Curso de Teologia Fundamental - Revelação

July 22, 2017 | Autor: Paulo Santos | Categoria: Teologia
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Descrição do Produto

DIOCESE DE ESTÂNCIA
INSTITUTO DE TEOLOGIA BEATO JOÃO XXIII
FORANIA DE ESTÂNCIA









CURSO DE

TEOLOGIA FUNDAMENTAL




Prof. Pe. Iuri Ribeiro dos Santos








Annus Domini
2013

ÍNDICE





INTRODUÇÃO


I – PARTE: NOÇÃO BÍBLICA DE REVELAÇÃO


1) A REVELAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO.


2) A REVELAÇÃO EM O NOVO TESTAMENTO


II – PARTE: O TEMA DA REVELAÇÃO NOS STOS PADRES


1) PRIMEIRAS TESTEMUNHAS


2) SANTO IRINEU


3) TESTEMUNHAS DA IGREJA GREGA


4) TESTEMUNHAS DA IGREJA LATINA


III – PARTE: A NOÇÃO DE REVELAÇÃO NA TRADIÇÃO TEOLÓGICA


1) A ESCOLÁSTICA DO SÉCULO XIII


2) ESCOLÁSTICOS PÓS –TRIDENTINOS


3) A RENOVAÇÃO ESCOLASTICA DO SÉCULO XIX


4) TEOLOGIA DA REVELAÇÃO NO SÉCULO XX


5) O II CONCÍLIO DO VAT. E A CONSTITUIÇÃO "DEI VERBUM"


IV – PARTE: REFLEXÃO TEOLÓGICA


1) ENCARNAÇÃO E REVELAÇÃO


2) MILAGRE E REVELAÇÃO


3) FINALIDADE DA REVELAÇÃO


V – PARTE: SAGRADA ESCRITURA

1) Texto
2) Inspiração
3) Canonicidade
4) Verdade bíblica
5) Interpretação da Bíblia

VI – PARTE: TRADIÇÃO





VII – PARTE: A FUNÇÃO DO MAGISTÉRIO





VIII – PARTE: O DOGMA





IX – PARTE: O ATO DE FÉ

INTRODUÇÃO

A revelação ou a palavra de Deus à humanidade é a primeira
realidade cristã; o primeiro fato, o primeiro mistério, a primeira
categoria. A revelação é o mistério primordial, o que nos comunica todos
os outros.
A revelação é a primeira das categorias que fundamentam toda a
pesquisa teológica. Revelação, Inspiração, Tradição significam para a
ciência teológica o mesmo que as noções básicas para as ciências
humanas. A revelação é o primeiro fato, primeiro mistério e a primeira
categoria do cristianismo.
A revelação observa "a realidade primária e fundamental" do
cristianismo. Por isso, é tanto mais de se admirar que a teologia
católica não tenha quase examinado e desenvolvido todas as variações
desse tema. Em teologia tudo depende da revelação divina, tudo a ela se
refere, nada se explica a não ser mediante a sua luz.
Em teologia, contudo há um tratado sobre a revelação. Tratado que
estuda o fato revelação e o conjunto de sinais que nos permitam
estabelecê-lo com certeza. Se deixássemos de refletir sobre a
intervenção de Deus na história e sobre os sinais dessa intervenção, se
exporia afinal ao perigo do fideísmo[1].
É estabelecido que Deus falou, e que a aparição do Cristo na
história é o ponto mais denso dessa intervenção, já teríamos, sem
dúvida, feito muito, mas não tudo. O conceito de revelação é: "A
intervenção primeira de Deus que sai do seu mistério, dirigindo-se a
humanidade e comunicando-lhe seu desígnio salvífico".
Assim, a Teologia Fundamental é o tratado que estuda o fato da
revelação e o conjunto de sinais que nos permitam estabelecê-lo com
certeza. A teologia fundamental tem as seguintes funções: Teologia
apologética e Teologia dogmática.
Também outro conceito muito importante dentro deste tratado
teológico é o de Fé como a resposta do homem a Deus que se revela e a ele
se doa, trazendo ao mesmo tempo uma luz superabundante ao homem em busca
do sentido ultimo de sua vida (CIC no 26).

I – PARTE: NOÇÃO BÍBLICA DE REVELAÇÃO

1) A REVELAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO.
Caracteriza a religião do Antigo Testamento pela afirmação da
intervenção de Deus na história, intervenção devida unicamente a sua
livre decisão. Essa intervenção pode ser entendida como: encontro de
Alguém com alguém; Deus que interpela ao homem e este que lhe responde
mediante a fé e a obediência. O fato desse conteúdo expresso acima,
dessa comunicação nós o chamamos de "revelação".
Essa revelação se apresenta, como a experiência da ação de uma Potência
Soberana que modifica o curso normal da história e da existência
individual. Porém, não é uma manifestação violenta de poder, é uma
potência que dialoga, anuncia e explica o seu desígnio de salvação.
Sendo que Deus não fala a massa, mas sim, a um povo por meio de seus
intermediários que transmitirão sua palavra e exigirá em seu Nome uma
resposta.
No antigo testamento ainda não tem um termo técnico que possa traduzir
a idéia de revelação, porém, se utiliza muito a expressão "Palavra de
Iahweh", para expressar o termo revelação e a comunicação Divina.
O mais importante no antigo testamento não é ver a divindade, mas sim,
ouvir a sua palavra. É por sua palavra que Deus, progressivamente,
introduz ao homem no conhecimento de seu ser íntimo[2]. Traçar, pois, a
história da palavra de Deus é traçar ao mesmo tempo a história da
revelação.
Revelação no Antigo Testamento: É a intervenção gratuita e livre de
Deus, Santo e o oculto que, progressivamente se manifesta e torna
conhecidos seus desígnios salvífico de estabelecer uma aliança com
Israel, e depois com todos os povos, para afinal realizar na pessoa de
seu ungido a promessa outrora feita a Abrão.
I – As etapas da história da Revelação.
1.1 – Fase Antiga, Gênesis.
Caracteriza pelas teofanias e manifestações oraculares. Narra que
Iahweh apareceu sob formas humanas a Abraão[3], para anunciar-lhe o
nascimento de Isaac. No antigo testamento nos momentos mais difíceis o
povo consultava a Iahweh, seu Deus, que ele sabe estar presentes em
todas as suas ações. Fases características do antigo testamento:
teofanias – manifestações oracular. Técnicas para penetrar nos
pensamentos e segredos dos deuses. Com os profetas essas técnicas
arcaicas tendem a desaparecer, dando lugar à experiência da Palavra que
prevalece, purifica-se então as técnicas usadas pelos povos politeístas
antigos, a era da Palavra de Iahweh.
1.2 – Fase Mosaica - A aliança no Sinai.
Deus libertador do povo. Liberta das mãos do faraó para fazer uma
aliança com o povo, os libertou "De", mas "Para" ser seu povo escolhido.
Consiste em que Iahweh por seu poder e sua fidelidade, livra o povo do
domínio egípcio[4], por essa aliança faz desse povo sua propriedade e
torna-se chefe da nação. A aliança transformou em comunidades as tribos
que tinham saído do Egito, dando-lhes uma lei, um culto, um Deus, uma
consciência religiosa[5]. Torna-se Israel um povo governado por Iahweh.
3. - O Profetismo.
Nova fase da história da palavra. Os profetas fazem o chamamento à
justiça e a fidelidade ao serviço de Deus. Jeremias tentou determinar os
critérios da autêntica palavra de Deus: a) A realização da palavra do
profeta; b) Fidelidade a Iahweh e a religião tradicional; c) O
testemunho do próprio profeta de sua vocação.
Constitui uma nova etapa da palavra. Os profetas anteriores ao exílio
(Amós, Oséias, Miquéias, Isaias) são os guardiões e defensores da ordem
moral imposta pela aliança. Sua pregação consiste na interpelação a
justiça e a fidelidade, ao serviço do Deus todo poderoso e três vezes
santo.
1.4 – Fase Deuteronômica
Teologia da lei, quem cumpre a lei é abençoado, quem não cumpre é
amaldiçoado. A lei não é um simples mandamento, um simples comentário,
mas são preceitos acompanhados de evocações históricas, promessas e
ameaças que inspira amor e respeito pela lei.
Tradição oriunda do oriente, que tem duas correntes: legalista e
profética[6]. A história de Israel, com suas desgraças aparecem como
conseqüência lógica da infidelidade constante e renovada. Iahweh,
revelando sua vontade prometera sua bênção à obediência de seu povo.
Israel, pois, se quiser viver, deve por em prática todas as palavras da
lei, que saída da boca de Iahweh é fonte de vida. Também chama o
decálogo de: as de 10 palavras, estende a expressão a todas as cláusulas
da lei, isto é, ao conjunto das leis morais, civis, religiosas e
criminais. Nas leis do Sinai, o dabar divino era simples mandamento, sem
comentários. No deuteronômio, pelo contrário, os preceitos são
acompanhados de evocações históricas, promessas e ameaças, que deve
inspirar o respeito e o amor a lei. Consiste a lei em amar a Deus de
todo o coração e de toda a alma.
1.5 A literatura histórica
A palavra de Deus faz a história e se torna compreensível.
É a teologia da história. Pois, conta à realidade da história da
salvação e uma teologia da história. A aliança concluída por Iahweh e as
condições impostas por Ele supõem, que o curso dos acontecimentos é
regulado pela vontade divina, levando em conta as atitudes do povo
eleito. Em última análise, é a palavra de Deus que faz a história e a
torna compreensível. O importante nessa literatura histórica é o texto
da profecia de Natan que dá a aliança conexões com a realeza e inicia o
messianismo real. Com essa profecia a dinastia de Davi tornar-se para
sempre a aliada direta de Iahweh, ponto central da história da Salvação.
1.6 Profetismo no exílio[7]
Sem deixar de ser uma palavra viva se torna uma palavra escrita.
Ezequiel é o ministro de uma palavra irrevogável, que anuncia os
acontecimentos dando-lhes um desenrolar infalível. Uma das primeiras
profecias de Ezequiel é o número e amplitudes das visões. Há palavras
que comentam essas visões por si mesmas, são ensinamentos. Uma segunda
característica é o tom pastoral da palavra de Ezequiel. Ezequiel começa
a formar o novo Israel, como faria um diretor espiritual. Deutero-
Isaias, que devemos ler no contexto do exílio, considerar o dabar divino
em seu dinamismo a uma só vez cósmica e histórica. Manifesta-se a
transcendência de Iahweh primeiramente em natureza.
1.7 Literatura sapiencial:
Deus usou da experiência humana para dar o homem a conhecer-se a si
mesmo.
É testemunha de uma tradição muito antiga de Israel. O mesmo Deus que
ilumina os profetas usou a experiência humana para dar o homem conhecer-
se a si mesmo. Inicialmente, a sabedoria do livro dos Provérbios, é a
simples reflexão, positiva e realista, sobre o homem e seu
comportamento, para ajudá-lo a se orientar na vida com prudência e
descrição. Assim diz o provérbio: "Sábio é quem cumpre a lei de Deus,
pois toda a sabedoria provém de Deus. Somente Ele a possui plenamente;
manifesta-se em suas obras e comunica aos que o amam".
1.8 O saltério
Resposta do homem à revelação; realização da revelação.
Escrito por Davi e Salomão e assim nasceu a fé de Israel de forma
rezada. Este livro foi formado aos poucos, ao longo de toda uma
história, é principalmente uma resposta a revelação; mas também
revelação, pois a oração dos homens, pelos sentimentos que manifesta,
dá a revelação toda a sua dimensão. A grande, a majestade, a potência,
a fidelidade, a santidade de Iahweh revelada pelos profetas, refletem-se
nas atitudes do crente e na intensidade de sua oração (lex orandi, lex
credenti). Em resumo: para os salmistas a palavra de Deus é ao mesmo
tempo promessa e potência que se exerce em a natureza e na história[8].
1.9 O papel da escritura na história da salvação;
Após o exílio somente é que se constituíram essas grandes compilações,
redigidas em camadas sucessivas, com dados muito antigos, chamadas
código deutero-canônico e código sacerdotal. Fixando-se, corre o risco
de perder um tanto do dinamismo que tivera nos profetas; será preciso
atualizá-la sempre, aplicando-a as novas situações históricas, numa
releitura constante que por si mesma será um aprofundamento.

1 II – Valor noético e dinâmico da palavra de Deus

A palavra de Deus vem apresentada etimologicamente como o dabar divino.
A palavra não é, pois, uma simples expressão de idéias abstratas, está
carregada de sentido, tem um conteúdo noético que vem da concentração do
coração sobre o objeto ou de pensamentos que dele se apossam, traduzindo
ao mesmo tempo um estado da alma, que de algum modo impregna a palavra
pronunciada, articulada.
Em outras palavras, "A palavra é a expressão corporal do conteúdo da
alma, por isso quem dirige uma palavra a outro, faz nascer um pouco de
sua própria alma na alma do outro". Para Israel a palavra tem duplo
valor: noético e dinâmico.
Em resumo: a palavra é uma força atuante cujo dinamismo se fundamenta
no dinamismo mesmo de quem a pronunciou. Por isso ela é reveladora.
Ninguém fala sem se revelar.

1 III - Revelação cósmica e revelação histórica

A revelação cósmica: Principalmente através da história é que Israel
conheceu Iahweh, quando no Egito experimentou seu poder libertador (Deus
é um Deus que liberta). Compreendeu Israel que o mesmo Deus que o
suscitara do nada da escravidão, também do nada fizera surgir o cosmos.
Sua soberania é universal. Sendo que uma vez que a criação é o que foi
dito por Deus, ela é também revelação.
A revelação histórica: começa com Abraão, Moisés e os profetas. Torna-
se então palavra plenamente inteligível. Dirige-se Deus ao homem,
interpela-o, torna-o participante de seu desígnio, fala-lhe. Torna
assim, a revelação mistério de um encontro pessoal entre o Deus vivo e o
homem. A lei e a palavra profética são as formas privilegiadas dessa
revelação.
IV - A revelação profética
A revelação profética é a outra forma de revelação histórica. A
revelação do Sinai constitui sempre um bloco central da revelação; mas,
se perdurou no AT, principalmente através da época dos reis do exílio,
se foi aprofundada e desenvolvida, foi mérito principalmente dos
profetas. A autoridade e originalidade do profeta vêm de sua experiência
privilegiada: ele conhece Iahweh, pois Iahweh lhe falou e confiou sua
palavra[9].
O profeta recebeu a palavra não para guardá-la, mas para publicar e
anunciar. O profeta é o arauto de Iahweh, escolhido para proclamar as
palavras que d'Ele recebeu e ouviu. É o homem da palavra. Está entre os
homens como intérprete, autorizado por Deus, de tudo que acontece no
mundo, na humanidade e na história. Por fim, o profeta está ligado a
Deus por sua palavra.
O campo de ação da palavra profética é a história, da qual é criadora e
intérprete. A ação divina, que faz da história uma obra de salvação ou
de condenação, é duplamente o efeito da palavra: é a palavra de Iahweh
que suscita e dirige os acontecimentos, como também é a palavra de
Iahweh que lhes interpreta o sentido. Todas as etapas da história de
Israel foram precedidas pela palavra: criação (Gn 1,3), o dilúvio (Gn
6,7), vocação de Abraão (Gn 12,1), vocação de Moises e saída do Egito
(Ex 3,14, 30, 31), a marcha desde o Horeb até Cannã (Dt 1,6), vocação de
Samuel (1Sm 3), realeza (1Sm 8,7), eleição de Davi (1Sm 15,10), aliança
com a dinastia de Davi na profecia de Natã (2Sm 7), divisão do reino de
Israel (1 Rs 11,31), queda da casa de Acab (1Rs 21,17-24), o exílio (Jer
25,1-3), ruína de Jerusalém (Ez 1,23), retorno do cativeiro (Is 40,2).
Para Israel, a história é um processo que Iahweh dirige para um término
que prefixou. A palavra profética não apenas anuncia e suscita a
história, como também a interpreta[10].
A história da salvação enfim, é uma seqüência de intervenções Divinas
interpretadas pelos profetas.
Conclusão: "Conseqüentemente, Deus, seus atributos, seus desígnios, se
revelam, não abstrata, mas concretamente na história e pela história. A
mensagem de revelação está incorporada na história. Há progresso no
conhecimento de Deus, mas através dos acontecimentos que a palavra de Deus
anuncia, realiza, interpreta".
V - Objeto da Revelação
O objeto da revelação é a revelação do próprio Iahweh e revelação do
seu desígnio de salvação. O Deus do AT revela-se inicialmente como um
Deus vivo e pessoal, como Aquele que é, em oposição aos ídolos mudos e
mortos. Os profetas aos poucos vão educando Israel para uma compreensão
sempre mais profunda dos atributos divinos: Amós põe em evidência sua
justiça; Oséias, seu amor terno e ciumento. Isaias, sua grandeza e
transcendência; Jeremias ensina uma religião mais interior; Ezequiel
lembra as exigências da santidade de Deus; Deutero-Isaias, leva para uma
religião mais universalista.
VI - Resposta do homem à revelação
Se Deus fala, o homem deve escutar. Escutar indica a primeira atitude
do homem ante a revelação: não de modo material e passivo, mas em
disponibilidade totalmente ativa. A palavra ouvida deve ser assimilada
pela fé e pela submissão, numa entrega de todo o ser, como fez Abraão.
Revelação e fé são correlativas: a fé do antigo testamento, com efeito,
corresponde exatamente ao tipo de revelação que lhe foi feita. No AT a
revelação era essencialmente lei e promessa de salvação; a fé,
principalmente, obediência e confiança[11].
VII - Traços característicos da Revelação
1) A revelação é essencialmente interpessoal: Antes que manifestação de
alguma coisa é manifestação de alguém com alguém. Iahweh o Deus vivo,
estabelece com o homem relação de pessoa a pessoa.
2) A revelação bíblica é uma iniciativa Divina: não é o homem que descobre
a Deus; é Iahweh que antes, se manifesta, quando quer, a quem ele quer.
3) É a palavra que dá unidade a economia da revelação: a religião do AT é a
religião da palavra ouvida. Deus revela e se revela pela palavra. Os
profetas comunicam "a palavra de Deus", seus desígnios e as vontades de
Deus, o homem é convidado à obediência da fé.
4) Pela revelação o homem é posto em confronto com a palavra, uma palavra
que exige fé e execução: a sorte do homem dependerá da opção decisiva a
favor ou contra a palavra. O objetivo, porém, da revelação é a vida e a
salvação do homem, sua comunhão com Deus.
5) A revelação é toda orientada para a esperança de uma salvação que há de
vir: cada revelação profética marca uma realização da palavra, mas deixa,
ao mesmo tempo, lugar para a esperança de uma realização ainda mais
decisiva.
VIII - Conclusão
A noção de revelação é a intervenção gratuita e livre do Deus Santo e
oculto que, progressivamente, se manifesta e torna-se conhecido seu
desígnio salvífico de estabelecer uma aliança com Israel, e depois com
todos os povos, para, afinal, realizar na pessoa de seu Ungido a
promessa feita a Abraão, abençoando em sua posteridade todos os povos da
terra.

