V EMEP Encontro Mundial sobre o Ensino de Português Universidade da Califórnia, Berkeley -‐ 19 e 20 de agosto 2016
Da compreensão cultural à competência intercultural: o potencial da biogra7ia linguística Maria de Lurdes Santos Gonçalves
1. Contexto Ensino Português no Estrangeiro EPE ≈ Emigração
q construção da iden6dade q integração no país de acolhimento q ensino da Língua de Herança
ObjeHvos dos cursos de Língua e Cultura Portuguesas
i. favorecer o desenvolvimento harmonioso da idenHdade das crianças e jovens; ii. alargar/desenvolver as competências linguís6cas e culturais das crianças e jovens na sua língua de herança; iii. facilitar a aprendizagem da língua do local onde vivem, apoiando o desenvolvimento da língua de escolarização e o sucesso escolar; iv. facilitar a comunicação no seio da família nuclear, alargada e dos amigos; v. cerHficar as competências linguís6cas das crianças e jovens na língua portuguesa (A1, A2, B1, B2, C1).
1. Contexto Contexto de trabalho PT – 3ª língua mais falada na Suíça
2013/2014 – 94 profs / 11510 als 2014/2015 – 85 profs / 11260 als 2015/2016 – 83 profs /10731 als Professores Faixa etária: de 25 a 65 anos, maioritariamente entre 30 e 55 anos Formação: Lic/Mestrado/Doutoramento em Ensino 1CEB/ 2/3CEB Línguas (Port/Franc/Esp/Ing/Alem/Ita), História) Anos de serviço: 1 a 20 (+) anos (maioria dos docentes – mais de 10/15 anos de trabalho na Suíça)
1. Contexto Contexto de trabalho
-‐ -‐ -‐ -‐ -‐ -‐
turmas mul6nível (A1 a C1 QECR) faixas etárias diversas média de 12/15 alunos por grupo fora do horário escolar dos alunos frequência faculta6va nota final incluída na caderneta escola (valor informa6vo)
2. Enquadramento conceptual
Educação em línguas mundo línguas
línguas
mundo
Dimensão político-social
Dimensão formativa
eu outro
mundo
línguas
Dimensão pragmáticoutilitária
línguas
mundo
mundo
línguas
.... educar em línguas é educar para além das línguas, é preparar para a riqueza que advém do conhecimento do mundo do outro... Gonçalves, 2011
2. Enquadramento conceptual
Gestão dos repertórios linguíticocomunicativos
Gestão da dimensão sócio-afetiva
Gestão dos repertórios de aprendizagem
Competência Plurilingue e Intercultural
Gestão da interação
Andrade A.I. & Araújo e Sá. M.H. (Coord.) (2003)
2. Enquadramento conceptual Abordagens Plurais Abordagens didá6cas ensino e aprendizagem das línguas numa perspe6va plurilingue e intercultural (Candelier, 2008)
Quatro AP (embora indissociáveis, Gajo, 2008)
1. Intercompreensão (estratégias de transfer, de negociação, co-‐
construção do significado nas interações plurilingues) 2. Diversidade linguís6ca (mobiliza as vivências e repertórios linguís6cos dos als, para desempenhar tarefas com valor metacogni6vo, metalinguís6co, metacomunica6vo (Candelier , 2007) 3. Didá6ca integrada (construção e rentabilização das sinergias linguís6cas curriculares e processuais, todas as aprendizagens linguís6cas par6cipam no desenvolvimento da consciência de aprendente dos sujeitos 4. Abordagem intercultural (diversidade cultural integrando as questões da diversidade linguís6ca)
2. Enquadramento conceptual
CEFR & FREPA CEFR
“In an intercultural approach, it is a central objec6ve of language educa6on to promote the favourable development of the learner’s whole personality and sense of idenHty in response to the enriching experience of otherness in language and culture. It must be lem to teachers and the learners themselves to reintegrate the many parts into a healthily developing whole.” (CEFR, 2001:1) hpp://www.coe.int/t/dg4/linguis6c/source/framework_en.pdf
FREPA
“The term “pluralis6c approaches to languages and cultures” refers to didac6c approaches that use teaching/learning ac6vi6es involving several (i.e. more than one) varieHes of languages or cultures. This is to be contrasted with approaches that might be called “singular”, in which the didac6c approach takes account of only one language or a par6cular culture and deals with it in isola6on.” (Candelier, coord., 2011:6).
