Da tipografia às ruas: produção e circulação de almanaques no Ceará fim-de-século

July 17, 2017 | Autor: Débora Dias | Categoria: Tipografia No Brasil, Impressos, Almanaques, Ceará séculos XIX e XX, Leitores
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II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial Da tipografia às ruas: produção e circulação de almanaques no Ceará fim-de-século Débora Dias1 Resumo Periódico de características singulares, os almanaques alcançaram largas tiragens e ampla aceitação do público brasileiro especialmente a partir da segunda metade do século XIX, figurando como importantes aliados para o acesso à leitura. O artigo se propõe a analisar as redes de produção e circulação dos almanaques a partir da feitura nas tipografias, pelas mãos dos “operários da palavra impressa”, no Ceará do final do século XIX e início do XX. Parte-se da impressão do Almanach do Ceará no ano de 1895, o impresso do gênero mais longevo no Estado (num total de 65 anos), que teve como fundador um ex-tipógrafo da Capital, João Câmara. Frente às características dos almanaques, que tornam-se fonte-objeto de estudo, uma questão é pertinente: para além de uma elite intelectual, que outros leitores são possíveis? Por meio de anúncios, textos em metalinguagem e correspondências de leitores publicadas em almanaques cearenses e luso-brasileiros, pretende-se examinar as contribuições desses impressos para a formação de um público leitor no período, que não exclui trabalhadores e mulheres. Palavras-chave: Impressos; almanaques; tipografia; leitor; Ceará fim-de-século.

“Some-te, bibliógrafo! Não tenho nada contigo. Nem contigo, curioso de histórias poentas. Sumam-se todos; o que vou contar interessa a outras pessoas menos especiais e muito menos aborrecidas. Vou dizer como se inventaram os almanaques”. Machado de Assis, texto publicado no Almanaque das Fluminenses, 1890.

Mal terminara o curso primário, José Alves de Figueiredo largava de vez a escola para assumir as tarefas “da vida prática”2. Eram os últimos anos do século XIX quando ele foi trabalhar na farmácia do tio, no município cearense do Crato, distante cerca de 588 quilômetros da Capital. Autodidata, continuou a formação nas leituras que encontrava e nas palestras que ouvia no balcão da farmácia, entre aqueles que eram considerados “a mentalidade mais esclarecida da terra”. Tornou-se o Zuza da Botica, farmacêutico, poeta, jornalista e também com fama conquistada, já nos primeiros anos do século XX, pelo charadismo e colaboração em almanaques editados do lado de cá e de lá do Atlântico. Os livrinhos fazem parte das lembranças do filho mais velho: “No período da minha meninice, sempre o via, em casa, ou mesmo nos intervalos da luta cotidiana, agarrado com um 1

Mestranda de História na Universidade Federal do Ceará. 2 SOUSA, José Bonifácio de. Registro Bibliográfico Cearense. In FIGUEIREDO, José Alves de. Ana Mulata. Crato: Instituto Cultural do Cariri, 1958, s/p.

Almanaque das Senhoras, ou Almanaque Luso-Brasileiro, editados em Portugal, ou então com o Almanaque Pernambucano, de Recife”, conta José Alves de Figueiredo Filho3. Para decifrar os enigmas, logogrifos, e os diferentes tipos de charadas (sincopadas, casais, novíssimas), José Alves de Figueiredo recorria aos dicionários, calepinos (dicionários multilíngues), mapas geográficos, histórias da mitologia4. Depois, enviava a lista com todas as respostas para as redações dos almanaques. Os almanaques eram gênero já conhecido dos cearenses e corriam o Estado no início da década de 1890. Alguns leitores iam além e se comunicavam, enviavam colaborações e até reivindicavam participação. Como no Almanach de Lembranças Luso-Brasileiro para o ano de 1873, que traz a queixa do leitor identificado como R.J (Ceará). Na seção Correspondências, não era transcrito o conteúdo da carta do remetente, mas publicada apenas a resposta da redação, que dava idéia do que foi questionado: R.J (Ceará) - “Não creia que haja proposito feito d´excluir o seu nome d´este anuário. Os seus artigos de 1869 e 1870 não temos certeza de os haver recebido, a sua charada de 1872 – essa temol-a (SIC) diante dos olhos, mas é clara como água. Porque não mandou mais de uma para haver escolha?5

Se continuavam a chegar pelo porto da Capital, como se dava a produção de almanaques locais nesses anos próximos à virada do século? Em 1895, era lançado aquele que se tornaria o mais longevo do gênero no Estado, circulando por 65 anos a partir de então: o Almanach do Ceará. Era fundado por um veterano da imprensa, João Câmara6, que teve entre seus primeiros trabalhos um jornal feito para tipógrafos e impressores, ainda nos anos de 1863: o União Artística. O último projeto editorial que abraçou, o almanaque, era voltado para informações administrativas, comerciais, industriais e, a partir do terceiro número, também literárias. Adotava um gênero de largo alcance, mas que leitores buscava? As diferentes motivações para a produção e circulação de almanaques, assim como a 3 FIGUEIREDO FILHO, José Alves de. Explicando. In FIGUEIREDO, José Alves de. Ana Mulata. Crato: Instituto Cultural do Cariri, 1958, s/p. José Alves de Figueiredo nasceu em 1878, no Crato (CE), foi farmacêutico prático licenciado, funcionário e depois proprietário da Farmácia Central do Cariri. Exerceu o jornalismo ao longo da vida, fundando o jornal “Sul do Ceará”, escrevendo no “Correio do Cariri” (1904), “Crato-Jornal” (um dos fundadores e diretor), “O Araripe”, “Gazeta do Cariri”, entre outras colaborações em periódicos do Crato e Fortaleza. Chegou a se tornar prefeito do Crato (1925-1926) e vereador. Como o pai, o filho mais velho também tornara-se farmacêutico e escritor. 4 FIGUEIREDO FILHO, José Alves de. Op. Cit. s/p. 5 Novo Almanach de Lembranças Luso-Brasileiro para o ano de 1873. Por Antônio Xavier Rodrigues. Lisboa: Lallemant Fréres, 1872, p.37. Ao longo de todo texto, os conteúdos são transcritos respeitando-se a pontuação e a gramática originais, mas atualizando-se a ortografia das palavras. 6 João Eduardo Torres Câmara nasceu a 13 de outubro de 1840, fez os estudos na escola do professor Joaquim Alves de Carvalho e no Liceu de Fortaleza. Faleceu na Capital em 06 de outubro de 1906. STUDART, Guilherme (Barão de Studart). Diccionário Bio-Bibliográfico Cearense. Volume I. Fortaleza: Typo-lithographia a vapor, 1910, p.455. Com a morte dele, o Almanach do Ceará passa a ser editado por seu filho, Sophocles Torres Câmara, até 1932, quando passa para a propriedade de Silveira Marinho e em 1940 para Raimundo Girão e Martins Filho. A partir de 1948, A. Batista Fontenele e Leopoldo C. Fontenele são os novos proprietários, que o editam até 1962.

