Curso - Aprendendo a escrever com os Clássicos

July 3, 2017 | Autor: Ygor Belchior | Categoria: Rethoric, Greek Oratory, Retórica, Roman Oratory, Oratoria
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Professor - Educação a Distância Ygor

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Boas Vindas - 19/01/14 Olá, a todos os inscritos no curso.

"Quem ignora, efetivamente, que a eloquência e as outras artes decaíram de sua glória não por falta de homens, mas por descaso da juventude, pela negligência dos pais, por ignorância dos mestres e por esquecimento dos costumes antigos?” (Tácito. Diálogo dos Oradores, XXVIII) _______________________________________________________________________________________________________________________ Segue um áudio de boas- vindas com algumas orientações para vocês não se perderem em nossa plataforma. É um vídeo curtinho onde me apresento e onde deixarei bem claro as etapas que vamos trilhar ao longo do desenvolvimento deste curso.  Escute o áudio aqui em duas partes: Parte I Parte II Cliquem nos links e baixem essa introdução. Optei por não deixar arquivos de vídeo, pois realmente o que interessa na retórica são os textos escritos e muita dedicação por parte dos alunos. Então, não mudará em nada vocês me verem ou não. Acho que dessa maneira fica melhor porque os arquivos de áudio são mais fáceis de serem baixados e você poderá colocá-los ao fundo enquanto acompanham a tarefa ou a leitura de uma fonte específica.

Só lembrando que este curso será dividido em 15 tópicos distintos, ou seja, um para cada dia de curso. Peço que façam todas as atividades com calma e que procurem estar sempre em dia com o resto da turma. Afinal, um curso on-line exige muito do aluno, principalmente que ele tenha uma dedicação para além da cobrança de quem o acompanha na sala de aula. Ou seja, é para ler tudo! Já fiz vários formatos de curso e aquele que achei que mais me ensinou foi esse estilo que quero adotar aqui. Menos aulas o possível e mais leituras, memorização e treinamento, pois você começará a perceber até mesmo qual estilo de escrita eu adoto em cada etapa de nosso trabalho. Caso não consigam fazer a atividade do dia, não tem problema, você poderá retomar o andamento do curso depois. A única coisa que não será permitida, já que tenho o controle de onde todos estão, será avançar muito no curso. O motivo disso é simples, todas as atividades terminam com discussões ou com pequenas tarefas que devem ser feitas por vocês. Então, será imprescindível que realize essas tarefas junto com os demais colegas, pois a leitura das reflexões dos outros também será essencial para o seu desenvolvimento. Espero que gostem do curso e que aproveitem bastante o pouco que dá para ensinar nesse tempo restrito. Um curso de retórica é algo que leva a vida toda! Caso se interessem por mais novidades na área ou sobre outros assuntos, fiquem à vontade em contatar o professor através do fórum ou atentem sempre para os links externos que sempre serão colocados ao final de cada leitura. Um grande abraço

Apresentação dos participantes

“É

conveniente

que

mesmo

durante

o

jantar,

cultive-se

o

amor

as

letras”

(Petrônio, Satyricon, XXXIX, 4) ______________________ Olá, pessoas Mais uma vez, bem-vindos ao nosso curso e nossa primeira atividade: faremos um Symposium de boas- vindas! Tal como o vaso em destaque, que podemos dizer ser de tipo  Ático, vamos imaginar que estamos sentados em um banquete semelhante e exercitando algumas das atividades triviais, tais como  jogar bola, tocar instrumentos,dançar, recitar  poesias,  comer, beber, manter relações sexuais e até mesmo fazer algo tipicamente grego: discutir temas políticos e temas judiciários. Sócrates era um velho chato, mas era craque nisso! Afinal, estamos em

um ambiente em que a Pólis, ou a cidade-estado, é inconfundível e inseperável da natureza de um  cidadão. Os dois são corpos e regidos por leis naturais e dos deuses e que muito interessam ao homem. Expôr essas ideias sempre foi um desafio para os Gregos. Afinal, eles foram muito assíduos no estudo da matemática, na música e em outras áreas de conhecimento, como a nossa Retórica, que pudessem servir para compreender o mundo e expor ele em uma forma. Esta forma, em nosso caso, é o discurso! E nosso curso é para estudar as formas e as possibilidades que um discurso pode nos oferecer, sendo para os antigos, ou não! Sendo assim, antes mesmo de iniciarmos o nosso curso propriamente dito, gostaria de deixar este espaço para que todos se apresentem. Mas não somente para dizer quem você é, o que estuda, o que pensa sobre a vida ou até mesmo o motivo pelo qual você está fazendo esse curso. Gostaria que vocês se imaginassem em um banquete semelhante. Me digam quem seriam, qual papel exerceriam, qual poesia recitariam ou até mesmo qual opiniões defenderiam, caso quisessem participar do nosso debate sobre se faremos ou não guerra contra os Persas, mesmo sabendo que uma peste assola nossa cidade e não temos recursos. Para se inspirarem e ambientarem, deixo aqui uma cena das mais legais de toda a literatura latina: a Cena Trimalchionis. O link está em italiano com legendas em inglês. Se você tem problemas com essas línguas, não se preocupe. Peço apenas que veja o banquete em si. *Se você gostou dos vasos apimentados, clique aqui. ______________________________________________________________________ Links externos: Arqueologia Gastronômica (inglês) Vida cotidiana na Grécia: o Simpósio (legendas em inglês)  Comentários sobre "O banquete", de Platão (português) - Muito Importante! Filme "Satyricon" ______________________________________________________________________ Isso aí. Até amanhã com nossa introdução!

Fórum de notícias

Introdução ao Curso - 20/01/15 "o poeta imitador instaura na alma de cada indivíduo um mau governo, lisonjeando a parte irracional, que não distingue entre o que é maior e o que é menor, mas julga, acerca das mesmas coisas, ora que são grandes, ora que são pequenas, que está sempre a forjar fantasias, a uma enorme distância da verdade”

(Platão. República, 605 b). “A esse ato de benevolência, seguiram-se deliciosas especialidades, das quais até mesmo a simples lembrança remexe comigo, isso dá credibilidade as coisas que eu digo” (Petrônio. Satyricon, LXV, 1)

_____________________________________________________________________________________________________________________________ Para a introdução deste curso, vou deixar indicado para vocês uma obra intitulada "Introdução à Retórica", de Olivier Reboul  (o link está em francês, use o tradutor do google para a página). Esta obra é a mais básica e imprescindível o possível para quem quer começar a refletir sobre o tema, pois parte das concepções comuns de retórica como falseamento e mentira, tal como desenvolvida pela noção científica do século XIX (meio São Tomé, pois exigia provas através de um experimento científico que pudesse ser evidenciado) para uma nova noção, influenciada pela teoria literária, de que é possível se aproximar da verdade, ou da verossimilhança, através de experimentos discursivos. Esse resgate da retórica antiga na sua forma antiga, ou seja, sem os preconceitos modernos, por sua vez, permitiu a superação do paradigma interpretativo que englobava toda essa linha do saber dentro de um mesmo sistema que pode der resumido como uma retórica da “ornamentação” e do “falseamento”. Preocupação esta que é demonstrada pelos tradutores da Retórica de Aristóteles para o português: "Para muitos, a retórica pouco mais é do que mera manipulação linguística, ornato estilístico e discurso que se serve de artifícios irracionais e psicológicos, mais propícios à verbalização de discursos vazios de conteúdo do que à sustentada argumentação de princípios e valores que se nutrem de um raciocínio crítico válido e eficaz". [1] Junto a essa percepção de que a retórica não deveria ser resumida ao mero ornato estilístico, muitos pesquisadores se debruçaram na tentativa de resgatar as essências da retórica antiga através da noção aristotélica. Um dos pesquisadores que demonstraram essa preocupação foi Carlo Ginzburg que, em sua introdução da obra Relações de força: História, Retórica e Prova, buscou definir em linhas bem gerais a ideia de que os historiadores antigos possuíam outra forma de proceder em relação ao que atualmente entendemos como escrita científica. E uma dessas formas, segundo Ginzburg, consistia em estudar a retórica em um viés muito mais amplo, ou seja, através da concepção de que, para os escritores antigos, a prova era considerada como parte integrante da retórica[2]. Situação essa que foi relacionada pelos teóricos da escola científica com a necessidade de indicar “provas” documentais nos textos históricos. Para vocês terem um ideia melhor sobre este debate, deixo com vocês uma indicação de leitura: a resenha do livro Introdução a Retórica. Peço que leiam este pequeno texto no intuito de conhecer a obra de Reboul de uma maneira mais geral e após essa tarefa confiram as outras que vocês devem realizar, na página inicial do curso. Lembrando que após cada leitura teremos uma atividade para vocês.

[1] JÚNIOR, Manuel Alexandre; ALBERTO, Paulo Farmhouse; PENA, Abel do Nascimento. IN: ARISTÓTELES, 2005, p. 9. [2] GINZBURG, Carlo, 2002.p. 13

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A obra Introdução à Retórica, de Olivier Reboul, constitui-se em uma das mais  importantes publicações sobre Retórica e argumentação na atualidade. Apresentando os  estudos retóricos em perspectiva história e as diversas concepções que ela assume no   decorrer da evolução do pensamento filosófico e discursivo desde a Grécia Antiga até o mundo ocidental contemporâneo, além de uma síntese profícua acerca das figuras retóricas  e dos tipos de argumento, o livro destaca-se pela profundidade e didatismo, sendo uma leitura imprescindível para pessoas da área de Letras, Comunicação, Direito e Filosofia. A obra pode ser concebida a partir de três grandes eixos: a organização do sistema retórico e sua evolução histórica; a natureza da Retórica; e os recursos retórico argumentativos — figuras e tipo de argumento — atualizados durante a produção de um texto. A introdução abarcará a natureza da Retórica. É interessante notar o posicionamento do autor no que se refere a certas posições sobre o assunto, que se diferenciam, em alguns casos, das posições perelmanianas clássicas, presentes no Tratado de Argumentação, como na inaplicabilidade da distinção entre persuadir e convencer, tida por Reboul como incoerente, tendo em vista que o objetivo da persuasão retórica é levar a crer. Levar a fazer torna-se uma consequência subsidiária, não necessária. Ademais, argumenta que levar a fazer sem levar a crer implica violência e, desse modo, escapa ao domínio da Retórica. Assim, a distinção dos termos neste domínio torna-se, em seu ponto de vista, impraticável. O autor define Retórica como a ‘arte de persuadir pelo discurso’, atribuindo-lhe  quatro funções fundamentais — persuasiva, hermenêutica, heurística e pedagógica —, a  partir das quais organizará os capítulos seguintes, procurando mostrar, historicamente, de que forma a sociedade conceberá esta arte e sua estruturação, tendo em vista tais eixos  condutores. Assim, os primeiros três capítulos tratam das concepções clássicas da Retórica. Reboul expõe a origem judiciária dessa arte e o pensamento de autores gregos e romanos  sobre ela, destacando o papel de relevância que lhe é atribuído por Aristóteles e sua relação com a dialética. Trata-se de importante síntese do pensamento aristotélico, que constitui a base dos estudos em argumentação até a atualidade. É somente no terceiro capítulo, no entanto, que ele apresentará as partes componentes do sistema retórico — invenção, disposição, elocução, ação (e a memória, acrescentada pelos romanos) —, os gêneros retóricos clássicos — o deliberativo, o judiciário e o epidíctico —, além dos conceitos de ethos, pathos e logos, caros aos estudos  na área. Cabe ressaltar o trabalho do autor em relacionar esses elementos e mostrar de que modo eles interagem, fazendo inclusive menções a sua aplicabilidade nos gêneros discursivos atuais. O quarto capítulo constitui uma transição para a parte seguinte, que aborda os  recursos argumentativos propriamente ditos. Neste capítulo, o autor apresenta as possíveis  razões do declínio da Retórica, procurando desmistificar a ideia de que o cristianismo teria se configurado como um dos responsáveis pelo declínio dessa arte. Reboul argumenta que a  Igreja, por seu papel missionário, necessitava dos recursos retóricos, que foram, inclusive, incorporados na absorção e reformatação do sistema cultural greco-romano pelo cristianismo. Além disso, a Bíblia constituía-se em um amplo modelo e problema retórico, já que ela, tendo em vista seu caráter alegórico, deveria ser interpretada e explicada a partir  de procedimentos retóricos. Assim, não há razão, na visão do autor, em se atribuir a uma instituição retórica por excelência o declínio desta atividade, responsabilidade que ele atribui, sim, a Descartes, aos empiristas ingleses, como Locke, ao positivismo e ao romantismo, por razões distintas em cada caso.  Na sequência deste mesmo capítulo, o autor apresenta as perspectivas atuais acerca da Retórica, expondo as posições dos principais estudiosos do assunto e suas produções relevantes, como o grupo de Barthes, Genette e Cohen e a obra de Perelman e Olbrechts-  Tyteca, a qual ele reconhece a grandiosidade, mas critica seu foco exacerbado na invenção.  Além disso, Reboul mostra a relação entre Retórica e a publicidade e a comunicação de  massa, defendendo que elas tendem a privilegiar o ethos e, principalmente, o pathos, em detrimento do logos na atualidade. O quinto capítulo introduz o exame dos mecanismos inerentes à Retórica,  intercalados por capítulos de aplicação e análise de textos à luz dos elementos expostos nos  capítulos precedentes. Nesse sentido, a obra possui um caráter didático relevante, tendo em  vista que o autor analisa textos atuais, de diversos gêneros, mostrando a atualidade e a pertinência dos estudos retóricos, muitas vezes, negligenciados por pesquisadores de texto e  discurso. Ainda neste capítulo, o autor pontua as cinco características que diferenciam fundamentalmente a demonstração da argumentação: 1. O discurso sempre se dirige a um auditório, que, para Reboul, é sempre  particular, de modo que o auditório universal se constitui apenas em uma pretensão, abstração ou ideal argumentativo; 2. além disso, a argumentação expressa-se em língua natural, sofrendo as  conseqüências de sua opacidade;

3. por trabalhar com o verossímil, as premissas argumentativas nunca são verdades propriamente ditas, o que demanda uma relação interpessoal de confiança, atenção e reconhecimento de autoridade da parte do auditório em relação ao orador;  4. nesse sentido, a progressão dos argumentos depende do orador, que procurará  ordená-los de modo a satisfazer as condições de persuasão projetadas por ele acerca daquele auditório; 5. por conseguinte, as conclusões tornam-se sempre contestáveis, já que o auditório  pode rejeitá-las ou aceitá-las mediante seu julgamento. Consequentemente, não cabe na argumentação isolar razão e emoção. As duas caminham necessariamente juntas, na medida em que crenças são intrinsecamente afetivas e afetarão o julgamento e a conclusão, independente do caminho racional da disposição argumentativa apresentada. O sexto capítulo apresenta uma síntese consistente e bem exemplificada acerca das  figuras de retórica. Defende que uma figura é retórica apenas quando serve a fins persuasivos, concebendo-a como derivada do pathos e integrante da elocução.  O autor arrola uma série de figuras, definindo-as e exemplificando seu funcionamento do ponto de vista persuasivo. Assim, seu papel ornamental é relegado a segundo plano ou mesmo desconsiderado das análises. São subdivididas em figuras de palavras, de sentido, de construção e de pensamento, com subdivisões internas que permitem ao analista depreender as inúmeras estratégias formais relacionadas à textualização dos argumentos, que são aplicadas no sétimo capítulo em análises de textos de gêneros diversos, mostrando a importância de tais elementos no processo persuasivo que lhes é inerente. Por fim, os capítulos oitavo e nono apresentam, respectivamente, uma tipologia de  argumentos e a aplicação de tal tipologia na análise de textos. O autor definirá quatro  grandes tipos de argumento e reduzirá os lugares perelmanianos, que embasam as escolhas individuais, a três: lugar da quantidade, da qualidade e da unidade, mencionando que os outros lugares postulados no Tratado de Argumentação são, na verdade, subsidiários dos  anteriormente citados.  Sua tipologia de argumentos é semelhante à do Tratado, com apenas algumas  alterações de concepção no que se refere à funcionalidade de certos argumentos. À  semelhança de como procede no capítulo sexto, Reboul define e exemplifica os inúmeros argumentos pertencentes ao grupo dos quase lógicos, dos fundados na estrutura do real, dos que fundamentam a estrutura do real e dos que se apóiam na dissociação de noções. 

___________________________________________ Links externos: Quem se interessou com o livro, pode baixá-lo  clicando aqui ou aqui. Artigo "A HISTÓRIA COMO UM ROMANCE? UMA DISCUSSÃO DA CONTRIBUIÇÃO TEÓRICA DA VERTENTE “PÓS-MODERNISTA” PARA OS ESTUDOS SOBRE A HISTORIOGRAFIA TACITEANA". Artigo que resume o contexto histórico de pensamento em que o livro de Reboul se situa e dialoga. Como não tratar a retórica; Baixar "A república" de Platão;

Dúvida Alguma dúvida, comentário ou sugestão em relação ao texto ou aos links apresentados? Voltaremos a esse assunto mais teórico quanto a teoria literária quando abordarmos a diferença ente o gênero historia x poesia.

O que é a Retórica Clássica? - 21/01/15

“O uso da eloquência lucrativa e sanguinária é recente, nasceu da corrupção dos costumes”. (Tácito, Diálogo dos Oradores, XII) “Para cada propósito existe a sua lei específica, seu próprio caráter. Nem a comédia se alça nos coturnos, nem, de modo contrário, a tragédia entre em cena calçada de borzeguim. No entanto, toda eloquência tem alguma coisa em comum, imitemos, pois, o que é comum” (Quintiliano. Educação oratória, II, 22). _______________________________ O que é a Retórica Clássica? Muito se engana quem acredita que a Retórica Clássica para os Antigos era uma coisa hermética, fechada, onde todos concordavam com seus métodos de exercício e de ensino. Pelo contrário, essa  ratione,  ou claramente um campo de estudos, estava interconectado com diversas áreas da vida e era a forma pela qual a vida se expressava em discursos, ou em palavras, que deveriam ser literalmente julgadas por juízes (ou no senso comum, a plateia).  Ou seja, era basicamente como expressar a vida ainda sendo viva - ela tinha que estar visível naquele momento - para que os vivos (que interagem, possuem memória e modificam a vida) possam se convencer de que aquilo que eu falo (sobre qualquer que seja a área do conhecimento - medicina, matemática, política etc...) é digno de fé. E esta fé (fides) é algo muito subjetivo. Pois, pode ser alcançada de diversas maneiras e em diversos gêneros literários. Afinal, alguns se convencem por leis e outros através de exemplos. Sendo assim, como uma scientia sobre a vida, a Retórica possuía diversas abordagens e maneiras de ser pensada.  Por exemplo, como nos apresenta Quintiliano no  Institutio Oratoria (II,15, 1-38), a retórica na antiguidade possuía quatro definições básicas: Geradora de persuasão (Córax, Tísias, Górgias e Platão), a retórica como capaz de descobrir os meios de persuasão relativos a um dado assunto (Aristóteles), a faculdade de falar bem no que concerne aos assuntos públicos (atribuída a  Hermágoras) e a noção atribuída ao próprio Quintiliano, da retórica como scientia bene dicendi (a ciência de bem falar). Em nosso curso utilizaremos como base a  Retórica tal qual foi exposta por Aristóteles. Voltando a ela, podemos basicamente definir a Retórica como  “capacidade de descobrir o que é adequado a cada caso” (Retórica, 1, 1355b). Nesta obra em questão, a  Retórica, Aristóteles desenvolve em uma ideia bem interessante para que um discurso possa ser creditado. Ou seja, para o filósofo todo e qualquer discurso precisa de provas (ou exemplos) de que aquilo é real e assim atinja a  pístis  (correspondente grego de Fides) de seus ouvintes. Assim, para o filósofo grego, a retórica é essencialmente uma retórica da prova, do silogismo retórico (Retórica, 1, 1354a); ou seja, uma teoria da argumentação persuasiva baseada em evidências que são discursivas. Sobre as provas de persuasão, Aristóteles as clássica em dois tipos: 1. As inartísticas, ou seja, todas as que não são produzidas pelo orador, como testemunhos, confissões sob tortura, documentos escritos e outras semelhantes; 2.  Provas artísticas, ou seja, todas as que se podem preparar pelo método retórico ou pelo próprio orador (Retórica, 1, 1355b), Ou seja, em uma aplicação mais prática, o orador de Aristóteles para compor o discurso deve utilizar as primeiras provas (inartísticas), que estão disponíveis em toda a literatura grega, como comparar alguém com Ulisses ou Nero, por exemplo, e inventar as segundas (artísticas). Inventar as provas em um discurso! Pronto, por aqui paramos para passar para nossas primeiras reflexões. Seria então a retórica uma arte de mentir bem? Concordamos então com a citação que inicia nosso curso? O que então esperar do professor? Que ele seja craque em mentiras? Bem, antes de responder, peço que fiquem com mais uma frase. Esta foi extraída de uma obra atribuída ao famoso orador Marco Tulio Cícero, em um tratado retórico intitulado Retórica a Herênio.  Cito ela:

“Se a matéria for verdadeira, ainda assim, todos esses preceitos devem ser observados ao narrar, pois é comum acontecer de a verdade não conseguir obter a fé quando são negligenciados. Se do contrário as coisas forem fictas, ainda mais atentamente deverão ser observados. Deve-se forjar com cautela coisas que envolvem documentos escritos ou a autoridade incontestável de alguém” (Retórica a Herênio, I, 16) [1] Tradução de Ana Paula Celestino Faria e Adriana Seabra. In: [CÍCERO], 2005. Forjar as provas dentro da verossimilhança. Forjar a verdade ou dizer a verdade através de provas forjadas. Acho que é preciso ser um orador muito bem resolvido para mentir como forma de dizer a verdade. E como fazer isso? Veremos na continuação de nosso curso. Para terminar a reflexão de hoje peço que procurem assistir o seguinte vídeo que resume o pensamento contido na Retórica Aristotélica. Segue também um link para baixar a obra "A Retórica" de Aristóteles. Um abraço

[1] Como define Cícero, citando Aristóteles, em Da Invenção, VII, 9, as partes da composição de um discurso retórico são determinadas pelos diferentes aspectos associados diretamente ao público, ao contexto em que o discurso é proferido e os fins desse discurso. Contudo, o orador nos indica cinco partes prévias para a elaboração do discurso: a invenção (inuuentio/ heuresis), a elocução (elocutio/ lexis), a disposição (dispositio/ taxis), memória (memoria/ menemosyne) e ação (actio/ hipókrisis).    

