DAS GLÓRIAS À DEMOLIÇÃO: a história do Estádio Mário Alves Mendonça de São José do Rio Preto/SP

October 17, 2017 | Autor: R. Dias Datorre | Categoria: Identidade cultural, Patrimônio Cultural, Tombamento
Share Embed


Descrição do Produto

UNIÃO DAS FACULDADES DOS GRANDES LAGOS - UNILAGO

DAS GLÓRIAS À DEMOLIÇÃO: a história do Estádio Mário Alves Mendonça de São José do Rio Preto/SP Renan Eduardo Dias Datorre Juliana Gutierres Penna Almendros Perozin

RESUMO: O presente artigo analisa a história do emblemático estádio Mário Alves Mendonça, que pertencia ao América Futebol Clube de São José do Rio Preto/SP, sendo referência no passado como um dos principais palcos futebolísticos do interior do Estado de São Paulo. Apesar de sua inegável importância para a história da cidade, em janeiro de 2001 foi demolido e, atualmente, o local abriga um supermercado da rede Atacadão. Fatos como este nos levam a observar que em certas localidades, prédios e monumentos históricos não recebem o devido cuidado e atenção que deveriam. Neste contexto, nota-se o desinteresse de grande parte da população e, principalmente, a quase inexistente atuação dos órgãos públicos. A intenção deste estudo é demonstrar a importância histórica deste estádio e ilustrar a necessidade de resgate e manutenção da memória, para que haja a efetiva preservação do patrimônio histórico-cultural. Também é defendida a ideia de que a maior prejudicada com a demolição de patrimônios é a população, pois a sua história e, consequentemente, a sua identidade vai se perdendo ao longo do tempo. Palavras-chave: Tombamento; Patrimônio Cultural; Identidade Cultural.

2

INTRODUÇÃO O patrimônio pode ser utilizado como uma ferramenta educacional de extrema importância, pois possibilita que a população conheça seu passado, como forma de compreensão do modo de vida atual, ao mesmo tempo que permite que seus valores e costumes possam fortalecer o processo de diagnóstico da identidade cultural local. (DIAS, 2006) De acordo com Funari e Pinscky (2011, p. 17), “(...) preservar o patrimônio cultural – objetos, documentos escritos, imagens, traçados urbanos, áreas naturais, paisagens ou edificações – é garantir que a sociedade tenha maiores oportunidades de perceber a si própria.” A escolha do estádio Mário Alves Mendonça (MAM) justifica-se exatamente por ilustrar de maneira clara como um patrimônio tão relevante para o município e toda a região simplesmente não recebeu a devida atenção, deixando assim de fazer parte da memória de futuras gerações. A história do Estádio que pertencia ao América Futebol Clube de São José do Rio Preto/SP será apresentada de forma detalhada com o objetivo de trazer à tona a necessidade de conscientização sobre a importância da conservação de patrimônios histórico-culturais potenciais. Utilizando-se de um exemplo da região de São José do Rio Preto, vimos a necessidade desta abordagem por ser uma situação recorrente em grande parte do território nacional.

1. PATRIMÔNIO HISTÓRICO-CULTURAL: CONCEITOS E IMPORTÂNCIA Podemos dizer que Patrimônio é o conjunto de bens materiais e/ou imateriais que contam a história de um povo e sua relação com o meio ambiente. É o legado que herdamos do passado e que transmitimos a gerações futuras. Segundo DIAS (2006), patrimônio material são os aspectos mais concretos da vida humana, e que fornecem informações sobre as pessoas. É composto por um conjunto de bens culturais como museus, construções antigas, monumentos, entre outros.

3

Simão (2001, p. 17) explicita: O papel da preservação do patrimônio cultural extrapola, hoje, os limites da história e da memória, uma vez que começa a cumprir um papel econômico e social. Assim, pesquisar sobre a preservação cultural e compreendê-la implica em desvendar não somente as características culturais mas, sobretudo, em avaliar as possibilidades de ampliar o leque de atividades econômicas dos núcleos urbanos possuidores de acervo cultural.

Independente do patrimônio ser tangível ou intangível, histórico, cultural ou natural, é preciso deixar claro que a necessidade de preservação deve fazer parte da educação do ser humano, trazendo assim a conscientização da importância de se ter bens como esses para resgate e manutenção de tradições, valores e culturas.

