Da Comunicação em Massa à Comunicação em Rede: Modelos Comunicacionais e a Sociedade de Informação - Capítulo 1 Livro \"Da Comunicação de Massa à Comunicação em Rede\" (2009)

June 4, 2017 | Autor: Gustavo Cardoso | Categoria: Sociology, Media Studies, New Media, Network Society
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Capítulo I Da Comunicação em Massa à Comunicação em Rede: Modelos Comunicacionais e a Sociedade de Informação Gustavo Cardoso Da Comunicação em Massa à Comunicação em Rede Durante os últimos 15 anos testemunhámos uma forte mudança na paisagem dos media. Mudança que se deve, não só, à inovação tecnológica nos próprios instrumentos de mediação, mas também na forma como os utilizadores escolheram apropriar-se socialmente dos mesmos e, consequentemente, como construíram novos processos de mediação. Como conclui Silverstone (2004), a crescente centralidade dos media, no exercício de poder e na condução do nosso dia a dia, coloca o estudo da mediação no topo da ordem do dia da investigação social, exigindo a compreensão da forma como os processos de comunicação mediada moldam tanto a sociedade como a cultura (Silverstone, 2004), mas também como a mediação molda o sistema de media1. Por outras palavras, como o sistema de media é organizado e como o configuramos através da mediação. A mudança de mediação tem sido, ao longo dos últimos anos, o cerne da análise de muitos cientistas sociais, desde as perspectivas legais apresentadas por Lessig (2004), à análise económica proposta por Yochai Benkler (2006), à análise cultural de Umberto Eco (1985) e Fausto Colombo (1993) e teoria social global da Idade da Informação desenvolvida por Manuel Castells (2000). A nomeação, por último, do trabalho de Manuel Castells foi uma escolha deliberada, porque o seu trabalho nos permite revelar duas importantes dimensões para a compreensão do sistema de media actual: a organização em rede da sociedade (Castells, 2000) e o processo de auto-comunicação de massa (Castells, 2007). No entanto, a análise que aqui se desenvolve procura demonstrar a necessidade de ultrapassar essas contribuições e abordar uma outra questão fundamental na teoria dos media: os modelos comunicacionais. Tendo em conta que, durante o século XX juntámos, teoricamente, novas tecnologias e novos usos de media com modelos de comunicação (Ortoleva, 2004), poderemos afirmar que o presente modelo ainda está enquadrado no conceito de comunicação de massa? Ou devemos questionar a sua presente validade para explicar o nosso mundo mediado pela comunicação? Esta análise argumenta que ultrapassámos o modelo de comunicação baseado na comunicação em massa e encontramo-nos num modelo baseado na comunicação em rede. As páginas seguintes enquadrarão esse argumento e demonstrarão que, mais importante do que a mudança tecnológica, para a alteração no sistema de media, tem sido a forma como os utilizadores de media, nos seus processos de mediação privados, públicos ou de trabalho, moldam as suas dietas e matrizes de media. 1

O sistema de media, como expresso por Peppino Ortoleva, refere-se ao conjunto de interligações entre tecnologias e organizações que guiam as diversas formas de comunicação. É uma categoria de origem essencialmente institucional e económica que nos ajuda a explicar, por um lado, a dinâmica evolutiva dos media e, por outro lado, como cada sociedade estabelece, entre os diversos media, uma divisão da função, que nasceu dos complexos processos socioculturais mas que encontra mais tarde legitimidade na institucionalização de companhias e molduras legais (Ortoleva, 2004)

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A primeira parte deste capítulo apresenta o que é sugerido como o modelo comunicacional em rede das sociedades informacionais. Um modelo comunicacional moldado por três características principais: 1) Processos de globalização comunicacional; 2) Ligação em rede de media de massa e interpessoais e, consequentemente, mediação em rede; e 3) Diferentes graus de uso da interactividade. A segunda parte deste capítulo lida com o que é considerado como sendo novos paradigmas comunicacionais que deram, por sua vez, origem ao novo sistema de media: 1) Retórica maioritariamente construída em volta da imagem em movimento; 2) Novas Dinâmicas de Acessibilidade da Informação; 3) Utilizadores como inovadores; e 4) Inovação nos modelos de Notícias e de Entretenimento. Modelos comunicacionais e a Sociedade de Informação A hipótese inicial para caracterizar o actual sistema de media das nossas sociedades é, contrariamente ao que é sugerido com frequência (Ortoleva, 2004), não tanto uma convergência tecnológica, mas a organização em rede do sistema. Essa organização ocorre em vários níveis, desde a dimensão tecnológica à organização económica e à apropriação social.2 O argumento adiantado aqui é o de que o que pode ser realmente considerado característico, na forma como o sistema actual de media está organizado, é a sua forma organizacional em rede. Mas, também se encontra novidade no facto de, na sociedade em rede, a organização e o desenvolvimento do sistema de media depender, em larga medida, da forma como nós utilizadores nos apropriamos socialmente dos media e não apenas de como as empresas de media e o Estado organizam a comunicação.3 De um mundo de comunicação em massa constituído por organizações de distribuição de conteúdos de mass media, estamos a dirigir-nos para um mundo construído, ainda, por grandes conglomerados de media (Hesmondhalgh, 2007), mas também pela forma como as pessoas trabalham em rede com diferentes tecnologias mediadas, combinando mecanismos interpessoais de mediação com mecanismos de mediação de massa. É pela forma como atribuímos os papéis sociais – de informação, de entretenimento, de acção e organização – a cada um dos media que desenhamos as redes de interdependência entre eles. No entanto, apesar dos media nos terem acompanhado desde que organizámos os códigos de comunicação de uma forma sistematizada (Eco 1977), é somente neste momento da nossa história que encontramos um sistema de organização de media baseado em rede. Porquê? É aqui sugerido que tal acontece agora porque, numa fase inicial, o aparecimento da Internet permitiu a migração dos mass media tradicionais de tecnologias analógicas para as digitais, construindo assim as pontes necessárias entre os antigos e os novos media. Numa segunda fase, a Internet e, até certo ponto, os telemóveis e a tecnologia SMS permitiram a constituição de um número cada vez maior de interligações entre todos os media (Karlsen e Sundet 2

Usando uma sugestão de McLaughlin (Ortoleva, 2004), podemos descrever convergência como a superação de barreiras tecnológicas, económicas e institucionais, tornadas possíveis pela tecnologia digital. Estas barreiras dividiam os media em quatro sectores principais: o sector editorial dominado pela imprensa privada e controlada pelos direitos de autor; o sector das transmissões, ou seja, as redes de distribuição, que incluem os sectores postal e das telecomunicações e a Internet; o sector de emissões, baseado na publicidade, e o sector de hardware baseado na produção e distribuição de equipamento de comunicação (câmaras de vídeo, sistemas stereo, cassetes e periféricos). Mas a convergência tratada aqui centra-se principalmente na ideia de que a tecnologia permitiu a vários sistemas de hardware, que eram usados separadamente pelo consumidor final, convergirem em unidades tecnológicas. Tem sido esta ideia que nos últimos dez anos tem sido o mote ou “Killer Application” da comunidade comercial. O que este artigo quer questionar é a validade deste conceito para explicar o principal motor de mudança dentro da comunidade nos processos de comunicação e mediação nas nossas sociedades. Ver também (Storsul e Fagerjord 2007, 2008; Storsul e Syvertsen 2007). 3 Para uma análise do papel do Estado na regulação dos mercados ou da sua actuação como um dos participantes na economia ver Iosifidis (2007), Mancini e Hallin (2004).

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2007; Jenkins 2006; Livingstone 1999), sejam eles analógicos ou digitais. Essas ligações foram socialmente apropriadas pelos cidadãos e moldaram as formas como os media interagem com o nosso dia-a-dia. O mundo empresarial tem sistematicamente dado voz ao longo dos anos ao facto de estarmos a assistir a uma tendência de convergência em várias dimensões do universo dos media (Storsul e Fagerjord 2007, 2008; Storsul e Syvertsen 2007). A convergência teria evoluído da pura convergência de hardware, para uma convergência de várias camadas, construída por três estratos diferentes: convergência de instrumentos, convergência de redes e convergência de serviços de software. No entanto, uma confirmação quanto à veracidade de tais afirmações deixa-nos muitas dúvidas quanto a essas constatações servirem de resposta à questão de saber até que ponto essa convergência tem sido um verdadeiro sucesso (Storsul e Fagerjord 2007, 2008; Jenkins 2006). Apesar das fusões de gigantes dos media, no princípio do século XXI, como a AOL e a Time Warner (Castells, 2000) terem originado vários processos de mimetização pelo mundo fora, na realidade, a gestão continua essencialmente a ser baseada na lógica de unidades diferenciadas de gestão tecnológica4 (Kung 2002, 2007; Dubini e Raviola 2007; Fee Jr. 2007; Achtenhagen 2007). Também na dimensão de hardware tecnológico, os esforços para incorporar tecnologias de media diferentes, e já socialmente apropriadas (como a televisão e o computador), numa só peça de equipamento, tiveram diferentes níveis de sucesso (a WebTV foi um fracasso, mas a tecnologia mp3 transformou os telemóveis em walkmen). Os telemóveis, juntamente com híbridos como o iPhone da Apple e outras ofertas tecnológicas similares, parecem ser a única dimensão de hardware em que encontramos uma convergência tecnológica de sucesso. Mas, as razões para tal sucesso relacionam-se mais com a mobilidade e a relação estabelecida com os nossos sentidos, nomeadamente a audição do que com a simples oferta de um aparelho convergente. A mobilidade explica porque é que o visionamento de vídeo e a audição de música se uniram nos nossos consumos diários de media: demos a tais práticas novos espaços e novos tempos. Em consequência, a particularidade do telemóvel ter atingido sucesso ao reunir música, rádio e conversação mediada oralmente, num só equipamento tecnológico, deve-se mais ao facto de os três interagirem com o mesmo sentido: a audição, do que com uma convergência tecnológica facilitadora da agregação de diferentes media. Apesar de muitas outras funções terem sido, e continuarem a ser, adicionadas aos telemóveis, também é verdade que os utilizadores tendem a concentrar os seus usos no âmago das utilizações de comunicação: conversas áudio e textuais (Cardoso 2007, Castells 2006, Caron e Caronia 2007, Silverstone 2005). Ouvir música mp3 de rádio, ver filmes e vídeos no telemóvel não substituiu os rádios, leitores de mp3 e outros ecrãs, apenas deu aos utilizadores destas tecnologias móveis outros tempos e lugares de escuta, ao colocar em rede usos preexistentes. O mesmo pode ser dito em relação à incorporação de câmaras, num corolário da evolução histórica da representação fotográfica (Colombo e Scifo 2006), mas permitindo agora o trabalho em rede da câmara com a Internet e os computadores pessoais em ambientes móveis. A convergência pode ter falhado como negócio e conceito de apropriação social de hardware tecnológico, mas teve um efeito secundário, a construção de um ambiente inovador adaptado à experimentação e interacção entre as companhias de media, de Telecomunicações e os utilizadores finais. O sistema de media forneceu conteúdos, ou a necessidade de experimentar novos conteúdos, as companhias de Telecomunicações 4

Ver, por exemplo, a Sony Records e os seus processos contra a troca ilegal de música na Internet e a promoção em simultâneo de mp3 pela secção de hardware da Sony.

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trouxeram a vontade de ligar cada vez mais - e de forma mais eficiente - diferentes redes de transmissões; e os utilizadores procuraram estabeleceram novos padrões ao adoptarem a mobilidade através do uso de telemóveis e redes de WiFi. O efeito secundário do fracasso da “convergência” foi o aumento da articulação em rede entre diferentes media, conteúdos e redes, e a adopção de um padrão único de comunicação: o Protocolo de Transferência de Internet e o endereço Internet, o bem conhecido TCPIP. O argumento aqui expresso é o de que o sistema de media actual parece estar organizado não em torno da ideia de “convergência”, tornada possível pelas tecnologias digitais, mas em torno da articulação em rede. Mesmo em casos de larga adopção de uso, como os telemóveis utilizados para ouvir música, mp3 ou tirar fotografias, a sua utilidade continua a depender do estabelecimento de uma ligação em rede a um PC, Mac ou ao uso de um Smartphone com ligação de Internet para downloads e uploads. Essa conectividade coloca-os numa relação em rede, tanto com o próprio computador pessoal, como com as lojas online ou as redes sociais da Web 2.0. Outro exemplo desta articulação em rede pode ser encontrado nos chamados servidores de media, nos quais, apesar de haver uma convergência de sinal na rede sobre os protocolos IP (Taplin 2006) a difusão em casa é feita através de tecnologia sem fios (Bar 2006), os destinatários sendo os diferentes aparelhos: de leitores de música ou telemóveis para mp3, à televisão para filmes ou para difusão, voz sobre IP para o telefone e a Internet para o portátil ou outro ecrã móvel. Diferentes utensílios tecnológicos que podem, se o utilizador escolher tais capacidades, comunicar entre si, dando lugar a uma articulação em rede de aparelhos, conteúdos e usos. O que encontramos nas nossas ruas, escritórios e casas não é tanto uma convergência, mas antes a articulação em rede dos media e seus usos. Como é que esta rede se encontra estruturada? A hipótese defendida aqui é a de que o sistema de media está cada vez mais estruturado em torno de duas redes principais que comunicam entre si, usando várias tecnologias de comunicação e informação. Essas duas redes estão ambas baseadas na televisão e na Internet, estabelecendo ligações ao usar diferentes tecnologias de comunicação e informação como o telefone, o rádio, a imprensa escrita, etc. Porquê dois nós principais, um construído em torno da televisão e o outro da Internet? A resposta é complexa e será objecto de uma análise aprofundada nas próximas páginas. Contudo, podemos avançar com a hipótese de que tal estará relacionado com as dimensões de interactividade tornadas tecnologicamente possíveis por cada uma destas tecnologias, e como valorizamos socialmente essas dimensões interactivas diferentes. Essa é uma interpretação que resulta da análise de práticas de fruição, para a qual o conceito de matriz de media é, também, fundamental5. Segundo Aroldi e Colombo (2003), uma das razões porque auto-limitamos a nossa capacidade de compreender o verdadeiro papel dos media na nossa sociedade está relacionada com a própria análise teórica das nossas escolhas, que tendem a concentrar-se demasiado numa ideia individualizada de media. Por outras palavras, o estudo isolado da rádio, dos jornais ou da Internet, limita a nossa compreensão do poder e cunho dos media como elementos de mudança social (Fornas 2007). Como seres sociais, não usamos apenas um único media como fonte de comunicação, informação, acção e entretenimento, mas combinamo-los, usamo-los em rede. Só uma análise aprofundada das dietas de media 5

Um termo originariamente utilizado por Meyrovitz (1985) para sublinhar o facto de que todos tendemos subjectivamente a criar uma hierarquia mental para os diferentes tipos de media e a sua importância nas nossas vidas. Estas hierarquias são estritamente individuais, mas também partilhadas socialmente.

