Curso de formação dos educadores para a cidadania: tecendo uma metodologia transdisciplinar

June 2, 2017 | Autor: Paula Scherre | Categoria: Complejidad / Complexity, Complexidade, Educação, Transdisciplinaridade
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CURSO DE FORMAÇÃO DOS EDUCADORES PARA A CIDADANIA: TECENDO UMA METODOLOGIA TRANSDISCIPLINAR SCHERRE, Paula Pereira1 - UCB/DF Grupo de Trabalho - Formação de Professores e Profissionalização Docente Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este artigo tem como tema a metodologia transdisciplinar desenvolvida no Curso de Formação dos Educadores para a Cidadania, entre junho a dezembro de 2012, no município de Horizonte/Ceará. O problema de pesquisa é: Como se constituiu a metodologia transdisciplinar do Curso de Formação dos Educadores? O objetivo geral é sistematizar a metodologia desse curso. Como objetivos específicos, pretendemos (1) explicitar os referenciais teóricos; (2) caracterizar o contexto da pesquisa; (3) sistematizar a metodologia transdisciplinar desenvolvida. Foi realizada uma pesquisa-ação, de abordagem qualitativa, guiada pelas dimensões ontológicas, epistemológicas e metodológicas propostas pela Complexidade e pela Transdisciplinaridade. As estratégias metodológicas utilizadas foram: a observação participante, o diário de campo, a sistematização de experiência, filmagens e a análise documental. Para o referencial teórico utilizado na análise dos dados, dialogamos com os seguintes temas e autores: Transdisciplinaridade (NICOLESCU, 1999, 2000; ARNT, 2007, 2010; MORAES, 2008), vivência (LARROSA, 2002; TORO, 2005; CALVALCANTE, 2006), diálogo (FREIRE, 1987; MARIOTTI, 2001; ARNT, 2007; 2010), princípio dialógico (MORIN; CIURANA; MOTTA, 2009), reflexão, Educação biocêntrica e vínculos (CAVALCANTE, 2006). Como principais resultados, observamos que a metodologia transdisciplinar, vivencial, dialógica e reflexiva desenvolvida foi composta pelo tecido conjunto da(s): (1) gestão do projeto, (2) construções colaborativas das pesquisadorasformadoras, (3) pesquisa e construção de conhecimento e (4) docência presencial e virtual. Como conclusões finais e provisórias, compreendemos que a metodologia construída continuará sendo tecida ao longo do Projeto; que seu objetivo maior é a ampliação da consciência de si, do outro e da totalidade; que é vital a existência de sintonia, de envolvimento, de participação e de diálogo entre todos os participantes da gestão do projeto; que este Projeto e esta pesquisa representam momentos de atribuição de sentido às experiências vividas; e que este artigo e a pesquisa-ação servirão de fonte para um novo início, para novas futuras aprendizagens.

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Doutoranda em Educação e Especialista em Educação a Distância pela Universidade Católica de Brasília (UCB/DF). Mestre em Psicologia, com ênfase na ergonomia aplicada ao desenvolvimento de interfaces gráficas, e Graduada em Desenho Industrial, habilitação Programação Visual, pela Universidade de Brasília (UnB). Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Ecotransd – Ecologia dos Saberes, Transdisciplinaridade e Educação (UCB/DF – CNPq). E-mail: [email protected].

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Palavras-chave: Formação de educadores. Metodologia transdisciplinar. Vivência. Diálogo. Reflexão. Introdução No final do ano de 2011, recebi o grato convite para participar de um projeto de pesquisa – Criação da Rede de Agentes de Cidadania: caminhos para a vivência dos direitos humanos e geração da paz –, que, em sua essência, tem como bases teóricas a Transdisciplinaridade, a Complexidade e a Educação biocêntrica. Desse convite, surgiu a possibilidade de vivenciar uma experiência que trouxesse essas teorias para os campos da prática, da pesquisa e da construção do conhecimento. Entre as várias etapas previstas para a criação desta Rede, uma delas é o Curso de Formação dos Educadores para a Cidadania, que ocorreu entre os meses de junho a dezembro de 2012, no município de Horizonte/Ceará e formou, ao todo, 35 educadores e educadoras. Os resultados da pesquisa-ação, realizada nesta etapa, foram os subsídios para a construção deste artigo. O problema de pesquisa é: Como se constituiu a metodologia transdisciplinar do Curso de Formação dos Educadores? Sendo assim, o objetivo geral deste artigo é sistematizar a metodologia desse curso. Para tanto, em âmbito específico, pretendemos (1) explicitar os referenciais teóricos; (2) caracterizar o contexto da pesquisa; (3) sistematizar a metodologia transdisciplinar desenvolvida. Refletindo sobre as justificativas deste artigo, temos duas considerações a fazer: (1) este é um momento importante de estudo e de reflexões sobre a metodologia transdisciplinar do curso, a partir do que foi vivenciado no ano de 2012; e, além disso, (2) o curso vivenciado e sistematizado, a pesquisa-ação realizada e este artigo empregam também esforços na construção de uma cultura de paz, de cidadania e de direitos humanos que vão ao encontro dos objetivos deste XI Congresso Nacional de Educação – Educere. Para compor o referencial teórico e compreender os conceitos bases dessa metodologia, dialogamos com os seguintes temas e autores: Transdisciplinaridade (NICOLESCU, 1999, 2000; ARNT, 2007, 2010; MORAES, 2008), vivência (LARROSA, 2002; TORO, 2005; CALVALCANTE, 2006), diálogo (FREIRE, 1987; MARIOTTI, 2001; ARNT, 2007; 2010), princípio dialógico (MORIN; CIURANA; MOTTA, 2009), reflexão, Educação biocêntrica e vínculos (CAVALCANTE, 2006). Em relação aos aspectos metodológicos, a pesquisa-ação realizada (SANDÍN ESTEBAN, 2010), de abordagem qualitativa (LÜDKE; ANDRÉ, 2012), foi guiada pelas

