DA HISTÓRIA ORAL NASCE A MEMÓRIA COLETIVA

June 1, 2017 | Autor: Leandro Crestani | Categoria: History and Memory, Collective Memory
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Anais Eletrônicos / DVD-Rom do II Simpósio Nacional em História - Trabalho, Cultura e Poder: 'O Ofício do Historiador' (31 de Agosto a 03 de Setembro de 2010) ISSN 2236-7144 Unioeste / Marechal Cândido Rondon, 2011.

DA HISTÓRIA ORAL NASCE A MEMÓRIA COLETIVA

Leandro de Araújo Crestani1 RESUMO: O objetivo desse artigo é compreender a história oral, no processo de estruturação da memória coletiva. A memória é a evocação do passado, a lembrança e o esquecimento são componentes da memória. Assim, a “ memória coletiva” da importância aos lugares da memória, para a sociedade humana e para o individuo. Outro fator dessa pesquisa para a compreensão da memória coletiva é o estudo dos conflitos de terras entre a Colonizadora Norte do Paraná e posseiros na cidade de Assis Chateaubriand, havendo duas versões: a das companhias (Sociedade Colonizadora União D’ Oeste Ltda., e a Colonizadora Norte do Paraná S/A.) e seus clientes apresentando em relatos no livro da “História do Município de Assis Chateaubriand,” de Laércio Souto Maior, sobre o processo de colonização do município. Outro item interessante da memória dessa localidade é o caso “ferreirinha”, que envolveu os candidatos José Carlos Martinez e Roberto Requião nas eleições para governados do estado do Paraná em 1990. Pistoleiro contratados pela Colonizadora Norte do Paraná de propriedade da família Martinez para assassinar os posseiros na região da colonização. Compreendendo como foi construída a imagem do pistoleiro “Ferreirinha” nas eleições de 1990, a partir de relatos orais, tentando compreender como se construiu esse mito que teve repercussão no Estado do Paraná.

PALAVRAS-CHAVE: História oral, Conflito de Terra e Ferreirinha.

1. INTRODUÇÃO

Para melhor compreender o porquê de a história oral ser diferente, devemos ver a oralidade como um precioso recurso de transmissão de informações acerca das experiências sociais. Isso significa que a prática da História oral supera as falhas das lacunas de documentos oficiais. Para Alessandro Portelli o aprofundamento teórico e metodológico, passa a penetrar no íntimo da história oral de forma mais envolvente e subjetiva. Porém não deixaria de ser vista ainda como algo merecedor de censuras e indagações por boa parte dos historiadores contemporâneos. Também Portelli aponta que oralidade e escrita não são mutuamente excludentes. Pois a “[...] supervalorização das fontes orais terminam por cancelar as qualidades especificas, tornando estas fontes ou meros suportes para fontes tradicionais escritas, ou cura ilusória para todas as doenças.” (PORTELLI, 1997, p. 26). Sobre a oralidade das fontes orais, devemos compreender que “o documento real é o teipe gravado”. E que sua transcrição deve transforma objetos auditivos em visuais, o que inevitavelmente implica em mudanças e interpretação. A transcrição da fonte oral tem que ser

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Graduado em História (UNIMEO/CTESOP), Mestrando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio (UNIOESTE). E-mail: [email protected]

