DAS MATERIALIDADES ÀS MATÉRIAS-PRIMAS DA COMUNICAÇÃO: notas para uma perspectiva teórico-geológica

Share Embed


Descrição do Produto

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016

DAS MATERIALIDADES ÀS MATÉRIAS-PRIMAS DA COMUNICAÇÃO: notas para uma perspectiva teórica geológica FROM MATERIALITIES TO THE RAW MATERIALS OF COMMUNICATION: notes for a geological theoretical perspective Marcio Telles I IDoutorando,

Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Contato: [email protected] Resumo: Partindo de outra “materialidade” da mídia, que não se limita ao suporte e ao não-sentido, busca-se, nas matérias-primas empregadas no fabrico da tecnocultura midiática, um outro fluxo material que erige novos significados. Tal pensamento “geológico” dar-se através de três dimensões: geofísica, focando na ontologia das matérias e como elas entram em relação nos aparelhos comunicacionais; geopolítica, procurando as articulações que as cadeias produtivas de matérias primas e econômicas da indústria tecnomidiática operam, deixando rastros no trabalho e nas posições estratégicas das nações; geológica, tendo a Terra como matéria cujos dados são minados e significados nos domínios humanos, reconhecendo um contínuo entre processos cognitivos culturais e impacto ambiental. Atualiza-se, na comunicação, a proposta de Félix Guattari em pensar ecosoficamente através de três domínios imbricados: o meio-ambiente, as relações sociais e a subjetividade humana. Palavra chave: epistemologia, materialidades, mídias, geologia, tecnocultura Abstract: Starting from another “materiality” of the media, one that is not limited to the device and the ausence of meaning, I sought in the raw materials of media technoculture for a new perspective in media studies. Such “geological thinking” operates through three dimensions: geophysics, focusing on the ontology of materials and how they come over in the communication apparatus; geopolitics, looking for joints in the supply chains of raw materials and the industry, which influences the hardwork and strategical positions of the nations; geological, with the Earth as matter whose data are mined and new meanings created for human consumption, recognizing a continuum between cultural cognitive processes and environmental impact. This paper seeks to update in the Communication area the proposal of Felix Guattari to think through three overlapping areas: the environment, the social relations and the human subjectivity. Keywords: epistemology, media studies, materialities, geology of media, technoculture

1. Introdução

Os 55 milhões de metros cúbicos de lama que, em novembro de 2015, derramaram-se sobre cidades, pessoas, animais, rios e todo o ecossistema ao longo de 700 km do centro das Minas Gerais até o Atlântico, evidenciariam a intensiva extração de recursos naturais ainda

Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO, no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016.

www.compos.org.br / page 1/24 / Nº Documento: 5A6E3A93-6464-431D-A5CB-FF4701972D8F

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016

em operação no Brasil. Menos evidente é o quanto da tragédia de Mariana é ligada à tecnocultura midiática do século XXI, assim como a possibilidade de abrir uma nova perspectiva sobre os estudos em comunicação, que vem sendo chamado lá fora de geologia da mídia (PARIKKA, 2015[1]), mas que eu definiria como a passagem da materialidade às matérias-primas com que são feitas as tecnologias comunicacionais.

Não muito longe das barragens rompidas da Samarco – empresa co-gerida pela multinacional brasileira Vale que, aliás, é conhecida fora do país como “a pior empresa do mundo”[2] –, a menos de 400 km a Oeste de Mariana, as minas de Araxá retiram da Terra um dos metais preciosos mais cobiçados pela indústria de alta tecnologia: o nióbio, de cujas reservas conhecidas localizam-se 98% em solo nacional[3]. Utilizado em objetos tão díspares como óculos de grau, aparelhos de superfície de ondas acústicas, máquinas de ressonância magnética e mísseis, interessa-nos que, sem o nióbio não existiriam microcapacitadores e, sem eles, não haveria microprocessadores de alta potência computacional, capazes de dissipar calor em forma diminuta e, portanto, caber no bolso da calça; os smartphones seguiriam uma história muito diferente... Como é utilizado também na fuselagem de foguetes, e sendo as primeiras minas que se têm registro datadas de meados dos anos 1950 e exploradas por consórcios multinacionais, pode-se dizer que a participação norte-americana na corrida espacial não teria sido possível sem o solo brasileiro.

Todavia, o nióbio é apenas um dos sessenta elementos diferentes com que é feito um único chip de computador: “36% de todo ferro, 25% do cobalto, 15% do paládio, 15% da prata, 9% do ouro, 2% do cobre, e 1% de alumínio vão anualmente para tecnologias midiáticas” (PARIKKA, 2015, p.34), segundo estatísticas de 2008. Muitos desses elementos não chegam ao produto final: para a produção de um único microchip de memória de duas gramas são necessários 1,3 quilos de combustíveis fósseis e materiais – ou seja, 99% dos “ingredientes” utilizados na produção são descartados no processo (GABRYS, 2013, p.26).

Para Parikka (2015, p.52), essa lista de metais oferece uma história alternativa da mídia. Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO, no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016.

www.compos.org.br / page 2/24 / Nº Documento: 5A6E3A93-6464-431D-A5CB-FF4701972D8F

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016

Expandir-se-ia o interesse da alquimia às práticas de mineração contemporâneas e a subsequente compreensão da vivacidade inorgânica de suas matérias, que se liga diretamente a um contínuo entre a economia política, as práticas sociais e a cultura midiática. Nesta história alternativa, observaríamos como o empreendimento imperialista passou e ainda passa pela exploração de recursos minerais de terras; compreenderíamos como a digitalização da cultura, que retirou os trabalhadores das nações ricas da materialidade do chão de fábrica para os escritórios do setores “criativos” (do proletariado ao cognitariado), continua muito material, quiçá até em demasia, nas plantas chinesas onde os dispositivos ultratecnológicos e clean Apple são montados e pó de alumínio se entranha nos pulmões dos trabalhadores ou nas minas congolesas, onde crianças embrenham-se dentro da Terra para dela retirar o lítio que abastece as baterias quase eternas dos mesmos aparelhos. Seria preciso compreender o impacto geológico e humano (cultural, social, político, econômico) que o isolamento de elementos químicos produziu e produz: o fósforo (1669), o nitrogênio (1772), o potássio (1807) são moléculas dotadas de histórias moleculares do mundo, todas pertinentes à evolução tecnocientífica das mídias.

A história da comunicação não seria mais social, mas (al)química: Niepce, Daguerre e Talbot experimentaram com estanho, iodetos, lactatos e nitratos de prata, ciclos de carbono, nitratos de urânio e cloretos de ouro (PARIKKA, 2015, p.55) até que a fotografia pudesse nascer. Notaríamos que a narrativa humanista do gênio inventor que, pela força de seu intelecto superior, vence todas as adversidades (quase sempre sociopolíticas) e faz valer sua visão revolucionária, não seria possível sem que este se tornasse, antes, em metalúrgico: é sempre necessário que faça o próprio corpo entrar em relação com a corporeidade das matérias-primas do mundo, espécie não contemplativa de conhecimento: o estudo do comportamento complexo e variável dos materiais foi empregado historicamente por artesãos, engenheiros e metalúrgicos, raramente por cientistas e quase nunca por filósofos[4].

