Dança Cigana: Do Flamenco ao Balé Clássico

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Saphyra Espaço de Dança Trabalho de Conclusão do Curso de Aperfeiçoamento em Dança Cigana Dança Cigana: Do Flamenco ao Balé Clássico

Ana Paula Camillo 31/07/2014

Índice Introdução Os Ciganos: Breve História Possíveis Origens Principais Grupos e Subgrupos Ciganos Alguns Costumes, Tradições e Curiosidades Santa Sara Os Ciganos e suas Danças Romanês Romênia Hungria Rússia Croácia Bálcãs Turquia Egito Índia Brasil Os Ciganos e a Dança da Espanha A Dança Flamenca Rumbas Tangos Os Ciganos nos Repertórios de Balé Clássico La Esmeralda Paquita Don Quixote Carmen A Técnica da Dança Cigana Conceito de Técnica Braços e Tipos de Movimentos Acessórios e Elementos Cênicos Criações Coreográficas Referências

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Introdução A dança sempre foi, sem exceção, uma das mais antigas formas de arte e expressão de qualquer cultura, refletindo suas características e valores. Naturalmente, para os ciganos, isso também é verdadeiro. Mesmo hoje muitas pessoas ainda se deixam levar pelo misticismo – a expressão “magia da dança cigana” é praticamente onipresente – desconsiderando os fatores históricos e antropológicos que definiram seus movimentos, seus ritmos, sua vestimenta e sua expressão. Sem falar da técnica, que apesar de não ser tão desenvolvida em danças étnicas e folclóricas, é essencial para quem se diz bailarino ou professor de dança cigana. O misticismo, apesar de presente na forma ritualística, deve ser estudado com cuidado e conhecimento das mesmas questões antropológicas e históricas, assim não se deixa espaço para interpretações errôneas e deturpação de uma cultura. Sendo assim, a dança cigana, na sua forma pura e simples, é a representação dos costumes, ideais, características, história, enfim, a cultura do povo cigano. Cultura essa riquíssima, deste povo nômade que absorveu essências dos lugares pelos quais passou, transmitindo-as para os mais longínquos lugares do planeta. Ela é uma forma de manifestação de todos os sentimentos dos ciganos, desde os mais corriqueiros até o sofrimento de todo o preconceito e perseguição durante a História. A dança cigana não é só um rodar de saias, ou um agitar de leque pensando em se “limpar” dos maus fluidos, tampouco é um balançar de fitas buscando “energização”. A dança cigana é a representação corpórea, rítmica e estética dos costumes e tradições de uma etnia, e quem não tiver conhecimento delas não dança a dança cigana.

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Os Ciganos: Breve História Possíveis Origens A história dos ciganos é baseada em suposições devido ao fato de serem um povo sem escrita, de tradição oral (ágrafa). Eles nunca deixaram um registro que pudesse explicar suas origens e costumes. A teoria mais aceita é a de que eles são originários da Índia, de onde teriam saído no século 11 d.C. quando o sultão persa Mahmoud Ghazni invadiu e dominou o norte do país. Na verdade, a palavra “cigano” – que em alguns lugares tem um valor pejorativo – designa diferentes povos espalhados pelo mundo, cada um com suas próprias crenças, costumes, rituais, etc. As suposições mais fundamentadas a respeito da origem desse povo vem da filologia (estudo da linguagem em fontes históricas escritas), que constatou semelhanças entre a línguas romani, pertencentes ao grupo Rom, o maior entre os ciganos, e línguas provenientes de povos indo-europeus, como o híndi, uma variação do sânscrito, utilizado no noroeste da Índia. Línguas Indo-Europeias: Românica Germânica Eslava Grega Céltica Báltica Armênia Albanesa Iraniana Índica Anatólica (extinta) Tocariana (extinta)

Figura 1: As regiões cujas línguas têm origem indo-europeia.

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Por volta de 1.500 anos a.C., um subgrupo dos indo-europeus originário das estepes da Ásia Central, os arianos, povoou o planalto iraniano, disseminando-se pela Índia, Pérsia, Suméria, Paquistão, Turquia e Urais, criando várias tribos nômades com características peculiares, como os sármatas, masságetas e rejputs, algumas com linhagem matriarcal e, de acordo com escavações recentes em sítios sármatas, foram descobertas tumbas do que se pode supor serem de guerreiras – dando assim mais crédito ao mito das amazonas.

Em roxo: Linhas das penetrações arianas. Em vermelho: Consolidação de reinos.

Figura 2: Invasões Arianas da Índia (1.500 a 250 a.C.)

Por volta de 451 a.C. solidificam na Índia costumes mais expressivos, como dedicação ao canto e música (e artes em geral), à fundição e ourivesaria e domesticação de animais.

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Uma versão alternativa afirma que os ciganos descendem dos caldeus (tribo que viveu na Mesopotâmia, no litoral do Golfo Pérsico) e foram dispersos porque não havia espaço para todos, tendo parte deles migrado para a Índia. Uma terceira versão relata que no ano 2.000 a.C. nômades arianos originários do sul da Rússia migram para a Índia, enquanto em 1.750 a.C. os arameus viajam para Síria, Palestina e Egito, resultando em um cruzamento racial muito importante. Acredita-se que por volta de 1.200 a.C. 12.000 músicos e artistas chegam na Pérsia, passando também pela Armênia, Cáucaso, Romênia, Sérvia, Grécia e Egito, este último onde tiveram maior troca de influências. Daí vem o termo em inglês “gypsies”, de “Egyptians” (egípcios), e ainda egyptier (holandês), gitan (francês) e gitano (espanhol). Alguns europeus descreviam-nos como negros com traços árabes. E foi na Europa que enraizaram o preconceito e a perseguição, denominando-os bruxos, filhos do diabo, ladrões, etc. Mais recentemente, em 1.418, alcançam a Alemanha, Suíça e Hungria. Um ano depois alcançam a França e em 1.422 os Países Baixos. Já em 1.425 chegam à Espanha. A partir do século XVI, de acordo com registros, atravessam Portugal, Inglaterra, Dinamarca, Noruega e começam as deportações dos ciganos para as colônias do continente americano, inclusive o Brasil. Quando se fala no holocausto a primeira imagem que vem à cabeça são os milhares de judeus perseguidos e mortos. Mas na verdade os ciganos foram o povo mais perseguido e dizimado: do um milhão de indivíduos que viviam na Europa neste período, 500 mil foram assassinados, além dos inúmeros adultos e crianças que foram usados como cobaias humanas para experimentos. Sem contar que as perseguições e discriminações que sofreram (e ainda sofrem) em praticamente todos os países da Europa foram muito maiores do que os negros ou judeus. Estima-se que existam por volta de 15 milhões de ciganos espalhados pelo mundo. Não é possível um número exato pois grande parte, vivendo às margens da sociedade, não possui registros (de nascimento, bens ou trabalho), não participa de sensos demográficos e raramente as crianças são matriculadas na escola – o índice de analfabetismo é altíssimo. Mais detalhes sobre a história dos ciganos em cada país serão abordados junto com as danças de cada região, nos próximos capítulos.

Principais Grupos e Subgrupos Ciganos Com tantas migrações e influências de culturas tão distintas, é de se esperar que não exista uma homogeneidade em relação ao povo cigano. Não podendo, desta

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forma, generalizar costumes, tradições, danças, dialetos, etc. a todos os ciganos do mundo inteiro. Eles são praticamente divididos em três grandes grupos e outros subgrupos que têm as características acima em comum. A divisão é feita com base na profissão exercida no caso dos Rom e em assentamento histórico para os Sinti e Kalon (conforme os quadros e mapas abaixo). Os Rom são mais predominantes nos Bálcãs (região do sudeste da Europa que compreende Albânia, Bósnia, Bulgária, Grécia, Macedônia e parte da Croácia, Turquia, Romênia, Eslovênia e Sérvia), consideram-se os “ciganos autênticos” e são os mais estudados pelos pesquisadores e costumam ser os menos sociáveis com os não ciganos (gadjés). Já os Sinti têm sua população mais expressiva na Itália, sul da França e Alemanha, enquanto os Kalon são popularmente conhecidos como “ciganos ibéricos”, são mais “abertos” e mais conhecidos mundialmente.

Grupo

Subgrupo

País

Catalunha Catalães Andaluzia Calé ou Kalon

Andaluzes

(dialeto Caló)

Parte da França Portugal

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Grupo

Subgrupo

País Rússia

Kalderash Rússia (circenses) Boyásha Lovára

Rússia e Polônia

Matchuaia Cursira Rom ou Roma (dialeto Romani)

Grupo

Rhorahoné

Turquia

Serbiaia

Sérvia

Moldovája

Moldávia

Grekurja

Grécia

Vungrika

Hungria

Machwáya

Iugoslávia

Subgrupo

País

Alemanha Gáchkane Áustria Sinti ou Manush

Estrekárja

(dialeto Sintó, uma variação do Romani)

Valshtiké

França

Piemontákeri

Piemonte

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Figura 3: Região da Andaluzia, Espanha.

Figura 4: Região da Catalunha, Espanha.

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Figura 5: Região dos Bálcãs, Europa.