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fiel, pois “a mais literal tradução é dificilmente a melhor, e uma tradução verdadeiramente fiel sempre implica certa quantidade de invenção. O mesmo pode ser verdade para transcrição de fontes orais.” (PORTELLI, 1997, p.27) Devemos compreender que as fontes orais têm sustentação direta na “teoria interpretativa”, que suas origem dão-nos informações sobre o povo iletrado e letrados ou grupos sociais, cuja história escrita é falha ou distorcida. E também os temas são na maioria das vezes a vidas diárias e a cultura material destas pessoas ou grupos. Transcrição das fontes orais é outro fator que deve ser de formar legível, que segundo Portelli (1997) é usualmente necessário inserir sinais de pontuação para indica pausas distribuídas de acordo com regras gramaticais: cada sinal tem um lugar convencional, significação e comprimento. Na transcrição das fontes orais devemos escrever de forma a qual o entrevistado disse ( nóis fumos a casa du Zé) sempre obedecendo as regras e normas. Na narração de um entrevistado pode ocorrer que o episódio aconteceu entre 10 anos, e esse relata em 5 minutos. O que pode ocorrer nesse momento, é que o entrevistado não está fisicamente ou mentalmente preparado para fazer a entrevista. Entretanto, o historiador deve indagar mais a sua entrevista (fala) para que seja mais argumentada. Podem ocorrer casos que o entrevistado, a qual o fato aconteceu durante dois anos, decorrer sua narração durante 6 horas de entrevista. Essas são as diferenças entre os indivíduos que são entrevistados. Portanto, as entrevista pode ocorrer por tempo indeterminado. Também deve compreender a velocidade do discurso do entrevistado, se a mudanças durante a entrevista. Como a diminuição de ritmo que pode significar tanto ênfase maior como mais dificuldade, e aceleração para mostrar eventos familiares. Portellli enfatiza em seu texto que as fontes históricas orais são fontes narrativas. Devendo ser avaliadas a partir da teoria narrativa na literatura e no folclore. E que essas narrativas contêm “na ‘velocidade’ da narração, isto é, na proporção entre a duração dos eventos descritos e a duração da narração. Um informante pode relatar em poucas palavras experiências que duraram longo tempo ou discorrer minuciosamente sobre breves episódios.” (PORTELLI, 1997, p.29). Assim, a velocidade pode ser uma estratégia do entrevistado para desviar atenção do entrevistador de episódio mais delicada ou para salientar a importância de outro evento que teve um forte significado em sua experiência com o evento. Desse modo, a “verdade” pessoal pode coincidir com a “imaginação” compartilhada, já que o individuo sofre grande influência do meio em que vive. Para Portelli (1997) seria a “linguagem standard” que coincidi com um

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envolvimento mais pessoal do narrador ou a intrusão da memória coletiva. Que na verdade essa linguagem standard seria uma forma de padronizar a linguagem. Onde o individuo que vive numa certa comunidade terá que seguir sua linguagem padrão, como se vive no Brasil, seu dialeto será o português, na França o france, etc.

2. O PORQUÊ DE A HISTÓRIA ORAL SER DIFERENTE O que tornaria a História oral diferente para Portelli (1997) seriam os “eventos e significados”. Já que o Entrevistado sempre revela eventos desconhecidos ou aspectos desconhecidos de eventos conhecidos. Sendo aquele que nos conta menos sobrem eventos que sobre significados, sempre revelando algo de novo de evento conhecido. Dessa forma as fontes orais mostram uma subjetividade do expositor que ajudam “não apenas o que o povo fez, mas o que queria fazer o que acreditava estar fazendo e o que agora pensa que fez.”(PORTELLI, 1997, p.31). Portelli indagar se acreditaríamos nas fontes orais? São aceitáveis, mas com uma credibilidade diferente. Pois não há “falsas” fontes orais. Uma vez checado a sua credibilidade factual. “Fica na história oral a diversidade que consiste no fato de afirmativas erradas são ainda psicologicamente corretas, e que esta verdade pode ser igualmente tão importante quanto o registros factuais confiáveis”.(PORTELLI, 1997, p.32). Ao analisar a objetividade das fontes orais Portelli afirma que essas não são objetivas. Pois os documentos de história oral são sempre os resultados de um relacionamento, de um projeto compartilhado no quais ambos, o entrevistador e o entrevistado, são envolvidos, mesmo se não harmoniosamente. E também que o testemunho oral, nunca é igual duas vezes. Assim podemos entender o que faz a história oral diferente, seria que a o texto uma forma estável, que não pode ser apenas interpretado. Já a perspectiva das fontes orais “depende largamente do que os entrevistadores põem em termos das questões, diálogos e relações pessoais”.(PORTELLI, 1997, 35). Fator essa que na fonte escrita não acontece. Quem falaria na história oral? Para Portelli (1997) as fontes orais são condições necessárias (não suficiente) para a história das classes não hegemônicas, elas são menos necessárias (embora de nenhum modo inúteis) para a história das classes dominantes, que têm tido controle sobre a escrita e deixaram atrás de sim um registro muito mais abundante. Isto é, história oral tem um caráter de trazer a torna dados das camadas populares, que ficaram submetidas pela classe dominante.