Pergunta do dia Como conseguir criar ou inventar provas discursivas e mesmo assim falar a verdade? ___________________________ Para quem tem domínio de inglês, recomendo fortemente os seguintes vídeos: The Art of Rhetoric: Ten Principles of Persuasive Speech Science Of Persuasion The Science of Lying

Retórica pra quê? - 22/01/2015

“Quando representas como acontecendo no presente fatos  ocorridos no passado, farás do discurso não mais uma narrativa, mas um drama real” (Pseudo- Longino, Do sublime, XXV).  Também Homero utilizou muitas vezes, por meio de metáforas, o inanimado como animado. Mas em todas elas o que é mais reputado são as que representam uma acção, como nos seguintes casos: «de novo para a planície rolava, despudorada, a pedra» e «a flecha voou» e «louca por voar», e «sentavam-se por terra, desejando saciar-se de carne» e «a ponta da arma penetrou, ansiosa, no peito». Em todos estes exemplos, por se atribuir animação, representam-se coisas em acto: «ser despudorada» e «ser ansiosa», entre os outros exemplos, exprimem uma acção. Homero, porém, aplica estes elementos por meio de metáforas por analogia. Pois, tal como a pedra em relação a Sísifo, assim está o despudorado para o objecto do seu despudor. O mesmo sucede em símiles muito reputados referentes a coisas inanimadas: (Aristóteles. Retórica, 3, 1411b)

_____________________________________________________________________________________________________________________________ Até o momento procuramos pontuar as principais referências tóricas que vamos procurar seguir nesse curso. Sei que algumas coisas ainda não ficaram claras, mas peço calma, ainda não terminamos. Sendo assim, retomamos nosso raciocínio feito até então. O que estou tentando desenhar no início desse curso é a diferença entre aquilo que entendiam como retórica antigamente para aquilo que entendemos como retórica hoje. Afinal, não estou tentando vender um curso de simples persuasão.    Para tanto, partimos da perspectiva que predominou durante grande  parte do século XIX e que ainda permeia o senso comum sobre esta área do conhecimento. Esse censo é calcado em proposições de institucionalização dos discursos como disciplinas autônomas. Por um lado, os discursos científicos, como a História, sobrecarregados pelos fardos da “verdade científica”, somente atingível através das provas documentais (evidência - evidence), e, por outro, os discursos ficcionais, como a poesia e a literatura. Ou seja, discursos sem provas e feitos para dar prazer e deleitar o leitor. A retórica, neste contexto, entra na segunda parte da divisão. Pois, como muitos assumem, é algo como uma técnica, quase que herdada por gênios, que teria a única e exclusiva função de falsear narrativas e convencer os leitores. Porém, tal como começamos a desenvolver na reflexão anterior, assumiremos que retórica antiga assume essa relação entre prova e evidência como compreendida no âmbito da afinidade entre as ferramentas necessárias para atingir a fides dos ouvintes. A retórica é feita para provar, mas só é crível quando aquilo é real! - Não entendeu?!?! Então leia novamente a frase de Longino que encabeça nossa reflexão.

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Como tarefa, deixo para vocês uma palestra feita por um Professor que admiro muito. É o cara mais genial que já conheci, tanto pelo conteúdo da fala quanto pelos recursos retóricos que emprega ao falar. Lembrese, a ordem do argumento e as perguntas para a plateia também são formas de se empregar a retórica. Afinal, o argumento tem que ser claro e o orador habilidoso o suficiente para saber qual tipo de argumentação (de várias disponíveis para dizer a mesma coisa) devem ser empregadas ao longo de sua fala. Inclusive sendo mutável a todo o momento. Neste vídeo em questão, a reflexão é muito importante também e vai pontuar basicamente tudo o que dissemos até agora e também nos introduzirá na continuação do curso. Atenção! É uma palestra gravada dentro de uma sala de aula abarrotada (sim, gostam muito dele). Então não possui a melhor das qualidades de vídeo e som. Porém dá para assistir e é tarefa obrigatória para esse dia, pois terão que responder a mesma pergunta que ele faz. Sobre o professor João Adolfo Hansen  Veja a palestra em quatro partes distintas. PARTE I PARTE II PARTE III PARTE IV Um abraço

Chat com o professor Pessoas, deixo esse espaço para quem quiser bater um papo de uma maneira mais restrita. Aproveitem se tiverem dúvidas para saná-las. Porém, antes de fazerem isso, escutem esse podcast que fiz comentando os assuntos até o momento. Ele está disponível no fórum de notícias também! Para baixar o link, clique aqui. Um abraço

O contexto histórico: os mundos da oralidade - 23/01/15

O que vós, cidadãos atenienses, haveis sentido com o manejo dos meus acusadores, não sei; o certo é que eu, devido a eles, quase me esquecia de mim mesmo, tão persuasivos foram. Contudo, não disseram nada de verdadeiro. Mas, entre as muitas mentiras que divulgaram, uma, acima de todas, eu admiro: aquela pela qual disseram que deveis ter cuidado para não serdes enganados por mim, como homem hábil no falar. Mas, então, não se envergonham disto, de que logo seriam  desmentidos com fatos, quando eu me apresentasse diante de vós, de nenhum modo hábil orador? Essa me parece a sua maior imprudência se, todavia, denominam "hábil no falar" aquele que diz a verdade. Porque, se dizem exatamente isso, poderei confessar que sou orador, não porém à sua maneira (Platão. Apologia a Sócrates, I).

“Efetivamente, quanto mais humilde e desprezada tiver sido a sua origem, quando mais conhecidas a pobreza e as dificuldades que os rodearam ao nascer, tanto mais notáveis e elucidativos serão os seus exemplos para demonstrar a utilidade da eloquência oratória” (Tácito. Diálogo dos Oradores, VIII). “Então, vamos lá, examinemos se pareço ter concebido alguma teoria útil a  homens públicos” (PseudoLongino, Do Sublime, I, 2).

_____________________________________________________________________________________________________________________________ O mundo greco- Romano era o mundo da oralidade. Afinal, quem nunca ouviu dizer aquela velha expressão "quem tem boca vai a roma"? E não vão a Roma somente perguntando, não. Vão também porque lá é o lugar da palavra falada. Da oratória, a mesma técnica que era exercitada pelos gregos, a exemplo de Sócrates, nos mais diversos lugares aonde a boca (órus -  radical de oralidade) era essencial para transmitir um discurso. Assim como na assembleia dos cidadãos, onde foi julgado. Todas as notícias, histórias, estórias, literatura etc... para os habitantes desse tão distante mundo faziam parte de uma rotina bem distinta da nossa, pois todos esses relatos, que hoje vemos na TV, jornais, LIVROS e em outros meios de COMUNICAÇÃO, eram CONFECCIONADOS para serem falados e não escritos. Por isso, a retórica era discursiva e essencial para quem quisesse se sobressair nos ambientes de sociabilidade. Isso não significa dizer que nunca se escreviam as obras de Platão, por exemplo, pois elas foram escritas em poucas cópias em pergaminho, já que a leitura burguesa do livro é somente após o renascimento. Sendo assim, é possível afirmar que essas cópias eram caras e eram também, na maioria das vezes, destinadas às bibliotecas antigas, onde todo conhecimento era guardado.  Assim, cabia ao bom orador decorar todos esses escritos e os seus mais diversos gêneros. Feito isso, e com uma boa memória e tempo dedicado, levava esse conhecimento às ruas, ao fórum, aos banhos e, principalmente, aos banquetes, ou seja, lugares físicos, feitos para a prática da oratória. Sobre esse mundo e seu contexto, não pretendo aqui dar uma aula resumindo tudo. O tempo é muito curto e escrever sobre todo o sistema oratório e os lugares de oratória para o mundo antigo é uma tarefa que exigiria muita leitura por parte dos alunos. Assim, deixarei dois documentários, um sobre Grécia e outro sobre Roma, para aqueles que queiram rememorar os principais acontecimentos das duas civilizações que abarcam esse sistema retórico antigo. Resumo História de Roma Resumo História da Grécia Em Roma, por exemplo, a oratória havia sido sempre a grande escola de formação de cidadãos de liderança, mas essa oratória entrou em declínio, nos termos em que o aponta a inquietação inicial de Fábio Justo, a quem Tácito vai responder no seu Diálogo dos Oradores. Ora, concentram-se aí todos os pontos que o Diálogo põe em discussão: os papéis políticos da oratória e do orador, a importância social e cultural da poesia e sua indissociabilidade das outras áreas de conhecimento que fazem parte da formação de um cidadão; a “decadência” da oratória, na sua correlação com a decadência das instituições de ensino e das práticas pedagógicas utilizadas na formação do orador; a baixa estima que essa escola suscita entre os jovens; os fatos de ordem política responsáveis por esse alegado declínio. Afinal, o orador não deixava de ser alguém que pertencia àquela sociedade e estava sempre observando as pessoas as quais um dia iria se dirigir, seja em juízo, na assembleia ou até mesmo no Senado. Falaremos mais do orador em uma lição posterior. Por hora, pensem em alguém destinado aos campos de atuação política. O discurso para o voto! As assembleias com vários cidadãos e com temas imprescindíveis para a cidade. O que faria ele? O quanto deveria saber de técnicas retóricas para mover o povo. Por outro, imagine um Senador romano discursando no Senado ou Sócrates em seu julgamento. Eles falavam para uma audiência que havia estudado o que eles estudaram. Como falar?!?! Enfim, passem para a próxima etapa do nosso dia, onde encontrarão no fórum um texto de minha autoria que convido vocês a lerem e a refletirem sobre como um orador deveria ser um bom observador social.   

_____________________________________________________________________________________________________________________________ LINK EXTERNOS: Literatura Fundamental (A Eneida) - Obrigatório! Aula sobre o texto Apologia a Sócrates;

A Cidade e seus mitos;

Pergunta do dia “Qualquer um que tenha ouvido um pouco mais a arte, principalmente sobre a elocução, poderá perceber as coisas ditas artificialmente; mas ninguém, a não ser um erudito, poderá produzi-las”  (Retórica a Herênio, IV, 7) ______________________________________________________________________________________________ Agora é a vez de vocês: - Afinal, pra quê serve a retórica?

Atividade Dionisíaca - 24/01/2015

A manada de bois trepara havia pouco às alturas, para o pastoreio, quando o sol seus raios dardeja, a terra aquentando... Três tíasos vejo então, três coros de mulheres, um, dominado por Autónoe; o segundo, por Agave, tua mãe; o terceiro era o coro de Ino. Todas dormiam, com os corpos reclinados, umas com as costas apoiadas à ramagem de um abeto, outras em folhas de carvalho... No solo, a cabeça ao acaso e castamente pousada, não como tu dizes - embriagadas pelo vinho e pelo som do loto e buscando, isoladas, o amor no bosque. Elevando-se entre as Bacantes, tua mãe lançou O brado ritual, ao sono os corpos furtando, logo que dos bois cornígeros o mugido escutou. O sono profundo das pálpebras apartando, todas se ergueram; sua compostura era maravilha de ver - jovens, velhas e virgens do jugo ignorantes ainda! Trecho retirado das Bacantes de Eurípides.  _______________________________________ Olá, a todos os sobreviventes de nossas discussões. Espero que estejam melhor do que prego na areia! Por favor, não me abandonem agora.... Acho que ninguém gosta de retórica. Isso parece grego! _____  Sei que isso é um eufemismo e foi só uma provocação, pois garanto que as discussões que até então fizemos são novas para vocês e estão bem interessantes. Principalmente, para aqueles que estão pensando no que aprenderam e ansiosos para começar a escrever pequenos textos praticando um ou mais ideias até então aprendidas. Para outros, por outro lado, sei que um curso corrido assim faz com que muita coisa não seja absorvida da maneira que deveria e que muitas das atividades podem ter durado mais tempo do que você tinha disponível. Mas, infelizmente, hoje, vamos escrever e tentar praticar.  Peço que não se assustem, não é uma atividade avaliativa, mas, sim, uma atividade que deve ser feita como forma de praticar a escrita, exercitar o discurso e começar a atentar para as estratégias retóricas que você utiliza sem ao menos saber. Será interessante. Eu garanto! Para isso não passarei teoria hoje, mas somente a tarefa de que saiam para um bar, uma balada ou qualquer coisa que lembre um ritual dionísiaco e depois tragam para mim amanhã o exercício que pedirei por escrito. Todavia, antes de passar a atividade para vocês, darei algumas informações sobre Dionísio, ou baco, o deus do vinho, da festa e do teatro. Lembra do nosso banquete na primeira aula? Então, algo semelhante acontecia quando o tema dionisíaco entreva em cena! E as pessoas, como vimos, exerciam diversos papeis

dentro desse cenário. Passamos então para a exposição de algumas informações que irão contextualizar vocês. Leiam tudo até o final e caso se interessem deixei alguns links externos para assistir no Youtube. Visto isso tudo, entrem na área destinada a tarefa do dia que informaremos tudo com mais calma. ______________________________________ Dioniso  ou  Dionísio  (em  grego: ǻȚȫȞȣıȠȢ ou ǻȚȩȞȣıȠȢ,  transl.  Diōnisos  ou  Diónisos) era o  deus  grego  equivalente ao deus  romano  Baco, dos ciclos vitais, das festas, do vinho, da insânia, mas, sobretudo, da intoxicação que funde o bebedor com a deidade. Filho de Zeus e da princesa Semele, foi o único deus olimpiano filho de uma mortal, o que faz dele uma divindade grega atípica. Rituais dionisíacos Os ritos religiosos dedicados a Dioniso eram conhecidos como os Mistérios Dionisíacos. Implicavam normalmente agentes tóxicos, na sua maior parte vinho, para induzir transes que erradicavam as inibições. O Culto de Dioniso assentava em rituais, mas há muito pouca informação concreta sobre a maior parte deles. Sabe-se que os ritos se centravam num tema de morte-renascimento e que a maior parte dos praticantes eram "intrusos", ou seja, estrangeiros, foras-da-lei, escravos e, especialmente, mulheres. Acredita-se que eles entravam em transe e usavam música rítmica nos ritos. As mulheres que participavam nestes rituais imitavam a conduta das Ménades. Executavam danças frenéticas, extáticas, muitas das vezes em volta da imagem de Dioniso. Nestas danças, as mulheres lançavam as suas cabeças para trás, expondo as gargantas, rolando os olhos, e gritando como animais selvagens. Também executavam um ritual sacrificial, durante o qual as mulheres matavam cabras, cordeiros e gado e devoravam a sua carne crua. Seguidoras de Dionísio As bacantes formavam o corpo de seguidoras de Dionísio, deslocando-se para onde ele fosse. Vestidas com roupas de linho, tendo sobre os ombros peles de corças pintalgadas e a cintura cingida por uma serpente, traziam sempre junto de si o tirso - insígnia das adoradoras de Baco. Tratava-se de um cajado com uma haste ornada com hera coberta com folhas de parra e cachos de uvas, que, além de as auxiliar nas caminhadas, era possuidor de recursos mágicos. Elas, acompanhadas ainda por sátiros e faunos, embalados pelos sons dos tamborins dos coribantes, formavam uma espécie de trupe que acompanhava o deus do vinho nas suas aventuras, atuando igualmente como chamariz na conversão de outras mulheres por onde a procissão passava, atraindo-as para a vida lasciva. Evidentemente que o comportamento livre e desregrado delas causava apreensão, senão pânico, nos lugarejos e cidades onde o cortejo báquico passava. Eram mulheres possuídas, como se estivessem dopadas, em transe permanente, que, quando assaltadas por um furor qualquer, não conheciam limites ao descarregar a sua cólera. Por isso mesmo, obrigavam-se a procurar refúgio no alto das montanhas, onde podiam exercer sua estranha liturgia sem a presença de olhares de censura ou reprovação. Link para baixar a obra "As Bacantes" de Eurípides. ____________________________________ Links externos sobre Dionísio Reportagem informativa da Tv Globo PE; Amostra de dança do ventre com o tema Dionísio; Espetáculo mitologia grega - As Ninfas de Dionísio; Espetáculo "As bacantes"; Documentário "Deuses e Deusas da Mitologia Grega"; _____________________________________ Vão, meu garotos, bebam, narrem e sejam felizes!

Um sátiro

 

Beber, cair e escrevinhar “Tanto na representação dos caracteres como no entrecho das ações, importa procurar sempre a verossimilhança e a necessidade; por isso, as palavras e os atos de uma personagem de certo caráter devem justificar-se por sua verossimilhança e necessidade, tal como nos mitos os sucessos de ação para ação” (Aristóteles. Poética, 1454 a). “Na demonstração exprimimos um acontecimento com palavras tais que as ações possam parecer estar transcorrendo e as coisas pareçam estar diante dos olhos (ante oculos esse

videatur)” (Retórica a Herênio, IV, 68) _______________________________________________________________________________________________ Olá, sejam bem vindos a melhor atividade que um curso poderia dar: a sua tarefa hoje é fazer um relatório sobre uma noite em um bar. Por que isso? Veja bem, até o momento estamos estudando as terminologias das técnicas retóricas para fazer com que um argumento atinja a fides ou a fé, seja aceito por uma audiência de juízes (seus ouvidos). Isso não significa dizer que vocês terão que inventar uma bebedeira. Afinal, já discutimos que a retórica não é mentir ou falsear, mas é uma forma de fazer com que seu argumento, ou a sua narrativa, seja a mais visível o possível. O leitor ou o ouvinte tem que ver aquilo que está sendo pronunciado. Logicamente isso entraria em uma outra lição que seria a de conhecer quem são esses ouvintes e quais argumentos funcionariam com eles, mas vamos esquecer isso por hora. Hoje eu gostaria apenas que vocês pudessem através de um pequeno relato sobre a noite anterior me transportar diretamente para aquele momento que você vivenciou.  Você poderá nesse trajeto descrever principalmente as pessoas, os personagens e suas atitudes que estão sendo executadas ao seu redor. Por exemplo, um bar somente frequentado por homens com chapéu de boiadeiro produz uma imagem distinta daquela de um bar com pessoas peladas ou sentadas fumando com um jazz ao fundo. Estão me entendendo? Isso é ambientar, é descrição, é fazer com que o ouvinte esteja lá, veja com os ouvidos. Da mesma forma, as pessoas naquele lugar exercem um papel social. Afinal, temos

o brincalhão, o pegador, a gostosa do bar, o casal isolado. Cada um com uma história, uma experiência de vida e que correspondem a "tipos comuns", quase que esteriótipos, que nos ajudam a deixar o ambiente mais vivo. Enfim, as reflexões por agora são essas. Voltaremos nas aulas posteriores com a teoria retórica por trás disso tudo. Não se preocupem.  Quanto a atividade, os limites de data estão marcados logo na sequência desta descrição e as informações podem ser alimentadas pelo site mesmo, com a possibilidade de um arquivo de word. Não há limite de páginas ou linhas. Façam o que for mais confortável para vocês, mas façam!

Ponto de encontro Se algum dos membros do curso mora na mesma cidade que outro, seria legal marcar um encontro em conjunto. Assim poderão passar a noite toda descrevendo as pessoas ao seu entorno e discutindo porque um tem uma visão diferente do outro sobre os mesmo esteriótipos. Para marcar um encontro, vocês podem utilizar este espaço. Dúvidas Aproveite este espaço para perguntar ao professor qualquer coisa sobre a atividade.