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dimensões ontológicas, epistemológicas e metodológicas propostas pela Complexidade e pela Transdisciplinaridade (NICOLESCU, 1999, 2000; MORAES, 2008; MORAES; VALENTE, 2008; MORIN; CIURANA; MOTTA, 2009). Em relação às estratégias metodológicas utilizadas, podemos elencar: a observação participante (GIL, 2012), o diário de campo (BARBIER, 2007) com a sistematização de experiência (JARA HOLLIDAY, 2006), filmagens e a análise documental (LÜDKE; ANDRÉ, 2012). Como resultados, observamos que a metodologia transdisciplinar, vivencial, dialógica e reflexiva desenvolvida nesta etapa do Projeto foi composta pelo tecido conjunto das situações distintas e interdependentes – cada qual constituída por relações, ações, interações, estratégias e características próprias – representadas pela(s): (1) gestão do projeto, (2) construções colaborativas das pesquisadoras-formadoras, (3) pesquisa e construção de conhecimento e (4) docência presencial e virtual. Entres as considerações finais e provisórias, compreendemos que a metodologia construída continuará sendo tecida ao longo do Projeto; que seu objetivo maior é a ampliação da consciência de si, do outro e da totalidade; que este Projeto e esta pesquisa representam momentos de atribuição de sentido às experiências vividas; e que este artigo e a pesquisa-ação servirão de fonte para um novo início, para novas futuras aprendizagens. Diálogo com os autores: principais referências da metodologia Por meio do diálogo com os autores, o que significa uma metodologia ser transdisciplinar, vivencial, dialógica e reflexiva? Ser transdisciplinar significa trabalhar com a visão complexa e não fragmentada de mundo, que vá para além das disciplinas; que articule os conhecimentos oriundos da ciência, da filosofia, das artes e das tradições; que compreenda a realidade como sendo multidimensional e multirreferencial; que considere os seres humanos e os conhecimentos também como multidimensionais. Dessa maneira, essa metodologia permite “a interconexão do ser com a natureza, com o outro, consigo mesmo, alicerçando a ética, conspirando e atuando, inclusive em educação, pela comunhão a favor da vida” (ARNT, 2007, p. 12). Nesta perspectiva, a Transdisciplinaridade nos inspira a sentir, pensar e agir por meio de seus pilares: Complexidade, níveis de realidade e terceiro incluído e, por consequência, a conceber uma metodologia que considere o sujeito transdisciplinar, o objeto transdisciplinar e a zona de não resistência – o sagrado (NICOLESCU, 1999, 2000; ARNT, 2007, 2010; MORAES, 2008).

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Ser vivencial significa trabalhar com a vivência, como estratégia metodológica e pedagógica, que, de acordo com Toro, consiste em “[...] experiência vivida com grande intensidade por um indivíduo no momento presente que envolve a cenestesia, as funções viscerais e emocionais. A vivência confere à experiência subjetiva a palpitante qualidade existencial de viver o ‘aqui e agora’” (TORO, 2005, p. 30). Além disso, trabalha com a integralidade do ser humano, com sua inteireza e multidimensionalidade (TORO, 2005; CAVALCANTE, 2006) e traz como parte importante do processo educativo, da experiência vivida, o sujeito da experiência. De acordo com Larrosa, “[...] seja como território de passagem, seja como lugar de chegada ou como espaço do acontecer, o sujeito da experiência se define não por sua atividade, mas por sua passividade, por sua receptividade, por sua disponibilidade, por sua abertura” (LARROSA, 2002, p. 24). A vivência, juntamente com a reflexão e o diálogo, é a metodologia básica da Educação biocêntrica e propicia a criação de ambientes, cenários e condições de aprendizagem de maneira que os(as) participantes possam refletir, dialogar e internalizar aquilo que se passou, que aconteceu com eles(as). Possam, assim, criar sentido para a experiência vivida, ao adquirir consistência dentro de si, estimulando a reflexão consciente e crítica da realidade (LARROSA, 2002; TORO, 2005; CALVALCANTE, 2006). De acordo com Cavalcante, essa metodologia possibilita “aprender não apenas pelo cognitivo, mas aprender a conectar-se com nossas emoções e sentimentos, saber ouvir a nossa intuição, saber ouvir o outro através da ‘escuta ativa’, poder captar na fala do outro toda a sua existência” (CALVALCANTE, 2006, p. 17). A música é o elemento base da vivência que, assim como a poesia, a dança e a pintura, “[...] representam para a Educação Biocêntrica, possibilidades de suscitar vivências sumamente complexas e sutis, de grande intensidade e com efeitos transformadores na nossa existência” (CALVALCANTE, 2006, p. 19). Ser dialógica significa trabalhar o diálogo mais amplo, o diálogo consigo mesmo, interior, o diálogo com os outros, sejam eles colegas ou autores, e o diálogo com a natureza, com o texto, com o filme. Compreendemos o diálogo como toda troca, toda interação, que nos tire da nossa maneira de pensar e que nos permita pensar dessa outra maneira que o outro nos apresenta. Sendo assim, não podemos pensar em diálogo sem abertura e sem um campo de escuta interior (FREIRE, 1987; MARIOTTI, 2001; ARNT, 2007; 2010). Além disso, ser dialógica também compreende a dimensão explicitada por Morin, Ciurana e Motta (2009) no

