Dança e inclusão da pessoa com mobilidade reduzida: relatos parciais de pesquisa

June 3, 2017 | Autor: Mariana Baruco | Categoria: Videodance, Contemporary and Post Modern Dance
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DANÇA E INCLUSÃO DA PESSOA COM MOBILIDADE REDUZIDA: RELATOS PARCIAIS DE PESQUISA

Juliana Tiemi Anglas Tarumoto Mariana Baruco Machado Andraus Departamento de Artes Corporais- Instituto de Artes-UNICAMP FAPESP Palavras-chave: dança inclusão

videodança

Introdução

da Pessoa com Mobilidade Reduzida: análise de produções contemporâneas em dança inclusiva na Região Sudeste do Brasil e criação de d

realizada

com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estad o de São Paulo (FAPESP), que irá analisar a questão de como bailarinos com deficiência estão inseridos neste meio artístico profissional. Paralelamente a isto, será feito o relato do processo da parte prática da pesquisa, que conta com uma participante voluntária para produção de um videodança inclusivo. A inserção de bailarinos com deficiência no cenário artístico da dança teve seu início a partir do momento em que a área da dança começou a se deparar com aberturas, o que, segundo Barral (2002), ocorreu a partir do período moderno, quando a dança começou a buscar uma maior liberdade de expressão, assim como a ruptura de corpos a partir dos estereótipos da dança clássica. Porém, foi a partir do período conhecidocomo pós-moderno, que, nos Estados Unidos, foi mais forte entre as décadas de 1960 e 1970, quebailarinos com e sem treinamento em dança passaram a compartilhar a cena, não prejudicando a qualidade artística da obra, mas proporcionando (re)descobertas a partir de movimentações usuais. Andraus (2012), com base em Wheeler (1984), pontua algumas características do período pós-moderno:

mo significados

a

serem

expressos.

Segundo

s, o virtuosismo ficou de fora desta estética. (ANDRAUS, 2012, p. 88).

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Wheeler bailarino

A inclusão de pessoas com deficiência pode se dar de diferentes maneiras, inclusive no campo da dança terapia ou da educação pelo moviment o, mas não somente. Esta pesquisa teve como enfoque observar bailarinos com deficiência que se encontram no cenário artístico profissional da dança. Albright (2001), sendo uma b ailarina em uma cadeira de rodas, aponta que o fato de bailarinos com deficiência estarem emcena já é por si só um movimento cultural, além de político e físico. Existe o questionamen

gerando uma visão dupla para

quem assiste, já que se depara com um bailarino que é deficiente, mas sem estar limitado. Assim, a autora reconhece dois tipos de coreografias: uma que vai explorar o virtuosismo do bailarino nesse caso, os bailarinos vão buscar movimentações e características que superem sua deficiência e outra que não tenta esconder nem enfatizar a deficiência, mas explora o potencial que aquele corpo tem a oferecer. Estas últimas geralmente partem de princípios do contatoimprovisação, que f oi criado por Steve Paxton na década de 1970 e tem como um dos seus fundamentos o uso do peso corporal e a proposta do contato físico gerando células de improvisação entre bailar inos. A técnica abarca corpos diversos, já que cada um vai explorar a melhor forma de se trabalhar; assim, é muito utilizada em companhias que, em seu elenco, possuem bailarinos com corpos não padronizados. Objetivos 1) Apresentar o cenário artístico da dança referente a bailarinos com deficiência; 2) Apresentar algumas das companhias da região Sudeste do Brasil que possuem em seu elenco bailarinos com e sem deficiência; 3) Discorrer sobre o processo da parte prática da pesquisa criação de um videodança a partir das vivências e relatos da participante voluntária. Metodologia Esta é uma pesquisa de caráter qualitativo, tendo idos realizado inicialmente um levantamento bibliográfico sobre o tema. Depois, foi realizado o contato da pesquisadora com as companhias escolhidas para este projeto, tanto com o caráter de observação dos seus processos de trabalho quanto entrevistas diretas com os bailarinos, baseadas nos referenciais teóricos encontrados. Quanto à parte prática, estão ocorrendo encontros presenciais com a participante voluntária e com a orientadora deste projeto, realizando-se exercícios de improvisação a fim de levantar material para a criação do videodança. Em nenhum momento se buscou a formação

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em dança da participante, porém, dinâmicas que possi bilitem despertar seu potencial criativo em relação ao próprio corpo e suas habilidades. Resultados Em um momento anterior à vigência deste projeto, foi realizada uma breve pesquisa acerca das companhias que possuem em seu elenco bailarinos com e sem deficiência em todo o Brasil; optou-se por restringir apenas às companhia s da Região Sudeste do Brasil, para ser possível um contato mais próximo entre elenco e pes quisadora. Neste período de contato com as companhias, foi possível a pesquisadora realizar entrevistas com os elencos, além de um contato bem próximo com os diretores de cada companhia e o acompanhamento de ensaios (permitindo uma observação da rotina da companhia, desde preparação corporal até processo criativo) e espetáculos (desde montagem de cenário até a apresentação). Os laboratórios práticos com a participante voluntária acabaram por ocorrer de forma quinzenal, devido a questões pessoais da participan te, mas não afetando o processo do trabalho, assim sendo possível desenvolver grande vocabuláriopara ser usado no videodança, que se encontra em processo de elaboração. Discussão Para esta pesquisa foram escolhidas três ompanhias:c Grupo Mão na Roda

