Das páginas às telas: o livro infantil ilustrado e sua transposição para o ambiente digital (2015)

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II Seminário de pesquisas Das páginas às telas: o livro infantil ilustrado artes, cultura e linguag e sua transposição para o ambiente digital Thales Estefani1 Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

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Resumo

Após a disseminação de dispositivos computacionais portáteis, como tablets e smartphones, os livros infantis ilustrados puderam acompanhar o processo recente de desenvolvimento de formatos digitais de leitura. Neste momento, em que pesquisadores de diversas áreas do conhecimento têm se interessado por esse processo de transposição para o digital, tentando compreender as mudanças relativas ao funcionamento desses novos artefatos e os impactos que trazem à compreensão narrativa, faz-se necessário evidenciar suas particularidades, a fim de caracterizá-los e diferenciá-los dos livros ilustrados impressos no que tange à experiência cognitiva que proporcionam. Nesse sentido, o artigo em questão busca definir as características constitutivas específicas do livro infantil ilustrado impresso e do formato digital atualmente mais intimamente associado àquele, os book-apps; e apresentar questões relativas ao funcionamento de ambos como artefatos narrativos. Como referência para a diferenciação entre essas duas formas de livro e suas respectivas formas de apreensão, será enfatizado o conceito de cognição distribuída. Além disso, o artigo apresenta um breve panorama do desenvolvimento dos livros digitais, a fim de familiarizar o leitor com o processo de implementação de meios computacionais de leitura.

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Palavras-chave: Livro ilustrado; e-book; e-picturebook; Book-app; Narrativa.

O livro ilustrado O que torna o livro ilustrado uma forma de expressão artística singular é o fato de esse VOL tipo 2de/ livro N° 2 com/ 2015 binar dois níveis de comunicação diferentes: o visual e o verbal (ilustração e texto, respectivamente) (NIKOLAJEVA; SCOTT, 2011, p.13). As possibilidades de interação dessas tipologias distintas de signos nas páginas de um livro ilustrado são bastante diversas e foram identificadas por Maria Nikolajeva e Carole Scott, como efeitos de uma tensão. Tensão essa, decorrente do fato dos signos convencionais – como elas chamaram os textos – serem, em geral, lineares, em oposição aos signos icônicos – ilustrações – que não apresentam direcionamentos explícitos sobre como lê-los (ibidem, p.14). Em seu livro O mundo codificado (Cosac Naify, 2007), Vilém Flusser sugere uma resposta para a questão da diferença entre ler linhas escritas e ler uma pintura. Segundo o filósofo, na leitura das linhas (textos) seguimos uma estrutura imposta – a estrutura da língua, as normas da escrita. Ao ler pinturas, ou mesmo ilustrações, movemo-nos um tanto quanto livremente por uma estrutura proposta – como os caminhos sugeridos pela composição da imagem. Contudo, Flusser alerta que é mais comum abarcarmos a totalidade da imagem num primeiro lance de olhar, para só então analisá-la mais minuciosamente: uma “síntese seguida de análise” (FLUSSER, 2007, p.105). 1. Graduado em Produção Editorial pela ECO – UFRJ e mestrando em Artes, Cultura e Linguagens pelo IAD – UFJF. E-mail [email protected]

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A leitura das imagens, ou o deciframento do seu significado nessa análise minuciosa, torna-se possível por meio do que Flusser chamou de scanning: o ato de deixar a visão vaguear pela superfície da imagem, um vaguear que estabelece relações entre os elementos, já que cada um é visto após o outro (FLUSSER, 2011, p.16). Diferentemente da imagem, que apresenta todos os seus elementos sincronicamente juntos e necessita da análise para criar relações significativas, o texto geralmente apresenta seus elementos um após o outro, consecutivamente, criando relações significativas processuais. Segundo Flusser, a invenção da escrita teria feito surgir a consciência histórica, dado seu caráter processual, causal (ibidem, p.18). Trazendo essa ideia para o campo dos livros ilustrados, é possível compreender porque a função narrativa é, em geral, delegada ao autor em detrimento do ilustrador (que em alguns maus exemplos de livros ilustrados faz apenas um trabalho decorativo ou redundante com relação ao texto). Faz-se necessário salientar, porém, que não se trata de uma exclusividade, como no caso dos livros-imagem, em que toda a narrativa é estruturada apenas por ilustrações. Apesar de serem evidentes as diferenças entre texto e imagem, não é possível excluir o fato de que a relação dialética entre esses elementos reforça-os ou modifica-os mutuamente. Para Maria Nikolajeva e Carole Scott, essa relação é de crucial importância no âmbito do livro ilustrado. Segundo as pesquisadoras, o processo de leitura desse tipo de livro segue um padrão que elas chamaram de círculo hermenêutico: a análise partiria do todo, depois seguiria à observação dos detalhes e retornaria ao todo com melhor entendimento, repetindo-se sucessivamente. Esse padrão apresenta estreita relação com a supracitada abordagem de Flusser sobre leitura de imagens, diferindo no fato de que aquela se referia somente ao deciframento de imagens artísticas isoladas, enquanto que, no contexto dos livros ilustrados, Nikolajeva e Scott aplicam seu sistema no conjunto imagem-texto:

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O leitor se volta do verbal para o visual e vice-versa, em uma concatenação sempre expansiva do entendimento. Cada nova releitura, tanto de palavras como de imagens, cria pré-requisitos melhores para uma interpretação adequada do todo. Presume-se que as crianças sabem disso por intuição quando pedem que o mesmo livro seja lido para elas em voz alta repetidas vezes. Na verdade,

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elas não lêem o mesmo livro; elas penetram, cada vez mais fundo, no seu significado. (NIKOLAJEVA; SCOTT, 2011, p.14)

Os conceitos descritos até agora têm por propósito definir o objeto livro ilustrado como um artefato constituído primordialmente por ilustração e texto e apresentar, de modo geral, a questão central do seu funcionamento, baseado na interação desses elementos em suas páginas. A grande variedade de recursos repreVOL 2 / N° 2e pers/ 2015 sentativos, composição da imagem, de técnicas de ilustração, de diagramação da página, ambientação pectiva narrativa é que vão criar as diversas formas de se contar uma história por meio de um livro ilustrado. Além de não configurar o objetivo deste artigo, essa grande variedade impossibilita que os recursos sejam aqui tratados de forma minuciosa. O que se faz necessário é compreender o livro ilustrado como fenômeno específico de interação entre elementos bastante diversos, tanto em constituição, quanto em formas de apreensão por parte do leitor. Ao tratar do deciframento de imagens, chama atenção o fato de que o significado decifrado seria a síntese entre duas intencionalidades: a do produtor e a do espectador. No caso específico das imagens dos livros ilustrados, do ilustrador e do leitor. Na definição do ilustrador Rui de Oliveira, as imagens serão sempre lidas de forma parcial, segmentada e particularizada, servindo de “ardil para resgatarmos nossa experiência vivida e projetarmos e criarmos sua memória futura” (OLIVEIRA, 2008, p.32). Entretanto, essa colocação não quer dizer, de qualquer maneira, que os textos não sejam polissêmicos também. Para descrever essa relação presente nos livros ilustrados, Nikolajeva e Scott citam a Readers-Response Theory, teoria surgida nos anos 1960 e que trata da produção de sentido por meio da reação do leitor. O conceito central dessa teoria é o de brechas textuais. II Seminário de Pesquisas em Artes, Cultura e Linguagens | Anais | Volume 2 | número 2 | 25 a 27 de novembro de 2015 746

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O texto verbal tem suas lacunas e o mesmo acontece com o visual. Palavras e imagens podem preencher

as lacunas umas das outras, total ou parcialmente. Mas podem também deixá-las para o leitor/espectador completar: tanto palavras como imagens podem ser evocativas a seu modo e independentes entre si. (NIKOLAJEVA; SCOTT, 2011, p.15)

Tanto os elementos visuais quanto o próprio texto do livro ilustrado estão sujeitos a interpretações por parte dos leitores. Parece ser possível estender às ilustrações questões como as que Roland Barthes desenvolveu a respeito da escrita de um texto em A Morte do Autor (Martins Fontes, 2004). Nesse estudo, Barthes argumenta que o sentido do texto é alcançado no momento de sua leitura (BARTHES, 2004, p.5). E não seria imprudente dizer que a imagem do livro ilustrado ganha um significado a partir do momento em que é revelada a cada leitor. São as características descritas acima que colocam o leitor do livro ilustrado numa posição ativa perante a tarefa de apreensão do sentido narrativo no processo de leitura. Um processo que põe em jogo particularidades como suas experiências, memórias, expectativas, atenção, conhecimento da língua, repertório visual e a própria materialidade do livro, como será demonstrado mais adiante. Outro ponto importante a considerar para a compreensão do livro ilustrado é a organização das representações no suporte. A crítica de literatura infantil Sophie Van der Linden é categórica ao afirmar que a disposição dos elementos no livro ilustrado (diagramação) também obedece a um sentido pretendido e carrega significado. A organização desses elementos leva em conta a página dupla, sequência de páginas par e ímpar justapostas, que constitui o “espaço de inscrição fundamental” do livro ilustrado (LINDEN, 2011, p.86). Linden salienta que o discurso completo do livro ilustrado é percebido somente na sequência das páginas viradas.