Alguns Costumes, Tradições e Curiosidades Naturalmente, dado ao seu histórico, o povo cigano é extremamente rico em costumes e tradições, desde comidas e vestuário até misticismo e religiosidade. E, claro, há muitas diferenças entre cada grupo. Nem todos os ciganos são nômades. Existem ciganos ricos e pobres, católicos, evangélicos, judeus, muçulmanos... O que há de comum em todos é a necessidade de viajar. Mesmo os que não praticam o nomadismo possuem espírito livre, não criam raízes e não têm conceito concreto de propriedade, podendo trocar ou vender seus pertences como lhes convier. Também não aceitam leis impostas a eles pela sociedade gadjé, e tendem a viver

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dentro de suas próprias regras – outro motivo pelo qual sempre foram tão perseguidos. Outro ponto em comum a todos o grupos é a preservação da unidade familiar, uma vez que é em torno da família que a sociedade cigana se organiza. Por ser uma sociedade patriarcal, beirando o machismo, uma menina se torna apta a casar (virgem, claro) a partir da menarca, e se muda para a casa do marido, onde irá cuidar dele, dos filhos, dos sogros e da casa. Tradicionalmente, e não só na cultura cigana, o lençol da noite de núpcias era exibido para toda a comunidade, de forma a comprovar a virgindade da noiva. Cabe ao homem o sustento da família. E, apesar de a esposa aparentar ser mais um “bem material” do marido, ela é na verdade sua grande companheira. À medida que foram se estabelecendo na Europa e Américas, naturalmente foram assimilando cerimônias ocidentais. Os ciganos brasileiros, por exemplo, costumavam ser de maioria católica – atualmente vem aumentando o número de evangélicos e umbandistas – e a Nossa Senhora Aparecida é muito cultuada. Hoje muitos costumes tradicionais estão sendo largados devido a conflitos religiosos, especialmente evangélicos. Mas apesar disso costumam ser muito supersticiosos e acreditam na reencarnação. Dão muito valor aos sonhos, considerando-os como avisos. A morte é encarada como um corte na história, e um momento de transcendência, onde o falecido encontrará sua alma inerentemente viajante. Era costume em alguns acampamentos todos os pertences do morto serem queimados, até mesmo seu trailer. No terceiro dia da morte costuma-se levar no cemitério a comida ou bebida preferida do falecido (na verdade, na ocasião de nascimento também levam no hospital comida ou mesmo dinheiro). Por ser um povo sem escrita, a palavra é de inestimável valor, e é assim que suas leis são regidas. Uma das maiores ofensas à sociedade cigana é o não cumprimento de uma palavra dada ou acordo. O ofensor, neste caso, é desmoralizado em frente ao grupo. Existe um conselho, chamado de Cris Romani (justiça cigana), que resolve casos entre as famílias, como separação, traição, invasão de bairros, etc. Deste conselho somente homens participam, normalmente os ciganos mais velhos – mulheres às vezes podem estar presentes, mas não opinam. Com relação ao trabalho, antigamente os homens eram comerciantes de cavalos – que eventualmente evoluiu para carros – enquanto às mulheres liam cartas e mãos. Atualmente existem muitos ciganos médicos, advogados, juízes, etc. (até presidentes brasileiros possuíam descendência cigana, como Juscelino Kubitscheck e Getúlio Vargas), mas a maioria continua trabalhando com vendas ou na área artística (entre alguns famosos, pode citar Charles Chaplin, Sidney Magal e Dedé). Algumas

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mulheres estudam, fazem faculdade e trabalham fora, mas a grande maioria ainda lê cartas e é dona de casa. Apesar da vida difícil da maioria e do sofrimento, os ciganos sempre foram muito festeiros, dando muito valor à música e à dança não só como formas de celebração mas principalmente como modo de transmissão de tradições. Sempre há muitos convidados em qualquer festa cigana, desde familiares, parentes até agregados. Nas festas ocorre muita ostentação, tanto material (roupas, jóias e especialmente carros – grande paixão dos ciganos, evoluídas dos cavalos) quanto pessoal, onde é costume exibir através das habilidades na dança as garotas solteiras com a intenção de arrumar um pretendente, e também as casadas – para a autoafirmação do marido. Com relação à dança, atualmente muitas meninas estão perdendo interesse pela prática.

Hino Cigano em Romani

“Djelém djélem lungóne droméntsa Maladilém baxtalé Rroméntsa Ah, Rromalé, katár tumén avén E tsahréntsa, baxtalé droméntsa Ah, Rromalé, ah, Chavalé Vi man sasí ekh Bari famílija Murdadá La e Kalí Legíja Avém mántsa as e lumnjátse Rromá Kaj phutajlé e rromané droméntsa Ake vrjáma, ushtí Rromá akaná Amén xudása mishtó kaj kerása Ah, Rromalé, ah, Chavalé” tradução

“Levanta-se cigano Viajarei com sorte muitas estradas E encontrarei ciganos felizes Em tendas e com sorte nas estradas Ah, cigana, ah, jovens ciganos

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Eu também tinha uma grande família Mas a legião negra a exterminou Venham ciganos do mundo inteiro Percorrendo novas estradas ciganas É hora, levantemo-nos É chegado o momento de agir Ah, cigana, ah, jovens ciganos”

Bandeira Cigana Instituída no primeiro Congresso Mundial Cigano (First World Romani Congress) realizado em 1971 em Londres, na Inglaterra, a bandeira cigana se tornou o emblema desse povo. A roda vermelha (parecida com a roda indiana de 26 aros) simboliza a viagem e movimento; o azul representa o céu, valores espirituais e ligação com os mundos superiores; o verde representa a terra e caminhos abertos pelos ciganos.

Figura 6: Bandeira Cigana

Santa Sara Santa Sara, apesar de ser considerada a santa protetora dos ciganos, é pouco conhecida pela comunidade cigana no Brasil, sendo muito mais propagada pelos nãociganos admiradores da cultura (na França a maioria dos ciganos devotos dela é católica, enquanto no Brasil costumam cultuar a Nossa Senhora Aparecida). Sua imagem mais famosa encontra-se em Saintes Maries de La Mer, uma pequena cidade localizada na região de Camargue no sul da França, onde no mês de maio – devido ao dia da santa, que ocorre no 24 de maio – recebe ciganos e turistas de todo o mundo, principalmente da Europa. A história da cidade está ligada à crença religiosa de Provence, que se dá a partir do naufrágio do barco vindo da Terra Santa pouco depois da morte de Cristo (44 – 45 d. C), e seu nome deriva da crença religiosa

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da história das Santas Marias Jacobé e Salomé (o nome se tornou oficial em 1838 graças aos peregrinos). A figura de Santa Sara deu origem a algumas lendas. A primeira conta que depois da perseguição aos cristãos, alguns discípulos de Jesus foram jogados à deriva em um barco sem vela, remo ou proteção, como castigo à confiança e fidelidade em Cristo. Estavam no barco Maria Salomé, Maria Jacobé, Maria Madalena, Lázaro e sua irmã Marta, Maximiniano e Sidônio, o homem cego de Jericó. Sara implorou para ser levada com eles e um milagre permitiu que ela alcançasse o barco usando o manto de Maria Salomé, que foi arremessado e lhe serviu como salva-vidas. Uma segunda versão narra que Sara seria escrava de umas das três Marias e que no barco sem proteções, nem alimentos e com o mar revolto, as Marias puseramse a chorar desesperadas, e então Sara atira seu lenço ao mar e pede para que todos se salvem. Já a terceira versão alega que Sara já vivia nesta costa mediterrânea e acolheu as mulheres Santas, que a converteram ao cristianismo e depois a tornaram sua serva. Assim os ciganos passaram a venerá-la e a chamá-la de Sara, a “Kali” (“negra” em sua língua). Maria Jacobé e Maria Salomé, sobreviventes desta desgraça e junto com seus companheiros, se dispersaram para difundir o evangelho, dando origem ao cristianismo na Europa, sendo a região de Provence considerada seu berço. Maria Salomé e Maria Jacobé permaneceram na região, morreram com poucos meses de diferença entre uma e outra e seguidas por Sara. As três mulheres foram enterradas perto do pequeno oratório que haviam construído. Não se sabe o quanto é histórico e verídico dentro dessas lendas, mas sabe-se que, quando o Rei René - conde de Provence - ordenou escavar a área em dezembro de 1448, diversas cabeças humanas organizadas em forma de cruz e corpos de duas mulheres foram encontrados, juntamente com uma pedra de mármore liso que posteriormente foi nomeado de “o travesseiro das Santas” e atualmente está dentro de uma das colunas da igreja. As relíquias encontradas foram guardadas secretamente embaixo do altar principal da primeira igreja e a missa era celebrada em cima delas, incentivando a idéia de que os esqueletos eram realmente das mulheres santas. Hoje o relicário está guardado na cripta de Saint Michel, no andar superior da igreja. “Um lance de escadas conduza para a cripta, situada abaixo do santuário. As pedras rosadas têm ficado escurecidas devido a inúmeras velas que são ascendidas. No período da peregrinação de maio, as velas são tão inúmeras que o calor dentro da

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cripta se torna intenso. Neste lugar, muito especial, fica Sara, a estátua venerada pelos ciganos. Seu corpo é coberto por muitos mantos como símbolo de veneração e adoração. Somente a face negra com seu belo toque jovem é visível. A expressão das características suave e serena de Sara não deixa um visitante indiferente. A capela de São Michel, também chamada de “capela superior”, situada acima da capela, abriga o relicário contendo as relíquias das Santas Marias Jacobé e Salomé. No centro, na parede esquerda, está situada a estátua esculpida das Santas Marias Jacobé e Salomé, que aguardam os dias de peregrinação quando são levadas para o mar como uma lembrança de sua chegada nesta parte da costa mediterrânea.” - Saphyra Cristiane Wilson

Atualmente, a pequena cidade vive principalmente do turismo, e a cada ano peregrinos viajam em números cada vez maiores. Para os ciganos, a peregrinação é uma grande festividade que dura pelo menos três dias, em um misto de fé religiosa, reunião familiar e comércio, com oração, música e dança. As celebrações começam na manhã do dia 24 com a missa - os ciganos costumam chegar alguns dias antes. À tarde acontece a cerimônia conhecida como “descida dos relicários”, onde os relicários contendo as relíquias das santas são descidas da capela de São Michel através do uso de uma manivela, com acompanhamento de cantos e aclamações até chegaram ao chão. “Então, vem o momento mais esperado: Sara, carregada pelos ciganos, e levada para o mar. A esbelta estátua, coberta por muitos mantos de brilhante, bordados e tecidos decorados em ouro, somente com a face negra visível, lentamente aparece da igreja escoltada pelos guardiões e pelas belas garotas Arlesienes. Mãos são levadas a frente a fim de alcançar os mantos e tocá-los, beijos são enviados, crianças são levantadas para receber a proteção de ‘Sara, a Kali’. Os ciganos cantam, rezam, choram e gritam em louvor a sua Santa protetora dizendo ‘Vive Sainte Sara’. A enorme multidão se mistura com os ciganos e as pessoas de regiões próximas. E então, Sara é levada para o mar, seus carregadores entram na água acima de sua cintura. E, lentamente, ainda acompanhada com o som de louvor e canto, Sara é levada de volta à cripta. A igreja fica lotada, e frequentemente, turistas afetados pela emoção causada pela intensidade das orações soltam suas câmeras e levantam seus braços com os ciganos para pedir a proteção de Santa Sara. Todo o tempo a mesma palavra de louvor é ouvida: ‘Vive Sainte Sara’. À noite, depois do jantar, as orações da noite e a missa trazem os peregrinos de volta a igreja. Os ciganos vêm em família, muitos com crianças dormindo no colo de seus pais. Pessoas levantam para dar caminho aos idosos, e em um feliz movimento de

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ida e vinda, pessoas entram e deixam a igreja, enquanto o fervor das orações permanece sem esmorecer.”