A partir deste ponto de vista, o meio-ambiente – o geológico – expandir-se-ia para

Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO, no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016.

www.compos.org.br / page 3/24 / Nº Documento: 5A6E3A93-6464-431D-A5CB-FF4701972D8F

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016

abarcar também as relações sociais e as subjetividades humanas, como já havia proposto Guattari (1990), compreendendo os não-humanos como constitutivos das relações sociais, e reconhecendo, como Espinoza, que não existe nenhuma lei cara à natureza humana que difere das leis naturais. Essa “articulação ético-política” proposta por Guattari há quase trinta anos subjaz na noção muito em voga do antropoceno: a geologia não é apenas o chão sob nossos pés nem o ar que (mal) respiramos, mas é constituída também das esferas econômicas, tecnológicas, sociais e suas diversas realidades, atravessando-as de parte a parte. Caberia à comunicação um papel central no conhecimento ecosófico: não só muito dos materiais do mundo tornam-se aparelhos midiáticos, mas também as leituras da Terra enquanto recurso (in)finito são realizadas através de tecnologias informacionais. Não seria absurdo falarmos que, nos últimos dois ou três séculos desde a revolução industrial, o planeta passou de fonte de recursos materiais em fonte de dados imateriais: cotações de petróleo, testes de carbono C-14, aquecimento global, profundidades de poços, alturas de ondas, abalos sísmicos, etc., expressões que se tornaram populares, são possíveis apenas pelos avanços tecnológicos que permitiram ler a Terra tal qual texto – a magia dos hermeticistas tornou-se o domínio dos tecnocientistas. Subsiste nelas a materialidade terrestre como uma matéria a-significante e, por mais das vezes, indomável, que exige constantemente a atualização deste vocabulário quanto mais interagimos com ela. O data mining das grandes corporações virtuais como Google e Facebook esconde um data mining que ocorre diretamente sobre a superfície terrestre.

Este é o panorama daquilo que pretendo ensaiar ao longo deste artigo: a possibilidade de se pensar a comunicação a partir do geológico. Tal pensamento dar-se-ia através de três dimensões, que se imbricam: geofísica , focando na ontologia das matérias e como elas entram em relação umas com as outras nos aparelhos comunicacionais; geopolítica , procurando as articulações que as cadeias produtivas de matérias primas e econômicas de produção industrial tecnomidiática operam, deixando rastros no trabalho e nas posições estratégicas das nações; geológica, tendo a Terra como matéria cujos dados são minados e

Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO, no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016.

www.compos.org.br / page 4/24 / Nº Documento: 5A6E3A93-6464-431D-A5CB-FF4701972D8F

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016

significados nos domínios humanos, reconhecendo um contínuo entre processos cognitivos culturais e impacto ambiental. Estou, em suma, atualizando a proposta guattariana de pensar

ecosoficamente através de três domínios que se misturam o tempo todo: o meio-ambiente, a subjetividade humana e as relações sociais.

2. Matéria vibrante e afectos metálicos

Para Deleuze e Guattari, a metalurgia é a ciência “nômade” por excelência, em oposição às ciências nobres e institucionalizadas, pois, diferente das rotinas, constantes e homogeneizações destas últimas, a metalurgia é indissociável da variação “das qualidades que tornam possível tal ou qual operação, ou que decorrem de tal ou qual operação” (DELEUZE; GUATTARI, 2012, p.92).

Essas variáveis formam uma dupla articulação. De um lado, existem singularidades que expressam tendências, como a do ferro a se fundir a 1535ºC – como nota Delanda (2010), o termo “singular” se opõe a “ordinário”, pois às temperaturas de 1533ºC e 1534ºC nada acontece de notável ou singular com o ferro. Ademais, tal propriedade é relativa aos parâmetros agenciados: a fundição do ferro a 1535ºC só é constante a 1 atm de pressão atmosférica; ou seja, mudando-se a pressão, necessariamente mudar-se-á a temperatura de fundição. De outro lado, existem afectos ou traços de expressão, que correspondem a tais singularidades: a dureza, a cor, o peso, o estado – o ferro fundido deixa de ser sólido e se liquefaz, expressando sua singularidade.

Delanda (2010, pp.77-8) oferece uma segunda articulação: os traços de expressão podem se manifestar ora como propriedades, ora enquanto capacidades. As primeiras são sempre atuais, as segundas são reais, mas não atuais, tais como as tendências ou singularidades, que são reais, mas atualizáveis através de um acontecimento (o

Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO, no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016.

www.compos.org.br / page 5/24 / Nº Documento: 5A6E3A93-6464-431D-A5CB-FF4701972D8F

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016

agenciamento ferro-temperatura-pressão). A distinção é necessária quando percebemos que os metais possuem certas propriedades que os distinguem, como cor, dureza, maleabilidade, etc., mas não são por estas que são empregados na indústria: os metais expressam o que são capazes de fazer pelo exercício de capacidades elétricas, químicas e mecânicas. Logo, pode-se estabelecer a diferença entre dois metais pela “constelação de tendências, capacidades e propriedades, ou de singularidades e traços de expressão” (DELANDA, 2010, p.77).

Como pensar essa afectabilidade metálica dentro da comunicação? Uma pista nos é dada por Bryant (2011) e o que chama de “endologia”, as interações entre elementos internos de um objeto (agenciamento), em oposição à ecologia, as interações entre elementos exteriores. Neste sentido, endologicamente, percebe-se que as tecnologias existentes para o desenho de um smartphone (celulares, internet, chips de memória, torres de celulares, interfaces, baterias, microchips, etc.) não se entrosam umas com as outras e necessitam de trabalho, tanto intelectual quanto material. Por exemplo,

a vida da bateria... pode ser limitada, mas a navegação na Internet exige muita energia. Como é que combinamos vida útil e tamanho da bateria com as exigências de navegação na internet em um dispositivo que se encaixa facilmente na mão? Reunir essas diversas tecnologias leva os engenheiros a encontrar exigências tecnológicas inesperadas que desempenham um papel fundamental na forma como o smartphone se manifesta e é desenvolvido. Novas tecnologias são criadas, inovações ocorrem. Estas exigências não vêm de fora, nem foram originalmente destinados pelos engenheiros... tecnologias têm um desenvolvimento endológico autônomo que não pode ser reduzido à dinâmica do capital, aos fins humanos, aos signos e seus significantes (BRYANT, 2011, p.15, grifo e tradução meus[5]).