Coletivo

MR (Diadema-SP), Cia Dança Sem Fronteiras (São Paul o-SP) e Pulsar Cia de Dança (Rio de Janeiro-RJ). O Grupo Mão na Roda não está atuante neste momento, mas, devido à sua importância no cenário da dança, está sendo realizada parte da pesquisa a partir do contato com um dos idealizadores, Luís Ferron. Quanto às outras companhias, foi possível estabelecer um contato mais próximo tanto com direção quanto com o s próprios bailarinos. Embora as companhias tenham um início e trajetória diferentes, em entrevista com os bailarinos notam-se algumas características bem semelhantes, tanto entre as próprias companhias quanto no que diz respeito à trajetória dos bailarinos. Ambas as companhias possuem em seu elenco cerca de 8 a 10 bailarinos, com e sem deficiência. As duas companhias usam muito a técnica de contato-improvisação como parte do seu processo criativo, além de exercícios de consciência corporal e técnicas somáticas misturadas à dança. Os bailarinos, além de intérpretes, também se tornam criadores. Sempresão levadas em consideração suas ISSN 21774013

habilidades; assim, mesmo que a diretora ou coreógrafa já tenha alguma proposição de movimento, este sempre é modificado a partir das facilidades e dificuldades dos bailarinos, isso ocorrendo para todos os bailarinos do elenco, com e sem deficiência. Em função disso, as diretoras de ambas as companhias concordam que as companhias não são de dança inclusiva,

contemporânea. Ferna

, ao falar

sobre seus bailarinos, opta pela expressão bailarinos com habilidades mistas . Embora nas companhias a deficiência não limite o artista, é notável que a trajetória dos bailarinos com deficiência é bem diferente quandoomparadac aos bailarinos sem deficiência.

entre estas deficiência motora e visual. Em conversa com os próprios bailarinos, todos aqueles sem deficiência relataram que iniciaram no mundo das artes quando crianças, no geral através de aulas de balé clássico ou dança moderna, podendo, assim, continuar neste percurso até chegar ao meio profissional. Já no caso dos bailarinos com deficiência, nenhum deles teve contato com nenhuma linguagem das artes desde criança, havendo até um afastamento. Muitas vezes ouviram que, devido à deficiência, não seria possível dançar e estar em cena. A relação deles com a dança se deu já quando adultos, atravésde projetos oferecidos como atividades terapêuticas. Assim, após esse primeiro contato começaram a buscar outras formas de se relacionarem com a dança, por fim chegando a uma co mpanhia de dança, na condição de bailarinos. Em entrevista, eles colocaram como seria melhor se tivesse sido possível uma formação, um contato quando mais novos, o que poder ia ter mudado até mesmo a forma de encararem o próprio corpo e a deficiência. Este é o caso da participante voluntária estad pesquisa. Desde a primeira conversa, a participante se mostrou muito interessada no projeto, mas sua primeira fala tinha uma preocupação em não conseguir dançar, porque, mesmo que anteriormente tivesse tido interesse na dança, ela não teve a oportunidade deste contato . Assim, os primeiros encontros foram para

apresentar novas propostas e referências de dança contemporânea, o que já foi mudando a própria concepção de dança da participante. Depois,

foram propostos exercícios de

improvisação, que possibilitaram que, em parceria, fossem descobertas possibilidades para os dois corpos (participante e pesquisadora), gerando um grande vocabulário que passou a ser de conhecimento comum para a dupla. Na fase em que se encontra o projeto estão sendo feitas escolhas para fechar uma partitura a ser filmada para o videodança, mas todas as escolhas são a partir do que os corpos descobriram e se potencializaram. A escolha de fazer o trabalho em formato de videodança foi a partir do relato da par ticipante em se sentir mais à vontade, mas

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também baseado no que Nunes (2004/2005) afirma: que atecnologia proporciona que o corpo da pessoa com deficiência se expanda, adquirindo novas habilidades. Conclusão A partir do contatos com as companhias profissionais e com a participante voluntária do projeto, é perceptível o quanto, devido a estereótipos historicamente presentes na dança, ainda é muito difícil o acesso de pessoas com deficiências em aulas de dança que não tenham um caráter terapêutico, porém há o interesse, nãopenas na (re)descoberta do próprio corpo, mas em estar no cenário artístico. Mesmo que as trajetórias das companhias que têm em seu elenco bailarinos com e sem deficiência sejam difíceis, felizmente as duas companhias pesquisadas já obtiveram importantes conquistas, como um público que se interessa pelo seu trabalho, um local (mesmo que não próprio) fixo de trabalho e a conquista de vários prêmios, mediante projetos e editais, que possibilitam a concepção e circulação dos espetácul os. Referências bibliográficas ANDRAUS, Mariana Baruco Machado. Arte marcial na formação do artista da cena . Jundiaí: Paco Editorial, 2014. BARRAL, José Henrique Amoedo. Dança Inclusiva em Contextos Artísticos Análise de Duas Companhias. 2002. 181 p. Dissertação (mestrado em Performance Artístico- Dança). Faculdade de Motricidade Humana, Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa. ALBRIGHT, Ann Cooper. Strategic Abilites: Negotiating the Disabled Body in Dance. IN: DILLS, A. ALBRIGHT, A. C. Moving history/ dance culture: a dance history reader. Middletown: Wesleyan University Press, 2001. p. 56- 66. NUNES, S. M. Fazer dança e fazer com dança: perspectivas estéticas para os corpos especiais que dançam. Ponto de Vista, Florianópolis, n. 6/7, p. 43-56, 20 04/2005.

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