DA ALTERIDADE N\'OS LUSÍADAS: UM OLHAR HEGELIANO SOBRE O OUTRO NO DISCURSO IDENTITÁRIO PORTUGUÊS

May 31, 2017 | Autor: Tamy Macedo | Categoria: Hegel, Poesia, Luis Vaz de Camões, Os Lusíadas
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"Não digo os outros senão para mais me dizer" (MONTAIGNE, 1967, p.146 apud TODOROV, 1993, p. 58).


DA ALTERIDADE N'OS LUSÍADAS: UM OLHAR HEGELIANO SOBRE O OUTRO NO DISCURSO IDENTITÁRIO PORTUGUÊS














Por
Tamy de Macedo Pimenta






Trabalho referente ao curso Problemas contemporâneos da poesia de Camões 1 – Camões épico apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura da Universidade Federal Fluminense.Professor: Luis Maffei.Trabalho referente ao curso Problemas contemporâneos da poesia de Camões 1 – Camões épico apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura da Universidade Federal Fluminense.Professor: Luis Maffei.

Trabalho referente ao curso Problemas contemporâneos da poesia de Camões 1 – Camões épico apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura da Universidade Federal Fluminense.
Professor: Luis Maffei.


Trabalho referente ao curso Problemas contemporâneos da poesia de Camões 1 – Camões épico apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura da Universidade Federal Fluminense.
Professor: Luis Maffei.














Instituto de Letras da UFF, 1º semestre de 2014
"o Outro é também uma consciência-de-si"
(HEGEL,1807/2003, §186, p. 144)

Como um povo historicamente constituído em meio a guerras e expansões, os Portugueses estiveram constantemente em contato com outros grupos, por vezes desconhecidos anteriormente e bastante diferentes de si. Por meio desses encontros ao longo da história, a alteridade tornou-se fundamental na construção do discurso identitário português, visto que este formou-se durante e a partir dos embates entre portugueses e não-portugueses. Tal relação entre identidade e alteridade também é explorada n'Os Lusíadas, de Luís de Camões, em vários pontos do poema, na medida em que a frota de Vasco da Gama depara-se com diversos povos e criaturas ao longo da viagem às Índias e, por vezes, relembra enfrentamentos pretéritos vivenciados pelos portugueses. Entretanto, por questões de extensão, neste texto tratarei apenas dos contatos de portugueses com mouros ou castelhanos antes da chegada às Índias, abarcando encontros em terra e no além mar.
Para realizar tal propósito, utilizarei as noções de identidade e alteridade de acordo com as postulações hegelianas. De acordo com o Dicionário Hegel escrito por Inwood, a identidade define-se como o antônimo da alteridade (INWOOD, 1997, p. 171), enquanto este último conceito – mais complexo - é desenvolvido ao longo das obras do filósofo, precisando ser compreendida à luz de seu sistema lógico. Por esta razão, desenvolverei reflexões acerca deste conceito segundo a ótica da filosofia de Hegel mais à frente, quando isso se tornar oportuno para a compreensão da imbricação entre identidade e alteridade no poema camoniano. Basta-nos, por enquanto, entender a alteridade como "característica do que é outro que não eu." (LALANDE, 1999, p.47).

Contatos em terra
Os portugueses, muito antes de empreenderem suas grandes navegações, já haviam tido contato com outros povos, sobretudo mulçumanos e castelhanos. Alguns deles foram recuperados por Vasco da Gama ao narrar a história de sua pátria ao Rei de Melinde, contando-lhe sobre batalhas entre lusitanos e não-lusitanos em terras europeias – a batalha de Ourique, entre portugueses e mouros; a de Salado, com portugueses e castelhanos cristãos de um lado e mouros "infiéis" de outro; e a de Aljubarrota, entre portugueses e castelhanos. É notável que, como realça Cleonice Berardinelli em Estudos Camonianos, se as duas primeiras envolvem embates entre cristãos e mulçumanos – e por isso podem ser entendidas como conflitos religiosos -, Aljubarrota, contrapondo dois povos cristãos, compreende um problema puramente político. Assim, em Ourique ocorrem "encontros temerosos" (Lus., III, 51) do "Lusitano exército ditoso" (Lus., III, 42), comandado pelo Rei que fora "Por Deus e polo povo" (Lus., III, 48) nomeado, com o inimigo bárbaro que, no desenrolar da luta, convoca a ajuda do Alcorão. Povos de crenças distintas, portanto, se enfrentam: é o Eu cristão contra o Outro mouro, assim como sucede em Salado, quando portugueses e castelhanos unem suas forças cristãs contra o "Mouro pérfido" (Lus., III, 112) que:

[...] despreza
O poder dos Cristãos, e não entende
Que está ajudado da alta Fortaleza
A quem o Inferno horrífico se rende.
(Lus., III, 112)