Todavia, Bryant parte do próprio preconceito que denuncia: a questão não é como se

Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO, no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016.

www.compos.org.br / page 6/24 / Nº Documento: 5A6E3A93-6464-431D-A5CB-FF4701972D8F

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016

alia o ciclo de vida da bateria às exigências do uso da internet – ou seja, centrando-se nos “fins humanos” – e, sim, como se chegou ao composto exato de íon-lítio que permitisse a emergência de tais exigências. Só poderemos utilizar de forma ubíqua a internet em nossos smartphones com os materiais certos disponíveis e agenciados; do contrário, as exigências seriam outras.

A mudança de ponto de vista exige, necessariamente, o conhecimento das tendências e dos afectos do lítio e seus múltiplos estágios de trabalho até se tornar disponível na forma de baterias de smartphones. Pois bem: o lítio é o metal mais leve e menos denso entre os elementos sólidos (suas propriedades), jamais encontrado em seu estado nativo devido à sua elevada reatividade (sua capacidade). Ao mesmo tempo abundante e escasso, encontra-se em todas entidades terrestres, do granito ao humano, mas poucas rochas possuem concentração suficiente para serem mineradas. Das que possuem, as maiores jazidas encontram-se no Chile, na Argentina e na Austrália. Por sua alta reatividade, as baterias de lítio foram propostas pela petroleira Exxon nos anos 1970s, utilizando disulfídio de titânio e lítio como eletrodos, todavia a tecnologia nunca se mostrou prática: o disulfídio de titânio necessitava de condições seladas para poder ser sintetizado, a preços exorbitantes para a época. Ademais, quando exposto ao ar, o disulfídio de titânio reage com o oxigênio e forma sulfídio de hidrogênio, com odor desagradável, não raro provocando incêndios devido à sua reatividade.

As primeiras baterias de lítio ainda são utilizadas em dispositivos médicos implantados e sistemas de defesa com expectativa de vida maior que 20 anos e necessidade de grande dispêndio de energia ou de operação em temperaturas extremas. Mas o contínuo genealógico das baterias de íon-lítio segue outro caminho: intercalações entre grafite e lítio desenvolvidas no final dos anos 1970 levaram a um eletrodo manejável; uma célula recarregável de 4V foi proposta usando óxido de lítio e cobalto no pólo positivo, fazendo da bateria de lítio uma realidade. Em 1980, foi descoberta a intercalação reversível do lítio em

Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO, no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016.

www.compos.org.br / page 7/24 / Nº Documento: 5A6E3A93-6464-431D-A5CB-FF4701972D8F

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016

grafite, ainda hoje o eletrodo mais comumente utilizado em baterias de íon-lítio – todavia, na época, os eletrólitos orgânicos disponíveis na indústria decompunham-se quando carregados, atrasando o desenvolvimento da bateria recarregável. Cinco anos mais tarde, um cientista japonês construiu uma célula protótipo que utilizava materiais carbonosos nos quais o lítio era inserido por um dos pólos, e óxido de lítio e cobalto, estável no ar, no outro. Isto possibilitou a construção em escala industrial das baterias, e é considerado o nascimento oficial da bateria de íon-lítio. A primeira bateria foi lançada comercialmente pela Sony em 1991, de vida ainda curta; em 2002, o MIT aumentou o desempenho das baterias ao impulsionar a condutividade do lítio com alumínio, nióbio e zircônio; dois anos mais tarde, o mesmo laboratório de novo aumentou a capacidade e o desempenho das baterias ao utilizar fosfato de ferro (III), aumentando a superfície do eletrodo positivo e diminuindo a densidade das partículas em quase cem vezes, possibilitando a bateria durável e recarregável que hoje conhecemos. Isto levou à rápida comercialização e a uma batalha judicial por patentes entre muitos dos cientistas envolvidos. Hoje, as baterias de íon-lítio correspondem a mais de 66% de todas as baterias recarregáveis vendidas no Japão[6] e uma nova bateria, com capacidade 20% maior que as anteriores, utilizando um anodo de silicone encontra-se em experimentação pelas fabricantes de smarthpones[7].

Como se vê, dependendo das escolhas materiais, a voltagem, energia, vida e segurança da bateria de íon-lítio são alteradas: eis aí a dupla-articulação entre singularidades com seus parâmetros e afectos com suas expressividades. O desenvolvimento da bateria é truncado, envolvendo um grande número de cientistas e laboratórios e necessitando da experimentação direta com as capacidades e propriedades dos materiais trabalhados. Isto porque é preciso considerar os metais não como matéria inerte, mas ao contrário, como matéria vibrante: “a capacidade das coisas... não só de impedirem ou bloquearem a vontade e os desígnios dos humanos, mas também de agirem como quasi-agentes ou forças com trajetórias, propensões ou tendências próprias” (BENNETT, 2009, p.viii). Harwood (2010) nota que as matérias-primas passam a existir enquanto força criativa quando situações

Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO, no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016.

www.compos.org.br / page 8/24 / Nº Documento: 5A6E3A93-6464-431D-A5CB-FF4701972D8F

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016

políticas, geográficas e econômicas tornam-se favoráveis: o alumínio, por exemplo, precisou que o Fascismo necessitasse de um metal nacional e que à Itália faltasse carvão, ferro e tivesse bauxita em abundância. Só a partir daí é que podemos falar em um culto ao alumínio no futurismo e em seu emprego na indústria automobilística italiana. Esse agenciamento

entre

matéria-prima,

desenvolvimento

tecnológico

e

significação

sociocultural oferta um duplo-vínculo que explica o intervalo entre a descoberta de certos materiais, a invenção tecnológica e sua aplicação em larga escala na sociedade: existe um ??????, o momento oportuno em que estas instâncias convergem e agenciam-se: alumínio-futurismo-automobilismo-fascismo.

A matéria-vibrante, matéria-movimento, matéria-energia, matéria-fluxo ou matéria em constante variação é uma matéria, sobretudo, desestratificada, possuidora de uma materialidade que não é nem essencialidade inteligível, como tentam crer alguns “realistas especulativos”, nem coisidade sensível ou perceptível, como tentam crer alguns novos fenomenologistas. Isto porque, como já dito, esta materialidade possui “apenas” (e já são muitas...) características: a) são inseparáveis de passagens como mudanças de estado, processos de transformação, acontecimentos que ocorrem no espaço e no tempo (singularidades); e b) são inseparáveis de suas qualidades expressivas ou intensivas, que expressam tais variáveis, como resistência, dureza, peso, cor, estado, etc. (afectos). Não teremos mais a necessidade de trabalhar a partir de essencialidades, que sempre nos coloca em apuros: como dizer que a essência corpórea do ferro é sua dureza e sua cor metálica se, dependendo do que lhe acontece, seu estado e sua tonalidade se expressam diferente? Por certo, pensarão alguns, poder-se-á chegar à essência do ferro não por seu estado imutável mas, ao contrário, por suas tendências mutáveis: a essência do ferro é liquefazer-se à 1535ºC, é abaular-se com o martelo, é dilapidar-se em espada, etc. Mas aí também teremos um problema, pois a lista de tendências de um material jamais é exaustiva: nada impede que, no futuro, se encontre outro material que reaja com o ferro de forma diferente, formando um composto até então inédito; ou que se descubra que um dos processos

Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO, no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016.

www.compos.org.br / page 9/24 / Nº Documento: 5A6E3A93-6464-431D-A5CB-FF4701972D8F

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016

acontecia, em verdade, por outro motivo do que o imaginado. Tais exemplos colocariam o essencialista em apuros; para o materialismo pós-estruturalista, todavia, a matéria não é mais que um “acoplamento ambulante de

acontecimentos-afectos ” (DELEUZE;

GUATTARI, 2012, p.95).