A descrição de personagens - 25/01/2015

“a imitação de caracteres e da vida, seja com personagens, seja sem elas, é um grande ornamento do discurso, adequado sobretudo a cativar os ânimos e, muitas vezes, também a  influenciá-los”. (Cícero. De oratore, III, 204) “a representação fictícia de personagens, uma importantíssima luz da amplificação; a descrição; a representação de um erro; a instigação à alegria; a antecipação; então, aqueles dois que sobretudo impressionam, a comparação e o exemplo; a divisão; a interrupção; a antítese; a reticência, a recomendação; uma voz livre e mesmo bastante desenfreada, para a amplificação; a cólera; a repreensão; a promessa; a imprecação; a obsecração; um breve desvio do tema, diferente da digressão  anterior; a justificação; a cativação; o ataque; a optação e a execração. É com praticamente essas luzes que os pensamentos conferem brilho ao discurso”. (Cícero. De oratore, III, 205)

_____________________________________________________________________________________________________________________________ No mundo Greco- romano tudo era imagem, uma imitação de algo "ideal" (lembram da Mímesis?). Sim, até as palavras eram cuidadosamente escolhidas em um discurso para formarem uma imagem de perfeição ou recorriam a imagens, como as metáforas para justificar um argumento. O exemplo disso é esse prato que buscamos apresentar no topo de nossa reflexão de hoje: as uvas, o Sátiro, a relação sexual são imagens que remetem aos cultos dedicados ao deus Dionísio, pois são símbolos que evocam toda uma tradição oral, literária, religiosa e histórica de homens e mulheres que foram educados dentro desse sistema. Ou seja, tudo para os antigos era um discurso conhecido por todos, ou ao menos deveria ser exposto desta forma. Por isso que escolhemos essa figura erótica, por ela representar essa leitura de um ritual dionisíaco que além de tudo indica nomes de duas personagens - o Sátiro e a Maina -  (viram as palavras nele?), para que todos se lembrem da onde aquilo vem e o que significava em seu ambiente de exposição. Homero também era muito querido, principalmente a passagem em que o destemido Odisseu enfrenta o canto das sereias:  

O que a deusa das deusas me predisse, Para informados ou morrermos todos Ou da Parca fugirmos. Das Sereias Evitar nos ordena o flóreo prado E a voz divina; a mim concede ouví-las, Mas ao longo do mastro em rijas cordas. E se pedir me desateis, vós outros De pés e mãos ligai-me com mais força.” Odisseia, XII, 115 - 123 Todo o passado e as produções legadas pelas autoridades que viveram eram sempre empregadas na composição de qualquer tipo de discurso. E vocês estão enfrentando o curso amarrados à nau como Odisseu! Afinal, as pessoas cresciam lendo as mesmas obras, ouvindo as mesmas histórias, admirando os mesmo heróis. Na literatura, o processo de recorrer a essas imagens era o mesmo e era feito, segundo Aristóteles, através do silogismo retórico ou entimemas. Ou seja, através da criação de imagens textuais. Em suas palavras: Digo, pois, que os silogismos retóricos e dialécticos são aqueles que temos em mente quando falamos de tópicos; estes são os  lugares-comuns em questões de direito, de física, de política e de muitas disciplinas que diferem em espécie, como por exemplo, o tópico de mais e menos; pois será tão possível com este formar silogismos ou dizer entimemas sobre questões de direito, como dizê-los sobre questões de física ou de qualquer outra disciplina ainda que estas difiram em espécie. (Retórica, 1, 1358a)

Um exemplo de silogismo é o lugar comum e um lugar comum literário nada mais é do que um tópos discursivo, como o conhecido  carpe diem. Ou seja, . Situação semelhante aquela que também é exposta por Cícero: Ora, como devemos quase sempre produzir pelo discurso, sobretudo nos ânimos dos juízes, ou quem quer que sejam aqueles perante os quais discursamos, afeição, ódio, cólera, inveja, misericórdia, esperança, alegria, temor, desconforto; percebemos que granjeamos afeição se parecemos defender com justiça aquilo que é útil àqueles perante os quais discursamos, ou  trabalhar em nome de homens bons ou, é certo, daqueles que lhes são bons e úteis, pois isso granjeia  mais a afeição, aquela defesa da virtude, a estima; e é mais proveitoso se propomos a esperança de uma utilidade futura do que a rememoração de um favor passado”. (Cícero. De Oratore, II, 206) _____________________________________________________________________________________________________________________ Vejamos outros tipos de entimemas: Tópico, como faço aqui. Isso é um entimema por quê? Porque cria uma lista, uma imagem de ordem, que é um dos exercícios essenciais da memorização. Ou seja, você expões o argumento de uma forma rápida e clara e ao mesmo tempo cria uma ordem de prioridades, que serão memorizadas pela audiência.  Se expressar de uma forma concisa. A exemplo de uma metáfora, como a de que Nero é um animal. Ou como Aristóteles diz:  No discurso de prosa, porém, é necessário ter muito mais cuidado em relação a estes elementos, tanto mais que a prosa possui menos recursos do que a poesia. É sobretudo a metáfora que possui clareza, agradabilidade e exotismo, e ela não pode ser extraída de qualquer outro autor. É necessário empregar no discurso quer epítetos, quer metáforas ajustadas; e isto provém da analogia. (Retórica, 3, 1405a) Resumindo. Para Aristóteles, Os entimemas formulam-se a partir de quatro tópicos e estes quatro são: a probabilidade (eikós), o exemplo, o tekmérion, o sinal; por outro lado, há entimemas que se tiram da probabilidade que, as mais das vezes, é real ou parece sê-lo; há também os que se tiram por indução, a partir da semelhança de um ou de muitos factores, quando, tomando o geral, se chega logo por silogismos ao particular mediante o exemplo; há ainda os que se tiram do necessário e do que sempre é, por meio do tekmérion; outros obtêmse por generalização ou a partir do que é em particular, quer exista quer não, por meio de sinais. Uma vez que o provável não é o que sempre se produz, mas sim a maioria das vezes, é evidente que estes entimemas podem sempre refutar-se aduzindo uma objecção. Trata-se de uma refutação aparente, mas nem sempre verdadeira, uma vez que para o proponente não se trata de refutar que tal coisa é provável, mas de provar que não é necessária. (Retórica, 2, 1402b)  _____________________________________________________________________________________________________________________ RESUMO DA DEFINIÇÃO DE ENTIMEMA Forma de silogismo ou argumentação em que uma das premissas ou um dos argumentos fica subentendido. Na  Retórica, Aristóteles descreve esta disciplina como constituindo uma contrapartida ou um ramo da dialéctica, à qual se liga porque trata de argumentos que não pressupõem o conhecimento de qualquer ciência em particular, antes podem ser utilizados e seguidos por qualquer indivíduo. A função da retórica não é “persuadir mas discernir os meios de persuasão mais pertinentes a cada caso” (Retórica, INCM, Lisboa, 1998, p.47). Os meios de persuasão são de duas espécies: os  extra-técnicos, como o testemunho, a tortura e as provas documentais, portanto, meios vulgares que estão à nossa disposição em qualquer momento; os  técnicos, ou seja os meios que necessitam de ser inventados pelo orador. Há três espécies de meios técnicos: aqueles que se baseiam no carácter do orador (para induzir o público a formar uma opinião favorável); aqueles que consistem em provocar um sentimento  emocional  nos auditores; e aqueles que fornecem a prova pela mera força do  argumento. O terceiro meio de persuasão é privilegiado e possui duas subespécies: o  exemplo  (o equivalente retórico da indução) e o  entimema  (o equivalente retórico do silogismo). É este último que Aristóteles considera o método retórico por excelência, o "corpo da persuasão". Devido à sua concisão, o entimema facilita a expressão do pensamento e pode incluir uma demonstração ou uma refutação.  Essa mesma visão chegará ao Renascimento. Afinal, ao resgatar uma memória, eles resgataram o mesmo sistema de pensamento. Eles viviam a Retórica Antiga. Olha só essa pintura e compare ela com o vaso:

____________________________________________________________________________________________________________________ LINK EXTERNO: Baixar a Odisseia Literatura Fundamental (A Odisseia) - Obrigatório!

Me diga com quem andas e te direi quem és

“Mas nós mergulhamos em vinhos e prostitutas, não ousamos conhecer nem sequer as artes apropriadas, porém, como delatores da antiguidade, ensinamos e aprendemos apenas os vícios. Onde está a dialética? Onde está a astronomia? Onde está o caminho esmeradíssimo da sabedoria? Quem alguma vez veio ao templo e ofereceu seu voto aos deuses, para chegar a eloquência, ou alcançar a fonte da filosofia?”  (Satyricon, LXXXVIII, 6- 7) _______________________________________________________________________________________________ Essa é uma das críticas que surge em diálogo do Satyricon de Petrônio e que ganha maior amplitude e importância por estar situada em uma das passagens mais enigmáticas desta obra: a cena trimalchionis (O banquete de Trimalquião). Segue uma descrição deste banquete que extraí de um bom site (onde você encontra mais informações):

Lato sensu, Trimalquião  é o exemplo privilegiado do liberto enriquecido, que aproveita a presença dos seus comensais para, entre expressões de grosseria e de mau gosto, ufanar-se da fortuna que acumulou. Será uma caricatura de Nero. Alguém que gosta de exibir sabedoria, o que se reflete na seleção dos convidados, em que se incluem os nomes de Agamémnon e Menelau, personagens da Ilíada de Homero, forma de Petrônio reescrever os clássicos e parodiar a erudição.

O banquete de Trimalquião, o mais bem estudado trecho de todo o  Satiricon, não sem razão se destaca, a exemplo da memorável adaptação de Fellini para o festim, ao retratar a megalomania do novo-rico  Trimalquião, cujo próprio nome, "três vezes rei", confirma as pistas de uma personalidade tirânica que, contrariamente ao banquete de Platão, impede os convivas de qualquer verdadeira meditação sobre o prazer. A encenação do funeral de  Trimalquião  é outro interessante episódio no qual uma sutil referência a Sêneca apontaria uma crítica de Petrônio à disparidade entre o modo de vida suntuoso do filósofo e o conteúdo de seus escritos morais. _______________________________________________________________________________________ Um dos problemas morais era não se cultivar o amor às letras. Ou seja, estudar e debater temas clássicos durante o banquete. Creio que deve ser isso o que aconteceu com a atividade de ontem: muito álcool e pouco retórica. Então, no dia de hoje não faremos nada de novo, apenas darei, após toda essa leitura, algumas dicas para vocês melhorarem a escrita que fizeram da noite anterior. Ou seja, darei outro exemplo de entimema.

A descrição de pessoas Já ouviram falar daquela velha máxima diga com andas e direi quem és? É basicamente isso. Uma das estratégias retóricas disponíveis é voltada a descrição das pessoas que cercam a personagem que será alvo de crítica ou de elogio. E isso foi normatizado pelos retores clássicos, a exemplo deste trecho de Cícero: “a representação fictícia de personagens, uma importantíssima luz da amplificação; a descrição; a representação de um erro; a instigação à alegria; a antecipação; então, aqueles dois que sobretudo impressionam, a comparação e o exemplo; a divisão; a interrupção; a antítese; a reticência, a recomendação; uma voz livre e mesmo bastante desenfreada, para a amplificação; a cólera; a repreensão; a promessa; a imprecação; a obsecração; um breve desvio do tema, diferente da digressão  anterior; a justificação; a cativação; o ataque; a optação e a execração. É com praticamente essas luzes que os pensamentos conferem brilho ao discurso”. (Cícero. De oratore. II, 58)

Volte ao seu texto e, principalmente, volte para a noite anterior. Memória nessas horas é bom! Selecione alguém que estava no mesmo lugar que você. Preste atenção nos sinais, veja se é casado, religioso, torcedor de um time ou diz exercer alguma função. Estas coisas moldam a personagem e são descritíveis, pois dialogam com os esteriótipos e também nos ajudam a preparar a estratégia para argumentar para uma plateia de pessoas iguais a ela. Além disso, brinquem de descrever a personalidade dela através dos amigos que a acompanhavam. Ela é boa ou má? Quem quiser me entregar a descrição, poderá fazer aqui na página mesmo, nesta lição. Lembrando que ela não é obrigatória, como a última. Agora, se você ainda não fez a anterior, aproveite essas dicas para fazer algo bem legal. Por hoje é só.... Espaço aberto Espaço aberto para qualquer discussão sobre o curso. Aproveitem!

O Sublime - 26/01/2014

"Evitemos retirar de nossa ciência sua parte de poesia." March Bloch, Apologia da História ou o ofício do historiador “Assim também, imitando homens violentos ou fracos, ou com tais outros defeitos de caráter, devem os poetas sublimá-los, sem que deixem de ser o que são” (Aristóteles. Poética, 1454 b)

_____________________________________________________________________________________________________________________________ O que é o Sublime? Conceito anti-clássico associado à grandiosidade, enlevação e transcendência. Com ele dá-se, por exemplo, a transição do neoclassicismo para o romantismo, ocupando um local central na estética do século XVIII. Foi primeiro usado como um termo retórico, dizendo respeito a determinadas qualidades que uma obra literária possui que possam transmitir ao leitor o êxtase e levar os seus pensamentos a um plano mais elevado. Mais tarde, é Edmund Burke quem teoriza sobre o sublime, contrastando o seu conceito com a ênfase dada pelo Iluminismo, à claridade, precisão, simetria e ordem. O conceito de sublime encontra repercussão nos trabalhos de variados críticos e filósofos. Ao longo de quatro séculos, suscitou diversas interpretações devido à sua complexidade, e estimulou ideias, paixões e controvérsias nos seus leitores e críticos. Em quais obras podemos extrair subsídio para estudá-lo em sua forma antiga? São suas as obras que destacamos para refletir sobre o Sublime na Retórica Clássica: "A Retórica" de Aristóteles e o tratado intitulado "Do Sublime" de Pseudo- Longino (Você pode baixar as obras clicando nos nomes delas!). Ao longo desta atividade irei descrever as principais ideias sobre o Sublime que estão contidas em apenas uma das obras desses dois autores clássicos: a de Longino. isso não significa dizer que estou abandonando Aristóteles, que é a base até então, mas decidi escolher a obra que lida com a questão do Sublime diretamente, sendo um tratado muito bem feito, que segue literalmente todos os padrões de um discursos sublime. Ou seja, é um exercício retórico nota 10!. Assim, peço que leiam a exposição de Longino até o final e depois entrem na parte destinado ao nosso debates, logo abaixo desta lição. Lá, deixarei algumas passagens extraídas da obra da obra que irei ler e comentar com vocês. Será muito legal! Reservem o dia para mim, pois hoje vou falar de algo que gosto muito!!! Boa reflexão ______________________________________

Pseudo- Longino O tratado Do sublime foi apenas descoberto no século XVI. A primeira edição da obra é de 1554, sendo publicado por Francisco Robertello.  Em 1652, John Hall publica uma versão inglesa deste tratado, mas na altura não teve grande repercussão. É em 1674, com a tradução francesa de Nicolas Boileau-Despréaux, intitulada Du sublime, que o conceito entra em Inglaterra. Publica esta tradução no mesmo volume da sua Arte poétique e nela escreve um longo prefácio, onde inclui uma biografia de Longino, na época suposto autor do tratado. Esta será o ponto de partida para as posteriores traduções, por ser na altura considerada como a mais importante. Hoje sabe-se que a sua tradução é imprecisa e demasiadamente livre na interpretação.

Pseudo-Longino não pretende definir o sublime, porque este é uma qualidade inefável; o que ele pretende é identificar as suas fontes. Assim, o autor identifica   como fontes do sublime as seguinte capacidades: certa elevação do espírito para se poder formular elevadas concepções; o afecto veemente e cheio de entusiasmo, capaz de provocar paixões inspiradas; certa disposição das figuras de pensamento e de dicção, que seriam uma espécie de desvios provenientes da imaginação e criatividade; formular de forma nobre; e compor de forma magnífica, dignificante e elevada. As duas primeiras fontes dizem respeito ao génio inato; enquanto que as restantes são o resultado da arte. Define a sublimidade na literatura como a principal virtude literária. É o «eco da grandeza do espírito», o poder moral e imaginativo do escritor presente no seu trabalho. Esse poder poderia transformar qualquer obra numa obra louvável e digna, quaisquer que fossem os seus defeitos, se ela atingisse o sublime. O termo aqui empregue refere-se a algo extratextual e, dessa forma, independente dos géneros literários e da perfeição que a retórica clássica impunha. Pela primeira vez, a grandeza da literatura é atribuída às qualidades inatas do escritor   e não às da sua arte. Esta contribuição é inovadora, sendo uma teoria afectiva da literatura. O mérito da obra de arte está no poder de transportar o leitor ao êxtase e tal só acontece se a obra atingir o sublime. Dessa forma,  a identificação da personalidade do autor, qualidades da obra e seus efeitos no leitor são determinantes da sua grandeza literária. O que o autor concretiza no tratado é o afastamento e reformulação do conceito aristotélico de mimesis, tornando esse mesmo conceito mais amplo e mais criativo. A imitação é presidida por uma inspiração divina, passando a poesia a ser um dom do Poeta.  O autor foi demasiado revolucionário na sua forma de interpretar a mimesis e, por essa razão, as ideias contidas no tratado não foram compreendidas no seu tempo, não havendo citações nem sobre o assunto nem sobre a própria obra durante a época clássica e Idade Média. As emoções são o ponto principal de consideração do sublime, porque segundo Pseudo-Longino não há tom mais elevado do que o da paixão genuína. Isto veio antecipar muitos dos temas e métodos que mais tarde viriam a despertar o interesse do  movimento romântico. A originalidade deste tratado encontra-se no facto de ele ser uma nova proposta para o problema da essência da obra literária. Pseudo-Longino preocupa-se com a gênese da obra, estados de espírito, pensamentos e emoções do autor e não com a qualidade da obra em si. ______________________________________

Links externos Livro "A retórica em Aristóteles: da orientação das paixões ao aprimoramento da eupraxia" (Capítulo

 curto muito bom sobre o Sublime em Aristóteles); Verbete da Wikipédia sobre o Sublime (estética); (Considerações acerca da estética discursiva) Vídeo "O belo e Sublime, segundo Longino" (Em Espanhol); Uma forma caipira de atingir o sublime através do discurso: O causo do Lambisome. (Preste atenção na inserção que o contador do causa fez ao ouvinte).

Leitura do livro "do Sublime"

Segue uma lista de passagens que extraí do tratado em questão. Infelizmente não teremos tempo de ler Longino em sua completude, pois o tratado em si é um ótimo exemplo de organização discursiva. Porém, para não deixarmos de lado essa questão tão importante, farei um resumo das principais ideias na forma de fichamento comentado. As ideias, assim, estão expostas em forma de tabela na seguinte sequência: a referência de uma obra clássica - livro em algarismo romano e capítulo em algarismo arábico, o resumo com principais apontamentos sobre a passagem e, por último, a passagem em si. Quando a referência estiver destacada com um link, você encontrará um arquivo de áudio do Professor para baixar. Neste arquivo, farei a leitura da passagem com algumas considerações acerca daquilo que considerar de maior importância para o curso. Assim, a missão de hoje será ler essas passagens sem ter que responder nenhuma pergunta sobre elas. O motivo disso estar como atividade e em um tópico de discussão é porque gostaria que alguns alunos pudessem levantar dúvidas ou comentar algum assunto de seu interesse. Um abraço   __________________________________________________________________________________ Uma introdução a leitura. - Clique para baixar o aúdio. Baixar os arquivos de áudio de uma só vez I, 2

Capitatio benevolentia do autor.   Público que consome um

“Então, vamos lá, examinemos se pareço ter concebido alguma teoria útil a homens públicos”.

tratado. 1, 3

Capitatio benevolentia do “Escrevendo para ti, homens autor para com os ouvintes. instruído e culto, de certo modo, caríssimo amigo, estou   dispensado de assentar, num O que é Sublime? longo preâmbulo que o

   

Amplificatio da matéria tratada...  

sublime é o ponto mais alto e a excelência, por assim dizer, do discurso e que, por nenhuma outra razão senão essa, primaram e cercaram de eternidade a sua glória os maiores poetas e escritores”.

VII, 2

Importância do sublime para o “É da natureza de nossa alma discurso.

deixar-se de certo modo empolgar pelo verdadeiro sublime, ascender a uma altura soberba, encher-se de alegria e exaltação, como se ela mesma tivesse criado o que ouviu”.

X, 1

Como reunir na mesma

“De fato, um autor atrai o

composição a escolha das

ouvinte pela escolha das

ideias e a composição das

ideias; outro, pela composição

ideias escolhidas? X, 6

O poeta não se limita a

das ideias escolhidas”. “Já o poeta não limita uma vez

descrição dos acontecimentos por todas o perigo,mas pinta os que cercam os personagens. marujos muitas vezes,    Não descrever os vícios, mas mostrar o viciado. XII, 2

Definição de Amplificação para Longino.

constantemente, a cada escarcéu, a um palmo da morte”. “A amplificação, em síntese, é a aglomeração de todas as partes e tópicos ligados ao assunto , a qual, pela demorada insistência, reforça um arrazoado (os argumento de defesa da causa)”.

XIII, 3

Autores que foram inspirados “Teria sido Heródoto o único por Homero.

grande imitador de Homero? Eram-no, ainda antes, Estesícoro[1] e Arquíloco[2]; mais que todos, canalizou Platão para si milhares de regos derivados da famosa fonte homérica”.

XIV, 1

Muito Boa: continua a busca “Logo, também nós, quando da inspiração através dos

elaboramos algum trecho que

antigos através da emulação... requeira estilo elevado e pensamento grandioso, é bom formulemos no íntimo a

pergunta: como diria isso Homero, se calhasse? Como Platão, ou Demóstenes, o alçariam ao sublime? Ou Tucídides, na História? Graças à emulação é que acudirão à nossa presença esses vultos e, como que brilhando, erguerão as almas de algum modo às alturas imaginadas”. XV, 1

Fantasias são muito produtivas “inspirado e emocionado, de majestade e

parece-te estares vendo o de

grandiloquência.

que falas e o pões sob os olhos dos ouvintes”.

XXX, 1

Longino vai tratar dos ornamentos discursivos.

“Discorrer sobre como a escolha dos vocábulos próprios e magníficos maravilha e fascina os ouvintes e constitui a máxima preocupação de todo orador e de todo o escritor, porque, florindo de per si, depara aos discursos, como esculturas belíssima, a um tempo grandiosidade e beleza, verniz clássico, peso, força, vigor e ainda certo brilho, como se ainda comunicasse aos fatos uma alma dotada de voz, receio seja um supérfluo esclarecimento aquém já o sabe. Realmente, a beleza das palavras é luz própria do pensamento”.

XL, 1

O discurso deve ser disposto “a grandiosidade é a soma das como um corpo, onde cada cotas- partes do grupo”. parte contribua para o melhor funcionamento deste.

[1]  Estesícoro  (em  grego: ȈIJȘıȓȤȠȡȠȢ,  transl.  Stēsíkhoros) foi um  poeta lírico  grego, que viveu aproximadamente entre  632  e  553 a.C.  Seu nome verdadeiro era Tísias, mas ficou conhecido como Estesícoro, que significa "dirigente do coro". [2] Arquíloco (em grego, DZȡȤȓȜȠȤȠȢ - Arkhílokhos, na transliteração) de Paros, onde seu pai Telesicles, filho de Tellis, era um cidadão proeminente. Arquíloco foi um  poeta lírico  e soldado grego  que viveu na primeira metade do  século VII  a.C. (talvez entre anos

de  680  a.C. e  645  a.C.). Os antigos colocavam-no em pé de igualdade com o próprio Homero. Escreveu principalmente  iambos, sendo um dos primeiros e mais notáveis representantes do gênero.

A formação do Orador - 27/ 01/2015

“Quem ignora que é mais útil e melhor fruir da paz do que ser afligido pela guerra? No entanto, mais guerreiros bons produzem a guerra do que a paz. Quanto à eloquência é semelhante a condição”.Tácito, Diálogo dos Oradores, 37.