Aqui, mais uma vez, o poder Mauritano é rendido pelo cristão. Temos, então, nesses dois encontros entre portugueses e mouros - conforme estes são narrados pelo Capitão lusitano – uma ênfase no combate, em detrimento do convívio entre povos. A violência que os envolve inibe a troca, inclusive a de olhares, uma vez que um só enxerga no outro o alvo a ser atingido:

Golpes se dão medonhos e forçosos;
Por toda a parte andava acesa a guerra.
Mas o de Luso arnês, couraça e malha,
Rompe, corta, desfaz, abola e talha.
(Lus., III, 51)

Desse modo, o que domina nesses embates é o etnocentrismo: olha-se para o Outro com base em seus próprios valores e, na ausência destes, julga-se este Outro como inferior. Esses mesmos valores somente são alevantados quando são favoráveis a quem fala, na medida em que enquanto na batalha de Salado a invasão dos Mouros ao território castelhano-cristão justifica o enfrentamento a eles, em Ourique os portugueses têm direito de tomar terras dos mauritanos. Como observado novamente por Berardinelli, "Não importa que sejam eles os donos da terra de que há muito se apossaram: é preciso vencê-los para dar início à arrancada rumo ao sul, que chegará ao Algarve e continuará pelo mar afora" (BERARDINELLI, 2000, p.58). A justificativa ético-religiosa só será aplicada em favor de um lado, o que faz o motivo político sobressair claramente, como acontecerá em Aljubarrota. Nesta última batalha - que é a mais longamente narrada, com quarenta estâncias – temos dois inimigos cristãos, portugueses contra castelhanos. O Outro, anteriormente companheiro de luta contra o exército Mauritano, torna-se agora oponente político, por querer tomar o poder e as terras lusitanas. A fé perde importância neste momento e, desse modo, se o Mouro era caracterizado negativamente sob a ótica religiosa, o que suscitará a desaprovação de Vasco da Gama será a atitude castelhana após a derrota, já que o Capitão realça a rapidez com que o inimigo parte depois que "A sublime bandeira Castelhana/ Foi derribada aos pés da Lusitana" (Lus., IV, 41):

O campo vai deixando ao vencedor,
Contente de lhe não deixar a vida;
Seguem-no os que ficaram, e o temor
Lhe dá, não pés, mas asas à fugida.
(Lus., IV, 43)

Novamente aqui é reforçada a ideia de que os valores ético-cristãos só são aplicados quando são convenientes aos que deles se valem, uma vez que ao relatar os comentários da tropa de Castela ao deixar o campo de batalha, o Capitão diz que:

Outros a sede dura vão culpando
Do peito cobiçoso e sitibundo,
Que, por tomar o alheio, o miserando
Povo aventura às penas do Profundo,
Deixando tantas mães, tantas esposas,
Sem filhos, sem maridos, desditosas.
(Lus., IV, 44)

O fato de Gama dar voz a essas falas torna-se problemático na medida em que, ecoando o que dirá o Velho ainda no mesmo canto, elas criticam uma postura de Castela – "tomar o alheio" à custa da morte do povo - que também foi adotada por Portugal, em Ourique, e que será mais uma vez empregada pelos lusitanos, quando estes partirem para as Índias comandados pelo mesmo Capitão que, na estrofe supracitada, faz ressoar vozes contra tal conduta. Isto evidencia que o mesmo comportamento é visto de maneiras diferenciadas de acordo com quem as pratica: Mouros e castelhanos são enfrentados e mortos quando invadem territórios que não lhes pertencem, mas portugueses aumentam seu reino - em terra e em mar - em nome da fé e do império. O etnocentrismo manifesta-se, então, contra aquele que obstrui os caminhos desejados: o Outro, independentemente de religião e costume, é refreado por ter interesses adversos aos meus, e somente é visto enquanto opositor. Veremos, mais à frente, que não é esta a conduta adotada por Gama e sua frota quando pisam em terras desconhecidas além mar, já que trata-se de um contexto diverso.
Isto posto, percebemos que, desde sua fundação, o Estado português viu-se próximo a distintos grupos étnicos e religiosos. Todorov, em artigo sobre o relato de viagem, nos lembra que "As condições geográ cas do Mediterrâneo asseguram o contato entre populações muito diversas, tanto física quanto culturalmente: europeus cristãos, mouros e turcos muçulmanos, africanos animistas." (TODOROV, 2006, p. 232). Dessa maneira, a localização do território português, próxima ao mar mediterrâneo, permite e incita o contato com outros, o que mais uma vez é salientado pelo Gama ao descrever sua pátria:

Eis aqui, quase cume da cabeça
De Europa toda, o Reino Lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa
E onde Febo repousa no Oceano.
Este quis o Céu justo que floreça
Nas armas contra o torpe Mauritano,
Deitando-o de si fora; e lá na ardente
África estar quieto o não consente.
(Lus., III, 20)

De acordo com a exposição do nauta, por estar posicionado "Onde a terra se acaba e o mar começa", o Reino Lusitano tem como destinação divina expulsar "o torpe Mauritano" de suas terras e alongar seu domínio em África, já que "estar quieto o não consente". Logo, a própria geografia portuguesa contribuiria para o caráter desbravador e inquieto de sua gente que, por maneiras hostis ou diplomáticas, relaciona-se com o Outro.

