DAS IMAGENS SOBREVIVENTES [OU A ESCÓRIA DO ARQUIVO DE NOSSOS TEMPOS

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DAS IMAGENS SOBREVIVENTES [OU A ESCÓRIA DO ARQUIVO DE NOSSOS TEMPOS] The Surviving Images [or Refuse is the Archive of Our Times] ‫א‬

[Prof. Ph.D.] Milena Szafir profmilena[at]manifesto21.tv Submitted on March 29th, 2013

Abstract: From our PhD research in progress, there are three of the picked works we'd like to quote here: "Der Riese" (Klier), "The Specialist" (Sivan) and "S-11 Redux" (GNN). These audiovisual essays come from several apparatus, distinct aesthetics, different decades and continents, but they're entirely made by “archive” images. Towards our "Audiovisual Rhetoric" concept, we invite you to dive with us in the power of a critical-reflective montage, which nowadays is becoming more accessible to everybody.

‫ א‬Doutoranda em “Meios e Processos Audiovisuais” na ECA-USP (bolsa CAPES), educadora (em audiovisual, design gráfico e novas tecnologias), desde 2010 co-coordena o "EuroITV Grand Challenge Competition Award". Considerada uma das pioneiras no Brasil em “vj'ing/ live cinema” e realizadora da 1 a webTV móvel (com transmissões ao vivo via celular), foi premiada em 2011 por seu vídeo-interativo via material apropriado n'à internet (“YouToRemix”) e recebeu o “#9@PSM” (pelo conjunto de suas obras). @SOCINE

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[Resumo] A partir de nossa pesquisa em doutoramento (“Retóricas Audiovisuais 2.0: um online found footage para um filme-ensaio, collage-essay?”), escolhemos três obras – das mapeadas e sob análise – a aqui citarmos: “Der Riese” de Michael Klier, “The Specialist” de Eyal Sivan e “S-11 Redux” do coletivo Guerrilla News Network. Desde diferentes dispositivos e estéticas, de distintas décadas e continentes, em comum estes ensaios audiovisuais materializam-se via imagens 100% [re]apropriadas, “de arquivo”(s).

[RESUMO EXPANDIDO] Assemblage, Collage, Cento, Pasticcio, Patchwork, Antropofagia, Pastiche, Paródia, Found Footage, Compilation Films, Detournement, Tropicalismo, Remix, Meme, Mash Up... Sob análise em nossa pesquisa de doutorado (“Retóricas Audiovisuais 2.0: um online found footage para um filme-ensaio...?”), aponto aqui três obras que apresentam distintos modelos de reciclagens audiovisuais: 1.“Der Riese” (videoarte, 1982), de Michael Klier – este artista tcheco nos apresenta uma sublime montagem a partir de material apropriado das câmeras de vigilância na Alemanha (“imagens de arquivo” ou “imagens descartáveis”?); 2.“The Specialist” (documentário, 1999), de Eyal Sivan – temos acesso a uma igualmente longa montagem de “inalteradas imagens”, agora a partir do extenso registro audiovisual durante os meses de um tribunal 'telemático' em Israel (que gerou o livro “Eichmann em Jerusalém – Um relato sobre a banalidade do mal”, de Hannah Arendt, então fio condutor ao filme); e 3.“S-11 Redux” (vídeo-remix, 2002), do coletivo GNN [Guerrilla News Network] – a partir de fragmentos selecionados entre mais de 20 horas de imagens de 13 redes televisivas gravadas ao longo de um período de um mês e [re]editados como uma “sound-bite blitzkrieg”, produziu-se um diálogo às mensagens pelas quais os EUA – senão o mundo contemporâneo como um todo – foram [fomos] bombardeados através da cobertura veiculada pelos “mainstream media” em discussão.

Neste curto espaço-tempo de apresentação, propomos uma indagação ao tema deste encontro: “Imagens Sobreviventes como 'Escória do Arquivo de Nossos Tempos'?” e debrucemo-nos sobre “S-11 Redux: (Channel)

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Surfing the Apocalypse'”, em claro diálogo com o texto de Horwatt (2008).