formação de uma rede de leitores do gênero, na virada do século XIX, são o tema deste artigo7. Como se verá adiante, o Almanach de João Câmara reunia características distintas que outros do gênero que circulavam no período no Estado. Eram diferentes, mas tinham um elo em comum, dada a preferência pelo formato. A síntese-definição do pesquisador português João Luiz Lisboa sobre tais impressos é um ponto de partida para essa reflexão: “Um almanaque é um guia, um instrumento onde se encontram elementos para a organização do quotidiano. Em primeiro lugar, organiza o tempo, tendo por base um calendário anual. Organiza as atividades, arrumando saberes e indicações úteis para essas atividades. Organiza a coletividade, registrando uma moral e uma cultura proverbiais. Organiza um espaço, fornecendo uma imagem clara do universo, tradicionalmente assente na astrologia. Sem perder um sentido original de contagem, a noção de almanaque tenderá a refletir a idéia de compilação de saberes, em particular destinados a públicos de pouco acesso a outras leituras”8

Nem sempre um almanaque guardava todas essas características. Se alguns mantinham vínculos mais estreitos com a tradição oral dos provérbios e charadas, outros buscavam a participação dos nomes ilustres, mais vinculados a um saber científico, estatístico e até oficial. Mas sempre unidos pelo calendário, na organização do tempo, com informações úteis e saberes para o ano. No entanto, não raro podiam ser vistos como objetos de menor valor em relação aos livros, por exemplo. Falta de cerimônia que amplia os limites de circulação. “Como o livro vem da escola, toma-se um cuidado extremo com ele; é coberto com papel, “fechado”, no aparador ou no armário, enquanto o almanaque, menos prestigioso, é simplesmente posto na “borda da chaminé”9. Nele, o conhecimento ilustrado poderia conviver ao lado das anedotas, charadas, anúncios do varejo, aquilo da vida cotidiana, como os horários e valores das passagens de trens. O formato se adequava aos conteúdos de interesse dos editores: agrícola, eclesiástico, estatístico, literário, recreativo, comercial, republicano, científico, anarquista, farmacêutico, de cidades. E traziam vantagens em relação a outros impressos por acompanharem o leitor ao longo do ano, estimulando o colecionismo das edições passadas. Como diz a epígrafe adotada na contracapa do Almanak da Democracia, editado em Portugal pelo movimento democrático: “Este não dura apenas um dia e quando o Almanak é lido, comentado e discutido pelo menos um ano, na cidade, na vila e nos campos, no lar e na oficina. (SIC) Esta propaganda a pessoa alguma incomoda, nada a detém, segue, progride, sem que se dê por isso”10. Por impresso também traduzem-se formas e

7 O tema é parte da pesquisa em desenvolvimento para dissertação do mestrado em História Social na Universidade Federal do Ceará (UFC), em curso. 8 LISBOA, João Luís. Almanaques. In GALVÃO, Rosa Maria (coordenadora). Os Sucessores de Zacuto: o almanaque na Biblioteca Nacional do século XV ao XXI. Lisboa: Biblioteca Nacional, 2002 pp.11-22, p.11,12. 9 FABRE, Daniel. O livro e sua magia. In CHARTIER, Roger (org.). Práticas da leitura. São Paulo: Estação Liberdade, 1996, pp. 201-228, p. 205 10 Almanak da Democracia para 1902. Lisboa: Typ. Industrial Portuguesa, 1901. “Com 30 retratos, biografias, trechos, artigos, poesias e várias notas do movimento democrático em Portugal e no estrangeiro”, diz a capa.

gêneros característicos da fala11: charadas, aforismos, provérbios e anedotas. Os almanaques são considerados a primeira literatura de massa de grande circulação nas sociedades ocidentais e nas suas periferias coloniais, segundo Lüsebrink12. Já no Brasil do século XIX, a aceitação do formato é visível pelos que participaram do mercado editorial em formação: jornalistas, editores, tipógrafos, literatos, livreiros. Para Nelson Wernek Sodré, foram “a primeira manifestação do esforço para ampliar a cultura impressa, ainda incipiente”13. Esforço que o autor subordina à precariedade das técnicas de impressão, à capacidade do gênero se adequar a estas e ao reduzido público leitor de livros, frente a uma maioria de analfabetos e semi-letrados: “era o livro de um país que não tinha ainda público para suportar a impressão de livros”14. Os altos índices de analfabetismo não encontravam excepção no Ceará naquele fim de século. De acordo com o arrolamento da capital, Fortaleza, no ano de 1887, dos 26.943 habitantes, apenas 9.656 sabiam ler, enquanto 17.287 se mantinham analfabetos15. Ter um ofício também era privilégio de uma minoria na cidade que se ensaiava urbana. Apenas 9.845 habitantes diziam ter profissão, enquanto 17.098 eram caracterizados como “sem profissão”. No entanto, os índices de alfabetização (ou melhor, de analfabetismo) não são os últimos indicadores para definir os locais da circulação e o alcance das leituras. As fronteiras são tênues em uma diversidade de práticas sociais complexas. Discutindo a circulação de impressos no Brasil Império, Morel afirma que o rótulo de elitismo deve ser visto com “cautela”, uma vez que haviam “cruzamentos e interseções entre as expressões orais e o escritas, entre as culturas letradas e iletradas. E a leitura, como nos tempos então recentes do Antigo Regime, não se limitava a uma atitude individual e privada, mas ostentava contornos coletivos”16. O movimento nas tipografias havia aumentado no primeiro decênio do governo republicano, de acordo com o historiador Geraldo Nobre17. Foram identificados 265 títulos de 1890 a 1899, enquanto a década anterior registrava que 175 títulos foram impressos. Movimento que não era gerado pelo novo regime, mas por circunstâncias desenhadas desde meados do XIX. Como

