Da Udenamo a Frelimo

September 30, 2017 | Autor: Gerhard Liesegang | Categoria: Frelimo, History of MozambiqueHistory Liberation Movements in Africa, Udenamo
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Descrição do Produto

Versão retocada, de Junho 2003, revista Junho/Julho 2005,ainda com
imperfeições

Subsídios para a Historia da UDENAMO e FRELIMO: Da fundação e dos planos de
fusão da UDENAMO e MANU à revolta da base da UDENAMO em Junho de 1962 e o
resurgimento deste partido em 1963:Um plano e primeiros resultados da
recolha de fontes para permitir uma leitura sociológica

Por Gerhard Liesegang e Joel das Neves Tembe
Departamento de História e U.E.M. e AHM
[email protected]…Joel Tembe @hotmail com

" A constituição da Frelimo não foi um processo linear" Pascoal Mucumbi
citado por N. Manghezi 1999: 219
Resumo
O objectivo deste esboço é de comentar, numa abordagem sociológica,
fontes e alguns aspectos da história política e social dos grupos que
se formaram para lutar pela independência de Moçambique. Focam-se,
entre outros, a) o papel da UDENAMO como ponto de cristalização, motor
accelerador, mas também de frustração da organisação dos nacionalistas
e da luta pela libertação em 1960-62, b) a figura de Adelino Xitofo
Gwambe como autor de uma visão global de Moçambique e da necessidade de
uma luta armada. Presentamos dados que explicam tanto a formação da
Frelimo como o reaparecimento dos partidos cuja fusão completa havia
sido prevista. Como fontes foram utilizadas algumas indicações da
bibliografia mais antiga e recente, dois livros não publicados e
informações orais de Fanuel Guideone Mahluza, S. Brito Simango e
Priscilla Gumane, bem como na revisão final, a intervenção de Joaquim
Chissano na reunião dos antigos combatentes em Março de 2002 e alguns
elementos em depoimentos de Alberto Chipande, R. Pachinuapa, Marcelino
dos Santos e outros em 2003/4 sobre a vida de Samora Machel (e Eduardo
Mondlane) e a biografia de Uria Simango de B. Ncomo.
Summary
The purpose of this sketch is to comment from a sociological point of
view on sources and some aspects of the political and social history
of the groups that constituted themselves in order to fight for the
independence of Mozambique. We shall focus on a) the role of the
UDENAMO as a first focus of interaction, motor (and also frustration)
of the organization of nationalists and b) the figure of Adelino Xitofo
Gwambe as the author of a global vision of Mozambique and of the
necessity of an armed struggle. We shall present data which explain
both the formation of FRELIMO as well as the reappearance of the
parties whose complete fusion had been envisaged. As sources we used
publications, some of them recent, two unpublished books as well as
oral testimonies by Fanuel Guideone Mahluza and Samuel Brito Simango
(from 2001) and Priscilla Gumane, as well as in the final revision, the
text of the speech by Joaquim Chissano in the meeting of liberation war
veterans in March 2002 as well as some testimonies on Samora Machel
(and Eduardo Mondlane) by Alberto Chipande, Raimundo Pachinuapa,
Marcelino dos Santos and others in 2003/4 and the biography of Uria
Simango by B. Ncomo.

Introdução

O objectivo desta comunicação[i] é de comentar alguns aspectos da história
social e institucional dos grupos que se formaram e reestruturam em 1960-3
para lutar pela independência de Moçambique. Foi possivel fazer este estudo
porque estão presentemente acessíveis algumas fontes a historiadores que na
década dos anos 80, quando se tentou, no âmbito do então volume III da
História de Moçambique, fazer uma primeira revisão compreensiva da história
antes de 1962[ii], ainda não podiam ser consultadas.
Trata-se não só de corrigir pormenores mas também de levar a narração para
além de uma justificação da necessidade de unidade política e
disqualificação do dissenso para uma análise sociológica e etológica que
tem em conta a complexidade da actuação social humana espontânea em
estruturas hierarquicas e a existência de grupos minoritários, que
partilharam com o movimento maioritário o ideal da libertação nacional e
governo da maioria, mas não se mantiveram integrados por incompatibilidades
pessoais e falta de extensão de solidariedades horizontais.
Um tal tratamento não seria justificado apenas em termos de sociologia e
história política mas também no que Carlos Ginzburg chamou de micro-
história[iii].
As fontes novas utilisadas aqui incluem depoimentos[iv] de Fanuel Guideone
Mahluza, filho de um machambeiro[v] de Xai-Xai[vi], um homem da segunda
linha que se dedicou a lutar, observar, analisar, comunicar e sobreviver
entre 1960 e a actualidade, depoimentos Samuel Brito Simango, uma
dissertação de licenciatura de Aurélio Bucuane defendida em 2000, as fontes
arquivísticas e orais sobre a UDENAMO consultadas em 1996 e analisadas em
Neves Tembe 1998[vii], as memórias de Helder Martins para o período 1936-
1968, que incluem alguns dados sobre os seus primeiros contactos com
elementos da UDENAMO em 1961-2[viii], a obra biográfica de Nadja Manghezi
sobre Janet Rae Mondlane (1999) que inclui extractos de cartas de E.
Mondlane, o livro de J. Cabrita (2000) sobre a história da Frelimo e
Renamo, o texto da intervenção de Joaquim Chissano na reunião dos antigos
combatentes em Março de 2002[ix] depoimentos de Alberto Chipande,
Marcelino dos Santos e outros, ainda alguns comentários de Priscilla
Gumane, já feitos em 1989-90, e referências parcialmente errôneas contidas
num livro não publicado de A. D. Zengazenga de cerca de 1997, dados sobre
a carreira de Uria Simango na biografia de Bernabeu Ncomo de 2004[x]. Havia
outras fontes já disponíveis anteriormente, como a publicação de documentos
de Chilcote de 1972 e algumas referências numa publicação de S. Quintinha
(1973) que se baseiam em informações algo deturpadas dos arquivos da PIDE e
no arquivo roubado da UDENAMO entregue a PIDE em Outubro de 1961. Estas
fontes e a análise apresentada cobrem o espaço entre a formação da UDENAMO
em 1960 e o seu reaparecimento em 1963 depois da formação da FRELIMO em
1962. Deixa-se para uma eventual publicação posterior a fase da formação do
COREMO em Lusaka e outros desenvolvimentos posteriores na FRELIMO depois
aos meados de 1963, alguns dos quais precisam ainda de mais investigações.
Pretendemos com esta análise contribuir para um melhor conhecimento e
compreensão do processo da formação e actuação dos primeiros partidos
nacionalistas moçambicanos. É um processo que obriga a uma descrição
multifacetada devido à sua complexidade, descrição essa que mas terá de ser
selectiva aqui devido a limitações de espaço. A síntese e análise vão ser
apresentados nas partes 2 e 3 deste paper, intítuladas, "esboço
cronológico" e "observações".