1.1 Tombamento e Legado Cultural Entende-se por tombamento, tudo aquilo que pode ser aplicado aos bens materiais e imateriais, de interesse histórico, cultural ou ambiental. Quando um imóvel é tombado por algum órgão do patrimônio histórico, ele não pode ser demolido, nem mesmo reformado. Pode apenas passar por processo de restauração, seguindo normas específicas, para preservação das características originais da época em que foi construído. O tombamento é um ato administrativo realizado pelo Poder Público. Mundialmente, a Organização das Nações Unidas para a Cultura, Ciência e Educação (UNESCO) é o órgão responsável pela definição de regras e proteção do patrimônio histórico e cultural da humanidade. No Brasil, o Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN), é o órgão responsável pela proteção dos mesmos. Já no Estado de São Paulo podemos contar com o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT) criado em 1968, cuja finalidade é proteger, valorizar e divulgar o patrimônio cultural, sendo que estas atribuições foram confirmadas somente em 1989, pela Constituição do Estado de São Paulo. (SÃO PAULO, 2014).

4

De acordo com Dias (2006, p. 184), é imprescindível destacar, que: Nessa reabilitação do legado cultural, deverá estar associada à dimensão econômica, para possibilitar a iniciativa empreendedora que gera renda e trabalho, de modo a proporcionar melhorias às condições de vida da população local. Nesse contexto, devem-se aumentar os investimentos em patrimônio cultural, criar ou consolidar museus, recuperar o patrimônio histórico-artístico e o artesanato local, com vistas a um incremento da atividade turística que viabilizará o desenvolvimento municipal.

O tombamento passa a ser a porta de entrada para que o legado cultural possa trazer à uma sociedade, orgulho de pertencer aquele local, investimento financeiro, além da preservação das características da cultura de uma determinada localidade.

2 A HISTÓRIA DO AMÉRICA FUTEBOL CLUBE: FUNDAÇÃO E PRIMEIRA PARTIDA O América Futebol Clube (AFC) de São José do Rio Preto/SP, fundado no dia 28 de janeiro de 1946 foi idealizado por Antônio Tavares Lima Pereira, então engenheiro da Estrada de Ferro Araraquarense (EFA). Segundo Rodrigues e Paula (2006, p. 13), “ele teve a ideia em conversa com o amigo Victor Buongermino, numa viagem de trem, entre Catanduva e Rio Preto. Como grandes esportistas, estavam irritados com os desafios de um jogador chamado Canizza, o craque da Associação dos Bancários, que mandava no futebol amador”. O local escolhido para realizar a oficialização foi o Hotel São Paulo, localizado na Rua Bernardino de Campos, região central da cidade. O nome América e a cor rubra de seu uniforme, se deram pela influência do seu xará do Rio de Janeiro. A equipe rio-pretense também herdou do América/RJ o Brasinha, um mascote representado pela figura de um Diabo (Figura 1). (AFC, 2014a)

5

Figura 1 - Brasinha, mascote do América/SP

Fonte: AFC, 2014b

O escudo do time (Figura 2) também foi influenciado pelo América/RJ. Além das cores vermelha e branca, o logotipo e o formato sofreram pouca variação se comparado ao escudo original, o que demonstra a grande admiração pelo time carioca. Figura 2 - Escudo do América Futebol Clube

Fonte: AFC, 2014b

Embora um dos motivos iniciais da fundação fosse responder as provocações do jogador Canizza, o América jamais o enfrentou, pois não disputou campeonatos amadores de futebol. Logo de início, se inscreveu na Federação Paulista de Futebol, e começou sua trajetória profissional.

6

Curiosamente, em sua primeira partida, um amistoso contra a Ferroviária de Araraquara, no dia 17 de março de 1946, o América não disputou em sua cidade natal, São José do Rio Preto, e sim no estádio Giocondo Zancaner na cidade vizinha, Mirassol. Isso se deu ao fato de que o estádio do Palestra Esporte Clube estava totalmente inviabilizado devido as fortes chuvas nos dias que antecederam a partida. A outra opção era o estádio Victor Brito Bastos pertencente ao seu rival Rio Preto Esporte Clube, mas a diretoria do clube não o emprestou, pois dentre outros fatores estava insatisfeita com a ida de seus principais jogadores para o América. (RODRIGUES, 2004) O América venceu a partida de estréia por 3 a 1, composto por: Bob; Hugo e Edgar; De Lúcia, Quirino e Miguel; Mogero, Dema Pereira Lima (Nelsinho), Fordinho e Birigui. Técnico: Zezinho Silva. O primeiro gol de sua história foi marcado por Quirino. (RODRIGUES; PAULA, 2006) 2.1 Títulos No decorrer de sua história, a equipe do América possuiu diversos times de destaque, sagrando-se campeão em diversas ocasiões. Seus principais títulos estão representados no Quadro 1. Quadro 1 - Principais títulos conquistados pelo América Futebol Clube de São José do Rio Preto/SP Ano

Competição

1957

Paulista da 2º Divisão (equivalente a Série A-2)

1963

Paulista da 1º Divisão (equivalente a Série A-2)