A matéria vibrante, acontecimental e afectiva, opõe-se ao modelo hilemórfico, onde à matéria disforme impõe-se uma forma, eterna e imutável[8]. Mais do que impor propriedades à matéria, como o formato de uma mesa à madeira, “vai-se na direção de traços materiais de expressão que constituem afectos” (DELEUZE; GUATTARI, 2012, p.96). Quer dizer, o artesão precisará seguir a madeira e suas fibras, colocar-se em movimento junto à matéria. Como no exemplo da bateria de lítio, precisou-se que um grande capital humano deambule-se ao redor do metal e fosse descobrindo, neste movimento itinerante, suas tendências e seus afectos.

Esse movimento itinerante que segue o fluxo da matéria é “intuição em ato” (DELEUZE; GUATTARI, 2012, p.97). Pode nos servir de metodologia na condução do trabalho teórico, uma metodologia metalúrgica: deveremos seguir os “fluxos ambulantes e as conexões transversais, trazendo à tona a materialidade da matéria em novos lugares, em novos agenciamentos da vida cultural e na tecnomídia contemporânea” (PARIKKA, 2015, p.23). Isto só é possível se percebamos que “há coextensividade do metal a toda matéria, e de toda matéria à metalurgia” (DELEUZE; GUATTARI, 2012, p.99): as águas, os animais, as ervas e as madeiras são povoados de sais e outros elementos minerais. Mesmo nós podemos ser considerados rochas ambulantes. “Tudo não é metal, mas há metal por toda parte. O metal é o condutor de toda matéria” (DELEUZE; GUATTARI, 2012, p.100).

3. Fluxo do trabalho (i)material: o hardware está morto?

Recentemente, um relatório da ONG Anistia Internacional acusou as empresas de alta

Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO, no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016.

www.compos.org.br / page 10/24 / Nº Documento: 5A6E3A93-6464-431D-A5CB-FF4701972D8F

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016

tecnologia Apple, Samsung e Sony de utilizar-se de trabalho infantil na produção dos minerais utilizados em seus aparelhos. Em um relatório sobre a mineração do cobalto, componente vital para as baterias de íon-lítio, a ONG afirma ter encontrado crianças de até sete anos entre os mineradores da República Democrática do Congo, que responde por mais de 50% do metal extraído no planeta. A Anistia estima 40 mil crianças trabalhando nas minas do sul congolês[9].

Desde a queda de Mobutu, o interior da RDC é recortado em territórios governados por chefes militares, cada um com vínculos com corporações estrangeiras que explora a riqueza mineral da nação (ZIZEK, 2015, p.31). Menos do que uma exceção ao modelo, o Congo é paradigmático da organização geopolítica sob o Império: como observa Zizek, “uma das estratégias do capitalismo atual, que precisa garantir um suprimento constante de matérias-primas baratas sem as restrições de um forte poder de Estado, é manter o desmembramento de um Estado condenado pela maldição da riqueza em minerais ou em petróleo” (2015, p.248). Os países periféricos ricos em recursos naturais estão cientes da situação: a expressão “maldição do petróleo” não é gratuita e refere-se à exploração internacional subseqüente à descoberta de grandes jazidas do óleo em seu território – foi proferida, inclusive, por Dilma a respeito do pré-sal[10].

Parikka aponta, com razão, que “o futuro da geo(física)política da mídia circula entre China, Rússia, Brasil, Congo, África do Sul como produtores-chave de matéria-prima” (2015, p.50). Empregando nossa metodologia metalúrgica, será preciso seguir o fluxo da matéria-prima em suas expressões políticas e econômicas. Por exemplo, o relatório da Anistia Internacional rastreia o comércio de cobalto das minas congolesas a intermediários que revendem o metal à empresa Congo Dongfang Mining, subsidiária da gigante chinesa Zhejiang Huayou Cobalt. Não menos que 16 empresas multinacionais são clientes de fabricantes de baterias de íon-lítio que compram matéria-prima diretamente da empresa chinesa.

Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO, no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016.

www.compos.org.br / page 11/24 / Nº Documento: 5A6E3A93-6464-431D-A5CB-FF4701972D8F

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016

Como bem notam Hardt e Negri (2001), as corporações multinacionais como Apple, Samsung e Sony, “tendem a fazer dos Estados-nação meramente instrumentos de registro do fluxo de mercadorias, dinheiro e populações que põem em movimento” (p.51). Forma-se um complexo aparelho que desestabiliza as fronteiras nacionais, os mercados financeiros e as forças produtivas, ao ponto em que trabalhadores não saibam exatamente para quem trabalham.

Um exemplo deste complexo em ação é o distrito chinês de Shenzhen, responsável por quase todos os aparelhos eletrônicos em uso hoje em dia[11] e, portanto, uma das paradas obrigatórias do rastro do cobalto congolês. Em Hua Qiang, bairro comercial da cidade, é possível encontrar tablets de sete polegadas, com wi-fi, tela touchscreen de alta definição, processador, câmera de dois megapixels, quatro gigabytes de memória interna e bateria de íon-lítio longa vida por menos de U$$ 45 no varejo. Como observa o analista Jay Goldberg (2012), a esse preço “o hardware está morto”: para ele, qualquer empresa que venda aparelhos para sobreviver precisa rever seu modelo de negócio. Mais interessante é como os aparelhos eletrônicos ganham vida própria na anonímia da produção industrial high-tech. “Quem produziu os tablets de 45 dólares?”, Goldberg se encontra frente à questão, apenas para perceber que “não importa”:

a verdade é que eu não sei. Não há marca na caixa ou no aparelho. Revirei a documentação interna e não obtive resposta. Isto é o quão longe o complex de eletrônicos de Shenzhen evoluiu. O fabricante de hardware literamente não importa [“does not matter ”]. Fabricantes contratados podem fazer download do design de referência do criador do chip e montar para atender às demandas dos clientes (GOLDBERG, 2012, grifo e tradução meus[12]).