CAP. II: A REVELAÇÃO EM O NOVO TESTAMENTO

2.1 - Introdução
A noção de revelação no NT apresenta-se com maior complexidade e
diversidade do que no AT. Entre ambas as alianças, deu-se um
acontecimento de capital importância: "Muitas vezes e de muitos modos
falou Deus outrora a nossos pais, nos profetas; nestes últimos tempos
falou a nos no seu Filho" (Hb 1,1). Em Jesus, o verbo encarnado, o Filho
está presente entre nós. Sendo assim, Cristo é a plenitude da revelação.
Revelação no NT: É a ação, sumamente livre e amorosa, pela qual Deus,
numa economia de encarnação, já de alguma forma iniciada no AT, dá-se a
conhecer em sua vida intima e no desígnio amoroso que eternamente
formou, de salvar e reconduzir a si todos os homens pelo Cristo.
2.2 - A tradição sinótica
2.2.1 - Os vocábulos
Na tradição sinótica os termos que descrevem a ação reveladora de
Cristo são: pregar (no sentido de proclamar), pregar o Evangelho,
evangelizar, ensinar e revelar. Como os profetas, Cristo prega e
apresenta sinais. Cristo não recusa os títulos (Mestre, Rabbi etc) e
tampouco os reinvidica. Pois, ele é mais que um profeta e rabbi: é o
Filho de Deus que partilha dos segredos do Pai.
Habitualmente os sinóticos apresentam a Cristo ensinando. Ao passo que
"Kerigma", corresponde principalmente ao aspecto dinâmico da palavra. O
ensinamento acompanha normalmente o choque do primeiro anúncio da
salvação.
2.2.2 - O Cristo como pregador
Pela sua pregação Cristo continua a tradição dos profetas.
Essencialmente sua pregação é o evangelho e o Reino de Deus.Mas, pela
sua pessoa ele sobrepassa os profetas.
Cristo continua a tradição dos profetas e aperfeiçoa. Percorre todo
caminho predito pelos profetas. Essencialmente sua pregação é o
evangelho do Reino: Cristo anuncia a inauguração desse Reino cuja
eminência fora anunciada pelo Batista. Como revelador, pela excelência
de sua pessoa, sobrepassa os profetas.
É válido lembrar que Cristo não somente prega, mas também convida a
outros a participar de sua missão: "E constitui doze deles, para andarem
com Ele, e para os mandar pregar"[12]. Os que acolherem a mensagem dos
apóstolos serão salvos; os outros serão condenados[13]. Entre a pregação
de Cristo e a dos apóstolos há continuidade.
2.2.3 - O Cristo como Doutor
O Cristo ensina, chamam-no de Rabi. Aos 12 anos já ensina no templo
entre os doutores. Ensina nas sinagogas e nas montanhas. Ele tem
discípulos como os doutores de Israel. Manifesta esclarecimentos,
instrui, discute e polemiza. Fala com autoridade de Iahweh.
Cristo quando ensina chamam-no de Rabbi[14]. O povo e os doutores da
lei dão-lhe, umas quarenta vezes esse título. Muitas vezes o ensino de
Cristo é ocasional; responde as perguntas, corrige as atitudes (ciúme,
instinto de vingança, vaidade e violência) inculca-lhes princípios da
nova moral: pobreza, humildade e caridade. Contudo, seu ensino, sua
pedagogia é sistemática.
2.2.4 - Cristo Filho do Pai
Cristo é em si mesmo a mais alta manifestação profética, por ser o
filho único do Pai, o herdeiro, é por isso que ensina com grande
autoridade.
Se o Cristo é em si mesmo a mais alta manifestação profética possível,
se ensina com tão grande autoridade, deve-se ao fato de ser Ele o Filho
único, o herdeiro, a quem o Pai confiou tudo[15]. Ele é o Filho, pois
conhece o Pai e seus segredos, cujo conhecimento comunica a quem bem lhe
apraz. O Filho não pode ser reconhecido pelo que é sem uma luz concedida
pelo Pai: graça recusada ao orgulho dos sábios. A aceitação da revelação
Divina é obra da Graça.
2.2.5 - A fé, resposta do homem
A resposta condizente com a pregação da Boa Nova é a fé. São os homens
convidados a escutar e compreender, isto é, a aceitar na fé a palavra de
Deus e viver de acordo. Com efeito, Deus revela-se de forma tão
desorientadora que a revelação se pode tornar para os homens pedra de
escândalo, ocasião de incredulidade.
2.2.6 - Conclusão
Na tradição sinótica, Cristo é o revelador enquanto proclama a Boa
Nova do Reino dos céus e ensina com autoridade a palavra de Deus. A fé,
dom de Deus, revelação do Pai, é a resposta do homem à pregação do
Evangelho. O conteúdo essencial da revelação é a salvação oferecida à
humanidade sob a imagem do Reino de Deus, anunciado e instaurado por
Cristo.
2.3 - Atos dos apóstolos
Os atos dos apóstolos refletem a linguagem da Igreja primitiva e sua
nova fé. Os verbos concernentes aos atos dos apóstolos são: testemunhar,
proclamar o Evangelho e ensinar, formam a função apostólica.
1. - Os apóstolos testemunham
A primeira parte dos atos dos apóstolos insiste nos termos:
testemunhas e testemunhar. Testemunhar caracteriza a atividade
apostólica nos primeiros tempos após a ressurreição. Os que viram o
ressuscitado testemunham a sua volta à vida, tomando partido por ele
ante os inimigos. Testemunhas são em primeiro lugar os apóstolos, são
três as características dos apóstolos: 1)São escolhidos por Deus; 2) São
associados a Cristo durante a sua vida; 3) Viram-no após sua
ressurreição.
1. Testemunha por excelência é quem conheceu toda a obra de Cristo, do
batismo a ressurreição que é o término e a coroa de um só e único
processo de salvação. Testemunhar é, pois, a função própria dos que
viram e ouviram a Cristo, que viveram em sua intimidade e tiveram,
portanto, uma experiência direta, viva, de sua pessoa, doutrina e obra.
Os apóstolos em primeiro lugar são testemunhas da ressurreição, pois, é
esse o fato essencial que garante tudo o que procede e tudo o que ainda
deve vir. O testemunho apostólico é dado sob o poder do Espírito
Santo[16].
2.3.2 - Os apóstolos proclamam a Boa Nova
2. O testemunho dos apóstolos e dado na pregação ou kerigma. O testemunho
implica fidelidade a uma experiência e coragem para atestá-la. Kerigma
indica retumbância, poder, expansão, publicidade.
2.3.3 - Objeto do testemunho e da pregação
3. O que os apóstolos pregam, ensinam, atestam, o que seus ouvintes são
convidados a escutar e receber, é o Cristo ou a Palavra sobre o Cristo.
4. - A fé, resposta do homem
4. A resposta conveniente ao kerigma e ao testemunho é a fé. Os Atos dos
apost. descrevem o aumento continuo dos crentes sob a ação da Palavra.
5. A fé, segundo os Atos, é algo de global: é uma absoluta e total adesão
ao Cristo, é a fé no Senhor Jesus Cristo e em nome de Jesus. É doação ao
Cristo, aceitando-o totalmente, com tudo o que isso implica. Comporta
também uma "conversão" quem acredita no Senhor, converte-se.
2.3.5 - Conclusão
Os Atos descrevem a atividade apostólica como em uma continuação da
obra de Cristo. Os apóstolos ouviram-no falar, pregar, ensinar, revelar.
Recebeu D'ele a missão de testemunhar, sendo seu depoimento constituinte
da nossa fé. Essa fé é a resposta do homem a pregação, esta por sua vez
é obra divina, despertada pelo Espírito Santo que interiormente fecunda
a palavra extenuada e ouvida.
2.4 - São Paulo
São Paulo para penetrar no âmago da idéia de revelação usa as
categorias de "mistério e de Evangelho".
2.4.1 - Os termos
A simples justaposição dos vocábulos usados já indica o movimento de
seu pensamento sobre a revelação. Deus revela, torna manifesto, dá a
conhecer, ilumina. Os apóstolos falam, ensinam, pregam, anunciam a Boa
Nova.
2.4.2 - O mistério Paulino
A teologia paulina é uma soteriologia,[17] cuja intuição fundamental
se exprime com o conceito de mistério. Principalmente nas epístolas do
cativeiro é que o termo aparece em toda a sua plenitude: indica então, o
plano divino da salvação manifestado e realizado em Cristo.[18] Reunindo
todos esses elementos de diversos textos, podemos dizer que o mistério,
de que fala Paulo, é o plano divino da salvação, oculto desde toda
eternidade e agora revelado, pelo qual Deus estabeleceu a Cristo como
centro da nova economia, constituindo-o, pela sua morte e ressurreição,
único princípio de salvação tanto para os gentios como para os judeus,
cabeça de todos os seres, anjos e homens.
2.4.3 - Etapas da revelação do mistério
Pode-se considerar o mistério em diversos planos:
a. No plano da intenção (mistério de Deus); na fase inicial o mistério de
Deus está oculto: segredo de infinita sabedoria.
b. No plano da realização, no Cristo e pelo Cristo (o mistério de Cristo);
Mas agora o mistério que outrora estava oculto está manifesto, revelado.
Pela vida, morte e ressurreição de Jesus o mistério entrou em fase de
realização; em Jesus Cristo cumpre-se e ao mesmo tempo revela-se o
desígnio salvífico de Deus. O mistério inicialmente é comunicado a
testemunhas privilegiadas: os apóstolos e os profetas. São eles os
mediadores e os arautos do mistério.
c. No plano do encontro pessoal (mistério do evangelho, da palavra e da
fé); revelado a testemunhas escolhidas, o mistério é dado a conhecer a
todos os chamados a Igreja. São Paulo estabeleceu uma equivalência
"concreta" entre o evangelho e mistério. Em ambos os casos temos a mesma
realidade, isto é: o plano da salvação considerado porém, sob ângulos
diversos. Sob um aspecto, é um "segredo", desvendado, revelado,
manifestado, transmitido ou comunicado; sob outro, é a boa nova, uma
mensagem proclamada anunciada. Evangelho e mistério têm o mesmo conteúdo
e objeto. Objeto duplo: soteriológico, isto é: a economia da salvação
pelo Cristo, e escatológico, ou seja, a promessa da glória com todos os
bens destinados aos escolhidos, frutos da cruz e da morte de Cristo.


d. No plano da sua extensão a humanidade (o mistério da Igreja).
2.4.4 - Resposta do homem
É pela fé que se tem acesso ao mistério, ao evangelho, a palavra. Fé
que é a resposta especifica do homem a palavra do Evangelho. É pela fé
na mensagem que os cristãos se abrem para a salvação. A palavra exige
ser escutada, acolhida e guardada. A adesão e submissão à mensagem
evangélica que não seria possível de forma meramente natural. É preciso
um dom da graça: a "iluminação" que venha de Deus como a criação da luz
no primeiro dia. Uma unção divina que desperta a fé nos corações dos que
ouvem a palavra de Deus. A palavra de Deus não é um simplesmente um
enunciado de verdades; é principalmente uma apresentação da pessoa de
Cristo, Senhor e Salvador, e do que Ele significa para todo o homem.
5. - Aprofundamento do mistério
O conhecimento do mistério e do evangelho é um conhecimento dinâmico,
sempre em crescimento. Progresso que se prende a sabedoria do desígnio
divino, medir-lhe a profundidade, é preciso que tenha uma alma
transformada pelo Espírito: exige uma verta maturidade religiosa.
6. - Revelação histórica e revelação escatológica
A revelação escatológica será plena manifestação e visão. Essa tensão
entre a história e a escatologia, entre a economia da palavra e a da
visão, da humildade e da glória, é característica de São Paulo.
7. - Finalidade do mistério
A finalidade imediata da revelação do mistério e da pregação do
Evangelho é levar os homens a obediência da fé.[19] "Tornar todos os
homens perfeitos em Cristo". "Edificar um templo santo do Senhor". Por
fim tem a finalidade "o louvor a glória e a graça" de Deus.
2.4.8 - Conclusão
Segundo são Paulo podemos definir a revelação como: "A ação livre e
gratuita de Deus que, no Cristo e pelo Cristo, manifesta ao mundo, a
economia da salvação, isto é, seu eterno desígnio de reunir tudo no
Cristo, Salvador e cabeça da nova criação". A comunicação desse desígnio
se faz pela pregação do Evangelho, confiada aos apóstolos e profetas do
novo testamento. A obediência da fé é a resposta do homem a pregação
evangélica, sob a iluminação do Espírito Santo; sendo uma adesão amorosa
ao plano de sua infinita sabedoria e caridade. A fé dá o começo a um
processo de crescimento contínuo no conhecimento do mistério que
atingirá seu termo na revelação de visão.

2.5 - Epístola aos Hebreus
Dirige-se aos judeus cristãos a epístolas aos hebreus. Demonstra a
excelência de Cristo como mediador e a superioridade de seu sacerdócio
sobre o da antiga aliança. Faz o paralelo entre a revelação da antiga
aliança e a da nova aliança. Para a história da noção de revelação a
epístola aos hebreus traz duas novidades; comparação entre a revelação
da nova aliança e da antiga aliança, grandeza e exigência da palavra de
Deus.
1. - Revelação da antiga e da nova aliança
O paralelo entre a revelação em ambas às alianças apresentam-se desde
o primeiro versículo: "Muitas vezes e de muitos modos falou Deus aos
nossos pais, nos profetas; nestes últimos tempos, falou a nos no seu
Filho, a quem conferiu o domínio de todas as coisas".( Hb 1, 1-2). Entre
ambas as economias há relação de continuidade (Deus falou), diferença
(tempo, modo, mediadores, destinatários), e excelência (superioridade da
nova economia). Entre a revelação da antiga e da nova aliança e a da
nova Aliança existe uma continuidade e semelhança, mas há também
diferença e separação. Primeira diferença: de época. Segunda diferença:
quanto ao modo. Terceira diferença: quanto aos destinatários. Quarta
diferença: os mediadores da revelação.
É a pessoa do Filho que, em última análise, constitui a superioridade
da revelação nova sobre a antiga. É a revelação do antigo testamento,
feita pelo intermédio dos anjos, e a revelação do novo testamento, feita
pelo Filho de Deus e suas testemunhas. A nova revelação pelo contrário
vem do céu, por um mediador celeste, Jesus, que inaugura o caminho novo
e vivo, através do véu de sua carne.
2. - Grandeza e exigência da palavra de Deus
O segundo tema que trata a epístola aos Hebreus e sobre a grandeza e
as exigências da palavra de Deus, sempre na perspectiva de comparação
entre ambas às alianças. O Cristo tem assim direito a uma fidelidade
muito superior a merecida por Moises, como Filho constituído sobre a
casa. Os cristãos são convidados a entrar no repouso do Senhor,
contanto, porém, que ninguém caia no mesmo exemplo da infidelidade.
3. - Conclusão
Na epístola aos hebreus o termo mais usado para designar revelação é
"palavra". Numa comparação entre as duas fases da economia da salvação,
a epístola põe em evidência a continuidade entre as revelações, ao mesmo
tempo a excelência da nova revelação.
2.6 - São João
Nos sinóticos, atos dos apóstolos e nas epístolas de São Paulo,
palavra de Deus é a designação que se dá a mensagem evangélica. A grande
novidade de São João é a equação que ele estabelece entre o Cristo,
Filho do Pai, e o Logos.
1. - Jesus Cristo, palavra de Deus e Filho de Deus.
O antigo testamento conhecia também a palavra criadora e reveladora,
enviada a terra para revelar os segredos de Deus, a Ele retornando uma
vez cumprida sua missão. Mas o antigo testamento não entendia (e
dificilmente poderia, pelo seu monoteísmo radical) a Sabedoria e a
Palavra de Deus como uma pessoa realmente distinta. Jesus Cristo é a
palavra eterna do Pai, como criadora e reveladora, mas enquanto pessoa.
Para João o Logos é uma pessoa, que mantém com o Pai o mais íntimo
comércio, dele distinta, Deus, no entanto, como ele mesmo, verbo de
Deus, palavra de Deus.
2. - A gesta do Logos
Apresenta-se o prólogo do Evangelho de São João como a gesta do Logos,
um resumo da história da manifestação de Deus por sua palavra. Podemos
distinguir três etapas dessa economia. A primeira manifestação de Deus é
a criança. Tudo criou com a palavra, Deus criou o mundo pela palavra.
Mas, de fato o homem permaneceu surdo a mensagem de Deus e foi um
fracasso: "O Logos estava no mundo, e o mundo por Ele foi feito, mas o
mundo não o conheceu". Por isso Deus escolheu um povo e se lhe
manifestou pela lei e pelos profetas; mas essa revelação, como a
primeira malogrou: "O Logos veio para sua casa e os seus não o
receberam". Finalmente, depois de ter falado pelos profetas, falou-no
Deus por seu Filho. Jesus Cristo é a palavra substancial de Deu, o Filho
único do Pai. Realiza-se a revelação porque a Palavra se fez carne e
assim se tornou mensagem divina, contando-nos em termos e preposições
humanas os segredos do Pai, principalmente o mistério de seu amor por
seus filhos. Três elementos fazem de Cristo o perfeito revelador do Pai:
sua preexistência como Logos do Deus. A encarnação do Logos. A
intimidade da vida permanente do Filho com o Pai, antes e depois da
encarnação.
3. - A revelação no vocabulário Joanino
Para João o Cristo é a palavra de Deus. Os termos que traduzem a visão
interior de João prendem-se, em sua maioria a idéia de revelação:
palavra testemunho, luz, verdade, glória, sinal, conhecer, saber, ver
manifestar etc. testemunhar é afirmar a realidade de um fato, dando a
afirmação toda a solenidade exigida pelas circunstâncias. Um processo,
uma contestação, forma o contexto natural do testemunho.
4. - O Cristo, testemunha do Pai
O Cristo fala como testemunha qualificada, pois é palavra de Deus. O
essencial do seu testemunho é que o Cristo é o Filho do Pai, o enviado
do Pai. o Salvador do mundo e que, pela fé nele depositado é que os
homens poderão chegar a vida eterna.




2.6.5 - O testemunho do Pai
De dois modos testemunha o Pai em favor de seu Filho. Em primeiro
lugar pelas obras. É o Pai que pelas obras de Jesus, testemunha em favor
de seu Filho.
Mas, para que dêem adesão a palavra do Filho é preciso que o Pai
arraste os homens e os de ao Filho. A fé um dom do Pai. E mais, o
testemunho é uma ação de toda a trindade. O Espírito finalmente, não
apenas possibilita a adesão a verdade, mas age também nos corações para
que continue sempre ativa a palavra de Deus recebida na fé. É o Espírito
que aplica e interioriza a palavra e o testemunho.
2.6.6 - O Cristo, Deus que revela e Deus revelado
A revelação parte do Cristo e ao mesmo tempo que do Pai. O Cristo é ao
mesmo tempo, pois, o Deus que fala e ao Deus ao qual se fala, quem
revela o mistério e é o próprio mistério.
2.6.7 - Características da Revelação
Em primeiro lugar é como um escândalo feito de forma inaudita e
inesperada: que a palavra seja feita em forma de carne e que o
acontecimento da salvação nos seja trazido por um homem visível e
palpável. A palavra de Cristo coloca o homem ante a uma opção decisiva:
a favor ou contra a vida.
A revelação, com efeito, é a luz da vida, já no prólogo Joanino o
Logus é luz e vida para os homens. A tragicidade da revelação está em o
homem pode fechar os olhos a luz, não aceitar o testemunho e correr
assim para a ruína.
2.6.8 - Conclusão
Para João a revelação como palavra de Deus é feita carne, e por essa
carne, palavra e testemunho formulada humanamente, dirigida
imediatamente aos apóstolos e por eles a toda a humanidade, para atestar
a caridade do Pai, que envia o seu Filho entre os homens para que,
acreditando nele, tenham a vida eterna.
A revelação é a ação sumamente livre e amorosa, pela qual Deus, numa
economia de encarnação, já de alguma forma iniciada no antigo testamento
(pela instrumentalidade da palavra profética), dá se a conhecer em sua
vida íntima e no desígnio amorosos que eternamente formou de salvar e
reconduzir a si todos os homens pelo Cristo. Ação que se realiza pelo
testemunho exterior do Cristo e dos apóstolos e pelo testemunho interior
do Espírito que opera internamente para a conversão dos homens ao
Cristo. Esse testemunho do Cristo e dos apóstolos é ampliado e
confirmado pelos sinais de poder. Dessa forma, pela ação conjunta do
Filho e do Espírito, o Pai manifesta e realiza seu desígnio de salvação.



II – PARTE: O TEMA DA REVELAÇÃO NOS STOS PADRES

Para bem situar a contribuição de Orígenes, seria preciso escrever, pelo
menos brevemente, uma história da função reveladora do Verbo encarnado
antes de Orígenes. Os historiadores, do dogma, absorvidos por outros
problemas (Trindade, cristologia, soteriologia, teologia sacramental
etc), não chegaram a perceber suficientemente a grande importância do
tema da revelação na teologia dos três primeiros séculos.
É claro que nenhum dos santos padres puderam escrever um tratado sobre a
revelação, apesar de muitas vezes podemos encontrar dispersos em seus
escritos quase todos os elementos necessários para uma síntese doutrinal
sobre o assunto.

CAP. I – PRIMEIRAS TESTEMUNHAS

1.1 - Os padres apostólicos:
1.1.1 - O autor da didaché recomenda que ninguém se separe dos "mandamentos
do Senhor", mas que todos sigam "a regra do Evangelho", conformando-
lhes as ações.
1.1.2 - Clemente de Roma: atesta a fé recebida. Uma das características de
sua epístola é a fidelidade a herança que recebera dos apóstolos e que
transmite integralmente. O Cristo é apresentado como mestre cujo
ensinamento leva a salvação, sendo os apóstolos mensageiros da Boa
Nova por ele anunciada.
1.1.3 - Policarpo (bispo de Esmirna) recomenda aos filipenses que marchem
no caminho da verdade traçado pelo Senhor, que sejam "dóceis a palavra
da justiça". Insiste sirvamos ao Senhor "como ele mesmo nos mandou",
assim como os apóstolos que nos pregaram o Evangelho e os profetas que
nos anunciaram a vinda do Senhor.
1.1.4 - Pápias: estabelece oposição entre os "mandamentos estranhos" e os
mandamentos dados pelo Senhor, a fé nascidos a própria verdade.
1.1.5 - Inácio de Antioquia: está todo impregnado do novo testamento,
principalmente de Paulo e João. Vê em Cristo o conjunto de verdade e
da vida, o mediador da revelação e da salvação. Antes de se encarnar,
manifestar-se o verbo pela criação do mundo; depois em todo o antigo
testamento: os profetas pelo Espírito eram seus discípulos, e o ouviam
como a seu mestre.
Os padres apostólicos vêem no Cristo o todo da revelação e o todo da
salvação. Nele, verdade e vida estão inseparavelmente unidas. Na
encarnação do Filho termina e atinge o seu ponto mais alto a economia da
revelação. O Cristo é o conhecimento do Pai.
1.2 - Os Padres apologetas
Procuram nos sistemas filosóficos do século segundo todos os recursos que
pensam poder encontrar e apresentar o evangelho ao mundo helênico,
definindo em categorias desse mesmo mundo. Assim, pensam eles, o
mistério cristão atingirá essas almas sem as espantar. A teologia, pois,
dos apologetas será elaborada a partir da teologia do Logos. Será uma
teologia da manifestação do Deus transcendente pelo Logos criador,
revelador e salvador.
1.2.1 - São Justino
No pensar de são Justino, o Pai, transcendente, incognoscível, invisível,
age através do Logos: por ele criou o mundo; por ele fez conhecer; por
ele opera a salvação do mundo. O Logos exerce também a função religiosa
como revelador e salvador. Sua ação reveladora, difundida na humanidade
manifesta-se mais claramente entre os judeus e nos profetas e é total
somente em Jesus Cristo.
Segundo São Justino, toda verdade origina-se do Logos ou Verbo divino. Em
cada homem há uma semente, um "germe do Logos", que lhe permite atingir
parcialmente a verdade e exprimi-la. Foi devido a essa participação e
sementes do Logos que os filósofos pagãos puderam perceber alguns raios
da verdade merecendo assim o título de cristãos.
Os profetas são as testemunhas de Deus: "viram e anunciaram a verdade aos
homens". Para falar não usaram demonstrações porque acima de qualquer
demonstração era, eles as dignas testemunhas da verdade.
A doutrina de Justino é doutrina de salvação: o Logos se fez homem, para
trazer uma doutrina que renovasse e regenerasse o gênero humano. Doutrina
que, contida nas memórias dos apóstolos, "que denominamos Evangelhos".
Somos convidados a receber na fé, conformando-lhe nossa vida. Adesão que
se realiza pela "graça" (pois ninguém pode ver ou compreender se Deus e
seu Cristo não lhe dão a compreender).
1.2.2 - Atenágoras
Atenágoras acentua que Deus é invisível e incompreensível: somente Deus
nos pode ensinar algo sobre Ele. Os preceitos cristãos não são preceitos
humanos, foram proferidos e ensinados por Deus. Atenágoras reconhece que
o Deus invisível pode, por suas obras ser conhecido pela razão. A ordem
do universo manifesta o criador, artífice e arquiteto da beleza e da
harmonia invisíveis.
Os filósofos "conseguiram conceber, mas não encontram o ser, pois não se
dignaram a aprender de Deus o que Deus se refere, mas de si mesmo o
quiseram aprender. É por isso que cada um apresentou opinião diferente
sobre Deus, sobre a natureza,sobre as formas e o mundo".
1.2.3 - São Teófilo de Antioquia:
Também admite que a razão pode apresentar certa demonstração da
existência de Deus. Teófilo insiste na importância dos profetas na
economia da revelação.e afirma que somente os cristãos possuem de fato a
verdade, porque foram instruídos pelo Espírito Santo, que falando nos
santos profetas, tudo predisse.
1.2.4 - Epístola a Diogneto:
Conforme o autor da epístola a Diogneto os cristãos são "defensores de
uma doutrina humana", de origem terrestre: sua fé vem do próprio Deus que
"entre os homens estabeleceu a verdade, o Logos santo e incompreensível."
Pela fé conhecemos a Deus de uma maneira eficaz. Se alguém se espanta de
a revelação ter vindo tão tarde, responder o autor que a revelação se
realiza no tempo, ma realiza um desígnio eterno do coração de Deus. A
epístola insiste na continuidade entre a missão do Logos e a missão da
Igreja. O que o Verbo ensinou, e os apóstolos receberam, continua na
Igreja.
1.2.5 - Conclusão:
Mesmo reconhecendo a razão humana poder chegar a certo conhecimento de
Deus e captar elementos de verdade moral e religiosa, os apologetas
concluem ser necessária a revelação para chegarmos a um conhecimento
autêntico do Deus incognoscível e transcendente.