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princípio dialógico, que nos aponta a necessidade de superarmos dicotomias ao considerarmos que duas ideias, dois fenômenos, dois eventos, apesar de antagônicos, podem coexistir e ser complementares. Ser reflexiva significa propiciar momentos e espaços para a reflexão individual e coletiva (CAVALCANTE, 2006), para que possamos ponderar, pensar de maneira crítica sobre o vivido e chegar a uma conclusão, ideia ou percepção diferente da que tínhamos antes. Essa metodologia ainda traz como diretrizes, oriundas da Educação biocêntrica e da prática da vivência (CALVANTANTE, 2006), o fortalecimento dos vínculos: consigo mesmo (interior), com o outro (colegas, autores, pesquisadoras-formadoras) e com a totalidade (pode ser compreendida como o grupo, a comunidade, o estado, o país, o mundo, a natureza, o universo), trabalhados por meio de atividades que exercitem a observação, o cuidado, a atenção, a escuta, a fala, a reflexão, a escrita, a expressão. Cavalcante ressalta ainda a importância dos vínculos na construção do conhecimento, pois estes [...] mexem também com as estruturas cognitivas e aumentam a capacidade de se ouvir e ouvir o outro e a realidade. Resignifica e revaloriza o aprendizado, desenvolvendo novas posturas de aprender através das emoções e sentimentos. Amplia o processo pedagógico para um processo de vida (CAVALCANTE, 2006, p. 18).

Caminho percorrido: metodologia da pesquisa Por ser parte integrante dos processos de formação dos(as) educadores(as) e de pesquisa, a pesquisa-ação se faz pertinente por ser uma metodologia de pesquisa que pode ser orientada ao estudo da prática educacional (SANDÍN ESTEBAN, 2010). A pesquisa-ação é uma metodologia de pesquisa de abordagem qualitativa, que se utiliza de dados, principalmente não-numéricos, como falas, relatos e registros escritos e gravados, e se dá atenção ao contexto, à experiência humana, às relações estabelecidas (LÜDKE; ANDRÉ, 2012). A pesquisa realizada tem como bases teórico-metodológicas a Complexidade e a Transdisciplinaridade. De maneira bem breve, na dimensão ontológica, compreendemos que o ser e a realidade são multidimensionais, que o sujeito (que pesquisa) e o objeto (pesquisado) estão intimamente relacionados e que possuem diferentes níveis de percepção e diferentes níveis de realidade, respectivamente. Na dimensão epistemológica, compreendemos que o conhecimento produzido, nessa dinâmica relacional entre sujeito e objeto, também é multidimensional, inacabado e incompleto, em constante processo de vir a ser, e datado

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(NICOLESCU, 1999; 2000; MORAES, 2008; MORAES; VALENTE, 2008; MORIN, CIURANA, MOTTA, 2009). Sendo assim, a dimensão metodológica corresponde ao fazer da e ao agir na pesquisa. Na perspectiva da Complexidade, Morin, Ciurana e Motta compreendem que o método não precede a experiência, ao invés disso, “emerge durante a experiência e se apresenta no final” (MORIN, CIURANA, MOTTA, 2009, p. 20). Nesse sentido, o método deve ser composto por estratégias de ação, pois estas encontram recursos, fazem contornos, realizam investimentos e desvios, são abertas e evolutivas, enfrentam o imprevisto e o novo que emerge a partir da relação do sujeito pesquisador com o objeto pesquisado. Na perspectiva da pesquisa em educação a partir da Complexidade e da Transdisciplinaridade, Moraes e Valente (2008) reconhecem também que essas estratégias devem ser planejadas para melhor dialogar com as circunstâncias e compreender as variáveis envolvidas nos momentos determinados. O método não deve desprezar a subjetividade, a afetividade, nem deve considerá-las como fontes de erro. É possível combinar métodos e estratégias para a solução de determinados problemas, além de combinar orientações qualitativas e quantitativas, desde que tenham compatibilidade teórica e metodológica. Tendo sido esclarecidas as bases teórico-metodológicas desta pesquisa, detalharemos as estratégias metodológicas utilizadas na pesquisa, a saber: observação participante, diário de campo, sistematização de experiência, filmagem, análise documental. A observação participante propiciou a integração da pesquisadora ao grupo de educadores e educadoras em seu processo de formação e permitiu a geração de dados sobre as atividades realizadas, as relações estabelecidas e as falas/escritas proferidas, tanto presencialmente quanto virtualmente (GIL, 2012). Em consonância com as questões éticas que envolvem a pesquisa social (LÜDKE; ANDRÉ, 2012), os(as) participantes, desde o início, foram informados dos objetivos e da realização da pesquisa-ação. Além disso, todos assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido e ficaram com uma cópia em mão do termo, para posteriores consultas e contato, caso necessário. Em conjunto com a observação participante, foi feito um diário de campo (BARBIER, 2007), que possibilitou anotação do que sentimos, pensamos, meditamos e o que foi construído a partir das leituras, das conversas e do que vivenciamos. Assim,