___________________ As metáforas militares permeiam o cenário comum entre os retores e tratadistas latinos que se debruçaram sobre temas relacionados à eloquência e as práticas de ensino e exercícios de escrita e declamação, como também os embates forenses e até mesmo os literários. Dentro dessa temática ficou estabelecido, e basta atentarmos para o livro X da Institutio Oratoria de Quintiliano, que os exercícios constantes, tais como as aplicações físicas, dotavam o orador das armas necessárias para combater no campo intelectual. Essas disputas que envolviam a aplicação e o desenvolvimento de determinados gêneros, tópos, figuras de linguagem e até mesmo na imitação de autoridades sobre a temática relacionada fomentaram o desenvolvimento retórico, oratório e até mesmo estilístico de diferentes gêneros discursivos.  Como todo gênero discursivo, a história também estava sujeita a essas práticas estilísticas e discursivas oriundas da oratória. Isto igualmente se dava pelo fato de que a educação dos jovens romanos ser embasada em preceitos muito diferentes dos das disciplinas escolares modernas. Cabe ressaltar que não estamos defendendo que existia na antiguidade romana um sistema de ensino unificado, padronizado e com parâmetros curriculares, mas, sim, era comum a toda prática de ensino na Roma republicana e imperial o conhecimento das diversas auctoritates de todos os gêneros discursivos, assim como, a prática constante de declamações e o desenvolvimento dos tópoi. Essas observações nos levam a atentar para a finalidade máxima de todo o discurso oratório: o ouvinte. O orador deve, então, tecer meios para que o seu discurso possa atingir os ânimos dos ouvintes e para que a sua versão dos fatos possa ser confiada à eternidade. Para tanto, a maior incumbência do discurso oratório é a persuasão do ouvinte através das palavras proferidas pelo orador, ou seja, como demonstra Cícero em seu De oratore: “o primeiro ofício do orador é discursar de maneira adequada para atingir a persuasão” [1] e “porque todo o poder e toda a teoria oratória devem ser expressos acalmando-se ou incitando-se o pensamento dos ouvintes” [2]. Dessa forma, todo o método do discurso estava ligado a três elementos para que se atinja a persuasão: provar ser verdadeiro o que defendemos, cativar os ouvintes e provocar em seus ânimos qualquer emoção que a causa exigir. Como a prática oratória estava intrinsecamente atrelada às emoções dos ouvintes, apresentar uma causa muito importante para a vida pública e extramente correlata com os acontecimentos que cercam ou são almejados pelos seus contemporâneos, seria uma boa maneira de fazer com que o seu discurso fosse ouvido e gravado nas mentes da plateia.  Pois, “inspirado e emocionado, parece-te estares vendo o de que falas e o pões sob os olhos dos ouvintes” [3].

Assim, concordamos com a exortação que o auctor de Retórica a Herênio faz no início de seu tratado, alertando ao orador que a introdução de todo o discurso deve ser acompanhada das informações sobre o que irá ser tratado e de estratégias oratórias que conquistem a benevolência do ouvinte e que o atente para o que será proferido pelo orador. Em suas palavras: "Visto, então, que desejamos ter um ouvinte dócil, benevolente e atento, explicaremos o que se pode fazer e de que modo. Poderemos fazer dóceis os ouvintes se expusermos brevemente a súmula da causa e se os tornarmos atentos, pois é dócil aquele que deseja ouvir atentamente. Teremos ouvintes atentos se prometermos falar da matéria importante, nova e extraordinária ou que diz repeito à República, ou aos próprios ouvintes, ou ao culto dos deuses imortais; se pedirmos que ouçam atentamente e se enumerarmos o que vamos dizer. Podemos tornar os ouvintes benevolentes de quatro maneiras: baseados em nossa pessoa, na de nossos adversários, na dos ouvintes e na própria matéria" [4].  Tornar o ouvinte dócil e benevolente! São estratégias discursivas que o orador deve aprender e exercitar como um soldado. Já vimos grande parte delas ao lermos as obras Clássicas e vocês já devem ter uma ideia de quais são. Sendo assim, o que faremos nesta atividade de hoje será compartilhar uma reflexão que fiz sobre a formação e que era esse orador antigo. Daremos continuidade após as referências bibliográficas.

[1] De Oratore, I, 138. SCATOLIN, Adriano. A invenção no Do Orador de Cícero: Um estudo à luz de Ad Familiares I, 9, 23. 2009. Tese (Doutorado em Letras Clássicas) – Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2009. [2] De Oratore, I, 17.  SCATOLIN, Adriano. A invenção no Do Orador de Cícero: Um estudo à luz de Ad Familiares I, 9, 23. 2009. Tese (Doutorado em Letras Clássicas) – Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2009. [3] Longino, Do Sublime, XV, 1. LONGINO. Do Sublime. In:____ A Poética Clássica. Trad. do grego e do latim de Jaime Bruna. 7ª edição. São Paulo: Cultrix, 1997. Pp 70 – 114. [4] Retória a Herênio, I, 7 e 8. [CÍCERO] Retórica a Herênio. Tradução de Ana Paula Celestino Faria e Adriana Seabra. São Paulo: Hedra, 2005. _____________________________________________________________________________________________________________________

Sobre a formação do orador “Qualquer um que tenha ouvido um pouco mais a arte, principalmente sobre a elocução, poderá perceber as coisas ditas artificialmente; mas ninguém, a não ser um erudito, poderá produzi-las” (Retórica a Herênio IV, 7). Neste ponto pretendemos discutir brevemente a formação do orador. Tema que é muito importante para nossa pesquisa, tendo em vista a formação dos escritores antigos e suas próprias preocupações em louvar a eloquência dos grandes homens, e vituperar os magistrados que não eram fluentes na arte da oratória, na filosofia, retórica e nos preceitos militares. Essa preocupação é bem ilustrada pela epígrafe dessa discussão, na qual podemos perceber claramente a apresentação de um tópos discursivo calcado na decadência da educação e da eloquência dos grandes homens. Esse tópos discursivo vai a encontro com outra tópica que também era calcada na decadência, só que dos costumes. Muitas explicações podem ser realizadas para tentarmos entender esse processo muito bem evidenciado pelas fontes, contudo esse debate não é nosso objetivo. Desta parte, o que nos suscita atenção é o fato de que as novas necessidades originadas por um novo sistema de governo, o principado, ter modificado os valores da antiga e da nova nobreza, que, agora, estavam fundadas no dinheiro, vinho, prostitutas e bajulações. Outro ponto interessante é a própria liberdade de expressão que é muito prejudicada durante os governos dos imperadores. Os homens eloquentes se encontravam em uma posição muito delicada, pois exercer a liberdade de expressão (literária ou nos fóruns) sem nenhuma moderação era nocivo para a própria vida dos cidadãos. Contudo, essa alteração dos valores, e a sua consequente crítica pelos eruditos nos oferecem substrato para discutirmos a respeito da formação dos grandes homens que legaram as obras que hoje estudamos e entendemos como um constructo muito diferente das obras que produzimos.       Apesar da nossa proposta em discutir o aprendizado e o ensino das artes de composição dos discursos (orais ou não), cabe destacar que não estamos afirmando que existia na antiguidade um sistema unificado e padronizado de ensino. Nosso intuito nessa sessão é de apenas apresentar como se dava a formação dos

homens eloquentes, sob a ótica dos próprios retóricos e oradores antigos como: Cícero (De Oratore e Orator) e Quintiliano (Institutio Oratoria). A escolha desses autores se deve ao fato de que eles nos auxiliam a compreender o processo de formação do orador. Dentre os assuntos discutidos nesses manuais, destacamos a própria composição de um determinado tipo de gênero de discurso, bem como a apresentação dos elementos que devem estar contidos em sua composição, seguido da introdução das auctoritates que o bom orador deve conhecer. Cabe assim dizer que a formação propagada por esses manuais abrangem uma vasta formação discursiva, como os mimos, os encômios, a poesia, a história e a sátira. Como também exercitavam a própria prática da arte da oratória, que estava calcada em exercícios de declamação, memorização e métodos que incitavam o pathós da audiência, como o riso e o ódio. Dito essas considerações, atentamos para o estudo de Antônio Martinez de Resende, aonde é apontado que a essência da oratória é o discurso proferido em público, a palavra em ação que sai da boca, sendo confirmada por sua própria etimologia[1]. Ou seja, a oratória necessita de espaços de oralidade. Desde Homero, a tradição da oralidade nos ambientes de sociabilidade, como os fóruns, banquetes, escolas de declamação e recitação de grandes oradores nos espaços públicos, se tornaram elementos essenciais na vida dos políticos e cidadãos das poleis gregas e das urbis romanas. Tendo em vista essa vasta tradição, percebemos a infinidade de assuntos a serem tratados sobre a educação antiga[2], mesmo se apenas nos atentarmos aos manuais latinos Como a proposta geral desse trabalho não é discutir em vastas páginas a formação dos oradores antigos partiremos para um exercício muito simples, que a nosso ver se torna bastante ilustrativo para o tema desse tópico. Para tanto, iremos extrair informações acerca da formação dos oradores através de um pequeno diálogo com a obra Satyricon, de autoria atribuída a C. Petrônio[3].  Todavia, devemos atentar para o fato de que esta obra não realiza reproduções fidedignas das práticas cotidianas de Roma. Mas, se constitui em um manancial inesgotável para discutirmos a formação dos jovens oradores por diversas maneiras. Primeiramente, porque a primeira parte conservada da obra é iniciada com uma discussão sobre a educação dos jovens. Esses cinco primeiros capítulos do Satyricon são dedicados a crítica aos adolescentes que “se tornam completamente estúpidos nas escolas” (Satyricon, I, 3) [4]. A causa dessa baixa eloquência dos jovens, que não chegam a ter a fama de Tucídides (Satyricon, II, 8), é atribuída aos pais que “não querem que seus filhos progridam por meio de um preceito severo” (Satyricon, IV, 1)[5]. Dessa maneira, os problemas da educação não estariam nos professores, como Agamêmnon, pois estes somente podem atrair seus alunos se a sua educação fosse bajuladora e favorável a “insanidade de seus alunos dementes” [6] (Satyricon, III, 2). Os próprios personagens da trama: Encólpio, Gitão e Ascilto são jovens estudantes de retórica e oratória que convivem grande parte da narrativa com Eumolpo[7], um poeta que toda vez que declama as suas poesias recebe pedradas na cabeça (Satyricon, XC). Outro fator importante é transição de ambientes aonde a prática da oratória era muito comum[8], e que iremos nos ater, como o banquete de Trimalquião. Nosso interesse nesse episódio se deve ao fato de que a descrição ridicularizada de oradores é muito ilustrativa para nosso debate. Como exemplo, durante a narrativa da cena Trimalchionis o banquete é interrompido para a declamação de versos da Eneida de Virgílio por um escravo alexandrino de propriedade de Habinas (Satyricon, LXV). Feito a terrível declamação[9], o proprietário do pouco erudito orador profere as seguintes palavras: "Ele nunca foi à escola (1), mas eu o eduquei mandando-o conviver com artistas de rua. É por isso que ele não tem corrente, se quer imitar seja os carroceiros, seja os artistas de rua (2). Para desespero de seus rivais, ele é muito talentoso: do mesmo modo que é sapateiro, é também cozinheiro, é padeiro (3), um escravo de toda e qualquer musa (4). No entanto ele tem dois defeitos, os quais se não tivesse era perfeito: ele fez cirurgia de fimose e ronca. Eu não me importo dele ser vesgo (5): é assim que Vênus olha". (Satyricon, LXVIII, 6 - 8) [10]  Nessa passagem podemos extrair cinco pontos fundamentais para nossa discussão sobre a formação do orador: (1) o fato do declamador nunca ter ido para escola e ser educado por artistas de rua e carroceiros, (2) não possuir um modelo douto para imitar, (3) ser sapateiro, padeiro e cozinheiro, (4) inspirado por toda e qualquer musa e, por ultimo, (5) era vesgo. Dessa maneira, começando pelos dois últimos pontos extraídos de Petrônio, podemos perceber claramente a comparação do declamador escravo de Habinas com Demódoco, o aedo da obra Odisséia de Homero. Na epopéia homérica, o poeta de Homero é representado como cego e inspirado pelas musas filhas de Mnemosýne com Zeus (Homero, Odisséia, 8, 485 – 498). Já, o declamador de Habinas é descrito como vesgo e inspirado por qualquer coisa[11].

Outros dois pontos destacados, respectivamente o primeiro e o segundo, dizem respeito a própria formação do orador, como o fato de nunca ter ido a uma escola e, por isso não possuir um modelo para emular. Essa duas etapas são essenciais para compreendermos a formação do orador, tendo em vista as “matérias” ensinadas nas escolas de declamação, como a filosofia, o direito, a história e a poesia, como também a prática da emulação dos modelos estudados. Por exemplo, Cícero, em Orator, 15 – 17 defende o estudo da filosofia como uma prática essencial para o orador. Referindo-se ao Sócrates da obra Fedro de Platão, menciona a grandiloquência do ateniense Péricles e de seu mestre Anaxágoras, como também elogia Demóstenes cujas epístolas são fáceis de identificar o quanto fora discípulo de Platão. Já, Quintiliano arrola no décimo livro da Institutio oratoria uma série de auctoritates no campo literário e discursivo das quais o orador deve se instruir para se tornar um modelo de orador. O terceiro ponto destacado do Satyricon que consiste nas ocupações exercidas pelo declamador escravo de Habinas: sapateiro, padeiro, cozinheiro e escravo. Construção que se constitui como antagônica daquelas ocupações dos homens doutos que se exercitavam nas escolas de retórica e oratória, formadas basicamente por equestres, senadores, ou seja, homens que estavam ligados aos negócios do Estado e eram atuantes na política[12]. Estes oradores possuíam uma formação educacional calcada em estudos de gramática, retórica e exercícios de oratória. Artes do saber que tinham como base a leitura e a declamação de vários autores, como Homero, Tucídides, Platão, Isócrates, Aristóteles, Demóstenes, Virgílio, Salústio e Cícero, como também a leitura de historiadores, como Heródoto, Tucídides, Políbio e Tito Lívio.

[1] oratoria é construída pelo radical os, oris (boca, enquanto instrumento que fala). Cf, REZENDE, Antônio Martinez. In: QUINTILIANO, 2010. [2] Basta atentarmos para a enorme discussão do livro MARROU, Henri-Irénée, 1990. [3] O mesmo que é descrito em Anais XVI, 17; XVI, 18; XVI, 19. [4] Et ideo ego adulescentulos existimo in scholis stultissimos fieri. Tradução de Sandra Braga Bianchet. Cf. PETRÔNIO. Satyricon, 2004. [5] Parentes obiurgatione digni sunt, qui nolunt liberos suos severa lege proficere. Tradução de Sandra Braga Bianchet. Cf. PETRÔNIO. Satyricon, 2004. [6] Nihil nimirum in his exercitationibus doctores peccant qui necesse habent cum insanientibus furere. Tradução de Sandra Braga Bianchet. Cf. PETRÔNIO. Satyricon, 2004. [7] Eumolpo também havia sido tutor de um jovem de Pérgamo. (Satyricon, LXXXV) [8] Embora não transitem pelo Fórum, os personagens acusam um camponês de ter roubado deles um manto cheio de moedas (Satyricon, XIII). Esse episódio é marcado pela crítica que se tem a oratória forense, tendo em vista que os advogados representados estavam famintos por dinheiro (“os oficiais de justiça já quase como ladrões” - Satyricon, XV) e sempre eram favoráveis àqueles que possuíam grande influência na sociedade – (“Quem nos conhece nesse lugar?” - Satyricon, XIV, 1). [9] “Nunca nenhum som mais desagradável penetrou os meus ouvidos, pois, além de sua declamação demonstrar uma rispidez que se perdia entre o elevar e o abaixar da voz, ele misturava versos atelânicos (versos ridículos), de forma tal que, pela primeira vez, até mesmo Virgílio me desagradou naquele momento” (Satyricon, LXVIII, 5) Tradução de Sandra Braga Bianchet. Cf. PETRÔNIO. Satyricon, 2004. [10] Tradução de Sandra Braga Bianchet. Cf. PETRÔNIO. Satyricon, 2004. [Grifos nossos] [11] Essa comparação é muito interessante se atentarmos as outras referências que Petrônio faz as obras de Homero, muitas vezes comparando o périplo dos jovens personagens ao de Odisseu. Essa paródia fica mais clara quando Trimalquião profere as seguintes palavras: “Então, voltemos ao bom humor do começo [...] e esperemos os homeristas” (Satyricon, LIX, 2). [12] NICOLAI, Roberto, In: MARINCOLA, John, 2007, p. 24. [13] Anais, IV, 34.

Perguntas do dia

______________________________________ Veja a bibliografia de um dos melhores oradores e político romano que conheço:

Públio Cornélio Tácito

Sobre a vida e as obras do historiador Tácito as incertezas começam pelo seu praenomen:

Gaius ou Publius? A dúvida é fomentada pela falta de consenso que encontramos nas [1] fontes que foram recopiladas pela posteridade . Como exemplo, podemos citar as que referências realizadas pelo bispo Sidônio Apolinario, no século V, que menciona duas vezes o nome do historiador latino Tácito com o prenome Gaius (Ep. IV, 14, 1 e 22, 2)[2]. Já, de maneira adversa a essa possibilidade, podemos encontrar o prenome Publius no códice Mediceus I, que data do século IX, e que é um dos principais manuscritos utilizados nas traduções modernas dos primeiros livros da obra Anais. Além dessas dúvidas anteriores, também não podemos encontrar um consenso entre os pesquisadores sobre o seu local de nascimento e o de falecimento. No entanto, predomina entre os estudiosos e biógrafos do historiador latino a opinião de que seu nascimento se deu no sudeste da Gália Narbonense e seu falecimento em Roma[3]. Somado a essas informações, podemos precisar os anos em que viveu esse hábil político romano através de referências extraídas de suas obras que nos indicam dados sobre a sua vida pessoal e seu cursus honorum. Assim, através do estudo dessas informações, os

pesquisadores modernos, como Ronald Mellor, adotam em seus estudos que o nascimento [4]

do historiador se deu entre os anos de 55 ou 56 e seu falecimento por volta de 117 . Seu nascimento se deu, portanto, nos primeiros anos do Principado neroniano e seu falecimento sob Trajano, vivenciando, portanto, o período das guerras civis de 69, marcada pelos curtos governos de Galba, Oto e Vitélio, além do nascimento de nova dinastia, conhecida como Flávia, inaugurada por Vespasiano. Além desses Principados, o historiador ainda presenciou os governos de Tito, Domiciano, Nerva e Trajano, tendo em todos os governos a partir de Domiciano uma posição de destaque dentro da hierarquia social e política. Portanto, podemos afirmar que, durante sua vida de aproximadamente sessenta e dois anos, Tácito atravessou o governo de diversos imperadores. Conforme atestado por Plínio, o Velho, em sua História Natural, 7, 76, Tácito nasceu de uma família proeminente, já que, nesta obra, podemos encontrar referências a um cavaleiro romano de nome Cornélio Tácito, um ascendente direto do historiador latino. Graças à posição privilegiada de sua família, adquiriu o status de equestre ao iniciar a sua carreira política. No entanto, além do bom nascimento, também podemos atentar para o fato de que sua ascensão política se torna mais aguda a partir do ano de 78, quando contrai núpcias com a filha do Cônsul Cnaeus Júlio Agrícola (Tácito, Agricola, 9). Após essa união, o historiador latino exerceu importantes cargos e magistraturas em praticamente todos os governos posteriores até o ano de seu falecimento, sob o Principado de Trajano. Nesta breve biografia de nosso autor se faz necessária uma referência ao seu cursus

honorum. Destacamos, então, que a sua carreira política começou durante o reinado de Vespasiano (69 – 79), atuando, provavelmente, como questor. Já, sob o governo de Tito, [5] quando possuía cerca de vinte e cinco anos de idade, exerceu o tribunato (79 – 81) . Além dessas magistraturas, entre os anos de 81 a 96, e que correspondem ao governo de Domiciano, Tácito se tornou um senador romano, demonstrando que se encontrava cada vez mais influente na capital do Império Romano. Em uma das passagens de sua obra Anais, o autor nos oferece a informação de que no ano de 88, durante a execução dos jogos seculares – Ludi Saeculares (Tac. Ann. XI, 11, 3) – , sob Principado de Domiciano, ocupou o cargo de pretor, ao mesmo tempo em que exerceu a função de sacerdote quindecenviral, ao qual pertencia “o cuidado destas festas; e os pretores eram os que mui principalmente tinham a seu cargo a execução destas cerimônias” (Tac. Ann. XI, 11, 3)[6]. Já, durante o ano de 97, Tácito, como consul suffectus (cônsul suplente), deu continuidade às funções de Virgínio Rufo, por ocasião de sua morte (Plínio, Ep. II, 1). No ano 100, sabe-se pelas cartas de Plínio, o Jovem, a seu amigo Vocônio Romano, que Tácito ganhou notoriedade nesta função, defendendo os africanos numa acusação contra o pró-cônsul [7]

Mário Prisco (Plínio, Ep. II, 1) . O último cargo conhecido de Tácito é o proconsulado da Ásia Menor de 112 a 113, que pode ser atestado pela inscrição de Mylasia, composta ainda sob o Principado de Trajano[8]. Sobre sua educação, supõe-se que tenha sido discípulo de Marco Fábio Quintiliano, o autor do tratado Institutio Oratoria (Educação Oratória), com quem aprendeu a arte da retórica, da oratória e desenvolveu sua eloquência. Em toda a sua vida, Tácito escreveu cinco obras (Vida de Agrícola, Germânia, Diálogo dos Oradores, Histórias e Anais) que foram compostas entre os anos de 98 a 115, durante o período que compreende os governos de Domiciano, Nerva e Trajano. Todos estes escritos chegaram até nós de forma incompleta. Contudo, dispomos ainda de uma parte importante de seu corpus documental e que possibilita uma boa leitura de todas as obras legadas por Tácito,

[1] BOISSIER, Gaston, 1934; JOLY, Fábio Duarte, 2003; MELLOR, Ronald, 1999; SYME, Ronald, 2002 e ZÚÑIGA, José Tapia, 2002 [2] Apud JOLY, Fábio Duarte, 2004, p. 37. [3] Fábio Duarte, 2003; WOODMAN, A. J, 2004 [4] MELLOR, Ronald, 1999. [5] LINTOTT, Andrew, 2001, p. 236. [6] Tradução de José Liberato Freire de Carvalho Cf. TÁCITO, 1952. [7] JOLY, Fábio Duarte, 2004, p. 39. [8] Idem, p. 39. ______________________________________ LINKS EXTERNOS: Quem eram os sofistas?; Resumo História da Educação; Educação Física na Antiguidade; Introdução a educação clássica; Liceu de Aristóteles; Biografia e produções de outros autores antigos; ______________________________________________________________________________ RESPONDA AS PERGUNTAS: Quem eram os oradores antigos? Homens comuns ou pessoas influentes na política? Qual a importância do estudo da literatura para ser um homem público? É possível fazer política através da literatura? E, por último, para quem eles escreviam?