CAP. II – SANTO IRINEU

A obra de santo Irineu insere-se num contexto de polêmicas antignósticas.
Os sequazes de Ptolomeu e Marcião fazem do Cristo o revelador de um Deus
desconhecido no AT: teria o Cristo revelado um Deus distinto do Deus da
lei e dos profetas.
Santo Irineu diz que: é impossível conhecer a Deus sem Deus, o Verbo de
Deus é que ensina a humanidade a conhecê-lo. É no comentário a Mateus
(11, 25-27) que Irineu expressa o que pensa sobre a ação reveladora de
Deus e sobre seus fundamentos trinitários dessa ação. "ninguém, pode
conhecer o Pai a não ser pelo Verbo de Deus, isto é, se o Filho não o
revela. Nem se pode conhecer o Filho se não ao bel prazer do Pai".[20]
Irineu admira a maravilha unidade e progressão do plano da revelação. Com
o Verbo encarnado culmina um processo que se desenvolve desde a origem do
mundo: inicialmente pela obra da criação, depois pela lei e pelos
profetas, finalmente pela encarnação.
A correlação entre ambos os testamentos está situada também na
perspectiva da economia ou do plano salvífico concebido e realizado por
Deus numa história culminada no Cristo. Desde Abraão até o Cristo e os
apóstolos, é o mesmo Deus que age, faz suas promessas e as cumpre,
seguindo um plano simultaneamente uno e multiforme.
A criação é a primeira etapa da revelação: "é o Filho que aparece, não o
Pai: todas as visões desse tipo indicam o Filho de Deus falando e
conversando com os homens, pois não é o Pai de todos e o criador do
universo... que veio falar com Abraão nesse recanto de terra, mas o Verbo
de Deus sempre estava com o gênero humano e que de antemão anunciava os
acontecimentos futuros, ensinando aos homens as coisas de Deus".
A revelação tem características que a distinguem de qualquer doutrina
humana. Em primeiro lugar, é essencialmente obra da graça. Em segundo
lugar, a revelação é obra de salvação.
Para santo Irineu revelação é: "A epifania de Deus no Cristo e pelo
Cristo; é a manifestação do Pai pelo Filho e por todos os meios de
expressão possibilitados pela encarnação".

CAP. III – TESTEMUNHAS DA IGREJA GREGA

3.1 - Os alexandrinos
3.1.1 - Clemente de Alexandria
Clemente procura em primeiro lugar a revelação de Deus: "se, por alguma
hipótese, oferecesse aos gnósticos a escolha entre o conhecimento de
Deus e a salvação eterna, como se fossem realmente distintas, quando
sabemos serem, ao contrário, idênticas, ele não hesitaria um momento em
escolher o conhecimento de Deus." No centro da história humana, como no
centro de sua teologia, Clemente coloca o Logos encarnado, o Cristo,
fonte de todo o conhecimento e salvador dos homens.
Como Justino e Irineu, Clemente atribui ao Logos as teofanias. É o Logos
quem fala com Abraão, faz as promessas a Jacó, luta com ele. Ao revelar
o Verbo tem um só fim: salvar a humanidade: desvenda toda a verdade aos
homens para mostrar-lhes a sublimidade da salvação.
A teologia de Clemente situa a própria filosofia na órbita da economia
da revelação. Considera-a como um "dom de Deus aos gregos". A filosofia
foi dada aos gregos tendo-se em vista a sua salvação "Antes da vinda do
Senhor à filosofia era necessária aos gregos para a justificação".
2. - Orígenes
O sistema de Orígenes edifica-se a partir de Deus. "Quando se vê a imagem
de alguém, vê-se aquele de quem é a imagem: assim, pelo Verbo de Deus,
sua imagem, veremos a Deus". Orígenes exprimiu-se quase com as mesmas
palavras de Clemente. O Verbo procede do Pai, do qual é o revelador nato
enquanto sua imagem e palavra. O verbo está naturalmente qualificado para
sua missão de revelador, pois antes mesmo de ser enviado para o meio dos
homens, ele já é no seio da Trindade a imagem reveladora do Pai.
O Verbo fez-se carne e habitou entre nós, para levar-nos, a nós que
éramos carne, a vê-lo tal qual era antes de se fazer carne. A visão
material não basta então para nos dá a conhecer o Verbo de Deus.
Para Orígenes o próprio Cristo, em o Novo Testamento, não se manifestou
senão progressiva e parcialmente , pois se o Verbo tivesse manifestado
toda a sua glória, o mundo inteiro não poderia conter. A vinda de Cristo
é uma promoção do todo o AT. "A luz contida na lei de Moises, oculta sob
um véu, brilhou quando da vinda de Jesus, que afastou o véu e fez
conhecer rapidamente os bens cuja sombra se continha na terra". Contra
aqueles que queriam dividir os dois Testamentos Orígenes diz: "O Antigo
e o Novo Testamento, devem ser lidos do mesmo modo: para se ter o
espírito das escrituras, que é o espírito de Cristo, é preciso ter o
Espírito de Cristo".
Segundo Orígenes a função do teólogo é escrutar as escrituras, pois ali
está contida toda verdade. Quanto a revelação natural e a filosofia,
Orígenes é muito mais moderado do que Clemente.
3.1.3 - Santo Atanásio
Além do ensinamento de Cristo, Atanásio distingue duas fontes do
conhecimento de Deus: uma direta e interior; outra, pelo testemunho da
criação. Atanásio fala sobre o conhecimento de Deus por um caminho
interior, sendo o homem a imagem e semelhança de Deus, pode conhecer a
imagem que é o Verbo de Deus, e nele pode conhecer o Pai,antes mesmo que
a imagem se manifeste pela encarnação: "Quando a alma se liberta de
qualquer mancha deixada pelo pecado, e não guarda a pureza total senão a
semelhança da imagem, por isso mesmo, quando essa imagem é iluminada,
como num espelho, pode nela contemplar o Verbo – imagem do Pai – nele
contempla o Pai, cuja imagem é o Salvador".
3.1.4 - São Cirilo de Alexandria
Seguindo a Escritura Cirilo repete que ninguém viu a Deus e que o
conhecimento do Pai nos vem pelo Filho. O Cristo, Verbo encarnado, é a
porta e o caminho que conduz ao conhecimento do Pai. Para designar a
função reveladora do Cristo, Cirilo dá o título de luz.
3.2 - Os Capadócios
O problema da revelação não preocupa os Capadócios. Em seu horizonte o
primeiro plano é ocupado pela Trindade e pela Cristologia. Para eles, a
partir do mundo visível, pode o homem chegar a conhecer a Deus, sua
existência e seus atributos, mas a essência mesma de Deus continua sendo
trevas que não se pode penetrar totalmente.
3.2.1 - São Basílio
São Basílio ensina que somente o Filho e o Espírito conhecem intimamente
o Pai. A são Basílio, porém, mais do o dom da doutrina revelada,
interessa sua plena assimilação e frutificação na alma por uma
"iluminação da gnose". A gnose é um elemento essencial na assimilação
progressiva a Deus, da divinização do cristão.
3.2.2 - São Gregório de Nissa
Insiste, contra Eunômio, na inacessibilidade da essência divina. Deve-se,
contudo, distinguir entre o conhecimento de Deus autor do mundo e o da
sua essência.
Deus não apenas se deixa conhecer pela pregação silenciosa do universo,
mas vem ao encontro do homem estabelecendo com ele uma comunicação
pessoal.
Conclusão: Os capadócios,ao mesmo tempo em que se opõem a Eunômio,
reconhecem duplo caminho de acesso no conhecimento de Deus: pela criação
visível e pelo ensinamento da fé. Por Cristo nos vem o conhecimento dos
mistérios divinos.
3.3 - São João Crisóstomo:
São João Crisóstomo escreve contra os anomeus: repete que Deus, mesmo
depois da revelação, continua o Deus oculto e incompreensível. Fala,
porém, de forma mais pastoral. Deus é o incompreensível, o inenarrável
segundo Crisóstomo e que o perfeito conhecimento de Deus é privilégio do
Espírito Santo.
São João Crisóstomo, não proíbe aos cristãos de aprofundar na fé; recusa,
porém, as especulações. Se Deus fala, o homem deve conformar sua vida aos
ensinamentos divinos.
Para Ele, só o Filho e o Espírito conhecem perfeitamente a Deus. O que
dele sabemos, nos vem pelos profetas e principalmente pelo Xto, o Filho
do Pai que veio trazer aos homens o conhcto da economia salvífica oculta
aos anjos e as nações.
São João Crisóstomo não apresenta nada de sistemático sobre a revelação.
CAP. IV – TESTEMUNHAS DA IGREJA LATINA
4.1 - Tertuliano
Para Tertuliano a doutrina revelada e transmitida se identifica,
praticamente com as escrituras. Mais que Irineu, insiste Tertuliano no
caráter concreto da sucessão apostólica, sobre a assistência do Espírito
Santo na transmissão da doutrina revelada. A doutrina da verdade está
consignada nas Escrituras, conforme são lidas e entendidas pelas Igrejas
apostólicas.
2. - São Cipriano
Cipriano, para designar a ação reveladora de Deus adota o termo tradição.
O mesmo se deve dizer da tradição apostólica. Cipriano dá, pois, ao termo
tradição o sentido ativo e forte de primeira comunicação da verdade, ou
seja, revelação. A fonte de origem da verdade cristã é a tradição
evangélica e apostólica ou ensinamento do Cristo e a pregação dos
apóstolos.
4.3 - Santo Agostinho
Revelação para santo Agostinho: "A revelação não é a comunicação aos
homens de uma verdade abstrata: insere-se no tempo e toma forma de uma
história: nesta religião o ponto essencial que se deve admitir é a
história e a profecia do modo como a providência divina realizará no
tempo a salvação do gênero humano, restaurando-o e renovando-o para a
vida eterna". Realizada numa economia de encarnação, a revelação utiliza
todos os caminhos da carne.
Como os outros padres da Igreja. Agostinho não tratou ex professo do
conceito da revelação, Agostinho afirma que a visão de Deus agora nos é
impossível. O mediador de toda a revelação é Jesus Cristo, Verbo de Deus,
que por suas palavras e ações veio manifestar-nos e Evangelho de
Salvação.
4.4 - Conclusões
4.4.1 - A onipresença do tema da revelação
O incognoscível saiu de seu mistério e manifestou-se aos homens: primeiro
ao povo judeu, pela lei e pelos profetas, depois a humanidade toda pelo
Cristo, Verbo encarnado, que veio pessoalmente contar-nos os mistérios do
Pai. Esse tema da revelação tem diversas causas:
a) As primeiras gerações cristãs estão ainda sob o impacto da grande
epifania.
b) A preocupação de atingir os pagãos leva os pensadores cristãos a
procurar pontos de aproximação entre o cristianismo e o pensamento
contemporâneo.
c) Também os primeiros hereges levaram os pensadores cristãos ao terreno da
revelação.[21]
4.4.2 - Conhecimento natural e o conhecimento sobrenatural
Os padres da Igreja afirmam que Deus é "inefável e incompreensível". Pelo
fato de ser incognoscível aí se percebe a necessidade da revelação.
4.4.3 - Os dois Testamentos: unidade e progresso
No começo do cristianismo um dos maiores um dos maiores problemas é o da
relação entre os dois testamentos. Os judaizantes querem conservar a
primazia da revelação profética, enquanto os marcionitas estabelecem uma
oposição entre ambos. Os padres da Igreja examinaram a relação entre a
lei e o Evangelho. salientam a unidade profunda de ambos: "Um só e mesmo
Deus é o autor da revelação por seu Verbo ou Logos, sendo a criação, as
teofanias, a lei e os profetas, a encarnação etapas dessa única e
contínua manifestação de Deus através da história humana".
4.4.4 - As etapas da revelação
Os pontos principais são: de um lado a lei e os profetas; de outro, os
apóstolos e a Igreja; no centro e no ápice o Cristo.

III – PARTE: A NOÇÃO DE REVELAÇÃO NA TRADIÇÃO TEOLÓGICA

CAP. I – A ESCOLÁSTICA DO SÉCULO XIII
Aqui interessa a revelação imediata dirigida aos profetas. Partindo dos
dado da Escritura, tradição e ensino da Igreja que descrevem e concebe a
noção de revelação. Não é preocupação dos escolásticos do século XIII nem
da teologia que os procedeu interrogar-se especialmente sobre a natureza
e as propriedades da revelação Cristã.
1.1 - São Boaventura (1221)
São Boaventura fala ocasionalmente sobre a revelação em seu, "Comentários
das Sentenças" de Pedro Lombardo e nos seus comentários bíblicos; fala
mais explicitamente em seus comentários bíblicos.
1.1.1 - Revelação e economia da Salvação
O emprego do termo revelação no proêmio ao comentário das sentenças
indica-nos a inclinação de seu pensamento: a revelação é luz para o
Espírito.[22] São Boaventura chama a revelação luz interior ou iluminação
certa.
Deus revela algo a humanidade quando fala ao homem, isto é, ilumina seu
espírito. Revelação, palavra, iluminação são termos conversíveis.
A revelação é uma ação comum a trindade; atribui-se, porém, especialmente
ao Filho e ao Espírito. Contudo, o Filho e o Espírito não nos revelaram
tudo, mas apenas o necessário para a salvação. A revelação começou com os
profetas e só com Cristo e os apóstolos projetaram sua luz total.
1.1.2 - A revelação profética
Sua doutrina depende de Santo Agostinho e, mais diretamente, de seu
mestre Alexandre de Hales. Seu pensamento reduz-se a: primeiro deve se
distinguir profecia e dom de profecia. O dom de profecia é um habito que
para agir exige uma iluminação divina atual. A profecia por si mesma é um
ato transitório. O que caracteriza o verdadeiro profeta é a iluminação
para que compreenda o que vem representado. Chama-se infusa essa
iluminação, pois que eleva o espírito ao conhecimento do que, por suas
próprias forças, não poderia perceber. Podemos, com efeito, distinguir
três modos de revelação profética: sensível, imaginativa e
intelectual.[23]
1.1.3 - Fé e revelação
Da revelação, nasce a fé da ação conjugada da palavra exterior e da
palavra interior, do ensinamento e da pregação que fere os ouvidos e do
ensinamento do Espírito Santo que fala no segredo do coração.
1.1.4 - Conclusão
Para São Boaventura a revelação designa em primeiro lugar a ação
iluminadora de Deus ou a iluminação subjetiva resultado dessa ação. Tal é
a revelação feita aos profetas. Também o ensino de Cristo é entendido
como uma iluminação da humanidade. São Boaventura não distingue
claramente as duas noções da revelação e de inspiração. Seguindo a
Escritura ele igualmente chama de revelação a iluminação interior pela
graça da fé. Salienta o caráter trinitário da ação da revelação, como
também no aspecto da economia. Na importância dada a iluminação,
percebemos as perspectivas agostinianas. Entre a iluminação do
conhecimento natural, da revelação, da fé, da contemplação e da visão
Boaventura percebe uma continuidade e um aprofundamento dos dons divinos.
1.2 - Santo Tomás de Aquino (1225)
"Santo Tomás fala várias vezes de revelação: considera-a como operação
salvífica, que procede do livre amor de Deus e proporciona ao homem luzes
indispensáveis ou simplesmente úteis na busca da salvação; ou como um
acontecimento histórico, que se desenrola no tempo e atinge os homens de
todos os séculos numa complexa economia de intermediários, de etapas e de
modalidades".
1.2.1 - A revelação como operação salvífica
Iniciando a suma, Santo Tomás coloca o fato fundamental da revelação como
ponto de apoio e de fé cristã. Inspirado pelo livre amor divino, a
revelação existente para a salvação do homem. A revelação de verdades de
ordem natural sobre Deus e nossas relações com ele, mesmo não sendo
absolutamente necessário, era moralmente requerida.
Santo Tomás considera, pois, a revelação como a ação do Deus da salvação
que, livre e graciosamente, fornece aos homens todas as verdades
necessárias e úteis para a consecução do fim sobrenatural.
1.2.2 - A revelação como acontecimento da história
A revelação, acontecimento no tempo, apresenta-se a Santo Tomás como uma
operação hierárquica, sucessiva, progressiva, polimorfa.
1. A revelação hierárquica é começada com os anjos e depois os homens:
primeiro os maiores entre eles, isto é, profetas e apóstolos. Atinge
depois a multidão dos que acolhem a fé.
2. A revelação é marcada pela sucessão: não se realiza de repente, mas
por etapas, que são realizações parciais do desígnio divino. A
primeira etapa é patriarcal, destinada a apenas a algumas umas
famílias.
3. A revelação polimorfa (de várias formas) para se tornar conhecido,
Deus não desdenhou nenhum meio de comunicação.
1.2.3 - Revelação profética como carisma de conhecimento
Para Santo Tomás profecia é "Conhecimento, sobrenatural dado ao homem, de
verdades que atualmente superam o alcance de seu espírito, que lhe são
manifestadas por Deus para o bem da comunidade". A profecia em primeiro
lugar e principalmente é um conhecimento e secundariamente locução.
1.2.4 - Revelação, Escritura, Igreja
O conjunto dos conhecimentos que Deus revelou aos profetas e aos
apóstolos chama-se "Doutrina Sagrada". O objeto da nossa fé é a verdade
primeira posta na Escritura, compreendida, porém, segunda a sã doutrina
da Igreja. Deus propôs sua doutrina diretamente aos profetas e apóstolos;
a nós propõe pela Igreja.
1.2.5 - Da revelação a fé:
Os homens, ao contrário das grandes testemunhas de Deus, apóstolos e
profetas, chegam a revelação apenas mediante: de um intermediário humano
é que recebem a verdade da fé.
1.2.6 - Revelação como grau no conhecimento de Deus
Revelação e fé não existem por si mesmas, mas para a visão, pois o fim do
homem é chegar, um dia, a contemplar face a face o divino. Nesse sentido
a revelação é um conhecimento imperfeito, um momento de nossa iniciação a
visão. "De três modos o homem pode conhecer as coisas divinas; pelo
primeiro o homem, graças a luz natural da razão, eleva-se ao conhecimento
de Deus pela razão; pelo segundo, a verdade divina que ultrapassa os
limites de nossa inteligência, desce a nós pela revelação não como
evidentemente demonstrada, mas como palavra que se deve crer; pelo
terceiro, a alma será elevada para ver perfeitamente o que lhe fora
revelado".
1.2.7 - conclusões
A base da teologia e da fé católica, Santo Tomás coloca o fato primordial
da revelação: operação salvífica pela qual Deus, não querendo deixar o
homem entregue apenas aos recursos da razão, fornece-lhes todas as
verdades necessárias e úteis para a salvação.[24] Esta operação se
realiza por etapas sucessivas, progredindo tanto no âmbito como na
compreensão das verdades reveladas. Dos patriarcas e profetas até os
apóstolos, formam o depósito sagrado da verdade revelada. A encarnação
de Cristo marca a plenitude e a consumação da revelação.
Santo Tomás interessa-se principalmente pela revelação imediata, e mais
especificamente pela profética. Esta é para ele, essencialmente um ato
cognoscitivo: graças a uma iluminação especial, o profeta julga com
certeza e sem erro, conforme a intenção divina, os objetos presentes a
sua consciência, chegando assim a posse da verdade que Deus lhe quer
comunicar.
O conjunto de verdades que Deus nos dá a conhecer denomina Santo Tomás
doutrina que procede da revelação, doutrina sagrada, verdade de fé. Duas
coisas são exigidas na fé: "um objeto para ser crido, verdades propostas
e o assentimento a essas verdades".