11 O termo é utilizado por James Obelkevich, o qual considera como alternativa para a História da Linguagem o estudo da fala “por meio de suas formas e gêneros característicos: cumprimentos, charadas, maldições, piadas, lendas e assim por diante”. OBELKEVICH, James. Provérbios e História Social. In BURKE, Peter. PORTER, Roy (orgs.). História Social da Linguagem. Tradução Álvaro Hattnher. São Paulo: Fundação Editora da Unesp, 1997, p.43-81. 12 LÜSEBRINK, Hans Jürgeman. L´Almanach: structures et évolutions d´un type d´imprimé populaire em Europe et dans les Amériques. Apud DUTRA, Eliana Regina de Freitas. Rebeldes Literários da República: história e identidade nacional no Almanaque Brasileiro Garnier (1903-1914). Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005. 13 SODRÉ, Nelson Werneck. A história da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 277. 14 Idem. 15 STUDART, Barão de. Datas e Factos para a história do Ceará. Tomo II - edição fac-similar. Fortaleza: Fundação Waldemar Alcântara, 2001, p. 355. Os dados também informam que a cidade contava com 72 casas de sobrado, 4.447 de terra e 1.278 choupanas. Os edifícios públicos eram 36, desses 10 eram igrejas. 16 MOREL, Marco. Os primeiros passos da palavra impressa. In MARTINS, Ana Luiza; LUCA, Tânia Regina de. História da Imprensa no Brasil. São Paulo: Editora Contexto, 2008, p. 23-43. 17 NOBRE, Geraldo da Silva. Introdução à História do Jornalismo Cearense – edição fac-similar. Fortaleza: Nudoc/ Secretaria da Cultura do Estado do Ceará – Arquivo Público do Ceará, 2006, p. 123.

analisa Adelaide Gonçalves, “as condições de produção dessa imprensa no adiantado do século XIX são entendidas no interior das mudanças que vão se estabelecendo na provinciana Fortaleza”18. Estradas de ferro, telégrafo, a iluminação a gás, que substituía a de óleo de peixe (1867), equipamentos da cultura se instalavam, como a biblioteca municipal (1865), uma população urbana crescia e se adensava. Novas casas comerciais, novos padrões de consumo. A vida associativa se intensificava, com a formação de grêmios literários, equipamentos públicos e gabinetes de leitura pelo Estado. Seguidos aos jornais de facções partidárias, estão diversos periódicos, folhetos, discursos, poemas, revistas, livros e outros mais. “Convém sublinhar que a implantação do curso jurídico, além do incremento do comércio de livros, aumenta a população de estudantes, faz nascerem os círculos de leitura, as sociedades literárias e as folhas estudantis”, destaca Adelaide Gonçalves. Ela continua: “As folhas estudantis, no espírito da época, intitulam-se literárias, filosóficas, políticas e participam dos debates em voga”19. E foi com uma folha de estudantes, o Echo Juvenil, que o adolescente João Câmara se iniciou na imprensa em 186020. O jornal era editado por alunos do Liceu: José de Barcelos, Telemaco Lima, Francisco Lopes de Assis, Marco Apolonio da Silva, além dele. Mesmo grupo que lançaria outro jornal no mesmo ano, “A Lua”. No entanto, a publicação do estudante João Câmara que mais ganhou repercussão foi “A Beata”, motivado por uma polêmica. Tratava-se de uma campanha contra o professor “Rubim”, autor de uma gramática portuguesa em verso21. Começou em outubro de 1861, escrito por ele com o colega José de Barcelos22 e impresso na Typographia de Theotonio Esteves de Almeida. A “classe operária” dos tipógrafos foi o alvo do jornal que João Câmara, José Flamino Benevides e o impressor José da Cunha lançaram em 23 de julho de 1863: “União Artística”. Tinha como epígrafe as frases: A união faz a força. A perseverança tudo acalma. O semanário subscreviase na Typographia de Francisco Luiz de Vasconcelos a 500 réis por mês. Desaparecido no mesmo ano, voltou à arena jornalistica em agosto de 186523. Após esses primeiros anos, a trajetória de João Câmara vai se distanciando das questões da “classe operária” e o aproximando da facção partidária liberal conhecida na província pelo nome 18 GONÇALVES, Adelaide. A Imprensa dos Trabalhadores no Ceará, de 1862 aos anos 1920. Tese de Doutorado do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2001, p. 52. 19 GONÇALVES, Adelaide. Trabalhador lê? In Revista de Ciências Sociais – Trabalho, Trabalhadores e Dinâmicas Institucionais. Vol. 34, nº1, 2003. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2003, p.65. 20 STUDART, Barão de. Os jornais do Ceará nos primeiros 40 anos. In Revista do Instituto do Ceará, Tomo Especial, 1924, pp. 48-104, p. 104. Disponível ser acessada no endereço: www.institutodoceara.org.br/Revapresentacao/RevPorAnoHTML/1924TEindice.html (acessado em 19/04/2009). 21 Idem, p. 108. Para Geraldo Nobre, este pode ser considerado o “mais famoso jornal de estudantes daquela época, dada a repercussão (...)”. NOBRE, Geraldo. Op. Cit., p. 98. 22 José de Barcelos foi tipógrafo e redator de jornais como “O Progressista” (1866) e Jornal de Domingo (1867). Mais tarde, deixaria o jornalismo e se notabilizaria na carreira do magistério. NOBRE, Geraldo. Op. Cit., p. 102. 23 STUDART, Barão de. Op. Cit., p. 113.