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pode revelar a complexidade dos nossos usos e representações da sociedade através de e com os media. Precisamos de ir mais além, para podermos compreender a mudança social na paisagem mediática e nas relações dos utilizadores de media no seu dia-a-dia, isto é, os novos processos de mediação que dão sentido à nossa realidade (Silverstone 2005) Todos nós lidamos com os media – desde a escrita às imagens em movimento e das imagens paradas à comunicação oral – no nosso dia a dia. Interpretamos e incorporamos permanentemente informação nas decisões que tomamos, num processo reflexivo (Giddens 1991). A natureza em rede do actual sistema de media necessita de ser abordada e discutida. Se a cultura da nossa sociedade em rede é uma verdadeira cultura de virtualidade real (Castells 2000) e se a mediação (Silverstone 2005) é um conceito chave para a compreensão das características da comunicação, como é que podemos caracterizar o modelo comunicacional dominante das nossas sociedades? Antes de mais, o nosso modelo comunicacional dominante está construído em torno: 1) da globalização da comunicação; 2) da ligação em rede dos media de massa e interpessoais e, consequentemente, da mediação em rede; 3) e de diferentes graus de uso de interactividade. A globalização comunicacional no século XX A sociedade em que vivemos hoje em dia é ela própria o produto, da uma confluência histórica, de desenvolvimentos que tiveram lugar em várias áreas de actividade humana (Castells 2000). Mas, esse momento de confluência, é igualmente um ponto de chegada para um processo que começou no início do século XX: a centralidade da comunicação nas nossas sociedades (Silverstone 2006). A centralidade da comunicação é um fenómeno relativamente recente pois, até finais do século XIX (Rantanen 1997), a ideia de comunicação como uma entidade autónoma e independente dentro do conceito mais geral de transporte (assim como a ideia de media como algo de distinto de outros instrumentos úteis para trocas ou viagens) não era geralmente discutido (Ortolova 2004, Winston 1999, Richeri 1996, Silverstone 2005). O nascimento de novos meios de comunicação – como o cinema e a rádio, a literatura desenhada, o gramofone, ou a linha telefónica – não foram vistos, na altura, como um fenómeno unitário que poderia ser agrupado num único conceito (Silverstone 2005, Ortoleva 2004). No entanto, a ideia de comunicação e informação não só se impôs na sua especificidade e autonomia, como também se asseverou enquanto uma ideia central da vida social, antes de se tornar, no final do século XX, um objectivo em termos de desenvolvimento económico (Cardoso 2006). Hoje temos uma variedade de comunicação sem precedentes à nossa disposição e também uma escolha sem precedentes entre media aparentemente equivalentes (Eco 2001, Silverstone 2005). Essas são as duas bases para a nossa vida no início do século XXI no mundo desenvolvido (Ortoleva 2004, McPhail 2005, Lull 2007). Outra contribuição fundamental para a contextualização desta discussão é o facto de, em relação a outros períodos da história da humanidade, o século que agora acabou ter sido um momento excepcional, pois a comunicação tem sido tradicionalmente um dos mais estáveis recursos e objecto de gestão prudente e conservadora (como demonstrado por toda a história da escrita desde a China antiga, ao Egipto dos faraós e à Idade Média). Que formas de exigências sociais e processos resultaram nas fórmulas e técnicas de comunicação? E porque foram eles privilegiados com grandes recursos afim de sustentar a intensidade de desenvolvimento que se registou? Uma possível resposta é dada por vários investigadores quando se referem à descontinuidade que teve lugar dos

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anos 70 do século XX em diante (Castells 2000, Cardoso 2006). As sociedades contemporâneas testemunharam uma alteração no paradigma económico que originou um modelo baseado na informação. De facto, a informação parece ter substituído a energia6 como o elemento central na vida económica – primeiro nos países mais desenvolvidos – antes de se expandir para todas as áreas do planeta seguindo as regras da economia de mercado (Himanen 2006). Mas algo mais está a mudar. Quando se fala da economia informacional (Castells 2000, Lehman 2007) no fim do século XX, entende-se não só uma economia em que a livre circulação de informação é um prérequisito para a existência de um mercado, mas também uma economia em que o sector que produz a comunicação também tem um papel de força motriz em relação ao sector industrial que, tradicionalmente, dominava os mercados: as indústrias de manufactura. Neste contexto analítico, Giddens (1998) e Silverstone (2005) apresentam alguns pontos de partida importantes. Giddens, quando questionado sobre se o conceito de Sociedade de Informação podia ser usado correctamente para caracterizar as alterações que se produzem nas nossas sociedades, respondia: “Realmente não, não (...) a Sociedade de Informação não nos dá a uma real percepção do que se está a passar” (1997). Argumento similar é produzido por Silverstone (2005). Quando colocado perante a mesma pergunta, Silverstone replicou que “já não deveríamos estar a pensar em algo chamado Sociedade de Informação (...) mas antes numa Sociedade Comunicacional (...), porque é na nossa comunicação uns com os outros a área em que as TIC se insinuam mais directamente na essência da existência social”. As globalizações económica e comunicacional, e não o conceito de sociedade de informação, são ambas para Giddens e Silverstone, as tendências mais visíveis de uma sociedade em mudança como resultado de uma fusão crescente das tecnologias de informação, comunicação e da computorização. À medida que a nossa sociedade moderna se torna gradualmente mais complexa, graças à especialização e garantias simbólicas (Giddens 1991), e se auto-configura como um sistema, apoiando-se em organizações de tipo sistémico, surge a necessidade de instrumentos que interrelacionem, o mais rapidamente possível, os diferentes pontos do sistema em si (Ortoleva 2004, Silverstone 2005). Estes processos podem ser visíveis no desenvolvimento do sistema da rede de transportes, que tinha como pré-requisito o desenvolvimento do telégrafo e o sistema de horários unificado a nível nacional e depois global ou ainda, por exemplo, na adopção do telégrafo naval pelo navios apenas depois da introdução de navios a vapor visíveis a grandes distâncias (Winston 1999). Ou, finalmente, no desenvolvimento da publicidade tornada necessária, e possível, através de outro sistema: o da distribuição em grande escala (Ortoleva 2004). A complexidade espacio-temporal da organização social é o ponto de partida para a análise de modelos de comunicação nas sociedades informacionais, porque deu origem à globalização comunicativa. Uma das dimensões da complexidade espacio-temporal que mais contribuiu para esta globalização comunicativa, foi a dimensão económica e a evolução dos mercados. Como Castells (2000) demonstra, a necessidade de uma reestruturação do capitalismo forneceu o impulso para a adopção e diversificação dos media, o desenvolvimento das tecnologias de informação e a sua articulação em rede No entanto, temos que salientar que a relação entre o mercado e a comunicação foi uma constante durante o século XX, assumindo características diferentes consoante os 6

Algo que pode ser constatado pelo facto de se procurar optimizar os gastos energéticos - ou a substituição de fontes de energia - na sua contribuição para a estrutura de custos, através da inovação alimentada por conhecimento científico e informação e já não apenas pela busca de matérias primas energéticas para obtenção de baixos custos de produção,

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momentos em que a relação se manifestou. Durante um largo período do século XX, teve formatos diferentes do da presente configuração em rede, tendo-se concentrado principalmente num modelo de concentração hierárquica. Entre a queda da bolsa de 1929 e a crise petrolífera de 1973, teve lugar um desenvolvimento dos modelos de comunicação caracterizado pela difusão e experimentação com rádio e televisão, em simultâneo com um impulso em direcção de uma economia de consumo de massa expandida (Winston 1999, Colombo 1993). A nossa realidade social em termos de modelos de comunicação é, assim, um produto destes movimentos que tiveram lugar ao longo do século passado. As ligações entre os media e a sociedade têm sido de natureza diversa ao longo da história. Por um lado, existem os que apontam como determinantes as relações causa/efeito, como a ideia de que os mass media “criaram” a sociedade de massas. Esta é, por exemplo, a ideia de um grupo de analistas definido por Umberto Eco (1991) como “apocalípticos”, os quais estabelecem ligações quase directas entre informação e o modelo de entretenimento originado nos media e processos de massificação social e homegeneização cultural nos anos 70 (Ortoleva 2004, Aroldi e Colombo 2003). De acordo com as teorias deterministas – por exemplo, o Marxismo tradicional – a comunicação em massa seria a expressão de um autoritarismo produzido pelo reduzido poder de controlo sobre o desenvolvimento técnico (Poster 1999). A mesma visão reaparece no discurso tecno-cultural (Robbins 1999) no contexto da sociedade de informação no fim do século XX, particularmente na oposição entre os media interactivos e passivos, ou, se preferirmos, os novos media (como a Internet) e os media antigos (como a televisão). Outra abordagem é tomada pelos que discutem que os media exprimem, tanto através da sua estrutura como dos seus conteúdos, a própria natureza da sociedade na qual são gerados. É o caso de analistas como Poster (1999) e McLuhan (1997). Segundo Poster, existem três fases principais no Modo de Informação, que coexistem entre elas, não sendo, no entanto, consecutivas. Estas são as trocas simbólicas mediadas oralmente, pela escrita e, posteriormente, pela electrónica. Em cada uma dessas fases a relação entre a linguagem e a sociedade, a ideia e a acção, o eu e o outro é, por isso, diferente. Assim como, no século XIX, a imprensa escrita tinha um papel fundamental na formação da noção do sujeito independente e racional ao constituir uma esfera de debate público – que, segundo Habermas (1986), criou as bases para as democracias do século XX – os novos media, e em particular a Internet, estão a promover, através das suas características, um sujeito múltiplo, descentralizado e disseminado. Segundo McLuhan (1997) não se pode falar de um só modelo de sociedade correspondente a todos os mass media, mas de dois modelos distintos. O primeiro, o modelo da imprensa e, mais tarde, cinema e, até certo ponto, do rádio, era baseado numa clara divisão de papéis e uma forte ordem hierárquica. O segundo, que surgiu com a televisão e foi reforçado com as formas ulteriores de comunicação electrónica (informatização e automatização), era baseado num sistema horizontal e com fortes relações interactivas. Os pressupostos centrais das análises de Poster (1995) e McLuhan (1997) referem-se assim à visão da não neutralidade dos media e à ideia de que os media tecnologicamente diferentes são fruto da sociedade em que surgem e que promovem, através do seu uso, realidades socio-culturais diferenciadas. Uma terceira abordagem, enumerada por Ortoleva (2004), argumenta que existe um reequacionamento do alcance real das comunicações de massa, com os seus denominados “efeitos” (Wolf 1992), e sublinha que os utilizadores dos media encontram uma correspondência numa relação interpessoal em rede que condiciona e filtra a recepção de mensagens. Uma abordagem complementar é apresentada por Pierre Levy (1997) ao propor para a relação entre a tecnologia e a sociedade a noção de