Assim, ao elegermos decupar esta obra (10'53'') – aqui em detrimento das demais acima citadas – procuraremos demonstrar o alcance político dessas aparentemente “imagens descartáveis” à possibilidade de uma escrita audiovisual ensaística através do que Umberto Eco chamaria de “formas de uma futura guerrilha da comunicação” como “uma manifestação complementar às manifestações da Comunicação Tecnológica, a correção contínua das perspectivas, a verificação dos códigos, a interpretação sempre renovada das mensagens de massa. O universo da comunicação tecnológica seria atravessado então por grupos de guerrilheiros da comunicação que reintroduziriam uma dimensão crítica na recepção passiva”, tendo em mente que designamos por “ensaio” um método de discussão de ideias, a expressão de um método de experimentação de reflexão de algumas ideias para diálogos com o espectador, que transforma o audiovisual em um instrumento de conhecimento, onde “materiais de arquivo” ao serem [re]apropriados tornam-se elementos de uma montagem que visa estabelecer uma coordenação discursiva da argumentação reflexiva sobre o auferido, desde contextualizações a descontextualizações e recontextualizações.

A análise desta obra nos serve como símbolo da linguagem e estética de uma geração à primeira década deste novo século, fortemente marcada pelo acesso aos meios digitais de produção e por uma prática massiva do detournement audiovisual desde a TV, como “uma máquina de produzir ao infinito o presente representado e uma memória capaz de estocar o tornar-se arquivo sem limite. ... a que se pode recorrer novamente, não somente como testemunho do passado, mas também em lugar de uma imagem ao vivo impossível ... é assim um banco de todas as imagens, inclusive as do cinema” (Fargier, 2007), até os fluxos dinâmicos dos atuais bancos de dados online.

Devemos nos perguntar – nesta exponenciação e proliferação de obras audiovisuais que dialogam a partir da saturação imagética que frui ao nosso [in]consciente – quais imagens sobreviverão [ou têm sobrevivido, ou mesmo queremos que sobrevivam] neste acervo que destinamos ao futuro. Afinal, a importância da “retórica

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audiovisual” reside num princípio político, crítico e de reflexão frente aos arquivos herdados culturalmente e seus [im]pactos. Enviado em 29 de março de 2013 @ SOCINE :: Florianópolis – Brasil < http://www.socine.org.br/anais/2013/interna.asp?cod=175 >, acesso em 02/02/16

Second version1: December 15th, 2013 < http://www.socine.org.br/anais/2013/AnaisDeTextosCompletos(XVII).pdf >, acesso em 02/02/16

Resumo: Da pesquisa em doutoramento, escolhemos três obras – das mapeadas e sob análise – a aqui citarmos: “Der Riese” (Klier), “The Specialist” (Sivan) e “S-11 Redux” (GNN). Desde diferentes dispositivos e estéticas, de distintas décadas e continentes, em comum estes ensaios audiovisuais materializam-se via imagens 100% [re]apropriadas. Frente ao conceito de “Retóricas Audiovisuais”, mergulharemos neste poder da montagem crítica-reflexiva desde “arquivo(s)”, uma prática cada vez mais acessível a todos.

Palavras-chave: filme-ensaio, artesanato digital, montagem, [re]apropriação, guerrilha midiática

Abstract: From our PhD research in progress, there are three of the picked works we'd like to quote here: "Der Riese" (Klier), "The Specialist" (Sivan) and "S-11 Redux" (GNN). These audiovisual essays come from several apparatus, distinct aesthetics, different decades and continents, but they're entirely made by “archive” images. Towards our "Audiovisual Rhetoric" concept, we invite you to dive with us in the power of a critical-reflective montage, which nowadays is becoming more accessible to everybody.

Keywords: found footage, political remix video (PRV), essay film, remediation, mash up.

1 Para versão revista e ampliada, ver o capítulo “Montagens audiovisuais extra-apropriação: por uma pedagogia do filme-ensaio na cultura digital” em < http://www.papirus.com.br/livros_detalhe.aspx? chave_livro=3850&origem=online.aspx > [org. Alessandra Brandão e Ramayana de Sousa], acesso 02/02/2016

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“Refuse is the archive of our times and the resource for what I call 'cinema povera' – those people who are impoverished but still intent on making films... It's a test of our ingenuity to take that material (from the trash) and redeem it, so to speak: to project new meanings into it.”(Baldwin apud YEO, 2004)