1987

Taça SBS de Juniores (Japão)

1987

Torneio José Maria Marin

1992

Paulista de Aspirantes

1999

Paulista da Série A-2

2000

Paulista Infantil (Sub-15)

2006

Copa São Paulo de Juniores (Sub-20)

Fonte: AFC, 2014c

7

2.2 Personalidades Diversos atletas, técnicos e colaboradores contribuíram para que a história do América se tornasse marcante no futebol paulista. Em nosso presente trabalho iremos abordar detalhadamente os seguintes:

2.2.1 O Fundador Antonio Tavares Pereira Lima (Fotografia 1), nasceu em 15/11/1918, na cidade de Guaranésia/MG. Em 1945, começou a trabalhar na Estrada de Ferro Araraquarense, e foi enviado para São José do Rio Preto/SP. Em 1946 fundou o América Futebol Clube, realizando seu sonho de criar uma equipe de futebol.

Fotografia 1 - Antonio Tavares Pereira Lima

Fonte: AFC, 2014d

Fundador e primeiro presidente, deixou o cargo para ser Diretor do Departamento de Futebol e projetou a construção do estádio Mário Alves Mendonça, inaugurado em junho de 1948. No cenário político, Pereira Lima foi eleito vereador de São José do Rio Preto, mas devido a viagens de trabalho não exerceu o cargo. Em Araraquara, tornou-se prefeito exercendo o mandato de 1952 a 1955. Em seguida, ocupou cadeira na Assembléia Legislativa de São Paulo como deputado estadual suplente. Casou-se com Diva Saraiva Pereira Lima, com quem teve cinco filhos. Faleceu em 19 de dezembro de 1977. (AFC, 2014d)

8

2.2.2 Benedito Teixeira – Birigui Benedito Teixeira, mais conhecido como Birigui (Fotografia 2), é considerado um dos maiores nomes da história do América. Nascido em 24/7/1919, na cidade de Monte Azul Paulista/SP, iniciou sua carreira como jogador em 1936 pelo Rio Preto/SP, passando por: Palestra de Rio Preto/SP, Guarani de Catanduva/SP, Comercial/SP, Fluminense/RJ, Inter de Bebedouro/SP e América/SP de 1946 a 1949. Se tornou treinador do América/SP durante os meses de maio e junho de 1950. Fotografia 2 - Benedito Teixeira

Fonte: AFC, 2014e

Birigui foi presidente do América/SP durante 23 anos (1972/1986 1987/1996), vice-presidente de 1970/1972, e diretor de futebol, em 1950. A equipe do América nunca foi rebaixado enquanto Birigui esteve no comando do clube. Um de seus maiores sonhos era construir um novo estádio para o América, e conseguiu realizá-lo. Após 17 anos de construção, o estádio Benedito Teixeira, o Teixeirão, foi inaugurado em 10 de fevereiro de 1996. Considerado por muitos, o maior nome da história do América, Benedito Teixeira morreu no dia 10 de janeiro de 2001, devido a problemas pulmonares. (AFC, 2014e)

9

3 ESTÁDIO MÁRIO ALVES MENDONÇA: CONSTRUÇÃO E INAUGURAÇÃO Desde sua fundação em 28/01/1946 o América precisava de um estádio próprio, pois disputava partidas em Mirassol/SP, no Palestra Esporte Clube, e também no estádio Victor Brito Bastos, do rival Rio Preto Esporte Clube. (RODRIGUES; PAULA, 2006) Mário Alves Mendonça, o então presidente da equipe, ganhou um terreno de dona Avelina Diniz e o doou ao clube para que o estádio fosse construído, localizado na Rua Machado de Assis, no alto do bairro Vila Santa Cruz. A população teve papel extremamente importante, pois serviu como mão-de-obra para a construção. (LODI, 2006) As principais ferramentas foram enxadas e picaretas empunhadas por centenas de trabalhadores, que carregaram toneladas de terras, com o recurso de carrinhos de mão, ao contrário de outras construções da época que utilizavam máquinas modernas. (RODRIGUES, 2004) 1 Segundo Rodrigues (2004, p. 90) participaram do empreendimento: “Comerciantes,

industriais,

pedreiros,

marceneiros,

fazendeiros,

comerciários, médicos, enfim, homens de todas as profissões e classes (...) O local foi cedido graciosamente e a população da “Capital da Araraquarense” contribuiu com seu auxílio para a efetivação daquele sonho: o estádio do América Futebol Clube! Os dias e os meses foram passando, os esforços multiplicavam-se, os pedidos de ajuda sempre presentes, até que um dia finalmente, puderam aqueles heróis proclamar: Está pronto o estádio do América Futebol Clube!”