dos “Pompeus”. Torna-se gerente do jornal liberal “O Cearense”24 até 1880. Naquele ano, ocorre a cisão do partido liberal na Província, em específico, as facções “Pompeu” e “Paula”. Para o historiador Geraldo Nobre, faltava aos dois grupos a coesão antes assegurada pelo prestígio do Senador Pompeu, falecido três anos antes. O filho do senador, Dr. Pompeu, “com os parentes e amigos fiéis, abandonou o “Cearense” aos correligionários que se haviam aliado aos conservadores chefiados pelo Barão de Aquiraz”, para fundar o novo jornal liberal “Gazeta do Norte”, diz o autor25. Entre os mais fiéis, estava João Câmara. Nos primeiros anos após o fim do Império, em 1892, a Gazeta se funde com o jornal abolicionista O Libertador e dá origem a um novo periódico: A República. A fusão nasceu de um acordo estabelecido entre o Centro Republicano e a União Republicana, fazendo com que deixassem de circular aqueles jornais para dar lugar ao novo órgão do partido – o Federalista26. Em um período em que os jornais se multiplicavam, mas tinham vida breve, A República teve vida longa nos vinte anos em que existiu (1892-1912), por alguns momentos sendo o único diário a circular na capital cearense27. Não por coincidência, o período é o mesmo do tumultuado domínio da política do Estado pela oligarquia do comendador Antônio Pinto Nogueira Accioly28, genro do Senador Pompeu. A República logo torna-se órgão oficial da oligarquia. Período em que o escritor Rodolfo Teófilo considera que “a imprensa era uma miséria”29. Há o registro de que João Câmara chegou a trabalhar na redação do jornal30, assim como o filho dele, Carlos Câmara. Este, envolvido em uma discussão pública com Teófilo: “(No A República), algumas penas mercenárias, como a de um senhor Carlos Camara e outras, atassalhavam a reputação de qualquer homem de bem que fosse 24 Órgão liberal publicado a partir de outubro de 1846 que teve como fundadores Frederico Pamplona, Tristão de Araripe e Thomaz Pompeo. Entre os redatores do Cearense figuraram nomes como João Brígido, Dr. José Pompeu, Miguel Ayres, Conselheiro Rodrigues Júnior e Dr. Paula Pessôa. O último número circulou em 25 de fevereiro de 1891. Após a proclamação da República (1889), os então idealizadores, entre eles o conselheiro Rodrigues Junior, substituíram a epígrafe “orgão liberal” por “orgão democrático. STUDART, Barão de. Op.Cit., p. 84. Sobre os jornais partidários, ver FERNANDES, Ana Carla Sabino. A Imprensa em Pauta: Entre as contendas e paixões partidárias dos jornais Cearense, Pedro II e Constituição na segunda metade do século XIX. Dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, 2004. 25 NOBRE, Op. Cit., p. 111. Tinha também como redatores Tomaz Pompeu, João Lopes, Júlio Cesar, João Brígido e Virgílio Brígido. 26 SOUZA, Eusébio de. A imprensa do Ceará em seus primeiros dias. In Revista do Instituto do Ceará. Tomo XLVII, ano XLVII. Fortaleza: Meton Gadelha & Cia, 1933. Disponível no endereço: www.institutodoceara.org.br/Revapresentacao/RevPorAnoHTML/1933indice.html (última consulta em 19/04/09). 27 NOBRE, Geraldo. Op. Cit., p, 124. 28 Em 1892, Antônio Pinto Nogueira Accioly era vice-presidente do Estado. Quatro anos depois, em 1896, assume a presidência do Ceará em clima de euforia e confiança. Contudo, seus anos de mandato mostraram que as necessidades do povo não foram priorizadas pela sua gestão. A omissão do governo durante as secas de 1898 e 1900 desgastaram a imagem do político, entre outros atos questionados por amplos setores da população. Intelectuais como Rodolfo Teófilo fizeram oposição ao governo. Após ocupar o cargo de senador da República (1900-1904), Nogueira Accioly retorna a presidência do Estado (1904-1908) seguido de novo mandato (1908 a 1912) acatado pelo presidente Afonso Pena. TEÓFILO, Rodolfo. Libertação do Ceará: queda da oligarquia Accioly (1914). Edição facsimilar. Fortaleza: Fundação Waldemar Alcântara, 2001, p. 07. 29 TEÓFILO, Rodolfo. Op. Cit., p. 54. 30 STUDART, Barão. Op. Cit., p. 455. Não diz o período em que João Câmara esteve na redação do jornal.

infenso ao governo do Sr. Accioly”31. É da tipografia d´A República que João Câmara lança o seu almanaque. No primeiro ano, chama-se Almanach da Fortaleza para 189532. No ano seguinte, muda para “Almanach Administrativo, Estatístico, Mercantil e Industrial do Estado do Ceará para 1896”. Na primeira página, ele explica as mudanças: “Demos-lhe maior desenvolvimento, conforme nos comprometemos o ano passado, tornando-o a todo o Estado. Todas as indicações úteis, esclarecimentos necessários, n´ele encontrará o leitor. (...) A parte mercantil e industrial organisamol-a (SIC) de acordo com a coleta procedida pela Recebedoria do Estado; e a parte administrativa, com as informações que nos foram fornecidas pelas repartições federais e estaduais. Enriquecemos o nosso Almanach com uma grande copia de dados estatísticos de subido valor. E para que os contribuintes do Estado, em geral, e da capital, em particular, conheçam os impostos e o que são tributados, anexamos ao Almanach as respectivas leis orçamentárias para 1896”33.

Outra incorporação significativa ocorre em 1897, quando passa a trazer uma seção literária. Segundo João Câmara, atendendo a solicitações dos leitores: “Accedendo a pedido instantes (SIC) de muitos dos nossos leitores, resolvemos abrir uma secção literária para a qual colaboraram quase todos os moços que formam a pleiade de literatos do nosso meio”34. Com a seção literária, o duro almanaque administrativo vai se tornando mais leve. Incorpora as tão apreciadas charadas, traz textos e até anúncios com humor. Como na anedota a seguir, que traz uma sutil crítica à elite monárquica, uma forma também de valorizar o atual regime: O barão X é pessoa grave e séria, mas de atraso estupendo em qualquer assunto literário. Uma vez à mesa em casa da viscondessa C, esta como o visse muito calado, quando todos falavam sobre literatura, disse-lhe: - Gosta de Victor Hugo, Sr. barão? - Sim, minha senhora. Aceitarei uma perninha, mas sem molho35.

Ao longo das edições, o almanaque realiza, de forma fragmentada, o elogio à República, à memória dos liberais ligados à Pompeu e ao governo Accióly. A exemplo do ensaio biográfico na edição de 1899, “Dr. Nogueira Accioly”. Texto publicado em um momento em que o presidente do 31 TEÓFILO, Rodolfo. Idem. O autor diz que foi insultado muitas vezes “por essa imprensa venal” e que os insultos foram registrados no livro Varíola e Vacinação no Ceará. 32 Um único exemplar foi localizado na Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel, em Fortaleza, mas encontra-se interditado aguardando restauração, de forma que ainda não foi pesquisado. 33 Almanach Administrativo, Mercantil e Industrial do Estado do Ceará para 1896. Confeccionado por João Câmara. Fortaleza: Typ. da República, 1896. 34 Almanach Administrativo, Mercantil, Industrial e Literário do Estado do Ceará para 1897. Fortaleza: Typ. da República, 1896. 35 Almanach Administrativo, Estatístico, Mercantil, Industrial e Literário do Estado do Ceará para 1900. Confeccionado por João Câmara. O exemplar consultado não possui capa com as informações sobre a tipografia em que foi impresso.

