CURADORIA DE ACERVOS DOCUMENTAIS E SUA APLICAÇÃO NO ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL DE SANTA MARIA -RS

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CURADORIA DE ACERVOS DOCUMENTAIS E SUA APLICAÇÃO NO ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL DE SANTA MARIA - RS Marjori Pacheco Dias1, Glaucia Vieira Ramos Konrad1 1

Universidade Federal de Santa Maria/Departamento de História, Rua Cândido Portinari, nº 210, Camobi, Santa Maria – RS, [email protected]; [email protected].

Resumo- Este trabalho apresenta os processos de curadoria realizados em acervos documentais, sobretudo nos jornais A RAZÃO, salvaguardados no Arquivo Histórico Municipal de Santa Maria – RS. procurando atender às necessidades documentais seguindo parâmetros técnicos e mecanismos que auxiliem na organização e recuperação dos objetos, tanto fisicamente como as informações a eles relacionadas. Os critérios de procedimentos utilizados estão em total compatibilidade com o tipo de acervo, ou seja, documental, possibilitando a padronização de uma conservação preventiva para efetuar, a curadoria e a conservação dos jornais individualmente, e também, em conjunto. Logo, estabeleceu-se como objetivo tornar possível através da metodologia de higienização, a conservação preventiva dos acervos documentais, facilitando o desenvolvimento de pesquisas sobre as coleções, tornando eficaz a análise tanto do documento, como das informações disponíveis sobre ele. Palavras-chave: Curadoria; acervos documentais; jornais A RAZÃO. Área do Conhecimento: Ciências Humanas - História Introdução Quando se trata de patrimônio, é sempre necessário que se haja uma política básica, regida pela premissa que norteia toda a ação de conservação, ou seja, tudo que podemos fazer ou permitir que seja feito para que cada documento permaneça íntegro da forma que é. A exigência básica para conservar-se um patrimônio cultural é fundamentalmente: administração segura, recursos adequados e conhecimentos decorrentes da ciência e da técnica. A Conservação, de acervos documentais, portanto, como matéria interdisciplinar, é um fato de convergência e de integração, de atitudes. A gravidade e a urgência de todos os problemas concernentes à conservação de patrimônios culturais tal como os vemos hoje, só poderão ser resolvidos através de ampla revisão nas atitudes profissionais, institucionais e políticas. Não haverá nenhum tipo de avanço substancial quanto, à permanência de um bem cultural, seja ele qual for, enquanto não houver um maciço esforço neste sentido. O presente trabalho pretende mostrar a todos que participam da preocupação e responsabilidade de conservar uma importante parcela do patrimônio cultural uma gama destes problemas que afetam a vida dos acervos documentais e estudar e apresentar tratamentos

técnicos específicos à permanência da integridade dos mesmos. Os acervos documentais de uma comunidade, geralmente patrimônios públicos, encontram-se sob a custódia de instituições governamentais e todas as atividades no sentido de mantê-los conservados não devem ser tratadas com fatores isolados. Todo legado histórico que se traduz como bem cultural, testemunho ou prova de contínuo desenvolvimento cultural da humanidade, é de responsabilidade de todos e isto implica na disponibilidade ao uso, sob critérios determinados que garantam sua transmissão às gerações futuras. Apesar deste trabalho ser intitulado “curadoria de acervos documentais e sua aplicação no Arquivo Histórico Municipal de Santa Maria”, o principal objeto de estudo é o jornal A RAZÃO, exemplares de 1920 a 1980, aos quais houve convocação para que fosse realizada tal curadoria. Metodologia O papel tornou-se tão comum na vida do século XX que raramente refletimos sobre o fato de que esse material comumente usado, tanto como suporte para escrita e a impressão de livros, periódicos, gravuras, selos, etc., como para incontáveis usos nobres ou humildes, protagonize um processo histórico de cerca de 2.000 anos.