Canção de Santa Sara “Venham tropas, cantem! Canções para Santa Sara Sempre perto das Marias Seu nome resplendecerá. A população estava sobre a costa Docemente vendo o barco se afastar Pobre barco sem remos e sem cordas Algum cristão vê afundar. De Salomé a serva fiel Desesperada, Sara soluçando na borda ‘Eu quero entrar no barco’ diz ela E por Jesus, assim encontrar a morte Mas Salomé pelo céu inspirada Joga ao mar seu manto der repente Santa Sara sobre as águas transportada Viaja por um novo meio Sara se benze e toda confiante Sobre o manto ela fica sem medo Chega assim sobre as ondas À frente de Salomé, dando graças ao Senhor A barca entra em alto mar Ela avança sobre a guarda de Deus O anjo de Deus, a dirige, a guia E a aporta em Provença, seu lugar. A tropa Santa em Camargue desembarca Sobre a costa ergue-se um altar Santo Maximiniano oferece o Santo Mistério Todos são nutridos do pão vivo do céu Para acalmar a sede que os devora Deus faz brotar água doce num instante

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Nós ainda vemos essa água vertendo Para acalmar as doenças dos sofredores Nós vos pedimos Santas Marias Bem como a Sara Sejam sempre nossas patronas queridas Jamais em vão nós vos invocaremos De todo flagelo, guerra, fome e peste Livre vossos peregrinos Obtenha a eles graça celeste Perto de vós estas um dia no céu.”

Oração de Santa Sara em Romani

“Tu ke san pervo icana romli anelumia. Tu ke biladiato le gajie anassogodi guindiças. Tu ke daradiato le gaije, tai chudiato. Anemaria, thie meres bi paiesco tai bocotar. Janes so si e dar, e bock, thai o duck ano ilô. Thiená mekes murre dismaia thie açal mandar thai thie bilavelma. Thie aves murri dukata angral o Dhiel. Thie dhiesma bar, sastimôs, thai thie blagois murro traio. Thie diel o Dhiel.” tradução

“Tu que és a única santa cigana no mundo. Tu que sofreste todas as formas de humilhação e preconceito. Tu que foste jogada ao mar para morres de sede e fome. Tu que sabes o que é medo, a fome, a mágoa e a dor no coração. Não permitas que meus inimigos zombem de mim ou me maltratem, que tu sejas minha advogada perante Deus. Conceda-me sorte, saúde, abençoando a mim e a minha vida.”

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Os Ciganos e Suas Danças Romanês A palavra “romanês” (em português) ou “romani”, descreve tanto a dança quanto a língua do povo Rom, que envolve vários subgrupos e países. A música e o figurino determinam o local específico da dança romani. Mas em comum a todas é a “dança no pé”, ou seja, o enfoque estará no trabalho dos pés, enquanto as mãos são mais suaves e menos marcadas do que na dança espanhola, por exemplo.

Romênia Chamados de “çigani”, a maioria dos ciganos romenos atualmente são sedentários, não mantendo muito contato com os nômades e são falantes do idioma romeno, com pouco conhecimento do romani. A música e a dança são fortemente influenciadas pelas músicas turcas, leste europeias e folclóricas romenas, e há distinção da dança entre as dos nômades e dos sedentários, além de características regionais (na linha territorial com a Hungria é dança é praticamente a mesma nos dois países). No sul da Romênia, onde há muita influência oriental, dança-se também o Manele (ou Manea). No norte da Romênia e na Hungria costuma-se dançar também a Çingerica, que é uma dança de casal com movimentos de pés muito rápidos e estalar de dedos. Normalmente é dançada com as roupas do cotidiano (saia não muito rodada e normalmente florida e avental por cima dela).

Figura 7: Grupo apresentando dança cigana em Sibiu, Romênia.

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Hungria A Hungria é o quarto país com maior população cigana do mundo. Eles começaram a chegar por volta do século XIV, fornecendo mão de obra barata e trabalho como escultores e ferreiros. Nessa época recebiam muitos privilégios graças aos reis Sigismundo e Mathias. Entretanto, no século XVIII sob o poder de Maria Teresa, os ciganos começaram a sofrer opressões, e foi a música e a dança que mantiveram vivo seu legado. Hoje se têm dois estilos de música cigana no país: o folclórico rural, que antes era quase exclusivo da sociedade cigana, e a “música de restaurante”, tocada para os turistas por pequenas orquestras ciganas compostas de um vocalista, violinos, baixo e címbalo, com os integrantes vestidos a caráter como forma de complementar o entretenimento. A dança cigana húngara é caracterizada pela rapidez dos passos (dos pés), estalos de dedos e movimentos controlados de saia. Os homens fazem movimentos bem soltos e muito trabalho complexo de pés e percussão corporal. As roupas utilizadas são “comportadas”, com cores neutras e pastéis. É comum o uso de lenço na cabeça e sapatos.

Figura 8: Dançarinos representando a dança cigana húngara em espetáculo.

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Rússia Outro dos países onde a cultura cigana é mais expressiva. A dança cigana russa tem muita influência do balé russo, no que diz respeito ao espetáculo, imagem, drama e encenação. É uma dança onde tudo é exagerado (saias bem rodas, movimentos grandes e espalhafatosos) e, na maioria das vezes, alegre. As mãos são mais precisas mas sem muitos movimentos de punho.

Figura 9: Dançarina representando a dança cigana russa.

Croácia Desde o século XIV os ciganos habitam o território da República da Croácia – os primeiros registros datam de 1362 e 1373, em Dubrovnick e Zagreb, respectivamente. Eles formam a minoria da população croata, e dentre eles há diferentes grupos falando diferentes dialetos e ocupando diversas regiões do país. Na música predominam o violão, violoncelo, címbalo, violino, tuba e trombone. A dança cigana croata é bastante simples e descontraída, com gestos que expressivos e interpretativos. As roupas geralmente consistem em saia estampada. Blusa lisa, lenço na cintura e flor no cabelo. Para os homens, camisa, colete e chapéu.

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Figura 10: Grupo croata apresentando dança folclórica com influência cigana.

Bálcãs Pelo fato de a Península Balcânica ser formada por vários países, todos obviamente muito próximos, existe mais de uma dança cigana bálcã, assim como danças folclóricas de mesmo nome podem ser dançadas de forma diferente entre um país e outro – e o contrário também acontece. Uma das danças bálcãs mais populares é o Čoček (o nome designa tanto o gênero musical quanto a própria dança), influenciado pelas bandas militares otomanas, resultando em uma grande variedade de ritmos e sub-estilos. É dançado pelos iugoslavos, turcos, albanos e, especialmente, pelos ciganos da Macedônia e do sul da Sérvia – danças muito parecidas são encontradas também na Bulgária e Romênia – sendo comumente executado em festividades familiares e informais, acompanhado musicalmente de uma ou mais mulheres cantando e tocando pandeiro. A música Čoček é provavelmente uma das mais animadas nos Bálcãs atualmente, com grande diversidade de instrumentos como violino, clarinete, cobza (alaúde), acordeom, pandeiro e bateria. Percussões de mãos são muito populares também. A dança Čoček pode ser realizada em roda ou como um solo improvisado, permitindo expressão da criatividade e emoções. Por ser de origem oriental, usam-se muitos movimentos de quadril (sutis) e shimmies de ombro. Essa dança se caracteriza pelos movimentos pequenos, finos e reservados, como se a dançarina estivesse

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dançando “dentro de suas roupas”. Já a dança masculina é enérgica e dinâmica, com saltos e percussões no corpo. Tanto os homens quanto as mulheres tendem a segurar as mãos e braços em cima e usam ombros e estalar de dedos, e em roda se mantém o movimento de pés. Nessa dança não se usa saia, e sim calças bufantes com muito brilho e moedas. É tipicamente dançado no compasso 9/8 - como na Turquia, considerando sua origem turca. Os Rom que vivem nas regiões da antiga Iugoslávia desenvolveram uma variante que é praticada nos compassos 4/4 e 7/8.

Figura 11: Grupo apresentando a dança Čoček da Sérvia em mostra de dança.

Outra dança bálcã muito popular – e parecida com o Čoček, porém com mais sensualidade e movimentos mais rápidos e soltos – é o Manele. Historicamente, foi muito dançado entre os turcos e gregos ricos e na periferia de Bucareste (Romênia). Atualmente é mais dançado em áreas rurais e localidades mais pobres, na Bulgária, Albânia e parte europeia da Turquia, tanto por homens quanto por mulheres. Nessa dança utilizam-se muitos movimentos pélvicos – como na dança turca – e tremidos contidos. Com relação ao figurino, é mais colorido do que o da dança húngara, podendo-se usar ou não avental, lenço de cabeça (pode até ser o mesmo da dança turca), saia com pouca roda ou calça. 23

Figura 12: Dançarina executando a dança Manele.

A terceira das danças bálcãs mais populares é o Kolo, dança folclórica praticada por pessoas da Bósnia-Herzegovina, Croácia, Macedônia, Montenegro e Sérvia. “Kolo” significa coletivo, sendo assim é dançado em linha e pode ser improvisado por um casal ou um pequeno grupo. É muito popular em cerimônias sociais, culturais e religiosas, onde homens e mulheres dançam juntos, embora algumas danças demandem somente homens e outras somente mulheres. O Kolo pode ser espontâneo ou organizado, folclórico ou popular, com músicas sempre muito rápidas e total trabalho de pés. As mãos costumam ficar nos ombros das pessoas ao lado ou nas próprias costas (os homens podem deixar as mãos nos bolsos).

Figura 13: Grupo folclórico sérvio apresentando a dança Kolo.