Estado era duramente criticado pela sua omissão durante a seca de 1898: “Está intimamente ligado aos triunfos republicanos do Estado, o nome do benemérito presidente do Ceará. Espírito reto, elevado, acessível às nobres aspirações da política moderna, s.exc. tem, no posto avançado onde está colocado, pelo voto direto de seus concidadãos, encontrado com os mais puros princípios da ortodoxia democrática”36

Quando João Câmara decide lançar o Almanach, não eram mais produzidos impressos do gênero em nenhuma tipografia local há sete anos. Experiências anteriores foram realizadas no Estado, a começar pelo Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Província do Ceará para 187037, que teve uma segunda edição em 1873. O primeiro número, com mais de 500 páginas, foi impresso nos prelos de Odorico Colás, afamado tipógrafo maranhense que havia se estabelecido no Ceará. De natureza oficial, não trazia as seções literárias e recreativas, que tanto agradavam leitores como José Alves de Figueiredo. Centrava-se nas informações úteis sobre a administração da província, como os nomes e endereços institucionais, em formato semelhante ao conhecido Almanak Laemmert, do Rio de Janeiro38. Começando com o calendário para o ano que se iniciava, os santos do dia, Computo Eclesiástico, festas móveis, eclipses. Quinze anos depois, Alfredo Bomílcar Cunha lança o Almanaque Administrativo e Comercial da Província do Ceará para 1888, saído da tipografia Libertador39. Antes desse, um outro, não citado nas bibliografias sobre almanaques consultadas, foi localizado na Biblioteca Nacional: o Almanach do Cearense para 188340, editado pelo jornal O Cearense. Com dimensões reduzidas em relação aos dois primeiros, provavelmente era distribuído gratuitamente pelo jornal dos liberais, O Cearense, que trazia anúncio informando que novos assinantes ganhariam um brinde com a adesão. Lembrando que João Câmara, que havia sido 36 Almanach Administrativo, Estatístico, Mercantil, Industrial e Literário do Estado do Ceará. Confeccionado por João Câmara. Fortaleza: Typ. Universal, 1899. Como não está assinado, presume-se que seja do editor João Câmara. 37 Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Província do Ceará para 1870. Fundado por Joaquim Mendes da Cruz Guimarães. Fortaleza: Typographia de O. Colás, 1870. Na edição de 1873, diz que só foi possível realizá-la por um contrato com o governo provincial que, pelo subsídio de um conto e seiscentos mil réis, previa a distribuição de 400 exemplares nas estações públicas da Província. 38 O contrato estabelecido entre o Almanak do Ceará e o governo Provincial prevê que o contratante, “obriga-se a seguir, quando lhe for possível, o método do Almanak publicado na Côrte por Eduardo Von Laemmert”. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Província do Ceará para 1873. Fundado por Joaquim Mendes da Cruz Guimarães. Editor: João Baptista Pereira. Fortaleza: 1873. O contrato faz referências ao Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Província do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: E & H Laemmert. No Ceará, eram vendidos na livraria de JJ de Oliveira, segundo próprio Almanak do ano de 1889, p. II. 39 Há registros somente deste número, segundo o Almanach do Estado do Ceará de 1945, edição comemorativa do cinquentenário de fundação. Propriedade e direção de Raimundo Girão e A. Martins Filho. Fortaleza: sem editora, s/a. No entanto, o exemplar de 1888 não foi localizado para pesquisa. Os autores consideram que esse almanaque foi “de menor porte” comparado aos dois anteriores. 40 Almanach do Cearense para 1883. Fortaleza: Typographia do Cearense, 1883. Na capa, a informação do que poderia ser encontrado na edição: “Calendário, anúncios, “pilheias” e o Decreto nº 3.122 de 07 de outubro de 1882 que altera as disposições da lei eleitoral nº 3.029”. Ao longo do calendário, que informa os santos de cada dia alternados com dados cronológicos e lembretes administrativos (como em janeiro: paga-se a taxa de escravos), são incluídos os anúncios e algumas anedotas.

gerente do Cearense, já havia saído da redação do jornal e atuava na Gazeta do Norte. Com exceção do Almanach do Cearense de 1883 (que fazia referências a vida do Estado somente nos anúncios que trazia e era de menor porte), todas as outras experiências, incluindo a de João Câmara, foram do que se pode caracterizar como “almanaques de cidade”. Comum em diversas localidades brasileiras entre meados do séculos XIX e primeiras décadas do século XX, esses almanaques de cidade cumpriram “a função de apresentação dos municípios, em geral discorrendo sobre suas principais características, e não raro exaltando suas virtudes”41. De um modo geral, eram produzidos por indivíduos “extremamente comprometidos com a vida local”, como observa Maria Coleta Oliveira42. Menos conectados com a tradição oral que outros almanaques do período (como o próprio Almanach de Lembranças Luso-Brasileiro, que utilizava mais imagens, textos curtos e linguagem coloquial muitas vezes), voltavam-se para a lógica da escrita, valorizando personagens, instituições e dados oficiais. Também uma “forma de organização e apresentação das elites sociais e dos seus poderes”, como diz João Luís Lisboa43. Além de trazerem anualmente sessões típicas do gênero, como o calendário, computo eclesiástico, cronologias, eles tinham o foco nas informações locais, sobre o comércio, agricultura, indústrias, horários de estradas de ferro, valores das correspondências, profissões, endereços, formando um grande inventário da vida urbana. Num mudar de páginas do Almanach do Ceará44, sabe-se a quantidade de café, rapadura, feijão e aguardente consumida no Ceará de 1894. São dois os hotéis, sete as hospedarias e duas casas de bilhar. Sabe-se das 54 mulheres confinadas entre os “93 loucos” do Asylo de alienados de Porangaba, longe das famílias e comércios do Centro. A matéria é reveladora de práticas coletivas e sociabilidades de um tempo, registrando e também formando memórias urbanas. “Expressão cultural, sem lugar determinado, de feição capilar e movente”, como define Silva Filho, a memória urbana “implica maneiras próprias de lidar com a duração e o instante, pois, mais intensamente que noutras configurações sociais, a cidade moderna se inscreve como ponto de tensão onde se negociam diuturnamente as pressões da mudança e as demandas da permanência”45. A cidade do almanaque se desenhava nos endereços de lojas e oficinas: os fabricantes de 41 TRUZZI, Oswaldo. Uma breve nota sobre almanaques. In Almanack de São Carlos 1915. Edição fac-similar. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo; São Carlos: EdUFSCar, 2007, p. XIII-XIV. Sobre almanaque de cidade, ver ainda GALZERANI, Maria Carolina Bovério. O almanaque, a locomotiva da cidade moderna: Campinas, décadas de 1870 e 1880. tese de doutorado do Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, 1998. 42 OLIVEIRA, Maria Coleta. Os Almanaques de São Paulo como Fonte para Pesquisa. In Do Almanak aos Almanaques. MEYER, Marlyse (org.). São Paulo: Ateliê Editorial, 2001, p.23 e 24. 43 LISBOA, João Luís. Almanaques. In Os Sucessores de Zacuto: o almanaque na Biblioteca Nacional do século XV ao XXI. Op.Cit., p.14. 44 Almanach Administrativo, Estatístico, Mercantil e Industrial do Estado do Ceará para 1896. Confeccionado por João Câmara. Fortaleza: Typ. d´A República, 1896. 45 SILVA FILHO, Antonio Luiz Macêdo e. Volteios da letra nas memórias urbanas. In Trajetos. Revista do Programa de Pós-Graduação em História Social e do Departamento de História da Universidade Federal do Ceará. v. 5, nº9/10. Fortaleza: Departamento de História da UFC, 2007, p. 53-65, pp. 54.