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influência, por oposição à de impacto. A acção de qualquer forma de tecnologia, como os media, não pode ser considerada fora da cultura e por isso interage com a cultura, que a recebe e a modifica desde o seu nascimento (Fornas 2007). Tendo em conta as três dimensões acima descritas, a posição que prevalece na análise aqui desenvolvida, sobre o presente modelo comunicacional das nossas sociedades, aproxima-se dos fundamentos analíticos declarados por Wolf (1992), a relação entre a tecnologia e o social sugerido por Levy (197) e o papel da reflexividade analisado por Giddens (1991). A reflexividade, permitida pelas tecnologias de informação e comunicação, é um elemento fundamental no processo de decisão individual e construção de vida, mas também demonstra que não é apenas através do desenvolvimento tecnológico e inovação científica que podemos, de alguma forma, controlar ou definir o que será o futuro. O futuro é opaco e problemático e sabemos que o que dizemos também contribui para esses cenários. Acontece que o próprio futuro também tem uma dimensão problemática e reflexiva (Giddens 1999, Kaivo-Oja 2003). Se desejarmos tipificar o processo relacional entre a comunicação, a informação e a sociedade, podemos argumentar que é essencialmente uma relação bi-explícita. Biexplícita no sentido em que, por um lado, a comunicação possibilita diferentes modelos de organização social (Castells 2004) mas, ao mesmo tempo, existem necessidades sociais supervenientes (Winston 1999) que também criam novas formas de comunicação. Nesse sentido, tendo em conta a interacção entre media e sociedade sob um processo reflexivo de interdependência, podemos falar de correspondência entre modelos comunicacionais e sociais. Tendo em consideração a definição precedente, como podemos descrever o modelo de comunicação que caracteriza uma sociedade informacional? Tanto Giddens (1999) como Castells (2000) chamam a atenção para o facto de que muito do que temos presenciado ao longo das últimas três décadas, ser uma consequência da ligação em rede de diferentes tecnologias, ou seja, as tecnologias de informação, comunicação e computorização. A sua apropriação económica e social resulta de uma interessante relação entre o mercado e a democracia. Apesar da dimensão económica da globalização ser fundamental, não pode ser vista apenas como um fenómeno económico, mas também como comunicacional (Giddens 1999, Lull 2007). Quando se vive num mundo em que as noticias têm praticamente uma característica instantânea (Sparks 2007, Mazzoleni et al. 2004, Tremaine 2007, McPhail 2005, Silverstone 2006, Shoemaker 2006) e em que a diversidade de contextos de informação é regra (ver, por exemplo, as diferenças entre a cobertura de satélite da insurreição iraquiana de Abril de 2004 pela CNN e canais de televisão árabes como a Al Jazeera), temos que aceitar que a globalização significa também uma mudança nos sistemas de comunicação. Esta mudança transforma as vidas da população local ao mesmo tempo que altera a estrutura económica da própria vida (Lash 2007, McPhail 2005). Os media em geral têm um duplo papel a desempenhar no mundo moderno. Por um lado são instrumentos de democracia, como ilustrado pelo papel dos canais de televisão nas revoluções de 1989 na Europa de leste, o golpe de estado russo contra Gorbachev e a subida ao poder de Yeltsin (Giddens 1999, Castells 2004) e mais tarde, através da generalização da Internet, a tomada de consciência dada ao drama do povo de Timor Leste em 1999 (Cardoso 2007). Por outro lado, media como a televisão também tendem a subverter os espaços que abrem, perseguindo retóricas de personalização e trivialidades num processo de preocupação com a personalidade e o trivial – algo que tem muitas vezes um efeito negativo no diálogo social (Dahlgren 2001, Lull 2007, Sparks 2007, Bang e Esmark 2007). Em resultado desta dualidade, o tempo presente é ,pela primeira vez na história, um tempo em que governos e cidadãos coexistem no

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mesmo ambiente de informação, e isto acontece como resultado da mudança tecnológica, além dos outros desenvolvimentos. Quando governos e cidadãos vivem o mesmo ambiente de informação há muitas coisas que os cidadãos deixam de tolerar – têm muito menos tolerância para com a corrupção, negociações à parte, acordos secretos e o uso de ligações pessoais. Quanto mais o mesmo ambiente é partilhado, menos tudo o que parecia normal na política há uns anos atrás é aceite como normal (Giddens 1999, Castells 2004)7. No contexto actual temos que ver os media como um todo e pensá-los em termos das suas funções de agência e alcance territorial, pois é através desta dupla dimensão que é possível perceber como se articulam mutuamente. Figura 1. Percentagem de utilizadores de Internet nos Países Seleccionados (The WIP Project 2006)

100%

81.0% 80%

61.1% 60%

54.8% 49.2%

40%

49.6%

46.6%

35.5%

43.0%

33.5% 25.0%

20%

0%

Chile

China

Czech

Hungary

Iran

Italy

Macao

Spain

Sweden

USA

Fonte: The World Internet Project (2006)

A comunicação global é um elemento fundamental para a criação de um mercado global. Ela permitiu infra-estruturas para a comunicação de dados, notícias e imagens, aumentando assim o desejo pela posse de produtos e acesso a serviços. Mas este processo de associação entre a comunicação e o mercado também deu origem a um efeito secundário: deu poder às vozes silenciosas dos que reclamam autodeterminação e justiça social e que reagiram ao consumismo através da declaração de identidade (Castells 2004, Tehranian 1999, Hoff e Hansen 2007). As comunicações globais, desde a imprensa à Internet, tiveram vários papéis nesses processos. Os media globais promovem simultaneamente a homogeneização e diferenciação dos mercados, a centralização e ao mesmo tempo a dispersão de poder, implementam integração cultural e pluralismo. A globalização da comunicação ao nível global espacial, mas também ao nível local, ao permitir que diferentes pessoas, dentro da mesma comunidade, possam partilhar assuntos é, provavelmente, a novidade mais importante nas mudanças actuais trazidas 7

Apesar de concordar com o diagnóstico de Giddens (1999) quanto à procura de dicotomias da televisão comercial (por exemplo, ao recorrer à dramatização ao fornecer informação e distorcer padrões de narrativa, procurando apresentar o bom e justo por oposição ao mau e injusto), também temos que chamar a atenção para a hipótese dos supostos efeitos múltiplos associados aos media. A comunicação pode acontecer como um processo de troca livre e igual de sentido, desenvolvimento de comunidades ou avanço da solidariedade social entre as nações e os indivíduos ou pode sistematicamente distorcer percepções e criar inimigos de fantasia, fabricar consenso e consentimento para guerras de agressão e atirar determinados grupos étnicos ou nações para categorias sub-humanas (Tehranian, 1999). Esta possibilidade dos efeitos múltiplos, já presente na comunicação televisiva, foi acrescentada aos novos media, mas as comunicações modernas tornaram as explicações dualistas mais difíceis, ou mesmo impraticáveis.

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pela comunicação no nosso quotidiano. Ao trazer a comunicação para um nível global, através da transmissão, e mais tarde ao permitir às pessoas “serem” globais, através do uso de tecnologias globais, como a Internet e as redes de telemóveis, construímos uma rede comunicacional que pode ser moldada às necessidades dos seus utilizadores, seja pelo acesso a conteúdos, a pessoas ou ambos. As práticas dos agentes sociais na sociedade em rede combinam os media na tentativa de obter resultados. Não são usos isolados de um meio específico. Devemos olhar para os media não como tecnologias isoladas mas como objectos de apropriação social que são diversificados e combinados consoante os objectivos a atingir pelo utilizador. Contrariamente aos discursos sobre a sociedade de informação (Karvonen 2001), em que se propõe a hierarquização dos media ou a subordinação ao mais recente, os media constituem um todo, um sistema de media (Ortoleva 2004), articulando-se mutuamente em redes, construídas na dialéctica de objectivos entre os que deles se apropriam e os que os gerem. Um sistema de media, que é apropriado na base de escolhas individuais, que são partilhadas socialmente, constitui assim o que podemos chamar uma matriz de media (Meyrovitz 1985). Os media não são elementos isolados. Não nos limitamos a ouvir rádio, ou ler jornais, ou navegar na Internet. A prática é uma articulação, ou se preferirmos, uma ligação em rede de vários media no dia-a-dia em casa, no trabalho, na escola ou em deslocações (Cardoso 2007, Castells 2007, Colombo 2003, Caron 2007). A articulação em rede através da interactividade num ambiente global Exemplos de uso em rede de media e da interdependência entre os media e apropriações individualizadas, mas socialmente partilhadas, podem ser encontradas de muitas formas, produto de pesquisas em diferentes ambientes nacionais. Pelo seu impacto a nível mundial e pela sua génese, um bom exemplo das duas dimensões que caracterizam o presente modelo comunicacional, a articulação de media em rede e a mediação em rede, podem ser encontradas na análise dos processos comunicativos que tiveram lugar em Espanha entre os ataques de 11 de Março de 2004 em Madrid e o dia das eleições gerais, em 15 de Março de 2004 (Castells 2006). Em Espanha, os ataques de 11 de Março na estação de comboios de Atocha, no centro de Madrid, ocorreram numa época que já não era apenas da televisão ou rádio, mas uma época em que os media incluíam, através da apropriação por uma larga parte da população, o telemóvel e a Internet. As tácticas de guerrilha semiótica contemporânea (Eco 2004), exemplificadas pela apropriação social dos media nos dias que se seguiram ao 11 de Março de 2004 em toda a Espanha, foram desenvolvidas num processo em rede, um processo de criação de nós espontâneos que ecoavam em mensagens originadas através de comunicação interpessoal. Desta vez o telemóvel, sobretudo através do uso dos SMS, foi usado com o fim de divulgar a mensagem de que o “governo estava a mentir com o envolvimento da ETA, porque era a Al-Qaeda, e convidando as pessoas a reunirem-se nas sedes do partido do governo, o Partido Popular, ou edifícios públicos em protesto” (Eco 2004). Este é um exemplo, entre outros, da procura de canais alternativos de comunicação, usando aparelhos de comunicação interpessoal num processo de comunicação em massa, tendo em vista o estabelecimento de uma alternativa à difusão da comunicação das estações de televisão e rádio. A nossa comunicação interpessoal pode ser transformada num meio de comunicação de massas quando tem lugar numa rede electrónica (como a do telemóvel). A comunicação interpessoal tomou assim a dimensão de um fenómeno colectivo. As pessoas viam televisão e liam os jornais mas, ao mesmo tempo, comunicavam entre si, e perguntavam-se se o que era dito era ou não verdadeiro. Responderam a essas questões comparando notícias, lendo e ouvindo os canais de transmissão nacionais,

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cruzando-as com a informação que conseguiram obter na Internet, através dos jornais estrangeiros e canais de televisão por satélite (Eco 2004, Cardoso 2007). Muitos outros exemplos de ligação em rede de media de massa e individual podem ser encontrados na última década por todo o mundo. A televisão e a cobertura web dos ataques bombistas de Londres, os chamados ataques de 7/7 de 2005, dão-nos outro exemplo dessa ligação em rede dos mass media e media interpessoais. As notícias difundidas dependiam em grande medida de imagens enviadas a partir de telemóveis por transeuntes e vítimas, tendo como resultado a incorporação do dia-a-dia individual, mas tecnologicamente aumentado, na corrente de eventos e conversas globais (Siverstone 2005). A combinação de e-mail e televisão foi também essencial para o sucesso do protesto de Seattle na altura do “Millenium Round” do WTO (World Trade Organization) em 1999 ou nas manifestações mundiais por Timor-leste, do mesmo ano (Cardoso 2007). Como foi realçado por diversos analistas (Rodotà 2000, Castells 2004, Wieviorka 2003), os protestos de Seattle foram organizados via Internet, sobretudo através de e-mail e posts em websites, mas só ganharam visibilidade e poder de mediação com as imagens divulgadas pelos canais de televisão através do mundo. Aqui a Internet teve um papel tradicionalmente representado por estruturas pessoais em redes locais, tornando possível que pessoas com os mesmos interesses mas dispersos geograficamente pudessem coordenar as suas acções. Os participantes em acções de protesto em torno do “Millennium Round” também compreenderam que somente o uso da Internet não lhes traria a legitimidade ou a força necessária para chegar a uma tomada de posição (Cammaersts 2003), daí a necessidade de ir para a rua em acções de protesto, que foram organizadas através da Internet mas divulgadas pela televisão – ainda o mass media mais difundido e como tal o ideal para chegar aos olhos e mentes dos outros. Mas a mediação em rede não é apenas uma ferramenta usada na autonomia politica, é também um elemento importante para a realização dos objectivos de comunicação definidos pelos diferentes indivíduos de forma a informarmo-nos ou concretizarmos alguma forma de entretenimento. As seguintes tabelas exemplificam o uso de SMS e email na TV e nos programas de rádio, concursos e inquéritos em Portugal e na Noruega (Karlsen 2008) exemplificando o uso da autonomia comunicativa para fins de participação pública. Quadro 1. SMS enviados para programas de Televisão em Portugal e na Noruega (% da População) Participaram SMS para Concursos de Televisão (Portugal) 5.7 % SMS para Inquéritos de Televisão (Portugal) 2,1 % SMS para Programas de Futebol da Televisão 2,4 % (Portugal) SMS para debates ou programas de Televisão 3.2 % (Portugal) Enviaram SMS ou MMS para a televisão (Noruega) 14% Fonte: Cardoso, Gustavo, Rita Espanha and Carmo Gomes (2006)“A Sociedade em Rede em Portugal”; Karlsen, Faltin; Schanke Sundet, Vilde; Syvertsen Trine; Ytreberg, Espen (2008), Actividade amadora na televisão em tempos da digitalização, Nordicom Review. Nota: Em Portugal, apenas 14.8% dos que enviaram SMS viram-na efectivamente no ecrã de televisão.

Quadro 2. E-mails enviados para programas de Televisão em Portugal e na Noruega (% da População) Enviados/Usados E-mails enviados para Programas de Televisão 4.3%

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(Portugal) Navegou pelo site do programa de Televisão (Portugal) Enviou e-mail, carta ou telefonou (Noruega) Navegou e interagiu com o site do programa de Televisão (Noruega)

12,3% 5% 6%

Fonte: Cardoso, Gustavo, Rita Espanha and Carmo Gomes (2006)“Inquérito A Sociedade em Rede em Portugal 2006”, CIES; Karlsen, Faltin; Schanke Sundet, Vilde; Syvertsen Trine; Ytreberg, Espen (2008), Actividade amadora na televisão em tempos da digitalização, Nordicom Review.