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Turquia Os ciganos turcos provêm da época do Império Bizantino, e de acordo com registros habitam a região da Anatólia desde o século IX, onde teriam chegado vindos da Pérsia. Com a expansão do Império Otomano, eles se fixaram na Rumélia (termo histórico que designa a Península Balcânica), como artistas populares para o povo e a corte. Hoje, há oficialmente 500.000 ciganos vivendo na Turquia, porém estima-se de 2 a 2.5 milhões vivendo em quase todas as regiões do país, especialmente em Ankara, Istambul e Edima. Ainda hoje muitos músicos turcos famosos são ciganos, por serem naturalmente talentosos, convivendo com a música em suas casas desde quando nascem. Seu legado musical é transmitido de geração a geração, sendo a música um fator de extrema importância para a representação e a preservação de suas tradições. A dança cigana turca é muito profunda e forte. Dançada no compasso de 9/8 (também conhecido como Roman), os acentos são enfatizados pela pelve com bastante precisão. As mãos executam gestos que expressam a vida cotidiana, contam uma estória ou mesmo traduzem a música, além de exibir força (punhos cerrados). Costuma-se utilizar saia com pouca roda (normalmente com renda), lenço no quadril e na cabeça e blusa simples e fechada. É possível também utilizar outros figurinos, de acordo com a proposta da dança (saia, calça larga, figurino de dança do ventre, etc.).

Figura 14: A dançarina Reyhan Tuzsuz, famosa pela dança cigana turca.

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Egito De origem turca, o grupo Nawar, dentre tantos outros, chegou ao Egito. Considerados ciganos, os Nawar são os ascendentes das chamadas ghawazee, mulheres artistas que sustentavam suas famílias através da dança, e que, como a grande maioria dos ciganos, viviam às margens da sociedade. Os primeiros registros das ghawazee (singular ghazeeye e masculino ghazee) datam do século XIII, e as referências começam a aumentar a partir de 1798 com a primeira expedição de Napoleão ao Egito, quando ele e seus homens encontraram essas mulheres na beira do rio Nilo, muito diferentes da população local (de maioria muçulmana). Com as invasões aumentou o interesse do ocidente no Egito, e as ghawazee foram ficando cada vez mais conhecidas, apesar de consideradas escandalosas, exóticas e expostas. Tanto que Napoleão instituiu uma lei mandava decapitar qualquer mulher que fosse vista se “exibindo” na rua, pois acreditava que elas estivessem distraindo seu exército. Com isso, mais de 500 mulheres foram mortas. A dança das ghawazee é mais “largada” do que a dança do ventre, embora haja muito em comum. A base da dança está nos pés, demonstrando grande ligação com a terra, típica de costumes tribais, e o trabalho de quadril é vigoroso e constante. Utiliza-se bastão ou snujs (que são tocados o tempo todo). O traje normalmente é baseado na Turquia, com calça pantalona e casaco mais longo por cima. Também é utilizado vestido com franjas ou túnica de veludo. Pode-se também usar lenço na cabeça e a barriga normalmente é coberta.

Figura 15: Khairiya Mazin, considerada a última das dançarinas ghawazee.

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A música é considerada orgânica, com instrumentos como mizmar, rebalo, tabla e tar. Os homens não dançam, mas são os músicos do grupo.

Índia Padmashri Rishi foi o pioneiro em estabelecer a ligação dos ciganos com a Índia, e segundo ele esse povo descende de antigas classes guerreiras do noroeste do país, especialmente de Punjab (no estado do Rajastão). Sendo essa região o mais provável ponto de partida dos ciganos, pressupõe-se que a dança deste local seja a dança cigana “mãe”, e de fato são encontrados nela muitos aspectos que estão presentes em outras danças ciganas, embora com algumas diferenças, como gestos, marcação de pés e giros de mãos. As ciganas indianas costumam utilizar no cotidiano bata, saia e lenço na cabeça, sendo que algumas costumam cobrir a cabeça e o rosto – daí vem o movimento da dança de cobrir o rosto. E para a dança kalbélia normalmente utilizar a mesma roupa de danças folclóricas do Rajastão, embora atualmente a roupa preta seja bastante utilizada (graças à dançarina Gulabo Sapera). A kalbélia também é conhecida como a dança da serpente, pois os gestos buscam mimetizar os movimentos deste animal. É realizada pela comunidade homônima, proveniente do deserto - possivelmente ciganos - e da casta Sapera (que significa serpente; “sap” em romanês), os famosos encantadores de serpente.

Figura 16: Ciganas indianas dançando a dança kalbélia.

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Essa dança caracteriza-se pelo ritmo rápido, giros, deslocamentos amplos, movimentos de quadril, acrobacias, gestos de braços e mãos imitando os movimentos das serpentes. E quanto mais flexibilidade melhor, pois o objetivo é mostrar que o corpo da dançarina pode ser tão flexível quanto o réptil. Homens não danças kalbélia, mas dançam banjara, que é similar, porém sem acrobacias e também pode ser realizada por casais.

Brasil No Brasil imperam os estereótipos mais comuns a respeito da dança cigana: intenso balançar de saias, inúmeros giros e uma mulher sensual dançando com pandeiro. Tais estereótipos têm raiz no preconceito e discriminação, não só no Brasil como na América em geral, e isso interfere no conhecimento e compreensão das ciganas, resultando em falta de instrução da verdadeira dança, muita cópia de vídeos sem entender o contexto ou proposta, e mais preconceito. Com forte influência de centros espíritas, a dança cigana brasileira desenvolveu uma vertente com foco mais religioso, livre de técnica e regras. O ritmo predominante é rumba, mas não é dançada a rumba verdadeira – todos os estilos de dança cigana são dançados da mesma forma, e muitas pessoas não sabem que existem outros estilos (embora, quem conheça muitas vezes os achem sem graça, como o romanês tradicional). Em suma, nas festas ciganas no Brasil não existe um estilo próprio de dança cigana, e sim uma grande confusão baseada em desinformações.

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Os Ciganos e a Dança da Espanha Sem dúvida, o mais forte estereótipo de ciganos vem da Espanha. A cigana com suas enormes saias, muitas joias, movimentos marcantes de braços e mãos, a postura altiva, a expressão forte e a semelhança com a dança flamenca – a qual se originou da cigana – são as características mais marcantes e fixadas no imaginário popular. Acredita-se que os ciganos tenham chegado à Espanha por volta do século XV – o registro das primeiras caravanas data de 1425. Nessa época eram conhecidos como egiptanos e transitavam pelo país graças a salvo-condutos concedidos pelos títulos falsos que diziam ter. Posteriormente começaram a ser chamados de gitanos e participavam de rituais religiosos. Entretanto, a partir de 1499 e até 1793 a tolerância por parte da absolutista Igreja Católica para com seus costumes diferentes e insubordinação religiosa tornou-se quase nulo, e os reis Isabel, Fernando de Castela, Carlos III e Felipe V, católicos, assinam decretos que proíbem os ciganos de praticarem o nomadismo, com medidas que permitiam desde a sua expulsão do território até castigos, mutilação, escravidão e prisão perpétua. Ser cigano vira crime, e são perseguidos até mesmo dentro das igrejas. Não podem frequentar hospitais ou escolas. Rotulados como feiticeiros e hereges, foram condenados e vítimas de um racismo que perdura há séculos. No final do século XVIII, todo o sofrimento desse povo começa a ser mais expressivamente manifestado na forma da música e da dança, resultando no Flamenco.

A Dança Flamenca O canto se torna a voz da dor e da resistência. A dança transforma as injustiças em orgulho e altivez. O violino e a guitarra completam a música do hino cigano andaluz. Acredita-se que o termo flamenco provém do árabe fellah (camponês) e mengu (fugitivo), e designava os ciganos andaluzes. Além dos ciganos, vários outros povos na região da Andaluzia viviam em dificuldades sociais e econômicas além de sofrerem perseguições, especialmente da Inquisição Espanhola. A dança e a música, então, se tornaram uma forma de expressar esse sofrimento, refletindo sua força, orgulho e luta.

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A dança flamenca se originou de uma mescla de cultura de povos nômades que passaram pela Andaluzia, entre eles os fenícios, gregos, romanos, visigodos, judeus, árabes e, obviamente, os ciganos – que influenciaram a dança expressivamente. No início o canto e a dança flamenca eram restritos apenas ao interior dos acampamentos ciganos e gitanerias (núcleos urbanos com marcante presença cigana), mas a partir do século XIX começam as apresentações nas tabacarias e cafés. Em meados do século XX o flamenco era também dançado informalmente em casamentos e demais celebrações ciganas. Na Espanha era essa considerada a mais “autêntica” forma da dança flamenca. O baile flamenco é caracterizado pela sua postura orgulhosa, intensidade emocional que reflete no rosto e corpo do bailarino, sapateado e movimentos marcantes e precisos dos braços e mãos. E, assim como em muitas outras modalidades de dança seculares, diferentes estilos de flamenco se desenvolveram ao longo do tempo e das influências de outras culturas. O “Flamenco Puro” (puro, em calo, significa antigo) é considerado o mais próximo da sua origem cigana, improvisada, com braços mais curvados em volta da cabeça e do corpo e cotovelos flexionados. Os movimentos são “para a terra”. Alguns estudiosos desaprovam o uso das castanholas, embora existam registros fotográficos de dançarinos flamencos do século XX utilizando-as. Tradicionalmente, os jovens são considerados imaturos emocionalmente para incorporar o duende (a alma, em caló) da dança. Já o “Flamenco Clássico” é o estilo mais comum. A postura é bem altiva e, diferente da influência gitana, há pouquíssimos movimentos de quadril, o corpo é mais “preso” e os braços são mais alongados, quase como os do balé clássico. Denominam-se também os estilos “Flamenco Moderno” e “Flamenco Novo”. No primeiro a técnica é mais avançada e a ênfase está na velocidade do trabalho de sapateado. Costuma-se usar acessórios como as castanholas, xale e leque; o segundo é a forma mais recente de se dançar o flamenco, com muita influência – ou mesmo fusões – de outras modalidades de dança. Acessórios raramente são utilizados. A música flamenca se divide em palos, que são as estruturas rítmicas agrupadas de acordo com sua composição, melodia e origem geográfica. Existem mais de 50 palos, mas por volta de apenas doze são costumeiramente tocados. Alguns são cantados sem acompanhamento instrumental (cantes a palo seco), enquanto outros possuem melodia e percussão. Alguns são dançados e outros não; alguns apenas por homens, outros por mulheres, enquanto outros podem ser executados por ambos os sexos – a Farruca, por exemplo, era dançada somente por homens, e atualmente as mulheres a dançam também. Tradicionalmente os palos se enquadram em três categorias. A mais séria é conhecida como cante jondo (ou cante grande) que possui traços das músicas