1.3 Duns Scot


Para ele a revelação é a tradição ativa que faz ao homem da doutrina
necessária ou útil para a salvação. Doutrina comunicada aos profetas
mediante imagens ou por uma ação direta de Deus na inteligência: palavra
interior de Deus, iluminação do profeta.
A ação reveladora do Xto e dos apóstolos é brevemente delineada: o Xto
promulga e transmite, os apóstolos promulgam e transmitem à Igreja.
Características comum do conhecimento dos profetas e dos apóstolos: a
certeza inabalável do seu conhecimento.
A doutrina da salvação está contida na Escritura e, complementariamente,
na Tradição ou costume universal da Igreja.

CAP. II – ESCOLÁSTICOS PÓS –TRIDENTINOS

No século XVI, o movimento humanista e a necessidade de reagir contra a
intemperança do iluminismo protestante suscitam na Igreja um conjunto de
novas questões e um imenso esforço que levam a criar uma teologia que
estuda as fontes da Revelação por si mesma com maior atenção. Trata-se de
uma luta contra a concepção protestante de uma Revelação imediata do
Espírito Santo a cada fiel, procurando demonstrar que é suficiente a
Revelação mediata.
I. Melchior Cano e Domingos Banes
Em seus escritos a noção de Revelação aparece apenas indiretamente, por
ocasião da análise da fé.
Entende que para se chegar a fé é preciso alguns elementos exteriores
(pregação persuasiva, milagres) que induzem a crer, porém, toda persuasão
externa e humana não basta, é ainda necessária uma causa interior, isto
é, uma luz divina que incite à fé, olhos interiores dados por Deus para
ver.
Diz ainda que o fundamento último de nossa fé não é a autoridade da
Igreja nem da Escritura, mas a autoridade de Deus que revela. Limita-se a
chamar de Revelação a Revelação incriada, que existe em Deus, ou então a
iluminação interior da graça de fé que induz a crer. Não chama de
Revelação a doutrina de salvação proposta pela pregação da Igreja.
O seu discípulo Domingos Banes, entende o mesmo modo de Revelação (o
efeito que Deus, revelando, produz em nós, efeito pelo qual alguma coisa
nos e formalmente manifestada ou revelada).
II. Francisco Suares
Insiste na Revelação mediata. Revela-se Deus à multidão, não, porém,
imediatamente, mas por seus legados.
Tendo Cristo instruído a Igreja apostólica, é pela Igreja que ele instrui
cada fiel, "tanto que uma definição da Igreja equivale a uma Revelação".
Logo, quem ouve a Igreja, ouve o próprio Deus que lhe fala.
1. Revelação no sentido estrito
É a simples proposição suficiente do objeto revelado, acredite ou não
aquele a quem se faz essa Revelação, seja feita interna e imediatamente
por Deus mesmo, ou por seus anjos, ou que se faça externamente pela
pregação humana. Considera a Revelação a partir do objeto (que se deve
crer sub divina auctoritate). Sendo necessário duas coisas para o
conhecimento da fé: primeiro a apreensão do que se deve crer; em segundo
o assentimento ao que foi proposto.
2. Iluminação ou revelação do objeto e da potência
A fé vem de Deus, tanto quanto ao objeto como quanto ao socorro ou à
virtude sobrenatural dada à potência. A doutrina é de Deus e a graça é de
Deus. Sob ambos os aspectos podemos devidamente chamá-la de iluminação.
Assim, têm-se duas formas de iluminação com uma importante diferença:
enquanto a iluminação ex-parte objecti pode ser feita por Deus ou por
seus anjos, a iluminação ex parte potentiae faz-se sempre imediatamente
por Deus.
Os teólogos distinguem entre a Revelação necessária à fé e a infusão do
hábito, entre a Revelação propriamente dita (percebida pela inteligência)
e o instinto divino (a infusão da fé não é percebida pelo espírito, mas é
operada invisivelmente pelo próprio Deus).
III. João de Lugo
1. A revelação como palavra
Tanto a Revelação mediata como a imediata são consignadas pela Escritura
como PALAVRA DE DEUS. Afirma que para se verificar o conceito de palavra
não basta que apresentemos a alguém um objeto; é preciso que também lhe
manifestemos o que pensamos desse objeto. A palavra de per si e
imediatamente ordena-se a manifestar-se a alguém o pensamento de quem
fala. Na Revelação imediata (os profetas, por exemplo), Deus pode servir-
se de sinais sensíveis, como a palavra humana, e assim manifestar o seu
pensamento; ou então, agindo internamente, pode gerar imediatamente o
conhecimento do objeto que deseja comunicar, manifestando-o como sendo
verdadeiramente o objeto de seu pensamento. O mesmo se diz da palavra
mediata pela qual Deus atualmente nos propõe o mistério da fé.
2. Revelação e hábito ou auxílio da fé
Deus não nos fala enquanto nos dá habitus da fé. Deus, dando-nos a
inteligência e o habitus da fé, dá-nos a faculdade que nos torna capazes
de ouvir sua voz e de acreditar; não se diz porém, que ele fala, pois a
palavra é produção de verbos que exprimem o pensamento de quem fala (a
inteligência, ou o habitul da fé, não é verbo de Deus), por isso, a sua
produção não é de forma alguma palavra ou Revelação de Deus, portanto, o
instinto interior não é nem total nem parcialmente, palavra de Deus).
Distingue claramente entre moção interior, que dispõe e inclina ao
assenso da fé e ao ensinamento

CAP. III – A RENOVAÇÃO ESCOLASTICA DO SÉCULO XIX

De 1760 a 1840, a Teologia, em de procurar sua inspiração na grande
tradição cristã de Santo Agostinho, Santo Tomás, São Boa Ventura, procura
seu fundamento nas filosofias sempre mutante da época. Cada vez mais se
avilta e cai no marasmo do filosofismo.
De modo particular Pio lX reafirma os direitos do sobrenatural ante o
racionalismo e dá novamente à Teologia seu verdadeiro sentido. Nessa
renovação sobressaem alguns nomes, tais como Möhler, Kleutgen, Denzinger,
Franzelin, Scheeben. ... todos tiveram que falar da Revelação, ... pelo
menos para afirmar sua possibilidade e realidade.

I. João Möhler

Mais que todos, Möhler foi, na Alemanha, o chefe da renovação teológica.
Sua obra "A Unidade da Igreja" é um protesto da vida contra a anemia do
reino das luzes. Nessa obra apresenta a Igreja como uma realidade viva,
ativa, criadora, que o Espírito do Cristo vivifica sempre. "Para quem
penetra o conjunto de nossa fé, a vida do Espírito em nós tem prioridade
sobre o ensinamento ou a fé formulada".
O que Cristo fizera, fizeram-no os apóstolos por sua vez, formando eles
também outros discípulos. Assim, através dos séculos, a Igreja invisível
veio sempre da Igreja visível: "Essa ordem exigia a idéia de uma
Revelação exterior e histórica, que, por sua própria natureza, exigia um
magistério permanente, determinado, exterior, ao se deve referir quem
quer que deseje conhecer essa Revelação"... Em Lutero, a autoridade
exterior da Igreja transformou-se em autoridade interior e a palavra
exterior reconhecida como divina tornou-se voz interior do Cristo e de
seu Espírito. A posição protestante... Esquece "que a Revelação interior
é condicionada pela palavra exterior e que a inteligência da palavra
interior é condicionada pela palavra exterior que se dirige ao homem".
Se Möhler salienta ao máximo o caráter de objetividade e de exterioridade
da Revelação, foi por ter escrito contra os protestantes que tudo
sacrificam à subjetividade e à interioridade.

II. H. J. Domingos Denzinger


Não foi um inovador como Möhler, muito contribuiu, porém, para uma
teologia mais positiva. Ou seja, em poucas palavras: o objeto imediato da
Revelação é a própria verdade como verdade, e a Revelação é a
comunicação desse objeto pela palavra ou por um sinal adequado, ou pela
contemplação direta.


III. J.B. Franzelin

Como Möhler e Denzinger, também Franzelin orienta seu ensino para as
pesquisas positivas.
Quando Deus fala aos homens, diz, seja imediatamente, como aos profetas e
aos apóstolos, seja mediante seus legados, faz que sua palavra seja
reconhecida por sinais que a garantem como sendo realmente sua. Esses
sinais são os milagres e os carismas sobrenaturais: "o falar divino
consiste em palavras como sendo locução divina". "Pois Deus não fala
somente pelas palavras, mas ao mesmo tempo pelas palavras e pelos fatos".


Esses fatos, realizados pelo Cristo e pelos apóstolos, pertencem agora à
Igreja e constituem sua herança.
Em resumo, eis como Franzelin entende a Revelação: Toda verdade salvífica
foi revelada aos apóstolos por Cristo, que ensinava visivelmente e pelo
dom de seu Espírito. Essa verdade é o Evangelho que os apóstolos devem
pregar a toda criatura e transmitir à Igreja. Esta, por sua vez, conserva
e prega a verdade total, definitiva, que recebeu dos apóstolos.

IV. J. Henrique Newman

Ao falar, de passagem, da Revelação, Newman reconhece-lhe as seguintes
características: Primária e essencialmente a Revelação é um conhecimento
religioso.
Em segundo lugar, a Revelação é um mistério. Dá-nos esclarecimento sobre
Deus, mas não suprime o mistério que o rodeia.
Em terceiro lugar, a Revelação apresenta-se como uma economia. Fez-se em
etapas sucessivas, progredindo em qualidade e quantidade, até a plenitude
do Cristo. A encarnação é, por excelência, o tipo dessa divina economia.
Em quarto lugar, a Revelação é doutrinal. Transmiti-nos um ensinamento,
uma mensagem.
Finalmente, a Revelação é dogmática: impõem-se autoritativamente. O
cristianismo é uma "revelatio revelata", é uma mensagem definida de Deus
para o homem, transmitida por instrumentos escolhidos e recebida como tal
mensagem o merece: positivamente recebida, aceita e defendida como
verdadeira... vinda daquele que não pode enganar-se nem enganar-nos... É
religião dogmática justamente porque religião revelada. Diga-se o mesmo
de sua imutabilidade.

V. M. J. Scheeben

Segundo ele, podemos distinguir três formas de Revelação.
Num sentido amplo, revela-se Deus ao homem pelas obras da criação que
refletem seu poder e suas perfeições, pela comunicação da luz interior da
razão que nos torna capazes de conhecer as obras de Deus e o próprio Deus
em suas obras. Ação que merece ser chamada locução divina.
"Em sentido mais estrito e elevado", Revelação é o ato pelo qual um
espírito apresenta a outro o objeto de seu próprio conhecimento,
possibilitando-lhe que, mesmo sem ver por si mesmo o objeto, aproprie-se
de seu conteúdo, apoiando-se nas luzes de quem se lhe revela. O veículo
dessa Revelação é a palavra dita (locutio formalis).
"Num sentido mais estrirto ainda e também mais alto, denomina-se
Revelação divina uma manifestação pela qual Deus torna nosso conhecimento
inteiramente conforme ao seu, de modo que o conhecemos como ele a si
mesmo se conhece: é a visão face a face". Nessa Revelação, a manifestação
objetiva, real ou verbal, é substituída pela visão sem véu da natureza
íntima de Deus.
Para Scheeben, Revelação é, no sentido estrito, a comunicação ao homem do
pensamento divino mediante a palavra humana do Cristo, Logos encarnado.
Outro mérito de Scheeben é ter posto em evidencia o caráter ao mesmo
tempo sobrenatural e histórico da Revelação.
O caráter histórico da Revelação mostra-se nas sucessivas fases de sua
realização temporal. Na Revelação pública Scheeben distingue duas fases:
a Revelação feita à humanidade em seu estado de pecado, Revelação
evangélica e redentora. Essa, por sua vez, realiza-se em duas etapas: a
Revelação preparatória do Antigo Testamento e a consumação em o Novo
Testamento. O progresso da Revelação é extensivo: a Revelação patriarcal
dirige-se a uma família; a mosaica, a um povo; a cristã, à humanidade
toda. É também quantitativo e qualitativo: o campo da Revelação alarga-se
sem cessar e a luz difundida é cada vez mais abundante. Em Jesus Cristo
temos a plenitude da Luz e da Verdade.

CAP. IV – TEOLOGIA DA REVELAÇÃO NO SÉCULO XX

I. A doutrina comum no começo do século XX
A teologia fundamental, no século XX, estruturou se segundo as indicações
do Concilio Vaticano I, e os documentos anti-modernista; definiu a
revelação na perspectiva desses documentos. Era preciso proteger-lhe o
conceito contra as negações do racionalismo ou contra as contaminações do
protestantismo liberal.
Sobre a transcendência da Revelação, bem como no caráter doutrinário do
objeto revelado: o que se comunica ao homem é um conjunto de verdades
necessárias à Revelação. "Quando dizemos que Deus revelou, entendemos que
Deus falou aos homens para lhes manifestar alguma verdade, e que os
homens reconheceram sua voz". "A Revelação é a comunicação, ao homem, de
verdades religiosas".
"A Revelação sobrenatural direta é a manifestação de Deus pela palavra
divina, isto é, por um ato de Deus, ordenado direta e imediatamente para
manifestar ao homem seu conhecimento próprio".
"A Revelação nada mais é que a manifestação duma verdade, que Deus
realiza no homem mediante a iluminação sobrenatural de sua inteligência".
A essa iluminação corresponde não a ciência, mas a fé. "A Revelação
divina, no sentido estrito, é a palavra de Deus, mediante a qual ele se
comunica aos homens algo do ele conhece, assim que os homens o creiam
pela autoridade de Deus que fala". O elemento formal dessa palavra usa o
conceito de testemunho: a Revelação é uma palavra que atesta uma palavra
de Deus que testemunha.
O conceito modernista de Revelação, representado por Loisy e Tyrrell,
insiste Gardeil na finalidade social do carisma profético e na denuntio
da verdade revelada. Sendo o conhecimento profético essencialmente um
carisma social, deve "comunicar-nos um objeto válido para todos, expresso
bastante claramente pra servir de ponto de convergência para todos que
procuram o divino"...
É preciso o dado revelado seja comunicado de um modo que lhe garanta o
valor exato, absoluto, imutável, indefinidamente transmissível através do
tempo e do espaço. Sua comunicabilidade, com essas características, está
garantida:
1. Pelo conteúdo de pensamento proposto por Deus;
2. Pela ação do espírito que mantém a fidelidade... ;
3. Pelo absoluto de que são capazes algumas afirmações humanas.
Na Revelação, o que é diretamente ativado não é o coração do profeta, e
sim a sua inteligência capaz do absoluto. A Revelação segundo Gardeil,
mostra-se como uma ação divina, uma finalidade social, que ativa e dirige
a faculdade da afirmação do profeta, assim que os seus julgamentos,
proferidos sob a luz divina, seja comunicáveis à toada à sociedade
humana.
Ao analisar o processo do conhecimento profético, Gardeil
fundamentalmente se mantém fiel aos elementos de santo Tomás. O
conhecimento profético, como qualquer outro, supõe...
A luz de divina realça o poder de expressão desses sinais mentais; o
profeta, então, "reagindo ante o objeto que lhe é posto ao realce
divinamente iluminado", concebe, afirma e denuncia o que Deus queria que
ele afirmasse.
O profeta reafirma o que está vendo, primeiro para si mesmo, depois para
os outros homens aos quais tem a missão de esclarecer. Sendo a profecia
um a carisma social, é preciso que "o profeta exprima externamente o que
julga internamente como verdade revelada por Deus"...
O P. Lagrange escreveu trinta páginas sobre o conceito de Revelação:
Primeiro define a partir dos documentos da Igreja, depois lhe dá uma
definição teológica. Diz "A Revelação é a ação divina, livre e
essencialmente sobrenatural, pela qual deus, querendo conduzir o gênero
humano a seu fim sobrenatural que consiste na visão da essência divina,
falando-nos pelos profetas e nestes últimos tempos pelo cristo,
manifestou-nos um tanto obscuramente mistérios sobrenaturais e também
verdades da religião natural, que depois possam ser infalivelmente
proposto pela a Igreja, sem mudança de sentido, até o fim do mundo".
Ao dar a explicação teológica ele define formalmente à Revelação como
"palavra de Deus enquanto ensinamento". Afirmação que fundamenta está em
Hebr 1,1; Is 50,4; os 2,4... e nas passagens da escritura onde se diz
que as multidões davam ao Cristo o titulo de mestre, (Mt 8.28; Jo 8,13).
Por ele coloca que a Revelação é descrita principalmente como
ensinamento, analisada em termos de relacionamento de mestre e
discípulo... No Novo Testamento a Revelação ganha um outro sentido; "a
palavra é o ato pelo qual alguém diretamente manifesta a outro seu
pensamento". Noção de palavra que inclui três elementos:
1) Uma manifestação do pensamento;
2) Manifestação direta do pensamento: portanto, o conhecimento de deus a
partir de suas obras não verifica estreitamente a noção de palavra;
3) Uma dualidade de pessoas concebidas como tais: Deus deve ser conhecido
como pessoa que se dirige ao homem como pessoa. Por outro lado também
a palavra revelada é um testemunho: isto significa que ela reclama um
assentamento baseado na autoridade de quem fala.
II. Fatores da renovação e orientações atuais
1. Ponto de partida: insatisfações e queixas
Entre os teólogos católicos, o que lhe é do seu interesse é a realidade
cristã da Revelação. Na realidade, a Revelação apresenta-se nas
escrituras de modo muito menos nocional e muito mais pessoal: è antes de
tudo a manifestação do próprio deus que, através duma história sacra que
culmina com a morte e a ressurreição do Cristo... De fato, diz ele, para
os católicos a Revelação é também Revelação do mistério real que é o
próprio Deus
2. Teologia protestante
A maioria dos teólogos protestantes, contemporâneos consagra ao tema da
Revelação, não, apenas importantes capítulos, mas obras inteiras. Podemos
afirmar que, em seu conjunto, o pensamento concebido como uma
manifestação e uma notificação de verdades sobre Deus ou de verdades
ditas por Deus. Na Revelação vê, primeiramente, a manifestação pessoal do
Deus vivo que ativamente se torna presente ao homem para salva-lo e
estabelecer com ele uma comunhão de vida.
A teologia bíblica protestante insiste fortemente na consideração da
Revelação enquanto acontecimento e historia. A Revelação é acontecimento
e está ligada a acontecimentos, isto é, aos atos salvíficos de Deus. Não
apenas se insere na trama da historia humana: ela mesma é histórica. O
que Deus fala, diz G. E Wright, é principalmente o Deus que age.
Ação, acontecimento, encontro: são os aspectos que a teologia protestante
atual considera como mais importantes na Revelação. O aspecto doutrinal
fica perceptivelmente desvalorizado.
3. Renovação bíblica e patrística
No ambiente católico, o interesse pela teologia da Revelação deve se a
diversos fatores... O primeiro e mais importante é a renovação bíblica e
patristica. A atenção dedicada ao dado revelado não poderia de se
estender também ao Deus que revela.
Sob os pontos de vista da exegese e teologia bíblica, considera: a) a
educação progressiva de Israel: a Revelação é um lento caminhar das
trevas para a luz (idéias de Deus, de aliança, de messias, de reino, de
salvação, de graça etc.)
4. Reflexão sobre a teologia
Ponto de partida da teologia é a fé na Revelação, que é testemunho de
Deus sobre si mesmo. Mas esse "testemunho é apenas o veiculo de um
conhecimento real, que nos é ainda que em mistério, uma realidade divina,
como objeto de percepção e amor". A teologia deve centra - se na
história da salvação, nas "imprevisíveis histórias do amor gratuito de
deus" a teologia, pois, em segundo lugar, é realista por ser a
inteligência da ordem da salvação em sua realização histórica.
Finalmente, uma descrição fiel da Revelação deve evidenciar um terceiro
elemento. O objeto de fé (proposições e realidade) não se pode atingir
formalmente se não sob uma luz proporcionada: a luz da fé. Luz interior
que é a palavra de Deus em mim: "graça pessoal, que me põe em diálogo e
comércio direto com ele, presença misteriosa, à qual o homem, em novo tem
acesso, não porque sua razão introduza, mas porque Deus se revela. Sem
essa luz não existe verdadeira comunhão com o pensamento divino"...
Falando da Revelação ou da fé, podemos insistir sobre a mensagem ouvida e
aceita sobre a fides ex auditu, ou então sobre a realidade do mistério e
sobre o testemunho interior, a luz interior. E a fé divina: "não é uma
simples adesão a qualquer testemunho exterior de Deu", é adesão ao
próprio deus mistério, a Deus que se nos revela em, sua luz. "A fé supõe
que nós, através do conceito e da formula, atingimos... a própria
realidade divina".
Charlier considera como o mais importante na Revelação, não a comunicação
duma mensagem referente a deus e a nossa salvação, mas o dado revelado -
realidade, isto é, o próprio Deus em pessoa que se dá e se revela ao fiel
em sua própria luz. Esse dado revelado está presente na Igreja, e é na
Igreja que ele se desenvolve "à medida que a Igreja o assimila e lhe
permite nela crescer".
O P charlier insiste no caráter histórico da Revelação. Ela "não é um
sistema de idéias abstratas", mas o relato das realizações divinas a
partir de um grandioso desígnio, em cujo centro Deus se coloca e do qual
o homem é beneficiário. Assim, conforme o P. Charlier, a Revelação é
principalmente a comunicação da própria realidade divina: presença
misteriosa oferecida à experiência de fé...
5. Teologia querigmática
A teologia querigmática, mesmo sem apresentar uma nova concepção da
Revelação, pós em maior evidência certos aspectos que contribuíram pra
uma Revelação da teologia da Revelação.
a. O caráter histórico da Revelação. Salientam os querigmáticos que o
conteúdo essencial da Revelação é o Evangelho, isto é, a boa nova da
salvação. Objeto dessa boa nova é, em primeiro lugar, um sistema de
proposições especulativas e práticas, mas é o Cristo em sua vida e
em sua obra de salvação.
b. Revelação enquanto economia. O cristianismo baseia-se em
acontecimentos, não isolados, mas organicamente ligados entre si,
segundo a unidade harmoniosa do plano divino. A Revelação apresenta
se como uma economia: foi dada a humanidade segundo uma ordem, a da
sabedoria de Deus.
c. A Revelação crística. Toda Revelação está centrada sobre Jesus
Cristo. O Antigo testamento será um anúncio e uma preparação do
Cristo: uma profecia e uma pedagogia do Cristo. O centro e objeto do
Evangelho, em o Novo Testamento, é o cristo.
d. O aspecto salvífico da salvação. A idéia que domina e dirige todo o
progredir da Revelação, do começo ao fim e que lhe dá a unidade, é a
salvação anunciada e finalmente dada no Cristo e pelo Cristo. A
Revelação é Revelação de deus que salva pelo Cristo. O Evangelho é
uma mensagem da salvação: notifica a salvação posta a nosso alcance
pelo Cristo e pela Igreja.
e. Revelação interpessoal. A Revelação é palavra do deus vivo e pessoal
que se dirige ao homem para convidá-lo à fé e a obediência.
6. Desenvolvimento do dogma
Também o problema do desenvolvimento do dogma levou os teólogos a se
questionarem quanto à noção de Revelação. Assim, por exemplo, o p. de
Lubac, observa que nesta questão do desenvolvimento do dogma, o nó do
problema está numa idéia exata da Revelação, que é o ponto de partida
desse desenvolvimento. Ora, "o conteúdo da Revelação, em sua forma
primitiva e em sua interioridade subsiste, não pode ser, nem exata nem
suficientemente, designada como uma série de enunciáveis". Em Jesus
cristo coincide: realidade revelada e ação reveladora, dom e Revelação do
dom. O Cristo é ao mesmo tempo, o mistério e a Revelação do mistério, o
Todo da Revelação e o todo do dogma.
È fato que o Todo da Revelação, principalmente na terminologia de são
Paulo, é o mistério, isto é todo o desígnio salvífico concebido e querido
por Deus. O mistério, porém, enquanto revelado, isto é, manifestado aos
homens, São Paulo denomina o Evangelho, ou seja, boa nova, mensagem de
salvação (Rm 16,25; Col 1, 25-26 Ef 1,9-13;3,5-6) È o Evangelho (que se
refere ao Cristo e ao seu mistério) que é pregado e que é aceito pela fé
(Rm 10, 4-17).
A Revelação cristã comporta necessariamente duas coisas: primeira, a
realidade da pregação e da salvação realizada pelo Cristo; segunda, o
testemunho dado pelos apóstolos em favor de Cristo.
7. Teologia da revelação e da fé
Essa teologia insiste primeiramente sobre o caráter especifico da
Revelação cristã. Não se trata de uma Revelação qualquer, gnose grega ou
conhecimento hermético das religiões de mistérios. Trata se de uma
Revelação de um tipo absolutamente único, que foge a toda a previsão ou
dedução humana.
Os teólogos da Revelação sublinham unicamente o caráter histórico da
Revelação. Deus vem, intervém na história humana por uma série de
acontecimentos que culminam no acontecimento central da encarnação.
Enfim, a história não é o lugar da Revelação, não somente a Revelação faz
história e tem sua história, mas a própria história, divinamente
interpretada, é o médium da Revelação.
Outra característica posta em evidência pela teologia da Revelação, e
esta mais bem estudada, é o caráter interpessoal da Revelação. Esta
iniciativa pessoal do Deus vivo e a manifestação de seu mistério pessoal.
Deus estabelece com o homem relações de pessoa a pessoa: o Eu divino
interpela o eu do homem. A Revelação é personalizada e personificante.
Antes de revelar qualquer coisa, Deus revela-se a si mesmo em seu
mistério: Deus tem um nome, fala, podemos invocá-lo e ele também sua vida
intima; faz aliança com o homem, oferece-lhe sua amizade, seu amor, sua
vida.