1

Ser construído com o esforço de toda a população, sem distinção de classes, amplia ainda mais a importância do local, que deveria ser reconhecido como um legado cultural, um verdadeiro patrimônio riopretense. “Os dias, os meses e os anos passarão, mas “Mário Alves Mendonça” continuará a desafiar a poeira do tempo, como marco indelével daquele grupo de idealistas, que, de enxadas e picaretas nas mãos, lutaram e construíram aquele grandioso monumento, mui justamente cognominado “O GIGANTE DE CIMENTO”. (RODRIGUES, 2004, p. 90)

1

1

Milton Rodrigues extraiu esses comentários de matéria intitulada O Gigante de Cimento, publicação denominada “Um tributo jornalístico aos construtores do estádio Mário Alves Mendonça”, sem autoria identificada

10

Com capacidade para 3.000 pessoas, a inauguração do estádio aconteceu em um domingo, 27 de junho de 1948, em jogo amistoso contra a equipe do América/RJ. Pela manhã, houve diversos pronunciamentos e uma benção realizada pelo bispo dom Lafaiete Libânio. A partida terminou em empate, por 1 a 1. Pela equipe carioca, Maneco marcou o primeiro gol do estádio, aos 4 minutos do primeiro tempo. Já para os donos da casa, Tite deixou a sua marca aos 39 do segundo. A equipe do América/SP atuou com os seguintes jogadores: Sandro (Pedrinho), Cai-Cai e Edgar; Evaristo, Prates e Mimosa; Ernane (Arnaldo), Fordinho (Cavalheiro Ramos), Miranda, Ramos Gomes (Fordinho) e Tite. (AFC, 2014f) O estádio Mário Alves Mendonça (Fotografia 3) tinha o apelido de Caldeirão do Diabo devido à proximidade que a torcida local ficava do gramado. As equipes adversárias tinham dificuldades ao enfrentar o América em Rio Preto. (CORREA, 2014) Fotografia 3 - Estádio Mário Alves Mendonça

Fonte: AFC, 2014f

11

3.1 Quem foi Mário Alves Mendonça? Nascido em Araraquara/SP em 17 de janeiro de 1914, Mário Alves Mendonça (Fotografia 4) foi o principal investidor para a construção do estádio, e até por isso, a diretoria decidiu homenageá-lo, dando seu nome ao local. Fundador e vicepresidente da primeira diretoria, ele assumiu a presidência em setembro de 1946 para substituir Antonio Tavares Pereira Lima. Esteve no cargo até julho de 1949. Fotografia 4 - Mário Alves Mendonça

Fonte: AFC, 2014f

Na política, Mário Alves Mendonça foi vereador rio-pretense de 1948 a 1951, presidente da Câmara Municipal de 29 de agosto a 31 de dezembro de 1951 e vicepresidente de 23 de janeiro a 29 de agosto de 1951. Foi também, segundo tesoureiro da Associação Comercial em 1946 e conselheiro de 1941 a 1944. Com a crise financeira, mudou-se para Fronteira/MG, onde tomava conta do depósito de açúcar da Usina Guarani. Em 1959, Mário Alves Mendonça fixou residência em Goiânia/GO, abriu um comércio de açúcar, e depois foi comerciante atacadista de secos e molhados. Morreu em Goiânia no dia 22 de dezembro de 1976, aos 62 anos, devido a um ataque cardíaco. Era casado com Iraci Coelho Mendonça, e tiveram 13 filhos. (VILLA, 2014) 3.2 Reformas e Ampliações Com o decorrer dos anos, o estádio Mário Alves Mendonça passou por algumas reformas e ampliações. Dentre elas, pode-se destacar uma das mais significativas, ocorrida em 1958.

12

O América havia sido campeão da Segunda Divisão do Campeonato Paulista, e iria enfrentar as equipes “grandes” da capital na próxima temporada. Com isso, um estádio de 15.000 pessoas era o mínimo exigido pela Federação. O então prefeito de Rio Preto, Alberto Andaló, contribuiu com funcionários da prefeitura, e juntamente com empresários locais, a população e o América, angariou dinheiro, cimento e tijolos para que o estádio Mário Alves Mendonça se adaptasse as normas estabelecidas. A ampliação ficou pronta em duas semanas, e a inauguração ocorreu em 01 de maio de 1958, com um amistoso vencido pelo América por 3 a 1, contra a Ferroviária de Araraquara por 3 a 1. O Estádio possuía capacidade para 20.000 pessoas. (AFC, 2014f)