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O livro ilustrado seria assim uma forma de expressão que traz uma interação de textos (que podem ser subjacentes) e imagens (espacialmente preponderantes) no âmbito de um suporte, caracterizada por uma livre organização da página dupla, pela diversidade de produções materiais e por um encadeamen-

instituto de artes e design Recentemente, o livro infantil ilustrado ganhou novos formatos, incluindo-se esfera publicações 25 ana 27 dedasnovembro 20 to fluido e coerente de página para página. (ibidem, p.87)

digitais. Para compreender as mudanças que ocorrem em sua estrutura e funcionamento, antes se faz necessário analisar o livro digital como tal, em suas particularidades e seu processo de desenvolvimento.

VOL 2 / N° 2 / 2015 O livro digital Como descrito por Fábio Flatschart em sua obra Livro Digital etc. (Brasport, 2014), no ano de 1935 já era possível encontrar uma previsão de como poderia ser a experiência de ler um livro no futuro. Nesse ano, a revista Everyday science and mechanics apresentara um esquema ilustrado do que hoje poderia ser classificado como o ancestral dos dispositivos de leitura: um equipamento em que “o leitor confortavelmente lê um livro projetado e ampliado em uma tela manipulada por um controle eletromecânico que vira as páginas e controla o foco” (FLATSCHART, 2014, 13%). O prefixo “e” que usamos hoje para designar os livros digitais e dispositivos de leitura (e-books e e-readers, respectivamente) é uma herança desse passado em que a elétrica e a eletrônica representavam um atributo de inovação. Hoje, porém, entende-se que chamar um e-book de livro eletrônico representa uma confusão semântica quanto à natureza desse arquivo (CONARQ, on-line). Flatschart evidencia que a designação livro digital é a mais correta, pois a representação de conteúdos em e-books ocorre por processos computacionais, ou seja, codificação e decodificação numérica (baseada em sistemas como o decimal, hexadecimal e binário) II Seminário de Pesquisas em Artes, Cultura e Linguagens | Anais | Volume 2 | número 2 | 25 a 27 de novembro de 2015 747