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O historiador é algumas das vezes, para Portelli é parte da fonte oral. Na história oral parecem se submeter à outros sujeitos dos discursos, mas, de fato, o historiador começa cada vez menos a ser “intermediário” entre o operariado e o leitor, e cada vez mais seu protagonista. No momento em que está sendo realizada uma entrevista, o historiador caba fazendo parte da história narrada. Portanto, devemos indagar o entrevistado de forma que conte o fato com clareza e coerência, para que possamos extrair da narração o ponto chave para o trabalho.

3. HISTÓRIA ORAL E MEMÓRIA COLETIVA

Para estudar a história oral necessita entender a questão da memória. Usando os conceitos de memória coletiva que segundo Maurice Halbwachs, “a memória deveria ser analisada como um fenômeno social, construída coletivamente a passível de constantes transformações, o que contraria as hipóteses de que a memória apresenta-se puramente individual” (SCHIMDT, 2000, p. 10). Para Halbwachs, “a memória é resultado do movimento do sujeito no ato da memorização, como também é ação dos diversos grupos sociais em suas histórias, o passado e presente” (HALBWACHS, 1990, p.32). Ao trabalhar o caso de conflito de terra entra a CNP e posseiros, a perspectiva é trabalhar as duas versões: a das companhias (Sociedade Colonizadora União D’ Oeste Ltda., e a Colonizadora Norte do Paraná S/A.) e seus clientes apresentando em relatos no livro da “História do Município de Assis Chateaubriand,” de Laércio Souto Maior , “que se elogiam e mutuamente sem parar, relembrando e defendendo a metodologia legalista da venda

e

ocupação dos lotes que não causaram, até os dias de hoje, nenhum problemas as empresas colonizadoras nem aos posseiros.(SOUTO MAIOR, 1996, p.77). Segundo Souto Maior os donos das companhias afirmam, que não existe, nunca “existiu no Fórum local, nenhum processo criminal onde haja condenação contra os donos, diretores e funcionários das duas Companhias responsáveis pelo processo de colonização do Município de Assis Chateaubriand”.(SOUTO MAIOR, 1996, p.77). Desse modo, podemos concluir a partir de uma interpretação foucaltiana que as Colonizadoras, foram um aparelho central e exclusivo de poder nesse município, por uma articulação com os poderes locais (polícias civil e militar), específicos, circunscritos. Há de se rememorar como a violência cometida contra os posseiros pelos jagunços, das mencionadas Companhias, que em 1990, se tornou conhecida no Estado do Paraná o caso

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“Ferreirinha”, que envolveu os candidatos José Carlos Martinez e Roberto Requião nas eleições para governados do estado do Paraná em 1990. “Ferreirinha” pistoleiro contratados pela Colonizadora Norte do Paraná de propriedade da família Martinez para assassinar os posseiros na região da colonização. Garantiu a vitória de Requião contra José Carlos Martinez. Sendo um processo polêmico envolvendo Requião que ficou conhecido como uma das maiores fraudes eleitorais do País, responsável pela eleição do peemedebista. O falso pistoleiro Ferreirinha, usado para derrotar o então adversário e candidato ao governo José Carlos Martinez (morto em 2003 em um acidente aéreo). Requião chegou a ter seu mandato cassado pela Justiça Eleitoral do Paraná, mas recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral, e através de uma série de manobras conseguiu que o mérito da acusação não fosse julgado, e o caso, arquivado. Segundo o Jornal do Estado do dia 23 de Outubro de 2006 no final do segundo turno da eleição de 1990, poucos dias antes do encerramento da propaganda eleitoral, o programa de Requião na televisão e no rádio apresentou o motorista desempregado Afrânio Bandeira, com o codinome de Ferreirinha, afirmando ter cometidos crimes a mando da família de Martinez. O personagem afirmava ter sido contratado pela família de Martinez para expulsar posseiros de terras da família na região de Assis Chateaubriand, na região Oeste do Estado. Esse fato ajudou Requião a atingir a imagem do adversário e conseguiu reverter a vantagem de Martinez. O fato novo acabou lhe valendo o primeiro mandato de quatro anos no Palácio Iguaçu. Também o Jornal do Estado enfatiza que o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) reconheceu que o governador licenciado praticou crime eleitoral na época e cassou o mandato dele em primeira instância. A evidência mais grosseira da fraude foi a idade do suposto Ferreirinha que teria apenas cinco anos quando os supostos assassinatos que ele dizia ter cometido aconteceram. Requião recorreu da decisão no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e conseguiu se segurar no cargo até o final do mandato. Sobre essa temática o objetivo geral é de compreender o processo de colonização no município de Assis Chateaubriand, através de três pontos específicos. Compreender como a colonizadora Sociedade Colonizadora União D’Oeste Ltda., de Adízio Figueiredo dos Santos e a Colonizadora Norte do Paraná S/A do empresário Oscar Martinez usou uma relação de poderes no município de Assis Chateaubriand para legitimar o seu poder nesse local articulando a policia civil e militar ao seu favor.