II. Breve esboço cronológico da história da Udenamo e Frelimo 1960-63
Para se compreender com mais facilidade o que vai ser comentado no
capítulo III apresentamos primeiro um esboço cronológico dos principais
desenvolvimentos[xi].
Em 18 de Outubro de 1960 constituíu-se em Bulawayo, centro da Rodésia do
Sul Occidental, ligado directamente por comboio ao sul de Moçambique, na
casa do residente António Mandlati no subúrbio de Mpopoma, o partido
UDENAMO na presença de cerca de 13 moçambicanos, emigrantes "económicos"
politizados tomados como representantes das províncias das quais eram
naturais. Por consenso dos presentes Adelino Xitofo Gwambe, um jovem de 19
anos, ficou como presidente. Gwambe escolhe alguns dos presentes como os
seus colaboradores imediatos. Assim aparece um vice-presidente (Fanuel G.
Mahluza, de 28 anos), Secretário Geral (Calvino Mahlayeye, aproximadamente
da mesma idade como Gwambe), Secretário para a Organisação-Jaime Rivaz
Sigauke, Daniel Mahlayeye- Secretário de Educação, Feliciano Namarue (ou
Namirue)-secretário de Finanças, Aníbal Chilengue- Secretário dos Assuntos
Sociais[xii]. Algum tempo depois, e depois de ter recebido uma carta de
Kwame Nkrumah, que felicitava Gwambe pela formação do partido, contactam
uma já prestigiada figura, o presidente da Portuguese East Africa
Association, o reverendo Uria Simango em Salisbury, bem como Joshua Nkomo,
presidente do NDP na mesma cidade. Com estes contactos a UDENAMO tinha-se
elevado ao estatuto de primeiro partido moçambicano internacionalmente
reconhecido, ultrapassando iniciativas como as sociedades de ajuda mútua e
do MANC, que segundo algumas afirmações ja teria existido em 1959[xiii] mas
que participaria na luta apenas como membro do COREMO depois de 1964[xiv].
A polícia rodesiana e a PIDE tinham ficado alertados ainda em Outubro e
por isso o núcleo da UDENAMO transfere-se em dois grupos aproximadamente em
Março de 1961[xv] para Dar-es Salaam, apoiado financeiramente pelo NDP e
Joshua Nkomo. Deixou Uria Simango e outros elementos de ligação na Rodésia
do Sul até ao Março do ano seguinte[xvi].
A formação da UDENAMO não era a única actividade política neste tempo. A
1 de Abril de 1961 Eduardo Mondlane regressou da visita o sul de Moçambique
com a sua família[xvii]. Esta tinha chegado em Novembro de 1960 e ele
próprio meses depois, em Fevreiro. Era uma visita familiar com muitos
aspectos políticos. Mondlane contactou numerosos elementos da elite
africana entre Lourenço Marques e Cambine (Morrumbene) e no regresso também
em Salisbury Uria Simango, Presidente da P.E.A. Association. Simango tinha-
se formado como pastor num curso teológico em Rikatla na década dos 50 e já
era conhecido por alguns em Lourenço Marques como pregador poderoso[xviii].
Encontrava-se em Salisbury desde ca. 1958 e estava também em contacto com
estudantes moçambicanos em Portugal que se preparam a emigrar
clandestinamente para a França[xix]. Fontes orais em Harare ainda se
lembravam mais tarde das suas aulas de História numa escola que fundou[xx].
Uma vez em Dar es Salaam a UDENAMO a organisação é apresentado à imprensa
em Março ou início de Abril[xxi] e alarga os seus contactos internacionais
ou é contactada por nacionalistas, entre os quais Marcelino dos Santos da
CONCP em Marrocos, que reage imediatamente ao anúncio da formação da
UDENAMO. Gwambe é convidado a participar em reuniões internacionais. A
primeira é a conferência da CONCP em Rabat, a 18 a 20 de Abril de
1961[xxii]. Gwambe colabora ali com Marcelino dos Santos, que entra na
UDENAMO e é nomeado por Gwambe Secretário das Relações Exteriores. Ambos
elaboram os estatutos de UDENAMO discutidos e aprovados posteriormente pelo
CC da UDENAMO em Dar-es-Salaam. Desta maneira a UDENAMO tinha feito um
primeiro passo para integrar a iniciativa dos "mulatos" do império colonial
português, que se tinha estruturado na década anterior e já tinha contactos
com organisações do bloco socialista e partidos comunistas[xxiii].
Algum tempo depois, no segundo ou terceiro trimestre de 1961, a MANU parece
ter sido implantada em Dar-es-Salaam. A MANU aparece nesta altura com um
escritório em Dar-es-Salaam na sede da TANU. Muitos dos membros na
Tanganhica tinham sido membros da TANU. Os diversos autores datam a sua
fundação como tendo sido feita em "1958"[xxiv]"1959[xxv]", "1960", "1960 ou
1961[xxvi]" ou Fevreiro de 1961, em Mombasa.[xxvii] De facto parece
provável que a sigla MANU tinha sido utilizado antes de 1961[xxviii]. As
discrepâncias nas datas devem-se à falta de investigações da história da
MANU, partido esse caracterizada por membros da UDENAMO[xxix] como sendo em
meados e fins de 1961 uma organisação tutelada por quenianos ou
tanganhicanos, talvez incialmente no contexto do PAFMECA e depois pela
TANU, porque funcionava num gabinete no edifício deste partido em Dar-es-
Salaam. Pessoas considerados representantes da TANU vetavam em finais de
1961 decisões dos seus dirigentes, possivelmente na altura em que
Tanganyika ficou formalmente independente ( 9 de Dezembro de 1961). O
presidente da MANU era em 1961-62 Mateus Mmole, um moçambicano nascido e
educado na Tanganyika, que vivia em Lindi. A MANU teria sido tutelado e
apoiado pelo funcionário Timothy Chokwe e por Lawrence Joe Malinga
Milinga, que talvez tinha trabalhado em sindicatos em Mombasa[xxx].
Existiram secções importantes em Mombasa (Quénia) e Zanzibar e uma Liga da
Juventude, tal como na TANU.-
A MANU tinha muitos membros[xxxi], uma base social e aceitação na
estrutura política da Tanganyika, na altura o único pais independente da
África que fazia limites com Moçambique. (Marcelino dos Santos recordou em
2004 que a MANU tinha, já nas suas estruturas quenianas de 60/61, um cariz
verdeiramente nacionalista, tendo mobilizado não só Maconde mas também
Nyanja e outros.) A UDENAMO, embora que relativamente activa no exterior e
com um pequeno orgão de publicação, tinha poucos membros. Ela emitiu em
Dezembro de 1961, mais de um ano depois da sua fundação, o seu cartão de
membro número 145.[xxxii] E muitos destes membros, como p.e. o pastor Uria
Simango, que tinha tido um papel importante na Rodésia do Sul e chegado em
Abril de 1962 em Dar-es-Salaam, tendo passado pela Niassalândia com a sua
família, não estavam integrados nas estruturas centrais do partido. Outros
como Filipe Samuel Magaia, antigo estudante do Instituto Comercial (Escola
Sá da Bandeira?) de Lourenço Marques que tinha feito o curso de alferes em
Boane em 1958 e que tinha vindo com Simango, depois da fuga da Beira, onde
tinha trabalhado nos Caminhos de Ferro, eram também visíveis mas não tinham
uma função formal importante. Paulo Gumane, um antigo professor das escolas
indígenas em Inharrime que tinha trabalhado no Cabo veio da África do Sul
colaborava também, mas não estava no Comité Central. O comité central da
UDENAMO era composto de quatro membros quando chegou em Dar-es-Salaam e
nomeou apenas dois novos membros, Marcelino dos Santos e o Secretário de
Finanças Constâncio Stanislau Dyomba. O anterior secretário de finanças
Namirue (ou Namarue) tinha aparentemente ficado na Rodésia do Sul e não
veio para Dar-es-Salaam.
Membros do CC da UDENAMO em Dar-es-Salaam contactam a MANU ainda no último
trimestre de 1961[xxxiii] com o intuito de unificar os partidos, mas não há
resultados palpáveis. Os membros do CC da UDENAMO em Dar-es-Salaam utilizam
Dyomba, um Makonde com educação escolar portuguesa, como intermediário e
tradutor nestes contactos. Mas numa primeira fase são os tanzanianos que
recusam e bloqueiam a unificação. Gwambe tinha chocado, em 1961, a
liderança da TANU com as suas opiniões firmes sobre a necessidade de uma
luta armada[xxxiv] e eventual união de Moçambique a outras ex-colónias da
região (e não integração na Comunidade de África Oriental aonde estava
Tanganhica) bem como a sua dependência de Nkrumah, cujas opiniões não eram
partilhadas por J. Nyerere. Gwambe tinha sido expulso da Tanzania em Julho
de 1961, não parece ter estado em Dar es Salaam em Dezembro, mas voltou,
sendo novamente forçado a sair aproximadamente em Fevreiro de 1962. Tinha
nesse tempo a sua base em Accra, Ghana (mas devido a pressões da PAFMECSA,
podia regressar em Junho 62 senão mesmo antes). Os restantes membros de
Comité Central e Uria Simango continuam os contactos com a MANU. Lideres da
UDENAMO[xxxv] estabelecem, talvez em Abril de 1962, também contactos com
Eduardo Mondlane, visto por alguns como possivel contrapeso do sul a
pretensões de liderança de Uria Simango, que eles não aceitavam[xxxvi].
A sequência das reuniões não está muito clara, mas há de facto alguns
contactos entre nacionalistas moçambicanos e Eduardo Mondlane antes de
Junho de 1962[xxxvii] e estes parece foram decisivos para o futuro da
organisação dos nacionalistas.
Para a All Africa Freedom Fighters Conference em Maio-Junho de 1962 em
Winneba perto de Accra são convidados sob proposta da Udenamo também três
membros da MANU, o presidente Mathew .Mmole, Samly Diankali, um Makonde de
uma chefatura prestigiada que veio da MANU de Mombasa, e Daud Atupali, de
Dar-es-Salaam, "cunhado" de Mahluza. Os bilhetes foram entregues pela
embaixada do Ghana em Dar-es-Salaam. A UDENAMO vinha bem preparada para
discutir a fusão dos dois partidos, tinha quatro delegados, dos quais dois
(Mahluza e C. Mahlayeye) vieram de Dar-es-Salaam e um cada de Rabat (M. dos
Santos) e de Accra (Gwambe), que comparados com os três da MANU,
constituiám a maioria. A fusão, sob o novo nome da FRELIMO, escolhida pelos
participantes, foi ainda anunciada em Winneba e teve assim a benção de
Nkrumah e da Conferência.[xxxviii]
Depois da Conferência Fanuel Mahluza e Gwambe regressam a Dar-es-Salaam no
dia 14 de Junho com os outros delegados, mas Gwambe sai um ou dois dias
depois, para participar na Índia na Conferência Mundial da Paz[xxxix], so
voltando no dia 23, sem discutir antes assuntos pendentes com os membros.
Deixou assim o campo livre para Eduardo Mondlane.
Eduardo Mondlane tinha chegado em 7 de Junho [xl]. A 15 teve um encontro
com A. Gwambe (regressado do Ghana) e mais 15 pessoas sobre formas de
unificação. Gwambe tinha voltado, como foi referido, no dia anterior e a 16
nomeou uma comissão para negociar os estatutos do novo partido com a
MANU[xli]. A 17 de Junho Mondlane tornou-se membro da UDENAMO[xlii]. Só
desta maneira teria acesso a conferência de unificação. Os contactos que
Mondlane tinha tido desde a chegada com os membros mostraram-lhe que Gwambe
era pouco popular devido ao seu comportamento ditadorial e pouca
acessibilidade para com os militantes, alguns dos quais procuraram bolsas e
tinham talvez outros problemas pessoais. Os membros do CC eram muito
activos mas não podiam resolver tudo.
Parece possível que J. Nyerere ou O. Kambona, tendo ouvido ou lido no
início de Junho que iria haver uma unificação dos movimentos de Libertação
de Moçambique, encorajavam Mondlane de conquistar um lugar importante na
nova organisação contrariando Gwambe que insistiu no dia 16 que os novos
estatutos teriam de ser aprovados no Ghana por Nkrumah.[xliii] Os contactos
de Nyerere com Mondlane deviam ja ter datado de 1959 ou 1960 e ser assim
anterior à visita de Mondlane no sul de Moçambique. Na mesma altura ou um
ano antes Nyerere teria também tido contactos com nacionalistas vindo do
planalto de Mueda e aconselhado a organisarem-se para a produção de
algodão.[xliv] Os contactos entre Mondlane e Nyerere foram talvez renovados
em 1961 quando Mondlane fez o seu depoimento sobre o sistema colonial
portugues.
Pode-se dizer que com a chegada de Mondlane o processo de negociação da
unificação iniciado por Gwambe ja tinha descarrilado, tendo chocado com a
agenda de Mondlane e dos interesses de outros militantes moçambicanos que
viviam frustrados em Dar-es-Salaam, como Uria Simango. Mondlane não
precisava da união da MANU e da UDENAMO para ganhar credibilidade junto da
liderança da TANU. Já tinha, diferente de Gwambe, aceitação, mas precisava
da unificação, dos militantes e de um aparelho organisado existente. Ao
contrário de Gwambe, utilizava técnicas de mobilizar apoios
horizontalmente, mostrando solidariedade.
Em 23-24 de Junho se reunem os membros da MANU, UDENAMO e UNAMI em Dar-es-
Salaam para efectuar a integração dos partidos. Da Udenamo tinham
provavelmente sido mobilizados todos os dos seus talvez 200 membros
inscritos que estavam em Dar-es-Salaam, da Manu possivelmente todos que
tinham algum relacionamento com Moçambique ou apoiavam Mmole e da UNAMI
apenas o seu lider Baltasar Chagonga que tinha estado em Dar-es-Salaam
desde os finais de 1961[xlv]. Tanto a MANU como a UDENAMO devem ter tido
algumas dezenas senão uma centena de membros presentes. Gwambe e Calvino
Mahlayeye, portanto Presidente e Secretário Geral da UDENAMO, nem aparecem
nas reuniões que discutem o novo partido em plenárias e reuniões de
trabalho de diferentes comissões nos dias 23 a 25 de Junho de 1962. Não se
candidatam, nem são propostos para posições em eleições onde Mondlane,
doutorado e docente universitário, quase vinte anos mais velho que Gwambe,
é eleito presidente, emquanto que o pastor Simango, que não tinha tido
nenhum lugar no CC da UDENAMO, passa de candidato a presidência com a
segunda maior votação para vice-presidente. David Mabunda, com bom
conhecimento de inglês devido a sua escolarização na África do Sul, é
eleito Secretário Geral, Paulo Gumane, aproximadamente da mesma idade como
Mondlane, fica adjunto do SG. Mateus Mmole, da MANU, torna-se tesoureiro
(Secretário de Finanças). Do Comité Central da UDENAMO entram apenas dois
no novo Comité Central, Marcelino dos Santos e Fanuel Mahluza, ambos nas
relações exteriores. Não é formalmente incorporada na FRELIMO a UNEMO,
União dos Estudantes Moçambicanos, nesta altura de pouca expressão, nem há
qualquer organisação da Juventude dentro do Partido.
Segundo as memórias de Mahluza parece ter sido neste momento que foi
desenhado a bandeira com as suas listas brancas, pouco comum na altura.
Mahluza, que já antes tinha sido indigitado para ir como representante
para Cairo como representante da UDENAMO, se desloca para lá, Marcelino dos
Santos volta para Rabat, Mondlane para New York. Ficam em Dar-es-Salaam
Simango como vice-presidente, D. Mabunda, P. Gumane e outros que constituem
o Comité Central. Algum tempo depois da integração já teria havido
desavenças. Mmole, que só fala Swahili, Maconde e Inglês encontra-se
totalmente isolado no Comité Central onde as discussões são em português.
Ao que parece Gwambe aproxima-se dele para relançar a ideia original da
fusão dos partidos a partir do topo. Mas já é tarde para isso ter
sucesso[xlvi], porque a Frelimo já tinha uma firme base social e
organisacional. Cerca de Agosto Mmole já não faz parte do Comité Central.
O governo egípcio prontifica-se para financiar o Primeiro Congresso da
Frelimo que se pode realizar na data prevista em Setembro do mesmo ano.
Mabunda e Mahluza trazem o dinheiro para o Congresso que ainda dá para
pagar a renda da nova sede. Eles, Priscilla Gumane que vinha de uma
conferência de mulheres e Eduardo Mondlane viajam no mesmo avião e ha uma
grande recepção para Mondlane e para eles em Dar-es-Salaam no dia 23 de
Setembro[xlvii].
O Primeiro Congresso realiza-se entre 23 a 25 de Setembro. Os membros do
Partido parece foram representados por delegados, o que evita que o centro
e norte de Moçambique, que tinham mais membros em Dar-es-Salaam, dominem o
Congresso. Em termos de pessoal confirma a composição do Comité Central
decidido em Junho, mantendo a exclusão de A. Xitofo Gwambe e Calvino
Mahlayeye, mas dá um lugar na defesa a Paulo Mungwambe[xlviii]), que não
tinha sido nomeado em Junho. Excluem ainda Mateus Mole, que tinha-se aliado
a Gwambe pouco depois da constituição do partido, e B. Chagonga, que também
não tinha estado contente e só queria filiar a sua organisação, mas não
demantelá-la. Respeitavam-se talvez em Junho sensibilidades do Governo da
Tanganhica, que talvez não veria com bons olhos um Secretário da Defesa mas
também a preferência de Mondlane, que ainda em Setembro de 1962 advogava
contactos com os EUA para exercerem pressões sobre Portugal para libertar
as colónias. Leo Milas, um americano e graduado universitário que se diz
filho de moçambicano natural de Inhambane e falava português com forte
sotaque americano, é possivelmente eleito in absentia Secretário de
Informação. Ainda em Setembro, pouco depois do Congresso Mondlane volta
novamente para New York, Mahluza para Cairo. Uria Simango ausentará-se por
algum tempo ao Congo. Em 3 de Outubro já ha discussões azedas em volta de
Mondlane, e ataques tentando isolar Marcelino dos Santos[xlix].
Segundo Chissano (2002: 12) há também discussões sobre como se preparar
para a luta armada:
" A escolha do país foi um ponto de discórdia com alguns a preferirem a
União Soviética e outros um país africano, outros ainda a Jugoslávia e
China. Criou-se uma grande confusão que conduziu a certos distúrbios que
levaram o presidente Eduardo Mondlane, que ainda se encontrava nos Estados
Unidos a enviar o Senhor Leo Milas com o mandato para apaziguar a situação.
A chegada de Milas [em Novembro][l] foi outro foco de conflito. Culminando
com a expulsão dos irmãos Joel Gudwana (também conhecido por Maduna Xinana)
e João Mungwambe........ É nessa altura que se dá o desmembramento da
direcção incial da FRELIMO. Leo Milas passa então a dirigir o Departamento
de Segurança e Defesa"[li]
Ainda em Dezembro o Governo da Tanganyika tinha expulso três membros do
Comité Central, David Mabunda e Paulo Gumane, o Secretário Geral e o seu
adjunto, Paulo Mungwambe, Joel Madunana e provavelmente ainda outros
membros. Segundo dois testemunhos[lii] seria a resposta de agressões
físicas a Leo Milas pelos dois primeiros, respondidas por uma acção ainda
mais eficaz dos seguranças do grupo maioritário.
A expulsão de Mungwambe abre o caminho para Filipe Samuel Magaia no
Departamento de Defesa[liii], embora importantes actividades da preparação
da luta tenham ficado na mão de Leo Milas.
Neste período parece que continua a falta de fundos porque os recursos que
Gwambe e a UDENAMO tinham recebido de Nkrumah e Nasser, não continuaram a
correr para a FRELIMO e a TANU não parece ter dado muito dinheiro. S. Brito
Simango, que esteve em Dar-es-Salaam desde Agosto 62 diz que havia um certo
descontentamento porque pessoas como ele foram alojados no acampamento dos
refugiados enquanto que Joel Madunana e outros, talvez todos naturais do
sul do Save, recomendados por Mondlane a Milas, passaram a viver no hotel.
Idêntica foi a experiência de António Zengazenga, um ex-seminarista natural
da Angónia que tinha chegado em Julho[liv].
Os dirigentes expulsos em Dezembro tinham de dirigir-se para Nairobi de
autocarro e mobilisaram recursos para poderem ir para Cairo e Uganda, onde
ficam Gwambe, Mahlayeye e outros, que fundam a FUNIPAMO que mais tarde
denominam UDENAMO-MONOMOTAPA[lv], enquanto que Gumane e Mabunda[lvi] e as
suas mulheres, A. Chilengue, talvez ainda J. Munguambe passaram dali para o
Egipto que os aceita e indica como a sua residência a casa de Moçambique,
onde residia o representante da FRELIMO, Mahluza. Gumane e Mabunda,
telefonam de Cairo com Mondlane para conseguir uma revisão da expulsão mas
este diz que tem de aceitar a decisão do Comité Central.[lvii] Mungwambe e
Madunana recebem eventualmente perdão e são enviados para a Argélia, aonde
são incorporados no primeiro contingente a receber instrução, so
regressando para a Tanganyika incorporado no contingente ali
formado[lviii].
Mahluza não é expulso da FRELIMO mas já há desconfiança mútua quando ele
visita um congresso em Moshi cerca de Fevreiro de 1963 com fundos pagos no
Egipto. Simango e Marcelino dos Santos tentam retê-lo em Dar-es-Salaam,
onde ele fez escala. No início do mês seguinte Mondlane consegue libertar-
se das suas funções acadêmicas e assumir a presidência em Dar-es-Salaam.
Provavelmente em Maio de 1963 a UDENAMO é reconstituida no Cairo com
Gumane como Presidente (e não com Gwambe), Mabunda como Secretário Geral e
Mahluza como Secretário de Defesa[lix]. A. Chilengue recebe treino de
locutor de português para emissões radio. É esta UDENAMO que vai
participar, apoiado por Egipto, Ghana e Guiné -Conacry, em conjunto com a
FRELIMO, em Addis Ababa na Conferência que funda a OUA em Junho de 1963.
São três partidos que se preparam para a luta armada de libertação em 63:
A FRELIMO que envia dois contingentes importantes para o treino na Argélia,
saida pouco antes de uma guerra de guerrilha, enquanto que F. S. Magaia e
uma dezena de outros[lx] faz um curso de estado maior na China; a nova
UDENAMO manda Mahluza para um curso para a União Soviética e talvez alguns
outros a treinar no Egipto, e a FUNIPAMO que deixa treinar doze na
China[lxi]. Parece que os enviados pela FRELIMO são cerca de 10 a 20 vezes
mais do que os dos outros partidos.[lxii] É uma diferença de escala que vai
manter-se durante o resto do período da luta armada. A quase totalidade dos
futuros dirigentes que vem de Cabo Delgado e do Niassa em 1963 e do sul de
Moçambique em 1963 aderem directamente à Frelimo e só mais tarde um ou
outro quadro formado deixa-se atrair pelos outros grupos mais pequenos,
como o COREMO.
Muitas das datas dos conflitos entre 3 de Outubro de 1962 e ca. 1966-7
ainda necessitam de verificações. Parece ter havido bastantes movimentações
dos líderes dos pequenos grupos. Chissano se refere a Mombasa, mas também
Kampala é um centro de algumas reuniões, como se depreende de documentos
publicados por Chilcote (1972).

