DA CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO

July 23, 2017 | Autor: Pedro Crisostomo | Categoria: Architecture, Stage Design
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DA CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO JOÃO MENDES RIBEIRO: VINTE E DOIS DESENHOS

POR L. PEDRO CRISÓSTOMO

Nota: desenho da instalação para a exposição 'João Mendes Ribeiro: vinte e dois desenhos' gentilmente cedida pelo autor.

DA CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO DIÁLOGO | AUSTERIDADE | PRECISÃO | SERENIDADE Como um alquimista, João Mendes Ribeiro experimenta e procura incansavelmente fórmulas/formas ideais que se adaptem à função última das obras que produz. Aparentemente contraditória, na sua obra é a função que gere a forma e raramente o contrário. Os trabalhos do autor são per sii, processos de metamorfose sempre em função do seu destino, ganham e perdem escala em função de hierarquias processuais internas de significados próprios aparentemente abstratos e minimais. Ainda que o resultado final das suas obras o possa fazer comunicar, pela sua nudez e simplicidade, nada no trabalho de João Mendes Ribeiro é abstrato gratuito ou minimalista ao invés, simples, essencial e eficaz. Tudo o que se nos mostra é inteligível, partes e todo formam universos claros e de fácil assimilação, universos que pela sua simplicidade culminam em austeridade mas nunca vazios de conteúdo. É exatamente na feitura do todo com quase coisa nenhuma, na síntese clínica e minuciosa, que reside a beleza e elegância do trabalho de João Mendes Ribeiro. Com um trabalho rico de significações e como que numa tarefa demiúrgica, parte do uso da regra, percorre os caminhos da semiótica e simbologias próprias, perpassa as vanguardas alemãs o trabalho incontornável de Le Corbusier, as obras dos artistas plásticos, Dan Graham, Flavin, Judd e Robert Wilson. Coadjuvado pela experiência profissional adquirida ao longo da sua vida, estabelece a base das suas criações arquitetónicas e o gosto pela cenografia ou ‘arquitetura mágica’ como lhe chama Manuel Graça Dias.

EXPOSIÇÃO JOÃO MENDES RIBEIRO: VINTE E DOIS DESENHOS Colégio das Artes da Universidade de Coimbra 7 Novembro 2013 – 17 Dezembro 2013 Baseado na regra e divisão de uma forma pura, este trabalho é claro, misterioso e ao mesmo tempo denso. Numa caraterização espacial mais simples do ambiente, causa surpresa. Num primeiro olhar e de fora para dentro, uma carga equivalente de força-memória com o espaço envolvente devolvenos de imediato a imagem imaginada do antigo hospital. Esta estrutura circular alva com relativa opacidade suporta um mundo interior e transporta-nos para um segundo momento; onde o oxigénio ali respirado parece-nos diferente do existente no exterior. Entre dois mundos a marcação física da passagem do espaço real para um espaço idealizado é vincadamente propositada. O visitante ao transpor a 'porta', como que num ritual de passagem entra nesse novo mundo, circun-escrito” pelos desenhos que escalam o nível do olhar. O autor constrói assim um ambiente, um espaço/objeto, contentor, criador de uma nova ordem com novos referenciais. Um pequeno teatro do mundo onde, no seu interior, os desenhos existem como personagens em suspense. E é nesta fronteira ténue entre cenografia e instalação que se inscreve a exposição, não é uma instalação com uma exposição dentro. É um corpo único, respira passado construído pelas memórias do espaço físico que o envolve mas devolve um constante devir. O dispositivo suporta 22 desenhos - eficiente eficaz e de uma elegância única encerra uma souplesse e um modo muito particular de estabelecer relações de escala, de alturas, afastamentos, profundidades e proporções, opacidades e transparências com o espaço que o envolve. E é uma curiosidade quase infantil e lúdica que nos empurra para o interior de um outro mundo que João Mendes Ribeiro tão bem domina, o da escrita do espaço – 22 desenhos. O gosto pelo desenho, legado incontornável de Siza, é um instrumento que usa com maestria para ajudar a tornar concreto um mundo cristalizado no papel e que nesta exposição ganha estatuto de fim em si mesmo. Muito dificilmente os trabalhos do João Mendes Ribeiro são simplesmente porque sim. Se uma das funções da arte é despertar inteligências, é imperioso ver! LUÍS PEDRO CRISÓSTOMO

12 DE NOVEMBRO DE 2013

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