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folclóricas árabes e espanholas, além de vestígios de músicas religiosas bizantinas, cristãs e judaicas. As letras são intensas e tristes, tratando de morte, desespero ou angústia. Esse tipo de cante é considerado o coração e a alma do flamenco – o que é óbvio, já que sua origem é justamente o lamento dos povos oprimidos. Os palos mais conhecidos são: Toná, Martinetes, Seguiriya, Soleá, e Carcelera. As formas mais “leves” são chamadas de cante chico, que cantam o amor, felicidade e humor popular, afinal, apesar de todo o sofrimento, os ciganos sempre foram festivos e dessa alegria extraem sua força. Os palos que se enquadram nesse estilo são: Alegrías, Bulerías, Sevilhanas, Rumbas e Tangos. Formas que não se encaixam em nenhuma das duas são classificadas como cante intermédio, que é menos profunda do que cante jondo, mas também é emocionante e pode conter um toque oriental. O termo cante intermédio varia de acordo com o cantor e sua interpretação do cante. Além dessas três divisões básicas, há outras três secundárias: Cante Flamenco Gitano (que se refere às músicas que se acredita terem originado dos ciganos imigrantes do século XV, incluindo Toná, Soleá, Seguiriya, Bulerías e Tangos), Cante Flamenco Andaluz (que começou a se disseminar em meados do século XIX e é uma combinação de músicas folclóricas andaluzas que demonstram a forte influência cigana, como variações de Fandango e Cantinas) e Cantes Folkloricos Aflamencados (considerados pelos mais radicais como gêneros “falsos” de flamenco, por serem músicas e danças folclóricas não só da Andaluzia como também da Galícia, Astúrias e até mesmo da América do Sul, podendo ser citados os palos Sevillanas, Farruca, Garrotin e Rumba).

Rumbas

A Rumba foi introduzida na Espanha no século XIX vinda de Cuba, e é um estilo derivado da Rumba Afro-Cubana. Por volta dos anos 50 ela foi assimilada pelos ciganos, tornando-se conhecida como Rumba Gitana (outros nomes pelos quais esse ritmo é conhecido são: Rumba Flamenca, Flamenco Rumba, Gypsy Rumba e Rumba Espanhola). As músicas ciganas espanholas mais conhecidas, como as da banda Gipsy Kings, são geralmente nesse ritmo. Dançado no compasso 4/4, esse ritmo é marcado pela espontaneidade, liberdade e subjetividade, permitindo traços da dança flamenca – incluindo sapateado. É uma dança animada e simples, com movimentos de quadril e ombros, muito uso de braços e pouca saia. Pode-se também incluir acessórios como o xale (ou mantón), leque (ou abanico) e castanholas.

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Instrumentos musicais mais utilizados são o violão e o cajón, acompanhados de castanholas e palmas.

Figura 17: Dançarinas apresentando uma coreografia de Rumbas Gitanas.

Tangos

O tango flamenco é um dos palos mais próximos à rumba flamenca em questão de forma e sentimento. O que os diferencia é o toque do violão, que no segundo palo flui mais livremente, enquanto no primeiro há acentuações na segunda, terceira e quarta batidas – diferentemente dos outros ritmos de mesmo compasso, os quais têm acentuação na primeira batida. Por ser de estrutura simples e de fácil harmonização, o tango flamenco se multiplicou em vários subtipos, de acordo com os diferentes artistas e regiões da Andaluzia, como Sevilha, Jerez, Málaga, Granada e Cádiz – nesta última conhecido como Tanguillos – cada um sua própria estrutura harmônica e melódica, mas mantendo sempre o ritmo 4/4. Por isso é comumente grafado de Tangos. Uma das teorias acerca da origem do Tangos sugere que esse estilo de música e dança tenha sido introduzido na Espanha através das regiões de Cádiz, onde havia o principal porto da Marinha Espanhola no século XVIII, e por lá chegavam novidades vindas das Américas, como o contagiante ritmo caribenho, que no século XIX começou a mesclar com as músicas andaluzes, eventualmente resultando nos diferentes tangos,

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sendo assimilado pelos ciganos e dando origem aos Tangos Gitanos. Em algumas partes da América do Sul “tangosa” refere-se à dança dos escravos africanos ao som de tambores, contribuindo para essa teoria.

Figura 18: Dançarina apresentando Tangos em Maria "La Canastaera", um dos lugares mais tradicionais de flamenco em Granada.

Outras fontes indicam que este palo evoluiu das músicas espanholas do século XIX e suas danças populares – onde entra também a influência cigana, uma vez que se instalaram na Espanha no século XV. O Tango Flamenco é vagamente relacionado ao Tango Argentino, dividindo apenas o compasso binário e um possível ancestral comum, pois se acredita que devido ao fato do Tango Argentino ser a primeira dança de casal das Américas ele deve ter sido baseado em algum dança europeia estilo Minueto. Se a primeira teoria é mais aceitável, ambos continuam dividindo o ancestral comum, dessa vez o caribenho ao invés de europeu.

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Uma terceira teoria é a junção das duas: acredita-se que o Tangos tenha se originado na região da Andaluzia com os ciganos, se espalhado por lá e atravessado o oceano junto com as expedições espanholas para a América, retornando posteriormente à Espanha com influências latinas e caribenhas. Esse fenômeno é conhecido como Palo de Ida y Vuelta. Na dança utilizam-se muitas marcações, sapateado, movimentos de quadril, braços e mãos e estalo de dedos (pitos). Improvisações e gestos mímicos também são muito presentes, o que se assemelha a Bulería – ambos os palos são "por fiesta/festero", realizadas frequentemente como solos curtos em festas, casamentos e festivais.

Figura 19: Dançarinas de tangos flamencos.

Apesar de existirem muitas variações, a estrutura tradicional de uma dança Tangos é a seguinte: 1. Guitarra Falseta – introdução da música/tempo/ritmo pelo guitarrista.

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2. Llamada – chamada pelo dançarino para o músico. 3. Letra – versos cantados, quebrados em sessões onde o dançarino insere sapateado, palmas ou desplante llamada. 4. Llamada 5. Letra 6. Escobilla – sessão mais longa de sapateado. 7. Llamada/Cierre – chamada final e Salida (saída), a qual também pode ser chamada de Cierre caso o dançarino termine a dança no palco. As roupas tradicionalmente utilizadas para dançar os tangos, tantos pelas ciganas quanto pelas dançarinas flamencas, é um vestido ou blusa com saia um tanto rodada, sapatos, normalmente um xale na cintura e flor na cabeça. De qualquer forma e independente de sua verdadeira origem, os ciganos andaluzes foram e são responsáveis por propagar esse ritmo, tanto na música quanto na dança.

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Os Ciganos nos Repertórios de Balé Clássico O preconceito e as perseguições aos ciganos não se contiveram somente à realidade e foram transplantadas ao imaginário e contos de fadas. Nos balés de repertório, onde predominam as fantasias e finais felizes, os ciganos estão presentes, mas sempre com muito sofrimento ou em papéis degradantes e maléficos, e muitas vezes sem finais felizes para eles. Abaixo, quatro dos principais balés de repertório onde os ciganos têm papeis de destaque, que refletem como eram vistos na época pelos gadjés.

La Esmeralda Inspirado na famosa obra de Victor Hugo O Corcunda de Notre Dame, La Esmeralda é um balé em três atos e cinco cenas, originalmente coreografado por Jules Perrot com música de Cesare Pugni, cenário de William Grieve e figurino de Mademoiselle Copere. Teve sua estréia em 09 de março de 1844 em Londres, tendo no papel de Esmeralda a bailarina Carlotta Grissi, o próprio Jules Perrot como Gringoire, Arthur Saint-Leon as Phoebus, Adelaide Frassi como Fleur- de-Lys e Antoine Louis Coulon no papel de Quasimodo. A estória se passa na Paris do século XV e fala do trágico amor entre a bela cigana Esmeralda e o Capitão Phoebus, o ciúme do clérigo Frollo e a proteção do desfigurado Quasimodo. Atualmente é raro ver o balé completo ser apresentado, por ser longo demais, mas a variação com o pandeiro é sempre apresentada. Não se sabe quem foi que introduziu tal variação ao balé, uma vez que houve muitas mudanças de diferentes coreógrafos, mas é uma das partes mais impressionantes.

Resumo  1º Ato – Cena 1 – Pátio dos Milagres - É pôr do sol e os cidadãos estão com pressa para ir embora, pois essa praça se transforma na Cour des Miracles, um centro de mendigos, prostitutos e ciganos, liderados por Clopin.

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- Pierre Gringoire, pobre poeta, que vive na praça pela força das circunstâncias, cai na mão de ladrões e tem sua vida ameaçada por ladrões e só pode ser salvo se alguma mulher decidir se casar com ele. - Como nenhuma se propôs, ele vai para a forca. Neste momento chega a cigana Esmeralda, que o salva. - O clérigo Claude Frollo, que deseja muito Esmeralda, convence Clopin a raptá-la juntamente com Quasimodo, o corcunda sineiro da Igreja de Notre Dame. Entretanto, são barrados pela polícia. - O capitão Phoebus prende o corcunda e ordena que sejam prestadas assistências à cigana, que por sua vez fica encantada com a nobreza do belo policial, que lhe dá sua echarpe. A pedido da moça, ele solta Quasimodo.