III. Observações e Hipóteses
III.1. Os grupos de actores e as suas visões
Em 1962 há diferentes grupos de actores politicos africanos e
internacionalistas com visões diferentes da luta de libertação. Os grupos
de actores, juntando os do nivel internacional com os ao nivel dos
nacionalistas moçambicanos são pelo menos cinco: Há Julius Nyerere e os
Tanganhicanos, entre os quais aparecem mais tarde duas ou três facções, com
agenda em parte diferente daquela de Nyerere. Muito importante são ainda
militantes lideres africanos como Kwame Nkrumah e o seu Africa Bureau que
estava no auge do seu prestígio em 1958, o Egipto de Gamal Abdel Nasser,
que ambos davam apoios financeiros, e no horizonte ainda Marrocos e Guiné
Conacry com apoio ao CONCP[lxiii]. A União Sovietica havia de dar apoio em
armas ao Comité de Libertação da OUA, começando a fornecer armas modernas
quando verificou que a China tinha enviado armas melhores do que ela. Para
muitos, o mundo era dividido em imperialistas e anti-imperialistas.
No que toca aos partidos, há em fins de 1961 um antigo núcleo da UDENAMO
e elementos mais recentes que se juntaram a UDENAMO em Dar-es-Salaam como o
casal Paulo e Priscilla Gumane. Gumane era natural de Cumbana ao sul de
Inhambane e tinha formação de professor indígena nas missões católica[lxiv]
e tinha depois trabalhado numa lavandaria na Cidade do Cabo. Casou com
Priscilla, uma mulher de origem zulu, de uma família cristã ligada a
missões e tinha tido contactos com o PAC e os sindicatos, que os punham ao
corrente do que se passava no Zimbabwe e em Dar-es-Salaam e facilitavam a
sua viagem para Dar-es-Salaam. David Mabunda e Lopes Tembe, que se
conheceram em Lourenço Marques também vieram. Leo Milas também contactou a
UDENAMO talvez no mesmo tempo que se apresentou a Mondlane[lxv]. Dizia-se
moçambicano que saiu de Moçambique em criança e teve a sua formação nos
EUA.
Os chefes da MANU eram um grupo diferente, crescidos na Tanganhica e Quénia
e habituados a protestos, demonstrações e greves nas quais tinham
participado nos paises de residência. As demonstrações que levaram em Junho
de 1960 ao massacre de Mueda estavam na tradição que a TANU tinha tido e
eram provavelmente inspirados pela sua experiência. Ainda não podem ser
atribuídos formalmente a MANU, que provavelmente ainda não estava muito
fortemente constituída na Tanganhica.
Eduardo Mondlane podia referir-se aos seus contactos com Nyerere mas não
dispunha de uma comitiva de apoiantes firmemente organizados em volta dele.
Atenuava esta falta a sua projecção, prática de trabalho social e de
organização. Como indivíduo tinha uma grande projecção[lxvi] que atraíu
centenas quando Gwambe tinha atraído talvez dezenas que nem sempre viram
nele uma solução para as suas aspirações pessoais.[lxvii] Gwambe já não
praticava solidariedade horizontal ou "democracia e igualdade" como na sua
fase inicial. É provavel que Mondlane era visto por alguns membros do CC da
UDENAMO já em fins de 1961, mas certamente em Abril de 1962 como possivel
alternativa a Gwambe e Simango.
Supõe-se que Simango também tinha a sua própria agenda que teria ficado
visível quando passou a actuar na UDENAMO em Abril de 1962 depois da
segunda expulsão de Gwambe. Em Outubro de 1962 aparecia firmemente aliado a
Mondlane[lxviii]. Quando teria desenvolvido uma agenda pessoal na FRELIMO?
Talvez só depois de 1965-66, contando talvez com apoio de alguns
tanzanianos e procurando o de L. Nkavandame[lxix]. Simango não parece ter
sido capaz, em 1961-2 e 1966, de oferecer aos militantes do sul uma
perspectiva de solidariedade e unidade nacional.
As visões da luta variavam bastante. A TANU tinha acelerado com greves e
protestos a sua independência, a qual o seu território e população tinham
direito mais cedo ou mais tarde como território sob mandato das NU.
Mondlane, com alguma experiência sindical, tinha proposto em Fevreiro de
1961 em Lourenço Marques protestos e panfletos e estava interessado e
atento a greves. Talvez por isso alinhou inicialmente com a visão
tanzaniana que consideraram esta via menos violenta e ideal. Ainda em
Setembro de 1962 Mondlane defendeu a linha de negociações com pressões dos
EUA sobre Portugal. Mudou talvez de ideia quando notou que os EUA não
conseguiram influenciar Portugal, alguns quadros da Frelimo advogavam a
luta e que a nova UDENAMO e FUNIPAMO se preparavam para a luta armada em
Fevreiro de 1963.
Gwambe leu livros sobre os Mau-Mau (1952-54), conheceu Nkrumah e
certamente obras sobre Mao e as revoluções na Rússia e China e pensa numa
insurreição como a dos Mau-Mau ou talvez da UPA em Angola. Teve contactos
com a UPA em Accra[lxx]. Havia também contactos estreitos com o PAC fundado
em 1960 por R. Sobukwe que não concordava com a linha de resistência
multiracial do ANC. Os tanzanianos parece aceitaram o protagonismo negro
mas não a visão da luta, que acolheu talvez mais simpatias do secretário da
Pafmeca (Pafmecsa), uma organisação do grupo de Casablanca[lxxi], cujo
representante local é Mbiyu Koinange, um queniano certamente com algumas
memórias do Mau Mau então de recente memória. È provavel que o projecto
inicial da Frelimo de uma larga insurreição no sul na IV região[lxxii] era
um projecto de certo consenso que já tinha sido discutido pela UDENAMO. A
UDENAMO também tinha escrito em 13 de Setembro 1961 ao governo português
rejeitando a ideia do multiracialismo hegemónico proposto por este.[lxxiii]
Já em 1961 reflectia sobre a possibilidade da luta armada e treino militar
dos seus membros.[lxxiv]
Os Tanganhicanos na linha panafricana de Nyerere, que viu como primeiro
passo uniões regionais, estavam interessados em uniões de ex-colónias
vizinhas. Provocaram com isso em 1960-61 um conflito com Nkrumah, que
queria uma união continental imediata. Gwambe indicou aos tanzanianos que
não tinha mandato para falar sobre eventuais futuras associações de paises,
mas achava que parceiros futuros de Moçambique deviam ser paises como a
Rhodésia do Sul (Zimbabwe). Isso chocava as susceptibilidades de Nyerere e
da TANU que em 1964 pode realizar a União com Zanzibar e pensava talvez
numa associação futura de Tanganhica com Moçambique.
Ciosos da sua soberania e segurança, a TANU e o governo de Tanganhica só
pouco a pouco aceitavam a ideia de uma luta armada baseada na Tanganhica (e
depois Tanzania). É provavel que a segunda Conferência da OUA no Cairo
tenha facilitado essa aceitação.
Em 1961-2 existia na Tanzania uma solidariedade relativamente forte que se
manteve. Os recrutas tanzanianos haviam de cantar nos exercícios militares
canções animadores como: tshaka-tshaka, tshinja, tshaka-tshaka, tshinja, a
mabunu yote. [matem todos os boers]. Mas uma orientação clara para um
socialismo só havia de surgir em 1966 com a declaração de Arusha.

