento do Pdtblico,'1.0/05. Narlin, Laure (1995),"Dialogue nord sud" entrevista com os membros dos grupos de rcp SuprAme NTM e IAM, Lesinrockuptibles,26/04. Narlin, Laure (1994)," Alibe good" entrevistacom os membros do grupo de rap ATribe Called Quest, Lesinrockuptibles,Margo. Neves, Carlos (1998),"Rap no underground", Blitz,23/02. Neves,Carlos (1997),"Wu-TangClan: para sempre",Blitz,09/06. Neves,Carlos (1996),"Rap contraSIDA", Blitz,20/08. Neves, Carlos (1996)," 2 Pac d solIa", Blitz, 02/ 05. Neves,Carlos (L996),"De la Soul:parada aLta",Blitz,30/07. Oliveira, Rita Moura (L998),"Chumbos e passagens:o aproveitamento escolar dos grupos culturais", Prtblico,06/ 04. Pereira,S6nia(1998),"Black compaNovaIorque:hist6riasda rua", Blitz,27/0L. Pires,]orge(1995),"Rap:aexplosdoanunciada",ReaistadoExpresso,pp22-28,21/0L. Ramos,Rui "Luand6s, a nova lingua da lusofonia" www.ciberduvidas.com/diversidades/0497.htrnl

-::!

l 104

CULTURA JUVENIL NEGRA EM PORTUGAL

Ramos,Rui,"Aindasobreoluand€s"www.ciberduvidas.com/diversidades/M97.html Ramos, Rui, "O linguajar luandense" em wwwciberduvidas.com/diversidades/0497.html Ribeiro, Pedro (1998),"Angola rap" , Sons,suplementodo Pt1blico,02/10. Saraiva,Ant6nio (1996),"The last poets: implicitamente rap" , Blitz,02/05. Tom6s,Ant6nio da Conceig6o(1998),"Novas rimas para Portugal", Pdtblico,06/03' Tom6s,Ant6nio da Conceigdo(1998),"A cidadania do rap" , Prtblico,07/02' Tom6s,Ant6nio da Conceigdo(1997),"0 rap 6 a rua a reivindicar o direito de cidadania" , Sons,suplementodo Pitblico,24/10. Xavier, Amaldo, "O maior poeta que Deus crioulo" calliope.jhu.edu,/demo/callaloo/ 18.4xavier_p.html. Wilson, Louise, "Cyberwar, God and television: interview with Paul Virilio" www.ctheory.com.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.