Cena 2- Aposentos de Esmeralda - A cigana está com os pensamentos em Phoebus, quando entra Gringoire, seu marido, que tenta abraçá-la. A jovem diz que só desejava salvá-lo da morte, mas que nunca será propriamente sua esposa. - Esmeralda manda Gringoire para seus próprios aposentos e volta a ficar sozinha. - Ela sonha com Phoebus quando uma porta se abre e o sinistro Frollo entra. A cigana ordena-o a ir embora, mas ele lhe implora de joelhos que aceite seu amor. - Esmeralda, por sua vez, o rejeita com escárnio e diz que é Phoebus quem ela ama. Quando o clérigo avança, a moça puxa uma adaga. Quasimodo a impede de usar a arma, mas a ajuda a fugir devido à gratidão que sente por ter sido solto da prisão por seu intermédio. - Frollo pega a adaga que a cigana deixou cair em sua fuga e ameaça ambos.  2º Ato – Cena 3 – Mansão de Gondelaurier - Os preparativos para o casamento de Phoebus e Fleur-de-Lys estão sendo feitos. - Entra o noivo, que não presta atenção em nada, pois seus pensamentos estão em Esmeralda. Notando que ele não está usando a echarpe que lhe deu, Fleur-de-Lys está prestes a dar uma bronca no noivo quando este lhe presenteia com um anel. - A noiva, feliz, mostra o anel para sua mãe Aloise de Gondelaurier, que por sua vez anuncia que também tem um presente para marcar a ocasião. - Aloise dá um sinal e entra Esmeralda acompanhada de Gringoire e amigos. Ela lê a sorte da noiva e dança para os convidados, que admiram sua graciosidade. - No ápice das festividades, quando todas as garotas ciganas estão dançando, Esmeralda vê Phoebus, e deduz que ele deve ser o prometido de Fleur-de-Lys. Devastada, ela coloca a echarpe para ir embora.

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- Fleur-de-Lys, vendo o presente que deu a Phoebus na cigana, chora e joga o anel que ganhou do noivo no chão. Confusão geral. - Phoebus corre atrás de Esmeralda.  3º Ato – Cena 4 – Quarto de Hospedaria - Clopin mostra a Frollo um esconderijo onde ele possa observar o encontro de Esmeralda e Phoebus, mas o clérigo não aguenta ver os beijos dos amantes e ataca o jovem policial com a adaga. Phoebus cai desfalecido ao chão. - Frollo se mistura na multidão e diz ao juiz que a adaga pertence à cigana. Este a acusa de assassinato. A moça protesta, jurando inocência. O juiz a sentencia à morte. Frollo fica triunfante.

Figura 20: Apresentação do repertório La Esmeralda do Ballet Bolshoi

Cena 5 – O Festival dos Tolos - Uma procissão liderada por Frollo leva Esmeralda para a prisão, acompanhada de vários curiosos. - Gringoire, desesperado, vê pela janela da prisão que sua infeliz esposa está sendo torturada. - A praça é invadida por uma multidão de mendigos e prostitutos que celebram o Festival dos Tolos, do qual Quasimodo foi eleito rei e vestido com robes reais. Frollo fica indignado e rasga as vestes do corcunda. - Esmeralda é levada para sua execução. Ela se despede de todos e pede a Gringoire que a enterre com a echarpe de Phoebus. Frollo novamente se oferece para salvá-la em troca de seu

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amor. A garota novamente recusa. Ela está preparada para morrer e reza fervorosamente. - Neste momento aparece Phoebus, recuperado de seus ferimentos, e revela quem foi o verdadeiro assassino. - Esmeralda se joga nos braços de seu amante. Frollo, enraivecido, toma a adaga, mas Quasimodo o joga da ponte. - Esmeralda e Phoebus prometem serem fiéis um ao outro para sempre.

Paquita Bailado em dois atos e três cenas com música de Edouard Deldevez e coreografia de Joseph Mazilier e Marius Petipa, Paquita teve sua estreia no teatro de L´Academie Royale de Musique, em Paris, em 1º de abril de 1846. O balé transcorre na Espanha, durante a época Napoleônica, e conta a história de Paquita, uma jovem cigana que não sabe de suas origens. Na verdade, ela é nobre de nascimento, mas foi roubada por ciganos quando era criança.

Resumo  1º Ato – O Vale dos Touros nos Arredores de Saragoça. - Estão sendo realizados preparativos para uma festa que Dom Lopez oferecerá ao general francês. Este pega a mão de dona Serafina (filha do governador) e a coloca na do seu filho Lucien. Não há uma aprovação amorosa. - Entra um grupo de ciganos, liderados por Inigo. Logo depois entra Paquita, que dança, e depois vai para um canto e fica olhando para uma miniatura de um medalhão que usa por debaixo da blusa e que acredita representar seu pai. - Depois de mais danças ciganas apresentadas, Inigo ordena Paquita a passar o chapéu. Ao fazê-lo, vê Lucien, ambos se sentem atraídos. - Inigo ordena que Paquita dance de novo, mas ela se recusa. Quando Inigo ameaça bater na jovem, Lucien o impede. - Escondido, Inigo roubara o medalhão de Paquita, que fica transtornada quando dá por falta dele e acusa o cigano. Lucien quer prendê-lo, mas o governador intervém. - Terminadas as apresentações de dança, o governador convida os franceses para um jantar em sua companhia e pede-lhes que vão na frente. Ficando a sós com Inigo, combina com o este matar Lucien e usar Paquita para atrair o francês a uma armadilha.

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- Depois que todos saem, entram o francês e a cigana. Lucien propõe a Paquita que fuja em sua companhia, mas ela recusa. - Em seguida, entram Don Lopez e seus convidados. O governador anuncia a partida dos franceses. Lucien diz que irá mais tarde, pois terá de comparecer a uma festa que os ciganos darão em sua homenagem, e irá se reunir a todos em Saragoça.  2º Ato – Cena 1 – Interior de uma Casa Cigana - Paquita sonha com Lucien. Ao ouvir os passos, se esconde. Entram Inigo e o governador. Os dois combinam a morte de Lucien, colocando um narcótico em sua bebida. - Quando o governador sai, Paquita dá um passo em falso e é surpreendida por Inigo, mas diz a ele que acabou de chegar. - Entra Lucien, que pede abrigo a Inigo. Este concede. Paquita avisa ao jovem francês, por sinais, que ele corre perigo. - Inigo sai com Paquita para preparar a refeição. Ficando sozinho, Lucien se dá conta de que está trancado e sem a espada. - Durante a ceia, Paquita vai avisando Lucien se pode ou não beber o vinho. Quando é servido o vinho drogado, Paquita deixa cair os pratos e na confusão troca os copos. Inigo logo depois adormece. - Soa a meia noite. Paquita e Lucien agarram-se a parede que, girando sobre seu eixo, os leva para fora, ao mesmo tempo em que deixa entrar os bandidos, que ficam espantados ao encontrarem apenas Inigo adormecido. Cena 2 – Salão de Festas do Comandante Francês em Saragoça. - Entra o conde d´Hervilly acompanhado do governador, a futura nora e sua mãe, a condessa. De repente entram Paquita e Lucien. Este relata tudo e diz que a cigana salvou sua vida. - Paquita desmascara o governador, dizendo que foi ele quem tramou com Inigo a morte de Lucien. O conde manda prender Dom Lopez e toda sua comitiva. - Depois, tirando a miniatura debaixo da blusa (que havia recuperado enquanto Inigo dormia), Paquita a compara com retrato na parede, e diz que é seu pai. - O conde lhe diz que aquele retrato é de seu irmão que morrera no Vale dos lobos numa cilada cigana. Paquita entende tudo. - O conde abraça a sobrinha e a condessa leva-a para vestir dignamente. - O baile prossegue. Paquita retorna a dança que serve de prelúdio para o conjunto final.

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Figura 21: Apresentação do repertório Paquita do Ballet Bolshoi.

Don Quixote Originalmente apresentado em quarto atos e oito cenas e baseado em capítulos do famoso romance Don Quixote de la Mancha de Miguel de Cervantes, o balé Don Quixote foi apresentado pela primeira vez em Moscow, Rússia, em 26 de dezembro de 1869, com coreografia de Marius Petipa e música de Ludwing Minkus. As produções modernas de Don Quixote derivam da versão de Alexander Gorsky – aluno de Petipa – para o Teatro Bolshoi em 1900, com três atos e cinco cenas. O balé se passa na Espanha e conta a estória de Kitri e Basílio, repleta de amor, heroísmo e ilusão, que com a ajuda do nobre cavaleiro Don Quixote e seu fiel escudeiro Sancho Panza, se casam numa grande festa em Barcelona.

Resumo  1º Ato – Pátio de uma Estalagem - Quitéria (ou Kitri), filha do taberneiro Lorenzo, está apaixonada pela jovem barbeiro Basílio, e procura por ele. O pai da jovem, porém, deseja que ela se case com Camacho, um velho rico e ridículo. Como Quitéria se recusa a desposar alguém de quem não gosta, é entregue a guarda de uma tia. - Todos saúdam o toureiro Espada, que entra acompanhado da noiva, Mercedes, e numeroso séquito. Logo depois, entra uma estranha figura. É Dom Quixote, de lança em riste, pronto a fazer justiça, acompanhado do fiel escudeiro Sancho Pança.

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- O velho cavaleiro confunde Quitéria com sua amada Dulcinéia e a corteja, causando ciúmes em Basílio. -Camacho insiste no noivado, o que provoca a fuga dos dois jovens enamorados. Lorenzo, Camacho e Dom Quixote partem à procura deles.

 2º Ato – Cena 1 – Entre os Moinhos de Vento - Próximo à aldeia há um acampamento cigano e um teatro de fantoches. - Quitéria e Basílio estão refugiados nos moinhos de vento quando são surpreendidos pelos ciganos, que se propõem a ajudá-los. Lorenzo, Camacho e Pepa, logo ao chegar, são assaltados pelos ciganos e saem furiosos em busca de guardas. - Entra Dom Quixote, conduzido por Sancho. Quixote está esgotado depois da luta contra os moinhos de vento, que ele julgava serem gigantes que ameaçavam sua donzela. - Os dois são convidados para o aniversário da filha do rei dos ciganos. Basílio e Quitéria estão vestidos como ciganos. Quixote continua confundindo Quitéria com Dulcinéia. - Lorenzo volta com os guardas, que prendem os ciganos, mas Quixote intervém e consegue soltá-los. Enquanto os ciganos dançam ao redor do cavaleiro, este, perturbado, confunde de novo os moinhos. Investindo contra eles, é levantado do chão por uma das pás, caindo depois inconsciente. Cena 2 – Uma Floresta. - Sancho Pança conduz o burro, sobre o qual está Dom Quixote ferido. O escudeiro o ajuda a descer, e Dom Quixote recosta na relva para descansar, tentando conciliar o sono, mas é acometido de sonhos fantásticos. - Inicialmente surgem fadas rodeadas de gnomos. Depois é a vez de monstros. Finalmente, através de amor, a rainha das Dríades leva Dom Quixote e Dulcinéia, a quem ele confessa seu amor. Mas sonho acaba. Cena 3 – A Taberna - Todos festejam a passagem pela cidade de Espada e Mercedes. - Entram Dom Quixote, Sancho Pança, Basílio e Quitéria – o casal ainda disfarçado de ciganos. - Descoberta por Lorenzo, Quitéria é obrigada a desposar Camacho. Desesperado, Basílio suicida-se, mas faz um ultimo pedido: casar-se com Quitéria. Dom Quixote obriga Camacho a casar com a jovem, já viúva. Sancho Pança realiza o casamento de Quitéria com o moribundo, que, logo depois, se levanta, abraça a noiva, acabando com a farsa. 3º ato – A Taberna - Todos confraternizam. Dom Quixote é aclamado como Herói.