III. 2 A figura e tipo de gestão de Adelino Xitofu Gwambe
Adelino Chitofu Hlomulo Gwambe, nascido ca. 1941[lxxv] em Mapinhane,
Vilanculos, Província de Inhambane, filho de um guarda da Missão Católica,
fez a 3ª classe rudimentar, 3ª regular e provavelmente a 4ªclasse regular
nesta Missão dos Padres da Consolata. Trabalhou depois, não obstante a sua
juventude, como capataz de uma empresa madeireira no Buzi ou em Manica,
onde se envolveu na organisação de uma greve e fugiu algum tempo antes de
1958 para Bulawayo na Rodésia do Sul. Talvez trabalhou nos Caminhos de
Ferro da Rodésia do Sul (Central African Railways) como contínuo. Participa
nos comícios do Partido Nacional de J. Nkomo. Em 1960 tinha alugado com
Aurélio Bucuane um estúdio de fotografia nos arredores de Bulawayo. Tinha
recebido Bucuane em 1958. Planearam em Agosto a fundação da Udenamo em
conjunto mas depois de alguns contactos com confidentes seus que o apoiam
não convida Bucuane para a reunião em que se funda o Partido. F. G. Mahluza
e Samuel Brito Simango, que mostraram uma certa lealdade[lxxvi] para com
Gwambe e o consideram um primeiro "pai da nação moçambicana" lembraram que
tinha uma visão nacional bastante radical, esquerdista (Brito Simango
designou-o também de comunista), talvez semelhante àquela de P. Lumumba e
que admirava a luta dos Mau-Mau, e mesmo perto daquela de U. Simango.
Priscilla Gumane, filha de uma família cristã e nascida 1922, o considerava
"muito jovem, muito mais novo do que nós", muito arrogante e só preocupado
consigo próprio e as suas viagens e pouco acessível aos militantes[lxxvii].
Para M. dos Santos Gwambe teria visto a política uma espécie de empresa
que lhe permitiria a viver e não tinha uma perspectiva mais profunda da
actividade política[lxxviii].
Adelino Gwambe era jovem, tinha, provavelmente, segundo os seus documentos,
19 anos quando o partido foi formado. Antes da formação do partido, parecia
um "homem com complexo de igualdade"[lxxix]. Em 1962 aparentemente já tinha
passado da fase solidária de alianças horizontais para uma de autoridade
vertical. Não tinha experiência em confrontações directas e negociações de
posições e assim nem participou em 25 de Junho de 1962 na reunião que
elegeu uma direcçaõ provisória para a Frelimo nem no Primeiro Congresso em
25 de Setembro, no qual E. Mondlane é confirmado no cargo. Gwambe tinha uma
visão de unidade nacional de Moçmbique e das mudanças em África, da luta e
de contactos internacionais. As suas capacidades de gestão eram no entanto
fracas, gastando a sua energia em viagens e discursos. Conhecia algumas
técnicas e manobras necessárias para dirigir pequenos núcleos de radicais
com slogans políticos mobilisadores, "mostrando atitudes
democráticas"[lxxx], manteve-se informado através de leituras, contava até
certo com a capacidade de trabalho e lealdade do seu comité central que
executava muitas tarefas, mas na prática não apoiava incondicionalmente a
linha racista de Gwambe[lxxxi]. Faltaram a Gwambe em 1962 aparentemente
capacidades de diálogo com a base, a capacidade de irradiar solidariedade,
uma gama de soluções pragmáticas quando lidava com grupos maiores com
problemas sérios, como os talvez entre e cem e duzentos militantes
moçambicanos que em Março de 1962 estavam em Dar-es-Salaam. Talvez se
encontrasse na defensiva devido ao seu baixo nivel de ensino formal ou
falta de recursos materiais. Preferiu calar-se e voltar a carga depois.
Parece que sob a plataforma da igualdade estabeleceu um regime ditatorial
com recursos limitados e cada vez mais excluídos.
A aderência de Mahluza ao projecto de Mondlane que fazia parte do Comité
central e de militantes como Mabunda e Gumane à Frelimo liderada por
Mondlane devem ter sido um choque para Gwambe. Só Mahlayeye prestou apoio
incondicional.
Esse facto devem tê-lo levado a fundar a fundar a FUNIPAMO, que se
transformará pouco depois em UDENAMO MONOMOTAPA, só com C. Mahlayeye e
alguns outros sem passado nas estruturas da UDENAMO e mais tarde a afastar-
se do COREMO, quando este numa primeira conferência não o elege para a
presidência, mas apenas para o lugar de Secretário de Assuntos
Sociais[lxxxii]. J. Chissano concluiu:
"Gwambe, onde quer que se encontrasse queria forçosamente ser presidente.
Assim, ele conseguiu manobrar a ponto de destronar o Gumane e tomar a
Presidência do COREMO. Mas, foi sol de pouca dura…"[lxxxiii]

III.3 Ocupações profissionais e origens sociais dos fundadores e dirigentes
dos partidos.
Mateus (1999) iniciou a discussão das origens sociais dos fundadores,
focalizando as suas ligações a experiências urbanas. Mas nota-se que tanto
Calvino Mahlayeye como Fanuel Guideone Mahluza e mais tarde Samora Machel
eram filhos de machambeiros. A machamba do pai produzia alguns rendimentos
que ajudam a escolarização do filho, permitem também sair do ciclo do
trabalho migratório e as frustrações sociais e políticas do sistema
português. Dão talvez também alguma experiência de direcção e cordenação de
um processo de produção.
Alguns, como Gwambe e Gumane, C. Mahlayeye que trabalhou como empregado num
café, têm também uma experiência de trabalho ligado a pequenas actividades
empresariais. Actividades sindicais talvez lhes estivessem menos
familiares, embora haja algumas informações que Gwambe tivesse dirigido uma
pequena greve em Moçambique. Todos tiveram a experiência de famílias
cristãs que fizeram certos cortes temporários ou permanentes com o passado
africano, p.e. a poligamia.
Mas conhecimento e ligações a àrea de machambeiro e actividades
empresariais não parecem ser os principais motivos de acção. Os filhos de
machambeiros e muitos outros se encontram frustrados na sua carreira
profissional pelo regime político e estrutura de discriminação e
desqualificação social que coloca o negro, mesmo o assimilado, numa
categoria social diferente do estrato dominante branco. De outro lado eles
aprendem através dos jornais, radios e literatura que o mundo está a mudar,
que os dias do colonialismo em África são contados. Alguns como U. Simango
devem ter tido alguma inspiração a partir dos protestos na Machanga em
1952[lxxxiv] ou mesmo resistência primária.
Mondlane, nascido ca. 1920, é filho de um chefe tradicional da zona ao
norte de Manjacaze, mas de um chefe relativamente pobre, numa família em
que tinha havido muitas mortes por tuberculose e o trabalho migratório era
importante, havendo pouco gado, talvez como resultado do combate ao East
Coast Fever de 1909 e da trajectória da história de doenças na sua
familia. É filho de pais analfabetos, mas as suas irmãs mais velhas já
tiveram visões de um futuro diferente e assim chegou a fazer um caminho nas
instituições de educação das igrejas protestantes, especialmente na Missão
Suiça. Na sociedade tradicional é filho de chefe. Mas os filhos dos chefes
participaram na altura no trabalho migratório, so mais tarde alguns fizeram
valer a sua pertença de classe.
Em 1961/2 Mondlane é que tem a maior rodagem em organismos ligados a
igrejas africanas e missões, organisações de estudantes, sindicatos,
organismos internacionais, universidades etc.. Anna Maria Gentili[lxxxv]
vê-o como "catalizador" do movimento e grupos nacionalistas e talvez menos
como arquitecto. Excepto em algumas fases críticas, parece ter pautado por
uma metodologia de consultas antes de tomar decisões. Mas haverá também
aqueles que se sentem excluídos, ultrapassados por decisões que consideram
baseados em critérios de construção de um poder regionalista, favorecendo-
os do sul[lxxxvi].
Alguns que aderiam a actividades políticas já tinham sido de certa maneira
"patrões" locais.
Lázaro Nkavandame, quando era contactado para se juntar a Frelimo em 1963,
tinha a sua disposição um tractor, uma motorizada, salão de chá, produção
da sua machamba no armazem[lxxxvii].
Baltasar Chagonga era enfermeiro que provavelmente trabalhou em comunidades
relativamente pequenas, aonde o enfermeiro era uma autoridade importante,
geralmente respeitada, que lidava com muitas pessoas, e também com elites
locais.
Falta caracterizar ainda outros membros dos CCs. Sobre Marcelino dos
Santos e a sua carreira desde estudante, filho de um "operário de 2a"
oriundo do meio misto peri-urbano de madeira e zinco para mundo
disciplinado do Partido comunista existem bastantes dados. Mesmo a base
económica do pai num emprego no caminho de ferro e a convicção que é
preciso estudar para ter uma sólida base profissional é bastante
típico[lxxxviii].
Filipe Samuel Magaia, não obstante o seu nome, que veio de um pai
adoptivo, teria sido filho de um casamento de mãe sena e pai chuabo e por
isso considerado por alguns mais favorável ao norte[lxxxix]. Representava
um grupo de negros evoluidos e dava-se bem com os do sul, onde tinha
residido e obtido formação. O facto de ter optado com alguns outros por um
curso militar de quartel general na China, depois do primeiro curso na
Argélia, considerado menos bem sucedido, separava-o do grosso dos
dirigentes das forças de libertação. O curso na China, que frequentou com
Candido Mondlane e outros era adequado talvez tendo em conta a sua
experiência anterior de alferes do exercito português. Mas separava-o de
outros, que como Samora Machel, Alberto Chipande e outros tinham treinado
na Argélia no segundo curso.
David Mabunda, tendo muito tempo vivido na África do Sul, expressava-se de
preferecia em inglês, não parece ter tido prática profissional, ao
contrário de Paulo Gumane, que tinha sido professor primário em Moçambique
e empregado comercial na África do Sul.[xc] Jaime Rivaz Sigauke parece ter
ganho o seu sustento como motorista na Federação de Rodésia e
Niassalândia[xci]. Neste tempo a carta de motorista exigia uma certa
escolarização. Segundo informações obtidas em 1969 de Anibal Chilengue,
quando já residia na Alemanha, ele tinha familiares residentes em
Chamanculo em Lourenço Marques que trabalharam nos Caminhos de Ferro.
Conclui-se talvez que muitos dos que ficaram nas funções centrais no tempo
da FRELIMO tinham frequentado a escola secundária e um nível que lhes teria
permitido ingressar numa universidade, um desenvolvimento desde os tempos
da UDENAMO. É também claro que os dirigentes não são um grupo
exclusivamente urbano, pelo menos os seus laços e origens e experiências
sociais não estão lá. Uma das análises apresentadas até agora parece ser
bastante estreitas neste sentido[xcii].
Numa entrevista que discutia a posição da política cultural da Frelimo em
1975-6 em relação a elementos de música ligeira, Luis Bernardo Honwana
teria opinado em 2004 que a FRELIMO tinha então uma base essencialmente
rural.[xciii]. A maior parte dos dirigentes e militantes da UDENAMO
tiveram experiência no trabalho migratório na África do Sul e Zimbabwe,
enquanto muitos dos quadros da Frelimo em 1964 têm experiências no sector
moderno e mesmo no serviço público da colónia portuguesa de Moçambique.
No sector público os enfermeiros e talvez menos os professores do ensino
rudimentar tinham um grande prestígio. Baltasar Chagonga, fundador da UNAMI
e um grande número de quadros da FRELIMO haviam de pertencer a esse grupo
profissional. Há também indícios que Leo Milas procurava cerca de Março
1963 entre os refugiados moçambicanos perto do Rovuma pessoas com o curso
de professor para futuros treinos, encontrando assim Alberto Chipande e
Raimundo Pachinuapa.
Isso leva-nos à temâtica da próxima secção:

III.4 O impacto da escola: O meio de comunicação e o papel da educação
formal, formas de gestão
A formação escolar secundária e superior e o conhecimento do inglês eram
dois factores essenciais na liderança e contactos internacionais dos
partidos. Algum francês também podia ser útil. O português era a língua das
reuniões internas. Foi nessa língua que Mondlane se dirigiu àqueles que iam
aos treinos e inciar a luta armada. Isto marginalizou moçambicanos nascidos
e crescidos no exterior como Mmole e camponeses a trabalhadores que não
dominaram o português.
Além da formação escolar a abertura para com elementos menos
beneficiados, ausência de orgulho e exclusão era uma atitude necessária
para criar uma base. Para alargar esta base a experiência de gestão e
acesso a recursos como fundos para escolas e bolsas, financiamentos de
partidos eram também muito importante.
III.5 O momento decisivo em 1962 e o jogo de alianças.
O momento decisivo na constituição do partido Frelimo parece ter sido em
Abril ou Maio de 1962, aquando da consulta da Comissão das Nações Unidas.
Há uma mobilização de militantes que viviam mais ou menos frustrados,
segundo Munguambe 2007, no campo de Mungulane. Embora que o nome do partido
tenha sido encontrado e decidido no Ghana, no início de Junho, a força
parece ter estado em Dar-es-Salaam e a presença de Mondlane em Junho faz
com que o apoio local se tenha mantido.
Devido ao facto que Ghana tinha financiado a UDENAMO (com ajudas do Marroco
via Marcelino dos Santos), com a marginalização de Gwambe ajudas tinham de
chegar do Cairo, como em Setembro de 1962, mas com o enfraquecimento os
laços com Cairo, tinham de vir de outras fontes.

III.6 A luta política e as mulheres
As primeiras mulheres que tiveram algum protagonismo na política foram
Madesta (Modesta?) Yussuf, de 21 anos que foi uma das dirigentes do
protesto em Mueda[xciv] em 1960 e Priscilla Gumane. P. Gumane era talvez o
primeiro membro feminino da UDENAMO que sabia exprimir-se em inglês e
queria envolver-se na política. Celina Timóteo Simango, a esposa de Uria
Simango, parece ter exercido algumas actividades da FRELIMO e da sua Liga
Feminina e o seu retraimento veio talvez do facto de querer evitar uma
situação tensa. Eduardo Mondlane também trouxe a esposa, que se envolveu no
trabalho político e técnico e financiamento de instituições necessárias.
Para mulheres a formação académica era uma necessidade se quisessem
intervir nas estruturas centrais e internacionais. Josina Machel também
tinha educação secundária.
Ao nivel local em Cabo Delgado no período 1965-67 a luta dependerá do
engajamento de muitas mulheres, novas, mas também outras na idade das mães
dos guerrilheiros, que se engajam em muitas tarefas, desde transportes,
cozinha e alimentação, agricultura, etc. Na memória social do Niassa falava-
se em 2000 da função de Comités[xcv]. Raimundo Pachinuapa lembrou em 2004
que o engajamento espontâneo de muitas meninas e jovens mulheres ao lado
dos guerrilheiros era um dos factores que minou o controle dos anciãos e
chairman sobre a sociedade rural do Norte de Cabo Delgado (e talvez Niassa)
nos anos em volta de 1965-66.
Parece que a consolidação da posição foi em 1968 durante o segundo
Congresso da Matchedje[xcvi].

III.7.O papel de grupos regionais e raciais e alas da política
internacional em 1960-2
Na visão da maior parte dos Africanos na época na Tanganyika, Quénia, no
Congo, Nigéria, Rodésia do Sul etc. o nacionalismo mistura-se com a
exclusão dos antigos mandantes nas colónias. 1960 é o ano em que o PAC se
forma na África do Sul, rejeitando a cooperação multiracial do ANC[xcvii]
Alguns autores e testemunhos chamam isso também de racismo. [xcviii] A cór
da pele determina a nação a que pertencem os cidadãos[xcix]. O branco,
especialmente aquele associado aos colonos e defensor das actividades
coloniais, é visto como estranho em África e estrangeiro por excelência e
definição e muitas vezes objecto de violência. Muitos Makonde e Gwambe, bem
como elementos do governo Tanzaniano partilham esta posição[c] mas alguns
membros do CC e militantes da UDENAMO são mais tolerantes e aceitam p.e. em
fins de 1961 o médico Helder Martins e esposa como membros do seu movimento
de libertação. Para eles um branco e um mulato, que reconhece superiores
negros representantes da maioria pode ser aceite como militante ou mesmo
quadro, mas não o querem como lider[ci]. (Eles estenderam a mesma atitude a
grupos regionais. O Comité Central da UDENAMO, composto maioritáriamente
por gente do sul, aceita os Ndau como membros militantes e mesmo membros
minoritários do CC, mas não os quer como lideres, aparentemente com medo de
ficarem marginalisados. Segundo alguns observadores, o Comité Central da
FRELIMO everederá pelo mesmo caminho, especialmente no que toca às
cooptações). Em 1964-66 a questão da pertença étnica ou regional de
dirigentes dentro do movimento parece que continuava a gerar tensões[cii].

O próprio Nyerere assume na política interna por volta de 1961, 1970 e
pontualmente já no período anterior uma posição menos racialista, abrindo o
espaço nacional a alguns representantes de diversos grupos culturais e
sociais. Aceita alguns membros de minorias como deputados da TANU no
parlamento ou ministros, mas a posição não era partilhada em 1960-1970 por
muitos cidadãos e candidatos a lugares de chefia o que explicaria
parcialmente a expulsão dos brancos da Frelimo em 1968[ciii].
Nkrumah reconhecia brancos em governos da África Austral, desde que eles
reconhecessem os negros como cidadãos e tinha estendido a África do Sul
convites para as primeiras conferências organizadas por ele.
A formação de grupos regionais e étnicos e de grupos na base da experiência
social e profissional comum, indumentária e visual occorre de forma
espontânea; não necessita de actos voluntários ou conscientes. Os limites
dos grupos específicos são, porém, pelo menos parcialmente resultados de
observação e aprendizagem e experiência e não herdados biologicamente. É
nestes grupos que há comunicação espontânea, convívios, e sentimentos de
solidariedade e segurança, às vezes decepcionado por traições. A utilização
destes grupos pelos políticos é um acto de certa maneira fruto de
observação, de reflexão e realismo e pode ser menos espontânea, da mesma
maneira como as alianças feitos entre diferentes grupos e ultrapassando os
limites do grupos é muitas vezes resultado de reflexões e ensaios. As
reserva da base em relação a certos candidatos a dirigentes indica talvez
certos complexos de inferioridade e o desenvolvimento de um "instinto" de
defesa face a grupos mais occidentalizados como os "brancos" do sul. A
maneira como os Makonde olharam os "landins" do sul, os "assimilados" não
só do sul era talvez um elemento de defesa contra uma dominação por
estranhos[civ]. Mas em 1963 os elementos Maconde educados que se refugiam
na Tanzania cerca de Fevreiro rápidamente descobrem uma experiencia comum
com os do sul e o seu encontro com Samora Machel pouco depois estabelece
uma aliança duradoura.[cv]
De notar que na realidade as divergências de 1962-3 opunham geralmente
pessoas do mesmo grupo regional um a outro, e não eram sobre esses grupos
regionais. Eram divergências sobre liderança num espaço comum, que era
Moçambique.
O tipo de polarização entre brancos e africanos com hostilidade aos
mulatos, rejeição da assimilação é em parte explicavel em termos de um
modelo de grupos e estruturas com valores (ideologias) opostas delineado
pelo sociólogo Lloyd E. Ohlin em 1956. Comparando a situação colonial ao
sistema prisonal descrito por Ohlin, notamos que os lideres dos presos
opostos à estrutura administrativa prisional têm de rejeitar toda a
estrutura oficial imposta e os valores que ela representa. Eliminam pontos
comuns, impõem uma rigorosa disciplina. Quem quer sobreviver como
prisoneiro tem de orientar-se pelo comportamento do grupo de referência
mais radical cortando laços e pontes[cvi]. Mas a luta de libertação
conciente era mais do que uma confrontação numa situação de captiveiro e
ultrapassava às vezes a oposição total. Era uma preparação para o futuro e
ali havia espaço para outros elementos leais, o que permitiria uma certa
diversidade. A polarização de grupos na fase inicial, violência contra
individuos suspeitos de contactos com o outro lado é no entanto uma
experiência e tendência sociológica e etológica comum, um comportamento
territorial espontâneo e não uma acto totalmente controlado pelo raciocínio
dos actores. Daí que a violência durante a definição de um novo domínio
também parece ser uma certa constante.
Ao nivel da comunicação entre indivíduos civís nos pequenos partidos o seu
relacionamento com o mundo "imperialista", com a igreja católica etc., eram
considerados a pedra de toque para distinguir o verdadeiro nacionalista e
revolucionário.