charutos, fogueteiros, marceneiros convivendo nas ruas. Os hábitos de leitura aumentavam na Capital que passava a contar com quatro livrarias, nove oficinas tipográficas (dessas cinco se concentravam na rua Formosa) e oito oficinas de encadernação no fim do século46. As práticas de leitura não ficavam restritas a esses espaços, ou estavam fechada em gabinetes privados. Chegavam nas praças, nas livrarias, confeitarias, bodegas, salões de barbearias e farmácias. Como analisa Adelaide Gonçalves: “Numa cidade ainda pequena, sem as estridências trazidas depois pelo automóvel e pelas sucessivas remodelações nos equipamentos urbanos, esses espaços têm função social na urbe e em sua geografia política”47. No balcão da Farmácia Theodorico, a casa comercial mais antiga da cidade, poderíamos encontrar um almanaque, talvez próximo aos “enormes frascos com água colorida de amarelo e azul” que ali ficavam48 . O formado era oportuno para promover o comércio e agradar os fregueses. A estratégia não foi idéia do farmacêutico, mas certamente estava bem aproveitada por ele. O laboratório norte-americano Barclay produzia em português o Almanak de Barry e distribuía nas farmácias que revendiam seus produtos. O estabelecimento inseria um anexo, com a sua propaganda. Em folha rosada, de cor diferente e tamanho menor que as páginas do almanaque, um anúncio era incluído na edição original: “Gotas odontalgicas (SIC) (contra dores de dente) preparadas especialmente na Pharmacia Teodorico. Rua Major Facundo, 66”49. No fim do impresso, outra página: “Cumprimentos de Pharmacia Theodorico de José Eloy da Costa. Estabelecida em 1821”50. A diferença entre este almanaque e o que era editado por João Câmara é imensa, a começar pelo público leitor que esperavam alcançar. O Almanak de Barry trazia na capa: “Para uso das famílias, dos trabalhadores mecânicos, negociantes e marítimos. Para distribuição gratuita”51. Trazia 46 Almanach Administrativo, Mercantil, Industrial e Literário do Estado do Ceará para 1899. Op. Cit., p. 154-155. Eram as tipografias: Ceará Libertador (de uma sociedade anônima, instalada na rua Floriano Peixoto), Estado (sociedade anônima na rua Formosa), Costa Souza & Cia (rua Formosa), Econômica (Viúva Paula Lima, na Praça do Ferreira), Minerva (de M. Bezerra, na rua d´Assembléia), Universal (de Cunha, ferro & Cia, na rua Formosa), Apollo (de Paiva & Irmão, rua 24 de Maio), Atelier Louis (de Louiz Cholweschi, rua Formosa), Studart (do Dr. Guilherme Studart, na rua Formosa). 47 GONÇALVES, Adelaide. Trabalhador Lê? Op. Cit., p.66. 48 A descrição dos frascos no balcão é de Gustavo Barroso no livro Coração de Menino que Raimundo Girão reproduz: GIRÃO, Raimundo. Geografia Estética de Fortaleza. Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil, 1979, p.91-92. 49 Almanak de Barry para o ano de 1899. New Yourk: Barclay & Co, s/a. 50 Idem. A tradicional Farmácia começou com o pernambucano Antônio Eloi da Costa em dezembro de 1821, como conta o historiador Raimundo Girão: “Além de farmacêutico, dava-se Elói aos negócios de tipografia, editando jornais. Sua, por aquisição a Francisco Luís de Vasconcelos, foi a Tipografia Patriótica, na qual se imprimia o Correio da Assembléia Provincial, órgão da facção liberal, posto em circulação em 1835 e, em 1843, transformado no Vinte e Três de Julho. (...) Diplomando-se o filho, Antônio Teodorico da Costa (1850), a este foi confiada a farmácia, que a ela se dedicou durante 32 anos”. O autor também informa que Teodorico foi chefe liberal, presidente da Câmara e deputado provincial (1864-65 e 1880-81), foi vice-presidente da Província e exerceu cátedra do Liceu do Ceará. Um dos filhos, José Elói, o sucedeu no estabelecimento até 1919, quando, após a sua morte, assume o neto Alberto Elói, dando continuidade a seqüência de quatro gerações, quebrada em 1946. GIRÃO, Raimundo. Op. Cit. p.91-92. 51 A contracapa trazia ainda os compostos farmacêuticos que eram anunciados: “Anunciados n´este Almanak: Tricófero de Barry, Creme de pérolas de Barry, Tinturas para cabelo de Barry, Água de florida, Sabonete de Reuter,