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sistematizamos as experiências vividas, indo além da descrição das situações, ou seja, registrando o máximo de detalhes, aprendizagens, impressões possíveis dos momentos presenciais e virtuais (JARA HOLLIDAY, 2006). Como não é possível anotar tudo, especialmente em um processo de pesquisa no qual as pesquisadoras participam das ações empreendidas e interagem com o grupo nas atividades presenciais, as observações também foram registradas por meio de filmagens (LÜDKE; ANDRÉ, 2012). Os vídeos foram posteriormente analisados, em conjunto com as anotações e sistematizações escritas, de forma a complementar o que foi observado. Além disso, foi realizada a análise documental (LÜDKE; ANDRÉ, 2012) de vários documentos constituintes do Projeto, que auxiliaram a obtenção de informações sobre o contexto e a metodologia desenvolvida no curso, como, por exemplo, projeto do curso, sites das instituições envolvidas, apresentações informativas desenvolvidas pelas pesquisadorasformadoras, produções elaboradas pelos participantes nos momentos presenciais e no ambiente virtual. Contexto da pesquisa O Curso de Formação dos Educadores para a Cidadania é um curso de extensão oferecido via Pró-reitoria de Extensão da Universidade Estadual do Ceará (UECE), em parceira com o Grupo de Pesquisa Ecotransd – Ecologia dos Saberes, Transdisciplinaridade e Educação2 e com a prefeitura e secretarias do município de Horizonte3/Ceará e com o Projeto Beija-flor4. A proposta de formar educadores e educadoras do município – pessoas que vivem, trabalham e conhecem a realidade e o cotidiano locais – é uma forma de criar condições de autonomia do município para gerar suas próprias ações pela paz, direitos humanos e cidadania. O município de Horizonte tem uma população de mais de 54 mil habitantes. É localizado na região metropolitana de Fortaleza, no Estado do Ceará. Em 2012, completou 25 anos de existência. Apesar de ser um município jovem, já tem como parte constituinte de sua estrutura a integração e a intersetorialidade na gestão pública, desenvolvidas via Projeto Beijaflor. Este projeto, criado em 2009, tem por objetivo “fortalecer a articulação, o planejamento, a 2

Mais informações sobre o Grupo de Pesquisa Ecotransd disponíveis em: . Acesso em: 20 abr.2013. 3 Mais informações sobre o município de Horizonte/Ceará disponíveis em: . Acesso em: 10.abr.2013. 4 Mais informações sobre o Projeto Beija-flor disponíveis em: . Acesso em: 10 abr.2013.

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coordenação e a implementação dos programas, projetos e serviços de cunho intersetorial desenvolvidos no município” (HORIZONTE, 2010). Em sua essência, já possui o diálogo, a integração e a participação entre os diversos olhares e necessidades dessa comunidade. Uma questão importante do contexto são as características de abertura e de intensa participação do Projeto Beija-flor e da prefeitura com suas várias secretarias, como a de educação; a de desenvolvimento e inclusão social; a de cultura; a da saúde; a do desenvolvimento econômico; a institucional e política, no Núcleo gestor, junto com as pesquisadoras-formadoras. O embrião deste projeto, em abril de 2012, tinha como proposta, inicialmente, fazer uma formação em direitos humanos, cidadania e geração da paz para os professores de escolas públicas do município. Mas, em conversa com a Secretaria de Educação, o projeto já se expandiu, abarcando outras secretarias, se vinculando ao Projeto Beija-flor e buscando como foco a formação, ao final, de uma Rede de Agentes de Cidadania. Poderão ser Agentes de Cidadania os integrantes de movimentos sociais e comunitários, os agentes de saúde, os participantes dos conselhos escolares, e as lideranças políticas, comunitárias, estudantis, sindicais ou religiosas. Este Curso de Formação faz parte de um Projeto de pesquisa mais amplo, citado na introdução deste texto, a saber, Criação da Rede de Agentes de Cidadania: caminhos para a vivência dos direitos humanos e geração da paz, que visa estabelecer uma Rede de Agentes de Cidadania, propiciando a interlocução pautada nos direitos humanos como forma de criar uma cultura de paz no município. Para tanto, como já salientamos, o Projeto, por meio de uma pesquisa-ação sobre os processos

formativos,

visa

também

desenvolver

uma

proposta

de

metodologia

transdisciplinar, vivencial, dialógica e reflexiva para formação em direitos humanos e geração da paz. É uma das principais ações da Pró-reitoria de Extensão da Universidade Estadual do Ceará (PROEX/UECE) relacionadas ao Programa Geração da Paz (PROEX/UECE, 2013). A Rede de Agentes tem o objetivo de congregar 840 agentes em torno da temática Direitos Humanos e Geração da Paz, envolvendo os diversos segmentos sociais nos processos dialógicos sobre questões vitais do município, como instrumento de ampliação da consciência cidadã e exercício de responsabilidade social. No caso deste artigo, estamos apresentando a pesquisa-ação concluída e realizada no Curso de Formação dos Educadores para a Cidadania. Mas é importante ressaltar que as