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É preciso que hoje direcionemos todas as nossas atenções para a melhor forma de se conservar todo o saber que foi produzido e registrado pelo homem, sob forma de manuscritos ou impressão em suporte de papel e, pra isso, são necessários procedimentos curatoriais adequados a cada tipo de papel, no caso da prática realizada, em jornais. Para a realização deste trabalho no Arquivo Histórico Municipal de Santa Maria, foram observadas as condições de salva-guarda dos jornais A RAZÃO, tais como o processo de higienização, o suporte ao qual eram acondicionados, bem como se os jornais estavam expostos à luminosidade, sob uma climatização adequada e se havia um controle dos índices de umidade relativa do ar, para enfim ver o que estava ao alcance dos funcionários em termos de métodos de conservação. Esta parte do trabalho se subdividiu em outras duas: Na primeira, intitulada “Fatores Degradativos”, se discute que, uma vez que o Arquivo depende das verbas enviadas pela Prefeitura, não se pode fazer muita coisa para garantir a longevidade dos materiais ali salvaguardados. Ou seja, apesar dos profissionais qualificados ali presentes, estes não possuem recursos financeiros e estruturais adequados, funcionam como podem, tentando sempre oferecer o melhor manuseio e higienização possíveis para que o material não se degrade ainda mais, visto que estão sobre estantes de madeira (sujeitos à contaminação por fungos e deterioração por traças, cupins etc.) e não de aço, e acomodados em salas que alagam em dias de chuva, ou seja, os materiais estão sempre sob constante umidade. O ideal seria que as salas da reserva técnica fossem munidas de condicionadores de ar para garantir a longevidade dos jornais (e dos documentos em geral), mas como o Arquivo Histórico Municipal é uma instituição pública, tais aparelhos teriam que ser desligados no fim do expediente para fins de segurança (contra possíveis incêndios) e o ato de ligar-desligar os mesmos, tirariam a estabilidade de todos os documentos ali acondicionados, causando uma deterioração ainda mais precoce. E ainda na tentativa de oferecer um tratamento que garanta a integridade do material, recentemente, o Arquivo ganhou um condicionador de ar que foi instalado na sala de pesquisa, fato que tem seus prós e contras, pois beneficia o acervo de maneira que os pesquisadores não sofram de calor e,

consequentemente, não deteriorem o material com a umidade de seu corpo e respiração, mas que ainda assim causam intempéries aos documentos que são transportados constantemente para dentro e fora desta sala. Outro fator degradativo é o fato de que apenas os funcionários utilizam máscaras e luvas para o manuseio dos documentos, até mesmo porque o Arquivo enquanto instituição não dispõe destes artefatos pra todos os pesquisadores, apenas aqueles que pedem para usar (por motivos de preocupação pessoal com saúde e não com o patrimônio) recebem estes “utensílios”. Também há a falta de conscientização dos pesquisadores, que fazem rabiscos nos jornais ou escrevem sobre eles deixando marcas, como mostram as Figuras 1 e 2, respectivamente:

Figura 1 – Rabisco feito por pesquisadores.

Figura 2 – Marcas de riscos feitos sobre o jornal.

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Há outros fatores inadequados que ajudam no processo degradativo dos documentos, como o uso de luvas inapropriadas, de látex e com amido, que contaminam os papéis por serem feitos de matéria orgânica. Também o uso de pincéis quadrados e grossos (embora de cerdas macias) para o processo de higienização, que não permitem ao curador fazer movimentos circulares e higienizar as intrinsidades dos documentos. Na segunda parte, intitulada “Intervenções Curatoriais”, se aborda que de início, foi sugerido aos funcionários que pusessem vegetais aromatizantes (cravo, canela, alecrim) em pequenos depositórios e que os posicionassem na reserva técnica como medida de extermínio dos agentes biodegradativos (fungos, traças, cupins), uma vez que o Arquivo não dispõe de métodos físico-químicos para eliminar tais ameaças. Posteriormente, a presente pesquisadora tratou de levar seus próprios materiais técnicos, devidamente apropriados para os procedimentos de curadoria, como as luvas de nitrilo e sem amido, diminuindo o impacto para com o manuseio do material (pois sem amido não há riscos de contaminação para a matéria orgânica e o nitrilo diminui a umidade das mãos); as máscaras, para que se reduza a umidade causada pela respiração e impedindo grande parte da inalação de pó e agentes biodegradativos (fungos, bactérias) por parte do pesquisador; o pincel, também de cerdas macias, porém redondo (como de maquiagem) e de cabo comprido, permitindo movimentos espaçados, arredondados e que alcançassem as intrisidades dos jornais; e por último, o uso de jaleco, reduzindo o contato constante da pesquisadora em questão com os riscos de contaminação. Abaixo, A Figura 3 demonstra os materiais utilizados para o procedimento de higienização:

Como se sabe, o patrimônio documental exige um manuseio muito minucioso: as páginas devem ser folhadas devagar e levemente, e como as folhas tendem a se partir no meio ou em duas partes, subdividindo- a em duas ou três, é preciso utilizas as duas mãos para que uma página seja virada, diminuindo os riscos de fragmentação dos jornais (ou documentos em geral).