Essa evolução do complexo industrial da alta tecnologia coloca um sério desafio ao pensamento crítico: como diz Goldberg em um trocadilho que só funciona em inglês, o

Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO, no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016.

www.compos.org.br / page 12/24 / Nº Documento: 5A6E3A93-6464-431D-A5CB-FF4701972D8F

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016

fabricante de hardware does not matter: tanto não importa quanto não possui matéria. Mas isso é falso. É preciso reconhecer que a indústria lida com a desvalorização da matéria (do hardware) através de uma política “pós-materialista”: o valor de produção de um iPhone é calculado, em 2015, em US$ 234 e vendido, no varejo, a US$ 600[13]. Logo, a Apple tem de recorrer a formas de valor agregado para sustentar o valor exorbitante de seu aparelho: não faltam pesquisas acadêmicas sobre “valor de marca”, “imagem da empresa”, etc., para sustentar a inflação pós-material. O termo que uso, no lugar do mais corrente imaterial, não é gratuito: cunhado pelos cientistas políticos Ronald Inglehart e Christian Welzel (2005) nos anos 1970, aponta para o conjunto de valores ligados ao bem-estar subjetivo e à qualidade de vida, em oposição à seguridade social, econômica e física, objetivo clássico dos movimentos sociais.

Centrais no pós-materialismo estão conceitos como “indústria criativa”, “cognitariado” e “capitalismo criativo”. Em resumo, apontam as

recentes transformações do trabalho produtivo e sua tendência a se tornar, cada vez mais, imaterial... [o] papel central previamente ocupado pela força de trabalho de operários de fábrica na produção de mais-valia está sendo hoje preenchido, cada vez mais, por força de trabalho intelectual, imaterial e comunicativa (HARDT; NEGRI, 2001, p.48).

Para ser justo, Hardt e Negri apontam a necessidade de se pensar a produção de subjetividade nas sociedades de capitalismo avançado que se dá no fluxo intenso de informação de agências de publicidade e escritórios jurídicos, em oposição à subjetividade do operariado chão-de-fábrica. O termo capitalismo cognitivo porém pegou, e é usado para justificar o gap entre o valor de fabricação e o valor de revenda do iPhone, que vem atender ao desejo pós-materialista por qualidade de vida, diferenciação social, status subjetivo, etc. E, se é possível afirmar que grande parte dos trabalhadores nas sociedades de capitalismo avançado vivem de trabalho intelectual, isto não esconde que o trabalho continua bastante

Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO, no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016.

www.compos.org.br / page 13/24 / Nº Documento: 5A6E3A93-6464-431D-A5CB-FF4701972D8F

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016

material, sobretudo na manufatura de hardware – que não morreu, ao contrário, viceja.

Um mapeamento da cadeia produtiva da Apple, portanto, começaria com o cobalto extraído das minas congolesas por crianças e passaria pela Foxconn, empresa que ganhou os noticiários em 2010 após um surto de suicídio entre seus trabalhadores. As más condições de trabalho são conhecidas: 60 a 80 horas extras mensais, humilhação por quebra de regras, apenas uma folga por ano, e segurança feita por ex-militares, as fábricas lembrando campos de concentração. Além de tudo, acontece nas plantas da Foxconn um hibridismo entre o orgânico e o inorgânico, entre o proletariado fabril e o capitalismo cognitivo high-tech: a poeira do alumínio, fruto do polimento dos iPhones com o intuito de acrescentar valor estético (pós-material) ao aparelho (eles brilham!), se acumula no pulmão dos migrantes chineses. O mesmo brilho do alumínio que definiu o futurismo italiano e a indústria automobilística do século XX “registra-se no tecido suave da mão-de-obra barata globalmente distribuída” (PARIKKA, 2015, p.89), levando a problemas respiratórios e à morte. Esse acúmulo dos materiais midiáticos no corpo do proletariado não é novidade: no início do século passado, as telas de cinema eram feitas de algodão e igualmente se acumulavam nos pulmões dos trabalhadores, a chamada síndrome do pulmão marrom. Mesmo em uma fábrica ultramoderna como a da Intel não se está livre de doenças: a quantidade de material químico utilizado e descartado no processamento de um microchip é responsável por uma gama de problemas, do câncer a defeitos de nascimento – ironicamente, as trabalhadoras da Intel (em sua maioria, mulheres de cor) utilizam um traje de contenção hermeticamente selado, que protege o chip contra as sujeiras de seus corpos (GABRYS, 2013, p.27).

Ao invés de um “cognitariado”, a cultura digital é sustentada pelo trabalho exaustivo na mineração, nas linhas de montagem de eletrônicos e em outros ambientes – como os lixões – que não são contados como trabalho intelectual. Como observa Parikka (2015, p.92), é o hardwork que possibilita a ubiquidade da cultura do hardware: o termo

Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO, no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016.

www.compos.org.br / page 14/24 / Nº Documento: 5A6E3A93-6464-431D-A5CB-FF4701972D8F

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016

“desmaterializado” não significa apenas “sem matéria”, mas refere-se a um modo de materialização em que a infraestrutura dos meios de produção torna-se imperceptível ou efêmera (GABRYS, 2013, p.58). Apesar de toda a magia da tecnologia, a cultura digital ainda depende do corpo de trabalhadores, da materialidade dos locais de produção e da distribuição de energia. Ainda que a vida no primeiro mundo e em parcelas da população em países em desenvolvimento como o Brasil ter mudado substancialmente devido à revolução digital, “as condições físicas que dão suporte a estes novos reinos de experiência não mudaram” (PARIKKA, 2015, p.93). É essa, no fim das contas, a magia da tecnologia digital: ela parece ser imaterial, mas baseia-se em uma materialidade móvel e dispersa, que engloba geopoliticamente o mundo inteiro. A desmaterialização, nesse caso, serve para fazer com que as tecnologias pareçam ainda mais incríveis e efetivas: em suma, caixa preta.

4. O planeta como mídia e o regime metabólico da comunicação

Em seu inconfundível estilo, Kittler aponta que, quando placas tectônicas se chocam e a “América se torna a Ásia”, segue um terremoto que ceifa milhares de vidas e dali emerge uma melodia desconhecida no mundo antigo. “É claro”, provoca o alemão, “não é como se tivéssemos sintonizado a freqüência olimpiana, mas nossos computadores e aparelhos de medição, pelas quais habitamos a primeira cultura capaz de predizer trovões e relâmpagos” (KITTLER, 2011, p.69, tradução minha[14]), transformaram nosso planeta em mídia. Para Kittler, a passagem da antiguidade à modernidade, em três estágios, é justamente essa midiatização da Terra: os antigos experimentavam eventos naturais como acontecimentos que rompiam surpreendentemente a ordem das coisas; a primeira modernidade, com suas ciências geológicas e astronômicas, transformou o ar, a luz, a terra, o tempo e as estrelas em mídias, com registros codificados capazes de serem decodificados; a modernidade tardia foi além, fez dos eventos naturais modelos estocados na memória dos computadores, capazes de serem pré-ditos e, às vezes, simuláveis. A melodia a que se refere Kittler não é metafórica: é devido aos mesmos instrumentos que predizem e simulam que podemos ouvir

Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO, no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016.

www.compos.org.br / page 15/24 / Nº Documento: 5A6E3A93-6464-431D-A5CB-FF4701972D8F

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016

o “tapa estridente” do choque entre duas placas no Pacífico e o “suspiro suave” das placas se afastando no Atlântico.