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- Camacho, consolado, procura novas conquistas. Lorenzo fica feliz por ter sido gratificado pelos ciganos. - Basílio e Quitéria dançam um extenso pas de deux. Quixote segue com o fiel escudeiro sempre em busca de novas aventuras.

Figura 22: Apresentação do repertório Don Quixote do Ballet Bolshoi.

Carmen Bailado em quatro atos inspirado na famosa ópera homônima, de autoria de Georges Bizet – que adaptou a novela de Prosper Mérimée – teve sua estreia no Opéra-Comique em Paris, em três de março de 1875. A ópera, embora tivesse fracassado em sua estreia, se tornou um dos maiores sucessos musicais de todos os tempos – nos 10 primeiros anos foi representada em torno de 1000 vezes –, e a estória da cigana Carmen e seu terrível destino já foi apresentada de todas as maneiras e em todas as artes. O balé foi adaptado pelo compositor soviético Ridion Chedrin, que fez o trabalho para sua esposa, a primeira bailarina do Ballet Bolshoi de Moscou, Maia Plisteskaya, uma das mais célebres bailarinas do mundo. Carmen é uma cigana que usa seus talentos para a dança e o canto para enfeitiçar e seduzir vários homens. Ela é cruel, engenhosa e volúvel, conseguindo ser perversa e admirável ao mesmo tempo, o que é uma mistura incomum para uma heroína operística. Don José, cabo do exército, é um soldado decente e respeitável, apaixonado por uma camponesa chamada Micaela, mas é seduzido por Carmen a levar

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uma vida de fora da lei. Zuniga - oficial comandante de Don José - também, é enfeitiçado por ela, embora prenda Carmen por ter esfaqueado outra mulher. Escamillo é um toureiro e também está enfeitiçado por Carmen. Micaela é uma camponesa que está apaixonada por Don José. Ela é leal, gentil e bem intencionada; tenta resgatar Don José da vida destrutiva que ele levará com Carmen. Frasquita e Mercedes são duas ciganas amigas de Carmen.

Resumo  1º Ato – Espanha, por volta de 1820 - Os Dragões do Regimento Almanzar, servindo em Sevilha, estão parados em uma praça fora de suas guaritas, vendo a multidão passar. Seu cabo, Morales, vê uma linda moça, Micaela, e descobre que ela está procurando por outro cabo chamado Don José. Desapontado, Morales diz a ela que Don José chegará. - Com a mudança da guarda, as crianças aparecem, fingindo serem soldados, enquanto Morales fala ao recém-chegado Don José sobre sua visitante. Um oficial, Zuniga, aparentemente há pouco tempo em sua posição, pergunta a José se é verdade que há muitas moças bonitas entre os trabalhadores da fábrica de cigarros do outro lado da praça. - Logo, alguns jovens aparecem esperando as moças que trabalham na fábrica durante seu intervalo no trabalho. As moças se juntam a eles, cantando os louvores do descanso e do fumo. Quando a cigana Carmen sai da fábrica, ela é imediatamente o centro da atenção e obsequia seus admiradores com uma canção sobre a liberdade e a ilusão do amor. - Os homens disputam sua atenção, mas ela os ignora em favor de Don José, que a ignora. Quando volta para a fábrica, ela joga para ele uma cássia de seu corpete e ele murmura para si que ela deve ser uma feiticeira. - Sua meditação é interrompida por Micaela, com uma mensagem de sua mãe. Embaraçada, ela também dá a ele um beijo de sua mãe. José fica tocado pelas lembranças de casa. Na face de deusa simples de Micaela, ele imagina como Carmen foi capaz de distraí-lo mesmo momentaneamente. Micaela deixa-o sozinho para ler a carta de sua mãe, que diz que ele deve se casar com Micaela. José concorda. - Antes que Micaela tivesse uma chance de retornar, uma comoção irrompe na fábrica e várias das moças vêm correndo para chamar a polícia: Carmen e outra moça se envolveram em uma briga.

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- Entre os argumentos sobre quem deu o primeiro golpe, José, acompanhado de dois soldados, vai para a fábrica e sai com Carmen, que entrega a Zuniga para o interrogatório. Carmen insolentemente recusa-se a responder e esbofeteia uma de suas colegas de trabalho que estavam por perto. - Assim que ela está sozinha, sob custódia de José, ela diz a ele que ele a ajudará a fugir, porque ele a ama: a flor que ela jogou está fazendo sua mágica. José ordena que ela não fale, então ela canta. - A raiva e a confusão de José dão margem para as promessas cada vez mais atrevidas de Carmen, de que ele será seu amante, e ela o persuade a deixá-la escapar. Quando Zuniga sai da guarita com uma ordem escrita para levar Carmen presa, José começa a levá-la embora, mas ela o empurra, desequilibrando-o e foge.

 2º Ato – Dois meses mais tarde - Carmem canta e dança com suas amigas Frasquita e Mercedes enquanto espera, como ela prometeu, por Don José. - Os homens aparecem, aclamando o toureiro Escamillo, que se gaba de suas proezas e gosta imediatamente de Carmen. Ela também se sente atraída por ele, mas o deixa de lado, juntamente com outros amantes em potencial, uma vez que ela espera por José. - Quando a estalagem fecha para a noite, Carmen diz a suas amigas que ela não pode se juntar a sua última expedição de contrabando porque está apaixonada. - No momento em que José aparece, estes amigos insistem com ela para arregimentálo para o bando. - Carmen dança para ele após ele explicar que tinha passado dois meses na cadeia por ter deixado que ela escapasse. Quando cornetas distantes tocam o recolher, entretanto, José diz a ela que tem que voltar para o seu quartel. - Carmen caçoa de sua obediência de menino, dizendo que ele não liga para ela. Ele nega isto, descrevendo como ele guardou como um tesouro a flor já murcha enquanto esteve preso e que somente pensou nela. - Ela duramente tenta persuadi-lo a fugir. José diz que ele não pode se tornar um desertor por causa dela. - Justamente quando ela tenta colocá-lo para fora, Zuniga aparece para ver Carmen. Confrontando-se com José, que já está atrasado para o quartel, ele ordena que parta, mas José desafia seu superior.

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- Para evitar uma briga, Carmen chama suas amigas ciganas que, com brincadeiras, mantêm Zuniga cativo enquanto José percebe que a sorte está lançada: ele já é um desertor. Os ciganos louvam sua existência livre.

 3º Ato – Fronteira do país, nas montanhas. - Os contrabandistas, José entre eles, cantam os perigos e as recompensas de sua vida. Olhando em direção ao vale onde sua mãe vive, José se arrepende de ter traído suas expectativas. - Carmen diz a ele que ele também deveria partir. Seu relacionamento havia esfriado. Vendo seu temperamento encolerizar-se com sua indiferença, Carmen percebe que ele é capaz de matá-la. - José está de guarda enquanto as mulheres conversam usando seus charmes para desarmar quaisquer guardas civis que possam encontrá-los em seu esconderijo. - Após partirem, Micaela vagueia sozinha, tendo encontrado o covil dos contrabandistas. Consciente do poder de Carmen sobre José e os perigos do lugar, ela declara que, com a ajuda de Deus, ela trará José de volta. Ela vê José e o chama, mas ele dá um tiro de advertência desafiando um invasor, que é Escamillo em busca de Carmen. - Micaela se esconde enquanto os dois homens se confrontam, sendo que Escamillo logo percebe, pela recepção de José, que ele é o amante atual de Carmen. - Desafiado para um duelo com facas, o toureiro escorrega e somente o surgimento de Carmen salva sua vida. Escamillo diz a José que ele irá lutar com ele novamente quando José quiser, mas os contrabandistas não querem violência. Escamillo parte convidando a todos perto dele para sua próxima tourada; José tem de ser contido para que não vá atrás dele novamente com uma faca. - Quando Micaela é descoberta, José garante a todos que ela não é uma espiã. Ela implora para que ele vá ver sua mãe que está doente, de cama, e Carmen diz a ele que vá. - Jurando nunca deixá-la, ele parte, enquanto a voz de Escamillo é ouvida à distância, repetindo a canção do toureiro.

 4º Ato – Na praça de touros de Sevilha - Uma multidão está reunida, com ânimo festivo, comprando bebidas e laranjas.

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- A parada de toureiros é saudada pelas crianças e pela multidão entusiasmada. Escamillo agradece a ovação e, quando todos partem para entrar na arena, ele vê Carmen e a puxa de lado para algumas palavras de carinho. - Quando ele também parte, acompanhando o Alcaide (prefeito), para a competição, Carmen recebe um aviso ansioso de Frasquita e Mercedes de que elas haviam visto José nas sombras; procurado por deserção, ele não pode mostrar-se abertamente. Carmen declara que não tem medo e que falará com ele sozinha. - José aparece e começa em tom de súplica, mas a frieza de Carmen o leva ao desespero. Ela declara que tudo está acabado entre eles, que ela viverá livre ou morrerá. - Quando as vozes da arena proclamam a vitória de Escamillo e Carmen tenta entrar, José bloqueia a passagem. Enraivecida, ela grita que ele deve deixá-la partir ou matála. Com isso, ela joga fora o anel que ele lhe deu, recusando, novamente, o pedido de José para que venha com ele. - Ferozmente, ele a esfaqueia, e em seguida ajoelha-se ao lado de seu corpo quando se ouve a multidão cantando a música do toureiro. Quando os espectadores horrorizados deixam a arena e o descobrem, ele se entrega, gritando que ele matou sua amada Carmen.