3.3 Derbys 3.3.1 O que é derby? Derbi. (é) [Do ingl. derby.] S.m. 2. Termo utilizado para qualquer partida entre dois clubes, tradicionalmente rivais, em uma mesma cidade. (MARANHÃO, 1998, p. 92) 3.3.2 Derbys entre América F.C. e Rio Preto E.C. O maior rival do América é o Rio Preto Esporte Clube, equipe fundada em 1919. Disputado pela primeira vez em 1946, o derby rio-pretense possui uma grande tradição. Analisando o retrospecto do confronto no Quadro 2, podemos constatar os seguintes dados gerais: Quadro 2 - Retrospecto geral dos derbys disputados entre América Futebol Clube e Rio Preto Esporte Clube (até março de 2014) 67 jogos 34 vitórias - América 14 vitórias – Rio Preto 19 empates Fonte: Elaborado pelos autores

13

O Derby 1 disputado entre as duas equipes, ocorreu em 14 de abril de 1946, pelo Campeonato Paulista do Interior. Jogado no estádio Victor Brito Barros, pertencente ao Rio Preto, o América venceu por 2 a 0 (RODRIGUES; PAULA, 2008). Com a construção do estádio Mário Alves Mendonça, o América começou a mandar seus jogos no local. A primeira vez em que enfrentou o Rio Preto no estádio, foi durante o Derby 6. O América venceu por 1 a 0, em 04 de julho de 1948, pelo Campeonato Paulista do Interior. (AFC, 2014g) Em 10 de junho de 1992 aconteceu o último derby no antigo estádio do América. Em partida amistosa, a equipe da casa venceu o Rio Preto por 3 a 1 o Derby 48. (RODRIGUES; PAULA, 2008). O Quadro 3 demonstra todos os Derbys disputados entre os rivais no MAM. Quadro 3 - Derbys entre América e Rio Preto disputados no estádio Mário Alves Mendonça Derby 6 9 14 15 18 19 20 23 25 27 33 34 36 38 39 40 42 43 46 48

Data 04/07/1948 26/06/1949 10/12/1950 07/06/1953 31/01/1954 21/11/1954 30/01/1955 18/12/1955 14/04/1957 30/04/1957 17/05/1959 29/05/1968 01/11/1969 10/05/1970 18/06/1972 27/10/1973 07/09/1985 01/11/1986 28/04/1988 10/06/1992

Resultado América 1x0 Rio Preto América 4x1 Rio Preto América 6x2 Rio Preto América 6x0 Rio Preto América 4x1 Rio Preto América 1x0 Rio Preto América 5x0 Rio Preto América 1x1 Rio Preto América 4x4 Rio Preto América 2x1 Rio Preto América 2x0 Rio Preto América 6x1 Rio Preto América 2x0 Rio Preto América 4x2 Rio Preto América 1x2 Rio Preto América 1x1 Rio Preto América 2x2 Rio Preto América 0x2 Rio Preto América 4x1 Rio Preto América 3x1 Rio Preto

Fonte: Elaborado pelos autores

Ao analisar os resultados dos confrontos entre as duas equipes realizadas nos estádios do América (Quadro 4), podemos constatar que os “donos da casa”

14

obtiveram resultados mais positivos na época em que mandava seus jogos no estádio Mário Alves Mendonça do que no atual, estádio Teixeirão. Quadro 4 - Comparação de desempenho da equipe do América atuando em seus estádios Estádio Mário Alves Mendonça

Estádio Benedito Teixeira “Teixeirão”

20 derbys

10 derbys

14 vitórias do América

3 vitórias do América

2 vitórias do Rio Preto

3 vitórias do Rio Preto

4 empates

4 empates

América: 70% de vitórias

América: 30% de vitórias

Fonte: Elaborado pelos autores

3.4 Times históricos que jogaram no estádio Mário Alves Mendonça Em toda a sua história, o estádio Mário Alves Mendonça foi palco de grandes jogos do América, principalmente contra diversos times “grandes”. As principais equipes de São Paulo (Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo) atuavam constantemente em Rio Preto, além de equipes de outras partes do território nacional. (RODRIGUES; PAULA, 2006) No Quadro 5 podemos destacar algumas das várias partidas realizadas contra equipes importantes quando o estádio e a equipe do América ainda eram recentes. Quadro 5 - Equipes “grandes” que jogaram em São José do Rio Preto/SP em um intervalo de apenas dois anos na década de 50 Data