Contatos além mar
Após os enfrentamentos com povos vizinhos em terra, dá-se início ao projeto marítimo em busca de novos inimigos a combater e novas terras a se acrescentar ao império. Assim, quando o inimigo em terra é expurgado, persegue-se novos desafios no além mar:
Não sofre o peito forte, usado à guerra,
Não ter immigo já a quem faça dano;
E assi, não tendo a quem vencer na terra,
Vai cometer as ondas do Oceano.
Este é o primeiro Rei que se desterra
Da pátria, por fazer que o Africano
Conheça, polas armas, quanto excede
A Lei de Cristo à Lei de Mafamede.
(Lus., IV, 48)

Como esse último verso ressalta, a divergência religiosa é um aspecto altamente salientado nos encontros com os africanos, como ocorrera nas batalhas com Mouros em terra. Agora, porém, são as "infidas gentes" (Lus., II, 1) de outro continente que devem conhecer - note-se, pelas armas - a superioridade da Lei de Cristo em relação a de Mafamede. Por tratar-se de outro continente, situado em região desconhecida pelos navegantes portugueses, há aqui uma necessidade d'Outro não encontrada nas batalhas em cenário europeu. Os lusitanos precisam estabelecer contatos amistosos com as populações que encontrarem durante seu percurso para com eles conseguir alimentos e um piloto que os guie à ignota Índia. Sem tais negociações, o propósito da viagem seria inatingível: é preciso trazer o Outro para perto de si para que ela suceda. Dento desse contexto de imprescindibilidade d'Outro, este é agora cuidadosamente observado pela frota e, sobretudo, por seu Capitão, que se utiliza o máximo de sua diplomacia para alcançar o que ambiciona. Consequentemente, há nesses encontros uma maior aproximação e troca entre povos, pois ambos desejam – por motivos próprios – se conhecer. No poema camoniano são descritos três principais contatos entre portugueses e mouros antes da chegada às Índias, dois conflituosos – em Moçambique e Mombaça – e um amigável e proveitoso – em Melinde.
Nos dois primeiros, os contrastes entre lusitanos e não-lusitanos são enfatizados, não só por questões de fé, mas também por qualidades físicas e comportamentais. A cor dos estrangeiros é acentuada ao ser identificada com Fáeton, filho do rei mitológico do Sol, por meio de expressões como "Os de Fáeton queimados" (Lus., I, 49). De modo semelhante, a "Arábica língua" (Lus., I, 50) é percebida como "linguagem tão bárbara e enleada" (Lus., I, 62), ou ainda como "língua escura" (Lus., I, 64), associada ao povo que a fala. O caráter mauritano, por sua vez, também é visto negativamente, visto que os africanos são encarados como maldosos e fingidos:

Porém disto que o Mouro aqui notou
E de tudo o que viu, com olho atento,
Um ódio certo na alma lhe ficou,
Hua vontade má de pensamento.
Nas mostras e no gesto o não mostrou,
Mas, com risonho e ledo fingimento,
Tratá-los brandamente determina,
Até que mostrar possa o que imagina.
(Lus., I, 69)

Assim, é apresentada ao longo desses contatos uma oposição entre ser e parecer, indicada por Cleonice Berardinelli em Estudos Camonianos, na qual os portugueses – "gente verdadeira, /A quem mais falsidade enoja e ofende" (Lus., VII, 72) – se apresentam como homens cuja aparência é equivalente a essência; ao contrário dos africanos que, "com gestos ledos e fingidos" (Lus., II, 8), tem seu parecer sempre diferente do ser. Todavia, Baco - tornado em mouro - conta aos africanos sobre a malícia portuguesa associando-os a "gentes roubadoras" (Lus., I, 78) e "Cristãos sanguinolentos" (Lus., I, 79), e, dessa forma, demonstra como os próprios lusitanos fingem, distanciando suas palavras de suas ações. De fato, logo quando são pelos moçambicanos atacados, os nautas agem de acordo com o relato de Baco, problematizando a oposição mouro – parecer x português – ser:
Não se contenta a gente Portuguesa,
Mas, seguindo a vitória, estrue e mata;
A povoação sem muro e sem defesa
Esbombardeia, acende e desbarata.
(Lus., I, 90)