Emerge aí “uma estética das vibrações da natureza” (PARIKKA, 2015, p.9, tradução minha), que revela um duplo-vínculo que corta o corpo planetário através do orgânico e do inorgânico. Como nota Parikka, “nossas relações com a Terra são mediadas através das tecnologias e técnicas de visualização, sonorização, cálculo, mapeamento, predição, simulação, etc.: é através das e nas mídias que agarramos a Terra enquanto objeto cognitivo, prático, com relações afetivas” (PARIKKA, 2015, p.12, tradução minha). Poderíamos retornar até a Flusser e à cultura humana como tentativa de suprir uma falta originária, a realidade de que o homem morre e está afastado da natureza no momento em que começou a dela abstrair o tempo[15], os instrumentos, a imaginação, a escrita, chegando à irrealidade da simulação[16].

Mas, talvez pela própria imaterialidade da cultura digital, nos surpreendamos quando a Terra irrompe o véu da abstração e impõe-se como acontecimento, material demais para que a apreendamos. Neste sentido, a Terra sempre sobra, constitui-se como reserva a-significante: podemos gravar em fitas cassetes explosões atômicas e torná-las portáteis e repetíveis, mas, se Kittler está certo e a reprodução sonora é o registro do Real, então os efeitos geológicos registrados sempre excedem a capacidade midiática, ao contrário da voz humana, que por ela é amplificada, eternizada, etc. A bomba e os terremotos possuem uma realidade material que mídia alguma é capaz de mediar: a destruição da matéria fundamental para a vida sobre o planeta.

O excesso de realidade da Terra não nos impediu de abstrair dela dados e informação. Desde o século XIX, a Terra pode ser compreendida como um arquivo, através da percepção de que existem no planeta processos de transmissão, acumulação e gravação de dados. Parikka (2015, p.70) aponta oceanos e glaciais como mídias acústicas e superfícies

Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO, no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016.

www.compos.org.br / page 16/24 / Nº Documento: 5A6E3A93-6464-431D-A5CB-FF4701972D8F

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016

de inscrição dos efeitos do período industrial. No caso do nível ácido dos oceanos, opera-se uma espécie de máquina do tempo, que nos leva de volta para o Cretáceo, entre 145 e 66 milhões de anos atrás. Pode-se apontar uma dupla articulação entre a episteme tecnológica do conhecimento da esfera natural e sua rearticulação em práticas midiáticas nos agenciamentos da atmosfera e do planeta nos empreendimentos científicos do começo do século XX: nesta época, a comunicação foi para o subsolo, com cabos subterrâneos e submarinos; a ionosfera tornou-se parte da cultura humana com o rádio; o espaço foi agenciado pela humanidade no pós-guerra. Logo, todo “circuito metálico fechado é precedido pelo circuito aberto da Terra” (PARIKKA, 2015, p.72).

A interdependência entre circuito terrestre e midiático fica evidente no uso extensivo que a cultura digital faz dos recursos naturais convertidos em energia para máquinas, e a ausência deste ponto de vista nas narrativas do Antropoceno. Os aparelhos não se alimentam da Terra apenas para sua criação e construção, como vimos nas seções anteriores, mas também para sua operação. Como qualquer usuário de PC sabe, dados precisam de ar: aquecimento torna a máquina errática, o acesso a dados lento e pode levar à inutilização completa do aparelho. Para remediar tais problemas, usam-se ventiladores, exaustores, refrigeradores e coolers. Em suma, “dados precisam de ar” (PARIKKA, 2015, p.24). Para Parikka, o coolness (“frieza”) do cyberpunk e de sua realidade virtual desligada do calor humano terrestre torna-se a frieza dos armazéns de servidores (data centers) com controle climático: a cultura digital não é feita sobre nuvem, mas sobre frio. Como explica Blum, nos servidores do Google, “o ar fresco [cool] do lado de fora entra no prédio através de grelhas ajustáveis próximas ao teto; água deionizada é pulverizada por cima; e ventiladores empurram o ar condicionado para baixo até o nível dos servidores” (2012, p.258, tradução minha[17]). Nos grandes armazéns de servidores que formam a coluna vertebral da rede, não só dados, mas também ar e eletricidade entram e saem, formando o fluxo energético da cultura digital.

O calor é, no geral, uma conseqüência esperada da eletricidade – as moléculas

Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO, no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016.

www.compos.org.br / page 17/24 / Nº Documento: 5A6E3A93-6464-431D-A5CB-FF4701972D8F

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016

agitam-se com a corrente elétrica –, e é gerada através do fluxo de rios, da queima de carvão e petróleo, de reatores nucleares – todos com alto impacto ambiental. Segundo o Digital Power Group, a “nuvem digital” consome um décimo de toda a energia gerada no planeta, o equivalente à soma da produção de força na Alemanha e no Japão. Potencial que deve aumentar conforme a rede for se espalhando por mais eletrodomésticos, a chamada “Internet das coisas”, pois, ao contrário de outros eletrodomésticos, avanços tecnológicos não resultam em menos gasto de energia, mas o amplifica (mais aparelhos mais tempo ligados). A guisa de comparação, um iPhone com wireless necessita de mais energia em um ano do que um refrigerador cheio (361 kW/h contra 322 kW/h ao ano); cada servidor (data center ) pode consumir quantidade de energia equivalente à de 180 mil casas; e o tráfego de dados consome mais que o dobro da energia utilizada em todo tráfego aéreo mundial[18].

Ou seja, há uma interrelação entre o processamento de dados e o aquecimento global: enquanto nos voltamos para os combustíveis fósseis – que também habitam dentro das máquinas digitais na forma de plástico, gerando outro fluxo material do descarte[19] –, esquecemos que a tecnocultura também tem impacto no meio-ambiente. O aumento da banda-larga, de processadores mais eficientes (um microprocessador queima a 1/10 do calor do sol), dos bancos de dados e da popularidade das máquinas digitais tende a elevar a curva de gasto energético no planeta. A solução tem sido criar mais fontes de energia, o que leva a mais aquecimento global, diminuindo a disponibilidade destas fontes e resultado em energia cada vez mais cara.

Talvez, uma das possibilidades de se pensar o atravessamento entre domínios tão díspares como o inorgânico, o orgânico, o cultural e o digital esteja, justamente, no dispêndio energético de cada estrato. Essa é a hipótese de Pasquinelli (2011): sendo o orgânico, metabólico (capaz de fixar energia) e o inorgânico, antimetabólico (dissipador de energia), as máquinas mecânicas seriam parametabólicas, consumindo energia de forma controlada: motores termais convertem energia do calor em output mecânico, queimando e

Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO, no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016.

www.compos.org.br / page 18/24 / Nº Documento: 5A6E3A93-6464-431D-A5CB-FF4701972D8F

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016

dissipando mais energia que é transformada. O interessante na tese é que a techné passa a significar entropia domesticada: as máquinas industriais são projetadas para realizar trabalho e liberar energia em fluxo constante (2011, p.63). Todavia, há sempre um excedente de energia não-transformada que reverte em poluição e na alteração da biosfera terrestre, como vimos nos últimos séculos, durante aquilo que alguns teóricos chamam de Antropoceno, a era geológica que segue ao Holoceno, tendo início na Revolução Industrial e amplificando-se no pós-Segunda Guerra, e que alterou drasticamente a ecologia terrestre[20].

