Das Implicações Epistemológicas da Seleção Natural

June 19, 2017 | Autor: Vitor Grando | Categoria: Darwin, Epistemologia, Evolução
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DAS IMPLICAÇÕES EPISTEMOLÓGICAS DA SELEÇÃO NATURAL
É talvez possível que o processo de seleção natural poderia selecionar mecanismos cognitivos confiáveis na produção de crenças verdadeiras em virtude de sua aparente vantagem em termos de adaptação e reprodução. Ao menos, isso seria possível em relação àquelas crenças que teriam valor adaptativo, isto é, crenças relativas à realidade física num sentido geral.
A dificuldade aumenta quando se abandona as restrições da realidade e das regras de indução lógica em nós embutidas pelo processo evolutivo de tentativa e erro em prol de especulações de natureza mais abstrata. A primeira conclusão que extrairíamos disso é que nossas especulações devem estar perfeitamente adequadas à realidade concreta. Isso por si só é um enorme problema para teses que pressuponham alguma forma de construtivismo social, afinal existe uma realidade concreta e nós fomos formados em contato direto com ela. A segunda conclusão é quanto à imprescindibilidade da adequação das nossas especulações às leis gerais da lógica e da matemática, o que privilegiaria a tradição da filosofia analítica em detrimento da filosofia continental.
Em sendo verdade que o processo de seleção natural nos formou de tal modo a termos crenças razoavelmente confiáveis em relação à realidade externa e ao método de raciocínio indutivo, disso podemos concluir que (1) a ciência natural é a forma mais adequada para se chegar ao que podemos chamar de conhecimento objetivo da verdade e (2) as ferramentas da ciência natural, como o raciocínio indutivo, devem servir de fundamento para as ciências de cunho mais especulativo. Não é sem razão que nas ciências humanas não faltam exemplos de teorias absurdas completamente desconectadas da realidade humana e que ensejaram verdadeiras catástrofes sociais: nossas faculdades cognitivas não foram criadas para essa forma de abstração.
A formação evolutiva de nossas crenças se deu em grande parte através da experiência empírica. As crenças coerentes com a experiência empírica tendem a favorecer a sobrevivência ao passo que as crenças que vão de encontro a ela tendem a inaptidão e, portanto, são eliminadas. Deste modo, as faculdades cognitivas humanas têm seu funcionamento excelente alcançado quando coerentes com a experiência humana e quando a levam em consideração. Junto disso vem nossa capacidade de raciocinar indutiva e dedutivamente, processos sem os quais nossa coerência com a realidade seria impossível. Em sendo assim, segue-se que a objetividade da experiência humana não pode ser desprezada, sob pena de adentrarmos um mundo para o qual nossas faculdades cognitivas não foram preparadas.


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