ao longo da edição o calendário, anúncios e muitas ilustrações, de página inteira, se alternando entre os meses. Em uma das ilustrações, um senhor segurando um violino e um chapéu, com a legenda “Vigoroso e feliz”. Em um anúncio com o título “A beleza”, texto sobre os significados desta e por fim: “Tricófero de Barry para suprir a necessária nutrição do cabelo”. No início da edição, oferece Cálculos astronômicos correspondentes ao Brazil. No entanto, as estações se referem apenas ao Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Pará, São Paulo, Maranhão, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. Traz ainda, como esperado por um leitor de almanaques do período, o Computo Eclesiástico, além dos signos do Zodíaco e localização das estrelas. A partir da materialidade do objeto, do formato, opções editoriais e de impressão, observam-se características que levam a distintos públicos-leitores. O formato menor do Almanak de Barry em relação ao Almanach do Ceará, a distribuição gratuita, o uso abusivo de imagens, facilitando o acesso a semi-letrados e até analfabetos, certamente ampliavam a leitura. Mais tarde, já pela década de 1920, os almanaques sertanejos ou populares seriam produzidos no Interior cearense em conexão com essa tradição oral. Kênia Rios, em relação aos almanaques do tempo, lunários e a circulação destes impressos entre camponeses do sertão cearense que vivenciaram as estiagens de 1932 e 1958, apresenta possibilidades desse caminho, em que oralidade pode virar escritura e a escritura pode reinventar a oralidade: “Os almanaques do tempo se inscrevem por signos tipográficos e astrológicos e, nesse caso, apresentam duas possibilidades de decifração. Mesmo os que não conhecem bem as letras podem entrar em diálogo com o livro através dos desenhos, mapas e números. Muitos sertanejos fazem previsões do tempo sem nunca ter lido o Lunário, mas a linguagem é similar. As páginas do livro, em certa medida, já foram capturadas pela tradição oral, mas quase todos sabem da existência do tal livro”52.

Para o caso do Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro, em específico, o conteúdo editorial não era o único atrativo, mas ao que parece, as características proporcionadas pelo formato de bolso, pelo tipo de papel, e o preço. Eliana Dutra53 comenta o suplemento do Almanaque de 1886, com o mesmo formato e características, mas dedicado exclusivamente às rubricas literárias e recreativas, cujo preço era 180 réis em brochura e 270 réis em papel cartão. De acordo com estimativa da autora, um preço entre 300 e 400 réis correspondia no Brasil da época ao custo de meio quilo de café ou um quilo de açúcar glacê. Para uma publicação anual, o valor era muito Xarope de Reuter nº1, Xarope de Reuter nº2, Pequenas Pílulas de Reuter”. 52 RIOS, Kênia de Sousa. Engenhos da Memória: narrativas da seca no Ceará. Tese de Doutorado do Programa de Estudos Pós-Graduados em História da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC). São Paulo, 2003, p.270. A autora apresenta, também para o Ceará, a inquietação de Geneviéve Bolleme ao estudar os almanaques populares do século XVII e XVIII: “como um texto escrito faz tanto sucesso junto a um público de maioria analfabeta?”. BOLLEME, Geneviéve. Les almanachs populaires aux XVII et XVIII siécles. Paris: École Pratique des Hautes Études. Sorbone, 1969, p.27. 53 DUTRA, Eliana Regina de Freitas. Laços Fraternos. In: Revista do Arquivo Público Mineiro, ano XLI, jul./dez. 2005, pp. 116-127, p.118-119. Disponível: www.siaapm.cultura.mg.gov.br/acervo/rapm_pdf/Lacos_Fraternos.PDF.

atrativo e deve ter assegurado novos leitores. Vestígios de alguns dos que liam almanaques são vistos não apenas nas colaborações e seção de correspondências, mas na relação dos decifradores de charadas e enigmas que o periódico publicava todo ano, por ordem de mais acertos. Como José Alves de Figueredo, sobre quem se iniciou este artigo. No ano de 1902, ele ficou com o 297º lugar, acertando 290 de um total de 336 artigos a decifrar. Era um dos mais de 20 cearenses, de municípios de todo estado, que garantiam o nome impresso na edição pelo talento charadístico. Passavam a fazer parte de uma rede de leitores de diferentes cidades do Brasil, Portugal e algumas colônias do Império português na África. Estavam nesse ano, J. Nogueira (203º lugar), do município de Baturité; Joaquim Alves Nogueira (212º lugar), de Guaramiranga; D. Isabel Omphale Gondim e Constantino Corrêa (dupla que ficou em 271º lugar), de Sobral54 e José da Silveira Zoza (338º lugar), de Coité. Outros utilizavam pseudônimos, comuns ao longo de toda publicação, inclusive na autoria de fragmentos de textos. Na mesma lista, estavam a Sertaneja Cearense (569º lugar, com 117 acertos), o Matuto Cearense (465º lugar), do município de Lavras; Os dois damnados (241º lugar), de Guaramiranga; e os Dois Calungas (555º lugar), de Coité. Fácil encontrar os mesmo nomes em outros almanaques que circulavam no Ceará, como a senhora Isabel Omphale Gondim (Sobral), que em 1902 dedicava um logogrifo à Sra. D. Almerinda Ribeiro no Almanach Popular Brasileiro, editado em Porto Alegre55. O espaço dos almanaques propiciavam não apenas a formação e consolidação de certas práticas de leitura entre as mulheres, mas também de escrita, como demonstra a participação de escritoras brasileiras, entre estas, as cearenses, que despontavam no mundo das letras: Alba Valdez, Francisca Clotilde, Amélia e Olga Alencar, entre outras56. Podia não ser regra, mas também não era raro encontrar alguns que liam mais de um 54 Novo Almanach de Lembranças Luso-Brasileiro para o ano de 1902. Diretor A. Xavier Cordeiro. 52º ano da coleção. Lisboa: Parceria Antônio Maria Pereira, 1901. A lista tem um total de 598 decifradores de diversas cidades de Portugal e dos estados brasileiros do Rio de Janeiro, Pará, São Paulo, Pernambuco, Bahia, em menos quantidade, do Piauí, Sergipe, Paraná e Rio Grande do Sul. 55 Almanach Popular Brasileiro. Editores Echenique Irmãos & Cia – Livraria Universal. Pelotas, Porto Alegre e Rio Grande: 1901, p98. Esse almanaque conta com participação dos cearenses não apenas nas charadas e enigmas, mas também nos fragmentos literários e publicações intercambiadas. A mesma edição traz os versos: “A lágrima” (p.107), escritos dias antes do falecimento do autor cearense Lopes Filho (Ceará, julho de 1900); “A Parahyba sob o ponto de vista literário” (p.119-123), de Rodrigues de Carvalho (Ceará, 1901); o texto biográfico “José Carlos Júnior” (p.155-157), por Antonio Sales (publicado inicialmente no jornal cearense literário O Pão da Padaria Espiritual, de 15 de agosto de 1896). p. 202. “Aroma e Luz”. Ceará, Eurico Facó. “Uma proesa do padre Verdeixa” (p. 202), Paulino Nogueira (parte do texto Presidentes do Ceará na Revista Trimestral do Instituto do Ceará); “Nossos antigos” O Ceará (lado cômico) (p. 221), do jornalista João Brígido dos Santos. 56 Sobre a escrita feminina em almanaques ver GOMES, Ana Cláudia. O Almanach das Senhoras (1871-1927) e um projeto político de acesso feminino à cultura letrada. Dissertação do Programa de Pós-graduação em História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Belo Horizonte, 2002. Luciana Almeida trata das várias escritas em almanaques da escritora cearense Francisca Clotilde, que colaborou não só no Almanach do Ceará, mas também Almanach das Senhoras e Almanach de Lembranças LusoBrasileiro (ambos de Portugal). ALMEIDA, Luciana Andrade de. Francisca Clotilde e a Palavra em Ação (18841921). Dissertação do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Ceará (UFC). Fortaleza, 2008.

