Das escritas de língua de sinais

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CONGRESSO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO 2016 Educação e Diversidade ISSN 2179-068X DAS ESCRITAS DE LÍNGUA DE SINAIS À ESCRITA DE LÍNGUA DE SINAIS: PRIMEIROS SUSPIROS DA VISOGRAFIA EIVADOS PELO SIGN WRITING E PELA ELiS Claudio Alves Benassi Universidade Federal de Mato Grosso Grupos de Pesquisa REBAK e REBAK Sentidos Anderson Simão Duarte Universidade Federal de Mato Grosso Grupos de Pesquisa REBAK e REBAK Sentidos Sebastiana Almeida Souza Universidade Federal de Mato Grosso Grupos de Pesquisa REBAK e REBAK Sentidos Simone de Jesus Padilha Universidade Federal de Mato Grosso Grupos de Pesquisa REBAK Resumo Este artigo tem como objetivo divulgar a Visografia, um novo sistema de Escrita de

língua de sinais que está em desenvolvimento, no intuito de facilitar o processo de grafia e leitura da língua de sinais. Ainda visa analisar o processo de leitura da Visografia por duas acadêmicas. O percurso metodológico, além de consulta da literatura pertinente, constituiu-se também de um exame de viabilidade da leitura de sinais da Libras escrito, que foram lidos pelas acadêmicas. Os dados obtidos apontam para a viabilidade da leitura, haja vista que as mesmas descodificaram relativamente rápido os sinais escritos, sem conhecerem totalmente o novo sistema e sem demandar grandes explicações. PALAVRAS-CHAVE: Escrita. Libras. Visual (surdo).

1. EXPLICAÇÕES PRELIMINARES A Escrita de língua de sinais (ELS) tem se tornado, em nossas vidas acadêmicas, um ponto – se não central –, ao menos de grande importância, haja vista a inserção/inclusão do sujeito visual1 nas universidades e dada sua frágil relação com a modalidade escrita de sua Segunda Língua (L2), a Língua Portuguesa (LP). Convém lembrar que essa frágil relação advém dos processos traumáticos de ensino, em que o professor não está devidamente preparado para o ensino-aprendizagem de LP como L2. 1

Termo conceitual delineado pelo pesquisador Anderson Simão Duarte (UFMT), para designar a pessoa que emite e capta mensagens linguísticas por meio do canal visual, levando em consideração que não se separa o sujeito da língua que o constitui ideologicamente. Assim sendo, o ouvinte é caracterizado pela língua oral/auditiva e o visual pela língua espaço/visual e não pela ausência da audição. Universidade Federal de Mato Grosso – Câmpus Universitário de Rondonópolis - MT 13 a 16 de setembro de 2016

CONGRESSO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO 2016 Educação e Diversidade ISSN 2179-068X O problema relacionado à escrita da L2 é visível e patente aos profissionais, aos acadêmicos ouvintes e visuais e demais que se inserem no ambiente linguístico da Libras. Porém, um outro problema se delineia no meio. Este problema está relacionado à ELS. Essa modalidade de escrita é pouco conhecida na área da língua

de

sinais

e

poucos

são

os

profissionais

que

a

aprendem,

consequentemente, os acadêmicos visuais chegam às universidades analfabetos em sua própria língua (BENASSI, 2014). Até o momento, levando em consideração os três anos da implementação do curso de Letras-libras – Licenciatura na UFMT, em nenhuma das três turmas ingressas, nenhum acadêmico visual escreve e lê a Libras. Em muitos casos, os acadêmicos sequer conhecem algum dos sistemas de ELS correntes no Brasil. Segundo afirmam vários autores, dentre eles, Leite (2016), há três sistemas de ELS pesquisados e divulgados no Brasil, com a configuração de um novo pelo professor Claudio Alves Benassi (UFMT). Esses sistemas aos quais refere-se Leite (2016), são o Sign Writing (SW), desenvolvido pela bailarina Valerie Sutton em 1974, baseado na escrita da dança – Dancing Writing; a Escrita das línguas de sinais (ELiS), desenvolvida em 1998 pela professora Mariângela Estelita Barros (UFG)2 e o Sistema de escrita de língua de sinais (SEL) desenvolvida em 2011 pela professora Adriana Lessa-de-Oliveira (UESB)3. Figura 01. Sinal VER escritos pelo SW, ELiS e SEL, respectivamente