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Ao analisar o poder que ela exerceu, foi essencialmente repressivo contra o posseiro usando de “mão forte”, tendo por natureza articula essa política legalista da terra, funcionando como rede de dispositivo ou mecanismo a que nada ou ninguém escapa a que não existe exterior possível, limites ou fronteiras. Compreendendo com foi construída a imagem do pistoleiro “Ferreirinha” nas eleições de 1990, a partir de relatos orais, tentando compreender como se construiu esse mito que teve repercussão nacional. O caso “Ferreirinha” que se tornou uma “construção social”. Que segundo Michael Pollak (1992) constitui uma continuidade sobre a imagem do pistoleiro (Ferreirinha). Entretanto podemos dizer podemos, “portando dizer que a memória é um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletiva, na medida em que ela é também um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstrução de si.”(POLLAk, 1992, p.5). As memórias devem ser observadas sob vários ângulos, pois no caso Ferreirinha expressam múltiplos aspectos caracterizados de identidades sociais, uma das pessoas ligadas à colonizadora e outra aos posseiros, e cada um terá uma versão diferente sobre o mesmo fato, isto é, A memória é seletiva. Nem tudo fica gravado. Nem tudo fica registrado[...] sofre flutuações [...] é fenômeno construído [...]Se podemos dizer que, em todos os níveis, a memória é um fenômeno construído social e individualmente, quando se trata da memória herdada, podemos também dizer que háuma ligação fenomenológica muito estreita entre a memória e o sentimento de identidade.(POLLAk, 1992, p. 4-5).

Como esse caso teve repercussão nas eleições de 1990 para “apresenta reflexões referentes à organização e a diversificação da memória, caracterizando-a como sendo seletiva porque nem tudo pode ser registrado no transcorrer histórico” (SCHIMDT, 2000, p. 12). As construções da memória devem ser compreendidas como implicações do presente com o passado, ocasionando a alteração de sua forma devido ao fato da memória ser articulada socialmente. Sobre o caso Ferreirinha há um envolvimento de interesse particular que integram um mesmo grupo, que tentou criar, recriar, reforçar e destruir certos elementos para manipular a memória coletiva. Portanto, o historiador ao reescrever o passado implica buscar diferentes versões, para tentar achar uma explicação histórica para o fato, já que não conseguirá reconstruir o passado tal como foram seus acontecimentos.

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Entender o mito criado sobre a imagem de Ferreirinha, como o pistoleiro, contratado a mando da família Martinez para matar posseiros na região de Assis Chateaubriand. Devesse compreender que o “mito” sempre sofre mutações durante o processo de transformação do fato em lembrança, pois esse sofrerá mutações durante ao tempo presente. O mito manipulado por certo grupo pode se tornar o sujeito mocinho ou bandido da história. A visão de certo grupo pode fazer “com que circulem histórias sobre determinados personagens, primordialmente através de relatos orais, que passam a sofrer modificações, agrupando estereótipos que constituem um repertório de informações presentes na memória.” (SCHIMDT, 2000, p. 18). Para a entrevista do senhor Rubens de Castro e Souza, através do campo denominado história oral, torna-se indispensável à compreensão do conceito histórico acerca do entrevistado e processo e obras a serem utilizadas como referenciais para a elaboração do contexto da colonização do município de Assis Chateaubriand, procurando realizar um afunilamento até chegar no objetivo da pesquisa. Provocando uma aproximação da realidade vivida do entrevistado Rubens de Castro e Souza, se cercando de teoria interpretativas que melhor se adequarem para a análise de tal problemática.