Placar

Competição

Atletas Notáveis

23/02/1957

América 2x4 Botafogo-RJ

Amistoso

Nilton Santos, Didi, Garrincha

29/03/1957

América 1x3 Vasco

Amistoso

Vavá

03/08/1958

América 0x0 Santos

Paulista

Zito, Pelé, Pepe

23/11/1958

América 1x0 Palmeiras

Paulista

Julinho, Chinesinho

16/08/1959

América 0x2 São Paulo

Paulista

Poy, De Sordi, Canhoteiro

17 e 18/10/1959

América 0x3 Corinthians

Paulista

Gilmar

Fonte: Elaborado pelos autores

15

Desde a sua construção, o estádio Mário Alves Mendonça recebeu a presença de jogadores reconhecidos nacionalmente, tais como: Ademir da Guia, Careca, Zito, Pepe, Garrincha, Canhoteiro, Pelé, Poy, De Sordi, Mauro, Chinesinho, Djalma Santos, Djalma Dias, Bellini, Rivelino, Leivinha, Leão, Pedro Rocha, Sócrates, Zenon, Casagrande, Cafú, Raí, Vavá, Velloso, Zetti, Zinho, Muller, Rivaldo, dentre muitos outros. (RODRIGUES; PAULA, 2006) A torcida do América sempre comparecia em grande número ao Estádio. Em duas ocasiões, foram registradas dois dos maiores públicos da história do local. Uma delas aconteceu em 1958, quando o América enfrentou o Santos de Pelé e atraiu um público de 22.225 pessoas. Em 1979, cerca de 23.800 pessoas acompanharam a partida entre América e Corinthians, marcando o maior público da história do estádio Mario Alves Mendonça. (AFC, 2014f)

3.5 Pelé no MAM Dentre os vários importantes times e jogadores que jogaram no estádio Mário Alves Mendonça, um deles se destaca, Pelé. Considerado o melhor jogador da história do futebol pela FIFA, Pelé jogou diversas vezes com o Santos em partidas contra a equipe do América nas décadas de 50, 60 e 70. Em 2004, Pelé concedeu entrevista a Milton Rodrigues, que foi publicada no jornal Diário da Região. Podemos destacar algumas partes que enfatizam o poder que o América possuía ao jogar em seu Estádio. “[...]Em qual estádio do Interior era mais difícil jogar? Pelé – Jogar no interior sempre foi muito difícil, mesmo na melhor fase do Santos Futebol Clube. Principalmente Araraquara e Rio Preto. [...]Houve algum lance ou gol marcante em jogos com o América? Pelé – Contra o América, sempre era um jogo espetacular, principalmente em Rio Preto.” (RODRIGUES, 2004)

Notamos, observando o Quadro 6, que o América venceu duas vezes o time de Pelé, uma em 17/09/1960 e outra em 05/07/1964.

16

Quadro 6 - Jogos e gols de Pelé no Estádio Mário Alves Mendonça Jogo Data Placar

Gols Feitos

1

03/08/1958

América 0x0 Santos

2

30/08/1959

América 2x3 Santos

3

17/09/1960

América 1x0 Santos

4

05/07/1964

América 2x1 Santos

1

5

24/10/1965

América 0x4 Santos

3

6

08/10/1967

América 2x3 Santos

1

7

27/04/1969

América 1x1 Santos

1

8

30/07/1972

América 0x1 Santos

9

05/08/1973

América 0x1 Santos TOTAL

1

7 gols

Fonte: Elaborado pelos autores

3.6 Venda e Demolição No dia 04 de fevereiro de 1996, o América disputou sua última partida no estádio Mário Alves Mendonça. Pelo Campeonato Paulista, a equipe da casa venceu o União São João de Araras por 3 a 2. O último gol marcado no Estádio foi feito pelo jogador do América, James. Após isso, a equipe do América começou a mandar suas partidas em seu estádio recém construído, o Teixeirão. (AFC, 2014f) Em 1997, um ano após a última partida disputada no antigo Estádio, o Mário Alves Mendonça foi desapropriado pelo então prefeito da cidade de São José do Rio Preto, Liberato Caboclo. O valor pago para o América foi de R$ 1,9 milhão. (PAULA, 2007) Para a tristeza de milhares de rio-pretenses, a Prefeitura abriu licitação em 2000 para que o Estádio fosse vendido, porém, isso não ocorreu. Pois, a Prefeitura de Rio Preto utilizou o Estádio para pagar uma dívida que tinha com a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL). Por sua vez, a CPFL realizou um leilão para a venda do Estádio, que foi comprado por R$ 1,6 milhão pelo Grupo Royal Brasil. (PAULA, 2007) No início de 2001, o estádio Mário Alves Mendonça foi demolido (Fotografia 5), e no local, foi construído um supermercado da rede Atacadão. (PAULA, 2007)

17

Fotografia 5 - Demolição do estádio Mário Alves Mendonça

Fonte: CURY, 2001

“Eu não passo na frente do Atacadão. Ali existia o América. Sinto mal, quando passo por lá, porque acabaram com o Mário Alves Mendonça”, explica Jairzão (zagueiro do América de 1971 a 1977). (PETROCILO; FERRO, 2012, p. 3)