Figura 4 - Manuseando o jornal.

Figura 5 – Virando a página. Figura 3 – Artefatos utilizados para o processo de higienização de jornais. XVIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIV Encontro Latino Americano de PósGraduação e IV Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba

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Os movimentos com o pincel devem ser leves e esparsos, mas sem esquecer as especificidades dos jornais, como as dobras e as partes fragmentadas:

e tornaram eficaz a análise tanto dos jornais como das informações disponíveis sobre ele. Discussão Estes resultados levaram a equipe técnica do Arquivo Histórico Municipal de Santa Maria a introduzir uma padronização de procedimentos curatoriais, possibilitando melhor utilização da coleção por pesquisadores que desenvolvem projetos vinculados ao acervo do Arquivo. Conclusão

Figura 6 – Movimentos esparsos.

Figura 7 – Movimentos Minuciosos. Resultados Os procedimentos utilizados facilitaram o desenvolvimento de pesquisas sobre as coleções

Bens culturais, patrimônio material e imaterial, objetos de culto tangíveis e intangíveis. Integrantes da cultura erudita e popular, material e imaterial, importa-nos entender que os bens culturais são sociais e historicamente produzidos e apropriados pelos homens, que lhes dão forma, conteúdo, função e sentidos diversos, de acordo com as épocas e as necessidades do instante passageiro. Assim, ficaram marcados pelo tempo e pelo homem os jornais do acervo do Arquivo Histórico Municipal de Santa Maria que, por isso, necessitam cuidados especiais e, por mais intensas que tenham sido as atividades realizadas no Arquivo, só poderão ser observados os resultados em longo prazo, visto que as trinta horas de prática serviram apenas para inserir medidas emergenciais em termos de curadoria, e atingindo uma parcela muito pequena do acervo. O ideal seria que mais pesquisadores se interessassem pela área da curadoria, assim outras partes do acervo poderiam receber também um tratamento adequado. É esplêndido o trabalho que o Arquivo faz com tão poucos recursos, mas ele poderia ser mais completo se tal instituição contasse com mais voluntários. Não pode deixar de mencionar a relevância da presença de um profissional da área de conservação, inexistente ainda no Arquivo mas que saberia, com poucos recursos, evitar os agentes de deterioração com maior eficiência e agilidade. Por último, salienta-se a falta de conscientização dos pesquisadores, que manuseiam os documentos de forma inadequada, tiram fotografias com flash, fazem suas anotações sobre o documento e, por vezes, rabiscam ou deixam seus “post it”s entre as páginas dos jornais. Nesse sentido, é fundamental que haja um trabalho de conscientização, uma mudança de

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mentalidade onde todo o pessoal envolvido com essa instituição possa participar de forma integrada das medidas necessárias para manutenção do patrimônio com ações permanentes de conscientização mantidas através de palestras para a comunidade. Nesse sentido, o maior dilema do Arquivo é a organização visando o todo, onde a conservação preventiva deveria ser o carro chefe das prioridades. Referências - BAPTISTA, Antônio Carlos Nunes. Degradação biológica de acervos. In: Trabalho inédito no centro de conservação, BN. 1986. - BAPTISTA, Antônio Carlos Nunes, SPINELLI JUNIOR, Jayme; MÁRSICO, Maria Aparecida de Vries. Conservação de acervos. In: Trabalho inédito no centro de conservação, BN. 1986. - COSTA, Everaldo Batista da. SCARLATO, Francisco Capuano. A dialética da construção destrutiva na consagração do Patrimônio Mundial. São Paulo: FAPESP, 2010. - MILDER, Saul Eduardo Seiguer. OLIVEIRA, Josiane Roza de. Patrimônio Cultural: experiências plurais. Santa Maria: Pallotti, 2008. - SILVA, Rubens Ribeiro Gonçalves da. Preservação documental: uma mensagem para o futuro. Salvador: EDUFBA, 2012. - SPINELLI, Jayme Júnior, A conservação de acervos bibliográficos & documentais. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Dep. de Processos Técnicos, 1997.

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