CAP. V – O II CONCÍLIO DO VAT. E A CONSTITUIÇÃO "DEI VERBUM"

Entre os problemas em jogo, foi principalmente das relações entre a
sagrada Escritura e Tradição que prendeu a atenção. A partir do dia 20 de
novembro de 62, o problema do conteúdo material da Escritura e da
Tradição continua sendo um problema aberto, que os teólogos e exegetas
poderão continuar aprofundando. O concílio, escolhendo outro caminho,
preocupo-se mais com marcar bem claramente a unidade orgânica entre a
Escritura e a Tradição, e o estreito relacionamento entre a Escritura,
Tradição e Igreja. Durante a segunda sessão, reinou o mais completo
silêncio sobre o esquema da revelação. No seu conjunto, o texto agradou
aos padres, porque equilibrado, de sabor bíblico, cristocêntrico, com uma
longa exposição sobre a tradição e, finalmente, porque deixava aos
teólogos liberdade quanto às questões controvertidas.
A constituição dogmática "Dei Verbum", votada capítulo por capítulo no
dia 29 de outubro de 65, e aprovada por quase unanimidade, foi
oficialmente promulgada por Paulo VI a 18 de novembro de 65.
5.1 Dei Verbum:
1) Deus, o Deus vivo, falou a humanidade. O termo" palavra de Deus" aplica-
se em primeiro lugar a revelação, a essa intervenção primeira pela qual
Deus sai de seu mistério, dirigi-se a humanidade para manifestar-lhes os
segredos de sua vida divina e comunicar-lhes seu desígnio de salvação.
2) A segunda frase indica a finalidade da constituição. O concílio quer
expor a verdadeira doutrina sobre a revelação e sobre sua transmissão.
5.2 – Texto e Comentário



a) Natureza e objeto da revelação

Da revelação é preciso dizer que ela é efeito do beneplácito divino. É
graça, é livre iniciativa de Deus, e não o efeito de uma coação ou
solicitação por parte do homem. Como obra de amor ela precede da bondade
e da sabedoria de Deus.
Deus falou a humanidade. Mediante sua palavra o que é Invisível se fez
conhecer, que sua transcendência se fez proximidade. A economia é
economia de palavra e de fé. A visão está para além da morte. Nosso Deus
é o Deus da palavra: fala a Abraão, a Moises, aos profetas e, por eles,
fala a seu povo. Pelo Cristo Deus fala aos apóstolos e por eles a nós.
Nele é o Filho que nos fala pessoalmente.
Dirigindo-se ao homem, ser de carne e espírito, mergulhado no tempo, Deus
comunicou-se com o homem pelas vias da encarnação e da história. Pela
primeira vez um documento do magistério descreve assim a economia da
revelação em seu exercício concreto e nessa fase ativa que a faz existir.
Esses gestos são, por exemplo, no Antigo Testamento: acontecimentos do
Êxodo, o estabelecimento da monarquia, os julgamentos de Deus
manifestados na derrota dos exércitos, o exílio, o cativeiro e a
restauração. Em o Novo Testamento: são as ações da vida de Cristo,
principalmente seus milagres, sua morte e sua ressurreição.
A ressurreição de Cristo confirma a verdade de seu testemunho e a
realidade de sua missão como Filho de Deus, vindo para salvar os homens
do pecado e da morte. Muitas vezes, as obras são passíveis de equivoca. É
função das palavras dissipar essa ambigüidade e proclamar o sentido
autêntico e misterioso da ações divinas: "As palavras proclamam e
iluminam o mistério contido nas obras".
O concílio, insistindo nas obras e nas palavras como elementos
constitutivos da revelação,e na sua íntima união põe em evidência o
caráter histórico e sacramental da revelação: acontecimentos iluminados
pela palavra dos profetas, do Cristo e dos apóstolos. Cristo é, ao mesmo
tempo, mediador e plenitude da revelação.

b) A preparação da revelação evangélica

A primeira frase afirma e distingue uma dupla manifestação de Deus: a
primeira, pelo testemunho da criação, dirigida a todos os homens; a
segunda, por uma revelação positiva, dirigida a nossos primeiros pais. O
mesmo Deus que criou o cosmo manifestou-se na história humana. Em poucas
palavras, o texto descreve esta primeira manifestação de Deus na criação.
O mesmo Deus que se manifestou a humanidade por seu verbo criador é
também o Deus salvador. A última frase evoca rapidamente dois milênios de
história, de Abraão a Jesus Cristo: Deus chamou Abraão, instituiu-o e
formou Israel seu povo, preparando assim o caminha para o Evangelho.

CONCLUSÕES:

1) Autor a finalidade da revelação: A revelação é uma ação de toda a
Trindade: o Pai, que tem iniciativa; o Verbo que, por sua encarnação, é o
mediador; o Espírito que torna a palavra de Cristo assimilável para a alma,
que move o coração do homem e volta-o para Deus. A revelação é, pois,
iniciativa gratuita da benevolência divina para com o homem, puro dom do
seu amor, do mesmo modo toda economia sobrenatural, encarnação, redenção,
eleição.
2) Natureza da revelação: Essa comunicação entre o Deus transcendente e sua
criatura, comunicação que chamamos revelação, a Igreja descreve-a, com os
termos da própria Escritura, como palavra de alguém a alguém: Deus falou a
humanidade.
3) História da revelação: A atividade reveladora de Deus, iniciada na
aurora da humanidade, constitui uma longa série de intervenções das quais
Cristo é o tema e o ponto dominante. O Cristo é ao mesmo tempo o mediador e
a plenitude da revelação. Nele conhecemos a verdade de Deus, verdade que
nos conduz a vida.
4) Objeto da revelação: O objeto material da revelação pode ser considerado
de duas maneiras. Em se mesma: Deus e o "mistério" de sua vontade, tal como
nos foi manifestado no Cristo e pelo Cristo; ou então, comparativamente com
a capacidade natural da inteligência criada.
5) A revelação e seus nomes: A revelação em sua forma plena pode ser
chamada equivalentemente: a palavra de Deus, a palavra divina, a palavra
revelada, a palavra pronunciada por Deus, a palavra testada, a revelação...
6) Revelação, Escritura, Tradição: A revelação chega até nós mediante a
tradição e a Escritura, ambas estreitamente unidas e interdependentes.
Ambas derivam da mesma fonte divina, exprimem o mesmo mistério e concorrem
para o mesmo fim, a salvação da humanidade.
7) Revelação, Igreja, Magistério: O depósito da revelação formado pela
Tradição e pela Escritura, foi confiado a Igreja toda, isto é, ao povo
cristão unido a seus sacerdotes, para que ela viva desse depósito e entre
todos os fiéis haja união na profissão e exercício da fé transmitida,
pertence, porém, unicamente ao Magistério a função de interpretar o
depósito da fé.
8) Característica da revelação.
a. A revelação é interpessoal: ao contrário da revelação natural pela qual
Deus se manifesta ao Espírito como objeto e se deixa antes deduzir como o
princípio e fim de todas as coisas, a revelação sobrenatural é palavra de
Deus, diálogo e mensagem.
b. A revelação é gratuita: livre iniciativa da benevolência de Deus que se
inclina para o homem, iniciativa de seu amor salvífico.
c. A revelação é social: O homem criado por Deus não é apenas indivíduo,
mas sociedade. Assim também a revelação, que dissemos ser interpessoal é
também social, destinada a toda a humanidade.
d. A revelação é histórica: primeiro porque se apresenta como intervenção
de Deus na história, intervenções interligadas e tendo em vista um único
desígnio de salvação. A revelação é acontecimento da história e história.


e. A revelação é encarnada: recebida numa inteligência humana, deve
acomodar-se as condições da concepção humana. O objeto da revelação é o
designo de Deus, mas é humano e limitado o modo de concepção e expressão
desse designo.
f. A revelação é doutrinal e realista: em sua forma plena, a revelação não
é pura ação de Deus que se oferece à amizade humana, puro contato do
espírito conosco, pura inteligência interna sem conteúdo e sem doutrina
fixa. É uma mensagem promulgada pelo Cristo e transmitida pelos
Apóstolos.
g. A revelação é salvífica: é feita para a salvação, para a salvação de
todos os homens. É um conhecimento que tem por finalidade a vida. Não é
sabedoria humana, invenção filosófica, nem produto do subconsciente, e
sim sabedoria divina, essencialmente ordenada para a salvação.

9) A fé resposta a revelação: A fé, resposta à revelação, e ao mesmo tempo
dom pessoal de todo homem que livremente se entrega a Deus numa homenagem
total de sua inteligência e de sua vontade, livre assentimento à verdade
por Deus revelada. É ainda ao Espírito que se deve atribuir o
aprofundamento da fé.

IV - PARTE – REFLEXÃO TEOLÓGICA

A teologia procura penetrar o mistério que já possui pela fé,
procurando obter uma inteligência mais viva. Portanto; a função
reflexiva da teologia não se justapõe a função positiva: é antes sua
decorrência homogênea. É inteligência, mas inteligência da dado
revelado. Nesta última parte queremos estudar os problemas levantados
pelo próprio dado revelado.
CAP. I – ENCARNAÇÃO E REVELAÇÃO
A teologia contemporânea consiste muito na necessidade de estabelecer
um nexo estreito entre a Revelação e a Pessoa do Cristo. Ela também
reclama uma fidelidade mais autêntica ao realismo da encarnação, uma
fidelidade levada às últimas conseqüências. Se a natureza humana do
Cristo não é um disfarce, mas a "auto-expressão de Deus quando Seu Verbo
é proferido com amor em o nada absoluto e sem Deus", se pela encarnação
houve verdadeira "in-humanizaçao" de Deus, então é o homem enquanto
homem que se torna expressão do mistério de Deus.
No Antigo Testamento, para a compreensão da Revelação o problema
central é o das relações entre encarnação e Revelação, entre o Cristo e
a Revelação. Qual é pois a relação entre o Cristo e a Revelação? E, mais
precisamente, como o Cristo utilizou os caminhos da encarnação para
revelar-nos Deus e seus desígnios de salvação?
I. Inteligibilidade de uma economia de encarnação para a revelação
Santo Tomás declara tranqüilamente: da mesma maneira que o homem, para
comunicar seu pensamento, o reveste de certo modo, com letras e sons,
"assim também, Deus querendo manifestar-se aos homens, revestiu de carne,
no tempo, seu Verbo concebido desde toda eternidade".
Em se tratando de uma Revelação de Deus ao homem mediante a encarnação,
essa inteligibilidade aparece evidente quer consideremos o mistério do
ponto de vista de Deus, quer do ponto de vista do homem.
Primeiramente, Deus exprime a si mesmo, em si mesmo, para si mesmo: Ele
se conhece em seu verbo. E quando Ele se exprime ad extra, então essa
expressão é a expressão desse verbo imanente. Era sumamente conveniente
que o Verbo de Deus fosse o seu Revelador, que o Filho do Pai, seu Amém,
iniciasse o homem em sua vida filial. Também os padres gregos, como
Justino, Irineu, Clemente de Alexandria, Orígenes, vêem no Verbo, o único
revelador possível. Sendo a Revelação, Revelação de pessoas e não de
problemas, somente uma pessoa poderia introduzir-nos no conhecimento do
mistério trinitário.
Pela encarnação Deus tomou o suporte material que nos era necessário
para que a sua presença nos fosse acessível. No Cristo Deus tornou-se
presente para nós de maneira humana, ao mesmo tempo que se manifestava
como Deus. Em Jesus Cristo e por Jesus Cristo, aquele que em Deus é a
verdade e o Amém do Pai, interpreta para nós o Pai. Assim, o Cristo diz
humanamente o que Deus quer dizer de si mesmo.
II. Plenitude e realismo da encarnação
É preciso insistir na plenitude e no realismo da encarnação. A
humanidade do Cristo não é uma simples aparência, uma espécie de
personagem da qual se servisse para manifestar sua presença e dissimulá-
la ao mesmo tempo. A natureza humana é a expressão o próprio Deus, "a
auto-expressão" de Deus-para-fora-de-si-mesmo. A segunda pessoa da
Santíssima Trindade é pessoalmente homem; esse homem é pessoalmente Deus.
O Cristo é Deus de maneira humana e é homem de maneira divina. As
palavras do Cristo são palavras humanas de Deus; os atos de Cristo são os
atos de Deus em forma de manifestação humana.
Deus mesmo, em pessoa, concretamente se revelou no Cristo: tal é o fato
inaudito, decisivo que o Novo Testamento proclama e se esforça para
traduzir pela plenitude de suas fórmulas nas quais o Cristo e o
conhecimento de Deus estão indissoluvelmente ligados: "Deus nestes
últimos tempos, falou a nós no Filho" (Hb 1,2).
É essa plenitude da encarnação que os Santos Padres exprimem em sua
forma ao mesmo tempo concisa e concreta: "o conhecimento de Deus é Jesus
Cristo", diz Santo Inácio de Antioquia. Ou ainda: "não existe senão um
Deus, manifestado por Jesus Cristo seu filho, que é a Palavra saída do
silencio." Conforme Santo Irineu, a Revelação é a epifania do Pai através
do Verbo encarnado: "Pelo Filho, feito visível e palpável, apareceu o
Pai.
Mais propriamente, a encanação é o caminho escolhido por Deus para
revelar e se revelar. Tem por fim tornar possível, ao desígnio do homem,
o conhecimento de Deus e de seu desígnio de salvação. Portanto, é
legítimo dizer que a encarnação do Filho – concretamente entendida – é a
Revelação do Filho e, por ele, do Pai.
III. Revelação mediante a encarnação
Se o Filho se encarna para revelar, devemos afirmar que todos os
recursos da natureza humana serão assumidos por ele para servirem de
expansão à sua pessoa de Filho de Deus. Portanto, as palavras do Cristo,
seu ensinamento, e também suas ações, suas atitudes, seu comportamento,
toda a sua existência humana serão assumidos por ele para servirem de
expressão à sua pessoa de Filho de Deus. Portanto, as palavras de
Cristo, seu ensinamento, e também suas ações, atitudes, comportamento,
também toda a sua existência humana será perfeitamente utilizada para
revelar-nos as profundezas do mistério divino.
A Revelação, portanto, se realiza seguindo uma dupla linha de
manifestação:
Por palavras explicitando os gestos
Os gestos e as ações, por sua vez, encarnam as palavras e lhes dão um
valor de vida.
Assim, o acontecimento da encarnação que podemos chamar de Revelação
"em primeiro grau", deve completar-se pela Revelação-palavra que é seu
comentário necessário. A Revelação como acontecimento supõe a
Revelação como palavra.
A palavra de Cristo é, pois o elemento da Revelação. Isso por diversos
títulos:
1. Por que Deus, assumindo a humanidade, assume ao mesmo tempo a
palavra como expressão privilegiada entre os homens, ou seja, Ele diz
com palavras inteligíveis o que está realizando.
2. Por que estando a verdade no juízo, e não na simples apresentação dos
acontecimentos, é pela palavra que se exprime o juízo, que une o sujeito
ao predicado.
3. Porque o objeto da Revelação não são apenas os fatos históricos, mas
também os mistérios da Trindade, da filiação Divina do Cristo, de nossa
participação na vida da Trindade.
4. Porque as ações, os gestos, os acontecimentos, os mistérios da vida
de Cristo não podem ser cridos com fé divina a não ser que sejam
apresentados como objeto do testemunho divino.
IV. Proposição humana e verdade divina
A encarnação parece resolver a mais grave e aparentemente única
dificuldade da Revelação, ou seja, a de uma comunicação autêntica do
desígnio divino para o espírito humano. A união de naturezas na unidade
da Pessoa possibilita a passagem do plano divino, inacessível ao plano
humano e ao mesmo tempo garante a fidelidade da transmissão. O Cristo é
o perfeito Vidente-Deus que exprime em linguagem humana o que vê. Efetua-
se pois a passagem da visão divina à expressão humana. Se a Revelação
chega até nós mediante noções e proposições humanas, como podem essas
noções e proposições dar-nos acesso ao mistério divino? Como pode Deus
garantir a verdade humana duma afirmação essencialmente composta de
ingredientes humanos? Vejamos duas posições:
a. Karl Barth: responde que a verdade da afirmação humana, isto é, a
correspondência entre o discurso humano e a realidade divina, é
garantida apenas pela graça da Revelação. Mas essa resposta não
resolve o problema.
b. P. H. Bouillard: diz que apoiados ou não pela Revelação, conceitos e
termos atribuídos a Deus são nossos, são humanos. Trata-se de saber
como um discurso humano, mesmo baseado na Bíblia, pode referir-se a
Deus.
Portanto, a Revelação,mesma feita por Cristo, não é imaginável a não
ser que tenha por base a analogia, como seu processo de negação e
superação. Quem não aceita a analogia deve também recusar a Revelação.
Pois a Revelação supõe dois termo – Deus e o homem – que ao mesmo tempo
se aproximam e se distinguem. Se é possível a distinção entre Deus e o
homem, estamos reduzidos ao monismo. Se, pelo contrário, for impossível
a aproximação entre Deus e o homem, então estamos reduzidos ao
agnosticismo absoluto ou ao transcendentalismo absoluto que condena Deus
ao silêncio. A analogia nega ao mesmo tempo que a palavra divina seja
da mesma natureza da palavra humana e que seja uma palavra sem qualquer
relação com a palavra humana incapaz, portanto, de estabelecer qualquer
diálogo verdadeiro.
Porque Deus fez todas as coisas e particularmente a natureza humana,
como um reflexo de sua própria perfeição, todas as coisas tem sua fonte
em Deus, e por isso é possível uma relação entre Deus e o homem. A
Revelação pela palavra pressupõe a linguagem da criação feita por Deus,
do mesmo modo que a graça tem seu apoio na natureza intelectual e
espiritual do homem. Assim, não é apenas porque foram escolhidos pelo
Cristo que nosso conceitos e nossos temos humanos são válidos para
enunciar o mistério; é antes porque eles tem uma relação com o Ser
Divino que o Cristo os pôde utilizar.
Contudo, paternidade e Revelação são duas analogias reveladas,
escolhidas pelo Cristo, que, têm, portanto o caráter necessário e
normativo de analogias impostas pelo próprio Deus. Essas analogias
reveladas despertam a reflexão humana que procura purificá-las e
transfigurá-las para poder entrever alguma coisa das profundezas da vida
divina. Trabalho é feito sob a direção da Igreja que aprova, corrige ou
recusa.
A Revelação do Cristo não se compõe apenas de analogias reveladas:
compreende também juízos que ligam essas analogias entre si. Assim, é a
analogia que legitima o uso dos termos da proposição; é a qualidade de
Filho do Pai que permite ao Cristo uni-los em juízo conformes à
realidade do mistério divino.
V. Situação do Cristo
A encarnação estabelece entre o Cristo, os apóstolos e a Igreja, com
referência à Revelação, relações que deviemos agora definir. O Cristo é
ao mesmo tempo Deus que revela e Deus Revelado, caminho e sina da
Revelação, resposta a Revelação.
O Cristo é Deus que revela, pois o Verbo de Deus, o Filho, Jesus
Cristo, é tudo uma só realidade. O Cristo é causa e autor da Revelação,
pois a Revelação origina-se tanto do Cristo como do Pai e do Espírito.
O Cristo sendo o Deus que revela é ao mesmo tempo o Deus Revelado.
Ele é ao mesmo tempo o Deus que fala do qual se fala, a testemunha e o
objeto do testemunho, autor e objeto da Revelação, aquele que revela o
mistério e o próprio mistério em Pessoa. Enquanto Verbo Encarnado, ele é
a expressão que revela; enquanto Verbo de Deus, é em Pessoa a Verdade
que ele prega e ensina.
No Antigo Testamento Deus utilizou-se do psiquismo dos profetas para
se fazer conhecer; agora, une-se hipostaticamente à natureza humana e
manifesta seu desígnio de vida pelas palavras, ações, gestos, atitudes e
comportamentos do Cristo.
O Cristo é o Sinal da Revelação: sinal ao mesmo tempo confirmativo
(motivo de credibilidade) e figurativo (símbolo).
Finalmente, o Cristo é a perfeita resposta que a humanidade dá a
Revelação. Ao movimento descendente da Revelação corresponde um
movimento ascendente, que vai do Cristo ao Pai. O Cristo é ao mesmo
tempo Revelação do amor do Pai e resposta a esse amor.
O Cristo estabelece com o Pai esse dialogo harmonioso que é a norma de
toda resposta e de todo encontro com Deus. Cristo é, pois, a Plenitude
da Revelação. Nele culmina a Revelação como ação, como economia, como
mensagem e como encontro.
VI. Situação dos Apóstolos
Na economia da encarnação da Revelação os apóstolos ocupam lugar único
com relação ao Cristo e à Igreja. Eles são as testemunhas privilegiadas
de "antemão designadas", "escolhidas", para serem ministros da palavra.
Constituem o germe do novo povo que o Cristo conquistou com seu sangue, e
desse povo eles serão os pastores.
Sua missão é uma participação na missão que o próprio Cristo recebera
do Pai. Tertuliano fala da doutrina que as Igrejas receberam dos
apóstolos; os apóstolos, do Cristo; o Cristo de Deus.
Cristo veio para fundar uma religião cujo centro e o objetivo é Ele
mesmo em pessoa. Se a Revelação se realizou pelo o encontro com o Deus
Vivo, em Jesus Cristo, então somente poderão ser mediadores autênticos da
Revelação os que foram testemunhas de sua vida, iniciados no mistério de
Sua Pessoa. Sem eles não podemos atingir Cristo. Quem se separa deles
perde o contato com o Cristo. Pois, só os apóstolos tiveram do Cristo uma
experiência viva e direta.
Apesar dessa plenitude de experiência, os apóstolos não transmitiram
tudo nem o podiam transmitir. Sua pregação não podia esgotar aquilo que
há de inefável em qualquer encontro pessoal. Transmitiram pelo menos o
essencial das palavras e das ações do Cristo: aquilo que propriamente
constitui a economia da salvação. Transmitiram o ensinamento do Cristo
com a máxima fidelidade, levando em conta os ouvintes e os ambientes.
VII. A situação da Igreja
É pois diversa a condição dos apóstolos e a da Igreja. Esse diferença
de condição aparece claramente na primeira Carta de São João. Os cristãos
aos quais ele se dirige não conheceram a Jesus; não tem outro meio de
conhecê-lo senão o testemunho de quem viveu com ele. Como poderiam os
cristão participar desta experiência? Mediante o testemunho apostólico e
a fé nesse testemunho. É através da pregação objetiva do apóstolo,
subjetivamente acolhida pela fé e praticada pelos mandamentos, que os
cristãos entrarão em comunhão com o Verbo da Vida.
A experiência que os apóstolos tiveram do Cristo é levada ao
conhecimento dos homens pelo testemunho e pelo querigma apostólico. O
conteúdo dessa Boa – nova, é a mensagem da salvação, a palavra de
verdade, ou simplesmente o Cristo. A ação que corresponde a testemunhar,
pregar, evangelizar, é a de ouvir com fé. O que propõe primeiramente a
Igreja, não é, a experiência concreta, viva, intuitiva da Pessoa do
Cristo como a puderam ter os apóstolos mediante a encarnação, mas é o
testemunho apostólico sobre o fazer e o ensinar do Cristo: testemunho
que se dirige "ex auditu" à inteligência que, internamente iluminada pelo
Espírito Santo, assimila o que os ouvidos ouviram.
Portanto, os documentos do Magistério estão conforme aos dados da
Escritura e da Tradição quando equivalentemente falam da doutrina
apostólica, de doutrina revelada, de Revelação transmitida pelos
apóstolos ou de deposito da fé confiada a Igreja. Assim a Revelação atual
é o testemunho apostólico depositado na memória da Igreja.
A teologia protestante atual resiste à idéia de uma Revelação concebida
como dispensação de verdades divinamente garantidas. Contudo, a teologia
católica é a primeira a declarar que a Revelação é uma ação, um
acontecimento, um encontro que transforma a existência do homem e o
convida a uma decisão, a um comprometimento de toda pessoa. A Revelação é
uma ordem de conhecimento que tem por finalidade uma ordem de vida. Se
Deus nos fala, é para associar-nos à sua vida. Nossa adesão ao Cristo é
mediatizada e normalizada pela nossa união e adesão ao testemunho e à
doutrina dos apóstolos: uma doutrina de salvação, uma palavra de vida.
A resistência contra uma Revelação entendida como doutrina procede, em
muitos protestantes atuais, do desejo de marcar ainda mais a
característica personalista, existencial, "factual" da Revelação; em
outros, porém, procede da recusa clara ou disfarçada da encarnação.