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experiências, vivências, pesquisa e resultados desta etapa alimentarão as demais fases que ocorrerão no ano de 2013, como, por exemplo, (a) planejamento do Curso de Formação dos Agentes de Cidadania em conjunto com os educadores e educadoras, e elaboração do material didático; (b) realização, propriamente dita, do Curso de Formação dos Agentes de Cidadania; (c) avaliação participante do curso e de sua metodologia; (d) planejamento para a expansão do Projeto em outras localidades. Os processos de concepção e de realização do Projeto têm sido feitos em diálogo constante com um Núcleo Gestor, responsável por coordenar os processos de formação e de organização e execução do cronograma, com base nas necessidades e possibilidades do município, e por viabilizar as ações junto à prefeitura, como transporte, alimentação e liberação de educadores(as) que sejam, também, servidores públicos. Além disso, alguns deles fazem parte do Projeto como educadores(as) para a cidadania. Participam três pesquisadoras-formadoras, cada uma com sua formação acadêmica e experiências profissionais e de vida distintas e complementares, mas todas, intensa e cuidadosamente, envolvidas com a construção desta Rede, desta metodologia, dos cursos de formação e do conhecimento produzido, a partir da reflexão e pesquisa sobre a prática desenvolvida. Iniciaram o curso quarenta e sete pessoas (38 mulheres e 9 homens), com diferentes formações, entre ensino médio e ensino superior, e diversas profissões, entre as quais, a de professor, comerciante, artista plástico, enfermeiro, assistente social, educador físico. Ao final do curso, quarenta pessoas participaram da formação, sendo que trinta e cinco delas tiveram 75% ou mais de presença, e em dezembro de 2012, na cerimônia de formatura, receberam o certificado de educador(a) para a cidadania. Esta formação foi resultado de um curso de extensão de 120h, dividido em 4 módulos, realizados nos meses de junho a dezembro de 2012. Cada módulo tinha duração de 30h, sendo 20h de atividades presenciais e 10h de atividades a distância, ministradas via ambiente virtual de aprendizagem Moodle. Os temas geradores trabalhados nos módulos foram os seguintes: Complexidade, Transdisciplinaridade, civilização da religação, civilização planetária, dignidade, cuidado, direitos humanos, necessidades humanas, fatores de satisfação, diálogo e cultura de paz. A maior parte das atividades presenciais, em torno de 60h, foram realizadas durante finais de semana, em regime de imersão, o que possibilitou uma convivência mais intensa entre

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todos(as) os(as) participantes, retirando-nos de nossos locais de trabalho e da rotina. O local foi o Campus Experimental da UECE5, em Pacoti/Ceará, que contém a infraestrutura de sala de aula/eventos, laboratório de informática, cozinha, espaço para refeição, dormitórios, área externa ao ar livre, além de espaços para estudar, para se reunir em grupos e para caminhar. Nesses diferentes ambientes, compartilhamos e vivenciamos diferentes situações, como o café da manhã, o almoço, a hora de dormir, e atividades de estudos e reflexões propriamente ditas. Todos foram momentos de intensa convivência, de trocas, de ensino e de aprendizagem. Sistematizando a metodologia do Curso de Formação dos Educadores para a Cidadania A metodologia transdisciplinar, vivencial, dialógica e reflexiva foi composta pelo tecido conjunto de situações distintas e interdependentes – cada qual constituída por relações, ações, interações, estratégias e características próprias – representadas, nesta primeira etapa do Projeto, pela(s): (1) gestão do projeto, realizada no diálogo entre Núcleo gestor e pesquisadoras-formadoras; (2) construções colaborativas das pesquisadoras-formadoras, em relação às atividades de gestão do projeto, de docência e de pesquisa; (3) pesquisa e construção de conhecimento, processos constantes que orientaram nosso olhar, nossas ações, registros e sistematizações; (4) docência presencial e virtual propriamente dita, concretizada, neste momento, no Curso de Formação dos Educadores para a Cidadania. Em relação à (1) gestão do projeto, foi desenvolvida sempre por meio do diálogo, com a participação dos diversos integrantes do Núcleo gestor e com uma ou mais pesquisadorasformadoras. Em momentos de importantes decisões em relação aos rumos do projeto, uma reunião era convocada e os diferentes olhares envolvidos eram respeitados. A seleção dos(as) educadores(as), também uma ação de gestão do Projeto, foi realizada de duas formas: o Núcleo gestor listou nomes de pessoas que tinham o perfil em sintonia com o projeto, e fez o convite pessoal; paralelamente, divulgou o Projeto em um programa de rádio para as demais pessoas do município. No fim, o que teve maior repercussão foram os convites. O perfil dos educadores para a cidadania também foi construído nesse diálogo entre Núcleo gestor e pesquisadoras-formadoras, composto pelas seguintes características: (a) ser alfabetizado e ter conhecimentos básicos de informática e ter acesso à Internet; (b) desejar 5

Mais informações sobre o Campus Experimental da UECE, em Pacoti/Ceará, disponíveis em: . Acesso em: 13 abr.2013.