3. Documentos orientadores
QuaREPE
O ensino e a aprendizagem das línguas, numa sociedade em transformação, mul6lingue e mul6cultural, gerem a heterogeneidade como riqueza, apontando para a construção de uma competência plurilingue e pluricultural. É neste contexto que surge o QuaREPE, documento que apresenta linhas de orientação para elaboração de conteúdos de ensino e aprendizagem numa perspec6va de abertura e flexibilidade suficientemente abrangentes para que a grande diversidade de públicos e de contextos possa ser contemplada. O reconhecimento da variedade linguís6ca e cultural implica compreender a língua no seu con$nuum, língua materna – língua estrangeira, redescobrindo diversas abordagens e renovados processos de ensino-‐aprendizagem. (Grosso et al., 2011:7-‐8)
Ensino da Língua Portuguesa PLM
PLS
PLH
PLE
4. Instrumentos Pedagógicos PEL (Portefólio Europeu de Línguas)
Ø passaporte linguístico/Europass – certi3ica as competências linguísticas da pessoa de forma comparativa entre várias línguas Ø biogra8ia linguística – documenta a história pessoal de aprendizagem de línguas e experiências interculturais Ø dossier – acumula trabalhos de vária natureza, indicativos do estado atual de aprendizagem e experiências
4. Instrumentos Pedagógicos PEL -‐ Biografia linguísHca 1. A minha biografia de aprendizagem 2. Os meus obje6vos 3. As minhas experiências interculturais u Saber relatar e descrever os diferentes elementos culturalmente significa6vos u Saber iden6ficar e analisar os seus próprios valores, a6tudes e comportamentos em relação ao que é descrito e relacioná-‐los entre si u Saber rentabilizar as suas experiências interculturais e interlinguís6cas
5. Estratégia de formação convnua Alunos entre duas (ou mais) línguas e culturas
6. Metodologia u Formação con^nua Workshop – Portefólio: o potencial intercultural da biografia
linguís$ca
u Dados: Planificações de unidades didá6cas Reflexões finais dos professores
u Abordagem qualita6va / análise de conteúdo
7. Análise e discussão de dados
Workshop Portefólio: o potencial intercultural da biografia linguís7ca 1. Conteúdo Porxolio Europeu de Línguas & Competência Plurilingue e Intercultural 2. Estrutura Workshop – Parte I input & planificação + Parte II par6lha de resultados & discussão (total 25 horas: 6 input + 12 planificação/ implementação/reflexão + 7 horas par6lha e discussão de resultados) 3. Preparação Planificado pela coordenadora & por um formador especialista em PEL; monitorização/feedback sobre a planificação/implementação 4. Implementação Taxa de par6cipação 59% do pessoal docente 5. Resultados Planificações de unidades didá6cas de 25 professores (51,02% ) – 5 trabalhos de grupo & 8 trabalhos individuais) / reflexões dos docentes sobre a implementação e sobre a formação
7. Análise e discussão de dados Temas privilegiados Níveis A1/A2 A1/A2/B1 B1 B2 B2/C1
Temas abordados Biografia & experiências linguís6cas Alimentação Símbolos culturais Lusofonia Natal Moda Programa Erasmus Cafés Viagem virtual a PT
AP: abordagem intercultural
Nº 1 7 1 2 5 4 1 2 1 24
(diversidade cultural integrando a problemá6ca ligada à diversidade linguís6ca)
7. Análise e discussão de dados Biografia e experiências linguísHcas (A1)
1. Gestão dos repertórios linguís6cos e comunica6vos Preenchimento do PEL com os conhecimentos de todas as línguas / desenvolvimento e complexificação a par6r do que os alunos conhecem + sensibilização à diversidade linguís6ca e cultural de diversas culturas 2. Gestão dos repertórios de aprendizagem entrevista: diferentes formes de cumprimentar (tomada de consciência do que se sabe/conhece/autoavaliação) 3. Interação Troca de experiências linguís6cas e culturais com os colegas/amigos/família / como interagir com pessoas de outras culturas e línguas 4. Dimensão sócio-‐afe6va Trabalho com as vivências /conhecimentos dos alunos / ligação afe6va dos alunos aos temas tratados na sala de aula / aprofundamento dos temas consoante os interesses dos alunos Desenvolvimento da competência intercultural: consciencialização dos repertórios linguís6cos /predisposição para experiências culturais e linguís6cas / respeitos pela diversidade linguís6ca e cultural