Aponto aqui três obras, de nossa pesquisa no doutorado 2, construídas através de reciclagens audiovisuais: 1.“Der Riese”(videoarte, 1982), de Michael Klier – o artista tcheco nos apresenta uma sublime montagem a partir de material apropriado das câmeras de vigilância na Alemanha; 2.“The Specialist”(documentário, 1999), de Eyal Sivan – numa igualmente montagem de “inalteradas imagens”, a partir do extenso registro do tribunal 'telemático' em Israel que gerou o livro, fio condutor ao filme, “Eichmann em Jerusalém – Um relato sobre a banalidade do mal”, de Hannah Arendt); e 3.“S-11 Redux”(vídeo-remix, 2002), do extinto coletivo GNN [Guerrilla News Network] – entre mais de 20 horas de imagens gravadas das 13 redes televisivas ao longo do período de um mês, fragmentos selecionados são [re]editados como sound-bite blitzkrieg, uma resposta às mensagens bombardeadas via as mainstream media em discussão.

Em comum estes filmes-ensaio não possuem a presença literal de uma voz over, deixando bastante claro que a “voz que fala” é operacionalizada na própria montagem desde camadas metafóricas da subjetividade do realizador, visando um diálogo crítico-reflexivo implícito desde materiais 100% “de arquivo” sob acurada edição de imagens e sons. Frente ao conceito de Retóricas Audiovisuais, interessa-nos esta potência da montagem como “um princípio que, se compreendido plenamente, ultrapassa em muito os limites da colagem de fragmentos de filme.” (EISENSTEIN, 1990)

Segundo Rascaroli, Alter e Artur, o componente-chave ao filme-ensaio é a instância crítica, algo entre o político, o lúdico, o contraditório e o desvio digressivo-transgressivo, ponto de encontro entre documentário-arte-vanguarda. 2

Retóricas Audiovisuais 2.1: o “filme-ensaio” aliado ao “vídeo-remix” na cultura de “banco-de-dados” [ou uma prática da apropriação digital e online como fundamento dialógico-discursivo a uma reflexão e escrita auto-conscientizadora através de imagens e sons], título provisório (Relatório de Qualificação – maio/2013)

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Caracteriza-se como forma a partir de três pólos: 1.pessoal-autobiográfico [compreendemos a utilização de imagens televisivas, ou [re]apropriadas, como formação afetiva de uma memória cultural do realizador]; 2.objetivo-factual e 3.abstrato-universal. O audiovisual como instrumento de conhecimento que se coordena desde os ouvidos aos olhos e, quando conjugado a “materiais de arquivo”, descontextualiza-os e recontextualiza-os numa montagem argumentativa crítico-reflexiva desta apropriação. O video-remix, também originário das fronteiras do compilation documentaries, se utiliza de trechos de arquivo não apenas como uma ilustração de eventos reais, mas como imagens que nos instigam a perceber a natureza construtiva das produções midiáticas. Assim, através da auto-referencialidade permitem-se “criticar, desafiar e possivelmente também subverter o poder da representação cinematográfica” (WEES, 1993), ou seja, ser em si um sistema metalinguístico funcionando como dispositivo de subversão midiático. Neste curto espaço textual não discutiremos as definições de arquivo ou biblioteca, tampouco as nomenclaturas Collage, Pastiche, Antropofagia, Tropicalismo, Meme etc que permeiam nossas análises sobre obras audiovisuais via apropriação.

A presente análise faz-se ainda mais urgente e atual nestes tempos de YouTube, do cada vez maior e mais acessível exponencial banco-de-dados online e, principalmente, frente às manifestações pelas ruas nas cidades do Brasil e ao redor do mundo, quando testemunhamos uma Era em que todos parecem aptos à “apropriação dos mecanismos de produção da visualidade e sua expressão estética” (HAMBURGER, 2012). Pensemos no poder contestatório e poético das possíveis linguagens audiovisuais que se constituam a partir da tomada dos referenciais culturais desde “arquivos públicos” como “uma manifestação complementar [à comunicação] tecnológica (...) a verificação dos códigos, a interpretação sempre renovada das mensagens de massa (...) [ uma reintrodução da] dimensão crítica na recepção passiva”(ECO, 1984). S-11 Redux apresenta-se, pois, como símbolo da linguagem e estética de uma geração à primeira década deste novo século, fortemente marcada pela prática massiva do detournement audiovisual e pelo acesso aos meios digitais de produção.