Figura 23: Apresentação do repertório Carmen do Ballet Mariinsky.

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A Técnica da Dança Cigana Conceito de Técnica É normal ouvir-se que a dança cigana é uma dança “livre”, onde não há técnica e é dançada através da emoção. O que é um grande equívoco. A dança cigana possui sim uma técnica, e ao mesmo tempo também deve ser dançada com emoção. Técnica é um conceito antropológico e está fortemente relacionado a tradições: não há técnica e nem transmissão dela se não há tradição, e pode ser definida como um ato tradicional eficaz. Em qualquer sociedade todos os indivíduos devem saber ou aprender aquilo que devem fazer em todas as situações. E isso é passado no meio da cultura através de técnicas, embora de maneira inconsciente. Técnicas corporais são modos como as pessoas sabem servir-se de seus corpos. Quando se fala em dança cigana não é possível considerar somente uma única forma de dança, uma vez que existem várias maneiras de se dançar uma mesma etnia, com diferentes qualidades de movimentos. É através da técnica que se administra essa diversidade. Ter técnica na dança cigana não é dominar outras modalidades de dança e tampouco prender-se em passos marcados de coreografias. A dança cigana, por ser essencialmente étnica, pertence a um povo que possui uma maneira própria de se servir de seus corpos e que desde a infância já aprende pela convivência e pela imitação como se deve dançar. Um indivíduo que não viveu nesta sociedade – desde sua infância – e possui diferentes formas de se servir de seus corpos necessita de técnica para reproduzir esta dança e ser fiel a sua forma e à sua tradição. A dança cigana não é livre. Ela possui regras que devem ser respeitadas, as quais garantem a identidade da dança. Uma dança livre também possui técnica, e é diferente de se estar em coreografia. O grande desafio da dança cigana consiste em aliar a técnica com a emoção, uma vez que movimentos exclusivamente técnicos são destituídos de emoção, e o uso excessivo da técnica secciona o movimento do impulso vital. A técnica deve servir para se atingir as qualidades de movimento desejadas, como forma de libertação e não de restrição, para organizar e expandir conhecimento sobre o corpo e suas possibilidades de movimento. Enfim, o ideal é conseguir entregar-se à emoção com consciência, para que não se parca a essência inerente a cada dança, respeitando a estética do estilo que está sendo interpretado.

Braços e Tipos de Movimentos

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Os braços e mãos possuem grande importância na dança cigana, pois muitas vezes não só são o foco da dança como também são seus movimentos que definirão o estilo da dança. Por exemplo, as mãos na dança espanhola possuem maior destaque, sendo os dedos e pulso bem trabalhados e braços amplos; na dança russa as mãos são mais “espalhafatosas” e leves, tendo pouca evidência; na dança kalbélia mãos e braços imitam movimentos das serpentes, podendo também executar mudras. Quanto à qualidade de movimento, eles podem ser precisos (marcados) ou fluídos (não terminam), fortes ou leves. Essa variação entre as qualidades de movimentos que não só determinarão o estilo de dança como também propiciará variedade a uma coreografia.

Acessórios e Elementos Cênicos Na dança cigana é muito comum o uso de acessórios, como xale, flores, leque, fitas e pandeiro. Tradicionalmente, alguns elementos são utilizados porque faziam parte do dia-a-dia dos indivíduos de uma região. É o caso do xale, importante peça do vestiário de ciganas espanholas e russas que acabou sendo incorporado na dança. O mesmo fenômeno aconteceu com o leque – acessório da alta classe europeia e usado, para além aliviar o calor, como forma de sedução e comunicação –, com o pandeiro (comum nas danças romani) e o snuj (na dança ghawazee). Outros elementos, dos quais não existem registros históricos e não são tradicionais, mas que podem ser utilizados dentro de um contexto como forma de comunicação de ideias – rituais ou teatrais – são:           

Fitas Flores Punhal Espada Echarpe Tochas Castanholas Taça Véu Cesto Jarro

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Criações Coreográficas Tradicional Release A coreografia “Baila mi Niño“ representa a tradição cigana, enraizada no folclore espanhol e passada de geração em geração, mantendo sempre viva a força, a intensidade e a história do povo cigano, que apesar de todo seu sofrimento, sempre encontrou motivos para cantar e dançar.

La Nitra e Gitano Errante Encarna Amador, mais conhecida no mundo flamenco como La Nitra, é uma cantora cigana integrante da companhia de Joaquín Cortés. Trabalhou também com La Tana, Montse Cortes e muitos outros artistas.Possui três discos gravados e com grande sucesso no mercado. Sua música Gitano Errante em ritmo de tango flamenco – originário da região da Andaluzia e muito influenciado pelos ciganos – é cantada em espanhol com muitas frases em dialeto caló, portanto é bastante difícil de entender, mas sente-se muito sua intensidade.

Fusão Release Nos balés de repertório, onde predominam as fantasias e finais felizes, os ciganos estão presentes, mas com muito sofrimento ou em papéis degradantes e maléficos. Fusão da dança cigana com balé clássico, a coreografia “Conto de Fadas” é uma mistura da força das ciganas com a delicadeza das princesas, mostrando que os ciganos podem sim ter seus finais felizes.

Secret Garden e Fairytale Secret Garden é um duo irlandês-norueguês que toca músicas instrumentais com uma mistura de new age, neo-clássico e celta. Sua música Fairytale evoca toda a delicadeza e suavidade das fadas dançando em uma floresta encantada, com alguns momentos de força e energia.

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Referências Referências Bibliográficas ABOUT TANGOS. Disponível em . Acesso em: 02 mar. 2014. ALIANÇA CIGANA: Almanaque Cultural. 2007 A SAGA CIGANA. Revista Superinterssante. Setembro 2008, págs 81 a 85. COELHO, Symone. Apostila de Ballets de Repertório da Especialização em Balé Clássico do Curso Técnico em Dança da Escola Shiva Nataraj Danças e Práticas CONTRUCCI, Valéria Sanchez Silva. Ao Passar das Caravanas... Ciganas.... São Paulo : Zenda, 1995. FILHO, Nelson Pires. Rom: Um Povo sem Fronteiras. São Paulo : Madras, 2005. FLAMENCO. Disponível em Acesso em: 02 mar. 2014. FLAMENCO GUITAR MUSIC. Disponível em Acesso em: 04 mar. 2014. ORIGENS DO FLAMENCO. Disponível em . Acesso em: 02 mar. 2014. RITO Y GEOGRAFÍA DEL CANTE FLAMENCO: Fiesta gitana por tangos. Disponível em . Acesso em: 02 mar. 2014. SÁRMATAS. Disponível em . Acesso em: 17 fev. 2014. THE TANGO FLAMENCO. Disponível em < http://arteole.com/en/the-tango-flamenco> Acesso em: 04 mar. 2014. WILSON, Cristiane. Material didático do Curso de Aperfeiçoamento em Dança Cigana do Saphyra Espaço de Dança.

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Referências de Imagens

Figura 1: As regiões cujas línguas têm origem indo-europeia. Disponível . Acesso em: 19 fev. 2014.

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Figura2: Invasões Arianas da Índia. Disponível em . Acesso em: 19 fev. 2014. Figura 3: Região da Andaluzia, Espanha. Disponível em . Acesso em: 19 fev. 2014. Figura 24: Região da Catalunha, Espanha. . Acesso em: 19 fev. 2014.

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Figura 25: Região dos Bálcãs, Europa. . Acesso em: 19 fev. 2014.

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Figura 26: Bandeira Cigana. Disponível em . Acesso em 24 mar. 2014. Figura 27: Grupo apresentando dança cigana em Sibiu, Romênia. Disponível em . Acesso em 25 mar. 2014. Figura 28: Bailarinos representando a dança cigana húngara em espetáculo. Disponível em . Acesso em 25 mar. 2014. Figura 29: Bailarina representando a dança cigana russa. . Acesso em 25 mar. 2014.

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Figura 30: Grupo croata apresentando dança folclórica com influência cigana. Disponível em . Acesso em 25 mar. 2014. Figura 11: Grupo apresentando a dança Čoček da Sérvia em mostra de dança. Disponível em . Acesso em 25 mar. 2014. Figura 312: Dançarina executando a dança Manele. Disponível em . Acesso em 25 mar. 2014. Figura 13: Grupo folclórico sérvio apresentando a dança Kolo. Disponível em . Acesso em 25 mar. 2014.

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Figura 32: A dançarina Reyhan Tuzsuz, famosa pela dança cigana turca. Disponível em . Acesso em 31 mar. 2014. Figura 33: Khairiya Mazin, considerada a última das dançarinas ghawazee. Disponível em . Acesso em 31 mar. 2014.

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Figura

16:

Ciganas

indianas

dançando

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a

dança

kalb

Saphyra Espaço de Dança Trabalho de Conclusão do Curso de Aperfeiçoamento em Dança Cigana Dança Cigana: Do Flamenco ao Balé Clássico

Ana Paula Camillo 31/07/2014

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élia. Disponível em . Acesso em 31 mar. 2014. Figura 17: Dançarinas apresentando uma coreografia de rumbas gitanas. Disponível em . Acesso em 31 mar. 2014. Figura 34: Dançarina apresentando Tangos em Maria "La Canastaera", um dos lugares mais tradicionais de flamenco em Granada. Disponível em . Acesso em 31 mar. 2014. Figura 359: Dançarinas de tangos flamencos. Disponível em . Acesso em 31 mar. 2014. Figura 20: Apresentação do repertório La Esmeralda do Ballet Bolshoi. Disponível em . Acesso em 04 jun. 2014. Figura 21: Apresentação do repertório Paquita do Ballet Bolshoi. Disponível em . Acesso em 04 jun. 2014. Figura 22: Apresentação do repertório Don Quixote do Ballet Bolshoi. Disponível em . Acesso em 04 jun. 2014. Figura 36: Apresentação do repertório Carmen do Ballet Mariinsky. Disponível em . Acesso em 04 jun. 2014.

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