CAP. II – MILAGRE E REVELAÇÃO

O primeiro Concílio do Vaticano denomina os milagres fatos divinos,
provas, e sinais. Sua função é estabelecer solidamente "a origem divina
da religião cristã". Assim, o magistério da Igreja põe em destaque uma
função importante do milagre – seu papel comprobatório: aprovação selo
de Deus sobre uma palavra que pretende ser divina. Pelo milagre Deus
garante que está com o seu enviado, que a sua palavra é realmente
palavra de Deus. Realmente, o milagre é um sinal polivalente.
I. Polivalência do milagre
1. Sinal da ágape de Deus
Até para os menos atentos os milagres do Cristo mostram-se
primeiramente como obras de misericórdia e bondade. No Cristo "apareceu
a benignidade de Deus, nosso Salvador, e seu amor pelos homens" (Tit
3,4). Os milagres do Cristo são as manifestações da ágape de Deus, isto
é, de sua caridade, ativa e compassiva, que se inclina sobre a miséria
humana.
No milagre da multiplicação, foi o Cristo que primeiro "teve dó" da
multidão, "porque eram como ovelhas sem pastor" (Mc. 6,34; 8,1-13).
Outros milagres, porém apresentam-se como resposta do Cristo a uma
prece, às vezes clara, outras muda, implícita num gesto, numa atitude.
Em seu aspecto mais evidente os milagres são uma resposta da ágape de
Deus ao apelo da miséria humana. Deus é amor! (I Jo. 4,8). No Cristo
esse amor toma forma humana, coração humano, para chegar a miséria do
homem e mostrar-lhe a intensidade do amor divino.
2. Sinal da chegada do reino redentor
Os profetas do antigo testamento anunciaram a era messiânica e os
sinais da mesma. Será um tempo de milagres. "Então – proclama Isaías
(35,5-6) – abrir-se-ão os olhos aos cegos, e os ouvidos aos surdos
descerrar-se-ão. No pensar dos profetas a era messiânica reproduzirá,
mais grandiosamente as maravilhas do Êxodo. Os evangelistas vêem nos
milagres do Cristo a realização dessas profecias. Em Jesus está
presente o messias. O acontecimento, tão esperado, realizou-se na
sinagoga de Nazaré o Cristo declara explicitamente que seus milagres O
indicam como aquele que deve vir (Lc. 4,16-22)
Na vida de Cristo as curas e os exorcismos estão intimamente ligados
à sua obra de salvação. Estão igualmente ligados aos poderes que ele
conferiu a seus apóstolos: de pregar, curar e expulsar demônios. (Mt
10,1; Mc3, 14; Lc9, 1).
O Cristo apresenta-se como aquele que veio para destruir o reino de
satanás. Toda sua vida pública esta dominada pela consciência de dever
manter um combate pessoal contra satanás. "Para isso aparece o Filho
de Deus: para desfazer as obras do diabo" (1Jo 3,8). O milagre torna
sensível e visível a renovação espiritual e invisível. Torna visível a
presença e a ação salvífica do Cristo.
3. Sinal da missão divina
Em toda a tradição bíblica o milagre tem como função garantir uma
missão como divina. Do profeta que se apresenta em nome de Deus, os
Judeus exigem provas. Moisés pede e recebe de javé o sinal que lhe prove
que Javé "está com ele" e que "a sua missão vem dele" (Ex 3,12). Através
da história do profetismo é o milagre constantemente invocado para fazer
a separação entre os verdadeiros e falsos profetas.
Para muitos já a grande multidão de milagres é um sinal. Os milagres do
Cristo atestam que ele é o enviado de Deus. Se o cristo realizou curas e
expulsou demônios é porque "Deus estava com ele" (At. 2,22).
4. Sinal da glória do Cristo
Para quem os recebeu, os milagres são sinais, mas do ponto de vista do
Cristo, são mais propriamente obras do Filho. Os milagres são a atividade
divina do filho de Deus entre os homens.
O Pai "ama o Filho e todas as coisas entregou em sua mão" (Jo 3,35),
então os milagres são sinais manifestos da aprovação do Pai. Cristo
apresenta seus milagres como testemunho do Pai em seu favor. É preciso
acreditar no Cristo, se não por suas palavras, ao menos por suas obras.
(Jo 10,37-38).
5. Revelação do mistério trinitário
De fato, as obras do Cristo são ao mesmo tempo suas obras (Jo 5,36) e
obras do Pai (Jo 9,3-4). Portanto, ver a atividade do Cristo, é ver o Pai
presente no Filho, exercendo través das obras do Filho sua atividade
criadora e salvífica (Jo 14,9-10).
Portanto, os milagres do Filho devem ser postos em paralelo com as
grandes obras de Deus na história de Israel, a criação e os prodígios. As
obras do Cristo são reveladoras da vida trinitária, isso, porém enquanto
unidas ao testemunho de Jesus sobre si mesmo e sobre sua missão.
6. Símbolo da economia sacramental
Estaríamos falseando a Escritura se reduzíssemos o milagre apenas a seu
valor comprobatório ou jurídico. O milagre está intrinsecamente ligado à
mensagem. Como diz Santo Agostinho: "Perguntemos aos milagres o que eles
nos têm a dizer sobre o Cristo; para quem os compreendem, eles tem sua
linguagem. Com efeito, o Cristo sendo o Verbo de Deus, cada ação do Verbo
é também uma palavra que nos é dirigida".
A vinda de Cristo inaugura um mundo novo, o da Graça; faz uma
revolução, a da salvação pela cruz. Cristo vem salvar, libertar do
pecado. Em primeiro sua ação atinge a raiz do mal, mas a atividade
salvífica sensível simboliza, ao mesmo tempo que a garante, a atividade
salvífica espiritual.
No Evangelho de João se manifesta o simbolismo dos gestos miraculosos
do cristo. Este é o Evangelho dos sinais. A transformação da água em
vinho (Jo 2) inaugura a nova criação. Na multiplicação dos pães (Jo 6),
Cristo convida a reconhecer o sinal do verdadeiro pão, símbolo evidente
da ceia Eucarística. Finalmente a ressurreição de Lázaro (Jo 11, 1-14)
apresenta o Cristo como a ressurreição e a vida. Simboliza a vitória
total do cristo sobre a morte e prefigura a nossa ressurreição e a sua.


7. Sinal das transformações do mundo escatológico
O milagre, finalmente, é sinal prefigurativo das transformações que se
devem operar no fim dos tempos, no corpo humano e no universo físico. Em
primeiro lugar, o milagre é sinal da libertação e da glorificação dos
corpos.
O milagre é também sinal anunciador da redenção do universo. Na
mentalidade bíblica, há uma intima solidariedade entre o homem e o
universo físico. Todo o universo, arrastado pelo homem, participa de seus
pecados e da sua redenção.
O cristo por sua morte veio restabelecer a ordem onde reina o pecado. A
presença de Deus entre os homens era o princípio de harmonia no paraíso.
A paz entre Deus e o homem era a fone de paz entre o homem e o mundo. O
pecado, rompendo a intimidade entre Deus e o homem rompe essa harmonia.
II. Revelação e funções do milagre
Segundo a Escritura os milagres do Cristo mostram-se primeiro como
manifestações da Ágape de Deus que responde à miséria do homem. Isso
significa que, o reino anunciado chegou e que Jesus é o Messias esperado.
Os milagres cumprem as Escrituras.
O milagre manifesta que deus está presente no Cristo, e a Gloria do pai
qualifica seu ser, ao mesmo tempo em que o confirma como filho de Deus.
Com referencia a revelação, podemos reduzir a função essencial dos
milagres em três. Dispõe, comprova juridicamente e figura e simboliza.
O milagre dispõe para ouvir a mensagem, pois é um sinal de
benevolência, é uma palavra de graça. É sinal de alguém para alguém,
sinal expressivo da benevolência de Deus para com o homem. Blondel
diz que o milagre "manifesta analogicamente a derrogação real que a
ordem da graça e da caridade introduz nas relações entre o homem e
Deus". A primeira função do milagre é significar a presença e a
benévola iniciativa do Deus de amor e dispor a alma para ouvir a Boa-
nova.
Na segunda função, comprobatória ou jurídica, o milagre apresenta-se
como um sinal de Deus. A revelação é comunicação da mensagem e
convite para crer nesta. O milagre é o selo divino sobre a mensagem,
garantia de sua origem divina.
A função comprobatória do milagre é inseparável de sua função
figurativa ou simbólica. A mensagem recebe do milagre um
acompanhamento contínuo no plano sensível. O milagre é a dimensão
carnal da mensagem espiritual; ele visualiza a palavra e lhe dá
relevo. O milagre demonstra também que a palavra da salvação não é
sem sentido, mas uma palavra-energia palavra-ato. Milagre e revelação
caminham juntos, são como as duas faces, visível e invisível do
mistério. Portanto as três funções são inseparáveis e estão a serviço
da mesma realidade.

CAP. III – FINALIDADE DA REVELAÇÃO

Podemos ver a finalidade por duas perspectivas: 1) Teocêntrica (a
revelação feita em vista da glória de Deus); e 2) Antropocêntrica (é
feita em vista da salvação do homem).
I. A revelação é para a salvação do homem
Do ponto de vista do homem, é a salvação do homem. Em termos mais
positivos, é a visão, participação na vida divina.
A revelação é uma obra essencialmente salvífica. Deus não se revela para
satisfazer nossa curiosidade ou para aumentar nossos conhecimentos, mas
para tirar o homem da morte do pecado e fazê-lo viver de uma vida eterna.
A salvação será um acontecimento da história, trazida aos homens pelo
Ungido de Deus, que salvará Israel e toda a humanidade mediante Israel
(esperança do AT) e a Igreja (NT).
Se o homem pela fé, adere ao mistério que lhe é revelado e vive em
comunhão com a Trindade, ele realiza sua salvação e glorifica a Deus.
II. A revelação é para a glória de Deus
O fim último da revelação é a glória de Deus.
Para o Xto, dar testemunho ao Pai, manifestar o seu Nome, revelar o seu
Nome, é o mesmo que glorificá-lo.
No Xto e nos apóstolos a revelação atinge plenamente sua finalidade. Xto
glorificou o Pai pois manifestou aos homens o desígnio de graça do Pai,
ele é perfeito glorificador do Pai.
A glória de Deus indica o próprio Deus, na perfeição de seu Ser e na
irradiação de usa perfeição.
O xtão glorifica a Deus qdo adere, pela fé, ao plano de salvação eleva
uma vida condizente com essa fé. O homem glorifica a Deus pela fé,
comunhão de espírito com o Pensamento de Deus e pela caridade, que insere
no seu coração o próprio Amor de Deus. Assim, glorifica a Deus e realiza
sua salvação; pois vivendo plenamente a vida de filho, realiza sua
salvação que é também a glória de Deus.
V – PARTE: A Sagrada Escritura
O texto, inspiração, canonicidade, verdade bíblica e interpretação da
bíblia.


1) Texto

A bíblia pode ser descrita como coleção de escritos, reconhecidos como
inspirados. Ela recebe uma variação no seu nome: Escritura Sagrada,
Livros Sagrados, Testamento. Ela é, comumente, considerada como uma
grande obra – obra de um único autor -, mas, do ponto de vista humano,
constitui uma biblioteca.
Este livro é dividido em duas partes: Antigo e Novo Testamento[25]; ambos
testamentos falam das alianças que Deus estabeleceu com a humanidade. Em
meio a tantas infidelidades do povo escolhido e da permanente fidelidade
de Deus, o Antigo Testamento constitui uma preparação para o ato
definitivo do amor de Deus para com a humanidade.

a) Subdivisão dos livros nas duas Alianças

Os judeus fizeram a seguinte divisão para o Antigo Testamento: Lei –
Pentateuco -, Profetas - Anteriores, Posteriores e Menores – e Escritos.
Mas desde o século XIII, os católicos o dividem desse modo: Históricos,
Didáticos e Proféticos.
O Novo Testamento é dividido com base no modelo do Antigo, ou seja:
Históricos, Didáticos e Profético.

b) A formação da bíblia

O Antigo Testamento foi formado a partir de um longo processo iniciado
com Abraão (séc. XIX a.C); as origens do A.T. remontam a ele. Mas foi
Moisés (séc. XIII a.C) o líder material e o legislador que iniciou o
grande movimento religioso, o qual deu início a essa grande obra
literária.
O Pentateuco traz a marca de Moisés, mas a sua forma final só se deu no
século VI a.C. Os livros Proféticos tiveram o seu início no século VIII
a.C. e a sua conclusão no século IV a.C. O século VI constitui a fase
áurea da literatura sapiencial, mas o seu início se reporta a Salomão
(séc. X a.C.). O livro da Sabedoria surgiu quando mal começava o século I
da nossa era. Muito da literatura do A.T. está baseado em tradições
orais.
Como o Antigo Testamento, também o Novo relata a história de um povo; ele
esboça a vida dos primeiros cristãos: novo povo de Deus. Contrariamente
ao Antigo, que precisou de quase um milênio para ser composto, todo Novo
Testamento foi escrito dentro de um só século (o I). Vemos, desse modo,
que ambas as Alianças são um resultado final de um coletivo esforço.
Os livros canônicos da bíblia foram escritos em três línguas: hebraico,
aramaico e grego; sendo que a maior parte do A.T. foi escrita em
hebraico. Todo o Novo Testamento foi escrito em grego. É bem verdade que
não existe nenhum texto original dos escritos bíblicos, pois desde o
século III da era cristã tinham-se perdido. Isso se deu devido ao
sensível material no qual foram postos: papiro e pergaminho.
2) Inspiração

Existe uma definição precisa sobre esse tema: a inspiração bíblica é o
resultado mistérico da ação carismática de Deus nos hagiógrafos enquanto
membros da comunidade crente, seja judaica seja cristã; os quais, usando
de todas as suas faculdades e talentos e agindo Deus neles e por meio
deles, põem por escrito tudo e só o que Deus quer em ordem à salvação da
humanidade "...
De modo esquemático - A inspiração bíblica é o resultado mistérico (em
quanto que a letra visível desvela e vela ao mesmo tempo a revelação do
invisível) da ação carismática de Deus (causa principal, autor) nos
hagiógrafos enquanto membros da comunidade crente, seja judaica seja
cristã; os quais ( causa instrumental, autor), usando de todas as suas
faculdades e talentos (modo humano) e agindo Deus neles e por meio deles
(modo divino), põem por escrito tudo e só o que Deus quer (efeito), em
ordem à salvação da humanidade (fim)"[26].
Assim, o Concílio Vaticano II afirma que: "As coisas divinamente
reveladas, que se encerram por escrito e se manifestam na Sagrada
Escritura, foram consignadas sob inspiração do Espírito Santo"[27].
Não só nas manifestações do Magistério, mas também na mesma Sagrada
Escritura nós encontramos claramente uma consciência do fenômeno da
inspiração; isto se dá em todas as partes, desde o A.T. até o Novo. Jesus
tem consciência de ser a plena revelação do Pai.
A Igreja, baseada na mesma revelação e querendo defender a sua
integridade, depois uma reflexão plurissecular, definiu como dogma o
fenômeno da inspiração; essa definição foi promulgada pelo Concílio
Vaticano I na Constituição Dogmática Dei Filius.