Conceitos fundamentais da literatura: "fôrmas" de escrita - 28/01/15 -

Mas a retórica parece ter, por assim dizer, a faculdade de descobrir os meios de persuasão sobre qualquer questão dada. E por isso afirmamos que, como arte, as suas regras não se aplicam a nenhum gênero específico de coisas. (Retórica, 1, 1355b) “De fato, o poeta está muito próximo do orador: um pouco mais limitado pelo metro, mais livre, porém, em virtude da licença no uso das palavras, colega quase igual nos gêneros de ornamentos, certamente quase idênticos num ponto: não circunscrever ou redigir por quaisquer limites o seu direito, sem que lhes seja permitido vagar à vontade pelo uso daquela mesma faculdade e copiosidade.” (Cícero. De oratore, I, 70) _____________________________________________________________ Hoje estudaremos os gêneros textuais. Gêneros textuais nada mais são do que fôrmas pré-concebidas que dão o formato, as possibilidades e também os limites de qualquer discurso, seja ele oral ou escrito. Porém, antes de passarmos para nossa atividade, gostaria que vocês realizassem a leitura de um fichamento que fiz de um artigo que irá abordar a formatação da história científica. Sei que alguns já viram esse texto, pois foram meus alunos em outros cursos, mas, mesmo assim, peço que ao menos leiam o fichamento. Gostaria de dizer que esse texto, para mim, é um dos mais reflexivos que já li, pois todas as vezes que voltei a ele (e foram muitas) o fiz tendo uma visão diferente da minha ciência e da forma que eu expresso ela: a narrativa. Feita a leitura, vocês terão a possibilidade de baixar o artigo na íntegra. Após essa etapa, passem, por favor, para a continuação do dia de hoje com a nossa atividade.  _____________________________________________________________

FICHAMENTO DO TEXTO: GUARINELLO, Norberto Luiz. Uma Morfologia da História: as formas da História Antiga. Politeia, Vitória da Conquista, v. 3, n. 1, p. 41-62. 2003. Este artigo reúne algumas idéias preliminares sobre o modo como os historiadores produzem História e, em particular, sobre a historiografia da História Antiga. P. 41 Examinar a História Antiga como uma área particular no campo da ciência histórica, ressaltando sua contribuição específica para uma compreensão ampla das sociedades humanas. Mas pensar sobre História Antiga é também refletir sobre a artificialidade das próprias fronteiras internas que a História Científica criou dentro de si mesma e sobre suas conseqüências para uma compreensão mais global de sociedades humanas. P 42 O que é História Científica? A História científica, em todos seus campos de especialização, opera de fato com formas (ou, antes, fôrmas), mediante as quais os historiadores tentam dar sentido ao passado, criando uma sensação de realidade e de completude (ANKERSMIT, 1988) P. 42. O universo de vestígios constitui um sentido para o termo História: o de passado realmente existente hoje.  Tais vestígios, contudo, não importa sua quantidade ou qualidade, não são o próprio passado, mas algo bastante diferente. Não são representativos do que aconteceu de um modo uniforme ou regular; não são o passado como se reduzido a uma versão pequena de si mesmo. São mais escassos que os pontos de luz na escuridão: isolados, desordenados, caóticos, filtrados, irregulares. Permitem-nos falar do passado

sem jamais vê-lo. Mas até mesmo o que sobreviveu só nos permite representar o passado de um modo muito indireto, por múltiplas mediações. Estas mediações são o que precisamente denominamos “Ciência da História”, e as formas são uma parte decisiva delas. P. 43  As teorias e os modelos usados por historiadores são precisamente pressuposições da existência de uma ordem, da mesma maneira que as várias teorias e modelos de realidade da Física (relativista, quântica). Na História, contudo, os modelos diferem grandemente entre si, porque a realidade social é mais complexa por natureza. P. 44 A História Científica é, assim, um jogo interpretativo entre certos modelos e teorias e certos documentos com base em generalizações ou contextos – as formas – que são admitidos ou aceitos pelos escritores e seus leitores. E tais formas e contextos são necessários porque os documentos são sempre irregulares e, do ponto de vista de um historiador, não tem sentido em si mesmos. P. 45 Nas grandes narrativas, que tentam dar sentido a grandes períodos da História, tais formas/ contextos tendem a se tornarem entidades por si mesmas, quase naturais. Raramente se pensa nelas, mas é por meio dessas formas que os historiadores reconstituem fatos e realidades e aplicam suas teorias e modelos de História ou de sociedade. P. 46 Empregando contextos mais vastos, enriquecemos nossa compreensão do passado, damos maior significado as realidades locais ou coleções documentais, mas também corremos maiores riscos. As formas tornam-se mais abstratas e intangíveis [...] contextos menores são meios para se construírem contextos maiores. P. 48 Quanto mais vasto o contexto, tanto mais rico, mas, tanto maior sua arbitrariedade, tanto maiores os riscos de relacionar coisas não relacionáveis. Não devemos recusar as grandes formas. Nós precisamos delas. Mas devemos ter muito cuidado ao empregá-las e estar plenamente conscientes de sua existência e influência. Não podem ser consideradas como puros fatos, elementos concretos da realidade. P. 50 É impossível para o historiador entender o passado sem formas. P. 50  As formas influenciam e até mesmo determinam suas interpretações de um modo quase inconsciente, o que é evidente nas narrativas maiores, mas ocorre mesmo nos trabalhos altamente especializados e circunscritos. P. 50 Modo de produção da História antiga A idéia da existência de uma História antiga foi desenvolvida por pensadores do Renascimento (DEMANT, 2000, p. 997). Pressupunha, ao mesmo tempo, uma ruptura e uma recuperação, religiosa e culturas, entre dois mundos. P. 51 A História de Roma apresenta algumas dificuldades específicas. É a História de uma cidade ou de um Império? Se for a História de uma cidade, por que os Historiadores privilegiam Roma entre tantas cidades contemporâneas que, ao longo de sua história, foram até mesmo mais potentes e importantes? P. 53 A História da cidade de Roma só faz sentido no contexto de um mundo de outras cidades e Impérios. Sua expansão não se deu no vácuo. P. 54  Muitos livros e artigos falam se “sociedade romana”, “cultura romana”, “economia romana” etc, sem sentir qualquer necessidade em especificar se estão falando sobre Roma, a cidade, ou sobre a Itália, ou o Império como um todo. Na verdade, sob o Império, não há uma única sociedade ou economia “romanas”, mas uma imensa diversidade de idiomas, costumes, culturas e sociedades. A História de Roma tradicional, que é uma História constitucional cadenciada pela sucessão dos imperadores não dá conta dessa vasta multiplicidade e variedade culturais, das múltiplas Histórias que podemos identificar em seu interior. P. 54   Tradição Clássica. Como sabemos, essas obras não foram produzidas num mesmo tempo e lugar. Não formam o que poderíamos denominar de um mundo literário contemporâneo. São propriamente falando, uma tradição, um longo processo de acúmulo e descarte de textos ao longo dos séculos [...] Mas o fato é que não representa nenhum período ou sociedade em particular. P. 55   A Tradição clássica forma uma unidade real. Mas isso nos apresenta um último problema. Não foi o produto de uma única cultura ou de uma única sociedade, mas uma grande diversidade de culturas e sociedades ao longo de milênios. Cada um dos textos dessa tradição foi produzido em contextos completamente diferentes, em sociedades diferentes, em momentos e lugares distintos. P. 57 _______________

LINKS EXTERNOS: Caso queiram acessar o texto inteiro, você pode fazê-lo clicando aqui. Recomendamos fortemente a leitura das páginas 42 - 50.

Gênero e tópos literário

“Uma vez, então, que tomei conhecimento do gênero da causa aceita e comecei a tratar o caso, estabeleço, antes de qualquer outra coisa, o ponto a que devo referir todo o meu discurso, a fim de que seja apropriado à questão e ao julgamento; em seguida, considero com o maior cuidado possível dois pontos: um deles apresenta nossa recomendação ou a daqueles que defendemos; o outro é apropriado para influenciar os ânimos daqueles perante os quais discursamos tendo em vista o que queremos”. (Cicero. De oratore. II, 114) “Mas, por Hécules, com tudo já divulga, e quando mal pode existir alguém nos lugares reservados do auditório que, senão instruído nos elementos do saber, não tenha deles, pelo menos, algumas noções, é necessário que vá a eloquência por novos e apurados caminhos, de modo a evitar o orador o fastio dos ouvintes, e sobretudo perante os juízes”.   (Tácito. Diálogo dos Oradores, 19) ______________________________ Como indica Aristóteles, em sua "Retórica", as espécies de retórica devem ter como fim as diferentes classes ouvinte[1]. Sendo assim, iremos apresentar as diferentes espécies de discurso retórico e depois apresentar as provas de persuasão fornecidas pelo discurso historiográfico.  Dentro dessa doutrina aristotélica, nos são apresentados três tipos de gêneros retóricos que possuem classes distintas de ouvintes, fins diferentes de persuasão e tempos diferentes de atuação: o deliberativo, o epidídico e o judiciário[2]. Em linhas gerais, o deliberativo consiste nas coisas que afetam o ouvinte pessoalmente, finanças, guerra e paz, defesa nacional, importações e exportações, e legislação. (Retórica, 1, 1359b). O tempo que lhe é apropriado consiste nas deliberações para o futuro da comunidade e seu

objetivo e aconselhar ou dissuadir a respeito dos assuntos que poderão acontecer, já que seu fim é a felicidade (Retórica, 1, 1360b) e seu objetivo é o bom e o convincente (Retórica, 1, 1364a). O gênero epidídico (ou Demonstrativo) trata do encômio e do vitupério (elogio e censura), com o intuito de incitar em seus ouvintes a ação de praticar as coisas boas ou más. Apesar de se servir do passado como fonte de exemplos, é a respeito do presente e do futuro o objetivo do epidídico. Para atingir este fim, neste gênero é permitido o uso de amplificações (tais como na poesia) para que o elogiado se torne exemplo (exempla, em latim). Também é no campo do epidídico que são mais apropriados a elaboração de discursos escritos, pois a sua função é de ser lido. Quanto ao judiciário, suas matérias são a acusação e a defesa no âmbito dos processos judiciais e seu tempo de atuação é o passado, pois trata de coisas que já aconteceram. Este tipo de discurso possui como finalidade o convencimento dos juízes, para tanto, cabe ao orador de mostrar mais rigoroso nos pormenores (Retórica, 3, 1414a) para que também possa predispor o auditório a apoiar o seu argumento. O gênero historiográfico, na antiguidade, possui elementos que competem aos três subgêneros retóricos descritos anteriormente. Contudo, como já foi destacado, é comumente associado ao epidídico por estar mais associada aos discursos escritos[3] (Retórica, 3, 1414a). Sobre o orador do epidídico, Aristóteles assume que este não possui responsabilidade sobre os fatos narrados e apenas demonstrar como determinada ação se realizou. O filósofo também assume que por muitas vezes os assuntos narrados pela historiografia são do conhecimento da plateia (Retórica, 3, 1415a), sendo assim, de incumbência do orador/ historiador realizar a amplificação desses fatos e o elogio ou o vitupério das ações dos indivíduos. Realizando, portanto, os mesmo processos de construção e levantamento de provas inartísticas e artísticas. Sendo assim, uma vez que toda a matéria concernente à retórica está relacionada com a opinião pública (Retórica, 3, 1404a) cabia aos oradores realizar o exercício de composição de seus discursos dentro dos moldes do próprio sistema retórico, e o mesmo valia para aqueles que iriam avaliar o assunto proferido. Dessa maneira a retórica funcionava em três vias: na composição do discurso, na sua elocução e na recepção pelo ouvinte. _______________________________ Para tanto, deixamos esse espaço final com vídeos e textos que podem dar uma base teórica literária mais sólida para vocês, pois abordarão conceitos essenciais para a continuação do nosso curso. Após dar uma olhada nesse material, peço que respondam no fórum: Para você, qual é a diferença (forma e conteúdo) entre o gênero História e o gênero Poesia? 1. 2. 3. 4.

Gênero Literários: O que são? Servem para quê? Aula sobre gênero literário Exemplos de gêneros literários antigos: Épico ou narrativo;

1. 2. 3. 4. 5.

Tópos ou lugares comuns O que são? Servem para quê? Exemplos de Tópos em charges diárias; O Clichê; Reportagem "O Lugar comum na literatura e no cinema"

[1] “As espécies de retórica são três em número; pois outras tantas são as classes de ouvintes dos discursos. Com efeito, o discurso comporta três elementos: o orador, o assunto de que fala, e o ouvinte; e o fim do discurso refere-se a este último, isto é, ao ouvinte. Ora, é necessário que o ouvinte, ou seja, espectador ou juiz, e que um juiz se pronuncie ou sobre o passado ou sobre o futuro. O que se pronuncia sobre o futuro é, por exemplo, um membro de uma assembléia; o que se pronuncia sobre o passado é o juiz; o espectador, por seu turno, pronuncia-se sobre o talento do orador.” (Retórica, 1, 1358b) Tradução de Manuel Alexandre Junior, Paulo Farmhouse Alberto e Abel do Nascimento Pena Cf. JÚNIOR, ALBERTO e PENA, In: ARISTÓTELES, 2005. [2] Essa mesma tripartição aparece na Retórica a Herênio I, 2. [3] Aristóteles não define em sua obra Retórica em qual campo do discurso estaria situada a história. Seus sucessores a incluíram como sub-gênero do gênero epidítico. Como exemplo: Cícero, De oratore, 2, 35– 36 e Orator, 37 e 66. 

Leitura da Retórica de Aristóteles - 29/01/2015

Nesta atividade de hoje, iremos ler a Retórica de Aristóteles. Como nosso curso é curto e em um dia não há tempo hábil para ler o livro inteiro, preparei a seguinte proposta para vocês: Primeiro, pedirei para que leiam um fichamento dos comentários do tradutor, onde ele explica a obra e outros conceitos importantes para a sua compreensão, e depois leiam algumas passagens que destaquei da obra em questão. Essas mesmas passagens estarão acompanhadas de alguns links onde comentarei o seu conteúdo e farei algumas observações que achar relevante para nosso curso. Ao final, temos o nosso habitual espaço para discussão. Só que desta vez destacarei duas passagens, só que de Cícero, para que vocês comentem com base naquilo que lemos na "Retórica". Boa leitura  ____________________________________________________________________________________________________________________ Prefácio Para muitos, a retórica pouco mais é do que mera manipulação linguística, ornato estilístico e discurso que se serve de artifícios irracionais e psicológicos, mais propícios à verbalização de discursos vazios de conteúdo do que à sustentada argumentação de princípios e valores que se nutrem de um raciocínio crítico válido e eficaz. Mas a restauração da retórica ao seu velho estatuto de teoria e prática da argumentação persuasiva como antiga e nova rainha das ciências humanas tem vindo a corrigir essa noção enganosa, revalorizando-a como ciência e arte que tão logicamente opera na heurística e na hermenêutica dos dados que faz intervir no discurso, como psicológica e eficazmente se cumpre no resultante efeito de convicção e mobilização para a ação (movere). P. 9 Na retórica aristotélica nós encontramos o saber como teoria, o saber como arte e o saber como ciência; um saber teórico e um saber técnico, um saber artístico e um saber científico. No trânsito da antiga para a nova retórica, ela naturalmente transformou-se de arte da comunicação persuasiva em ciência hermenêutica da interpretação. O seu duplo valor como arte e ciência, como saber e modo de comunicar o saber, faz dela também um instrumento mediante o qual podemos inventar, reinventar e solidificar a nossa própria educação. P. 10 Introdução

Origem da retórica e formação do sistema retórico Como observa Edward Corbett (Classical Rhetoric for the Modern Man, New York, Oxford University Press, 1971, p. XI), a Retórica de Aristóteles não é o produto da mera idealização de princípios nascidos com ele e por ele convencionados para persuadir e convencer outras pessoas. É, sim, o produto da experiência consumada de hábeis oradores, a elaboração resultante da análise das suas estratégias, a codificação de preceitos nascidos da experiência com o objectivo de ajudar outros a exercitarem-se correctamente nas técnicas de persuasão. P. 16 Desde Homero que a Grécia é eloquente e se preocupa com a arte de bem falar. Tanto a Ilíada como a Odisseia estão repletas de conselhos, assembleias, discursos; pois, falar bem era tão importante para o herói, para o rei, como combater bem[1]. P. 16

Quintiliano admira sem reservas essa eloquência da Grécia heróica reconhecendo nela a própria perfeição da oratória já a desabrochar. É a oratória antes da retórica; o que naturalmente supõe uma pré-retórica, uma «retórica avant la lettre» bem anterior à sua definitiva configuração como ciência do discurso oratório. P. 17   2.   Natureza e finalidade da retórica Ao dissertar sobre a natureza da retórica, Quintiliano reflecte sobre as várias definições desta, e deixa-nos perceber as seguintes quatro como as mais representativas das convenções retóricas clássicas: Institutio oratoria, 2.15.1-38. P. 22   A definição atribuída a Córax e Tísias, Górgias e Platão: (geradora de persuasão); A definição de Aristóteles: (a retórica parece ser capaz de descobrir os meios de persuasão relativos a um dado assunto); Uma das definições atribuídas a Hermágoras: (a faculdade de falar bem no que concerne aos assuntos públicos); A definição de Quintiliano, na linha dos retóricos estóicos: scientia bene dicendi (a ciência de bem falar). Em quarto lugar, põe-se a questão de a retórica ser ou não ser eticamente neutra. Platão sustenta que ela deve ser eticamente responsável e comprometida. Aristóteles defende a sua neutralidade e faz depender do orador, não do sistema retórico, o uso responsável ou não das técnicas de persuasão. Quintiliano representa com a sua definição a posição intermédia: para ele a eloquência é uma virtude, e o orador é um uir bonus capaz de falar bem (dicendi peritus), isto é, de forma eticamente aceitável. P. 24  A Retórica de Aristóteles  Aristóteles escreveu dois tratados distintos sobre a elaboração do discurso. A sua Retórica ocupa-se da arte da comunicação, do discurso feito em público com fins persuasivos. A Poética ocupa-se da arte da evocação imaginária, do discurso feito com fins essencialmente poéticos e literários. O que define a retórica aristotélica é precisamente a oposição entre estas duas técnai autónomas, entre estes dois sistemas tão claramente demarcados, um retórico e outro poético. P. 33 A grande inovação de Aristóteles foi o lugar dado ao argumento lógico como elemento central na arte de persuasão. A sua Retórica é, sobretudo uma retórica da prova, do raciocínio, do silogismo retórico; isto é, uma teoria da argumentação persuasiva. E uma das suas maiores qualidades reside no facto de ela ser uma técnica aplicável a qualquer assunto. Pois proporciona simultaneamente um método de trabalho e um sistema crítico de análise, utilizáveis não só na construção de um discurso, mas também na interpretação de qualquer forma de discursos. P. 34

[1] Essas eram as duas virtudes neles mais apreciadas. Fénix, por exemplo, acompanhou Aquiles por ordem de seu pai, Peleu, para «o ensinar a falar bem e a realizar grandes feitos» (Ilíada, 9.443). Tucídides, História da Guerra do Peloponeso, Brasília, HUCITEC, 1986, 1.140-145: «Os Atenienses decidem ir à guerra»; 2.3546: «Oração fúnebre»; 2.60-64: «Defesa conciliadora de Péricles». _____________________________________________________________________________________________________________________

A RETÓRICA - Passagens selecionadas - as grifadas e até mesmo em negrito são MUITO IMPORTANTES! Introdução - Clique no link para ouvir Baixar todos os arquivos de áudio de uma só vez

_________________________________ Persuade-se pelo carácter quando o discurso é proferido de tal maneira que deixa a impressão de o orador ser digno de fé. Pois acreditamos mais e bem mais depressa em pessoas honestas, em todas as coisas em geral, mas, sobretudo nas de que não há conhecimento exato e que deixam margem para dúvida. É, porém, necessário que esta confiança seja resultado do discurso e não de uma opinião prévia sobre o carácter do orador; pois não se deve considerar sem importância para a persuasão a probidade do que fala, como, aliás, alguns autores desta arte propõem, mas quase se poderia dizer que o carácter é o principal meio de persuasão. (Retórica, 1, 1356a)