III.8 A imagem da fusão dos Partidos
As versões mais populares em Moçambique salientam o papel de Eduardo
Mondlane, Julius Nyerere e partem de uma unificação completa dos movimentos
ou partidos em 1962[cvii]. ou apresentam mesmo Mondlane como
fundador.[cviii] Numa entrevista dada em 1968, Simango identifica-se como
presidente do Comité de fusão em Maio de 1962[cix]. Parece que realmente
participou em reuniões que em 24 de Maio resultaram, na ausência de Gwambe,
num esboço de uma declaração[cx]. Fica-se com a impressão que algumas
fontes dentro da própria Frelimo não conheciam ou reconheciam, já por volta
de 1965-6, o processo e a posição dos homens envolvidos por volta de 1960-
2. Em 1969 Uria Simango é apresentado no livro "Lutar por Moçambique" de E.
Mondlane como "chefe da Udenamo" e este partido nacionalista teria sido
fundado em Salisbury [cxi]Isso mostra até que ponto já em 1968-9 era
desconhecida a estrutura oficial de um partido que até tinha editado um
Boletim, tinha sido notado por autoridades coloniais portuguesas e dirigido
petições às Nações Unidas, p.e.sobre o massacre de Mueda. Simango era um
militante importante da UDENAMO e teria participado [em Abril 1962?] com
Paulo José Gumane num terceiro encontro infrutífero com a MANU sobre a
unificação dos partidos, em Dar-es-Salaam Tinha trazido muitos
militantes[cxii], mas uma análise das funções oficiais dentro da UDENAMO
mostra que Simango não ocupou nenhuma posição na cúpola da UDENAMO. Não foi
convidado para Winneba aonde Mondlane também não estava presente. Mas de
facto mais a Portuguese East Africa Association da Rodésia do Sul do que a
própria UDENAMO entraram na Frelimo em 1962. Depois da independência de
Moçambique, manuais que falaram da luta de libertação, destavam o papel de
Eduardo Mondlane[cxiii].
Segundo investigações de A.D. Zengazenga o papel de Nkrumah na
unificação foi pela primeira vez publicado na revista "A luta Continua" da
Renamo em 1982 num texto contendo uma entrevista com Fanuel Mahluza.[cxiv]
Zengazenga diverge no entanto muito do testemunho de Mahluza referindo-se
a uma maior intervenção de Mondlane nos preparativos em Dar-es-Salaam em
1962, que também é a linha de interpretação de J. Munguambe (2007)[cxv].
O plano de Gwambe, Calvino Mahlayeye, M. Mmole quando se negociou a
fusão dos Partidos em Winneba era provávelmente que Gwambe e Mmole
dividiriam os postos de liderança, ficando Gwambe possivelmente como
presidente, devido ao apoio que teve em Ghana, e que os membros educados
que tinham chegado podiam servir de quadros e que os numerosos membros e
clientes da MANU forneceriam a massa crítica para começar a luta armada.
Mas Gwambe já não tinha uma base entre os militantes em Dar-es-Salaam e
cometeu o erro de estar muito tempo ausente, em parte porque as autoridades
da Tanzania o tinham designado pessoa não grata, e talvez, para não ser
exposto a conflitos e não consolidou a sua base com acções que mostraram a
sua solidariedade, e não entrou em alianças como novas forças.
Além disso, como já aludímos, a figura de Gwambe não parece ter sido de
agrado de Nyerere que já conhecia Mondlane e esteve em contacto com ele
talvez já em Abril -Maio de 1962, portanto antes de Junho de 1962. Também
não entusiasmava muitos membros da TANU.
Quando Gwambe chega em Dar-es-Salaam em Junho de 1962 Eduardo Mondlane já
lá tinha estado desde o dia 7 de Junho e estabelecido muitos contactos e
grangeado simpatias. A eleição de Mondlane era um autêntico golpe anunciado
pela onda de simpatia bem visível antes. Eclipsam-se as direcções da
UDENAMO e MANU para os quais (com excepção de Mmole) nem lugares
honoríficos ficam. Os novos lideres também não tinham nenhuma contemplação
e proposta institucional para incorporar os líderes "históricos" que ficam
simplesmente fora.
Para contrariar os efeitos do vendaval que tinha vindo com Mondlane e
abalado as estruturas antigas Gwambe e Mmole da MANU tentaram negociar uma
união entre os dois partidos na base de igualdade[cxvi]. Não teve efeito
real e em Setembro cerca de 80 membros ou "delegados" consolidam as
estruturas que permitem depois a aderência em massa de candidatos à nova
FRELIMO.
Para Priscilla Gumane o erro principal de Mondlane teria sido de ter
aceite Leo Milas e tê-lo deixado interferir na direcção da FRELIMO em fins
de 1962 e início d 1963. Milas teria hostilizado muitos dos líderes
históricos[cxvii]. É possivel que Milas, além de contar com a confiança de
Mondlane até Agosto de 1964, controlasse fundos e tinha por isso bastante
poder mas a agressão física a ele carece ainda de explicação[cxviii]. É
ainda possivel que Milas era visto pelo grupo que tinha tido contactos com
o PAC como um espião da CIA[cxix] e isto para políticos com tradições de
esquerda devia ser um pecado mortal.
Mondlane chegou a 9 de Março de 1963 em Dar-es-Salaam e ouviu histórias
sobre a traição de Mabunda e outros.[cxx] Participa também na conferência
que funda a OUA onde tem de confrontar a propaganda de Paulo Gumane.[cxxi]
Consegue repescar um ou outro membro da UDENAMO e FRELIMO que tinha sido
expulso e integrar um antigo membro do CC de Gwambe, Jaime Rivaz
Sigauke[cxxii], mas há uma ruptura definitiva com um certo número de
antigos quadros e membros que eventualmente iriam formar o Coremo ou sair
da política como Mabunda.

III.9 A figura do vice-presidente
Entre as democracias occidentais os E.U.A. destacam-se pela posição de um
vice-presidente escolhido pelo candidato a presidente antes das eleições.
Alguns estados Africanos como p.e. o Quenia e a Tanzania conheciam também
vice-presidentes.
Hoje a FRELIMO não conhece vice-presidente, nem o Estado Moçambicano. Na
Frelimo o vice-presidente tem uma história própria. Uria Simango passou no
primeiro e segundo congressos da FRELIMO de candidato a presidência
derrotado por uma pequena (ou grande margem) a vice-presidente. É possível
que isso em 1962-3 ainda não constituía nenhum problema, porque tanto
Mondlane como Simango estavam unidos contra Gwambe e queriam um
representação regional. Simango tinha campo de actuação e era leal. A
revolta contra Mondlane parece ter vindo de outros. Mas na medida em que o
tempo passa e aparecem descontentes com o processo da luta, se consolida
uma crítica interna e tarda o segundo Congresso, Simango passou novamente
de vice-presidente a candidato à presidência. Ao mesmo tempo não quer ser
excluido dos negócios dentro da Frelimo. Com Mondlane e pessoas
interessados na sua continuidade passa-se o mesmo. Isso é uma possível
interpretação para as clivagens e ambiente de desconfiança que foram
observados por H. Martins e outros ca. de 1966.
Para eliminar estas contradições estruturais a FRELIMO eliminou
gradualmente estas figuras de vice-presidente.

III.10 Observações metodologicas
Este paper dependia na sua estruturação inicial muito dos depoimentos de
uma pessoa, Fanuel Mahluza, que tanto em relação à Udenamo como Frelimo
teve o papel de historiador, mas cujo depoimento pode ser cruzado com dados
contemporâneos e outras fontes orais independentes do núcleo de exilados de
Nairobi, aonde talvez parte foi elaborado e que ja devem ter cruzado dados.
A consistência do depoimento de Mahluza é fruto de muitas discussões
anteriores provavelmente no seio de emigrantes dissidentes da Frelimo em
Nairobi, Munich e outros lugares entre ca. 1977 e 1988. Os dez anos da
existência do Coremo 1964 a 1974 não constituíam na memória de Mahluza uma
história sistemática que podesse ser narrada cronologicamente e com coesão.
Estava ainda na fase de uma cadeia de memórias, onde predominavam as
memórias traumáticas de crise e de definição de identidade. O ponto fraco
do depoimento era, que para alguns momentos como por exemplo o aparecimento
de U. Simango em Dar-es-Salaam, o conflito entre Milas e Mabunda etc.
faltavam datas. Assim, antes de ter a disposição a biografia publicada por
Ncomo, datava-se a chegada em Dar-es-Salaam à segunda metade de 1961 e não
em 7 de de Abril de 1962, como parece ter sido na realidade[cxxiii]. Com a
nova data os acontecimentos ligados à unificação assumem uma outra
dinâmica.
No que toca às fontes, de salientar o facto de muitos, mas não todos os
protagonistas, ou desconhecem ou menosprezam acontecimentos que se deram
antes da sua intervenção ou fora do seu raio de actividade. Assim Mahluza
não se interessou pelos antecedentes da MANU antes do seu aparecimento em
Dar-es Salaam, ou talvez os suprimiu inconscientemente no seu discurso.
Eduardo Mondlane e Uria Simango eliminam acção e dirigentes formais da
UDENAMO. Todos apresentarem imagens que marginalizam intervenientes que os
antecederam ou concorriam. Mantêm um silêncio sobre acontecimentos
infelizes que involviam pessoas que consideraram por algum tempo como
amigos[cxxiv]. Para eliminar esta perspectiva limitante é necessário
procurar fontes fora do seu raio de acção e de submetê-los em conjunto a
uma análise crítica.

IV.Conclusões, hipóteses e sobre a necessidade de recolha de fontes sobre
o nacionalismo e luta de libertação
IV.1 Correcção de visões
A visão que em 1962 os três movimentos nacionalistas organizados se uniram
sob direcção de Eduardo Mondlane é apenas uma leitura parcial dos
acontecimentos reflectindo a visão do próprio Mondlane e a linguagem da
época. Havia também aspectos de uma revolta da base e de alguns potenciais
lideres contra a direcção de UDENAMO cujo Comité Central em parte nem se
apresentou às eleições da nova direcção. O grupo de militantes até agora
desprovido de enquadramento escolhe E. Mondlane, que se apresenta aberto ao
diálogo com a base para o seu leader. Eduardo Mondlane une militantes e
alguns antigos dirigentes, mas não as estruturas superiores dos três
partidos existentes. Mondlane reteve talvez posteriormente o discurso de
fusão dos partidos porque a reunião de Junho começou de facto com um
inventário dos bens e apenas com membros dos partidos em questão. Partindo
de um projecto pessoal que concorria com o de Gwambe, Mondlane dava menos
peso às instituições do aos militantes importantes e talvez nem conhecia
bem o passado. Por isso testemunhos de todos os actores, incluindo também o
do próprio Eduardo Mondlane, tem de ser sujeitos à crítica, comparando as
suas informações com outras contidas em documentos e entrevistas. Isso não
é novo, já vinha sendo feito ou tinha sido programado, mas não tinha ainda
atingido grande abrangência e pormenores[cxxv].
A figura de Eduardo Mondlane foi decisiva para uma integração de maior
número de nacionalistas e à sua organisação. Esta figura e os seus feitos
pesam, no entanto, também, sobre o mito de origem da Frelimo, eliminando de
alguns escritos das décadas sessenta e setenta a história real da UDENAMO e
parte da prehistória e dificuldades da FRELIMO .
A história da UDENAMO e desenvolvimentos subsequentes da dissidência são
importantes para a compreensão do multipartidarismo em Moçambique,
pertencem na continuidade social e física, e também como mito, à paisagem
multipartidária actual.
Com Mondlane a miragem de um partido nacional capaz de dirigir uma luta
ampla se transformou em realidade e um grupo com poucas dezenas de membros
activos, que tinha conseguido atrair, mas não definitivamente integrar, o
protagonismo cultural e organisacional dos mulatos, que estava bloqueado
pela rivalidade surda entre Gwambe e Simango e outros membros competentes,
pela resistência do aparelho político da Tanzania ao afilhado de Nkrumah e
por problemas de financiamento transforma-se num partido de massas
aceitavel pelo o governo de Tanganyika. Mobiliza e enquadra,[cxxvi]
consegue financiamentos mais amplos de fontes diversas e eventualmente
estabelece instituições de combate, educação e saude, bem como algumas
funções económicas nas zona libertadas.
Assim, mesmo se em Winneba no Ghana surgiram o nome e passos decisivos para
a formação da FRELIMO, foi de facto em Dar es Salaam que foi constituída e
aonde haviam de convergir mais militantes.
Mas este processo de formação teve nos finais de 1962 e início de 1963
ainda outros percalços de lutas pelo poder, exclusão de membros e
militantes históricos de partidos como Paulo Gumane, Mabunda e outros,
solidarização de outros com amigos aparentemente injustamente excluídos.
Nessa altura nem todos podem ter estado envolvidos em sonegação de bens dos
partidos unificados, como aventavam alguns comentadores. É uma linha
dirigida primeiro contra Gwambe e Mahlaieie e talvez mais tarde contra
Gumane e Mabunda. Intervieram também, na étapa seguinte, as máquinas
políticas de líderes africanos progressistas como Nkrumah, Nasser, Obote e
Kapwepwe, com as quais os excluídos mantiveram contactos. Assim se explica
o resurgimento da UDENAMO. Ao lado da orientação nacionalista e luta pelo
governo da maioria que unia todos, estavam sempre presentes lealdades e
susceptibilidades pessoais, e a convicção, que lideres iam recrutar pessoas
da sua região como colaboradores mais estreitos e que por isso lideres
deviam vir de certas regiões para não excluir certos grupos regionais já na
liderança. As ambições e incompatibilidades pessoais, mais ou menos grandes
ou disfarçadas, faziam também parte do quadro. Especialmente pessoas que
tinham sido gravemente insultados ou ameaçados na sua existência pelo
adversário não perdoaram.[cxxvii]