4 ESTÁDIO BENEDITO TEIXEIRA – TEIXEIRÃO A ideia de se construir um novo estádio para a equipe do América surgiu na década de 70, em conversa entre o presidente do clube, Benedito Teixeira, o Birigui, e Wilson Romano Calil, então prefeito de Rio Preto. Inicialmente, o presidente gostaria apenas de fundos para ampliar o Estádio, porém o prefeito surpreendeu e teria dito: “Birigui, o América é a maior propaganda da cidade e nós temos que construir um novo estádio”. (PAULA, 2007) A prefeitura doou a área, e durante os anos seguintes, Benedito Teixeira, sem a ajuda do poder público, somente com doações e vendas de jogadores, conseguiu construir o tão sonhado Estádio, com capacidade para 55 mil pessoas. O nome dado ao estádio não poderia ser diferente, leva o nome de seu principal idealizador: Estádio Benedito Teixeira, o Teixeirão (Fotografia 6). Localizado na Avenida Antonio Tavares Pereira Lima, s/n, no Jardim Bela Vista.

18

Fotografia 6 - Estádio Benedito Teixeira

Fonte: AFC, 2014h

Foram 17 anos de construção, até a partida inicial que ocorreu em 10 de fevereiro de 1996, na qual o América perdeu para a equipe do São Paulo por 3 a 2. Valdir, da equipe paulista, foi o autor do primeiro gol do Estádio, aos 42 minutos do primeiro tempo. (AFC, 2014h) Atualmente, ainda inacabado, o estádio Teixeirão possui capacidade para 36.426 pessoas, e é considerado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), o segundo maior Estádio do interior paulista e o 26º do país. (WIKIPÉDIA, 2014)

5 O AMÉRICA F.C. ATUALMENTE Diferentemente de outras épocas, o América não vive mais períodos de glória. No ano de 2014, disputou a Terceira Divisão do campeonato Paulista (A-3), e foi rebaixado. Em 2015, a equipe que já figurou inúmeras vezes na elite do futebol paulista, irá disputar a última divisão da competição, denominada “Segunda Divisão” (equivalente a quarta divisão, ou seja, o último nível do futebol do Estado de São Paulo). De acordo com o presidente atual do clube, José Carlos Pereira Neto, a culpa pelo rebaixamento do América pode ser dividida entre todos: jogadores, pelo próprio

19

presidente, e torcida, ao citar o fato de ter 106 pagantes em partida decisiva contra o Sertãozinho. (GLOBOESPORTE.COM, 2014) Outro sinal da decadência do time é a menção frequente do nome do estádio Teixeirão em manchetes de jornais, devido à dívidas do América. Atualmente, o Estádio se encontra penhorado na Justiça do Trabalho. (PETROCILO, 2014)

CONSIDERAÇÕES FINAIS Com o estudo realizado durante a elaboração do artigo podemos concluir que foi no estádio Mário Alves Mendonça que o América Futebol Clube de São José do Rio Preto/SP viveu seus dias de glória, possuiu times inesquecíveis e contou constantemente com a presença de um grande número de torcedores nas partidas. Outro fator que podemos destacar no antigo estádio MAM, era a visita de times “grandes” de São Paulo para enfrentar o América, tais como, Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo, que aconteciam frequentemente à cidade. Pelé, considerado pela FIFA o maior jogador de todos os tempos, jogou diversas vezes no Estádio. O local não foi importante somente para o futebol e para o América, mas para toda a cidade, pois contribuía para divulgar seu nome por todo o território brasileiro. Também é fato que o maior número de sucessos do time em derbys contra o Rio Preto E.C. está ligado às disputas no Mário Alves Mendonça, que soma 70%. Já no Teixeirão, não se vê o mesmo desempenho, uma vez que as vitórias em derbys registram apenas 30%. Parte do atual insucesso do América/SP pode ser atribuído aos jogadores, às más administrações, a diminuição de público e visitantes à cidade, além da perda do prestígio que possuía no meio futebolístico. Com a demolição do Estádio a cidade perdeu um de seus maiores patrimônios, que possuía importância inestimável. Casos de demolições como este, evidenciam o descaso da administração pública que deveria atuar preservando o próprio patrimônio, tornando-se um exemplo concreto da perda de identidade e herança cultural de uma cidade.