O problema da tese de Pasquinelli é que ele relega às máquinas digitais o regime ametabólico, ou seja, de não consumo de energia, pois “a máquina de Turing, sendo uma máquina abstrata, não se refere a nenhum substrato material e consome quase nada” (2011, p.63, tradução minha[21]). Justamente ao contrário: a tentativa deste artigo foi chamar a atenção que a cultura digital, por mais abstrata e na nuvem que pareça, tem lastro gigantesco na matéria do mundo, desde matérias-primas, passando por corpos humanos e consumo de energia, diretamente ligado à poluição ambiental e ao aquecimento global. Logo, não se pode dizer que, “comparado ao Industrialismo, a era da informação tem... um tipo diferente de impacto ambiental” (PASQUINELLI, 2011, p.63, tradução minha[22]): como visto, é possível que tenha até mais.

Ainda assim, a rejeição da característica do quarto regime metabólico não invalida o todo da tese de Pasquinelli, que afirma que todo materialismo pós-estruturalista deveria incluir a regra que os estratos só podem ser combinados e comparados se baseados em suas densidades entrópicas, podendo ser duplamente articulados, mas nunca homogenizados uns nos outros: há sempre um excesso energético na transformação industrial que afecta o planeta de formas não-previstas; há sempre um acontecimento natural que se impõe como real demais para nossas tecnologias. Ter-se-ia aí, em vez de uma “ontologia dos fluxos infinitos” (PASQUINELLI, 2011, p.66), uma ontologia da entropia energética.

Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO, no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016.

www.compos.org.br / page 19/24 / Nº Documento: 5A6E3A93-6464-431D-A5CB-FF4701972D8F

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016

5. Considerações finais

O conceito de Antropoceno, citado rapidamente na seção anterior, não é livre de críticas: Andreas Malm (2015) chama-o de mito, pois, sendo a energia fóssil coextensiva com o modelo capitalista de produção, a afirmação de que os humanos enquanto espécie são igualmente responsáveis pelo aquecimento global não passa de estratégia ideológica com forte apelo emocional que visa desviar as críticas aos verdadeiros culpados: as grandes empresas petrolíferas, os governos desenvolvimentistas, o imperialismo, a expansão das manufaturas da China através do capital estrangeiro. Para Malm, deveríamos falar em um Capitoloceno, portanto.

Antropoceno ou Capitoloceno, ambos apontam para a percepção que a Terra não é um depósito infinito de recursos materiais que possam ser retirados a nosso bel prazer sem nada darmos em troca (até a alquimia sabia que para se criar ouro era preciso doar ferro); ao contrário, percebe-se agora que os recursos são finitos: com reservas de petróleo e de cobre quase exauridas, cada vez mais investe-se em tecnologia para acessar poços e jazidas em locais adversos, do pré-sal ao pólo norte, inclusive com investidores liderados por Larry Page e Eric Schmidt, do Google, planejando a mineração de asteróides[23].

O atual modelo econômico e político, insistente em sua incapacidade de pensar o geológico, “lamina os sistemas particulares de valor, [colocando] num mesmo plano de equivalência os bens materiais, os bens culturais, as áreas naturais... o que coloca o conjunto das relações sociais e das relações internacionais sob a direção das máquinas políticas e militares” (GUATTARI, 1990, p.10). Hoje, já não parece absurdo pensar que a próxima guerra mundial será travada por recursos naturais. Assim, volta-se nas humanidades e nas artes, “ao geológico como fonte de explicação, motivação e inspiração para respostas culturais e estéticas às condições do presente” (ELLSWORTH; KRUSE, 2013, p.6). Sejamos francos: está hoje em questão “a maneira de viver daqui em diante sobre esse

Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO, no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016.

www.compos.org.br / page 20/24 / Nº Documento: 5A6E3A93-6464-431D-A5CB-FF4701972D8F

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016

planeta” (GUATTARI, 1990, p.8). Por seu alto impacto político e cultural e, como este artigo tentou mostrar, também ambiental, desta discussão a comunicação não tem o direito de continuar a se esquivar.

Notas [1] Cito amplamente este trabalho de Parikka, ainda indisponível em português. Todas as traduções são minhas. [2] MARSHALL, Judith. The Worst Company in the World. Jacobin. Brooklyn, NY, Estados Unidos, n.19, pp.55-9, inverno 2015. [3] 842.460.000 toneladas, sendo as maiores jazidas localizadas em Minas Gerais (75%), Amazonas (21%) e Goiás, além de reservas conhecidas e ainda não exploradas em Rondônia. Fonte: http://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/ 2013/04/monopolio-brasileiro-do-niobio-gera-cobica-mundial-controversia-e-mitos.html. Acesso em 21 de janeiro de 2016. [4] Cf. essa discussão de um ponto de vista político em DELANDA, s/d. De certa forma, O Anti-Édipo de Deleuze & Guattari visa a atender esta falta. [5] No original: "Battery life… might be limited yet internet browsing requires a deep draw on energy. How do we mesh battery life and size with the demands of internet browsing in a device that fits easily in the hand? Bringing together these diverse technologies leads the engineers to encounter unexpected technological exigencies that play a role in the eventual form or local manifestation the smart phone takes once it is developed. New things are discovered. Innovations take place. These exigencies do not come from without, nor were they originally intended by the engineers, but in much the same way that a discussion, dialogue, or conversation traces an aleatory course by virtue of involving more than one participant, technologies have an autonomous endological development that cannot be reduced to dynamics of capital, human purposes, signs, or signifiers" [6] Dados disponíveis em: http://www.baj.or.jp/e/statistics/02.php. Acesso em 23 de janeiro de 2015.

[7] Segundo http://www.extremetech.com/extreme/174477-at-long-last-new-lithium-battery-tech-actually-arrives-on-the-market-and-might-already Acesso em 23 de janeiro de 2015. [8] Para críticas a esse modelo platônico e aristotélico, cf. Flusser, 2007, pp.22-31; Deleuze; Guattari, 2012, pp.96-7. [9] RELATÓRIO acusa Apple, Samsung e Sony de conivência com trabalho infantil. BBC Brasil. 18 de jan. 2016. Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/01/160119_trabalhoinfantil_anistia_rp. Acessado em 19 de janeiro de 2016 [10] DILMA diz que país precisa evitar a 'maldição do petróleo'. UOL. 16 de set. 2013. Disponível em: http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/09/16/dilma-diz-que-pais-precisa-evitar-a-maldicao-do-petroleo.htm Acessado em 29 de janeiro de 2016. [11] GOLDBERG, 2012.

Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO, no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016.

www.compos.org.br / page 21/24 / Nº Documento: 5A6E3A93-6464-431D-A5CB-FF4701972D8F

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016

[12] No original: “the truth of it is that I do not know. There was no brand on the box or on the device. I have combed some of the internal documentation and cannot find an answer. This is how far the Shenzhen electronics complex has evolved. The hardware maker literally does not matter. Contract manufacturers can download a reference design from the chip maker and build to suit customer orders.” [13] A lista dos fabricantes de componentes é por só interessante: empresas da Coreia do Sul, dos Estados Unidos, da Alemanha, da Itália e do Japão manufaturam partes do aparelho. Além destas, conhecidas, existem empresas “desconhecidas”, entre elas as que fabricam as baterias de íon-lítio (custo de US$ 5,80 a peça). Parece que não só o aparelho final, mas também o intermediário “does not matter”. Fonte: HUNG, Ho-fung. China Fantasies. Jacobin. Brooklyn, NY, Estados Unidos, n.19, pp.37-43, inverno 2015. [14] No original: “Of course, it is not we who drift into that Olympian frequency domain, but our computers and measuring devices, which is why we inhabit the very first culture that up to a point is able to predict thunder and lightning”. [15] Tempo, aliás, é o ponto de partida da reflexão de Kittler apresentada acima. As fases descritas por Kittler (antiguidade, primeira modernidade/Iluminismo, modernidade avançada) tem claramente inspiração flusseriana. [16] A hipótese antropológica de Flusser é bem conhecida. Sua versão mais bem acabada encontra-se em FLUSSER, 2014, pp.30-7; 45-74. [17] No original: “Cool outside air is let into the building through adjustable louvers near the roof; deionized water is sprayed into it; and fans push the conditioned air down onto the data center floor”. [18] Em: THE SURPRISINGLY large energy footprint of the digital economy. Time. 14 ago. 2013. Disponível em: http://science.time.com/2013/08/14/power-drain-the-digital-cloud-is-using-more-energy-than-you-think/. Acessado em 28 de janeiro de 2016. A quantidade de energia calcula do iPhone é de um “heavy user” (cerca de 20gb de dados trafegados ao ano no smartphone). Cf. a mesma reportagem para críticas do método de cálculo e outras cifras. [19] Cf. o ótimo trabalho a respeito das sobras digitais de GABRYS, 2013. [20] Para uma história do conceito, assim como críticas, cf. DANOWSKI; VIVEIROS DE CASTRO, 2014, pp.14-5. [21] No original: “a Turing machine, being an abstract machine, does not refer to any material substratum and consumes almost zero”. [22] No original: “Compared to industrialism, the age of information has obviously a diffent kind of an environmental impact”. [23] Disponível em: http://www.wired.com/2012/04/planetaryresourcesasteroidmining. Acessado em 20 de janeiro de 2016.

Referências BENNETT, Jane. Vibrant Matter : a political ecology of things. Durham, NC, Estados Unidos: Duke University Press, 2009. BLUM, Andrew. Tubes: a journey to the center of the internet. Nova Iorque: HarperCollins, 2012.

Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO, no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016.

www.compos.org.br / page 22/24 / Nº Documento: 5A6E3A93-6464-431D-A5CB-FF4701972D8F

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016

BRYANT, Levy R. A Logic of Multiplicities: Deleuze, Immanece, and Onticology. In: Analecta Hermeneutica , v.3, 2011. ISSN 1918-7351, pp.1-19. DANOWSKI, Déborah; VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Há mundo por vir? Ensaio sobre os medos e os fins. Florianópolis: Cultura e Barbárie/Instituto Socioambiental, 2014. DELANDA, Manuel. Deleuze: History and Science. New York: Atropos Press, 2010. ______. Uniformity and Variability : an Essay in the Philosophy of Matter. S/d. Disponível em: http://www.t0.or.at/delanda/matterdl.htm. Acessado em 8 de janeiro de 2016. DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs – vol. 5. São Paulo: Ed. 34, 2012. ELLSWORTH, Elizabeth; KRUSE, Jamie. Introduction: signals from the edge. In: ELLSWORTH, Elizabeth; KRUSE, Jamie (Orgs.). Making the Geologic Now: Responses to material conditions of contemporary life. Brooklyn, NY, Estados Unidos: Punctum Books, 2013, pp.5-26. FLUSSER, Vilém. O mundo codificado : por uma filosofia do design e da comunicação. Org: Rafael Cardoso. São Paulo: Cosac Naify, 2007. ______. Comunicologia: reflexões sobre o futuro. São Paulo: Martins Fontes, 2014. GABRYS, Jennifer. Digital Rubbish: a natural history of electronics. Ann Arbor, EUA: University of Michigan Press, 2011. GOLDBERG, Jay. Hardware is dead . VentureBeat, 15 set. 2012. Disponível http://venturebeat.com/2012/09/15/hardwareisdead/. Acessado em 20 de janeiro de 2016.

em:

GUATTARI, Félix. As Três Ecologias. Campinas, SP: Papirus, 1990. HARDT, Michael; NEGRI, Antonio. Império. Rio de Janeiro: Record, 2001. HARWOOD, Graham. Pits to Bits: Interview with Graham Harwood. Entrevista concedida a Matthew Fuller. Julho de 2010. Disponível em: http://www.spc.org/fuller/interviews/pits-to-bits-interview-with-graham-harwood. Acesso em 22 de janeiro de 2016. INGLEHART, Ronald; WELZEL, Christian. Modernization, Cultural Change and Democracy: the human development sequence. Cambridge, Reino Unido: Cambridge University Press, 2005. KITTLER, 2011. Lightning and Series: event and thunder. In: Theory, Culture & Society . vol. 23 (7-8), pp.63-74. DOI: 10.1177/0263276406069883. MALM, Andreas. The Anthropocene Myth . Disponível em: https://www.jacobinmag.com /2015/03/anthropocenecapitalismclimatechange. Acessado em 23 de setembro de 2015. PARIKKA, Jussi. A Geology of Media. Minneapolis, EUA: University of Minnesota Press, 2015.

Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO, no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016.

www.compos.org.br / page 23/24 / Nº Documento: 5A6E3A93-6464-431D-A5CB-FF4701972D8F

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016

PASQUINELLI, Matteo. Four Regimes of Entropy: For an Ecology of Genetics and Biomorphic Media Theory. In: The Fibreculture Journal, n. 17, 2011, pp.51-68. ZIZEK, Slavoj. Problema no Paraíso: do fim da história ao fim do capitalismo. Rio de Janeiro: Zahar, 2015.

Arquivo PDF gerado pela COMPÓS

Trabalho apresentado no GT EPISTEMOLOGIA DA COMUNICAÇÃO, no XXV Encontro Anual da Compós, Universidade Federal de Goiás, 07 a 10 de junho de 2016.

www.compos.org.br / page 24/24 / Nº Documento: 5A6E3A93-6464-431D-A5CB-FF4701972D8F

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.