Fonte: acervo particular do autor

Desenvolvimento

Percurso metodológico 2 3

Universidade Federal de Goiás. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Universidade Federal de Mato Grosso – Câmpus Universitário de Rondonópolis - MT 13 a 16 de setembro de 2016

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Este trabalho tem como objetivo divulgar o novo sistema de ELS criado pelo professor Claudio Alves Benassi sob a orientação da professora Simone de Jesus Padilha, que está sendo chamada provisoriamente de VISOGRAFIA. Também, analisar o processo de leitura dessa escrita por duas acadêmicas e profissionais da Libras (RS e LS). Dessas, apenas RS teve iniciação a ELiS. O percurso metodológico do mesmo, além da consulta da literatura pertinente, propôs-se a um exame de viabilidade de leitura da Visografia. Nesse trabalho, não serão delineadas explicações sobre os caracteres desse novo sistema de ELS, a escolhas e justificativa dos mesmos. Tampouco serão explicitadas explicações a respeito da estrutura básica dessa escrita, pois o foco é a análise do processo de leitura realizados por duas acadêmicas. Esses aspectos serão explorados posteriormente. Contudo, convém lembrar que a estrutura de grafia dos dedos isoladamente e a linearidade da escrita presente na ELiS foram mantidas na Visografia. Foram escritos oito sinais da Libras e, no dia 09 de maio de 2016, pediu-se que as acadêmicos já identificadas experimentassem descodificar os mesmos. Após a leitura e grafia dos significados desses sinais em LP, procedeu-se à análise qualitativa dos dados obtidos, que apontam para a viabilidade da leitura da Visografia, uma vez que a viabilidade do processo de escrita/escritura foi confirmado pela grafia de sinais da Libras e sinais da Língua chilena de sinais e, também, pelo texto escrito em Visografia, publicado em Leite (2016, p. 102), cuja imagem consta neste trabalho (Fig. 02).

Resultados e discussões

Segundo Benassi, Duarte e Padilha (2016, p. 35) a disciplina de ELS é ofertado no curso de Licenciatura em Letras-libras e, no ano de 2014, foi ministrada tendo a ELiS como modalidade de ELS e de todos os acadêmicos que cursaram a disciplina, mas apenas um continuou estudando essa escrita. Na sequência, cursos foram ofertados mas cancelados pois não há procura. Tal fato se dá, na opinião dos autores, pelo fato dessa escrita ser considerada

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CONGRESSO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO 2016 Educação e Diversidade ISSN 2179-068X abstrata demais. Os autores questionam por qual motivo a ELiS é recusada se ela apresenta características visuais e abstratas tal qual o SW que também não se fixa? Poderiam os dois sistemas serem relidos em um novo considerando apenas os elementos simples de ambos? (BENASSI; DUARTE; PADILHA, 2016, p. 35). O professor Claudio Alves Benassi é conhecedor e leitor hábil de partituras, portanto, sua aprendizagem de ELiS foi rápida e confortável, pois é considerada uma grafia leve e prática, o que não ocorreu com o SW, por ser denso e pesado devido ao exacerbado detalhamento da grafia (BENASSI, 2014). Ainda assim, o mesmo transita confortavelmente entre esses dois sistemas de ELS, com destaque para sua fluência no processo de escrita e leitura de ELiS, como pode ser verificado no site www.codimus.net/avelis. Como músico, compositor e poeta, isso lhe basta. No entanto, como professor, o desinteresse dos alunos frente aos sistemas de ELS, quase sempre justificado pelo grau de elaboração da grafia e dificuldade na descodificação dos mesmos, instigou-lhe a criação de um novo sistema de grafia para as línguas de sinais – a Visografia, por ser um ser plurívoco, ou seja, constituído por múltiplas vozes (BAKHTIN, 2014). O SW apresenta excesso de caracteres. Se forem levados em consideração os três posicionamentos da palma da mão (para frente, para trás e medial), nos dois planos dessa escrita, e o inventário de Configurações de Mão

(CM) de

Barreto e Barreto (2012), teremos, só para escrita desse parâmetro, um total de 666 visografemas a serem aprendidos. Por outro lado, a ELiS apresenta somente 95. Figura 02. Texto escrito em Visografia.

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Fonte: Leite (2016, p. 102). Legenda: “Que Deus nos abençoe e nos proteja na nova semana que começa amanhã.”