7. Análise e discussão de dados Moda (B1)
A moda para os portugueses e suíços em diferentes contextos e ocasiões 1. Gestão dos repertórios linguís6cos e comunica6vos Sensibilização à diversidade cultural (a importância da moda em cada país e em certos contextos) 2. Gestão dos repertórios de aprendizagem Entrevista aos colegas suíços / debate / reflexão 3. Interação Com colegas da turma de LH e do ER 4. Dimensão sócio-‐afe6va O tema diz respeito ao que os alunos pensam e à sua própria maneira de se ves6r em determinadas ocasiões ( consciencialização das diferentes formas de entender a moda e o que se considera a indumentária adequada a cada situação em cada cultura)
Desenvolvimento da competência intercultural: Consciencialização das diferenças entre os jovens suíços e portugueses (os portugueses são mais vaidosos) / predisposição para compreender as escolhas dos outros e para as respeitar
7. Análise e discussão de dados Cafés – C1 1. Gestão dos repertórios linguís6cos e comunica6vos Expressões sobre o café (bebida e local) em diferentes línguas 2. Gestão dos repertórios de aprendizagem Análise de textos diversos sobre a função do café, enquanto espaço público / Entrevista aos colegas suíços sobre o tema / debate / reflexão 3. Interação Preparação para interações em cafés (através do conhecimento das diferentes representações dos cafés em diferentes culturas e em diferentes épocas) 4. Dimensão sócio-‐afe6va Recurso / reflexão sobre as emoções vividas em cafés e à degustação de café Desenvolvimento da competência intercultural: consciencialização dos hábitos culturais aliados ao café (bebida) e das diferentes funções do café enquanto espaço público em diferentes épocas e culturas /predisposição para diversas experiências culturais e linguís6cas nesses espaços / respeito pela diversidade cultural
7. Análise e discussão de dados Análise das planificações de unidade didá6ca:
1. Componente intercultural 2. Definição de obje6vos 3. A6vidades 4. Coerência da unidade didá6ca 5. Avaliação da consecução dos obje6vos Escala de 5 pontos (1=ausência a 5=clara presença) 12
Comp. Intercultural
10 8
Obje6vos
6
A6vidades
4
Coerência sequência didá6ca Avaliação
2 0 0
0.5
1
1.5
2
2.5
3
3.5
4
4.5
5
5. Notas Finais Reflexões dos docentes (Moda) Através do debate, pude constatar que tanto os entrevistados, como os alunos, vivendo em contexto de culturas diferentes, manifestam um desenvolvimento da competência intercultural proveniente do cruzamento destas culturas, na medida em que eles revelam a capacidade de compreender as diferenças, relacionam e explicam o comportamento dos portugueses e dos suíços rela$vamente à sua forma de ves$r numa cerimónia de cada cultura/país. Sentem-‐se à vontade para descreverem es$los de moda, estabelecendo comparações entre elas. (Docente CB) (Viagens) Em jeito de conclusão, direi que o balanço desta a$vidade de inves$gação cultural, na Língua de Herança, se revelou bastante posi$vo na medida em que proporcionou aos alunos um trabalho mais aprofundado e um maior envolvimento dos mesmos e, em alguns, dos próprios familiares. Considero saudável a ajuda e par7cipação dos elementos da família em tarefas desta natureza, pois sentem-‐se convocados a dar o seu contributo, colocando à disposição dos jovens todo o manancial de conhecimentos e experiências culturais que possuem. (Docente HE)