Como foi sugerido anteriormente, a interactividade tornou-se umas das três características organizacionais definidoras do modelo de rede comunicacional. Assim como a mediação em rede, as diferentes formas como usamos a interactividade com os media moldaram os mesmos e, ao fazê-lo, transformaram a organização do sistema de media e os modelos comunicacionais da sociedade. Segundo Kim e Sawney (2002), existem duas abordagens principais à comunicação interactiva no contexto das novas tecnologias aplicadas aos media: a abordagem comunicacional e a abordagem ambiental dos media. A abordagem comunicacional vê a interactividade como a relação entre os comunicadores e as mensagens trocadas. Neste sentido, não são só os media electrónicos, mas também cartas ao editor, telefonemas para os programas de televisão e a participação da audiência nos programas que são consideradas formas de interactividade. Nesta perspectiva, os media interactivos são aqueles que conseguem estimular trocas interpessoais através dos seus canais de comunicação. Na abordagem ambiental, em contraste, a interactividade é definida como “uma experiência de media tecnologicamente oferecida em que o utilizador pode participar e modificar as formas e conteúdos dos media em tempo real” (Steur citado em Kim e Shawney 2002). Quanto a esta definição, características como a interacção em tempo real e a resposta imediata são consideradas de uma importância vital para a criação de um ambiente interactivo. Características como a comunicação de um-para-muitos e muitos-para-um, a flexibilidade de uso e a comunicação por voz, texto e vídeo, tanto entre indivíduos como em grupos, o uso do meio como uma plataforma para a produção e processamento de informação e o potencial para a criação das próprias mensagens, têm muito mais a ver com o que pode ser encontrado hoje em redes de computadores, como a Internet, do que com a interacção fornecida hoje em dia pela televisão8. Podemos assim argumentar que o presente sistema de media oferece à sociedade duas abordagens muito distintas em relação à interactividade dentro das duas redes mais difundidas de entrega e transmissão de comunicação audiovisual: a televisão e a Internet. Devido à sua estrutura organizacional, a interactividade oferecida hoje pela televisão é sobretudo baseada na simulação de trocas interpessoais, seja pelas características do programa ou pelo papel conferido ao apresentador ou jornalista. Por outro lado, devido às características já mencionadas, a interactividade na Internet está mais próxima, embora não preencha completamente, do conceito de interactividade proposto pela abordagem do ambiente do media (Kim e Shawney 2002). Durante a última década testemunhámos a chegada da Internet ao sistema de media, alterando-o mas não substituindo qualquer um dos media anteriores. Os dados recolhidos em diferentes países à volta do mundo demonstram que, mesmo com 8

As experiências na chamada televisão interactiva durante as últimas duas décadas podem, na maior parte dos casos, ser reduzidas à criação de plataformas que incorporam várias tecnologias que permitem aos utilizadores, através do pagamento de uma taxa fixa ou pagamento por consumo, escolher entre diferentes ângulos de câmara num jogo de futebol, votar em talk shows ou programas similares ou escolher o próprio filme (Richieri 2002).

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Users Non-users 35

30 25.8

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diferentes graus por país, a televisão tem vindo a perder tempo de consumo e, simultaneamente, navegar na Internet tem vindo a ganhar preponderância no dia a dia das pessoas. Dado que uma percentagem significativa da população, em países mais desenvolvidos, tem tanto acesso à Internet como à televisão, podemos discutir que os dados disponíveis sobre uso, que mostram uma diminuição do visionamento da televisão entre os utilizadores de Internet, podem levar-nos a concluir que as pessoas usam a Internet com propósitos mais interactivos e escolhem a televisão quando a interactividade é Czech Hungary Iran Macao Spain Sweden USA menos procurada. 20.6

20 17.1

16.3

17.9

18.7

18.4

18.1

16.7

15.6

15 12.5 11.1

10

12.1

11.8

11.2

11.7

12.2

8.2

5

0 Chile

China

Figura 2. Média de Horas por Semana passadas a ver Televisão: Utilizadores vs. Não utilizadores WIP Project 2006 (Número de Horas).

Fonte: The World Internet Project (2006)

Os seguintes quadros dão-nos uma outra compreensão quanto à relação entre a Internet e a televisão. Eles exemplificam o comportamento na realização de várias tarefas em simultâneo, ou multitasking, de jovens entre os 8 e os 18 anos em Portugal, mas resultados similares podem ser encontrados noutras realidades como: os Estados Unidos ou o Chile. De facto 64% dos chilenos ouvem música, 25% falam ao telefone e 14,6% vêm televisão enquanto navegam na Internet, também se concluiu que quase 43% de utilizadores chilenos mandam SMS enquanto usam o computador (Godoy 2006). Em Portugal a actividade de multi-tarefas mais realizada enquanto se vê televisão é o envio de SMS ou falar ao telefone, enquanto que ao usar a Internet a mais comum é ouvir música e enviar mensagens instantâneas pela Internet. Nos Estados Unidos foram detectadas tendências similares por Foehr (2006). Quadro 3. Enquanto usa a Internet com que frequência…? (Idades 8-18) % Ouve música

56,0

Ouve rádio Usa chats (Ex: Msn; Google talk, etc.) Vê televisão

13,1 20,8 11,8

Fala ao telefone Nenhum dos acima mencionados

15,6 8,8

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Fonte: Cardoso, Gustavo, Rita Espanha e Carmo Gomes (2006) “Inquérito A Sociedade em rede em Portugal 2006”, CIES.

Quadro 4. Enquanto vê televisão costuma…? (Idades 8-18) Sims (%)

Nunca (%)

Não sabe/Não responde (%) 3,5

Navegar na Internet ou enviar e31,5 65,0 mail Ler jornais ou revistas 20,3 76,8 3,0 Enviar SMS através do 42.9 54,1 2,9 telemóvel Interagir com a televisão 29,9 65,6 4,3 Falar ao telefone 43.9 53,2 2,9 Fonte: Cardoso, Gustavo, Rita Espanha e Carmo Gomes (2006) “Inquérito a Sociedade em Rede em Portugal 2006”, CIES.

Como os dados nos quadros acima o demonstram, efectuar várias tarefas ao mesmo e combiná-las com televisão e Internet perde terreno tanto para a combinação múltipla de uso entre a televisão ou Internet e telefone ou envio de mensagens por SMS9. Demonstra-se assim que, não só estas duas tecnologias (Televisão e Internet) competem entre elas pela atenção do utilizador, quase de uma forma exclusiva, mas também que as múltiplas combinações disponíveis para a ligação em rede de diferentes dispositivos podem igualmente estar relacionadas com o grau de interactividade que podem fornecer para as necessidades do utilizador. Aqueles enquanto vêem televisão parecem privilegiar a comunicação interpessoal através do uso de outro dispositivo nomeadamente o telemóvel, e enquanto usam o computador preferem aplicações para ouvir música e fornecer comunicação interpessoal através do uso de mensagens instantâneas. No entanto a conclusão principal a tirar desta análise e dos dados empíricos apresentados aqui, é o papel decisivo da articulação de diferentes mass media no nosso quotidiano. Este é o terreno necessário para a ligação em rede dos media em massa e interpessoais, que, quando usados, podem também tornar-se mass media através das suas características de flexibilidade e mobilidade. Em consequência, qualquer análise relacionada com a força dos media individuais tem que ter em conta não apenas a televisão, a rádio, os jornais e a World Wide Web, mas também o telefone, o telemóvel e as mensagens pela Internet (e-mail, grupos de noticias, chats, mensagens instantâneas, etc.). O novo modelo de comunicação em rede, descrito nas últimas páginas, refere-se a um sistema de media onde a interactividade forma o seu modelo organizacional. Um sistema de media que oferece dois nós fundamentais, um centrado na baixa interactividade, onde a televisão reina, e outro onde o centro é a Internet, proporcionando alta interactividade. Estes diferentes nós de media estão ligados sobretudo através dos media interpessoais, que podem também ser utilizados como mass media, nomeadamente os telemóveis, e-mail, iPods e ofertas similares como o WiFi, etc. Dado que a comunicação é uma capacidade humana, nós como humanos, envolvidos em processos sociais, temos tendência a usar a comunicação para atingir os nossos objectivos, sejam eles individuais ou colectivos. Numa sociedade em rede, o sistema de media é constituído pelos nossos usos de mediação de media, e evoluiu para um 9

Outros exemplos similares e igualmente complexos de apropriação em rede dos media podem ser encontrados noutros estudos e países, por exemplo no Japão (Mikami 2004), Canadá (Caron 2007), Itália (Aroldi e Colombo 2003) e Catalunha (Castells 2003)

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sistema baseado na articulação em rede de diferentes media. Quando instrumentos de media, por vontade das empresas de media e das companhias de telecomunicações – ou mesmo de hackers – permitem a ligação em rede da comunicação, ou dos seus usos, as pessoas experimentam-nos e, se a experiência satisfaz algumas das suas necessidades em termos de autonomia, de objectivos ou de apropriação, aqueles são socialmente adoptados. Essa adopção social quando difundida em largas franjas da sociedade tende a mudar os próprios media, alterando as suas características organizacionais, tecnológicas e de rede. Esta é a forma como a ligação em rede dos media de massa e interpessoais, e consequentemente a mediação em rede, é moldada socialmente pela interactividade nas nossas sociedades. Novos paradigmas comunicacionais num novo sistema de media Porque o desenvolvimento tecnológico e a apropriação dos media obrigam à coexistência de mass media, media de comunicação interpessoal e media que combinam os dois, como a Internet, a característica principal que atravessa toda a esfera da comunicação é a da ligação em rede. Mas essa não é a única dimensão que forma a comunicação. Assistimos também a uma mudança de paradigmas comunicacionais que molda o próprio sistema de media. A alteração do nosso paradigma comunicacional pode ser testemunhado através da análise de quatro dimensões: 1) Retórica construída essencialmente em torno da imagem em movimento; 2) Novas Dinâmicas de Acessibilidade da Informação; 3) Utilizadores como Inovadores; e 4) Inovação nas Notícias e nos Modelos de Entretenimento. A centralidade da retórica da imagem em movimento na Era da Informação O nosso mundo mediático é hoje dominado por uma retórica de media construída sobretudo em torno da componente visual (Howell 2003). O visual tem ganho progressivamente importância sobre o textual, mesmo no reino da Internet. Não só porque a banda larga permite o visionamento de vídeos e a multiplicação de novos “YouTube’s”, mas também por causa do papel que o visual toma dentro da comunicação mediada por computador. Temos que reconhecer que, mesmo quando nos referimos a modos de comunicação orais ou verbais, na Internet, estamos a analisar um processo de mediação que combina tanto o visual e textual como o visual e oral. O Skype e outros programas VOIP, as mensagens instantâneas, ou mesmo o email combinam cada vez mais o uso de modos visuais de comunicação Assim o que observamos não é uma vitória esmagadora do visual sobre outros modos de comunicação de media, mas o aumento de uma mistura do visual com outros modos de comunicação (Fornas 2007), uma tendência que pode ser olhada como evolução das experiências dos anos 80 nas relações entre a música e a imagem em movimento, e o sucesso mundial e a expansão do género da MTV e da produção de vídeo clips (Frith 1993). Evidentemente que, em vez de tentar misturar as polaridades verbal/não verbal e visual/oral, deveríamos concentrar a nossa atenção na complexidade multidimensional das faculdades de comunicação humanas, de forma a não simplificar demasiado tendências históricas ou transições momentâneas (Fornas 2007). Dentro e fora da Internet encontramos uma retórica esmagadoramente baseada na cultura visual, cultura essa fundada na simplicidade, rapidez e emoções nas quais “ver é suficiente para ser” e onde “repetir é informar” (Ramonet 1999). Testemunhamos, em todo o mundo, experiências ao vivo efectuadas por companhias de televisão, estações de rádio, jornais e empresas de Internet, como o Google ou o Yahoo!, sobre como combinar a