_________________________________ Persuade-se pela disposição dos ouvintes, quando estes são levados a sentir emoção por meio do discurso, pois os juízos que emitimos variam conforme sentimos tristeza ou alegria, amor ou ódio. É desta espécie de prova e só desta que, dizíamos, se tentam ocupar os autores actuais de artes retóricas. E a ela daremos especial atenção quando falarmos das paixões. (Retórica, 1, 1356a) _________________________________ Digo, pois, que os silogismos retóricos e dialécticos são aqueles que temos em mente quando falamos de tópicos; estes são os lugares-comuns em questões de direito, de física, de política e de muitas disciplinas que diferem em espécie, como por exemplo, o tópico de mais e menos; pois será tão possível com este formar silogismos ou dizer entimemas sobre questões de direito, como dizê-los sobre questões de física ou de qualquer outra disciplina ainda que estas difiram em espécie. (Retórica, 1, 1358a) _________________________________ As espécies de retórica são três em número; pois outras tantas são as classes de ouvintes dos discursos. Com efeito, o discurso comporta três elementos: o orador, o assunto de que fala, e o ouvinte; e o fim do discurso refere-se a este último, isto é, ao ouvinte. Ora, é necessário que o ouvinte ou seja espectador ou juiz, e que um juiz se pronuncie ou sobre o passado ou sobre o futuro. O que se pronuncia sobre o futuro é, por exemplo, um membro de uma assembleia; o que se pronuncia sobre o passado é o juiz; o espectador, por seu turno, pronuncia-se sobre o talento do orador. De sorte que é necessário que existam três géneros de discursos retóricos: o deliberativo, o judicial e o epidíctico. (Retórica, 1, 1358b) _________________________________ Numa deliberação temos tanto o conselho como a dissuasão; pois tanto os que aconselham em particular como os que falam em público fazem sempre uma destas duas coisas. Num processo judicial temos tanto a acusação como a defesa, pois é necessário que os que pleiteiam façam uma destas coisas. No género epidíctico temos tanto o elogio como a censura. Os tempos de cada um destes são: para o que delibera, o futuro, pois aconselha sobre eventos futuros, quer persuadindo, quer dissuadindo; para o que julga, o passado, pois é sempre sobre actos acontecidos que um acusa e outro defende; para o género epidíctico o tempo principal é o presente, visto que todos louvam ou censuram eventos actuais,   embora também muitas vezes argumentem evocando o passado e conjecturando sobre o futuro. (Retórica, 1, 1358b) _________________________________ Cada um destes gêneros tem um fim diferente e, como são três os géneros, três são também os fins. Para o que delibera, o fim é o conveniente ou o prejudicial; pois o que aconselha recomenda-o como o melhor, e o que desaconselha dissuade-o como o pior, e todo o resto como o justo ou o injusto, o belo ou o feio o acrescenta como complemento. Para os que falam em tribunal, o fim é o justo e o injusto, e o resto também estes o acrescentam como acessório. Para os que elogiam e censuram, o fim é o belo e o feio, acrescentando, eles também, outros raciocínios acessórios. (Retórica, 1, 1358b) _________________________________ Entre as espécies comuns a todos os discursos, a amplificação é, em geral, a mais apropriada aos epidícticos; pois estes tomam em consideração as acções por todos aceites, de sorte que apenas resta revesti-las de grandeza e de beleza. Os exemplos, por seu turno, são mais apropriados aos discursos deliberativos; pois é com base no passado que adivinhamos e julgamos o futuro. E os entimemas convêm mais aos discursos judiciais; pois o que se passou, por ser obscuro, requer sobretudo causa e demonstração. (Retórica, I,1368b) _________________________________

Eis a razão pela qual os enfermos, os pobres, os que estão em guerra, os amantes, os que têm sede e, em geral, os que desejam ardentemente alguma coisa e não a satisfazem são iracundos e facilmente irritáveis, sobretudo contra aqueles que menosprezam a sua situação. Assim, por exemplo: o doente encoleriza-se contra os que [desprezam] a sua doença, o pobre contra os que [são indiferentes] à sua pobreza, o soldado contra os que [subestimam] a sua guerra, o apaixonado contra os que [desdenham] do seu amor, e assim por diante; e além destes casos, todos os outros em que se atente contra os nossos desejos. Na verdade, cada pessoa abre caminho à sua própria

ira, vítima da paixão que a possui. De resto, acontece o mesmo quando surge algo que é contrário à nossa expectativa, uma vez que o inesperado entristece muito mais, assim como o imprevisto causa mais prazer quando vem ao encontro dos nossos desejos. (Retórica, 2, 1379a) _________________________________ O estilo apropriado torna o assunto convincente, pois, por paralogismo, o espírito do ouvinte é levado a pensar que aquele que está a falar diz a verdade. Com efeito, neste tipo de circunstâncias, os ouvintes ficam num determinado estado emocional que pensam que as coisas são assim, mesmo que não sejam como o orador diz; e o ouvinte compartilha sempre as mesmas emoções que o orador, mesmo que ele não diga nada. É por esta razão que muitos impressionam os ouvintes com altos brados. (Retórica, 3, 1408a) _________________________________ São duas as partes do discurso. É forçoso enunciar o assunto de que se trata e depois proceder à sua demonstração. Por isso, fica sem efeito expor algo sem se proceder à demonstração ou demonstrar algo sem se ter previamente exposto o assunto. Pois demonstrar uma coisa implica a existência de algo a demonstrar; e expor previamente determinado assunto tem em vista a sua demonstração. (Retórica, 3, 1414a) _________________________________

Os elementos que se relacionam com o auditório consistem em obter a sua benevolência, suscitar a sua cólera, e, por vezes, atrair a sua atenção ou o contrário. Na realidade, nem sempre é conveniente pôr o auditório atento, razão pela qual muitos oradores tentam levá-lo a rir. Todos estes recursos, se se quiser, levam a uma boa compreensão e a apresentar o orador como um homem respeitável, pois a este os auditores prestam mais atenção. São também mais atentos a temas importantes, a coisas que lhes digam respeito, às que os encham de espanto, às agradáveis. E por isso é que é necessário introduzir a ideia de que o discurso é acerca de coisas deste género. Porém, se a intenção é a de que os auditores não estejam atentos, deverá dizer-se que o assunto não é importante, que não lhes diz respeito, que é penoso. (Retórica, 3, 1415a) _________________________________ Gostaram das passagens. Então fica aqui o convite para lerem a obra de Aristóteles em outra oportunidade. Ainda não baixou ela? Baixe aqui.

[1] Argumento falacioso.

Dúvidas Espaço destinado para qualquer dúvida ou problema que o aluno ainda tenha com o conteúdo. 

Leitura da Educação Oratória de Quintiliano - 30/01/2015

"Por isso, eu, Albertano, cuidei de transmitir a ti, meu filho Stephano, condensada em frase única, uma breve doutrina a respeito do dizer e do calar-se. Esta é a frase:  Quem, o que, a quem digas; procures realmente saber por que, de que maneira, quando" (Cícero. Ars loquendi et tacendi, 1). ___________________________ REFLEXÃO DE HOJE: O SILÊNCIO E LEITURA DO LIVRO X DE QUINTILIANO Sobre a citação em destaque, no decorrer de suas explanações, Albertano deixa transparecer muito claramente que a arte de calar significa propriamente que o indivíduo precisa ter a plena consciência de si mesmo, enquanto falante, e da qualidade, no mais amplo sentido, do discurso que se possa produzir. Podemos constatar que, em última instância, o “calar-se”, tacere, da obra não se refere ao “não dizer”, mas ao “falar com propriedade”. Muito embora, no entanto, seja verdade que “um não dito” possa, no seu devido contexto, ser altamente eloquente, ou até mais eloquente do que “um dito”. Porém, o silentium (silêncio) de que trataremos nesta reflexão é ainda  diferente das duas abordagens referidas acima. Esse silêncio se descreve, principalmente, por sua natureza de trajetória de construção do discurso; o momento, às vezes longo, que antecede a sua concretização em fala pelo  orador.  Para nos situarmos no universo da retórica romana, julgamos conveniente destacar a Retórica a Herênio, obra de importância capital para a  oratória romana. Ela foi escrita nos anos 80 a.C. e, durante muitos séculos, atribuída a Cícero. No entanto, hoje restam incertezas quanto ao nome verdadeiro de seu autor.  O mais importante, porém, é que essa obra nos oferece uma descrição objetiva do que passaremos a chamar de “sistema da oratória”.  Destacaremos uma pequena passagem, mas que suscita um universo incomensurável de ideias, conceitos, fórmulas e percursos históricos, que  sempre continuarão a operar nas relações do ser humano com sua língua e com as formas de apropriação e de tratamento de sua linguagem. Cito ela: "Convém que existam no orador invenção, disposição, elocução, memória, pronunciação. Invenção é a descoberta das ideias verdadeiras ou  verossímeis que tornem comprovável uma causa. Disposição é a ordenação e distribuição dessas ideias, que regula o que deve ser assentado em quais lugares. Elocução é a adequação de palavras e sentenças à invenção. A memória é a firme fixação ao espírito das ideias, das palavras, da disposição. Pronunciação é a comedida composição, com toda elegância, da voz do semblante e dos gestos". (Retórica a Herênio, I, 3). Se analisarmos a estruturação formal da oratória, tal como vista acima, ou como, por exemplo, a descreve Quintiliano em sua Institutio Oratoria, podemos organizar suas partes em dois momentos a que denominaremos o “momento do silêncio” e o “momento da ruptura do silêncio”. Considerando que o silentium significava propriamente a “tranquilidade”, a “quietude”, a “ausência de movimento”, parece-nos pertinente que a significância do silentium seja compatibilizada com a invenção, a disposição, a elocução e a memória. Nota-se que todo esse universo se organiza fundamentalmente na língua e a ela se circunscreve. Esta situação nos recomenda a estar atentos para o fato de que a língua, incluída toda a produção linguística, enquanto objeto de estudo, é ela mesma, a um só tempo, a principal ferramenta de estudo: a situação seria idêntica, por exemplo, à de um analisado que é, ele próprio, o analista de si mesmo. Podemos, então, avaliar o quanto essa área  de investigação é complexa, um terreno fértil para as mais conflitantes especulações, para ideias sobre as quais, muito provavelmente, nunca se vislumbrarão consensos.

_______________________________________________________________________________________________________________________ LEITURA DO LIVRO X DE QUINTILIANO. Quintiliano dedica a segunda parte do livro X de suas  Institutio Oratoria à imitação. O que se segue na leitura dessa parte da obra é uma lista das habilidades que serviriam como um “modelo estabelecido” (Inst. Orat. X, 2, 2) ao orador ideal de Quintiliano. Em suas palavras: "Destes e dos mais autores que são dignos de ler, há uma imensa quantidade de palavras que se deve absorver, uma variedade de figuras e modelos de composição, enfim, um espírito que deve ser encaminhado como exemplo de todas as virtudes. E não há de duvidar de que uma grande parte da arte esteja circunscrita à imitação. Com efeito, como o inventor acontece primeiro e é o mais importante, assim, é proveitoso secundar aquelas coisas que foram bem imitadas". (Inst. Orat. X, 2, 1). Nesta passagem, podemos afirmar que Quintiliano se referia as qualidades das autoridades expostas no início do livro X. O  rector  afirma que crê “serem muitos os que haverão de exigir, já que julgamos haver tanto utilidade na leitura, que ajuntemos ao nosso tratado isto: quais sejam os autores que devem ser lidos e qual, em cada um, a virtude principal” (Inst. Orat.  X, 2, 1). Esse exemplo extraído de Quintiliano serve para ilustrar uma prática comum entre os escritores antigos, que consistia no estudo e na emulação das  auctoritates (autoridades). Essas etapas estavam compreendidas dentro do "momento do silêncio". Para tanto, selecionamos algumas passagens que vão trazer algumas etapas para que o orador, em silêncio, consiga treinar, estudar e se aperfeiçoar quanto às principais técnicas de seu ofício. Após a leitura de Quintiliano, peço que entrem em nosso fórum e compare esta atividade com a leitura de outro tratado que lida com a mesma temática.

_____________________ Lembrando que aquelas selecionadas com um link terão a possibilidade de baixar um arquivo de áudio com a leitura e o comentário do professor. Introdução - Clique para baixar o arquivo de áudio Baixar todos os arquivos de áudio de uma só vez LIVRO X 1, 28

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Oratória e Poética. Quintilano demonstra quais dão os limites e possibilidades na relação entre esses dois gêneros.

“Estejamos sempre lembrados, porém, de que não em tudo os poetas devem ser seguidos pelos oradores: nem na liberdade em relação às palavras, nem na licença das figuras. Aquela, a poesia, é um gênero feito e destinado para a apresentação performática, além do fato de que apenas busca a deleitação. Ao deleite ela persegue pelo inventar, não apenas de fantasias, mas até mesmo do inacreditável e, nessa forma de existir, ela conta ser ajudada por um assentimento favorável”.

Aproximação da história com a “A história, por sua vez pode poesia. também alimentar o orador, como se fosse por uma qualidade de seiva ricamente nutritiva e saborosa. No entanto ela também precisa ser lida de tal modo que saibamos que muitas de suas especificidades devem ser evitadas pelo orador. É seguramente próxima aos poetas

e, em certa medida, um poema em prosa; é escrita para narrar, não para provar; é um tipo de obra que, na sua totalidade, se compõe de imediato, mas para a memória da posteridade e para a fama de uma genialidade. Sendo assim, tanto pelas palavras pouco usuais quanto por figuras mais livres, a história evita o tédio ao narrar”. 1, 65

1, 73

Influência da Comédia antiga para “A comédia antiga, quase como o exercício de encomiar ou única, retém aquela graça pura da vituperar. Principalmente no que conversação ática, quando então concerne a exposição dos vícios. ela gozava a liberdade de falar abertissimamente; mais ainda, se ela tem como poder principal perseguir os vícios, mesmo assim ela guarda muitíssimo de forças de outros aspectos igualmente. Ela é grandiosa, elegante e sedutora: não sei se qualquer outra forma de literatura, depois de Homero – este, assim como Aquiles, deve ser tomado à parte – é igual ou muito semelhante aos oradores ou mais adequada para se formarem oradores”. Referência a Heródoto e Tucídides.

“A história, muitos a escreveram de forma admirável, mas sem dúvida ninguém duvida que, de longe, há dois há de ser colocados à frente de seus demais. Suas qualidades, ainda que diferentes entre si, alcançam glória quase idêntica. Denso, preciso e exigente de si mesmo, assim é Tucídides; doce, lúdico e profuso, assim é Heródoto. Aquele é melhor quanto aos sentimentos arrebatadores, este quanto aos sentimentos tranquilizadores; aquele nos embates acalorados, este, em conversações pacíficas; aquele, o primeiro, é melhor no vigor da força, o outro no encantamento”. 

_______________________________________________________________________________________________________________________ Links Externos: Outro tipo de silentium: o silentium como argumento; Tradução e estudo do Livro X da Educação Oratória; _______________________________________________________________________________________________________________________

Comparando as fontes: A base Aristotélica chega em Roma

O De oratore  é uma das maiores contribuições do autor para a a composição da retórica romana nos últimos anos da República. Nesta obra, Cicero apresenta a retórica de forma idealizada, apresentando o orador como senhor da arte. É uma obra com a natureza, a assinatura e a eloquência de Cícero, porém, para os conhecidos é uma ótima emulação do tratado A retórica de Aristóteles. Ou seja, o que Cícero fez foi traduzir a obra de Aristóteles para o Latim, aperfeiçoando a suia exposição e direcionando suas reflexões para as necessidades da oratória romana. Um exercício semelhante ao do Quintiliano. Na parte de links externos, lá no final, deixo um link para baixar a obra traduzida para o Português com um ótimo estudo feito pelo Professor da USP,  Adriano Scatollin. Quem se interessar em saber mais, será bem atendido pelo trabalho dele. Enfim, passando para a atividade em si, vou colocar alguns trechos da obra de Cícero e pedirei ao final que vocês entrem no chat e discorram um pouco sobre o que é de fato esse sistema retórico que estamos tentando estudar. Um abraço _____________________________________________________________________________________ Introdução - clique para baixar o arquivo de áudio Baixar todos os arquivos de áudio de uma só vez.

De oratore I, 20

O que um orador deve

“Segundo penso, nenhum

conhecer para que floresça orador deve ser cumulado de como grande.

toda a glória se não atingir o conhecimento de todos os grandes temas e artes. E, de fato, é preciso que o discurso floresça e se torne exuberante devido ao conhecimento dos temas. A não ser que, sob a superfície, esteja o conhecimento e o entendimento por parte do orador, ele terá uma elocução vazia e quase pueril”.

I, 58

Discurso de Crasso sobre o “mas o orador completo e orador ideal.

perfeito é aquele que é capaz de falar sobre todos os assuntos de maneira variada e abundante”.

I, 138

Sobre ofício do orador

“O primeiro ofício do orador é discursar de maneira adequada para atingir a persuasão”.

I, 158

Conhecer as

“É preciso ler também os

outras auctoritates. (discurso de poetas, conhecer a história, Crasso)

ler e folhear com assiduidade os mestres e escritores de todas as artes liberais, bem como citá-los como exercício, interpretá-los, corrigi-los, criticá-los, refutá-los; acerca de qualquer tema, deve-se discutir os dois lados da questão, bem como evocar e mencionar, em cada tema, qualquer elemento que possa parecer provável”.

II, 114

Plano do discurso.

“Uma vez, então, que tomei conhecimento do gênero da causa aceita e comecei a tratar o caso, estabeleço, antes de qualquer outra coisa, o ponto a que devo referir todo o meu discurso, a fim de que seja apropriado à questão e ao julgamento; em seguida, considero com o maior cuidado possível dois pontos: um deles

apresenta nossa recomendação ou a daqueles que defendemos; o outro é apropriado para influenciar os ânimos daqueles perante os quais discursamos tendo em vista o que queremos”. II, 337

O bom orador político deve “Já para se dar um conselho a conhecer sobre política para respeito de política, o ponto discursar com verossimilhança. principal é conhecer a política;     

para discursar com verossimilhança, conhecer os costumes da cidade; uma vez que eles mudam com  frequência, muitas vezes também é preciso mudar o gênero de discurso. E embora a força da  eloquência seja quase uma só, no entanto, pelo fato de ser muito elevada a dignidade do povo, importantíssima a causa da república, máximos os movimentos da multidão, parece que é preciso  empregar também um gênero de discurso mais elevado e mais ilustre; e a maior parte do discurso deve ser empregada tendo em vista as paixões dos ânimos, por vezes, por meio de uma exortação ou  de uma rememoração, para incitá-los à esperança, ao medo, ao desejo ou à glória, muitas outras, ainda, para afastá-los do desatino, da cólera, da esperança, da injúria, da inveja, da crueldade”.

_____________________________________________________________________________ Links externos: Baixar a Tradução do De Oratore

Diferindo o historiador do poeta - 31/01/2015

“Pelas precedentes considerações se manifesta que não é ofício de poeta narrar o que aconteceu; é, sim, o de representar o que poderia acontecer, quer dizer: o que é possível segundo a verossimilhança e a necessidade. Com efeito não diferem o historiador e o poeta por escreverem verso ou prosa (pois que bem poderia ser postos em versos as obras de Heródoto, e nem por isso deixariam de ser história, se fossem em verso o que eram em prosa) – diferem, sim, em que diz um as coisas que sucederam, e outro as que poderiam suceder. Por isso a poesia é algo de mais filosófico e mais sério do que a história, pois refere aquela principalmente o universal, e esta o particular. Por ‘referir-se ao universal’ entendo eu atribuir a um indivíduo de determinada natureza pensamentos e ações que, por liame de necessidade e verossimilhança, convém a tal natureza; e ao universal, assim entendido, visa a poesia, ainda que dê nomes às suas personagens". (Aristóteles. Poética, 1451 a) Assim, parecem ignorar, esses tais que da poesia e dos poemas umas são as intenções e que eles têm regras próprias, enquanto as das histórias são outras. Na poesia, com efeito, há liberdade pura e uma única regra, o que parece ao poeta. Pois ele é inspirado e possuído pelas musas [...] A história, todavia, se adota alguma adulação desse tipo que outra coisas se torna senão uma espécie de poesia em prosa, privada da grandiloquência daquela, mas exibindo o que lhe resta de assombroso, desnuda da métrica e, por isso mais assinalado? Portanto, um grande (ou melhor, um enorme) é se alguém não sabe separar o que é da história daquilo que pertence à poesia, mas introduz na história os adornos da outra – o mito, o encômio e os exageros que neles há – como se vestisse um desses atletas fortes e completamente resistentes como uma túnica púrpura e outros enfeites de cortesãs e lhe esfregasse no rosto ruge e pó de arroz. Por Heracles! Como você o tornaria ridículo, envergonhando-o com essa aparência. (Hist. Conscr. 8).