3) Canonicidade

Intimamente ligado à inspiração se encontra o aspecto da canonicidade.
São canônicos os livros divinamente inspirados, recebidos pela Igreja e
reconhecidos por ela como a infalível regra de fé e prática em virtude de
sua origem divina. Embora todos os livros canônicos sejam inspirados e
nenhum livro inspirado exista fora do cânon, as noções de canonicidade
não são as mesmas. Os livros são inspirados porque Deus é o seu autor;
eles são canônicos por que a Igreja os reconheceu e os admitiu como
inspirados, pois, só a Igreja, por meio da revelação, pode reconhecer o
fato sobrenatural da inspiração.
Poderemos nos perguntar quais as causas que levaram a estabelecer a
canonicidade? Certamente tanto no judaísmo quanto o cristianismo houve
motivos para que fosse estabelecido um cânon. No caso do judaísmo alega-
se: a - conservação da própria identidade por conta do progresso do
cristianismo; b – ante a ameaça da diáspora; c – enfim, por conta do
desenvolvimento co'natural e dinâmico da tradição judia, que surgia com a
reflexão dos rabinos. No caso dos cristãos a necessidade surgiu por conta
da expansão contínua da igreja; fazia-se necessária uma mesma regra de fé
para todas as Igrejas; desse modo se manifestava a sua universalidade. Um
segundo motivo deveu-se ao fato de colocar um ponto final nos heréticos
que recorriam aos escritos apócrifos.
Para estabelecer os livros canônicos, a Igreja teve um duplo trabalho:
determinar os livros canônicos do A.T e, ao mesmo tempo, determinar quais
os livros que entrariam como canônicos para o Novo Testamento. Desse
modo, foi necessário estabelecer a distinção entre A.T e Novo Testamento,
falar da diferença e da continuidade; o Novo Testamento tinha seu aspecto
peculiar: era munido de uma originalidade e novidade.
Mas para determinar os livros canônicos foram necessários alguns
critérios. Para o A.T: era imprescindível: a – a tradução dos LXX, b – o
uso no culto e c – o uso nos escritos do Novo Testamento. Para a
determinação do Novo Testamento os critérios foram: a – origem
apostólica, b – uso no culto, c – a ortodoxia e d – as listas antigas do
cânon.
Ante as dúvidas surgidas em relação à autoria e autenticidade de alguns
escritos, o concilio de Trento, na sessão IV, proclamou como verdade de
fé o dogma da canonicidade. Comumente se afirma que o mesmo Deus que
inspirou os textos, do mesmo modo inspirou também a Igreja para canonizar
os escritos.

4) Verdade bíblica

Faz-se necessário distinguir e definir os seguintes conceitos:
Verdade bíblica (ou salvífica): é aquela verdade cujo objeto formal é o
conhecimento íntegro de tudo o que o homem precisa de saber para a vida e
para a salvação, que nos foi outorgado por Cristo;
Inerrância: é a qualidade da bíblia, pela qual a revelação de Deus nela
contida está livre de todo erro.
Apesar de a inerrância ter sido afirmado desde as origens da tradição,
tanto judaica quanto cristã, durante todos séculos de nossa era houve
resistências contra essa verdade; de modo particular se destaca o século
XVI, com a introdução do estudo crítico e racionalista da Escritura, mas
sobretudo os séculos XVII –XIX com o desenvolvimento das ciências
astronômicas[28], palenteológicas[29] e históricas[30]. Todo o
desenvolvimento científico foi causa de fortes tensões entre os homens da
ciência, de um lado, e os teólogos e magistério, do outro, chegando-se a
pensar na impossibilidade de conciliar razão fé.

a) Princípios da verdade bíblica

Fala-se comumente de alguns princípios fundantes da verdade bíblica:
1. "O objeto formal da verdade bíblica é a salvação do homem"[31]; ou
seja, mesmo que a bíblia nos traga informações e dados científicos e
históricos, ela têm como fim proporcionar o conhecimento de Deus a fim
de que ele seja salvo.
2. Para assentir à verdade bíblica é indispensável o conhecimento e o bom
uso dos gêneros literários.
3. A verdade bíblica é historicamente progressiva e tem sua culminação e
plenitude em Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida.

b) Sua especificidade

Como sabemos, ao se tratar de verdade, podemos dizer que há uma
diversidade[32], mas que, na diversidade, há um elemento comum[33] a
todos. Todavia, além disso, vale ressaltar que, no caso da verdade
bíblica, há o que chamamos de especificidade; Qual será? A verdade
bíblica é uma verdade lógica e ontologicamente especificada pelo seu
objeto formal, ou seja, a revelação de Deus para a salvação do homem. Ela
se caracteriza por ser: de gênero semítico, de caráter religioso, de
caráter dialético, que se vai descobrindo pouco a pouco, seja em seu
progresso rumo à plenitude que é Cristo, seja em seu caráter sobrenatural
que supera as verdades meramente humanas.

5) Interpretação da Bíblia

Para uma interpretação coerente da bíblia são necessários critérios. O
primeiro deles consiste em ter presente a base da interpretação, ou seja,
a noção básica de hermenêutica. Quais são os aspectos considerados por
ela? São: a) o texto literário; b) o receptor ou o homem contemporâneo;
c) o autor do texto; d) o tema e) e a linguagem.
Como podemos definir a interpretação bíblica ou hermenêutica? "É uma
parte da ciência bíblica, que tem por objeto a compreensão, explicação,
interpretação dos textos bíblicos em sua linguagem e conteúdo,
estabelecendo uma mediação entre o texto antigo e o homem contemporâneo,
mediante o uso dos métodos científicos mais apropriados, com o fim de
fazer o texto vivo e atual para o homem"[34].
Por que é necessária a interpretação bíblica? Os motivos são diversos: a-
por causa da natureza mesma do texto; ele continua a ser fonte de
inspiração e de novidade para todos os tempos; b- por causa da sua
finalidade, pois ela é dirigida a todos os homens de todos os tempos; c-
por causa da dificuldade do texto em si mesmo, é um texto antigo que, à
medida que o tempo passa, se distancia sempre mais do presente, mas
também porque nele está contida uma série de passagens obscuras; d-
porque sua interpretação é interminável, pois em cada época surgem novas
descobertas na filosofia, na exegese, na ciência e na técnica que
contribuem para a sua interpretação; e- sobretudo pelo fato da relação do
homem com Deus, pois não é indiferente ao homem conhecer Deus ou não,
conhecê-Lo melhor ou não; assim está em jogo a relação pessoal e
comunitária do homem com Deus.
A hermenêutica bíblica tem uma história; ela atravessou milênios e
séculos; suas fases são: hermenêutica própria do A.T., do N.T., da época
Patrística e Medieval, no qual se destaca são Tomás, o período moderno,
onde surgem teorias divergentes da interpretação tradicional: influenciam
o Renascimento humanista, a Reforma protestante, os novos movimentos
filosóficos: o iluminismo, positivismo e o romantismo. Esse encadeamento
do período moderno tem o seu ponto de partida no racionalismo cartesiano.
Cada um desses períodos traz a sua peculiaridade.
A hermenêutica católica entra num momento de decadência, mas ganha novo
impulso com a Providetissimus Deus (1893) até a Dei Verbum. Durante esse
ínterim convém que distingamos na história uma exegese católica e outra
protestante.
Mas quais os princípios determinantes de uma interpretação católica da
Bíblia? A Dei Verbum e o documento da comissão bíblica determina o
conjunto de critérios: leitura no Espírito, a intenção do autor[35], o
conteúdo e a unidade de toda a Bíblia, a Tradição viva de toda a Igreja
e a analogia da fé[36].
Sobre os métodos de interpretação são-nos bastante conhecidos o
Diacrônico (ou histórico-crítico), o que estuda o texto sagrado em seu
processo de formação, e o Sincrônico, que se ocupa do texto enquanto tal.

VI – PARTE: A Tradição: objeto, sujeito e monumentos.

Objeto: "O que a Igreja transmite é a parádosis (do grego: transmissão
"" entrega "" tradição; N.T. Tradição apostólica). divino-apostólica, que
não é somente palavra, mas também sacramento. Isso decorre do fato de que
a Tradição de Cristo é dupla: Ele nos 'entrega' as palavras e o mistério
do Pai e 'se entrega' por nós na cruz. Do mesmo modo, a recepção da
Tradição é dupla: escuta-se a palavra de Cristo e Ele habita no cristão,
ou seja, há uma tradição verbal e uma real. A parádosis divina, enquanto
tem em Cristo seu portador, continua sendo transmitida através do anúncio
do evangelho; enquanto tem Cristo como objeto, continua através da
administração dos sacramentos".
Sujeito: "A Transmissão da Tradição é primariamente uma tarefa de toda a
Igreja; pastores e fiéis são sujeitos da transmissão; Espírito Santo é
sujeito transcendente da Tradição; Ele atualiza e interioriza o que foi
dito e feito por Jesus".
Monumentos: "A Tradição só se torna presente sob a forma de tradições e
de testemunhos eclesiásticos, litúrgicos e teológicos, chamados comumente
de monumentos da Tradição, ou seja, as expressões concretas pelas quais
ela pode ser compreendida. Entre os meios e testemunhas da Tradição, a
liturgia ocupa um lugar privilegiado, porque enquanto se expressa em
obras e em palavras, é o centro e modelo de transmissão. A liturgia é
expressão da Igreja em sua vitalidade, em seu louvor a Deus, em sua
comunhão santa com Ele; é a voz da Igreja que ama e ora, voz que não só
expressa sua fé, mas que a canta e a pratica numa celebração viva. De
igual modo, ocupam um lugar muito importante na Tradição os Padres da
Igreja, entre os quais podemos considerar os autores da Escritura, os
Santos Padres, os Concílios, os Papas, em uma palavra, todas as
autoridades normativas que deram à tradição eclesiástica seus traços
característicos. A eles se deve precisão de doutrina em relação a certas
interpretações que se desviaram da revelação. (...) Foram eles também os
que estabeleceram as bases para uma disciplina eclesiástica e os que
fixaram as formas de celebração litúrgica. Desse modo, nos âmbitos da fé,
do culto e da disciplina, os Padres estabeleceram a vida da Igreja. Além
disso, podemos destacar os gestos e os costumes por meio dos quais se
expressa o espírito cristão, a vida santa de tantos membros da comunidade
cristã e, em geral, todas as formas através das quais se expressa a fé,
aí incluída a arte cristã. Dentro da Tradição temos de situar também o
Magistério, que é um órgão da Tradição e que cumpre uma tarefa específica
em função da transmissão e da interpretação do dado revelado".

4.1 Critérios para discernir a tradição apostólica

"Como as expressões da Tradição são múltiplas e variadas, a ponto de,
muitas vezes, serem quase identificadas com a vida toda da Igreja, é
necessário que se apontem alguns critérios que sirvam para reconhecimento
da Tradição; com eles se procura identificar o que é próprio da Tradição
apostólica e o que pertence à tradição eclesiástica.
1°- Magistério: sua função já nos é conhecida: interpretar de tal
modo a Palavra de Deus que procura discernir o que o Espírito diz à
Igreja hoje.
2º- Antigüidade: este critério tem seu fundamento em Trento;
considera como tradições somente aquelas que chegaram até nós,
indicando assim sua universalidade e verificando sua continuidade ao
longo da história. (...) Com ele se quer expressar que uma tradição
que provenha da época apostólica e que continue até os nossos dias
demonstra sua autenticidade e vitalidade para a vida de fé e serve
como critério para aquisição de novas tradições.
3º- Sensus Fidei: o sentido de fé faz referência direta à comunhão da
Igreja em todos os seus membros e supõe a presença do Espírito Santo
para que todos os fiéis reconheçam a expressão clara da fé e tenham um
sentido interior das realidades espirituais que experimentam. Para
discernir as tradições através do Sensus Fidei é necessário que se
examinem a fé e a prática da Igreja toda desde o Bispo até o último
dos fiéis, levando-se em conta, contudo, que o reconhecimento mesmo do
sentido da fé supõe sempre uma verificação através dos frutos visíveis
do Espírito.
4º -Fidelidade: continuidade e renovação: a transmissão fiel da
verdade salvífica não significa imobilismo; significa que deve está
ligada às suas origens, mas ao mesmo tempo aberta a novas mudanças que
permitam tornar mais visível a realidade salvífica, de modo a
responder aos anelos e às aspirações do homem atual (Portanto:
inovação que mantenha a identidade essencial da Igreja).
5º- A profissão de fé: entre os vários documentos do patrimônio
eclesiástico, o 'credo' dos apóstolos, o Niceno e outras profissões de
fé serviram como instrumentos para verificar as tradições herdadas.
Neles se faz uma síntese maravilhosa do que ensina a Escritura e do
que pregou a Igreja, de modo a nos apresentar o núcleo básico com o
qual se podem confrontar as novas formulações e a pregação atual.
6º-A Sagrada Escritura: ela é memória normativa da origem da fé; por
conseguinte, toda tradição na Igreja deve ser confrontada com ela como
critério normativo e de existência eclesial; ela é decisiva para a
orientação da fé e da vida dos fiéis, tanto mais quanto é formalmente
Palavra de Deus.
7º- Cristo ressuscitado: o critério fundamental – para o qual todos
os demais se voltam – é Cristo, Palavra última e definitiva de Deus
aos homens".

VII – PARTE: Função do Magistério[37] na transmissão da revelação

Intimamente ligado ao tema da Escritura encontra-se o da Tradição. A
propósito desta relação, a Igreja tem manifestado a sua preocupação ao
publicar alguns documentos doutrinais, mas também a própria teologia tem
refletido sobre a questão. O próprio Concílio Vaticano II tem dado uma
palavra de importante relevo para a teologia.
O conceito de Tradição é de suma importância na história das religiões;
por isso o termo pode receber uma definição genérica e outra particular.
No sentido mais amplo, tradição significa o dado recebido nos primeiros
tempos e transmitido sem interrupção. No sentido mais restrito, ou seja,
no âmbito histórico-religioso judaico-cristão, Tradição está unida ao
dado da Revelação; sendo que, enquanto para o Antigo Testamento, o
significado recai para a Lei (Torá), no Novo Testamento o momento
incisivo é o evento Cristo.
Cristo: evento que deveria ser transmitido às gerações futuras de um
duplo modo: pela pregação da palavra e pelos sinais salvíficos. A
Tradição recebeu significado especial quando as testemunhas oculares e
auriculares começaram a desaparecer; mas não só isso, sobretudo quando
começaram a surgir as heresias: Cristo e sua mensagem estavam sendo
transmitidos com uma roupagem falsa, senão era-Lhe negado verdadeira
importância. Nesta situação, a Igreja teve que encontrar meios para
continuar a transmissão intactamente da fé, recebida de Cristo,
testemunhada e garantida pelas testemunhas oculares e auriculares a fim
de que Cristo e sua identidade histórica não fossem extintas.
Essa tentativa de conservar a integridade da revelação de Deus em Jesus
Cristo aparece nos escritos do N.T nos evangelhos de Marcos e Lucas, nas
cartas pastorais[38], na segunda carta de Pedro, nas cartas de João e na
de Judas.
"No período da tradição, que vai ao final da ascensão de Cristo ao final
do tempo apostólico, isto é, até o nascimento da Escritura, dá-se uma
interpretação progressiva do mistério de Cristo, baseada na experiência
histórica com Jesus de Nazaré, e na experiência pascal das aparições do
Senhor e da ação do Espírito Santo. Surge assim uma norma de fé,
precursora dos símbolos de fé, tendo seu lugar próprio (...) na liturgia
eclesiástica. Esta norma foi anterior à Escritura, mas nela desaguou.
Conheçamo-la pela Escritura, da qual faz parte. Por isso, a Escritura
deve ser interpretada pela norma de fé recebida nela, porém já
constituída anteriormente"[39].
A Escritura, pelo seu conteúdo duradouro, claro e pleno, contém dado
objetivo para que a mensagem salvífica seja transmitida até a irrupção do
futuro absoluto. Mas não podemos negar o fato de ter sido introduzido
alguma deformação humana na transmissão do conteúdo comunicado pelos
apóstolos e seus discípulos. Por esse motivo é que se diz que
dificilmente se pode alcançar a forma pura do objeto transmitido
oralmente; daí também mais um motivo pelo qual só a Igreja ter a
autoridade de interpretar e transmitir o conteúdo.
Nos últimos anos[40] tem-se dado importância à discussão da possibilidade
de a Tradição escrita oferecer um conteúdo mais amplo do que a Sagrada
Escritura. A esse respeito Trento não faz distinção, pois afirma que
tanto o A.T.e o N.T. – de quem Deus mesmo é o Autor – quanto as tradições
atinentes à fé e aos costumes procedem da boca de Cristo. Até pouco tempo
se defendia a teoria das duas fontes[41].
O CVII também considerou o problema, mas renunciou a essa teoria. Ele
prefere afirmar que o conteúdo transmitido pelos apóstolos encerra tudo o
que é necessário saber para que o povo de Deus viva santamente. Mas esta
Tradição que procede dos apóstolos progride na Igreja sob a assistência
do Espírito Santo, enquanto progride no conhecimento das coisas e
palavras transmitidas.
Mas qual é a prova viva dessa tradição? O ensinamento dos Santos Padres,
cujos tesouros se comunicam à prática e à vida da Igreja que crê e reza.
Assim percebemos a íntima relação entre Escritura Sagrada e Sagrada
Tradição; ambas surgem da mesma fonte, fundem-se de certo modo e tendem a
uma mesma finalidade; a Palavra de Deus, escrita sob a inspiração do
Espírito, foi confiada aos apóstolos; por eles, é transmitida
integralmente aos seus sucessores, para que estes a guardem fielmente,
exponham-na e a difundam coma sua pregação; resultando dessa atitude que
a Igreja não tira as verdades reveladas apenas da Sagrada Escritura, mas
também da Tradição.
Escritura Sagrada e Sagrada Tradição constituem um mesmo e único
Depósito. Fiel a esse mesmo Depósito, todo povo santo, unido com seus
pastores na doutrina dos apóstolos e na comunhão, persevera
constantemente na fração do pão e na oração, de modo que haja uma
colaboração especial de fiéis e prelados em guardar, exercer e professar
a fé recebida; mas só ao Magistério, unicamente a ele, foi confiada a
função de interpretar a Palavra de Deus, seja ela escrita ou transmitida;
ele exerce sua autoridade em nome de Cristo e não se coloca sobre o
Depósito, mas a seu serviço; exerce a sua função ensinando unicamente o
que foi transmitido, escutando, guardando diligentemente e expondo com
fidelidade. Deste único Depósito de fé, o Magistério tira tudo o que
propõe para se crer como verdade revelada por Deus. Assim, pois, Sagrada
Escritura, Tradição Sagrada e Magistério estão de tal modo unidos entre
si que não há consistência de um sem o outro; e juntos, cada um a seu
modo, sob a inspiração do Espírito de Deus, contribuem para a salvação
dos homens.
Mesmo expondo definitivamente muitos pontos que desde os concílios
tridentino e Vaticano I eram objetos de reflexões, o Concílio Vaticano II
deixou, intencionalmente, algumas questões a serem estudas; entre ela
destaca-se o fato de a Sagrada Escritura ser concebida como uma
sedimentação da pregação apostólica, por meio da qual é transmitida de
modo especial a Palavra de Deus.
A visão elaborada do Vaticano II remete a Tradição em sua dupla dimensão:
regressiva que vai até a pregação apostólica; e progressiva que se
estende à pregação do Magistério eclesiástico. Com relação a esta última,
faz-se necessário estabelecer relação com a sucessão apostólica, pois a
Tradição também consiste em transmitir a Palavra de Deus aos sucessores
dos Apóstolos. Assim, vemos que a atividade transmissora não se conclui
com a criação do cânon – como na Tradição escrita -, mas se continua até
o retorno de Cristo. Todavia, os escritos reunidos no cânon constituem o
instrumento da pregação eclesial. Desse modo, a Sagrada Tradição ajuda a
entender mais profundamente a Escritura e a acioná-la mais eficazmente.
Portanto, a atividade transmissora leva à interpretação e ao
desenvolvimento da Sagrada Escritura.
Existe o famoso problema da suficiência da Sagrada Escritura; o que dizer
a este respeito? Em primeiro lugar é mister entender o conceito
suficiente, pois ele deixa a si dupla interpretação: a) a Sagrada
Escritura oferece a Palavra de Deus com plenitude suficiente para a
salvação; b) se esta palavra se refere à consecução da salvação, então
não se deve entender a partir da Sagrada Escritura, mas de Cristo, pois é
Ele que produz a bem-aventurança, é somente a fé em Cristo que opera
através da Escritura, e não a fé na palavra nela contida. A Sagrada
Tradição ou Tradição não escrita não apresenta conteúdo revelado que não
esteja na Escritura, mas ela é apenas um desenvolvimento dela.
Quais são os portadores da Tradição? O Concílio Vaticano II afirma ser
todo o povo de Deus, que tem um senso, um instinto de fé por meio do qual
sabe julgar a conformidade e não conformidade de uma proposição ou de um
comportamento com o mistério de Cristo; é uma espécie de sexto sentido.
Contudo, a Igreja universal só pode atualizar a função de transmitir a
Tradição incorporando-a e subordinando-a ao Magistério eclesiástico.