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comunicação retórica verbal e oral com o uso de chats, SMS, e-mails, podcasts, vídeos, etc. Apesar de não sermos capazes de determinar em que é que o mundo dos media irá inovar nesta área, as tendências parecem indicar que os media tradicionais, como os jornais e rádio, assim como os utilizadores individuais, estão a tentar explorar de que forma o vídeo pode complementar a sua escrita tradicional e retórica oral ao melhorar a sua presença na Internet com imagens em movimento, difusão e downloads. A presença da Internet na televisão também tem tentado evoluir, ao usar a World Wide Web ou redes P2P, de abordagens mais textuais e orais para a transmissão completa de imagens em movimento. A nossa comunicação em rede é, assim, cada vez mais visual e o movimento da imagem parece também atrair as nossas atenções e engenho. Novas Dinâmicas de Acessibilidade da Informação O presente paradigma comunicacional está também construído em torno das novas dinâmicas de acessibilidade da informação. Podemos identificar quatro tendências que moldam a forma como nos relacionamos com a informação: 1) maior acessibilidade através de novos modelos de Gatekeeping; 2) Software Livre; 3) Open Access ou Acesso Livre e 4) Acessibilidade móvel à informação. Uma maior acessibilidade de informação permite uma nova cultura de democracia (Jensen 2005), nas sociedades tradicionais o mundo cultural estava dividido em dois: produtores e consumidores, pessoas que escrevem livros e pessoas que os lêem (Eco 2000). As tecnologias de informação em geral e a Internet em particular, têm alterado isso de forma positiva, tornando possível que todos escrevam sobre tudo (Castells 2007, Lessig 2005). Tais mudanças trazem consigo novos modelos de gatekeeping que, por sua vez, constroem novos modelos de acessibilidade à informação. Tradicionalmente, os filtros sempre fizeram parte das nossas experiências, oferecendo uma base para classificação. Isto é verdadeiro para as empresas de publicação de revistas e livros, as companhias discográficas e de produção de filmes e jogos, os directores de programas de televisão e rádio, mas é também verdadeiro para jornalistas, editores, igrejas, instituições cientificas, etc. – entidades e pessoas que têm a função de filtrar e reorganizar o conhecimento e a informação (Eco 2000, Lessig 2004). Na relação entre o filtro e o utilizador, há uma restrição de liberdade intelectual, mas o acesso do utilizador e da comunidade à informação essencial é garantida. Com o desenvolvimento da Internet, a matriz de relações entre os filtros e o utilizador também mudou, e consequentemente, os paradigmas comunicacionais também. Por um lado, a Internet reduziu os filtros institucionais, porque é possível seleccionar informação sem passar pelas instituições e permite-nos comparar os filtros executados por estados, igrejas, professores, bibliotecários, médicos, líderes de opinião e empreendedores. Por outro lado, repete online o filtro já levado a cabo por jornais, rádio e televisão. A Internet, quando vista através dos motores de busca, mostra-nos uma realidade filtrada que continua a dar uma voz desproporcionada – considerando o número de media online – aos jornais, rádios e estações de televisão (Cardoso 2007). A Internet introduziu assim novos agentes de classificação para a experiência, como motores de busca e portais, dando origem a um novo fenómeno de selecção e classificação – Internet Gatekeeping (Cardoso 2007). No entanto, mesmo se nos traz novas regras de acesso, a Internet tem aumentado exponencialmente o nosso acesso à informação quando comparada com a acessibilidade ao sistema de media pré-Internet. O Acesso Livre, ou Open Access, e o Software Livre, duas outras dimensões de análise aqui apresentadas, podem ser vistos como tendências interrelacionadas. O Acesso Livre pode ser seguido até às suas origens, no início dos anos 70, com o Projecto de Guttenberg de Michael Hart (Suber 2004). No entanto, até ao nascimento da World Wide Web, e o lançamento dos primeiros browsers nos anos 90, a inexistência de um

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aparato tecnológico capaz de apresentar conhecimento codificado a baixo custo a largas audiências limitou as iniciativas de acesso livre a pequenas audiências (Meikle 2005, Lull 2007). Com a finalidade de analisar o acesso livre podemos definir três diferentes etapas históricas10: a paleo-conceitual; a neo-experimental; e a etapa de movimento social. Podemos voltar atrás, à origem da etapa paleo-conceitual em 1963, com Ted Nelson, até 1979 com o nascimento da Usenet, e é caracterizada pelos primeiros desenvolvimentos da tecnologia digital em rede e a influência mútua que os desenvolvimentos tanto na ciência como na comunicação conceitual pensavam ter um sobre o outro. A fase neo-experimental marca bastante as duas décadas que vão de 1980 até 2000. Foram duas décadas caracterizadas pela experimentação e pela difusão social que Himanen (2001) denominou a “Ética Hacker”. Experimentação de possibilidades tecnológicas, seguindo uma abordagem de tentativa e erro, levaram ao desenvolvimento de aplicações e à sua difusão a largas audiências, albergando trabalho cooperativo em grande escala, sob a abordagem de Sofware Livre. Disso, podem ser encontrados exemplos no sistema operativo Linux, no Projecto do Genoma Humano, na Wikipédia (Auray 2007) ou em revistas académicas online nascidas durante as duas últimas décadas. Pode-se considerar que a etapa de movimento social de acesso livre começou com as iniciativas de Budapeste e Bethesda em 2002 e Berlim em 2003. Estes três eventos constituem um ponto de viragem decisivo, porque foi aqui que a definição do que acesso livre significa foi acordada, e subsequentemente difundida dentro da comunidade científica. Ambos os eventos assinalaram também a existência de duas estratégias complementares (Amory et al., 2004) dentro do movimento do acesso livre: revistas académicas de acesso livre e receptáculos institucionais. Ambas são estratégias que visam o incremento da acessibilidade a publicações académicas. Sendo as revistas académicas o principal instrumento cientifico de comunicação (Medawar 1963), o movimento de acesso livre escolheu-as para serem a ponta de lança de um movimento que deseja baixar as barreiras dos preços, técnicas ou de acesso legal. Durante os últimos cinco anos, revistas de acesso livre floresceram dentro da comunidade internacional11 e muitos editores adoptaram, parcialmente ou integralmente, os princípios gerais, mudando assim igualmente o seu modelo de negócio. Apesar de concentrados na produção de ciência e disseminação de conhecimento, as implicações do acesso livre vão para além da comunidade científica. Visto que é dentro do ambiente de pesquisa que muito do ensino erudito acontece e que os modelos de ensino das universidades tendem a influenciar o ensino com notas baixas, é de esperar que a forma como olhamos para a disponibilidade de informação nos media na nossa sociedade venha também a mudar. O uso combinado da abordagem de Acesso Livre e Software Livre, originaram uma presença crescente de ferramentas de software de código livre no nosso ambiente diário de comunicação (Castells 2005). Essas ferramentas vão desde os servidores de Internet às ferramentas de blogues e desde a edição de televisão e software de transmissão a kits de publicação de revistas. O software livre permitiu a produtores individuais, ou pequenas equipas, copiar a presença online de grandes media e empresas editoras, e ao fazê-lo, mudarem a variedade de escolhas disponíveis para o utilizador de media e os produtores de media. As abordagens de Acesso Livre, por seu turno, trouxeram-nos novas formas de jornalismo online, entretenimento e conteúdos de informação caracterizados por não necessitarem de pagamento de honorários pelos

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http://www.earlham.edu/~peters/fos/timeline.htm http://www.doaj.org/ ; http://pkp.sfu.ca/?q=ojs

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utilizadores para ter acesso aos conteúdos e também ao permitir que o utilizador construa, por si mesmo, conteúdos ou transforme os já disponíveis. A acessibilidade móvel à informação é o quarto elemento de análise aqui apresentado. A mobilidade refere-se à capacidade de aceder à informação em qualquer momento e local. Até há pouco tempo os computadores eram vistos como uma ferramenta estática para ser usada numa secretária, mas a inovação tecnológica alterou esta visão (Castells e tal. 2006, Cardoso 2007a, Caron 2007, Katz et al. 2002). Computadores portáteis e dispositivos WiFi, juntamente com os telemóveis, permitiram aos utilizadores destas tecnologias, não só comunicar entre si, mas também participar, jogar (Beyer 2007, Enli 2007) e ter acesso a informação fora dos seus ambientes de trabalho tradicionais. Desde a televisão móvel emitida para um telemóvel (Silverstone 2005, Prario 2007) ao iTouch da Apple que fornece dispositivos WiFi de conectividade que cabem numa mão, a forma como comunicamos e temos acesso à informação está a mudar, moldando uma outra tendência no paradigma comunicacional, e na acessibilidade móvel à informação. A parceria estabelecida entre a “mobilidade” e a “acessibilidade” produz um novo ambiente para o presente paradigma comunicacional, dando-lhe uma nova moldura espacio-temporal. Embora saibamos que o refrão “qualquer coisa, a qualquer hora” não é aplicável a qualquer pessoa em qualquer situação (porque as nossas escolhas quanto ao acesso à informação estão enquadradas socialmente nas nossas representações pessoais e partilhadas) é no entanto verdade que a mobilidade redefine como as nossas decisões diárias de trabalho e lazer são tomadas, como a gestão pessoal e familiar é feita e como a relação em rede se infiltra ainda mais na nossa forma de organização social. Utilizadores como Inovadores O novo paradigma comunicacional das nossas sociedades é também construído em volta do papel cada vez maior do utilizador como fomentador de inovações e inovador nos conteúdos de media a serem lidos, ouvidos ou visionados por outrem. Os utilizadores têm vindo a ser progressivamente tratados como inovadores nos media, não apenas por causa da disseminação da Internet e das tecnologias de software livre, mas também devido à individualização dos media (telemóveis, câmaras de vídeo e mp3 e leitores de vídeo que cabem numa mão). A inovação tem que ser entendida como um processo dialéctico entre participantes de poder e influência desiguais no mercado e nos padrões actuais de consumo e uso (Silverstone 2005). Como argumenta Silverstone (2005), os SMS e a partilha de ficheiros P2P quase que atingiram uma aura mítica nos processos de inovação das TIC, visto que ambos são vistos como sinais de uma mudança radical no modo como a inovação ocorre, no reequilibrar da forma como os produtores (tecnólogos, designers, marketeers, analistas de mercado, investidores) e o consumidor interagem. A indústria de telemóveis, ao notar o uso de SMS pelos jovens incorporou esse conhecimento em novos telemóveis e serviços oferecidos (Colombo 2006, Silverstone 2005). Em consequência, o utilizador começou a ser visto, pela indústria, como um “definidor de tendências”, ou “testador activo de inovação” (De Marez 2007). Os processos de inovação ficam menos confinados aos ambientes industriais, porque a qualidade da experiência é medida pelo lançar de um número maior de modelos no mercado e pela monitorização da escolha do utilizador, de forma a redefinir quais os modelos a melhorar e quais abandonar. Quando os utilizadores inovam deixam de ser os “utilizadores finais” (Slot 2007) porque passam para o centro da própria cadeia de valor, ou seja, para a arena da criatividade. A criatividade numa abordagem centrada no utilizador, como a que presenciamos, depende da capacidade das pessoas de organizar redes informais (seja em

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companhias ou organizações que desenvolvem serviços/produtos beta) e depois serem capazes de atrair utilizadores que contribuirão para a definição da próxima fase. Esta atracção depende, em grande medida, da capacidade de “abrir espaço” e trabalhar no ambiente, esperando que essa oferta venha a criar as condições para a experimentação e criatividade se desenvolverem dentro de uma determinada comunidade mediática em crescimento, normalmente web sites 2.0, mas também monitorizar o feedback. Mas, a continuidade de inovação pelos utilizadores parece depender também do desenvolvimento de um grupo nuclear de membros que conseguem motivar os utilizadores que vão aí chegando e, ao fazê-lo, sustentam a evolução de uma ligação em rede episódica para uma rede estruturada de ligações durante um determinado período de tempo (Auray 2007, Verhaegh 2007). No entanto, o sucesso do negócio da apropriação social dos processos de inovação dos utilizadores, como o MySpace ou Facebook, parecem desenvolver-se melhor em culturas organizacionais que estão menos estruturadas e que confiam mais na inovação das formas como se apresentam, ou seja, onde o “nós” é predominante, em vez da típica relação mediada entre o “nós”, a gestão do site, e os “outros”: os utilizadores (Silverstone 2006). Exemplos de relacionamentos entre culturas organizacionais opostas têm sido encontradas em experiências de jornalismo de “cidadão” e “participativo”, onde a cultura jornalística é, geralmente, conservadora e não é motivada pela inovação para experimentar novas relações com outros produtores de conteúdos fora da sala de imprensa. Espaços empresariais dedicados ao jornalismo onde as culturas de marketing e negócio parecem ser mais abertas a essas inovações (Paulussen 2007). O sucesso da inovação realizada pelos utilizadores de ambientes de Internet 2.0 é então visto como dependendo do modelo de auto-representação e intercomunicação (Koskela 2007) oferecido pelas plataformas de software ou pelas formas como o utilizador é autorizado a modificá-las. Mas os “utilizadores como inovadores” não estão confinados aos sucessos da Internet 2.0. Outras áreas de inovação para o utilizador parecem ser encontradas praticamente em todas a áreas de disseminação de software ou hardware das TIC. A multiplicação de hardware pessoal, móvel e vídeo traz ao utilizador a capacidade de domesticar novas formas de conteúdos audiovisuais e, assim, introduzir processos de domesticação de alteração de tempos, ou seja, a capacidade dos indivíduos e da sociedade de domar o desconhecido e ameaçador, e ao fazê-lo moldar estas novas tecnologias aos valores e hábitos do quotidiano (Den Broek 2007, Urban 2007, Silverstone 2005). Por exemplo, o utilizador pode também tornar-se inovador quando se apropria dos mecanismos de comunicação interpessoal, como os SMS, para propósitos organizacionais que facilitem o conhecimento e permitam um planeamento diferente das suas vidas e um aumento da coesão dentro de um determinado grupo (Byrne 2007). A segunda grande área de inovação por parte dos utilizadores é o conteúdo. Os conteúdos originados pelos processos de inovação de conteúdo, dirigidos pelos utilizadores, têm duas formas principais de apropriação. Ou abastecem a oferta total de jornais, rádio e televisão, que gerem as operações de Internet; ou temos projectos individuais e colectivos de geração de conteúdos desenvolvidos em primeiro para a Internet, apesar de poderem evoluir no futuro para outros canais de distribuição – como nos Estados Unidos as notícias RocketBoom, que começaram online e são agora passíveis de ser transferidos para as televisões em casa através das redes de cabo. Na primeira alternativa, através do ambiente online o utilizador estabelece com os jornais, rádio e televisão, múltiplas relações que vão desde a escrita e publicação de artigos, colunas de opinião ou vídeos à participação com comentários, avaliação ou partilha de conteúdos (Pikone 2007). A segunda alternativa parece ser aquela onde é permitida ao