Desse modo, os portugueses, tal como os mouros, têm seu parecer equivalente ao ser somente quando lhes é conveniente. Por meio de um discurso eloquente e de presentes trazidos de longe, Gama busca negociar e conseguir o que necessita para prosseguir em seu intento. Porém, ao notar que o Outro é hostil ao seu pedido, as ações de sua frota tornam-se como as "Daqueles Reis que foram dilatando/ A Fé, o Império [...]" (Lus., I, 2), fazendo a atmosfera de troca e acordo cessar rapidamente.
Embora consigam escapar com vida de Moçambique após o combate, permanece, dentro da caravela lusitana, o piloto africano que "[...] instruído nos enganos/ Que o malévolo Baco lhe ensinara, / De morte ou cativeiro novos danos,/ Antes que à Índia chegue, lhe prepara;" (Lus., I, 97). E, assim, os portugueses - acreditando nas palavras do piloto falso - chegam a Mombaça, apesar da intervenção de Vênus.
Os mouros de Mombaça, já instruídos por Baco e com desejo de vingança pelos atos lusitanos em Moçambique, recebem os navegantes com falsa alegria, de modo que "[...] o Capitão seguramente/ Se fia da infiel e falsa gente" (Lus., II, 6). É neste momento que Baco faz-se cristão, a fim de enganar dois homens que foram enviados pelo Capitão para observar os modos desta nova terra, que é, então, vista como inofensiva já que "[...] não podia, certo, haver suspeita/ Nua mostra tão clara e tão perfeita" (Lus., II, 15). O engano fabricado por Baco somente não acarreta na destruição das naus portuguesas porque Vênus interfere novamente em sua ajuda junto das nereidas, fazendo com que as caravelas não avancem para a barra e, dessa maneira, espanta os mouros e o piloto, que se lançam ao mar ao pensarem ter sido descobertos:

Vendo o Gama, atentado, a estranheza
Dos Mouros, não cuidada, e juntamente
O piloto fugir-lhe com presteza,
Entende o que ordenava a bruta gente;
(Lus., II, 29)

Assim sendo, ambos os contatos acima descritos começam com o desejo de negociação, mas, por meio de Baco, tornam-se desfavoráveis aos intentos lusitanos, assemelhando-se às batalhas travadas em terra entre portugueses e mouros. Entretanto, é notável que, em posição de necessidade d'Outro, os de Luso fazem-se mais vulneráveis e até mesmo ingênuos, sendo facilmente manipulados pelo falso piloto moçambicano.
Com essa mesma postura as naus avançarão para Melinde, onde, em contrapartida, lograrão uma estadia amigável e fecunda. Por ordens de Júpiter, Mercúrio aparece nos sonhos do Gama e diz-lhe para fugir da cilada de Mombaça e partir para outra terra, enquanto a Fama espalha boas informações sobre os lusitanos em Melinde, que já "em desejos arde todo/ De ver da gente forte o gesto e modo. " (Lus., II, 58). Dessa forma, a atmosfera para um contato benéfico é preparada e, ao ancorarem, Gama e sua armada avistam "Gente mais verdadeira e mais humana, / Que toda a doutra terra atrás deixada" (Lus., II, 74). O Rei de Melinde, "[...] com verdadeiro ânimo e pureza," (Lus., II, 75), manda-lhes carneiros, galinhas e frutas, que são bem recebidas e retribuídas pelo Gama:

Recebe o Capitão alegremente
O mensageiro ledo e seu recado;
E logo manda ao Rei outro presente,
Que de longe trazia aparelhado:
Escarlata purpúrea, cor ardente,
O ramoso coral, fino e prezado,
Que debaxo das águas mole crece,
E, como é fora delas, se endurece.
(Lus., II, 77)

A troca de presentes suspende o encontro entre os dois líderes e, assim, aumenta o suspense e o mútuo desejo nutrido pelos dois de conhecimento do Outro. Tal fato é também sugerido pela descrição do objeto com o qual Vasco da Gama presenteia o Rei: um ornamento marítimo de "cor ardente", o que reforça a empreitada vivida pelos lusitanos no mar e o desejo - ardente como a cor do objeto - de encontrar gente de "peito sincero, humano e raro" (Lus., II, 82) que os ajude a continuar a viagem até a "desejada parte Oriental" (Lus., V, 69). Junto do coral, o Capitão português envia um mensageiro para dizer as primeiras palavras ao chefe melindano, já que não tem ordem de deixar o navio até chegar à Índia. Em todo o discurso do mensageiro percebe-se a eloquência e a diplomacia dos contatos anteriores, mas também o elogio às semelhanças entre este Rei e os de Luso:

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