Minhas terras foram invadidas por quatros policiais militares devidamente fardados e um à paisana, que é da Polícia civil e que geralmente dirige a viatura policial da DP de Assis Chateaubriand [...] Esses militares devidamente armados... com duas metralhadoras e rifles e também um revólveres, faziam cobertura de oito tratoristas que passavam arrastão e plantavam milho. Área que já estava preparada para plantio [...] Também tinha acompanhantes [...] como o senhor João Palhosas, com uma camionete C-10, e outro conhecido por Santo Coldebellas, que invadiram minhas terras por cinco dias, com toda a policia militar e civil e o Delegado de Policia Pedro Saugo [...] A minha a esposa foi tirar sastifações com um tal de “Luiz Bigode”, no primeiro dia da invasão, acabou sendo ameaça de morte pelo soldado Zanela que encostou no peito dela a metralhadora que empunhava [...] além da cobertura policial existe também a participação de vários pistoleiros [...] Sendo o Sr. Palhosa um desses, que trabalha para a Colonizadora Norte do Paraná na qualidade de pistoleiro fazendo ameaças, aos posseiros, a fim de amedrontá-los na tentativa de quer o mesmos desocupem as terras [...] A mando de João Palhosa, os policiais civis e militares invadiram a minha residência e sem a minha permissão começaram a vasculhar a minha casa a procurar de armamento.”( DIVISÂO POLICIAL DO INTERIOR, 1981).

Buscando em Ecléa Bosi, que trabalha o estudo de “memória viva”, já que Rubens participou diretamente dos fatos sofridos por ele, possibilitando uma análise do estudo. Um verdadeiro teste para hipótese psicossocial da memória, encontra-se no estudo das lembranças de pessoas idosas: elas já atravessaram um determinado tipo de sociedade, com características bem marcadas e conhecidas, sua memória atual pode ser desenhada sobre um pano de fundo mais definido de uma pessoa jovem, ou mesmo adulta, que de algum modo, ainda está absorvida nas lutas e contradições de

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um presente que solicita muito mais intensamente do que uma pessoa de idade.(BOSI, 1995, p.60).

Também sobre a questão da entrevista é de suma importância para o historiador compreender que o sujeito entrevistado poderá acrescentar algo de novo para a história que ele viveu, de maneira geral, que segundo Paul Thompson

[...] a evidência oral pode conseguir mais penetrante e mais fundamental para a história. Enquanto os historiadores estudam os atores da história a distância, a caracterização que fazem de suas vidas, opiniões e ações sempre estará sujeita a ser descrições defeituosas, projeções da experiências e da imaginação do próprio historiador: uma história erudita de ficção. A evidência oral, transformando os “objetos” de estudo em sujeitos, contribui para uma história que não só é mais rica, mais viva e mais comovente, mais também mais verdadeira (THOMPSON, 1992, p. 137).

Mostra que, a importância do testemunho oral pode se situar não em sua aderência ao fato, mas de preferência em seu afastamento dele, como imaginação, simbolismo e desejo de emergir. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Contudo, o entrevistado sofre com aspecto cognitivo, cultural e psicológico que envolve todo o processo da pesquisa oral, tendo por obrigação o historiador entender esses fatores. Cuidando de preservação das identidades como fator ético e profissional, são características básicas do historiador para desvendar nas entrelinhas da memória coletiva. Desse modo, isso que torna a história oral diferente.

REFERÊNCIAS:

Queixa feita por Rubens de Castro e Souza na Divisão Policial do Interior em Curitiba no dia 29 de setembro de 1981.

BOSI, E. Memória e sociedade, lembranças e velhos. São Paulo: Companhia das letras, 1994.

FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979.

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HALBWACHS, M. A Memória Coletiva. São Paulo, Vértice, 1990.

JORNAL ESTADO DO PARANÁ do dia 23 de outubro de 1986.

MAIOR, L. S. História do Município de Assis Chateaubriand. Maringá: Chicletec, 1996.

POLLAK, M. Memória e identidade social. Estudos históricos. Rio de Janeiro, v. 5, n° 10, 1992.

PORTELLI, A. “O que faz a história oral”. Revista Brasileira de História. São Paulo, v.9 nº19. pp. 219-243. set.89/fev.90.

THOMPSON, P. A voz do passado: História oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

SHIMDT, R. J. Memória(s) e Mito Político Reflexões Teóricas. In: LOPES, M. A., Org. Espaços da memória: Fronteira. Organização de Marcos A. Lopes. Cascavel: EDUNIOESTE: 2000. p. 09-23.

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