almanaque durante o ano. Os sinais são deixados pela mesma dona Dona Isabel Omphale, juntamente com o charadista Silveira Zoza (Coités), que no ano de 1901 se dedicaram a leitura de pelo menos dois almanaques diferentes, no caso dela, e três, no dele. Eles estão entre os decifradores de charadas do Almanach de Lembranças Luso-Brasileiro e Almanach Popular Brasileiro para 1902. Zoza foi além e está em segundo lugar entre os decifradores também do Almanach do Ceará do mesmo ano, com 79 acertos entre os 80 enigmas. Certamente eles estavam entre um grupo de leitores especiais, além de assíduos colecionadores, tinham o almanaque como companhia frequente e queriam se ver no impresso. Como diz uma leitora que se apresenta sob o pseudônimo “Provinciana” no Almanach de Lembranças: “Sabem porque anualmente acolhemos com tanto prazer? É porque ele nos tem acolhido a nós! Sabem porque percorremos tão alegremente aquela sucessão de páginas? É porque o nosso nome vem ali. Sabem porque tanto nos diverte? É porque é tão variado, tão ligeiro, tão superficial, como nós todos que o aplaudimos. Instrue-nos sem pretender ensinar-nos, agrada-nos sem exigir atenção. E depois, e sobre tudo, é nosso, todos mais ou menos por ali temos passado. A todos os que são hoje grandes na literatura, ele acolheu quando eram pequenos e vacilantes, quando mal aventuravam o passo deulhes mão protetora, deu-lhes abrigo seguro. Todos os nossos autores ali tem deixado o seu óbulo. Mas afora esses, há as reputações exclusivamente do Almanach. Há nomes que só ali encontramos. Temos conhecimentos que não vemos durante o decurso do ano, chega o Almanach, temos a certeza de os encontrar ali. É um ponto de reunião, é um livrinho aonde estamos em família. Como o grupo de crianças (...) gritamos do fundo de nossas províncias: - também eu quero, também eu peço, também eu desejo ter entrada!57

A citação é longa, mas é reproduzida por ser significativa das motivações da “Provinciana”, provavelmente a mesma de tantos outros leitores deste e de outros almanaques, que se sentiam em família e buscavam se ver nas páginas. Não precisavam ser nomes conhecidos, nem demonstrarem conhecimento erudito, recebiam instrução sem a pretensão do ensino, e podiam estar no impresso também pelo que gostavam e eram no cotidiano, mesmo que sob pseudônimos, mesmo que de forma superficial. Numa caracterização comum e pejorativa aos leitores de almanaques, podem ser considerados “menos especiais”58, em relação ao que se tinha da imagem de um erudito. Mas certamente, estão nas páginas do almanaque leitores menos aborrecidos.

Fontes e bibliografia

57 Almanach de Lembranças Luso-Brasileiro para 1871. Lisboa: Lallemant Frères Typographos, 1870, p.84-85. A partir do ano seguinte, 1872, adota o nome de Novo Almanach de Lembranças Luso-Brasileiro. 58 Expressão utilizada por Machado de Assis no fragmento reproduzido na epígrafe deste texto. ASSIS, Machado de. Como se Inventaram os Almanaques. In: MEYER, Marlyse (org.). Do Almanak aos Almanaques. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.

1. ARQUIVOS CONSULTADOS Acervo Particular Adelaide Gonçalves (Fortaleza / CE) Arquivo Edgard Leuenroth (Campinas / SP) Biblioteca da Academia Cearense de Letras (Fortaleza / CE) Biblioteca do Instituto do Ceará - Histórico, Geográfico e Antropológico (Fortaleza / CE) Biblioteca do Instituto de Estudos Brasileiros (São Paulo/SP) Biblioteca Nacional, Setor de Obras Raras e Setor de Periódicos (Rio de Janeiro / RJ) Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel, Setor de Obras Raras (Fortaleza/CE) Center of Research Libraries ( www.crl.edu/content/brazil/cea.htm) 2. FONTES Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Província do Ceará para 1870. Fortaleza: Typographia de O. Colás, 1870. Almanach de Lembranças Luso-Brasileiro para 1871. Lisboa: Lallemant Frères Typographos, 1870. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Província do Ceará para 1873. Fortaleza: 1873. Novo Almanach de Lembranças Luso-Brasileiro para o ano de 1873. Lisboa: Lallemant Fréres, Almanach do Cearense para 1883. Fortaleza: Typographia do Cearense, 1883. Almanach Administrativo, Mercantil e Industrial do Estado do Ceará para 1896. Fortaleza: Typ. da República, 1896. Almanach Administrativo, Mercantil, Industrial e Literário do Estado do Ceará para 1897. Fortaleza: Typ. da República, 1896. Almanach Administrativo, Estatístico, Mercantil, Industrial e Literário do Estado do Ceará para 1889. Fortaleza: Typ. Universal, 1899. Almanach Administrativo, Estatístico, Mercantil, Industrial e Literário do Estado do Ceará para 1900. Almanak da Democracia para 1902. Lisboa: Typ. Industrial Portuguesa, 1901. Novo Almanach de Lembranças Luso-Brasileiro para o ano de 1902. Lisboa: Parceria Antônio Maria Pereira, 1901. Almanach do Estado do Ceará de 1945. Fortaleza: sem editora, s/a 3. Referências Bibliograficas ALMEIDA, Luciana Andrade de. Francisca Clotilde e a Palavra em Ação (1884-1921). Dissertação do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Ceará (UFC). Fortaleza, 2008.

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