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utilizador mais liberdade criativa, e consequentemente, onde a inovação é mais facilmente alcançável e valorizada. No entanto, apesar de se reconhecer o papel inovador realizado pelos utilizadores em termos de novas disponibilidades de conteúdo, o conteúdo gerado por utilizadores ainda não é produzido pela maioria dos utilizadores online do mundo. A análise de dados demonstra que, nos Estados Unidos, apenas 8% dos utilizadores de Internet tinham, em 2006, editado um blog (Idate 2006). Números similares foram encontrados em França, onde apenas 7% da população alguma vez construiu um blog (Idate 2006) e em Portugal com 12% (Cardoso 2006) Figura 3. Acumulado de Weblogs de Março 2003-Julho 2006

Fonte: www.technorati.org

Outros exemplos de conteúdos gerados por utilizadores, agora relativos à produção de vídeos, também podem ser encontrados. Por exemplo no YouTube, onde mais de 5 milhões de vídeos estavam disponíveis no fim de 2006, havia cerca de 30 milhões de buscas por mês, com mais de 100 milhões de visionamentos de vídeo por dia. No entanto, o upload de vídeos no YouTube parece envolver ainda menos de um décimo da população que edita blogues (Auchard 2007). Os conteúdos gerados por utilizadores podem também ser encontrados na partilha social, ou nos chamados sites de Web 2.0. Websites como o MySpace geravam, no final de 2006, mais de 270.000 novos membros por dia (Auchard 2007). Outro canal de distribuição com conteúdos gerados por utilizadores é o das redes P2P. Estas redes na Europa, em 2006, atraíam entre 15% e 35% de utilizadores da Internet e, nos Estados Unidos, 25% de utilizadores, e eram sobretudo adolescentes e jovens adultos que utilizavam estes serviços (Idate 2006). Apesar de serem mais conhecidos pela pirataria de conteúdos aos direitos de autor, razão porque aparecem regularmente nas páginas dos jornais, as redes P2P oferecem muito material sem direitos de autor ou, por vezes, remisturas de conteúdos audiovisuais (Hesmondhalgh 2007). Em algumas áreas específicas de material com direitos de autor, como o cinema europeu continental, as redes P2P até têm potencial para evoluir no sentido de se tornarem o seu principal canal de distribuição. O cinema europeu, financiado tanto pelos Institutos de Cinema nacioais e programas europeus, ou pelos próprios autores, não tem, em muitos países, acesso a uma boa distribuição, sendo as P2P uma boa alternativa para atingir as audiências. Os utilizadores tornaram-se os principais inovadores na sociedade em rede, mas os utilizadores são também muito diferentes uns dos outros. Podemos assim caracterizar uma das tendências principais do novo paradigma comunicacional como a inovação

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desempenhada pelos utilizadores, mas temos que compreender que utilizadores específicos inovam em áreas específicas, aquelas em que a comunicação é tida como mais importante para eles, seja através de SMS, conteúdos de vídeo, blogs, etc. (Silverstone 2005, Lull 2007). Inovação nas Notícias e nos Modelos de Entretenimento A última dimensão do novo paradigma comunicacional aqui analisada, é a da Inovação nas Notícias e nos Modelos de Entretenimento. A questão que conduz esta análise é exactamente a mesma que tem acompanhado a escrita deste capítulo: quais são as novas tendências que têm maior influência na forma como o nosso mundo está a ser moldado, e em consequência, na forma como as nossas notícias e ficção estão a ser contadas? Cada Era tem os seus géneros predominantes e modos de representação de emissão (notícias, debates, novelas), assim como formas diferentes de exprimir a singularidade do indivíduo (música popular, escrever em blogues, mensagens, partilhar ficheiros). Apesar de representarem a procura de diferentes tipos de ordem e uma luta por poder e controlo sobre o nossos espaços e tempos simbólicos e materiais (Silverstone 2007), os media funcionam de forma diferente ao longo do tempo e espaço. Tanto as notícias como o entretenimento, têm mudado na sua natureza pela possibilidade fornecida pela chegada da Internet, e pelas ferramentas que apoiam a produção e disseminação de conteúdos pelos indivíduos (Beyer 2004, Trine 2004). Mas ao mesmo tempo as empresas de media também têm mudado as suas ofertas de notícias e entretenimento. A mistura das duas dimensões de mudança, uma levada a cabo por produtores individuais e a outra por empresas de media, tem alterado o cenário das notícias e entretenimento dos media (Yetreberg 2004, Trine 2004). Mas que tendências comuns se podem encontrar para podermos compreender e tipificar a alteração de conteúdos, tanto nas notícias como no entretenimento? É aqui sugerido que grandes interrupções ou acontecimentos históricos, dentro de uma dada continuidade histórica, podem promover a mudança na forma como classificamos a experiência, e que os media, dado a sua função de classificação na sociedade (Silverstone 2007), são também influenciados por aquelas, na forma como as notícias e a ficção são produzidas e distribuídas. A mudança social traz mudanças não apenas na forma como organizamos a sociedade, as instituições e a família, mas também na cultura de um determinado período da história humana (Castells 2004). Os media não são apenas tecnologia, são também o conteúdo que é impresso, transmitido ou mostrado. Não é somente a tecnologia que muda, mas também os conteúdos. Tanto as notícias como a ficção são impregnados e moldados pelos valores e representações de uma dada sociedade num certo espaço e tempo. Por estas razões, podemos argumentar que, não só podemos descobrir a fonte da presente alteração de oferta de conteúdos pelas empresas de media (Miege 1997, Hesmondhalgh 2002, Boczkowski 2004) nas passado recente de necessidades de crescimento económico (que levaram à expansão territorial das audiências através do satélite e da televisão por cabo) e na disseminação do uso da Internet, mas também nos grandes acontecimentos sociais que influenciaram as nossas sociedades nas últimas três décadas. O argumento aqui apresentado é o de que temos testemunhado, na última década, a uma mudança dentro dos próprios processos de mediação e que essa mudança está directamente ligada a acontecimentos históricos e à transformação tecnológica que temos acompanhado entre 1989 e 2001. Esses dois grandes acontecimentos históricos foram a queda do muro de Berlim e, consequentemente, a mudança geopolítica na Europa e em todo o mundo, em ambos os lados dos blocos políticos (Castells 2000) e o ataque de 11 de Setembro de 2001 às Torres Gémeas em Nova Iorque. Entre ambos os

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acontecimentos também assistimos à crescente apropriação global, pelas empresas de media e pelos cidadãos, da Internet e da Transmissão de Televisão por Satélite. Os trabalhos de Roger Silverstone (2002) e Umberto Eco (2007) fornecem-nos um conjunto de conceitos que nos ajudam a compreender a alteração nas notícias e entretenimento que hoje vemos, lemos e ouvimos, sendo eles: interrupção; transcendência; diferença (Silverstone 2002); fronteira; e reserva (Eco 2007) Para Eco (2007) a queda do muro de Berlim, combinada com a globalização dos media, primeiro a televisão por satélite e depois a Internet, trouxeram para a nossa vida, uma alteração nas formas em que tanto os “limites” do conhecido, a fronteira entre algo, juntamente com o que é considerado como sendo correctamente “escondido” ou guardado em “reserva” são apresentados. Estas perspectivas, na sua opinião, alteraram também a forma como a mediação acontece, e o nosso envolvimento nesses processos. Segundo Umberto Eco (2007), um dos primeiros conceitos que foram questionados pela globalização da comunicação foi a noção de fronteira. A queda de limites comunicacionais, trazida pelas novas tecnologias de informação e comunicação produziram dois fenómenos contraditórios. Por um lado, já não existe uma comunidade nacional que possa impedir os seus cidadãos de tomar conhecimento do que se passa noutros países – mesmo nas ditaduras é cada vez mais difícil excluir isto (Eco 2007). Por outro lado, a globalização da comunicação (Lull 2007) introduziu modificações na monitorização da troca de informação. Por exemplo, o Big Brother de Orwell não é a versão televisiva da Endemol (Roscoe 2005), onde milhões de “voyeurs” observam um único exibicionista. Hoje o Big Brother que nos observa não tem uma só face e não está sozinho: ele é a totalidade da economia global (Lyon, 1998 and Rodotà, 2000). O argumento de Eco (2007) está precisamente construído em torno da questão sobre se uma mudança destas, nas raízes da monitorização, não está a produzir um movimento de mudança cultural na percepção do que valorizamos socialmente em relação à reserva e até que ponto essas alterações influenciam as nossas experiências mediadas de ficção. Para Silverstone (2002) tanto a mediação como os acontecimentos históricos, na nossa história recente, são vistos como processos fundamentais. A dimensão estrutural da mediação de acontecimentos, como a ocorreu a 11 de Setembro, ajuda-nos a encarar o contexto mais alargado de como os media representam o mundo para nós (Silverstone 2002). Os media são o veículo principal para trazer para as nossas vidas tudo o que não está “perto” de nós, que não pode ser experimentado, visto, tocado sem mediação, seja na televisão, na Internet, nos jornais ou na rádio. A mediação envolve três dimensões de relações entre o que é mediado e quem participa nesses processos de mediação: tempo; espaço e ética (Silverstone 2002). Acontecimentos como o 11 de Setembro, alteraram a esfera do tempo (interrupção), a esfera do espaço (transcendência) e a esfera da ética (diferença). A interrupção refere-se à forma como o calendário dos media, a sua continuidade, é fundamental para definir a conduta do dia a dia. Numa sociedade em que a mediação se torna cada vez mais presente, as rotinas diárias têm tendência para associar-se às rotinas dos media. As rotinas trazem segurança e continuidade, quando a rotina é quebrada confrontamo-nos com a mudança, com a dúvida, com a suposição de que temos que nos readaptar à novidade, seja ela qual for. As rotinas dos media só são quebradas quando editorialmente é observado algum acontecimento importante, e que tal acontecimento tenha que ser comunicado. A transcendência refere-se às afirmações sobre a capacidade dos media de se dirigirem à aldeia global proclamada por McLuhan (1997), a aniquilação da distância para fornecer novas formas de conectividade global ao ultrapassar a separação (Silverstone 2002). Os media sempre nos forneceram a representação do acontecimento, não a

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realidade, mas a sua imagem. Contudo, têm-se sugerido cada vez mais que “o que se vê é o que é (what you see is what you get – WYSIWYG)”, ou seja, representação e realidade são expressas como sendo exactamente a mesma coisa. O último conceito aqui analisado é o papel da diferença na nossa análise da inovação nos modelos de notícias e entretenimento. A diferença está ligada à forma como “o outro” está representado para nós e como o entendemos na nossa vida diária (Silverstone 2002). Um exemplo, identificado por Silverstone (2002), é o de que até ao aparecimento da Al-Jazeera nos ecrãs ocidentais, “o outro”, neste caso os habitantes dos países muçulmanos para os quais a Al-Jazeera transmite em árabe, eram tanto na ficção como nas notícias, sobretudo um produto da descrição dos media ocidentais. Ao existir simplesmente, ou ao transmitir, a Al-Jazeera mostrou-nos que também podemos ser “o outro”, que a separação tem dois lados: a forma como vemos os outros e a forma como os outros nos vêem. Mas de que forma estes conceitos nos ajudam a compreender a alteração nos media e na forma como a mediação é feita na sociedade em rede? Olhemos para a erosão dos valores sociais tanto de fronteira como de reserva (Eco 2007). Esta erosão influenciou a forma como o jornalismo é praticado e como o entretenimento é construído pelas empresas de media e produtores individuais de conteúdos. A alteração do conceito de fronteira influenciou não só as fontes usadas no jornalismo e a forma como os jornalistas trabalham, mas abriu também acesso a fontes que são utilizadas por pessoas que não são jornalistas. Algo que, finalmente, levou também ao acesso a novos canais de distribuição para as notícias por eles produzidas, nomeadamente a Internet (Cardoso 2007; Eco 2007, Lull 2007). O nosso valor social observado, em relação à reserva, pode também dar-nos algumas pistas para responder à questão de porque é que os nossos jogos de perguntas e entretenimento passaram dos palcos tradicionais rodeados por audiências a aplaudir o concorrente para o que tem sido comummente chamado “reality shows”? Eco argumenta (2007) que para compreender as alterações no entretenimento temos primeiro que seguir um trilho iniciado na produção de notícias. Uma das principais mudanças nos conteúdos noticiosos, nos últimos trinta anos, ocorreu na imprensa escrita, uma mudança liderada pelo que é tradicionalmente chamado de “imprensa corde-rosa” (Eco 2007, Turner 2007, Littler 2007). Estas publicações, sobretudo sobre pessoas famosas – actores, cantores, monarcas no exílio ou playboys – que se expõem voluntariamente à observação dos fotógrafos e cronistas (Street 2006). Os leitores sabiam que muitas vezes os acontecimentos mostrados nas histórias das notícias tinham sido elaboradas pelos jornalistas, mas os leitores não se viraram para estas publicações pelas notícias, ou se preferirmos, pela verdade (McQuail 2000, Marshall 2006). O que as audiências procuravam nessas publicações era sobretudo entretenimento e não noticias na sua definição mais tradicional (Eco 2007). Com o objectivo de competir com a televisão e também devido à necessidade de preencher um maior número de páginas com histórias, a imprensa generalista e de referência começou a interessar-se cada vez mais por eventos sociais, o espectáculo e mexericos, alterando desta forma os seus critérios sobre o que constitui uma notícia. Os mexericos tornaram-se um assunto de referência de informação e visaram até aqueles que não eram os seus alvos tradicionais – monarcas reinantes, líderes religiosos e políticos, presidentes, cientistas, etc. – gerando a ideia de que tornar-se objecto de escrutínio publico era equivalente a adquirir o mesmo status social que um actor famoso ou político (Eco 2007, Street 2006, Marshall 2006). Este foi um desenvolvimento importante, porque introduziu uma mudança nos valores sociais e permitiu passar a outra etapa de evolução nos media, que surgiu quando a televisão começou a idealizar espectáculos nos quais os protagonistas já não eram os que falavam sobre alguém que