IV.2 Uma visão estrutural
Um movimento de libertação é uma estrutura entre partido (que exige
disciplina política e aceitação da linha escolhida) e um exercito, com
disciplina militar e aceitação da voz de comando. Tendo em vista a
discussão recente sobre o neo-patrimonialismo podia-se perguntar se as
máquinas partidárias que estavam a nascer não tiveram já nesta altura os
elementos constituintes de um sistema clientelista baseado na fidelidade ao
lider, confundindo-se dissensão com o lider com o desvio do objectivo
político. É no entanto claro que outros elementos do neo-patrimonialismo,
como a formação de classes exploradoras do estado e do sistema político
faltam ainda. Na própria recusa a depoimentos que podessem facilitar a
investigação histórica constatada por Ncomo e confirmada de alguma maneira
por outros nota-se um certo indício de corporativização, com criação de
hierarquias internas.[cxxviii] A socialização, a formação comum, uma visão
semelhante da luta política e do que é correcto criaram lealdades e
divisões mais súbtis do que a indicação origem urbana, rural, pertença
regional.
IV.3 Necessidades para o futuro

O esboço aqui presentado teria necessitado de mais trabalho, entre outros
mais entrevistas[cxxix] a lideres históricos e participantes como M. dos
Santos e outros, a família de Adelino Gwambe em Mapinhane, a sua mulher
ugandesa, etc., contactos com testemunos em vários pontos da Tanzania,
Cairo, Rabat, Ghana, informação sobre o financiamento, entrevistas a
membros que ainda estão nestes paises, etc. para preencher lacunas como a
história da MAA e MANU, bem como procura de documentos escritos etc. Um ou
outro ponto foi parcialmente confirmado por J. Mungambe em 2007. Mas é
necessário recolher e consultar mais fontes, tanto orais como escritas. O
trabalho sera certamente menos complexo do que um sobre a história da
Frelimo entre 1963 e 1974, com todas as suas facetas de organisação na
Tanganyika/Tanzania e em Moçambique. Se para a UDENAMO talvez uma dezena de
testemunhos orais preparados a colaborar podem informar sobre os contornos
principais do Partido, da sua liderança e dos contextos em que nasceu, para
a Frelimo devem ser certamente mais do que uma centena, embora que um
enfoque a estruturas centrais poderia talvez alcançar resultados aceitáveis
já com 20 ou 25, se estiveram preparados a colaborar, sendo desses talvez
alguns mais centrais do que outros.
A preparação e condução de entrevistas envolve certos custos em termos de
tempo para o entrevistador e o entrevistado e a transcrição e rectificação
de entrevistas. Por isso o número de entrevistas é um factor de custo. Mas
urge fazer alguma coisa e talvez unificar o esforço de muitos
historiadores. A morte de três destacadas figuras da luta armada no ano de
2001, Sebastião M. Mabote, Fernando Matavel, Oswaldo Assahel Tazama[cxxx],
dos quais pelo menos um, Tazama, era também em vida um óptimo narrador,
mostra a necessidade de se proceder já a uma ampla recolha de fontes orais
sobre a luta armada. Embora que a Oficina de História de Aquino de Bragança
em 1984-6 possa ser considerado um precursor de uma abordagem científica,
muito ficou por fazer. Em 1995-2003 a sociedade civil achava que pode
escolher os seus próprios herois e não apenas aqueles presentados como tal.
Como tal a cultura de silêncio que é uma característica de quase todos os
espaços políticos e sociais ciosos do seu prestígio teria de ser atenuada.
Mas a continuidade do domínio da FRELIMO e o alinhamento de muitas elites
locais atrás de forças capazes de garantir uma governação eficiente resulta
também num menor desejo de expor-se com perguntas incómodas para alguns ou
mesmo desnecessárias, quando há muitos assuntos por investigar. O próprio
modelo multipartidário de alternância é posto em causa, talvez sem que o
desenvolvimento económico e investimento sofra.
História académica trata também processos sociais, económicos e técnicos,
capta momentos e constelações de forças, necessitando uma multiplicidade de
testemunhos, também de gente humilde, ultrapassada pelo processo de
promoções hierarquicas e sociais. Um e outro uso e interpretação de fontes
históricas não se excluem mutuamente e por isso uma das actividades não
devia bloquear a outra. No presente momento de pluralidade política e certa
autonomia da investigação científica também o argumento de que a história e
compreensão dos vencidos podia dividir a nação não parece aceitavel porque
a aceitação do processo histórico e a discussão de opções que podem ser
revistas e retomadas faz parte do processo político de um povo soberano.
Por outro há muitos assuntos desde a fundação da Frelimo a "guerra dos 16
anos" que que encontram na polémica entre dois partidos e no partido na
governação e sectores radicais da sociedade civil e que por causa disso
podem ser considerados quentes e são vítimas de autocensura, praticamente
só acessíveis a partir de análises feitas no exterior.
Um dos autores (J.N.T.) continuou depois com as investigações no contexto
do Projecto de Hashim Mbita. Ganhou uma outra perspectiva histórica de
passos necessários de um movimento de libertação vitorioso em 1974
.
Bibliografia e fontes
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Lichinga
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Priscilla. Gumane apontamentos de G. Liesegang de entrevistas não gravadas
em 1989 e 1990 em Colónia, Alemanha.
Samuel Brito Simango entrevista 17-11-2001
AHM Entrevista com Filemone Nhancale [ Na transcrição parece faltar uma
parte da entrevista que se refere a formação teologica de pastores em
Rikatla.]
Entrevistas em 2003, A. Chipande, Aurelio Manave, entrevista de Marcelino
dos Santos por Alexandrino José e Simeão Ponguane 2004, e 6-7-2004 com
Marcelino dos Santos.
AHM Entrevistas em Sanga e Muembe 2002