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(FLATSCHART, 2014, 19%). A palavra “digital” tem origem na forma latina digitus, que significa dedo, um dos primeiros elementos comparativos de contagem numérica utilizados pela humanidade. Daí o motivo de arquivos acessados por meio de sistemas computacionais (numéricos) serem denominados digitais. Contudo, o livro eletrônico realmente existiu. O primeiro objeto assim classificado foi criado pela professora e escritora espanhola Ángela Ruiz Robles, em 1949. Segundo Flatschart, a Enciclopedia Mecánica, como foi chamado, era um tipo de fichário mecânico que apresentava textos e recursos diversos, possuía iluminação, possibilitava a inserção de conteúdos, anotações, etc (ibidem, 14%). Anos mais tarde, em 1971, num momento de rápida evolução dos processos e ferramentas computacionais, Michael Hart, então estudante da Universidade de Ilinois, iniciava o Projeto Gutemberg, projeto de digitalização, arquivamento e distribuição de livros. Esse fato marca o nascimento do primeiro e-book, uma versão da Declaração de Independência dos Estados Unidos da América (ibidem, 17%). O surgimento da World Wide Web (rede de alcance mundial de documentos interligados), em 1990, e o desenvolvimento do HTML (Hypertext Markup Language), linguagem de marcação que permitiria a criação de documentos estruturados e possibilitaria ligações (links) entre vários documentos, foram preponderantes para o desenvolvimento posterior do formato de e-books chamado ePUB, o formato com maior presença e aceitação atualmente entre os dispositivos de leitura e editoras. (ibidem, 41%). O HTML é o componente central desse e de outros formatos de e-book, além de constituir o suporte da distribuição dos livros digitais, os sites da internet. Além do ePUB, estão disponíveis vários outros formatos de e-books como MOBI, AZW, KF8 (todos os três, formatos exclusivos dos dispositivos Kindle/Amazon), iBooks (formato exclusivo Apple), PDF; cada um com recursos variados. A versão atual do ePUB, chamada ePUB3, apresenta novas formas de organização do con­ teúdo dos livros e capacidade de inserção de elementos multimídia e interativos. Para isso, a estrutura do ePUB3 engloba linguagens de marcação e programação como HTML5, CSS3, SVG, XML, JavaScript, entre outros (ibidem, 42%); formas mais avançadas de linguagens que já estavam na primeira versão do ePUB e outras inteiramente novas no contexto dos livros digitais. Apesar do ePUB3 permitir diversos recursos multimídia, o nível de interatividade é limitado pelos padrões do formato. “Para projetos mais complexos, entram em cena os aplicativos, que são mais livres não apenas em relação aos recursos que se pode incluir, mas também à própria estrutura do livro” (PASTORE, 2015, on-line). É esse tipo de aplicativo voltado para a experiência narrativa, conhecido como book-app (ou enhanced book), o formato que, atualmente, melhor consegue explorar e expandir as possibilidades de um livro digital. Trata-se de um aplicativo programado para uma experiência de leitura modificada, amplamente influenciada por elementos multimídia interativos e diferentes formas de exploração do conteúdo. Isso acontece porque 2 /foram N° 2 /pro2015 esses aplicativos são desenvolvidos para extrair ao máximo os recursos dos sistemas para osVOL quais gramados (FLATSCHART, 2014, 48%). Em contrapartida, pelo fato de estarem vinculados a um sistema operacional específico, a utilização dos book-apps está condicionada à escolha de um dispositivo que funcione com tal sistema. Os mais comuns atualmente são Android e iOS. Portanto, os book-apps só foram possíveis a partir do surgimento e disseminação de tablets e smartphones, dispositivos computacionais portáteis que para muitos usuários substituíram os e-readers predecessores, sendo utilizados também com a finalidade de leitura de livros digitais. Além da capacidade multimídia, conexão com a internet e novas formas de interação pela aplicação da tecnologia multi-touch screen, o formato compacto e fácil utilização contribuíram para a introdução desses “dispositivos em diversos ambientes informais das crianças. Em um período muito curto de tempo foram liberados, em muitas línguas, centenas de livros ilustrados infantis digitais” (PINTO; ZAGALO; COQUET, 2012, p.225, tradução nossa)2. Por apresentar tantas novas possibilidades à narrativa, não é de se estranhar que o book-app tenha sido considerado um formato favorável ao ingresso no mundo digital dos livros infantis ilustrados, tipo de publica-

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2. […] “devices in several informal children’s spaces. In a very short period of time have been released, in many languages, hundreds of digital children’s picturebooks”.

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ção tradicionalmente identificada com o apelo visual, a inovação no setor editorial e diversidade nas formas de interação.

O mercado de livros infantis e o de produtos didáticos são sempre pródigos em livros-aplicativo que exploram recursos interativos apoiados em estratégias como storytelling, transmedia e gamification, que buscam dar vida própria ao conteúdo e propiciar novas experiências sensoriais ao leitor (FLATSCHART, 2014, p.49).