5. Notas Finais Reflexões dos docentes (…) possibilidade de aprender experimentando (…) necessário que o professor planifique a$vidades que permitam aos alunos aprender a observar e a analisar cri7camente as diferentes culturas, num clima de empa$a, curiosidade e flexibilidade perante os outros. (Docente OJ) Os alunos demonstraram possuir um património individual e a sua própria iden$dade construídos e limados com a sua própria herança e com o quo$diano, vivendo num país onde a diversidade cultural e a pluralidade de pertenças parecem coexis$r. Eles têm consciência da diversidade cultural existente entre eles e os suíços, entre eles e os próprios portugueses que vivem em Portugal, entre eles e colegas escolares oriundos de outros países. Não se sentem “esmagados” por esta diversidade, mas enriquecidos, porque rentabilizam, valorizam e canalizam tudo isso a seu próprio favor. São capazes de se inserir, adaptar, respeitar/tolerar, evidenciar a diferença e respeitá-‐la e de se comportar segundo o meio que os circunda. (Docente PM)
5. Notas Finais
explorar a biografia linguísHca
(experiências da vida dos aprendentes) repertórios linguísHcos, sociais, emocionais…
eu outro competência plurilingue e intercultural
5. Notas Finais
Porém.... 1. resultados (perceção dos professores) 2. práHcas docentes ainda não consolidadas 3. dificuldade de “avaliar” como as aHvidades desenvolvidas
5. Notas Finais
… para além da sala de aula -‐ es6mular a elaboração sistemá6ca de notas/relatos/ reflexões no PEL rela6vas a: experiências vividas/reflexões/ interações diversas, consciencialização de a6tudes/emoções, etc.... -‐ analisar/discu6r/par6lhar os registos no PEL de cada aluno …de modo a … -‐ perceber o modo como a ação educa6va pode con6nuar a apoiar o aluno na construção da sua iden6dade plural (proposta de a6vidades da sala de aula para a construção/desenvolvimento/ aprofundamento da competência intercultural)
Referências
Andrade A.I. & Araújo e Sá. M.H. (Coord.) (2003). Análise e construção da competência plurilingue -‐ alguns percursos didác6cos. In A. Neto, J. Nico; J.C. Chouriço, P. Costa e P. Mendes (2003). Didác$cas e Metodologias de Educação -‐ Percursos e Desafios. Actas do IV Encontro Nacional de Didác6cas e Metodologias da Educação, Setembro de 2001. (489-‐506). Évora: Universidade de Évora. Bastos, M. (2014). A educação intercultural na formação conWnua de professores de línguas, Tese de doutoramento. Aveiro: Universidade de Aveiro. Candelier, M. (2008). “Approches plurielles, didac6ques du plurilinguisme: le même et l’autre”. Les Cahiers de l’ACEDLE, 4/1, 65-‐90. Comissão Europeia (2001) PEL – Porxolio Europeu das Línguas. Conselho da Europa (2001). QECR -‐ Quadro europeu comum de referência para as línguas. Lisboa: Edições Asa. Coste, D.; Moore, D. & Zarate, G. (1997). Compétence plurilingue et pluriculturelle. Strasbourg: Conseil de l’Europe.
Referências
Gajo, L. (2008). “L’intercompréhension entre didac6que intégrée et enseignement bilingue”. En Grin, F. & Virginie Con6, V. (Eds.). S’entendre entre langues voisines: vers l’intercompréhension. Genève: Georg Gonçalves, M.L.S. (2011). Desenvolvimento profissional e educação em línguas: potencialidades e constrangimentos em contexto escolar. Tese de doutoramento. Aveiro: Universidade de Aveiro. Gonçalves, M. L., & Andrade, A. I. (2010) Plurilinguismo e portefólio: um desafio curricular de ar6culação de saberes. In Atas do VII Colóquio sobre Questões Curriculares (III Colóquio Luso-‐Brasileiro). Braga: Universidade de Minho. Recuperado a 25 de fevereiro de 2016 hpp://porxolio.alfarod.net/ ar6gos.php Grosso, M.J. (coord.), Soares, A.; Sousa, F.; Pascoal, J. (2011). QuaREPE -‐ Quadro de referência para o ensino português no estrangeiro. Lisboa: ME-‐ dgidc.
Thank you! Obrigada! Maria de Lurdes Santos Gonçalves
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