20

REFERÊNCIAS AMÉRICA FUTEBOL CLUBE (AFC). Ata de fundação. São José do Rio Preto, 2014a. Disponível em: . Acesso em: 21 mar. 2014. ______. Escudos oficiais e mascote. São José do Rio Preto, 2014b. Disponível em: . Acesso em: 21 mar. 2014. ______. Informações gerais. São José do Rio Preto, 2014c. Disponível em: . Acesso em: 18 jun. 2014. ______. Fundador. São José do Rio Preto, 2014d. Disponível em: . Acesso em: 21 mar. 2014. ______. Birigui: o eterno presidente. São José do Rio Preto, 2014e. . Acesso em: 18 jun. 2014. ______. Estádio Mário Alves Mendonça.São José do Rio Preto, 2014f. Disponível em: . Acesso em: 18 jun. 2014. ______. Dérbis. São José do Rio Preto, 2014g. Disponível em: . Acesso em: 21 mar. 2014. ______. Estádio Benedito Teixeira (Teixeirão). São José do Rio Preto, 2014h. Disponível em: . Acesso em: 18 jun. 2014. ARANTES, Lelé; REY, José Luiz; YARAK, Aretha. Quem faz história em São José do Rio Preto. São José do Rio Preto: THS Arantes Editora, 2006. CORREA, Marival. Das glórias ao Teixeirão. Diário da Região, São José do Rio Preto, 19 mar. 2006. Disponível em: . Acesso em: 12 jun. 2014. CURY, Toninho. Estádio Mário Alves Mendonça: o fim do jogo. 2001. Disponível em: . Acesso em: 12 jul. 2014. DIAS, Reinaldo. Turismo e patrimônio cultural: recursos que acompanham o crescimento das cidades. São Paulo: Saraiva, 2006.

21

FEDERAÇÃO PAULISTA DE FUTEBOL (FPF). América Futebol Clube. 2014. Disponível em: . Acesso em: 12 ago. 2014. FUNARI, Pedro Paulo; PINSKY, Jaime (Org.). Turismo e patrimônio cultural. 4. ed., 3. reimpr. São Paulo: Contexto, 2011. (Turismo Contexto) GLOBOESPORTE.COM. Presidente do América-SP desabafa e aponta ‘culpados’ por rebaixamento. 09 abr. 2014. Disponível em: . Acesso em: 12 abr. 2014. LODI, Nilce. Olinda, filha de Borboleta. Diário da Região, São José do Rio Preto, 13 ago. 2006. Disponível em: . Acesso em: 21 mar. 2014. MARANHÃO, Haroldo. Dicionário de futebol. Rio de Janeiro: Record, 1998. MAZZOCO, Heitor. Sem alvará, Teixeirão pode ser demolido. Diário da Região, São José do Rio Preto, 9 mar. 2014. Disponível em: . Acesso em: 9 mar. 2014. O APETITE de gol de Romário e Pelé. Diário da Região, São José do Rio Preto, 28 maio 2007. Disponível em: . Acesso em: 21 jun. 2014. PAULA, Vinícius de. Um patrimônio chamado América. Diário da Região, São José do Rio Preto, 28 jan. 2007. Disponível em: . Acesso em: 21 mar. 2014. PETROCILO, Carlos. Justiça ‘toma’ estádio Teixeirão do América. Diário da Região, São José do Rio Preto, 13 set. 2014. Disponível em: . Acesso em: 20 set. 2014. ______; FERRO, Bruno. Conheça os órfãos do América. Diário da Região, São José do Rio Preto, 9 dez. 2012. Disponível em: . Acesso em: 14 mar. 2014. RODRIGUES, Milton. Avenida da saudade: o América de Rio Preto na era Pelé. São José do Rio Preto: Mundial, 2004. ______; PAULA, Vinícius de. América 60 anos. São José do Rio Preto: Nova Graf, 2006. (Almanaque de Futebol Rio-pretense, 1)

22

______; ______. Todos os Derbys: almanaque do futebol rio-pretense. São José do Rio Preto: THS Arantes Editora, 2008. ______; VALLE, Otávio. Pelé viaja no tempo e enche a bola do América. Diário da Região, São José do Rio Preto, 11 out. 2004. Disponível em: . Acesso em: 21 mar. 2014. SANTOS, Edison. Rei Pelé no “Caldeirão do diabo” em Rio Preto-SP. Os Pelés, 14 nov. 2011. Disponível em: . Acesso em: 21 mar. 2014. SÃO PAULO. Secretaria da Cultura. Condephaat. São Paulo, 2014. Disponível em: . Acesso em: 12 nov. 2014. SILVA, Oscar. Rio Preto 3 X 2 América: glorioso vence o dérbi e pula para 3º. Futebol Interior, São José do Rio Preto, 16 fev. 2014. Disponível em: . Acesso em: 29 mar. 2014. SIMÃO, Maria Cristina Rocha. Preservação do patrimônio histórico em cidades. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. VILLA, Edwellington. A verdadeira história do estádio Mário Alves Mendonça. Diário da Região, São José do Rio Preto, 19 jan. 2014, p. 12A. WIKIPÉDIA. Lista dos maiores estádios do Brasil. 2014. Disponível em: . Acesso em: 12 ago. 2014.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.