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não estava presente, mas aqueles que eram alvos de falatório eles próprios, e que voluntariamente, estavam dispostos a expor publicamente as suas vidas e a dos outros (Eco 2007, Turner 2006, Langer 2006). Esta segunda fase ocorreu sobretudo na dimensão do entretenimento, o que lhe confere uma lógica de associação entre o concorrente e as suas acções como um modelo universal, pois a lógica é “se ele se expõe, qualquer um o pode fazer” (Eco 2007). No entanto, essa dimensão não pode ser atribuída apenas à televisão, visto que na Internet também se podem encontrar muitos outros exemplos de websites que seguem exactamente os mesmos valores de exibição da intimidade (Cheung 2000, Marshall 2006a). A profusão de câmaras web, com ou sem o objectivo de obter lucro, descobrindo a privacidade de lugares privados ou semiprivados, home pages pessoais que revelam tudo sobre “quem eu sou” e a autoexibição em fotografias no MySpace ou Facebook, mesmo de detalhes tão íntimos como o interior do corpo de alguém (Eco 2007, Marshall 2006a), são exemplos desta mudança de relação com a reserva. A concentração no papel desempenhado pelo par privacidade/reserva na alteração dos modelos de entretenimento está também relacionada com o facto dos reality shows centrados na perda de reserva terem iniciado uma tendência de emissões de entretenimento que se espalhou pelos outros géneros de entretenimento: o uso de formatos. Exemplos dos denominados “formatos” são, entre outros, os programas de televisão e concursos vendidos a diversas estações pelo mundo fora (sobretudo programação factual, mas também espectáculos e séries). Se os conteúdos gerados pelos utilizadores são um motor importante de inovação para os produtores fora do ambiente das grandes empresas de media, já para a indústria de media a alteração do conceito de “programa” (um modelo de original/não duplicável) para o conceito de “formato” tem sido durante a última década a chave principal da inovação no entretenimento (Murray 2005, Roscoe 2005, Ortoleva 2004, Ytreberg 2004, Hesmondhalgh 2007). Numa sociedade em rede onde as ligações entre as diferentes tecnologias são procuradas e experimentadas, não é surpresa que uma ligação directa entre “formatos” e o nosso uso de software em computadores possa ser discutida, uma contaminação de modelo entre a indústria de software e a das transmissões televisivas. Os conteúdos dos media classificáveis na definição de “formatos” são similares ao software de programas de computador no sentido que o software precede o produto final. Assim como um texto é o produto de um processador de texto, também um “formato” não é um programa com conteúdo acabado, dado que simplesmente define e condiciona os conteúdos a serem produzidos, mas ainda não é um conteúdo porque a sua função é preliminar à elaboração da informação. Assim, os “formatos” permitem ao utilizador final um grande grau de criatividade para definir o resultado final. O consumo nacional de programação televisiva na Europa mostra-nos que a grande maioria da ficção se tornou de produção nacional, mas ao mesmo tempo os mercados tornaram-se cada vez mais abertas à oferta combinada de ficção nacional, europeia, norte americana e sul americana, baixando as barreiras culturais e promovendo a troca cultural (Hesmondhalgh 2007, Taplin 2007). Um exemplo de fronteiras pouco definidas e concentração nos formatos de “reality” tem sido o sucesso crescente de séries de mistério e ficção científica, mas combinando desta vez o nosso quotidiano com o sobrenatural (Perdidos, Sobrenatural, Médium, Invasão, etc.). No que se relaciona com a influência das mudanças na percepção social de reserva e escrita de ficção, testemunhámos a adaptação de conceitos mais tradicionais como os retratados em “Donas de Casa Desesperadas”, “Anatomia de Grey”, “House” ou “Prison Break”. Estes são exemplos de enredos muito tradicionais mas que estão a ser misturados com a abertura da privacidade, ou reserva, das relações humanas no ambiente de trabalho, de casa, ou mesmo de pessoas sujeitas a um stress extremo e por isso mais inclinados a

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explorar os extremos das relações humanas. Os formatos já não estão apenas presentes em Docudramas, Docutainments ou reality shows, mas chegaram também à comédia, como por exemplo o programa “Camera Café” presente em França, Itália, Espanha e Polónia. O conceito de programa de Coaching, ou treino/simulação, é outro exemplo do turvar das fronteiras entre tipos de programas anteriormente descritos e o uso de assuntos relacionados com a vida pessoal. Nos programas de “Coaching” vai-se além dos talk shows e evolui-se para “formatos” construídos para instruir pessoas sobre assuntos de saúde em programas como “Tu és o que comes” ou “O Maior Vencido” apresentado no Channel 4, NBC, RTL ou M6. A juntar a todos estes novos “formatos” continuamos a assistir à presença de reality shows, como o Big Brother, agora construídos em torno de celebridades e não apenas “pessoas comuns” (Giles 2006). Se os reality shows foram um primeiro exemplo da perda de reserva e esbatimento das fronteiras e da sua passagem a motores do entretenimento, continuamos ainda a assistir a inovações neste sector seja pela mistura entre concursos de canto e dança e reality shows, ou através de espectáculos de talento dirigidos ao Negócio, Moda, Educação, Boxe, Futebol e até espectáculos de namoro (Turner 2006, Ytreberg 2004). Poderemos também encontrar a influência da diferença, transcendência e interrupção (Silverstone 2002) no cerne da escrita actual de ficção? O já referido regresso do tema da ficção científica, juntamente com histórias sobrenaturais, é muitas vezes acompanhado pela escolha clara de mostrar o mundo através dos olhos do “outro”, o “diferente”, pelo que se torna um traço comum na ficção actual. Assim a profusão de séries (como CSI, Lei e Ordem, Mentes Criminosas, Ossos, etc.) onde médicos, advogados e criminologistas são os personagens principais torna-se outro exemplo de como a separação é explorada como um traço primordial na ficção actual. Nestas séries de TV, a narração é cada vez mais construída em torno da forma como as personagens vêem a realidade. Somos convidados a ver a realidade através dos seus olhos, usar a sua percepção de realidade do enredo e a já não olhar para os acontecimentos como o traço central no roteiro. Outros exemplos da influência da atenção dada à diferença, permitida sobretudo através da ligação em rede de diferentes plataformas tecnológicas, são os enredos de ficção desenvolvidos para serem passados simultaneamente na televisão, nos telemóveis e na Internet (Murray 2005, Lessig 2005, Hesmondhalgh 2007). Esses enredos ficcionais são desenvolvidos de forma a permitir diversas experiências que contam a mesma história através de ângulos diferentes e diferentes visões de personagens, exemplos deste tipo de séries são os produzidos na Alemanha, pela UFA based Phoenix Company, como o DTA (Don’t Trust Anybody). O DTA trabalha em distribuição por franchise e conta a história de um homem que acorda num quarto de hotel com uma chamada no teu telemóvel, o visor mostra um homem mascarado, que chama a atenção para o facto de você ser responsável pelo cadáver na casa de banho. Enquanto a polícia bate à sua porta, ele apresenta uma saída, mas você nunca pode desligar, pois só tem esta ligação, seguindo-se assim uma busca por pistas na noite de uma grande cidade. Esta é a história de DTA, um cenário desenvolvido para seis plataformas e ambientes diferentes, desde um DVD especial e uma série de TV com toda a história, um blog do personagem principal durante a busca, um artigo WAP com fragmentos da namorada na prisão, episódios Web com a história de três discípulos do homem que telefonou, episódios 2.5G numa perspectiva de Big Brother e a história principal com 30 episódios de 3 minutos para telemóveis 3G. A diferença é assim explorada como uma característica de um modelo de negócio de entretenimento (Hesmondhalgh 2007) que tenta mostrar diferentes ângulos da mesma história em ecrãs tecnológicos diferentes: o visor do telemóvel, o computador, o ecrã da televisão, o ecrã de cinema, mp3 portátil e o ecrã do leitor de vídeo.

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A mediação na ficção torna-se assim progressivamente ligada à procura de transcendência. Esta característica pode ser encontrada na procura para a construção de cenários que, com um pouco de sorte, permitirão uma maior proximidade com o espectador e as audiências, ao escolher temas que lidam com os maiores medos e expectativas das pessoas. Mas a transcendência é também procurada de outras formas. Tomemos como exemplo as telenovelas brasileiras e séries como ER (Serviço de Urgência). Para um espectador português o Brasil é identificado com o que a televisão nos oferece, o mesmo pode ser dito sobre ER (Espanha 2007). Ao ver ER, em Portugal, o telespectador ou o utilizador da Internet espera que um hospital trabalhe e se pareça com o que vê no ecrã. A transcendência, a proximidade entre a nossa vida e uma dada realidade mediada, é construída e sustentada desde que não entremos em contacto com a realidade retratada na mediação e desempenhemos toda uma série de estímulos reflexivos de nova informação (Giddens 1991). O último elemento das forças envolvidas na inovação das características de entretenimento no nosso sistema de media é a interrupção (Silverstone 2002). A interrupção, a procura pelo peculiar, o singular, a história que quebra a rotina é também uma característica da ficção moderna. A já analisada concentração nos roteiros de ficção científica e ambientes sobrenaturais, a peculiaridade das doenças retratadas pelo Dr. House em “House”, o enredo em torno de Prison Break, entre outros, são exemplos da procura da interrupção, da quebra do esperado no quotidiano. O que encontramos nos modelos de entretenimento de hoje é uma inovação promovida por uma miríade de factores que combinam um conjunto específico de temas, formas de contar histórias e tipos de personagens ficcionais, juntamente com múltiplos ambientes de media ligados em rede pelos enredos, roteiros e tecnologia. A combinação em rede permite aos produtores construir, e a nós olhar, diferentes ângulos da mesma história, ou seja, o conceito de ligação em rede adaptado à ficção e entretenimento. Se o paradigma comunicacional das nossas sociedades foi influenciado na inovação dos modelos de entretenimento por mudanças nos produtores (já não são apenas empresas de media, mas também indivíduos e redes de interesses comuns), por novas formas de se relacionar com os conceitos de fronteira, reserva, diferença, transcendência, interrupção e inovação nas formas como os conteúdos são aplicados (já não apenas como programas mas também formatos) por ligar enredos e ecrãs, como é que evoluíram as noticias? As notícias são uma componente central do sistema de media e ser-nos-ia difícil imaginar um mundo onde já não seria possível encontrar noticias nas agências noticiosas, onde não ouviríamos as noticias de meia em meia hora quando ligamos o rádio do carro, onde não poderíamos navegar na Internet à procura da página de desporto quando chegamos ao trabalho, onde não poderíamos (ocasionalmente) ser tentados a ver o site de um jornal para confirmar se nada de novo aconteceu, ou onde, ao chegar a casa, não teríamos uma dessas caras que nos acostumámos a ver à hora de jantar a ler-nos as notícias. As notícias fazem parte da nossa vida diária, por isso damos-lhes uma certa atenção, mesmo sem catástrofes tão fortes emocionalmente como o desastre de 11 de Setembro de 2001 ou o tsunami no sudeste asiático em 2004 (Cardoso 2007). Silverstone (2002) e Eco (2007) sugeriram como diferentes forças sociais mudaram as notícias, e como as notícias estão a alterar o social ao mediá-lo. Mas, quão longe foram essas alterações e qual é a verdadeira novidade das notícias hoje em dia? As notícias são um espelho da realidade (Silverstone 2005), informam as nossas construções de valores e ajudam a definir a estrutura das relações de poder politico, económico, militar, social e cultural (Bourdieu 1989). Em conformidade, quando são feitas alterações à sua forma e conteúdo, aos seus modelos organizacionais editoriais,

