Cultura: uma perspectiva histórico-geográfica

June 4, 2017 | Autor: A. Monteiro | Categoria: Cultura, Campo Cultural
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Cultura Uma perspectiva histórico-geográfica António Jorge Monteiro *

A Humanidade desde há mais 30.000 anos, de acordo com o conhecimento disponível na actualidade, que manifesta as suas actividades e necessidades intelectuais, simbólicas e artísticas como fica demonstrado pela Arte Rupestre espalhada por todos os Continentes, nomeadamente na Europa Continental.

Figura 1 - Cavalos, Caverna de Chauvet, Ardèche, França (autor desconhecido, imagem do domínio púbico)

Entretanto, cerca de 26.500 anos depois, começaram a ser produzidas mais informações que vieram a permitir desenvolver esta abordagem sintética, numa perspectiva histórico-geográfica da Humanidade, nomeadamente Ocidental, de há cerca de 3.500 anos, 35 séculos, até aos nossos dias, o que permite ter, desde logo, uma ideia da complexidade deste tema. O início desta perspectiva remonta ao legado Moral Judaico de Moisés, século XVI a.C., no Antigo Egipto; decorre da herança Cultural e Civilizacional Greco-Romana desde Homero, no século VIII a.C., na Grécia Antiga; passa pelo Renascimento de Leonardo da Vinci, séculos XV e XVI, na República de Florença e Reino da França; contempla os resultados do pós-Primeira Guerra Mundial 1914-1918, na Europa e a criação da União Soviética em 1922-1991; tomando forma no pósSegunda Guerra Mundial 1939-1945, nomeadamente, com o Tratado de Bruxelas, em 1948, que dá início ao que é hoje a União Europeia. (1)

Como é referido por Frédéric Delouche em “História da Europa , com desmembramento do Império Romano, no século V, três grandes domínios culturais, sob o ponto de vista sociocultural, desenvolvem-se no continente europeu: a sudoeste, o domínio balcânico, herdeiro do Império Romano do Oriente, com Bizâncio e posteriores influências muçulmanas; a leste, o domínio eslavo, com influências bizantinas, muçulmanas e ocidentais; a oeste, o domínio ocidental, agregando, desde então, as heranças culturais nórdicas e anglo-saxónicas à greco-romana. Em termos Ocidentais, pela sua gênese, os europeus são os herdeiros de uma cultura que se tornou universal com base em múltiplas tradições: as judaico-cristãs (valores morais); as gregas (filosofia, artes visuais, teatro, literatura e ciência); as romanas (língua, direito, organização militar, vias de comunicação e circo); as do humanismo renascentista (séculos XIV e XVI); as do iluminismo (segunda metade do século XVIII), as da liberdade democrática (Revolução Francesa, finais do século XVIII) e as da ciência europeia (século XIX). Com a mundialização, do seculo XVI, provocada pelos descobrimentos empreendidos por vários países europeus, sobretudo portugueses e espanhóis, a cultura europeia, judaico-cristã e grecoromana, espalhou-se pelo Mundo e acabou por influenciar o pensamento e as artes dos povos

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contactados passando a constituir-se, também, como seu referencial intelectual e, contribuindo, assim para a sua ocidentalização. De salientar, igualmente, as múltiplas e infindáveis influências provocadas por esses povos diversos, nos povos europeus, contribuindo assim, em muito, para o seu enriquecimento cultural. Edgar Morin em “Penser L’Europe”, sobre a questão da identidade cultural europeia (judaico-cristã e greco-latina), considera que a partir da Renascença ela evoluiu, em todos os seus domínios, de acordo com o que caracterizou como um “bouillonnement dialogique permanent” (caldo dialógico permanente), baseado nas suas reflexões orientadas pelos conceitos “dialógico” (união de duas noções contraditórias mas indissociáveis para compreender uma mesma realidade) e de “recursão” (circuito gerador onde cada elemento o processo é ao mesmo tempo o produto e o produtor) (2). Esta questão da Cultura, pela sua natureza, predomina numa contextualização parcial e específica a que, em termos Mundiais, se poderá chamar de Ocidente - Europa; América do Norte (Canadá e Estados Unidos da América - EUA); América Central e do Sul (países Hispânicos e Brasil); Oceânia (Austrália e Nova Zelândia) e África (de influência ocidental: Lusófona, Francófona, Anglo-saxónica e Holandesa). Relativamente à Europa, em termos gerais, ela poderá ser tida em consideração no espaço da União Europeia, em 2013, e ter como orientação o chamado Modelo Social Europeu que, em linha com a classificação tradicional da sociologia, é constituído por vários submodelos: Nórdico: Dinamarca, Finlândia, Holanda e Suécia (4, sem Noruega); Anglo-Saxónico: Irlanda e Reino Unido (2); Continental: Alemanha, Áustria, Bélgica, França e Luxemburgo (5, sem Suíça); Mediterrânico: Chipre, Espanha, Grécia, Itália, Malta e Portugal (6); aos que nós acrescentamos o Oriental ou de Leste: Bulgária, Croácia, Estónia, Eslováquia, Eslovénia, Hungria, Letónia, Lituânia, Polónia, República Checa e Roménia (11, sem os restantes países de Leste). Em termos específicos da Gestão Cultural, uma abordagem à Cultura apresenta-se como especialmente relevante, principalmente, para as sociedades associadas aos submodelos Europeu Continental e Mediterrânico, bem como aos espaços Lusófono, Hispânico e Francófono. Numa perspectiva portuguesa, não poderá deixar de ser considerado, ainda, o espaço Lusófono Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste. Como síntese, no âmbito duma reflexão alargada sobre a questão do Campo Cultural e da Gestão Cultural Profissional, entende-se que deverá ser privilegiado o desenvolvimento de uma abordagem orientada por uma perspectiva: Ocidental; Europeia Continental/Mediterrânica; Lusófona e Portuguesa. _________________________________________________________________________________ * António Jorge Monteiro Professor convidado, Orientador e Investigador na área de Gestão de Projectos Culturais. Coordenador de múltiplos Projectos e Programas de Pós-graduação e Mestrado em Gestão Cultural, em diversas Escolas Superiores e Universidades, nacionais e internacionais. Escreve em Português-padrão consuetudinário. _________________________________________________________________________________

Referências bibliográficas (1)

Delouche, Frédéric - “História da Europa”, Edições Minerva, Coimbra, 1992.

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Morin, Edgar - “Penser l’Europe”, Éditions Gallimard, Paris, 1987. _________________________________________________________________________________ Gestão Cultural Profissional / gestaoculturalpt.blogspot.com | Abril 2015 | v1.1

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