____________________________________________________________________________________________________________________ O gênero Historia Descrever qual são as características do gênero discursivo Historie/ Historia para os antigos é uma tarefa árdua. Talvez isso se deva ao fato de que a história na Antiguidade nunca ter se tornado uma disciplina autônoma, e, portanto, nunca ter encontrado nenhum teórico que decodificasse suas regras. Contudo, nesse emaranhado de leituras, podemos encontrar em algumas obras que chegaram até nós e que nos oferecem um rico substrato para entendermos como era praticado o exercício desse gênero pelos escritores antigos. Nossa proposta é, portanto, apresentar as noções desenvolvidas em torno da prática historiográfica e trazer a luz as principais características desse gênero.  Porém, antes de iniciarmos, voltemos a primeira passagem que encabeça esse dia. Segundo Aristóteles, o poeta narra o que poderia acontecer, por isso a poesia é superior e mais filosófica, e a história narra o que aconteceu. Dessa maneira, rebaixando a história em relação à poesia que Aristóteles deixa de lado a distinção de que somente a disposição da escrita (ou em verso ou em prosa) delimitaria o gênero de um determinado discurso, e sim a natureza da matéria tratada (universal ou particular). Contudo, como atenta o filósofo grego em uma passagem posterior, também é da capacidade do poeta relatar acontecimentos reais, desde que dentro da verossimilhança: “E ainda que lhe aconteça fazer uso de sucessos reais, nem por isso deixa de ser poeta, pois nada impede que algumas das coisas que realmente acontecem sejam, por natureza, verossímeis e possíveis e, por isso mesmo, venha o poeta a ser o autor delas.” (Aristóteles, Poética, 1451b).  Essa definição do ofício do poeta referente ao ato “de representar o que poderia acontecer, quer dizer: o que é possível segundo a verossimilhança e a necessidade” (Aristóteles, Poética, 1451a), quando somada à percepção pós-moderna de que o historiador também relatava acontecimentos prováveis dentro do campo da verossimilhança, favorecia cada vez mais a criação de certo entendimento a respeito da aproximação

entre a história com as práticas poéticas antigas. Como o problema desta apropriação era, segundo Aristóteles, somente o exagero nos limites da própria fábula pelos poetas que rompiam, assim, o nexo da ação (Aristóteles, Poética, 1451 b), o historiador, por sua vez, passava cada vez mais a ser entendido como um poeta.  Contudo, cabe destacar que a identificação da história com a poesia ainda concernia na ficcionalidade dos fatos tratados, sendo vinculadas a tradições literárias que respondiam a criação de ficções somente para o deleite da plateia, mesmo que conservando o seus caracteres pedagógicos e a criação de exemplos. Dessa maneira, apesar dos pós-modernistas fazerem um paralelo entre a história com a poesia, isso não é generalizado em seus estudos, pois existiam práticas poéticas bem diferentes do que os pós-modernos entendiam como romance histórico. Sendo, portanto, mais fácil identificarmos a história dentro do campo do poético e, portanto, do fictício, ao contrário da “verdade” pretendida pelos historiadores antigos. Com efeito, fica permitido ao historiador se apropriar de uma ornamentação poética, melhor entendida como literária, compactuando os eventos escolhidos com a amplificatio e o ornatus de outros gêneros literários disponíveis. Dessa maneira, outros autores também contribuíram como fomento para as ideias que aproximavam a prática literária histórica da poética, que cada vez mais era identificada como os romances históricos do século XIX. Como exemplo, Cícero, nas palavras de Antônio em Ad familiares, V, 12, 4:  "Do começo da conjuração até o meu retorno do exílio parece-me que um razoável volume pode ser elaborado, no qual poderias utilizar teus conhecimentos das mudanças civis, ou explicar as causas das coisas mais recentes, ou sugerir remédio para as suas calamidades, enquanto repreendes o que consideras censurável e justificar o que aprovas, anotando as tuas razões em cada caso. E se julgares que podes tratar este assunto com excepcional liberdade de discurso, como é teu costume, anotarás a perfídia, as traições, a conspiração de muitos contra nós. Além disso, o que me aconteceu te suprirá, ao escrever, de uma grande variedade de material que, sendo tu o escritor, poderá tomar, na sua leitura, o ânimo do público. Pois não há nada mais apto a agradar o leitor que as mudanças das circunstâncias e as vicissitudes da fortuna (Cícero, Ad familiares, V, 12, 4). Assim, era necessário ao historiador, como orador, criar um efeito de verdade através da verossimilhança. Os eventos narrados ganhavam mais vida se fossem utilizadas descrições e ornamentos poéticos, sem, contudo, transitar fora do verossímil. Como nos apresenta Plínio, o jovem, e Cícero, a sequência de eventos que deve será tratada pelo historiador só ganhara amplitude e atingirá a fides da plateia se forem ornadas pela boca do orador. A história, então, ganha forma na junção das práticas retóricas (persuasão) com a competência e argumentação do orador.  Essas práticas eram muito estranhas para a historiografia que pensava com os moldes da história científica, comprometida com a verdade e a crítica documental, que se diferencia, por exemplo, da ficção histórica. Mas isso não significava que as histórias produzidas sob esses moldes fossem puramente ficções e não tivesse utilidade nenhum como fonte histórica. O historiador antigo também se apropriava das fontes antigas e da exposição dos acontecimentos. Só que o efeito da verdade que era perseguida pelo historiador era produzido de outra maneira, ou seja, era construído através das provas inartísticas. Mas como explicar que o grande objetivo dos historiadores era a alétheia/ veritas/ verdade se, como acabamos de ver, não existia nenhuma oposição ao historiador em manipular os fatos para persuadir o ouvinte? A “verdade” defendida pelos historiadores antigos era a condição sine qua non para se escrever uma obra histórica ou era produzida? Se era produzida, através de que forma era feito esse processo?  Portanto, voltamos a pergunta inicial de nossa reflexão de hoje: “Que segurança havia na alétheia que a escrita da história se empenhava em registrar?”.  Dessa maneira concordamos com a proposta de Luiz Costa Lima, de que a verdade era a prerrogativa inicial que o historiador tinha para produzir sua obra histórica.  Vejamos, pois, como esse tema da verdade aparece em algumas obras do gênero história selecionadas por mim. Para tanto, irei expor algumas passagens extraídas de proêmios destas obras, ou seja, da introdução ao tema a ser descrito, a metodologia trilhada pelo historiador e um exórdio quanto a diferença de sua obra para as demais. Peço que leiam com atenção cada um desses proêmios e os compare em relação ao proêmio da Odisseia, de Homero (Poesia): Canta, ó Musa, o varão que astucioso, Rasa Ílion santa, errou de clima em clima, Viu de muitas nações costumes vários. Mil transes padeceu no equóreo ponto, Por segurar a vida e aos seus a volta;

Baldo afã! pereceram, tendo insanos Ao claro Hiperiônio os bois comido, Que não quis para a pátria alumiá-los. Tudo, ó prole Dial, me aponta e lembra. (Homero. Odisseia. I, 1- 9) _______________________________________________________________________________________________________________________ Proêmios Esta a exposição e investigação de Heródoto de Túrio, para que nem os acontecimentos provocados pelos homens, com o tempo sejam apagados, nem as obras grandes e admiráveis, trazidas à luz tanto para gregos quanto para bárbaros, se tornem sem fama – e, no mais, investigação também da causa pela qual fizeram guerra uns contra os outros. (Heródoto, Histórias, I, 1) Quanto aos feitos realizados na guerra, decidi escrever não recolhendo informações junto de qualquer um, nem como me pareciam ser, mas os que eu próprio presenciei, tendo ainda checado cada um deles, com a maior exatidão possível, junto de outros. Com muito trabalho eles se descobriram, porque os presentes a cada um dos feitos não diziam as mesmas coisas sobre os mesmos, mas de acordo com a simpatia e a lembrança que tinham. Para o auditório, também a ausência do fabuloso nos fatos relatados parecerá desagradável; mas, se todos os que quiserem examinar com clareza o que aconteceu (e o que porventura, conforme o humano, será de novo igual ou semelhante ao acontecido) os julgarem úteis, será suficiente. Trata-se de aquisição para sempre, mais que de uma peça para um concurso, a ser ouvida de momento (Tucídides, Hist. da guerra do Peloponeso I, 22, 2 - 4). Mas, a partir dos referidos indícios, não erraria quem considerasse que essas coisas aconteceram como expus, não acreditando em como os poetas as cantaram, adornando-as para torná-las maiores, nem como os logógrafos as compuseram, para serem mais atraentes para o auditório, em vez de mais verdadeiras, já que é impossível comprová-las e a maior parte deles, sob a ação do tempo, acabou forçosamente por tornar-se fábula que não merecem fé (Tucídides, Hist. da Gerra do Peloponeso, I, 21, 1). Se os historiadores anteriores a mim tivessem sido omissos no elogio da História, talvez me fosse necessário recomendar a todos os leitores a preferência para seu estudo e uma acolhida favorável aos tratados como este, pois nenhum outro corretivo é mais eficaz para os homens que o conhecimento do passado. Entretanto, não somente alguns, mas todos os historiadores, e não de maneira dúbia, mas fazendo dessa ideia o princípio e o fim do seu labor, procuram convencer-nos de que a educação e o exercício mais sadios para uma vida política ativa estão no estudo da História, e que o mais seguro e na realidade o único método de aprender a suportar altivamente as vicissitudes da sorte é recordar as calamidades alheias. Evidentemente, portanto, ninguém – e eu menos que qualquer outro – julgar-se-ia atualmente obrigado a repetir conceitos já expressos tão bem e com tanta frequencia. Com efeito, a própria singularidade dos eventos escolhidos por mim para meu tema será suficiente para desafiar e incitar a totalidade dos leitores [ouvintes] sejam eles jovens ou idosos, a conhecer a minha história pragmática. (Políbio, História, I, 1 – 4). Portanto, assim seja para mim o historiador: sem medo, incorruptível, livre, amigo da franqueza e da verdade; como diz o poeta cômico, alguém que chame os figos de figos e a gamela de gamela; alguém que não admita nem omita nada por ódio ou por amizade; que a ninguém poupe, nem a respeite, nem humilhe; que seja juiz equânime, benevolente com todos a ponto de não dar a um mais do que o devido; estrangeiro nos livros e apátrida, autônomo, sem rei não se preocupando com que achará este ou aquele, mas dizendo o que se passou. (Hist. Conscr. 41) Mas os antigos feitos do povo romano foram já narrados por ilustres escritores, assim como para o governo de Augusto não faltaram, até que a adulação crescente fosse corrompendo os mais formosos talentos. De Tibério, Caio, Cláudio e Nero, enquanto vivos o medo não deixou falar com verdade; depois de mortos, o ódio recente falseou as narrativas. Eis porque empreendi narrar, de Augusto pouco e seu fim, e depois o principado de Tibério e os seguintes, sem ira nem afeição, pois destas causas mantenho distância. (Tácito, Anais, I, 1, 2)

_____________________________________________________________________________________________________________________________ Links externos: Papo literário com Jacynto Lins Brandão;

Escrita Criativa: "A Poética" de Aristóteles;

Poesia e História: uma afinidade muito discutida

“Ora, toda a elegância da fala, embora seja aperfeiçoada com o conhecimento das letras, aumenta com a leitura de oradores e poetas” (Cícero, De oratore, III, 39). “Já se exige agora do orador certo ornato poético, não manchado pelas velharias de Ácio ou de Pacúvio, mas retirado do santuário de Horácio, de Virgílio e de Lucano. Foi obedecendo a tais ouvidos e a tais juízes que se tornou a época dos nossos oradores mais bela e elegante. Nem são menos eficazes os nossos discursos pelo fato de chegarem ao ouvido de juízes com seu apaziguamento” (Tácito. Diálogo dos Oradores, XX). ______________________________________________________________________________________________ Neste ponto pretendemos discutir com mais tenacidade o nosso posicionamento historiográfico e interpretativo para a análise das contribuições positivistas e pósmodernistas para a análise da historiografia Clássica. Cabe ressaltar que não queremos desvincular esta etapa de nosso estudo de toda a discussão anteriormente apresentada da história como a escrita das res factae, feita com compromisso com a verdade, possuindo um [1]

forte caráter pedagógico e útil (utilitas) para a prática política . Ou seja, continuaremos a adotar a perspectiva de que a narração dos fatos passados estava bem demarcada nas obras historiográficas, contudo, notamos que a narração dos eventos não era desvinculada dos ornamentos e de figuras próprias da poesia, da tragédia e da comédia (como o relato fantasioso construído por Tácito). Dessa maneira, pretendemos estudar como o orador se apropria de características de outros gêneros retóricos para compor o seu discurso histórico. A discussão anterior sobre a diferença entre história (alethés/ veritas) e poesia (pseûdos/

fictio) não afastava o historiador da utilização da poesia, em especial a épica homérica, como fonte histórica, como também não desvinculava a prática historiográfica da apropriação de figuras próprias da poesia. Mas isso não se dava somente porque a história

era rotulada como mera literatura. A historiografia na antiguidade era um gênero literário bem diferente da prática da poesia. Contudo, isso não significa que na fronteira que separa esses dois gêneros não exista intersecções que nos permitem compreender a historiografia taciteana. Dessa forma, Woodman (2010: 1 – 14) identifica traços da poesia épica contidos na obra de Heródoto. Como exemplo, o prefácio da primeira obra história seria muito próximo da amplificatio Homérica de atrair o leitor/ ouvinte e apresentar a grandeza do [2]

tema a ser trabalhado . Como aponta D.A.Russell, a hipótese de que Homero teria sido emulado por Heródoto é mais bem apresentada se analisarmos atentamente os métodos narrativos e de digressão das batalhas épicas contidas nas obras dos dois autores, principalmente no que concerne a frequente utilização de discursos diretos, no dialeto e no ritmo da exposição (Apud WOODMAN, 2010: 3).   Essas idéias de D. A Russell suscitam observações importantes a respeito da prática historiográfica na antiguidade. O primeiro é a afinidade entre a história [3]

e a poesia no que concerne a exposição dos eventos e a utilização da poesia épica como fonte histórica, tal como foi utilizada por Heródoto e também por Tucídides. Também é evidente nas obras de Heródoto e de Tucídides a presença do fabuloso, da parcialidade do historiador e a manipulação dos testemunhos coletados. Como exemplo, temos a narrativa que se inicia no livro sete (5 – 18) que compreende a descrição dos sonhos Xérxes. Podemos perceber também que os diversos discursos transcritos em sua obra são claramente manipulados pelo historiador

[4]

(prática que é muito utilizada por

Tácito). Esses métodos realizados no exercício historiográfico durante a antiguidade fomentaram os debates da vertente pós-moderna. Dentro dessa concepção, como foi defendido por Woodman, se criou a necessidade de problematizar as narrativas historiográficas vinculado-as a grandes tradições literárias e entendendo-as apenas como discurso (BATSTONE, 2009: 24 -41). As obras históricas dentro desse processo foram submetidas a críticas sobre a sua veracidade e entendidas basicamente como ficções dramáticas. Com efeito, essa nova concepção que foi sendo desenvolvida a partir da década de 70 com o “liguistic turn” e a crise das metanarrativas hegeliana e marxista, aproximou a prática historiográfica da prática poética, ou seja, assim como a poesia épica, a história arrolaria acontecimentos passados, só que estes seriam transformados pelo historiador em ficção. A história nessa perspectiva de interpretação seria então o acúmulo de fatos passados, muitas vezes inventados, unidos por uma cadeia literária que atribuiria um sentido poético, cômico ou dramático (como no caso de Tácito). Este mecanismo estaria muito bem calcado na formação retórica dos historiadores gregos e latinos. Ou seja, além dos aspectos do deleite, a história tinha uma forte acepção do mouere, apelando para os sentimentos da platéia através de um movimento persuasivo elaborado, plausível, mas inventando os fatos (LENDON, 2009: 43). Dessa maneira, principalmente a historiografia do principado, como Salústio e Tácito, foram identificados como escritores de tragédias históricas. Sobre essa aproximação, para Richard Rutherford assume que a tragédia e a história são dois gêneros que podem ser relacionados

[5]

. Contudo, o autor defende a ideia de que a

interrelação entre os gêneros retóricos é algo difícil de ser estudado

[6]

. Ou seja, para o

autor, as apropriações de um gênero sobre o outro consistem apenas na emulação de elementos que compõem partes do discurso: o tratamento poético da genealogia, as origens cívicas, viagens e a geografia foram transportadas para a narrativa em prosa. Quanto a forma expositiva textual desses gêneros, Rutherford defende a ideia de que a poesia trágica “mostra” e história “conta”. Dessa maneira, nos apresenta que a história deve ser conduzida pela narrativa do historiador que influencia o seu ouvinte através de [7]

sentenças que qualificam ou contradizem a informação anteriormente escrita.

Portanto, cabe ressaltar as escolhas que implicavam fazer uma obra do gênero historiográfico. O orador deveria se servir do passado, através da investigação e exposição dos acontecimentos que muitos dos seus ouvintes haviam presenciado

[8]

. Assim, como

juízes, seus ouvintes iriam julgar as habilidades do orador dentro do tema e do gênero que ele se propôs a escrever, sem se desvincularem do que realmente aconteceu. A história, portanto tinha características próprias que deveria ser seguidas por quem escrevia [9]

história . Contudo, isso não significava que o historiador não se apropriasse de elementos de outros gêneros do discurso para atingir o deleite, para ensinar e para mover a audiência. Quintilano, por sua vez,  propõe que nenhuma descrição é pura e está sempre complementando e reforçando o sistema argumentativo de que profere um determinado discurso. Ou seja, em sua percepção, a descrição possui um lugar importante no discurso do orador (ekphrasis ou evidentia ou enargeia), pois a sua função principal é a de: “pintar os objetos com tal viveza que parece estar-se vendo. Pois um discurso, que não passa do ouvido, e que narra simplesmente as cousas, de que o Juiz toma conhecimento, não faz  tanta impressão, nem se apodera plenamente dos corações, como o que pinta os objetos e os põe presentes aos olhos do espírito”. (Institutio oratoria VIII, 33)

[10]

Os adornos da argumentação servem para que o discurso seja gravado no animus da platéia, ou seja, aquilo que está sendo proferido deve ser visto através da linguagem (efeito de verdade).  Essa aproximação que Quintiliano realiza da história com os adornos da poesia nos parece interessante para compreendermos a historiografia taciteana. Outro ponto importante é que os historiadores antigos dão muita ênfase aos discursos proferidos pelos personagens envolvidos em sua trama. Esses discursos são construções retóricas e que servem como ekphrasis ou evidentia ou enargeia. Como afirma Quintilano, “todo discurso consiste em conteúdo e estilo (rebus et uerbis” (Inst. Orat. VIII, 6). Com efeito, sem esses adornos, a história seria simples narratio de eventos, ou seja, uma coleção de anais. Para tanto, o orador se valia da invenção, ou seja, a busca e descobrimento dos argumentos adequados para comprovar a sua tese.

[1] Aristóteles considera que o estudo do passado é útil para entendermos as diferentes formas de governo. Portanto, para o filósofo a historiografia seria parte integrante da vida política (Retórica, 1360a). [2] Como também encontramos em Tucídides e Políbio. [3] “Herodotus often echoes the rhythms of poetry, and some passages of his prose can actually be turned into verse without too much difficulty; this suggests a deeper and more intimate affinity between history and poetry than any we might care to contemplate today” (WOODMAN, 2010: 3). [4] “Quanto aos discursos pronunciados por diversas personalidades quando estavam prestes a desencadear a guerra ou quando já estavam engajados nela, foi difícil recordar com precisão rigorosa os que eu mesmo ouvi ou os que me foram transmitidos por várias fontes. Tais discursos, portanto, são reproduzidos com as palavras que, no meu entendimento, os diferentes oradores deveriam ter usado, considerando os respectivos assuntos e os sentimentos mais pertinentes à ocasião em que foram pronunciados, embora ao mesmo tempo eu tenha aderido tão estritamente quanto possível ao sentido geral do que havia sido dito” (Tucídides, História da Guerra do Peloponeso I, 22, 1). [5] “Both high mimetic genres, indebted to epic, much concerned with leaders and nobles, politics and wars, nations or individual sin lengthy conflicts, often describing sequences of events that span more than one generation of human experience”. Cf. RUTHERFORD, Richard, In: MARINCOLA, John,, 2007, p. 504. [6] Aristóteles na Poética. 9.1451b4–7 nos apresenta uma visão contrária. Para o filósofo, a história trata de assuntos que aconteceram e do particular, já a poesia (entendida por Richard Rutherford como tragédia) trata de assuntos que poderia acontecer e do universal. [7] Como exemplo a narrativa de Anais VI, 51. [8] Historiografia Taciteana. [9] “Those who wrote history in classical antiquity were perfectly well aware that they were doing something different (which observed different rules) from writing speeches, plays, poems, or works of philosophy”. Cf. LENDON, J. E. In: FELDHERR, Andrew, 2009. p. 43. [10] Tradução de BARBOZA, Jerônimo Soares, 1836. p.106. _______________________________________________________________________________________ Questões finais 1. De quantos gêneros textuais é preciso ter conhecimento para produzir um bom discurso? É possível mesclar diversos gêneros com características distintas para se produzir algo melhor, ou é melhor ficar apenas dentro dos limites do gênero? 2. Observe o seguinte esquema:

Agora reflita e escreva o que pensou em nosso fórum. Para guiar as discussões tente pensar nessas perguntas: Como posso preencher este esquema com diferentes características de gênero ou observações psicológicas e sociais para melhorar a minha escrita acadêmica? _______________________________________________________________________________________

Eu vejo o que li!

O meu exercício final - 01/02/2015 Olá, alunos Estamos quase no final. Espero que tenham gostado do formato do curso e também do seu conteúdo. Tomara que eu tenha conseguido passar algo de novo para vocês e auxiliado na compreensão de um mundo muito maior do que aquele que aprendemos na escola e que é muitas vezes defendido por unhas e dentes por professores medíocres e coordenadores que pouco sabem sobre aquilo que ensinam. Enfim, mais uma vez, muito obrigado para atenção de todos e pela vontade de realizar as reflexões. Esta que foi sentida com os comentários bem elaborados de vocês. Por hoje, deixo um texto que escrevi pensando as guerras civis relacionando todo o conteúdo que aprendemos no curso. Caso se interessem em ver um pouco de toda essa teoria aplicada, recomendo a leitura. Leiam, critiquem e opinem! Afinal, isso também faz parte da retórica.   O ambiente da guerra civil na literatura clássica.   “Eu vejo guerras, guerras horríveis, e o Tibre espumando com muito sangue”. Virgílio. Eneida. VI, 86- 87[1]