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à sua gestão de negócio, ao seu modelo de distribuição, à forma como as usamos ou ao tempo que lhes dedicamos, estamos também a alterar os paradigmas comunicacionais que compõem o nosso sistema de media (Lull 2007, Ortoleva 2004). Tradicionalmente o jornalismo tem sido um constituído um modelo estável nas salas de imprensa (Einonen 1999). Isto é, durante a segunda metade do século XX a grande classificação de diferentes géneros de jornalismo tem estado centrada na abordagem europeia continental de mistura de opiniões e notícias e uma abordagem mais segmentada pelo jornalismo anglo-saxão (Burgh 2005, Eco 1997, Einonen 1999, Bennet 2003). O que testemunhámos ao longo da última década, coincidindo com a chegada da Internet, tem sido a coexistência de muitas formas diferentes de lidar com as notícias, por vezes sendo feita por jornalistas profissionais num ambiente de sala de imprensa, outras vezes sendo feita por cidadãos usando códigos e competências do jornalismo (Tremayne 2007, Hesmondhalgh 2007, Burgh 2005, Franklin 2005, Heinonen 1999). De forma semelhante temos testemunhado a segmentação dos conteúdos das notícias, que já não são conduzidas apenas pelas empresas de media, mas pelas próprias audiências, ao escolherem combinar diferentes fontes noticiosas de diferentes media. As notícias que vemos, lemos ou ouvimos hoje mudaram porque o modelo de comunicação das nossas sociedades se alterou. As notícias permanecem hoje como eram ontem, a mais comum forma de informação de acontecimentos públicos transmitidas pelos mais diversos media, e as suas características principais são actualidade, relevância e autenticidade (Tremayne 2007, Shoemaker 2006, Burgh 2005). A mudança no campo das notícias resulta, primeiramente, do facto de muitos jornais, rádios e televisões terem passado a ser online. O facto de terem estabelecido presença na Internet trouxe também novas estratégias. No caso da televisão, isto deu origem a que um modelo de televisão em rede, combinando o uso da transmissão na Internet, os SMS e o teletexto (Cardoso 2007). Quanto aos jornais, resultou num reposicionamento em relação à televisão ao tentar estar presente e actualizado durante 24 horas, e não só de manhã ou de tarde, evoluindo para práticas mais próximas das agências de notícias; e no caso da rádio levou a uma consolidação da sua intimidade comunicativa, ao permitir novas formas de chegar ao ouvinte e dar-lhe voz, assim como uma relação mais íntima com o DJ e a música tocada. Mas se a Internet trouxe alterações, também é verdade que as mudanças no campo das notícias começaram antes da difusão alargada do uso da Internet. Como foi discutido previamente, os jornais começaram a ocupar-se cada vez mais com um número crescente de eventos sociais, costumes, variedades e rumores, alterando assim os critérios que definiam o que era e não era notícia (Street 2006, Turner 2006, Turner 2007). Esta lógica contaminou a televisão, primeiro ao nível do entretenimento, e depois no campo da informação, através das notícias, transformando os programas de televisão e os próprios jornalistas em notícia também (Street 2006, Langer 2006). O que temos visto nas notícias na Europa e nos Estados Unidos (Schoemaker 2006) é o resultado da extensão das suas práticas de personalização, tradicionalmente confinadas aos líderes de partidos políticos, para promover indivíduos anónimos. A celebração nas noticias tornou-se uma possibilidade para muitos que não eram políticos, atletas ou actores, produzindo assim uma condição efémera de estrelato (Giles 2006, Turner 2006), tomando a forma, nas noticias, de relatórios sobre a doença de alguém, uma festa de aldeia e quem a organizou ou as injustiças sofridas às mãos do Estado ou de uma seguradora. Uma segunda alteração na dimensão das notícias pode ser encontrada nos tipos de conteúdos entregues online na Internet, primeiro novas formas de conteúdos de informação apresentados em portais, que dificilmente poderiam ser classificados como notícias (Kueng 2002, Tremayne 2007) e depois pelos utilizadores, eles próprios, num

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modelo de cidadão repórter, do qual o site de noticias coreano OhMyNews é um exemplo paradigmático (Bentley 2007). As maiores tendências contemporâneas na produção de notícias nas nossas sociedades são construídas em volta da ideia de coexistência de diferentes modelos de notícias dentro de um mesmo período de tempo. A evolução do jornalismo significou durante a maior parte do século XX, que tínhamos um modelo líder para a produção de notícias (Burgh 2005, Shoemaker 2006). O que parece que estamos a assistir é um ambiente noticioso onde encontramos tantos modelos de produção de notícias e estratégias como audiências possíveis. Temos assim, como sempre, diferentes abordagens às notícias, baseadas no meio utilizado (radio, televisão, jornais ou Internet) mas também a necessidade de diferenciar a forma como as noticias estão construídas, como as fontes são escolhidas e os canais de distribuição usados, por forma a construir muitas audiências diferentes. Ao mesmo tempo, as audiências interligam diferentes media na procura de mais informação sobre um determinado assunto, ou simplesmente escolhem diferentes media para notícias diferentes. As notícias passaram além da dialéctica entre “notícias fazedoras de opinião” versus “notícias produtoras de descrições”. Chegaram a uma fase em que a multiplicação de produtores (jornalistas vs. não jornalistas), juntamente com a multiplicação de modelos de notícias (diversificada em termos de qualidade observada, quantidade de noticias mostrada, contexto das temáticas escolhidas, tipos de fontes) se torna a regra. A mudança no quadro das notícias é feita duas vezes, tanto por quem as escreve como por quem as recebe e as procura, pois ambos estão sujeitos a um ambiente enriquecido em media. Um ambiente enriquecido em media pela quantidade informação disponível, pela multiplicação dos interfaces e pela sua ligação em rede. O facto é que a pessoas ainda procuram a novidade e a verdade, mas triangulam-nas entre muitas fontes diferentes, através da triangulação de jornalista vs. cidadão jornalista ou entre jornalista vs. jornalista ou até entre cidadão jornalista vs. cidadão jornalista. Se combinarmos as práticas de triangulação de ofertas noticiosas juntamente com as diferenças na identidade cultural, que sempre foram a imagem de marca do jornalismo em diferentes áreas do globo, temos que reconhecer que a mudança que estamos a viver na produção e disponibilidade de noticias deve tanto às mudanças na fronteira e na reserva como à percepção da diferença, a valorização da interrupção e a procura da transcendência. Tanto os fazedores de noticias como os leitores de noticias são confrontados, ao mesmo tempo, com a diversidade dos modelos de noticias dentro das suas comunidades profissionais e nacionais e foram também obrigados a considerar a existência da diversidade na produção e fruição de noticias à volta do mundo. Esta é a mudança: o conceito de ligação em rede que molda a forma como produzimos notícias e nos informamos das novidades com exactidão. A articulação em rede do novo sistema de media Baseado na análise de diferentes dimensões, do que foi aqui designado como um novo paradigma comunicacional, podemos dizer que estamos a presenciar o aparecimento de um novo sistema de media? Na base dos desenvolvimentos analisados é possível argumentar que um novo sistema de media tem vindo a estabelecer-se lentamente ao longo da última década. Nos anos 70 McLuhan discutia que os media eram a mensagem (McLuhan, 1997), significando que cada meio induz comportamentos, cria ligações psicológicas e forma a mentalidade do receptor, independentemente do conteúdo que o meio veicula. Castells, por sua vez, caracterizou a relação organizacional dos media actuais como estando baseada na “mensagem ser o media” (Castells 2002), i.e. os media são moldados dependendo da

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mensagem que se quer transmitir, e procurando o que melhor serve a mensagem e a audiência a que é dirigida. Mas, não somente evoluímos de um momento em que “os media eram a mensagem” para uma sociedade onde encontramos a “mensagem como sendo o media”, mas também assistimos a um momento em que o canal ou meio já não é neutro em relação ao que transmite. Além do mais, “o media precede a mensagem” (Eco 2002) quando a aceleração tecnológica produz múltiplos novos canais que existem antes de haver conteúdo para ser lá posto, criando um novo desafio de carácter económico, tornando assim a transmissão exequível sem ter equacionado o que é transmitido (como no caso da televisão interactiva e digital ou os CD-ROM interactivos). Além do desafio económico, encontramos também uma mudança cultural que marca o novo paradigma da organização comunicativa. Este paradigma é visível no facto de que a maioria dos novos canais comunicacionais terem sido apresentados ao publico em geral num processo de experimentação activa que Castells definiu como “aprender fazendo” (Castells 2002) ou a formação do seu próprio ambiente de media pelas audiências, e já não apenas pelas empresas de media. Tal, não pode ser visto apenas como uma mudança conjuntural no sistema de mass media. Este novo sistema, cuja fase de consolidação teve lugar entre 1990 e 2001, é caracterizado por mudanças globais nas tendências comunicacionais que deram origem a um novo modelo comunicacional. Da comunicação de massa para a comunicação em rede Todas as sociedades são caracterizadas por modelos de comunicação e não apenas por modelos informacionais (Wolton, 2000, Colombo, 1993, Castells 2006, Himanen 2006). As nossas sociedades informacionais têm testemunhado o aparecimento de um novo modelo comunicacional. Um quarto modelo, que pode ser adicionado aos três precedentes, que podem ser cronologicamente ordenado em termos dos seus ciclos de afirmação social (Ortoleva 2004). O primeiro é definido como comunicação interpessoal, caracterizado pela troca bidireccional entre duas ou mais pessoas dentro de um grupo. O segundo modelo, igualmente enraizado nas nossas sociedades, a comunicação de um-para-muitos, em que cada indivíduo envia uma só mensagem a um grupo limitado de pessoas. E um terceiro modelo, com o qual temos menos experiência em termos de tempo histórico, o da comunicação de massa, no qual, graças ao uso de tecnologias especificas de mediação, uma só mensagem é dirigida a uma massa de pessoas, isto é, é enviada a uma audiência cuja dimensão é desconhecida, e como tal, não está previamente delimitada. Temos discutido neste trabalho que fomos além de um modelo de comunicação baseado na comunicação de massa e passámos para um quarto modelo, um modelo de comunicação baseado na comunicação em rede. O modelo comunicacional da nossa sociedade é moldado pela capacidade dos processos de globalização comunicacional mundiais, juntamente com articulação em rede massificada e a difusão de media pessoais e em consequência o aparecimento da mediação em rede. A organização de usos e ligação em rede dos media dentro deste modelo comunicacional parece está directamente ligado aos diferentes graus de uso de interactividade que os nossos media actuais permitem. Se construímos modelos comunicacionais nas nossas sociedades, é também verdade que os principais paradigmas comunicacionais formatam o que um determinado sistema de media será. Os nossos paradigmas comunicacionais parecem ser construídos em torno de uma retórica essencialmente construída na importância da imagem em movimento, combinada com a disponibilidade das novas dinâmicas de acessibilidade à

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informação, com os novos papeis de inovação entregues aos utilizadores e com profundas alterações nos modelos de noticias e de entretenimento. Os nossos conteúdos, sejam eles informação noticiosa ou entretenimento, parecem ter mudado devido ao aumento da presença de conteúdos produzidos pelos utilizadores de media e já não apenas pelas empresas de media, dando origem à coexistência da diferentes modelos de notícias para diferentes audiências. Mas, não foi só a informação noticiosa que mudou, também o entretenimento o fez. A inovação nos modelos de entretenimento está assim ligada à disponibilidade dos conteúdos gerados pelo utilizador, mas também às mudanças trazidas pelas empresas de media, nomeadamente na procura de novas formas de conteúdos como os “formatos” e a experimentação activa do desfocar de fronteiras entre os géneros tradicionais de programas e novas abordagens a valores sociais como a privacidade, a reserva, e alterações no domínio do tempo, do espaço e da ética, todos eles reflectidos nas formas como as histórias são contadas e os guiões escritos. O modelo comunicacional gerado nas sociedades informacionais, onde o modelo de organização social prevalecente é o da articulação em rede, é a comunicação em rede. Um modelo comunicacional que não substitui os modelos anteriores, antes articula-os, produzindo novos formatos de comunicação e também permitindo novas formas de facilitação de empowerment, e consequentemente, de autonomia comunicativa. Nas Sociedades Informacionais, onde a rede é a característica organizacional central, um novo modelo comunicacional tem vindo a tomar forma. Um modelo comunicacional caracterizado pela fusão da comunicação interpessoal e em massa, ligando audiências, emissores e editores sob uma matriz de media em rede, que vai do jornal aos jogos de vídeo, oferecendo aos seus utilizadores novas mediações e novos papeis. Bibliografia ACHTENHAGEN (2007), Leona, Raviola, Elena, Organizing Internal Tensions: Duality Management of Media Companies in Achtenhagen Leona (2007) Organizing Media: Mastering the Challenges of Organizational Change, JIBS Research Report Series Nº2007-1. AMORY, Alan M and Dubbeld, Catherine and Peters, Dale P (2004) Open Content, Open Access and Open Source? . Ingede: Journal of African Scholarship 1(2). Avaible HTTP:http://eprints.rclis.org/archive/00009574/01/Ingede-2005-19.pdf AROLDI, Piermarco, COLOMBO, Fausto (2003), Le Età della Tv, Milano: VP Università. ARSENAULT, Amelia and CASTELLS, Manuel (2005), "Conquering the Minds, Conquering Iraq: The Social Production of Misinformation in the United States. A Case Study", Working Paper, posted in the web site of the Center on Public Diplomacy, Annenberg School of Communication, USC. AUCHARD, Eric (2007) “Participation on Web 2.0 sites remains weak”, Reuters, disponível online em: http://www.reuters.com/article/internetNews/idUSN1743638820070418 AURAY (2007), Nicolas, Céline Poudat and Pascal Pons “Democratizing scientific vulgarization. The balance between cooperation and conflict in french Wikipedia” Observatorio(OBS*) Vol 1, No 3, Available Online: http://obs.obercom.pt/ BANG, Henrik and Anders Esmark (Eds.). (2007). New Publics with/out Democracy. Samfundslitterature Press: Nordicom. BAR, François, GALPERIN, Hernan, (2006) ”Geeks, Bureaucrats and Cowboys: Deploying Internet Infrastructure, the Wireless Way”, in CASTELLS, Manuel, CARDOSO, Gustavo, The Network Society: From Knowledge to Policy, DC: Johns Hopkins Center for Transatlantic Relations. BENKLER, Yochai (2006), The Wealth of Networks, New Haven: Yale University Press.

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