A Visografia tem por base os aspectos mais simples do SW e da ELiS e apresenta apenas 64 caracteres, mantendo a base alfabética dessas grafias, além de contar com 24 diacríticos específicos que podem completar a grafia dos sinais em localização ou contato. É possível que o número de caracteres diminua com a submissão da escrita ao uso, pois se mantiveram todos os visografemas de movimento da ELiS, no entanto, já é percebido que alguns podem ser excluídos. Voltando à viabilidade da leitura da Visografia, foram apresentados quatro sinais a cada uma das acadêmicas. O processo de descodificação da acadêmica RS foi muito rápido e durou apenas três minutos. Já o da acadêmica LS durou aproximadamente oito minutos e meio. Figura 02. Acima o teste da viabilidade da leitura da Visografia realizado por RS. Abaixo o realizado por LS.

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Fonte: acervo da pesquisa pertencente aos autores. Legenda: Sinais PESQUISA; CASA; SABER; ACREDITAR – acima. Sinais SÁBADO; ENTENDER; ESTUDAR; BISCOITO, abaixo.

Na filipeta de papel entregue a RS estavam escritos os sinais PESQUISA; CASA; SABER; ACREDITAR. Seu processo de descodificação foi rápido em relação ao de LS, pois a mesma teve contato com a ELiS e a Visografia incorpora elementos gráficos desse sistema. Na de LS, estavam escritos os sinais SÁBADO; ENTENDER; ESTUDAR; BISCOITO. Seu processo de leitura em relação a RS foi mais lento, pois a mesma não havia até então estudado a ELiS, tampouco o SW. Os sinais descodificados por RS são de grafia mais complexa que os de LS. Os de RS são bimanual assimétrico, bimanual simétrico e dois compostos, respectivamente. Sinais que se utilizam das duas mãos. Já os de LS são dois monomanuais, bimanual simétrico e monomanual, respectivamente. Considerando que, no caso de LS, o não uso de sinais de grafia complexa deu-se em relação ao seu desconhecimento das ELS. Apesar de RS ter tido uma iniciação à ELiS, a descodificação do primeiro sinal demandou breve explicações a respeito da CM. Isso decorreu do modo como a mesma foi escrita junto com a Orientação de Palma (OP). No caso de LS, as explicações foram sobre CM, OP e Movimentos (Mv). No último sinal, houve confusão quanto ao significado BISCOITO que foi interpretado como PERIGO. Isso decorreu do fato de LS não conhecer os visografemas de MV.

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Considerações finais

Pelo exposto acima, considerar-se-ia que a Visografia é um sistema de ELS viável tanto para o processo de grafia, quanto para o processo de descodificação na leitura. Isso com base nos dados obtidos, validados pelo pouco ou nenhum conhecimento dos pesquisados. Assim, poder-se-ia afirmar que o sistema está pronto e pode ser colocado em teste quanto a sua aprendizagem e mediação da cultura escrita em língua de sinais. Esta pesquisa é embrionária e não está pronta e acabada, outrossim, aberta a novas valorações. Referências BARRETO, Madson; BARRETO, Raquel. Escrita de Sinais sem mistérios. Belo Horizonte: ed. do autor, 2012. BAKHTIN, Mikhail. M. O plurilinguismo no romance. In.: BAKHTIN, Mikhail. M. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. 7ª edição. São Paulo: Hucitec, 2014. p. 107-133. BENASSI, Claudio Alves. Além dos sentidos: a Escrita das Línguas de Sinais como uma proposta de produção acadêmica do surdo. In.: Educação e seus jeitos de ler-escrever em meio a vida. Anais do Semiedu. Universidade Federal de Mato Grosso. 2014. BENASSI, Claudio Alves; DUARTE, Anderson Simão; PADILHA, Simone de Jesus. Proposta de releitura do Sign Writing e da ELiS. Falange Miúda. V. 1, N. 1, 2016. Disponível em http://www.falangemiuda.com.br/edicaoatual/. Consulta em 20 de ago. de 2016. LEITE, Maurycéia. Formação de docentes de Libras para a educação infantil e séries iniciais: a Pedagogia numa perspectiva bilíngue. Revista Diálogos. V. 4, N. 1, 2016. Disponível em http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/revdia/article/view/3899. Consulta em 20 de ago. de 2016.

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