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participar do processo de formação e dos desdobramentos, atuando junto à equipe de pesquisadoras-formadoras nos cursos para Agentes de Cidadania; (c) ter disponibilidade para frequentar o curso nos fins de semana agendados, bem como para participar das atividades a distância, no período acordado; (d) possuir experiência no trabalho em políticas sociais (movimentos sociais e comunitários); (e) apresentar características de liderança, proatividade e habilidade para organizar um cenário educativo; (f) comprometer-se com a proposta do Projeto. Com os pré-inscritos, em junho de 2012, em Horizonte, foi produzido um primeiro encontro no qual as pesquisadoras-formadoras dialogaram com os(as) participantes sobre a proposta, sobre como pensavam o desenvolvimento dos módulos, sobre o regime de imersão fora do município, sobre a relação do projeto com a UECE e foi feita a confirmação daqueles que, de fato, iriam participar do Projeto. Houve também um segundo encontro de integração das pessoas que decidiram, de fato, participar. Foi realizado um círculo de diálogos com palavras geradoras, a formação de uma teia com barbante e a apresentação e fala de cada participante, a partir das palavras escolhidas. Ao final, foi feito o fechamento sobre a rede, demonstrando-se a tensão e o movimento que ela fazia a qualquer movimento de algum dos integrantes. Em seguida, por meio de uma exposição dialogada, as pesquisadoras-formadoras apresentaram a proposta do curso, informaram o local dos encontros presenciais, combinaram os horários, alertaram para as roupas etc. Para finalizar, os(as) educadores(as) efetivaram sua inscrição. Em relação às (2) construções colaborativas das pesquisadoras-formadoras, foram processos vivenciados em conjunto – gestão do curso, planejamento, docência, reflexão e pesquisa – nas quais temos, presentes e imbricadas, algumas categorias que identificamos como: diálogos a respeito de diferentes temáticas a todo momento compartilhadas entre as pesquisadoras, seja por email (com mensagens coloridas com a contribuição de cada uma em uma cor diferente), telefone ou presencialmente; afinidade de ideias e propósitos; companheirismo nas decisões e ações realizadas em comum acordo; confiança mútua de que decisões e ações foram feitas de forma ética e respeitosa; carinho expresso por palavras sensíveis, sorrisos, abraços e um “ombro amigo” em momento difíceis; amizade presente nas trocas, para além do projeto, na qual compartilhamos momentos de vida, sonhos e criações; respeito às diferentes opiniões e visões sobre um determinado assunto; atenção à fundamentação teórica de nossas ações e a busca de coerência entre a teoria que temos como base e a prática que desenvolvemos; transparência e clareza das ações, por meio da

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comunicação, de forma que todas pudessem saber sobre as decisões a respeito do caminho que estava sendo percorrido pelo Projeto; flexibilidade na reorganização do projeto, das reuniões, dos planejamentos das atividades presenciais e virtuais, de acordo com as emergências. As categorias não estão todas listadas aqui, mas estas foram as mais intensas neste momento do Projeto. Em relação à (3) pesquisa e à construção de conhecimento, estes aspectos foram processos constantes ao longo de todas as etapas e ações. Orientaram nosso olhar, nossas ações, registros e sistematizações dos momentos vivenciados e fizeram, também, com que estivéssemos atentas aos momentos de registro do que era vivenciado, por meio (a) de diários de campo, individuais e coletivos; (b) de filmagens dos encontros presenciais; (c) de atas detalhadas das reuniões realizadas com o Núcleo gestor; (c) de avaliações com questionários a respeito das atividades e da metodologia utilizada tanto em ambiente presencial quanto virtual. Enfim, o cuidado com a pesquisa e com a construção de conhecimento foi expresso por meio dessas ações, mas foi também evidenciado pelo processo reflexivo que acompanha cada etapa percorrida e pela atenção presente nos diálogos e nos planejamentos das atividades desenvolvidas, no sentido de revelar clareza dos conceitos e das estratégias escolhidas. Em relação à (4) docência presencial e virtual, a metodologia transdisciplinar pode ser expressa nas escolhas em relação aos espaços, às atividades pedagógicas e aos tempos. Primeiramente, vamos relatar os momentos de docência presencial, representados pelos encontros presenciais. Os locais de realização dos encontros presenciais permitiram a imersão dos(as) participantes, a diversificação de ambientes para a realização de atividades variadas que trabalharam a multidimensionalidade humana em conjunto, também, com a natureza e ao ar livre. As atividades pedagógicas envolveram diferentes sentidos (audição, visão, olfato, paladar, tato), diferentes dimensões do ser humano (cognitiva, expressiva, física, emocional, intuitiva, espiritual, social, individual, coletiva, política, biológica), habilidades (leitura, escuta, diálogo, fala, reflexão, sistematização, expressão em diferentes linguagens – música, desenho, poesia, dissertação) e conhecimentos (integração dos saberes prévios pessoais e profissionais de cada um, com as leituras realizadas individual ou coletivamente, e com os saberes das tradições). Assim, estas atividades foram organizadas de acordo com uma curva de realização, na qual foram contempladas e intercaladas atividades que desenvolvessem diferentes dimensões,