VIII – PARTE: O dogma[42]

O ponto de partida do dogma são o Querigma[43] e a catequese primitiva.
Estes foram, à luz da ressurreição, reinterpretados e postos por escrito,
à luz do Espírito. A Igreja sente a necessidade de comunicar a todo homem
em todos os tempos o mesmo anúncio salvífico, mas sempre conservando a
integridade da revelação. Para tanto, o dogma parece ser uma das formas
mais típicas e oficiais do desenvolvimento do querigma e da interpretação
da Sagrada Escritura ao longo dos séculos no curso da Igreja, pois ele é
o que torna presente uma compreensão autêntica do Evangelho através de
expressões doutrinais que atualizam a formulação bíblica original, ou
proveniente da Tradição em nome da autoridade do Magistério da Igreja.
Assim, o dogma aparece como atualização do querigma e do dado bíblico no
decurso da história. Mas, com o passar dos tempos, essa atualização
recebeu um caráter "definidor", em sentido doutrinal. Das diversas
definições, algumas constituem como que os pilares de toda a Tradição,
especialmente aqueles que permanecem fixas na confissão de fé do credo da
Igreja Católica.
O que significa a palavra "Dogma"? Os dogmas da Igreja contêm uma
doutrina que não é produto de simples descoberta da razão humana e,
portanto, não são unicamente a expressão de determinada escola teológica.
A doutrina exposta no dogma tem caráter divino, enquanto é a expressão e
explicação de um conteúdo da revelação, sob a luz e a guia do Espírito
Santo.
O dogma, como regra de fé, portanto, é tudo o que é verdade revelada por
Deus e definida como tal pelo Magistério. Ele comporta duas realidades
fundamentais:
a) o que se propõe no dogma pertence de fato à revelação divina, pública
e oficial tal qual nos é transmitida na Escritura e na Tradição;
b) a Igreja propõe explícita e definitivamente como pertencente à
Revelação.
Daí podemos concluir que a Igreja não pode inventar dogmas, o que faz é
explicitar verdades contidas na Revelação; ele está a serviço da verdade
revelada.
Existe uma imutabilidade e evolução nos dogmas, ou seja, um
desenvolvimento dogmático; este consiste no processo pelo qual a verdade
revelada passou da pregação dos Apóstolos ao ensinamento atual da Igreja.
Esta tem a missão de transmitir a verdade revelada, mas deve fazer um
esforço para um entendimento crescente e atual da mesma mensagem. Esse
desenvolvimento crescente se transforma em processo dogmático quando o
melhor entendimento conseguido é proclamado infalivelmente pelo
Magistério da Igreja como verdade contida no Depósito da revelação, ou
seja, dogma. O desenvolvimento dogmático sempre se realizou através da
imutabilidade e evolução do dogma.
A – Imutabilidade das definições de fé: O valor absoluto e imutável do
dogma tem sido reiteradamente sustentado pelo Magistério contra todas as
formas de "relativismo dogmático".
B – Evolução do dogma: os novos tempos exigem que os dogmas sejam
explicados como novos enunciados que esclareçam, completem e atualizem as
definições anteriores; só desse modo se podem evitar os erros futuros.
Fala-se, comumente, de alguns fatores do desenvolvimento dogmático; são:
Espírito Santo: Ele constitui o princípio ativo do desenvolvimento
dogmático; a evolução dos dogmas é de iniciativa divina; é o Espírito
Santo quem guia a Igreja a uma compreensão mais profunda.
A contemplação e o estudo: esta atividade intelectual própria do crente
vai conseguindo algum entendimento dos mistérios revelados na Escritura e
na Tradição; essa busca por mais compreensão é dever de todo fiel, mas de
modo particular do teólogo.
Sentido da fé: este é suscitado no povo crente pela garça e pelos dons do
Espírito Santo; esse sentido faz o povo descobrir na Palavra de Deus
significados e valores autênticos que, muitas vezes, são menos acessíveis
até aos próprios teólogos.
Magistério eclesiástico: a intervenção do Magistério no desenvolvimento
da compreensão do dogma se realiza quando os bispos, em comunhão com o
Papa, pregam com o carisma da verdade. Apresentam aos fiéis o depósito da
fé e dão sua Palavra autorizada pela qual se indica o que deve ser crido
e vivido pela comunidade. Além disso, o ensinamento geral e constante
constitui o horizonte no qual o progresso dogmático pode se realizar
autenticamente.

IX – PARTE: O ato de fé como resposta à revelação

Diante do fenômeno da revelação o homem tem duas opções: aceitar ou
recusar. O pólo "aceitar" é o que interessa a nós. Responder
positivamente à revelação e corresponder a ela é o que chamamos de fé.
Ela pode ser tanto "aceitação de certas verdades no sentido de
declarações conceituais, como confiança e obediência na aceitação da
única ação salvífica de Deus em Jesus".
O modo pleno de responder a Deus só se dá com a vinda de Jesus. Os
mistérios de sua vida, morte e ressurreição foram acontecimentos
decisivos sobre a salvação, pois manifestaram-se, ao mesmo tempo, o
portador da mensagem e a própria mensagem, o revelador e a própria
revelação.
Na história, desde o Antigo Testamento até o Novo – neste se compreende
também até os nossos dias -, a fé recebeu diversas matizes. Não nos é
possível elencar as características da fé em toda a história e em cada um
dos seus momentos, mas queremos indicar ao menos alguns aspectos, pois
eles são determinantes para a compreensão do tema:
Paulo diz que a fé inclui em si mesma uma nova auto-inteligência do
homem; a fé, para ele, é o conhecimento de Deus, da Verdade; é obedecer a
Deus e aprender a salvação em Cristo e granjear a esperança do futuro
absoluto;
João: fé é ir a Jesus, é unidade de vida com Ele; é passar da morte para
a vida, mas também compreende uma dimensão escatológica, no sentido de
esperança do futuro.
Patrística: a fé recebe matiz preferentemente intelectual, é verdadeira
gnose, filosofia;
Escolástica: esforçou-se para uma análise psicológica da fé. Tomás define
a fé como "participação pela graça no conhecimento do próprio Deus";
Reforma: Lutero dá à fé uma conotação de confiança e entrega;
Período pós-tridentino: a partir de então podemos falar de duas
concepções de fé: católica – que desenvolve o aspecto objetivo do
conteúdo – e a protestante – que dá maior atenção ao aspecto da
subjetividade;
Teologia atual: a fé é objeto de discussão tanto na filosofia quanto na
teologia; pois o problema surge quando se pergunta sobre a estrutura
objetiva e pessoal da fé: ela consiste em um "sim" a determinadas
declarações ou a um Tu pessoal? Dessa discussão surge a famosa pergunta;
"cremos em algo ou alguém"? Afirma-se normalmente que essa oposição entre
o aspecto pessoal –bíblico – e o ontológico – grego - não tem sentido;
pois "se o homem crê deste modo em Jesus Cristo e nele baseia sua
existência (...), realiza-se a si mesmo da maneira requerida por seu
núcleo pessoal. Surge a forma de existência descrita por Paulo: 'estar em
Cristo'. Essa fé não só é expressão da estrutura pessoal do homem, como
sobretudo repercute nele. Aqui se realiza o que Agostinho opinava com as
palavras: creio 'em' ti. A fé cristã é fé 'em' Deus, e como Deus apareceu
historicamente em Jesus Cristo, a fé em Deus é também fé em Cristo.
Inversamente a fé em Cristo, representante de Deus na história humana, é
fé em Deus. A estrutura da fé em Deus é dada pelo fato de se chegar a Ele
no ato de fé em Cristo. A fé em alguém tem o aspecto de fé em algo,
enquanto expressa as declarações do Tu afirmado na fé". Portanto ambas
não se contradizem, mas se complementam.
BIBLIOGRAFIA



BIBLIA DE JERUSALÉM


BIBLIA DO PEREGRINO


CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. São Paulo: Loyola, 2000.


COLLANTES, Justo. Fé Católica: Documentos do Magistério da Igreja. Rio de
Janeiro, RJ: Lumen Christi; Anápolis, GO: Diocese de Anápolis, 2003.


COMPÊNDIO VATICANO II. Constituição Dogmática Lumem Gentium. São Paulo:
Paulus, 2000.


CONCÍLIO VATICANO II, Constituição Dogmática Dei Verbum. São Paulo: Paulus,
2001.


DENZINGER, Heinrich. Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé
e moral. São Paulo: Paulinas; Edições Loyola, 2007.


FISICHELLA, R. Dicionário de Teologia Fundamental. Petrópolis: Vozes, 1994.
p. 1094


GARCÍA, Antonio Izquierdo. La Palabra viva: introducción a la Sagrada
Escritura. México: Nueva Evangelización, 199. p.132.


Latourelle René. Teologia da revelação. São Paulo: edições Paulinas, 1973


QUESTÕES DE TEOLOGIA FUNDAMENTAL



1) Qual o conceito de REVELAÇÃO para o Antigo Testamento?

2) Qual deve ser sempre a resposta do homem diante de Deus que se revela?

3) Diga quais são as etapas da história da revelação no Antigo Testamento?

4) Diferencie revelação cósmica e revelação histórica.

5) Mostre quais as etapas da história de Israel que foram precedidas pela
palavra?

6) Qual é o objeto da revelação no Antigo Testamento/

7) Quais sãos os traços característicos da Revelação no AT?

8) Qual o conceito de REVELAÇÃO para o Novo Testamento?

9) Na tradição sinótica quais são os termos que descrevem a ação reveladora
de Cristo?

10) Nos Atos as testemunhas são em primeiro lugar os apóstolos, cite as
três as características necessárias para ser considerado um apóstolo?

11) São Paulo para penetrar no âmago da ideia de revelação usa as
categorias de "mistério e de Evangelho". Explique as etapas da revelação
do mistério.

12) Diga quais são os termos utilizados para revelação no vocabulário
Joanino?

13) Em resumo (conclusão) qual é o conceito de revelação para são João?

14) Como os PADRES APOSTÓLICOS concebem (veem) ao Cristo?

15) Qual é a doutrina da Salvação de São Justino?

16) Para Santo Irineu a criação é a primeira etapa da revelação, assim o
que é Revelação para ele?

17) Quem são os padres Alexandrinos (testemunhas da Igreja Grega) e exponha
o conceito de uma deles?

18) Quem são os Padres capadócios? E qual é a preocupação em primeiro
plano de que se ocupam?

19) O que é revelação para Santo Agostinho?

20) No pensamento da Escolástica do Século XIII temos a figura de São
Boaventura. Qual é o conceito de Revelação para ele? Qual palavra é
central no seu pensamento?

21) Quais são as etapas da revelação profética segundo são Boaventura?

22) Como Santo Tomas de Aquino considera a Revelação?

23) A revelação, acontecimento no tempo, apresenta-se a Santo Tomás como
uma operação em três fases. Quais são elas?

24) Quais foram os principais autores da Renovação Escolástica do Século
XIX?

25) No século XIX, ouve Concilio Ecumênico que respondeu aos erros do
racionalismo e protestantismo liberal. Qual foi? Quando aconteceu? Quais
documentos foi publicados?

26) A teologia querigmática pós em maior evidência certos aspectos que
contribuíram pra uma renovação da teologia da Revelação. Quais são as
principais características?

27) No Concilio Vaticano II temos uma das primeiras constituições
dogmáticas deste. Qual o nome dela, qual o conteúdo principal? Qual a
finalidade da constituição?

28) Segundo a Dei Verbum, qual é o objeto da revelação?

29) Cite as características da Revelação segundo a Dei Verbum?

30) Qual é a resposta para a revelação divina?

31) Qual é a plenitude e o realismo da ENCARNAÇÃO?

32) Na economia da encarnação e da Revelação os apóstolos ocupam lugar
único com relação ao Cristo e à Igreja. Qual é a Situação dos Apóstolos?
Qual é sua missão?

33) Diante da situação da Igreja perante a Encarnação, qual é a resistência
da Teologia Protestante atual?

34) O que são MILAGRES segundo o Vaticano I?

35) Os milagres em si possuem uma variedade de significados, cite as 04
polivalências dos milagres (sinais)?

36) Explique as 02 (duas) finalidades da Revelação.

37) Em quantas partes está dividida a Bíblia? Que assunto único falam as
partes?

38) Em que língua foram escritos os livros da Bíblia?

39) O que é inspiração bíblica?

40) Quais os critérios para que os livros fossem considerados canônicos
tanto no AT como NT?

41) O que é verdade bíblica e inerrância?

42) Para uma interpretação coerente da bíblia são necessários alguns
critérios. Quais são os aspectos considerados por ela?

43) Por que é necessária a interpretação bíblica?

44) Explique quem é o objeto e o sujeito da Tradição?

45) Cite os critérios para discernir a tradição apostólica.

46) Por que o Magistério oficial da Igreja é infalível?

47) Quais são os órgãos do Magistério/

48) O que significa a palavra "Dogma"? A Igreja pode inventar dogmas?

49) Cite os fatores do desenvolvimento dogmático?

50) Explique a frase: "Diante do fenômeno da revelação o homem tem duas
opções: aceitar ou recusar"
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[1] do latim fides, fé. Doutrina religiosa que prega que as verdades
metafísicas, morais e religiosas, como a existência de Deus, a justiça
divina após a morte e a imortalidade, são inalcançáveis através da razão, e
só serão compreendidas por intermédio da fé.
[2] "A palavra de Deus, no antigo testamento, dirige e inspira uma
história que se inicia pela Palavra divina pronunciada na criação e que
termina com a palavra feita carne. (E. Jacob)".
[3] "Alusão à figura de três homens junto a Abraão" (Gn 18.1.)
[4] Libertação do povo de Deus do Egito se deu por volta do ano 1300
a.C.
[5] Como prova de submissão total de um povo a Deus, feito pela
libertação do Egito. Faz-se então um pacto, uma aliança entre o Povo e Deus
(Deus que liberta o povo e este que lhe promete ser fiel, por meio do
decálogo) - Ex 20,22-23.
[6] Legalista: expressão mor do sacerdócio – o cumprimento da lei.
Profético: tem o sentido de ser fiel à lei.
[7] O exílio do povo de Israel se deu por volta do ano 587 até 538.
[8] Características dos salmos sob o ponto de vista da revelação: 1)
Preceito; 2) Revelação – a lei; 3) Compromisso; 4) A veracidade e a
fidelidade de Iahweh; 5) O valor de uma promessa; 6) A palavra criadora.
[9] Os profetas afirmam que Deus lhes falou e que sua palavra chegou até
eles. Devemos notar também que o termo palavra de Deus não se verifica
sempre do mesmo modo, nem com a mesma intensidade. Na vida dos profetas há
momentos privilegiados, quando a palavra de Deus se apodera deles de forma
mais intensa. O momento mais importante é o de sua vocação.
[10] Resumo: O Deus do antigo testamento é um Deus de intervenções e o
profeta as interpreta, percebe e proclama o seu valor salutar.
[11] Para um hebreu, acreditar é obedecer e confiar; é reconhecer Iahweh,
como o único Deus salvador de Israel, o que lhe deu a lei e prometeu a
salvação; e aceitar a sua vontade e confiar-se em suas promessas.
[12] Cf: Mt 3,14.
[13] Cf: Mc 16,16.
[14] Cf: Mc 9,5.
[15] Cf: Mc 12,6.
[16] Cf: At 1,8

[17] sobre as realidades referente a salvação.
[18] Cf: Rom 16, 25-27. Col 1, 25-28. Ef 3, 6 e 1, 10.
[19] Cf: Rom 16, 26.
[20] Para santo Irineu realmente, a manifestação do Filho é conhecimento
do Pai, pois tudo é manifestado pelo Verbo.
[21] Os gnósticos, em certo sentido elevavam ao máximo o conceito de
revelação, mas o deformou ao mesmo tempo.
[22] A revelação para São Boaventura é mos se fosse iluminação. É
importante salientar que Boaventura não distingue revelação e profecias.
[23] Este último é o mais alto e supõe sempre uma revelação e não se dá
mesmo modo com os outros dois modos de revelação.
[24] Para Santo Tomás, revelação significa a relação entre fé e verdade.

[25] Esta palavra provém do grego e significa aliança.
[26] GARCÍA, Antonio Izquierdo. La Palabra viva: introducción a la
Sagrada Escritura. México: Nueva Evangelización, 1990, p. 59. Este
parágrafo foi traduzido livremente do espanhol.
[27] Dei Verbum, nº 11.
[28] O famoso caso Galileu; ele afirmava o movimento da terra sobre o
sol; a mentalidade da época afirmava diversamente.
[29] O darwinismo – com a teoria da evolução das espécies - deu origem ao
Poligenismo.
[30] Progresso da arqueologia e da historiografia.
[31] DV, 11.
[32] Essa diversidade pode ser constatada a partir do objeto formal – que
se caracteriza pelo princípio de verificabilidade, o qual determina a
verdade e falsidade da ciência – de cada uma das ciências.
[33] É a adequação existente em cada ciência entre o entendimento humano
e a realidade que a ciência estuda segundo o seu objeto formal e segundo
seus princípios e métodos característicos. O elemento comum da verdade de
toda ciência consiste em atuar segundo a natureza própria da mesma (verdade
ontológica). .
[34] GARCÍA, Antonio Izquierdo. La Palabra viva: introducción a la
Sagrada Escritura. México: Nueva Evangelización, 199. p.132.
[35] Fundem-se aqui a intenção do autor humano e do autor divino.
[36] Define-se como a conexão coerente da fé objetiva da Igreja, o nexo
interno dos mistérios entre si.
[37] Magistério oficial da Igreja: é INFALÍVEL: não por própria força,
mas em virtude do Espírito Santo e em benefício da fé e da Igreja
universal; é infalível no sentido de que a "Igreja do Novo Testamento, ao
falar em virtude de sua autoridade doutrinal obrigatória, não pode se
enganar, graças à assistência do Espírito Santo". Órgãos do Magistério:
Magistério Ordinário: é o caso normal da pregação docente da Igreja e se
exterioriza através do ensino próprio de cada um dos bispos. Magistério
Extraordinário: constituído pelos concílios, sínodos e conferências
episcopais, os quais se reúnem em determinadas circunstâncias para se
manifestar a propósito de questões doutrinais ou de costumes. Dentro desse
magistério extraordinário somente podem se manifestar de maneira infalível
o concílio ecumênico e o Papa quando fala "ex cathedra". Sujeito da
infalibilidade: de acordo com a doutrina do Vaticano II, o verdadeiro lugar
da infalibilidade é a Igreja toda como "sacramento universal de salvação",
e o fundamento disso é a presença nela de Cristo e de seu Espírito. Daí a
infalibilidade do sentido da fé, do qual participam todos os membros da
Igreja. Contudo, com referência ao Magistério explicitamente, na Igreja só
existe um sujeito da infalibilidade: o Colégio dos Bispos, tendo o Papa
como cabeça. Esse sujeito de infalibilidade pode se manifesta de diversos
modos: no concílio, no Magistério ordinário universal e numa decisão "ex-
cathedra" do Papa, que age como cabeça do corpo episcopal. Magistério do
Papa: quando o Pontífice Romano exerce seu poder como Cabeça do Colégio
episcopal, seus poderes não derivam desse Colégio, mas do próprio Cristo.
Por força de seu ministério próprio a serviço de toda a Igreja para a
confirmação de seus irmãos na fé, compete a ele um Magistério peculiar. O
Papa só é infalível quando fala "ex cathedra", ou seja, quando, para
cumprir seu ofício de pastor e de doutor da Igreja, define com autoridade
apostólica que a Igreja universal deve aceitar uma doutrina pertencente à
fé ou aos costumes. Para que ele fale desse modo, é necessário que exercite
seu pleno poder docente e anuncie com clareza que quer definir uma
doutrina; que queira impô-la como obrigação de fé a toda a Igreja; e que se
refira à matéria de fé ou de costumes para a vida cristã. Uma decisão
tomada "ex cathedra" não necessita de ulterior aprovação da Igreja. Além
desse caso limite máximo e, portanto, excepcional e pouco freqüente, o Papa
tem um magistério ordinário não infalível que se expressa através de
encíclicas, constituições e exortações apostólicas, motus próprios, e
alocuções, que, em razão de sua autoridade magisterial, pedem que o teólogo
possa continuar suas investigações nas matérias assim tratadas pelo
Pontífice Romano. Em relação ao Magistério o fiel é convidado à aceitação
de fé e ao obséquio religioso.
[38] IITm 1, 13ss; 2, 2; 4, 1ss.
[39] A fé da Igreja, p. 146.
[40] A partir dos documentos de Trento.
[41] Segunda esta, as verdades estabelecidas pela Igreja, que não estão
fundadas na Escritura, podem ser demonstradas pela tradição não escrita.
[42] "As definições de fé, ou fórmulas dogmáticas do Magistério da
Igreja, pretenderam sempre a ajudar a compreensão do dado revelado,
determinando com autoridade o que o crente deve obrigatoriamente aceitar na
fé. E quando a Igreja faz novos enunciados tema intenção de confirmar ou
esclarecer as verdades jOQR[pqœ?ª«¯¸ÂÃèê, \ ¸ ð
¨÷îâÖij«¢ ¢« €uobRDb9b9hÆä6?OJ[43]QJ[44]^J[45]hÆá contidas de algum modo na
Sagrada Escritura ou em expressões precedentes da Tradição, mas, ao mesmo
tempo, costuma pensar em resolver certas questões.
[46] Anúncio do Senhor morto e ressuscitado.

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