“Correu sangue fraterno nos primevos muros” [2]. Lucano. Farsália. I, 95   Confesso que, quando menino, nunca fui um adepto de círculos literários e nem de leituras públicas de poesia, principalmente aquelas que haviam sido escritas e proclamadas bem antes da sociedade que eu vivia à época. De certo, isso de dava porque realmente nunca tinha compreendido que o ato de fazer um texto ou um discurso era algo muito mais complexo do que simplesmente olhar para um papel ou para uma tela de computador e dizer as palavras que com certeza viriam à sua mente. Na verdade, essa minha compreensão pode ser justificada pela minha pequena pretensão de outrora em ler romances históricos que me colocassem diretamente no mundo romano, seja através da narrativa das inúmeras batalhas e de seus generais ou até mesmo as que se prendessem em personagens cotidianos, como os “exóticos” gladiadores e as mulheres que desafiavam uma sociedade que pouco dava espaço para elas. Era uma leitura infantil de um mundo desconhecido e que muito me interessava. Mas, com o passar da idade, a minha compreensão sobre “um outro” mundo, o das palavras escritas e faladas, que antes acompanhava minhas pacas ambições nesse campo restrito ao lazer, começou a mudar e a se ampliar. Talvez o maior culpado dessa minha nova visão sobre esse mundo, e há de confessar que também do meu, seja algo muito conhecido por todos: a literatura greco- romana e seus mais diversos e ricos gêneros discursivos. Os mesmos que ficaram cada vez mais ricos, pelo menos para mim, quando passei a estudá-los através dos manuais discursivos que nos foram legados pelos antigos. A saber, a  Retórica, de Aristóteles, o  Sobre o Orador, de Cícero,  Educação Oratória, de Quintiliano, o  Diálogo dos Oradores, de Tácito,  Como se deve escrever a História, de Luciano de Samósata,  mas, principalmente, Retórica a Herênio, um manual retórico atribuído a Cicero. Faço aqui uma breve referência a esta obra:  “Visto, então, que desejamos ter um ouvinte dócil, benevolente e atento, explicaremos o que se pode fazer e de que modo. Poderemos fazer dóceis os ouvintes se expusermos brevemente a súmula da causa e se os tornarmos atentos, pois é dócil aquele que deseja ouvir atentamente. Teremos ouvintes atentos se prometermos falar da matéria importante, nova e extraordinária ou que diz respeito à República, ou aos próprios ouvintes, ou ao culto dos deuses imortais; se pedirmos que ouçam atentamente e se enumerarmos o que vamos dizer. Podemos tornar os ouvintes benevolentes de quatro maneiras: baseados em nossa pessoa, na de nossos adversários, na dos ouvintes e na própria matéria”. (Retória a Herênio, I, 7 e 8)    Transformar o ouvinte em dócil e benevolente. Essas palavras de fato mexeram com minha cabeça. Afinal, um texto não é só aquilo que você escreve, mas é algo feito também para quem você escreve. E para tal, é preciso que um orador, que neste caso pode ser um poeta, um historiador e até mesmo um general contando suas façanhas, se embrenhe entre mais diversos exercícios de execução discursiva. Esse processo, também conhecido e apresentado por Antônio Martinez de Resende como o momento do  silêncio  [3], era composto de inúmeros  exemplae  e  tópoi que poderiam ser imitados (imitatio) não só para escrever melhor, mas também para aprender técnicas que atuem diretamente no seu receptor, ou seja, que o faça mover para determinada ação (mouere). Uma dessas estratégias, a saber, era através da exposição de elementos que atuassem fornecendo uma imagem sobre aquilo que estava sendo proclamado. Ou, seguindo a recomendação de Tácito, cabe ao orador antigo à elaboração de um discurso tão bem trabalhado e formulado “que deleite a visão e os olhos” dos seus ouvintes (Diálogo dos Oradores, XXII). Afinal, era preciso que ver o que estava sendo falado [4]. Um bom exemplo desta preocupação pode ser extraído desta mesma obra citada anteriormente. Em  Diálogo dos oradores  é possível perceber que o  auctor  nos apresenta elementos críticos e textuais interessantes, principalmente quando se refere ao gênero “Anais” como sendo composto por frases de “tardia e deselegante estrutura” (Tácito. Dial. XII), completamente desvinculado da vividez que é proporcionada pelas ornamentações e licenças poéticas. A culpa disso, segundo o  auctor, recairia nos ouvidos exigentes da plateia que ansiavam por composições que fossem retiradas “do santuário de Horácio, de Virgílio e de Lucano” (Tácito. Dial.  XX). Para tanto, era necessário que os oradores de seu tempo dialogassem com os poetas no intuito de que seus discursos pudessem ser mais visíveis e, portanto, mais convincentes. Esse processo retórico era feito basicamente através de dois mecanismos discursivos: a  enargeia  e a ékphrasis.[5] Tal como a  enargeia (ou evidentia), a  ékphrasis  tinha a função de colocar diante dos olhos dos ouvintes as palavras que eram proferidas pelo orador - (Retórica a Herênio, IV, 59) – gerando, assim,

um efeito de “visibilidade” do discurso proferido. Dessa maneira, a  ékphrasis  aparecia então com uma dupla condição: como o objetivo das narrativas historiográficas e como geradora da  enargeia, ou seja, do “efeito de verdade”. Essa reflexão também pode ser evidenciada pela seguinte passagem da  Retórica  de Aristóteles: “Se o temor é isto, forçoso é admitir que as coisas temíveis são as que parecem ter um enorme poder de destruir ou de provocar danos que levem a grandes tristezas. É por isso que os sinais dessas eventualidades inspiram medo, pois mostram que o que tememos está próximo. O perigo consiste nisso mesmo: na proximidade do que é temível” (Aristóteles, Retórica, II, 1382a).  Como também, posso apresentar as palavras de Pseudo- Longino,   “Quando representas como acontecendo no presente fatos ocorridos no passado, farás do discurso não mais uma narrativa, mas um drama real” (Pseudo- Longino, Do sublime, XXV).  No caso da leitura e da poesia sobre as guerras civis, nada melhor do que ambientar o ouvinte em uma cidade sitiada em seus muros sagrados, com seus templos profanados e saqueados, e com o seu rio, que também era uma divindade, se enchendo de sangue de fratricídios. Assim, também aproveito para justificar por que tive o cuidado de citar algumas passagens, até certo ponto extensas, como a de Virgílio, em partes anteriores ao meu texto. A minha ideia, como tal, foi a de situar o leitor em duas descrições que considero sublimes, para usar o tom deixado por Longino, e que criam o ambiente ideal para falarmos sofre a fama e o rumor nas guerras civis romanas. O rumor derruba imperadores mais do que as armas. A fama, que nesse contexto é a de César e seu exército de enormes e cruéis cavaleiros bárbaros (Lucano. Farsália. I, 469 – 479), mesmo sendo falsa, transforma tudo em medo e facilita a entrada do general em Roma. O Senado foge com Pompeu. A fuga teve que ser às pressas, afinal, nem levaram o ouro de Saturno. Os bárbaros inimigos estão a caminho e vão profanar os nossos templos em busca de ouro – “ó fome de ouro! As leis, desprezadas, perecem rodas sem distinção” (Lucano. Farsália. III, 118- 120). Medo, perigo e profanação! Bem, acho que nem é preciso comentar que a besta de olhos e penas, tal como descrita por Virgílio, não assustaria ao gritar pelas cidades as inverdades que serão tomadas como notícias verdadeiras. A  fama e o rumor são elementos discursivos fortes e assustadores e que vão atingir a fides dos ouvintes. Dentro dessa mesma leitura literária da guerra civil, podemos encontrar autores que demonstram uma preocupação bem semelhante àquela que estamos trilhando até o momento. Essa abordagem posta em prática pode ilustrada pelas reflexões contidas na obra de Philip Hardie, intitulada “Rumour and Renown: Representations of 'Fama' in Western Literature”. Nesta obra, o autor apresenta uma reflexão bem centrada em estudar a aplicação da  fama e do  rumor  na literatura ocidental através da ótica de que esse emprego nada mais era do que uma estratégia retórica para dar mais  fama  (importância, ressonância e até veracidade)  ao próprio discurso. No caso, por exemplo, do capítulo sétimo, onde analisa historiadores como Tito Lívio e Tácito, Hardie procura analisar a  fama como uma forma de dar veracidade (facta) aquilo que estava sendo narrado, mas também, como no caso dos  Anais, como uma forma de dizer que os rumores e a fama (entendida aqui como reputação) eram sempre manipulados para servir as necessidades do princeps, isso dentro de um ambiente, de complôs, fofocas e muito medo. Outro exemplo interessante, e que vai ao encontro da passagem do Canto IV de Virgílio, já mencionada, é como Hardie observa a descrição monstruosa da  fama, ou do rumor, antes de falar sobre o relacionamento de Eneias com Dido. Para ele, essa criatura personificada serviria para criar o enredo, uma trama que seria travada pelo protagonista ao longo de todo o Canto IV [6]. Ver o perigo e esperar algo dele, se prevenir. Mas também criar o perigo e mobilizar a ação desejada pelo discurso. O observador agora tenta agir sobre os agentes outrora observados. O ambiente é a  polis, é a urbs, é a cidade e seu centro: os homens políticos. É uma dinâmica até certo ponto complexa e racional que a meu ver necessita de um orador com bom conhecimento sobre a experiência humana, seja através de sua história ou da memória construída a respeito dela. Ou seja, algo bem próximo ao que o  retor  Quintiliano, em sua  Educação Oratória, descreve quando afirma que “a história, por sua vez pode também alimentar o orador, como se fosse por uma qualidade de seiva ricamente nutritiva e saborosa” (Quintiliano. Educação Oratória. X, 1, 31, 1). A história nutre aquele que irá para uma batalha de palavras. Ela o deixa mais forte! Mas seria só isso? O quão difícil era para um orador, neste caso um historiador, ornamentar uma guerra civil? Fazer sentir o perigo de ter a sua cidade sitiada por tropas romanas compostas por “bárbaros”? Seria essa ornamentação apenas recurso literário? Apenas para dar veracidade? Seria apenas uma licença dada aos poetas? Enfim, creio que estas são perguntas importantes e necessárias para trazermos nosso objeto

para outro campo que até então foi pouco abordado: a história. E, para tal, nada melhor do que deixar um grande historiador responder nossas inquietações. Cito as palavras de Tácito contidas em seu proêmio sobre a narrativa dos acontecimentos das guerras civis de 69: "Estou entrando na história de um período rico em desastres, assustado em suas guerras, dilacerado por conflitos civis, e até mesmo na paz cheio de horrores. Quatro imperadores pereceram pela espada. Houve três guerras civis, mais que contra os inimigos estrangeiros, embora havia também muitas vezes guerras que tinham os dois caracteres ao mesmo tempo" (Tácito. Histórias. I, 2). Nessa matéria rica em desventuras não cabe ao orador um exercício que exija a aplicação de grandes técnicas retóricas e nem muitos ornamentos. Tácito justifica isso ao afirmar que o período por si só já seria de grande valia para conquistar a atenção dos ouvintes, e que a instabilidade à qual estavam sujeitas aquelas pessoas que vivenciaram três guerras civis, servia para captar a benevolência de sua plateia por diversas vias: através da amplitude dos fatos e da importância atribuída aos exemplos narrados. Nesse intuito, nada melhor ao bom orador do que recorrer à verossimilhança das ações humanas, do comportamento humano, e das vicissitudes que derivaram da interação entre eles. Ou seja, seria algo parecido com “eu vejo porque já vi, ou pelo menos, imagino que poderia ser assim ou se passado desta maneira”. Nesse sentido, o que podemos apontar em matéria discursiva, principalmente em se tratando de discursos sobre as guerras civis romanas, é que presente (ação sublime de um discurso), passado (a experiência humana que ambienta esse discurso) e o futuro (ação provocada pelo discurso) [7], estão muito presentes e atuantes nas fontes que analisaremos ao longo deste trabalho. Isso fica mais evidente se atentarmos para a seguinte passagem de Lucano quando o poeta se refere aos sentimentos que os idosos traziam das guerras civis entre Mário e Sula:  “fere a um tempo dois chefes e os partidos rivais, enquanto o não merecem. Com tanta profusão de crimes jamais vistos ambos disputam quem na urbe imperará? Guerras civis mover só tinha um valor se contra os dois. Assim caduca a piedade reclamou. Mas os pais dor própria lhes tocava, a tarda hora fatal os idosos odeiam, à outra proscrição civil sobreviventes. Um deles relembrando as fontes de seu pânico ´Não outros transes’, diz, ‘os fados preparavam quando Líbios e Teutões já vencedor, Mário, no exílio, abrigo teve em limbo”. (Lucano. Farsália. II, 59 – 70)   Essa passagem de Lucano, extraída da obra Farsália, publicada em 65 d. C, sob o governo de Nero, talvez seja extraordinária para amarrarmos o nosso raciocínio até aqui. Sobre o poema em questão, ele é classificado como pertencente ao gênero épico e é composto por dez livros que descrevem a disputa entre César e o Senado. Sua obra chegou até os dias de hoje inacabada. Para alguns pesquisadores e tradutores da obra [8], é possível afirmar que a ideia de Lucano era a de terminar a sua obra com a morte de César, em Março de 44 a.C. Contudo sua narrativa é interrompida abruptamente no contexto das operações militares de César em Alexandria, no inverno de 48- 47 a.C. Nesta obra, é possível perceber claramente o emprego de um memória de como a guerra civil era avassaladora e também como os mesmos mecanismos de combates, de proteção e de busca por informações continuavam a ser os mesmos em temporalidades distintas. Afinal, a guerra entre Mário e Sila está presente nas guerras entre César e Pompeu, ao mesmo tempo em que estas são utilizadas pelo orador para atuar no presente e também no futuro. Afinal, é de se esperar que o colorido e a memória deixada pela poesia de Lucano tenha tido ao menos um pequeno lugar nos acontecimentos das guerras civis de 69.

A guerra civil, portanto, possui uma história e um mecanismo que pode ser atestado pelo passado e pelas ações humanas no presente, inclusive em sua forma narrativa. Isso também pode ser justificado demonstrando que a guerra civil, como um mecanismo literário, também poderia, e assim o foi, ser empregada como uma metáfora para descrever e até mesmo ampliar com conflitos políticos durante o Principado. Um exemplo disso também pode ser extraído de Tácito quando, em Anais. IV, 17, 3, afirma que: “a isso dava todo motivo Sejano, que lhe afirmava estar já Roma dividida em partidos como nos tempos das guerras civis”. Ou seja, ao lermos todas as fontes que utilizaremos para esta pesquisa é possível estudar os acontecimentos narrados, dentre elas a situação das províncias, os medos em Roma, mas, principalmente, os rumores, como objetos históricos que possuem um mecanismo de ação que também pode ser encontrado e atestado. Como este exemplo trazido por César: “Aqueles Estados que consideram organizar as coisas públicas mais judiciosamente, têm prescrito por leis que qualquer pessoa que tenha aprendido algo importante para a comunidade com os seus vizinhos, seja pelo rumor ou pela  fama, deverá transmiti-lo ao magistrado, e não comunicá-lo a qualquer outro comum, pois os homens imprudentes e inexperientes foram por muitas vezes alarmados com falsos rumores e assim foram impelidos a cometer crimes e medidas precipitadas em assuntos da mais alta importância. É da função do Magistrado esconder as coisas que necessitam ser mantidas desconhecidas da multidão. Não é lícito falar sobre a comunidade, exceto em assembleia” (César. Guerras Gálicas. VI, 20). Mesmo não falando especificamente de nenhuma guerra civil por nós escolhida, esta passagem de César foi trazida para este trabalho justamente por trazer elementos muito importantes para a nossa análise. Em uma guerra, as palavras são muito importantes, já que a busca por informações é intensa. Os exércitos se movem e necessitam de apoio, de suprimentos e de água. As cidades se fecham. Deliberam. Qual candidato apoiaremos? Nos rendemos ou defendemos? Quanto de suprimento temos? Quanto aguentaremos?  Já, as informações são restritas, são colocadas apenas no nível de rumores. Porém, estes têm pouca amplitude, já que são colhidos em comunidades vizinhas ou são internos a própria comunidade de origem. Quem escolherá a informação certa? Pois, se não fiscalizados pelas autoridades, podem atingir níveis alarmantes. E, dentro de uma guerra, com toda aquela retórica descritiva de seu clima de tensão, medo e instabilidade, uma convulsão interna contra as autoridades ou qualquer pânico que atrapalhe as defesas e as vigias, todos podem ser funestos. Nesse sentido, a retórica mais uma vez é reveladora, já que descreve essas comoções e esses eventos de uma forma bem detalhista, quase que no nível de um estudo sociológico e psicológico dos personagens envolvidos. Pois, correr para determinado templo, inquirir comerciantes e viajantes, buscar informações no Campo de Marte, mesmo local que iam para as eleições, se proteger, deliberar e até mesmo agir em prol de determinado partido espalhando rumores. Todas as ações que a meu ver são mais do que simples ornamentações para criar um ambiente, elas revelam práticas do cotidiano destas guerras, como a interação entre os seus agentes, seus mecanismos de ação, quais eram os tipos de rumores que circulavam, qual a sua amplitude, como eram recebidos, por quem e, principalmente, seus resultados: a ação social dos agentes.

[1] bella horrida bella et thybrim multo spumantem sanguine cerno. [2] fraterno primi maduerunt sanguine muri. [3]  Sobre o momento do silêncio, Antônio Martinez de Rezende se apoia na recomendação de Quintiliano: (Inst, X, 7, 29) – “É preciso escrever, sempre que for possível, mas quando não é preciso meditar”. Cf. REZENDE, Antônio Martinez de.  Rompendo o silêncio: a construção do discurso em Quintiliano. Belo Horizonte: Crisálida, 2010. [4] Realizo uma discussão maior sobre essa temática no capítulo dois da minha dissertação de mestrado, onde discuto o papel das guerras civis como  evidentia, na historiografia Taciteana. Cf. BELCHIOR, Ygor Klain.  Tácito e o principado de Nero. 2012. 156 f. (Dissertação de Mestrado em História) - Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Ouro Preto, Mariana, 2012. [5]  GINZBURG, Carlo. “Ekphrasis e citação”. In:  A micro-história e outros ensaios. Tradução de António Narino. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989, pp. 215-232; GINZBURG, Carlo.  Relações de força: História, Retórica e Prova. Tradução de Jônatas Batista Neto. São Paulo: Companhia das letras, 2002.

[6]  HARDIE, Philip.  Rumour and Renown: Representations of 'Fama' in Western Literature.  Cambridge Classical Studies. Cambridge; New York: Cambridge University Press, 2012. [7] Traduzido para o latim como delectare (deleitar), docere (ensinar) e mouere (mobilizar para uma ação). [8]  Dentre eles Brunno V. G. Viera. Cf. LUCANO.  Farsália: Cantos I a V. Introdução, tradução e notas de Brunno V. G Vieira. Campinas: Editora Unicamp, 2011.

PERGUNTAS DO DIA!

Atividade final - 02/02/14 Olá, alunos! É com muita tristeza que chegamos ao nosso final. E para tal, vocês farão para mim um atividade final. Peço que entreguem ela até no máximo amanhã à noite, pois o nosso curso irá se encerrar. Por isso, também peço que façam no tempo que tiverem para fazer e escolham o gênero, o tema, a forma, as palavras, ou seja, escolham sobre o que quiserem escrever e escrevam aqui. Eu gostaria de que pudessem relatar o curso e a a experiência que tiveram. Por isso aceito desde relatórios, até um romance!  O link para entregar o texto será postado logo abaixo. Um abraço

Entrega do texto final Link para entregar o texto final. Tentem, por favor, fazer isso até 23: 59 de amanhã!

Muito obrigado por participarem! - 02/02/14 Bibliografia final do curso Segue a lista de referências das bibliografias que usei para confeccionar o curso. Deixo elas neste espaço para que algum interessado em conhecer mais sobre alguma obra ou me perguntar onde encontrar possa fazê-lo. Algumas eu tenho o xerox ou o livro, também podemos combinar um PDFzinho, ou eu posso indicar onde conseguir o livro. BIBLIOGRAFIA  Obras de Referência: GLARE, P. G. W. (ed.). Oxford Latin Dictionary. Oxford: Oxford at The Clarendon Press. HORNBLOWER, Simon & SPAWFORT, Antony (eds.). The Oxford Classical Dictionary. 3rd ed. Oxford: Oxford University Press, 1996. LECLANT, Jean (ed). Dictionnaire de l’Antiquité. Paris : Quadrige/Puf, 2005. AUTORES ANTIGOS ARISTÓTELES. Retórica. (Tradução de Manuel Alexandre Junior, Paulo Farmhouse Alberto e Abel do Nascimento Pena). Lisboa: Biblioteca de autores clássicos, 2005. CÍCERO. De oratore. In: SCATOLIN, Adriano. A invenção no Do Orador de Cícero: Um estudo

à luz de Ad Familiares I, 9, 23. 2009. Tese (Doutorado em Letras Clássicas) – Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2009.

[CICERO] Rethorica ad Herenium. Translated by Harry Caplan. Cambidge, Massachussets: Harvard Uviversity Press, 1999. (Col. The Loeb Classical Library) [CÍCERO] Retórica a Herênio. Tradução de Ana Paula Celestino Faria e Adriana Seabra. São Paulo: Hedra, 2005. HERÓDOTO. História: o relato clásssico da Guerra entre gregos e persas. Tradução de J. Brito Broca e introdução de Vítor Azevedo. 2a Edição. São Paulo: Ediouro, 2001. HOMERO. Odisséia: Telemaquia. Volume I. Tradução do grego, introdução e análise de Donaldo Schuler. Porto Alegre: L&PM, 2010. HOMERO. Odisséia: Regresso. Volume II. Tradução do grego, introdução e análise de Donaldo Schuler. Porto Alegre: L&PM, 2010. HOMERO. Odisséia: Ítaca. Volume III. Tradução do grego, introdução e análise de Donaldo Schuler. Porto Alegre: L&PM, 2010. HERÓDOTO. História: o relato clásssico da Guerra entre gregos e persas. Tradução de J. Brito Broca e introdução de Vítor Azevedo. 2a Edição. São Paulo: Ediouro, 2001. JOSEFO. Jewish Antiquities. Translated by Ralph Marcus. Cambidge, Massachussets: Harvard Uviversity Press, 1926-1965. (Col. The Loeb Classical Library) LONGINO. “Do Sublime”. In:___ A Poética Clássica. Introdução Roberto de Oliveira Brandão; trad. do grego e do latim de Jaime Bruna. 7ª edição. São Paulo: Cultrix, 1997. Pp 70 – 114. LUCAN. The civil war (pharsália). Translated by J. D. Duff. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press, 1928. (Col. The Loeb Classical Library). LUCIANO, de Samósata. Como se deve escrever a história. Tradução de Jacytntho Lins Brandão. Belo Horizonte: Tessitura, 2009. PETRÔNIO. Satyricon. Tradução e posfácio de Sandra Braga Bianchet. Belo Horizonte: Crisálida, 2004. POLÍBIO. História. Tradução de Mário da Gama Kury. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1996. QUINTILIANO. “Educação oratória” (Livro X). In:___ Rompendo o silêncio: a construção do discurso em Quintiliano. Tradução de Antônio Martinez de Resende. Belo Horizonte: Crisálida, 2010.  TÁCITO. Anais. Trad. J.L. Freire de Carvalho. São Paulo: W.M. Jackson Inc. Editores, 1952 (Clássicos Jackson, Vol XXV). TÁCITO. Obras Menores. Tradução de Agostinho da Silva. Lisboa: Livros Horizonte, 1974. TÁCITO. As Histórias. Tradução de Berenice Xavier. Rio de Janeiro: Athena Editora, 1937. TITO LÍVIO. História de Roma (Ab urbe condita libri). Introdução, tradução e notas de Paulo Matos Peixoto. Volume Primeiro. São Paulo: Editora Paumape, 1989.  TUCÍDIDES. História da guerra do Peloponeso. Trad. e notas de Mário da Gama Kury. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1982. VIRGÍLIO. Eneida. Tradução e notas de Odorico Mendes; Apresentação Antônio Medina. Campinas: Editora Unicamp, 2005. Bibliografia  AGNOLON, Alexandre. O catálogo das mulheres: Os epigramas misóginos de Marcial. São Paulo: Humanitas, 2010 (Coleção Letras Clássicas).

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Norma

Musco

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