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habilidades e conhecimentos dos(as) participantes ao longo de cada período de formação de maneira fluida e equilibrada. Houve também o cuidado com a retomada das atividades de um dia para o outro e dentro de um mesmo módulo, buscando uma linha de trabalho e continuidade dos processos vivenciados e permitindo o avanço e o aprofundamento das reflexões e diálogos realizados. Estiveram sempre presentes momentos de diálogo com os(as) educadores(as) explicitando a abertura das pesquisadoras-formadoras para que, a qualquer momento, eles(as) pudessem se sentir à vontade para falar, para pedir momentos de pausa, caso o que estivesse sendo trabalhado não fizesse sentido. Em nossas falas, explicitávamos também nossa abertura às emergências e à necessidade de replanejar e de flexibilizar o que havia sido planejado para atendê-las. Houve também o diálogo aberto com os(as) participantes sobre reorganizações do planejamento. Ao serem comunicados(as) sobre as alterações, eles(as) podiam fazer propostas e/ou se expressar sobre as alterações sugeridas. Foram frequentes também momentos de diálogo entre as pesquisadoras-formadoras, antes, durante e depois de cada encontro presencial ou de cada atividade virtual, para planejamento e replanejamentos necessários. Nos encontros presenciais, também foram realizadas meditações para começar ou finalizar o dia de trabalho como forma de criar um ambiente, entre as integrantes da equipe, de harmonia, consciência, tranquilidade, integração, sintonia e paz. Na

escolha

epistemologicamente

dos

autores

com

e

algum

dos dos

textos,

selecionamos

pressupostos

materiais

teóricos:

coerentes

Complexidade,

Transdisciplinaridade e Educação biocêntrica e coerentes também com os assuntos trabalhados em cada módulo. Na realização das vivências, ao longo dos encontros, a escolha das músicas que as acompanham e as orientam foi feita de maneira consciente e coerente de acordo com a proposta da vivência. Mesmo nas vivências emergentes, a música esteve em sintonia com o cenário que se desejava criar e com as intenções pedagógicas que se tinha com a atividade. A música orienta o ritmo e o tempo da vivência e das interações, traz mensagens, evoca emoções e sensações, prepara corpo, mente e espírito para a experiência proposta. Nesse curso, vários tipos de tempo foram trabalhados e cuidados: (1) tempo das atividades em si – estávamos sempre em busca de equilíbrio para dar conta de alcançar os objetivos propostos, dar o tempo para as atividades serem realizadas da maneira mais

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completa possível, englobando o tempo da fala, o tempo da reflexão em grupos, o tempo da escrita, o tempo das apresentações, o tempo da locomoção/deslocamento, o tempo da alimentação. Também trabalhamos com os (2) tempos internos de cada um. Buscávamos respeitar, ao máximo, os tempos de cada um e do grupo, realizando ajustes no planejamento de acordo com as demandas emergentes, mas sempre cuidando também para não atrapalhar o tempo das atividades. (3) O tempo para descanso do corpo e da mente depois do almoço e antes das atividades noturnas, quando estas aconteceram, apesar de fazer parte dos tempos internos, foi uma demanda coletiva. Também foram considerados os (4) tempos para contemplação e para lentidão, em busca de criar momentos para que a observação e o sentimento do que era vivenciado em cada situação pudessem ser integrados e religados ao corpo, à razão, à emoção e ao espírito. Estes últimos tempos, de alguma forma, tinham também o objetivo de fazer com que a experiência vivida tivesse “tempo” para fazer sentido, para ser trabalhada internamente por cada um. A docência virtual foi representada pelas atividades pedagógicas de interação e de reflexão desenvolvidas no ambiente virtual Moodle. A construção de cada atividade, também realizada de forma conjunta pelas pesquisadoras-formadoras, foi feita de maneira complementar às demandas e às necessidades que emergiram nos encontros presenciais. No módulo 1, por exemplo, a atividade sobre o projeto de vida prevista para o encontro presencial não pôde ser realizada, devido ao tempo das demais atividades e das interações e reflexões criadas. Mas, por ser considerada importante para este momento inicial do curso, foi, então, concretizada via ambiente virtual, por meio de uma atividade de vivência, diálogo e vínculo sobre e com o projeto de vida de cada participante. Duas questões importantes a serem abordadas na docência virtual, foram o cuidado no desenvolvimento das orientações das atividades e a interação contínua das pesquisadorasformadoras com os(as) educadores(as). No caso das orientações das atividades, além de serem organizadas de forma a facilitar a compreensão dos objetivos e passos a serem realizados, tinham como aspectos relevantes: (a) o uso da cor e de imagens, de forma a permitir agradável leitura e construção de um cenário de aprendizagem; (b) a indicação de uma música – de forma semelhante à música utilizada nas vivências nos encontros presenciais – que auxiliava na ambientação dos momentos de reflexão e de silêncio, os quais os(as) participantes eram convidados(as) a realizar antes da atividade em si e antes da interação em um fórum de diálogos. Em relação à interação das pesquisadoras-formadoras com os(as) educadores(as),