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não publicado composto de memórias e colecção de textos , pouco organisado,
636pp, 27 fotos]
-----------------------
[i] Uma primeira versão deste artigo foi apresentada por um dos autores
(Liesegang) num seminário da Faculdade de Letras da UEM em Novembro de 2001
e teve uma boa aceitação. Infelizmente a revisão não foi concluída a tempo
para ser publicado na publicação correspondente. Alguns pontos beneficiavam
também de comentários de F. Ganhão, que já nos anos 70 tinha começado a
recolher fontes sobre a história da FRELIMO.
[ii] "Contestação da situação colonial" por D. Hedges e Arlindo Chilundo.
Cap. 5 da História de Moçambique III, escrita em 1988 mas publicado devido
a atrasos da revisão só em 1993, reeditado como vol. II em 1999.
[iii] "Micro-História" é um termo utilizado pelo historiador e cientista
social italiano Carlo Ginzburg antes de 1989 (cf. Freitas 1999: 21 e
Mendes 1997: 24). Esta micro-história parece estar relacionada com a
história das mentalidades da Escola das Annales e visar recuperar
estruturas básicas de uma sociedade através do estudo minucioso de figuras
da segunda linha ou mesmo "mediocres", reaccionárias, talvez considerando-
as como uma espécie de amostra de toda a sociedade.
[iv] As entrevistas de F.G. Mahluza foram feitas entre Agosto e Outubro de
2001 no AHM.
[v] Machambeiro é um termo moçambicano que designa um agricultor que produz
em larga escala para a venda do seu produto. Utiliza geralmente charruas.
Alguns autores tem utilizado termos como "pequena burguesia rural" ou
"kulaks" para definí-los como estrato social.
[vi] Mahluza era ligado pela família da mãe aos machambeiros de Xilembene e
a missão/igreja de Elija Chambal e Jona Nkambako.
[vii] Neves Tembe 1998: 302 (nota 77) constatou :" It is surprising how in
Eduardo Mondlane The Struggle for Mozambique (London 1969), there is no
single reference to the political activities of UDENAMO and other proto-
nationalist movements before the foundation of FRELIMO". Talvez com os
conhecimentos actuais o termo "proto.nacionalista" já não se justifica
neste contexto.
[viii] Martins 2001
[ix] Posteriormente(em Março Abril de 2003 e 2004) um dos autores, G.
Liesegang, teve ainda a possibilidade de assistir e participar, com António
Sopa, a entrevistas gravadas em vídeo com Alberto Chipande, Raimundo
Pachinuapa, Marcelino dos Santos e outros que tiveram como tema a vida de
Samora Machel. Já antes, entrevistas de Emmanuel Dionísio a antigos
combatentes no Niassa em Julho de 2002 tinham clarificado (e complicado)
alguns pontos com relação à MANU.
[x] A obra tem o impressum de 2003, mas foi só acabado em 2004 e lançado em
Julho de 2004.
[xi] O esboço foi construido principalmente com informações nas entrevistas
de F.G. Mahluza e cruzado com dados em publicações.
[xii] Mahluza 1998: 3: Algumas listas omitem Daniel Mahlayeye e Aníbal
Chilengue. A lista fornecida de Mahluza coincide melhor com documentos da
Udenamo (cf. Neves Tembe 1998 )
[xiii] Ver Neves Tembe 1998: 298
[xiv] Mahluza, Out. 2001
[xv] Bucuane 2000: 44 diz que foi em Janeiro
[xvi] Simango 17-11-01; Neves 1998
[xvii] Manghezi 1999: 210-11.
[xviii] Ibid., Mahluza, entrevistas citadas. Parece ter sido o curso
interdenominal dos anos 50 em que participararm Metodistas e Presbiterianos
de Moçambique, (cf. AHM entrevista com F. Nhancale). Não encontramos
informação sobre estudos nos EUA que alguns autores referem.
[xix] Chissano 2002
[xx] Neves Tembe 1998
[xxi] Bucuane 2000: 44, Mahluza
[xxii] História de Moçambique 2: 248
[xxiii] Depoimento de Marcelino dos Santos sobre contactos entre ele e
Amilcar Cabral, etc. 29 de Maio de 2003,
[xxiv] AHM, Entrevista de E. Dionísio com Henriques Tobias Fundi, Lichinga
16-7-2002; Colonialismo e Lutas de Libertação, mapa cronológico.
Zengazenga 1997: 467 diz que foi em 1958 em Mombasa.
[xxv] Manghezi 1999: 217
[xxvi] Martins 2001: 128
[xxvii] História de Moçambique 2: 246, Marcelino dos Santos (entrevista 6
de Junho 2004) confirma que a MANU existia no Quenia antes de 1962, e que
ele próprio teria sido entre aqueles que tinham aconselhado a mudança do
nome para MANU, porque não abrangia apenas Makonde, mas também Nyanja e
outros.
[xxviii] Quintinha 1973 tem algumas referências a organisações existentes
antes de 1961.
[xxix] Ver Bucuane 2000
[xxx] cf. História de Moçambique II: 214
[xxxi] cf. Martins 2001:128
[xxxii] Martins 2001:130
[xxxiii] Ncomo 2003: 87, citando documentos do Pafmesca, a indicação é
também apoiado por Mahluza.
[xxxiv] Bucuane 2000: 47
[xxxv] Parece que foi o vice-presidente Mahluza que apoiou estes contactos.
[xxxvi] Segundo Mahluza, que teve Filipe Samuel Magaia como informante
sobre as intenções de U. Simango, os do sul não queriam U. Simango, um
Ndau, como eventual Presidente. Parece que Simango mostrou claras ambições
de liderar a UDENAMO. Isso parece mostrar que nesta altura já se contava
com a eventualidade da substituição de Gwambe na liderança do movimento de
libertação. Segundo Bucuane (2000), que já não estava em Dar-es-Salaam o
convite veio de J. Nyerere. A Filipe Samuel Magaia também Zengazenga 1997:
445-6 atribui observações einda em 1966 sobre formações de grupos
regionais.
[xxxvii] Zengazenga 1997: 527/8, Chilcote 1972
[xxxviii] Mungwambe 1907 indica apenas Adelino Gwambe e Mathew Mmole como
participantes.
[xxxix] Ncomu 2003: 98
[xl] Manghezi 1999: 218
[xli] Manghezi 1999: 219
[xlii] Mahluza 2001
[xliii] Manghezi 1999: 219
[xliv] J.A. Chipande entrevista, 2003
[xlv] Martins 2001: 127
[xlvi] Parece que Mmole ainda persistiu no plano em inícios de 1963, cf.
depoimento A. Chipande.
[xlvii] data por confirmar, cf. Mahluza e Manghezi 1999:223,
[xlviii] Zengazenga (1997: 57 e passim) e Mahluza mencionam o nome de
Magaia com actividade da formação militar. Chissano 2002: 10 menciona
Mungwambe.
[xlix] Zengazenga 1997: 434-6. Segundo Mabunda e Gumane lançaram a ideia de
convocar um novo Congresso para substituir o Presidente. Isso não foi
confirmado por M. Dos Santos, que se lembrou de repetidos ataques contra
ele.
[l] Zengazenga 1997: 613
[li] Chissano 2002:12. Essa visão parece concordar com aquela de Marcelino
dos Santos que esteve nesta altura em Dar-es-Salaam.
[lii] F. Mahluza, M. dos Santos
[liii] M. dos Santos 6-6-2004
[liv] Zengazenga 1997: 432 e passim. Parece que Zengazenga, contrariamente
ao que afirma, era também entre os expulsos.
[lv] certamente com apoio de Milton Obote ou seus representantes, talvez
tendo também em conta que havia contactos com a UNIP da Rodésia do Norte,
que tinha estudantes e militantes em Uganda.
[lvi] A mulher de Mabunda era tanzaniana e tinha sido secretária no
escritório deo O. Kambona (Mahluza).
[lvii] A afirmação em Manghezi 1999: 225 que teriam ficado em Nairobi não
parece aceitavel se este telefonema teve lugar a partir de Cairo como
afirma Mahluza. Passaram talvez por Nairobi antes de instalarem-se em
Lusaka em 1963. (S. Brito Simango 17-11-01)
[lviii] M. dos Santos, 6-6-2004
[lix] Mahluza, Zengazenga 1997
[lx] Incluindo Candido Mondlane, cf. seu depoimento 2004 para a fundação
Samora Machel
[lxi] S.B. Simango, 17-11-2001
[lxii] Portugal obtem os nomes dos mandados para a Argélia provavelmente
das listas de passageiros quando fazem escala em Nairobi e os fez circular
nas administrações em Moçambique para identificar as origens dos
combatentes. (algumas listas destas foi encontradas em 1983 em Mopeia no
arquivo abandonado do Distrito).
[lxiii] Martins 2001: 138-9
[lxiv] Quintinha 197
[lxv] Zengazenga 1997 e Chissano 2002 tem opiniões ligeiramente diferentes.
[lxvi] Manghezi 1999: 215-216
[lxvii] Mondlane tinha desde 1961 influência numa organisação que concedia
bolsas e ainda tinha contactos com a organisação de apoio a refugiados das
Nações Unidas. Manghezi 1999: 215-6 e passim.
[lxviii] Zengazenga 1997
[lxix] Segundo Marcelino dos Santos 6/6/04, esta agenda de Simango tinha
ficado patente em 1968, mas mesmo assim Uria Simango foi reeleito no 2o
Congresso como vice-presidente para não desequilibrar da direcção do
movimento.
[lxx] Segundo Mahluza os membros da UPA que conheceu em 1961 falavam bem o
português (contrastando com os preconceitos que havia) e eram negros,
enquanto que os representantes do MPLA eram mulatos e considerados com
alguma suspeita por ele.
[lxxi] A PAFMECA, fundada em Setembro de 1958 em Mwanza (cf. Ki-Zerbo vol.
II: 390) foi transformada em PAFMECSA em 1961 quando o horizonte geográfico
das necessidades de libertação se alargou para a África do Sul (ANC, PAC).
[lxxii] Cruz e Silva 1986: 12
[lxxiii] Neves Tembe 1998: 302
[lxxiv] Martins 2001:
[lxxv] É possivel que 1941 era uma data escolhida para atrasar o início do
pagamento de impostos ou facilitar a formação escolar e que ja nasceu um ou
dois anos antes.
[lxxvi] Segundo S.B. Simango ele próprio era leal a Guambe, mas a sua
primeira lealdade era à revolução moçambicana. Isto teria sido a sua
posição ca. 1966.
[lxxvii] Entrevista não gravada com G. Liesegang, 1989
[lxxviii] E ntrevista 6-6-2004
[lxxix] Mahluza 1998: 3
[lxxx] Ponto salientado por Mahluza
[lxxxi] Martins 2001: 133
[lxxxii] Gwambe tentou depois formar um novo partido no Malawi, tendo
voltado a trabalhar como fotógrafo. Esteve na Beira no período de transição
e foi ali preso com Uria Simango e levado para Nachingwea.
[lxxxiii] Chissano 2002: 11
[lxxxiv] HM II, 1999: 205-7, talvez baseado num artigo em Le Monde
Diplomatique de Basil Davidson de 6 de Nov. de 1968 traduzido em
Colonialismo e Lutas de Libertação 1978: 217. Este protesto e a sua
repressão foram mencionados espontâneamente por S.B. Simango em 2001 como
inspiração para ele próprio.
[lxxxv] Gentili 1995: 293
[lxxxvi] Zengazenga 1997: 441 e passim
[lxxxvii] Por confirmar, assim na transcrição de uma entrevista em Lichinga
por Warren.
[lxxxviii] Um dos autores (G.L.) assistiu em 2003 a uma entrevista com
Marcelino dos Santos que abrangeu a Juventude e ia até 1960, e outra em
Julho de 2004 que cobriu alguns momentos posteriores. Outra feita por
Alexandrino José e S. Ponguane foi transmitida em 2004 pela TVM em Maio de
2004 não cobria em detalhe o período de Junho a Dezembro 1962.
[lxxxix] Zengazenga 1997: 616
[xc] Cf. Quintinha 1973 e Pr. Gumane
[xci] Mahluza ?
[xcii] Cabrita 2000
[xciii] Laranjeira 2005 (53) citando uma entrevista feita em 5-7-2004.
[xciv] Neves Tembe 1998: 296-7, citando uma petição da UDENAMO às Nações
Unidas de 2 de Outubro de 1961. Ela parece ter sido presa pelos Portugueses
e muitos esqueceram o seu nome mas a participação da mulheres não foi
eliminada da memória (cf. entrevista com A. Chipande).
[xcv] G. Liesegang, entrevistas com antigos combatentes (ainda não
reconhecidos) em Sanga. Gravações no AHM.
[xcvi] Raimundo Pachinuapa colocou no seu depoimento uma passagem
importante sobre as raizes do Destacamento Feminino. Ha ainda os estudos de
Isabel Casimiro, etc.
[xcvii] Cf. Obasanjo 1987: 51-2, 58, 68 sobre o Congo no início de 1961.
[xcviii] Entrevista com Fanuel Mahluza
[xcix] Segundo Mahluza Gwambe argumentava: "Se o racismo era bom para o
colonialismo não pode ser mau para mim".
[c] Ponto muitas vezes sublinhado por Mahluza.
[ci] Gwambe, algum tempo depois de ter aceite Marcelino dos Santos como
membro do CC, acusa o sem fundamentos de espia da PIDE. O CC discute o caso
e recusa a acusação como sem fundamento e se mantêm a presença de M. dos
Santos. Gwambe parece ter proferido na altura discursos sobre como seria se
Moçambique e eles iriam de ser governado por mulatos. Também Martins 2001,
Cabrita (em relação a Angola) se referem a esta problemâtica.
[cii] Martins 2001, Zengazenga 1997: 445-448
[ciii] V. a visão diferenciada em Martins 2001: 347-357.
[civ] Mesmo A. Bucuane parece ter sido marginalisado dentro da UDENAMO pelo
seu "complexo de superioridade", (cf. Mahluza, entrevistas), insistindo no
seu 'português de Camões e tratando os outros como analfabetas'.
[cv] Depoimentos de A. Chipande e R. Pachinuapa, Abril de 2003
[cvi] Ohlin 1956: 18,20 citado em Bredemeier e Stephenson 1965: 97-8
[cvii] Assim também no livro de História da 7a classe, Maputo .
[cviii] Domingo, 3 de Fevreiro de 2002, pp. 16-17, Eduardo Mondlane por ele
próprio (texto dos fins de 1965 ou início de 1966. Salienta contactos com
Nyerere (em 1961-2) antes da independência da Tanganyika e o seu próprio
papel.
[cix] Colonialismo e lutas de libertação 1978:218
[cx] Ncomo 2003: 87
[cxi] Mondlane 1995: p. 99
[cxii] Mahluza 1998: 13, cf. Neves 1998: 296, 301-302
[cxiii] P.E. História da Frelimo 1978: 5-6
[cxiv] Zengazenga 1997: 526
[cxv] Zengazenga 1997: 525-8 e seguintes
[cxvi] AAVV: 17-18
[cxvii] Duas entrevistas não gravadas com G. Liesegang 1989/ 90.
[cxviii] Na altura em que falou ainda não tinha sido confirmada a morte do
marido e de Simango e talvez por isso evitou falar no seu nome. É possível
que tinha tido contactos aceitáveis com a família Simango.
[cxix] A sua carreira posterior no Quénia permete formular a hipotese que
era um aventureiro que tomava a sério as suas fantasias de origem
moçambicano e que talvez não era espião nenhum.
[cxx] Manghezi 1999: 225
[cxxi] Manghezi 1999: 228
[cxxii] Marcelino dos Santos elogiu a capacidade intelectual de Sigauke em
entrevistas com TVM e Fundação Samora Machel em 2004. Para ele era o único
membro da UDENAMO com quem podia conversar e debater seriamente.
[cxxiii] Ncomo 2003: 81
[cxxiv] Mahhluza hesitou a referir alguns que tinham participado em
traições e não referiu o nome de Lourenço Matola, de cuja arma partiu a
bala que feriu F.S. Magaia. O nome aparece apenas em Zengazenga 1997: e
Ncomo 2003:
[cxxv] Cf. História de Moçambique II, Bragança e Depelchin 1986, Neves
Tembe 1998, também a tentativa de reconstituição de H. Martins 2001, etc.
[cxxvi] A UDENAMO deve ter tido pouco mais de 200 membros inscritos em um
ano e meio de existência, a FRELIMO já parece ter tido mais de mil em Março
de 1963, seis meses depois do seu primeiro congresso.
[cxxvii] M. dos Santos não perdoou a Gwambe, que o tinha acusado de Pide,
Mahluza não perdou a Santos a perseguição em Dar-es-Salaam e aderiu à nova
UDENAMO. Mondlane eliminou Gwambe da sua memória e não percebeu as reservas
de Nkrumah.
[cxxviii] Marcelino dos Santos, que assistiu em a apresentação do livro de
Helder Martins declarou que só em 2004, se sentia livre de escrever as
sujas memórias, porque já outros tinham começado a fazer investigações e
preparações.
[cxxix] Foi feito uma segunda entrevista com Marcelino dos Santos, no dia
6/6/04
[cxxx] Sobre S.M. Mabote sabemos alguma coisa sobre a sua participação
inicial na tese de T. Cruz e Silva, Tazama foi entrevistado por Ana
Mussanhane (Boene).
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