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“S-11 Redux: (Channel) Surfing the Apocalypse'” “a challenging affair, both in terms of its content, aesthetics and distribution. Deeply hybrid, GNN is crossing boundaries in such a professionaland and easymanner that it almost seems, we have landed in the perfect, tactical media future.... (…) it is Trance meets Chomsky. Without leaving behind the tradition of political documentary video and investigative journalism (…) frame classic footage in an innovative television format. Edited as high pulse videoclips the works are designed as interactive art works and distributed simultaneously on VHS, DVD, as television signal and last but not least streaming video content on the web. In fact, the website is the centrepiece of the GNN operation (…) a scratch video masterpiece that jams American news footage; a delightful deconstruction of the late 2001 hysteria” (LOVINK, 2003)

Concordamos com Lovink ser esta “uma obra-prima da estética scratch vídeo” e, ao elegermos decupá-la3 (10'53''), procuramos demonstrar o alcance dessas aparentemente “imagens descartáveis” a uma escrita audiovisual ensaística. Através de algumas táticas entre estética pop e conteudo critico-politico de autoconscientizaçao, vemos a potencialidade dessas “formas de uma futura guerrilha da comunicação” desde tipicas caracteristicas do video-remix4: apropriaçao; loop samples e scratch. Alguns possuem ainda o tom ironico, construido através de estratégias metaforicas. Horwatt (2008), ao citar a clássica análise de Leyda sobre Schub, aponta este tom como forma de expresividade em montagens de trechos apropriados: nao sendo inerente em si a nenhuma das imagens originais, mas gerado ao novo sentido vislumbrado. Portanto, longe de ser uma prática tipicamente contemporanea, o efeito ironico ainda é o estilo majoritário nestas produções. Em transparente luta ao discurso inerente, GNN trabalha o efeito crítico-reflexivo desde os elementos apropriados. Estratégias de montagem que resultam em implicitos comentários, “a critical meta-commentary” (HORWATT, 2009), solicitando a todo instante uma co-participaçao ao espectador exatamente pela “construçao metaforica [de efeito ironico que] beneficia sua pauta ideologica”.

O novo enunciado evidencia o conjunto de informações que bombardeavam o cidadão, à época sem escapatória se 3 4

Processo e escrita desenvolvidos via ensino-aprendizagem junto aos meus alunos Daniel Santos, Mariana Lage e Wislan de Oliveira Técnicas inerentes também à prática de vj'ing [remixagens de vídeos ao vivo, elaboração-edição de um discurso audiovisual em tempo real]

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desejasse assistir televisao. Politicos, ancoras de telejornais, celebridades midiáticas e personagens do imaginário audiovisual da sociedade norte-americana compõem grande parte das imagens apropriadas. Tendo o som como fio-condutor, a estrutura retórica [des]constrói o original discurso gradativamente, acrescentando repetições artesanalmente trabalhadas a um jogo reflexivo e dialógico junto ao espectador com respeito ao material [des]apropriado.

O vídeo inicia-se claramente metalinguístico, onde o convite à reflexão proposta [acontecimentos-programaçãodispositivo] é construído através de uma estética “em zapping”. Intercaladas por ruídos imagético-sonoros, característicos da [falha na] transmissão televisiva, apresentam-se as diversas vinhetas temáticas com suas originais trilhas sonoras sobre o “estado de terror” que abriam as notícias nos telejornais.

Em seguida, cortes secos e ligeiros, imagens de Bin Laden (nome pronunciado por diversos repórteres, âncoras e comentaristas de telejornais, como num cântico em jogral) e antes mesmo que qualquer informação possa ser processada-contemplada, a frase Happy Ramadã5 aparece diversas vezes em loop. Repetições através do casamento rítmico entre beats e spokenword aludem ao gênero musical Rythm & Poetry (estilo de contestação política criado por afrodescendentes nos EUA). A partir de um RAP irônico – montados como verdadeiros mantras –, ridiculariza-se os discursos originais criando diálogo com o espectador, novo convite à reflexão. Inserts com referências culturais norte-americanas (por exemplo, da fala proferida pelo próprio Sir Walt Disney ao “Mickey Mouse News Reel”) reforçam a ironia e cumplicidade pretendidas.