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essa foi uma dimensão importante nos momentos virtuais, pois esse acompanhamento e diálogo foram realizados com frequência (pelo menos, em dias alternados), no sentido de não deixar ninguém sem auxílio, resposta ou orientação. O ambiente virtual também foi o espaço no qual mantivemos contato com os(as) educadores(as) no tempo de intervalo entre um encontro e outro. Divulgamos variados informes e tiramos dúvidas sobre os encontros presenciais e sobre o próprio ambiente virtual. Também realizamos as avaliações dos módulos, via questionários com questões abertas e fechadas, e compartilhamos os textos utilizados nos encontros presenciais, vídeos e textos complementares às temáticas abordadas. Cabe ressaltar que a ferramenta email também foi usada, principalmente quando eles(as) tiveram problemas de acesso ao ambiente virtual. Apesar de apresentadas separadamente, todas essas relações, ações, interações, estratégias e características próprias de cada uma das situações sistematizadas acima – gestão do projeto, construções colaborativas das pesquisadoras-formadoras, pesquisa e construção do conhecimento e docência presencial e virtual – ocorreram de maneira integrada, imbricada, interdependente, complexa e complementar. Os elementos apontados pelos autores, em cada uma das características principais dessa metodologia, podem ser encontrados no que foi sistematizado acima, pois podemos perceber que ela se constitui e é tecida na integração do diálogo amplo; da multidimensionalidade

humana,

com

todos

os

sentidos

e

dimensões;

da

multidimensionalidade e multirreferencialidade da realidade, explorando o individual, o coletivo, o global e o local; das vivências; do trabalho com a integralidade e inteireza dos sujeitos participantes, como sujeitos das experiências vividas; da pesquisa; das reflexões e da busca de sentido individual e coletivo para o vivido; da articulação dos conhecimentos prévios com os novos saberes práticos, científicos e poéticos; da expressão utilizando diferentes linguagens; do fortalecimento dos vínculos consigo mesmo, com o outro e com a totalidade, por meio das vivências, das leituras e das reflexões; do trabalho com os diferentes tempos; da flexibilidade de tempos, de espaços e de planejamento; da relação entre os momentos presenciais e os virtuais. Conclusões finais e provisórias Essa metodologia ainda continuará sendo tecida ao longo de todo o Projeto, por meio das demais etapas, se constituindo na dança das relações, ações, interações, estratégias

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construídas, de maneira a fortalecer os vínculos criados e a estabelecer novos vínculos com aqueles e aquelas que ainda irão se integrar a este movimento. O grande objetivo de todo esse processo, dessa metodologia, é ampliação da consciência. Uma consciência que se expanda em direção à compreensão de si mesmo, do outro, da totalidade e da realidade e, consequentemente, conduza à transformação. Não é simplesmente transformar a realidade. Mas é iniciar a transformação de nós mesmos para, aí sim, podermos gerar ações pela paz, direitos humanos e cidadania nos contextos em que vivemos e convivemos. Para o desenvolvimento de outros projetos com esse tipo de metodologia, ressaltamos como vital a existência de sintonia, de envolvimento, de participação e de diálogo entre todos os participantes da gestão do projeto. Chegamos com as sementes de uma proposta que encontrou o solo fértil e, imediatamente, se espalhou e se enraizou. Agora continuamos regando com diálogo, nutrindo com participação e, pouco a pouco, com cuidado e atenção, vamos colhendo os frutos dessa integração. Continuaremos também nessa busca de coerência e reflexão entre as teorias, que temos como base, e as práticas, que desenvolvemos, em todos os níveis das realidades das quais fazemos parte, em todos os ambientes e relações em que nos envolvemos para que o Projeto continue seu caminho. Posso afirmar, com toda certeza, que do grato convite que recebi em 2011, as experiências que estão sendo vividas em conjunto com as outras pesquisadoras-formadoras, com o Núcleo gestor e com todos os educadores e educadores, estão permitindo trazer para os campos da prática e da pesquisa os conhecimentos até então estudados em diálogo com os autores. Por meio dos processos de pesquisa e de sistematização das experiências, vou atribuindo sentido, corporificando as aprendizagens, tomando consciência do que me passa, do que me acontece, e me transformando, enquanto pessoa, docente e pesquisadora, de maneira a transformar as realidades das quais faço parte e, assim, poder construir tantas outras metodologias transdisciplinares, vivenciais, dialógicas e reflexivas. Essas conclusões são finais, pois aqui terminamos as sistematizações, relatos e reflexões planejados para este artigo. Mas também são provisórias, pois as informações trabalhadas nestas páginas se transformarão junto com o caminhar do Projeto. Sendo assim, cada final de percurso se torna uma possibilidade de novas futuras aprendizagens, de um novo início.

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