Sequência com montagem claramente discípula da conceitual-intelectual eisensteiniana, que evidencia e fortalece sinestesicamente a construção de sentido, é geralmente aqui predileta dos alunos: o enunciado audiovisual construído desde os pronunciamentos “freedom and democracy (...) These police are the foundation of our civilized world” segue em formato de um jogral onde as seguintes frases ecoam: “The evil doers”, “They can’t 5

Umas das mais importantes fetividades religiosas muçulmana. Consiste em rezas aliadas a jejum alimentar com duração de 30 dias. A festividade é diversas vezes associada a “fanatismo religioso”.

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stand free’’, “Taliban”, “The fanatics”, “They hate what America stands for”. Algumas cenas são enfatizadas, repetidas, reaparecem. Como num refrão musical, “They can’t stand free’’, é quatro vezes trazida à tona antes de ser proferido o slogan fundador da nação, “Democracia e Liberdade”, performada pelo então prefeito de NY, justaposta a imagens de policiais armados e em ação. A sequência é finalizada por George W. Bush, então presidente: “Ou você está conosco, ou você está com os terroristas”, seguido de aplausos na Casa Branca; a cena é cortada pela transição efeito zapping. “Muda-se de canal” e uma nova sequência entra em ação.

O tom irônico e metalinguístico evidencia-se na sequência “entre o bem e o mal”. Neste trecho, através da justaposição de imagens, desde uma pequena cena de Star Trek onde há no canto inferior da tela um ticker com os dizeres “Star Treck: the next generation”, o capitão desta famosa série de ficção científica fala : “Comes down to this. Face with an enemy who is determined to destroy us and we have no hope on negotiating a peace. Unless that changes, we are justified in doing anything we can to survive”. A sequência apresenta a personagem [midiática, índice de formação cultural àquela sociedade] intercalada com jump cuts de Bush que escuta o capitão em silêncio e atenção. A montagem é um claro convite de interatividade reflexiva com o espectador, individualizado como ser pensante junto a obra. A sequência segue ao som de jazz [possivelmente alterações desde Dave Brubeck Band] onde nos são apresentadas imagens retiradas do History Channel [possivelmente um documentário televisivo sobre a 2 a guerra mundial] que aparecem com sua voz em off: “Now he had the war he wanted. (...) the propaganda (...) The victim is not us, we'd told the truth”. A sequência é finalizada com um jogo de imagens a partir da fala de um representante da segurança nacional: “This is, essentially, the same crowd that brought you dozen storm ten years ago. Particularly secretary Powell, vice-president Cheney and, off course, president Bush, the son of then president Bush”. [...] A montagem “detalhadamente construída [via] justaposições de imagens sobre um som harmônico perfeito em tom político” (MARSHALL apud LOVINK, 2003) é um testemunho esclarecedor da metodologia de video editing praticada à época. Devemos nos perguntar – nesta exponenciação e proliferação de obras audiovisuais que dialogam a partir da saturação imagética que frui ao nosso [in]consciente – quais obras audiovisuais sobreviverão

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[ou têm sobrevivido, ou mesmo queremos que sobrevivam] neste acervo que destinamos ao futuro. Afinal, a importância das “Retóricas Audiovisuais” reside também num princípio político, crítico e de reflexão frente aos arquivos herdados culturalmente e seus [im]pactos.

Referências ECO, U. Viagem na Irrealidade Cotidiana. RJ: Nova Fronteira, 1984. EISENSTEIN, S. A Forma do Filme. RJ: Zahar,1990. HAMBURGER, E. “Estéticas das Representações da Pobreza e da Violência no Cinema e na Televisão”, Programa CTR5234, ECAUSP, 2012. HORWATT, E. A Taxonomy of Digital Video Remixing. In: SMITH, Iain(ed.). Cultural Borrowings. Nottingham: Scope, 2009. __________. “The Metaphorical and Expressionistic Use of Found-Footage in the Documentary Films”. The Recycled Cinema Blog (03/2008). Acesso em: nov. 2011. LOVINK, G. “Interview with Stephen Marshall”. Nettime mailing list (12/2003). Acesso em: set. 2013 RASCAROLI, L. “The Essay Film: Problems, Definitions, Textual Commitments”. Framework:, Detroit, 49, No. 2, Fall 2008. WEES, W. Recycled Images: The Art and Politics of Found Footage Films. NY: Anthology Film Archives, 1993. YEO, R. Cutting through History: Found Footage in Avant-garde Filmmaking. In: BASILICO (ed.). Cut. Milwaukee: Art Museum, 2004.

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