Book-app: as particularidades do livro ilustrado em ambiente digital

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Como explicitado acima, o desenvolvimento das tecnologias computacionais e o advento dos dispositivos eletrônicos de leitura (incluindo tablets e smartphones) transformou o objeto livro ilustrado no que poderíamos chamar de e-picturebook (PINTO; ZAGALO; COQUET, 2012, p.225,). Dentre os diversos formatos de e-picturebooks existentes no mercado, o que vem apresentando mais possibilidades para a experiência de conteúdo narrativo é o book-app. Em alguns casos, os e-picturebooks aparentam apresentar poucas diferenças com relação a uma publicação impressa (até mesmo organizando-se em páginas). Porém, em outros casos, e principalmente nos ­book-apps, as mudanças ultrapassam uma simples adição de conteúdo multimídia, por exemplo, podendo chegar à própria estrutura do que entenderíamos por “livro”. A própria ilustração, elemento fundamental do livro ilustrado, sofre uma mudança radical nos ­book-apps. Em vez de as ações dos personagens e as passagens de tempo serem sugeridas por meio de recursos técnicos da ilustração ou encadeamento sequencial de quadros, como no livro ilustrado impresso, elas são, cada vez mais, representadas por animações. A imagem, na maioria das vezes, não é totalmente estática, apresentando, pelo menos, alguns movimentos sutis. Esses movimentos podem ser autônomos ou condicionados pela ação do leitor. Em alguns book-apps, a animação torna-se o principal elemento visual e a narrativa parece se estruturar em trechos animados interpolados por elementos textuais ou jogos. E mesmo nos casos em que a animação está pouco presente, é comum que recursos estéticos do audiovisual, como travelling e zoom, por exemplo, sejam amplamente aplicados. Além da animação, elementos audíveis – músicas, efeitos sonoros e narração – também estão entre os VOL 2 / N° 2 / 2015 recursos multimídia do book-app. A música de fundo pode ser utilizada como elemento emotivo, capaz de ressaltar o sentimento envolvido na história. Os efeitos sonoros do contexto são enfáticos, destacam as interações e ações da narrativa. A narração oral, por sua vez, representa um acesso alternativo ao texto verbal escrito (PINTO; ZAGALO; COQUET, 2012, p.227). Outro ponto anteriormente citado como característico do book-app é a capacidade de organização do conteúdo de novas e diferentes formas, com relação ao livro impresso ou mesmo a outros formatos de e-picturebook. Essas formas de organização são possíveis graças a algumas particularidades dos dispositivos computacionais móveis. A possibilidade de sobrepor um elemento ao outro na mesma unidade representativa, sem impedir que se possa ter acesso a ambos é uma dessas particularidades. Criam-se camadas, onde um texto, por exemplo, pode aparecer sobre uma ilustração e logo depois se apagar. No livro impresso, a página é superfície única e imutável e qualquer sobreposição de um elemento corresponde a uma ocultação permanente de outro. A capacidade de expansão das dimensões do campo representativo nos book-apps é outra particularidade relacionada às formas de organização do conteúdo. Em alguns deles, a tela pode funcionar como uma janela que desliza por uma cena de superfície bem maior que ela própria, revelando partes de uma ilustração que estavam ocultas num primeiro momento.

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Assim, enquanto nos livros ilustrados impressos textos e imagens interagem dentro dos limites da página dupla (páginas par e ímpar justapostas), a superfície de organização do conteúdo em um book-app pode apresentar camadas e dimensões expansíveis, navegáveis por meio da tela multi-touch de tablets e smartphones. No campo da computação, o termo multi-touch se refere à capacidade de uma superfície de reconhecer a presença de mais de um ponto de contato com ela mesma. Essa percepção plural dos pontos de contato é, geralmente, usada para implementar comandos avançados de funcionalidades, “o que oferece melhor interação entre usuário e objeto virtual” (JANSSEN, on-line, tradução nossa)3. É essa tecnologia que possibilita ao leitor alimentar um book-app com um comando (input) que gerará uma resposta (output). Esse comportamento é o cerne de uma das suas mais distintivas características: a interatividade. Segundo Dag Svanaes, interatividade é uma propriedade do comportamento de um artefato, que leva em conta “se ele é projetado para responder às ações de um usuário” (SVANAES, 2014, on-line, tradução nossa)4. É importante lembrar que existem livros ilustrados impressos com recursos interativos também (aqueles que possuem elementos desdobráveis, pequenos dispositivos sonoros ativados por botões, etc). A interatividade no livro ilustrado não é novidade, mas a expansão das suas possibilidades pelos recursos digitais, sim. O mais simples exemplo de interatividade nos book-apps são as formas de avançar na história. A maioria dessas histórias são estruturadas como sequências de cenas organizadas, principalmente, por opções de voltar e avançar (back and next). Contudo, alguns book-apps apresentam navegação condicionada a uma interação específica. Nesse caso, a narrativa só avança quando o leitor executa o input correto com relação a um elemento na tela, ou seja, executa o gesto correto com as pontas dos dedos no local correto da tela. Esse exemplo, além de evidenciar que a experiência dos book-apps solicita cada vez mais a participação ativa do leitor, deixa claro a necessidade de conhecer os gestos de interação com a tela. Além do conhecimento dos códigos da língua e da rememoração do repertório visual, necessários também na experiência de ler um livro ilustrado impresso, a leitura do book-app exige ainda o conhecimento de um repertório gestual, que surge com o desenvolvimento da tecnologia multi-touch screen. Esse repertório, muitas vezes, vai além do simples clique: pegar e soltar, agitar, rodar, direcionar, arrastar, puxar, etc. Nos tablets e smartphones, as técnicas atuais de programação aliadas à tecnologia multi-touch screen, são capazes de gerar um repertório gestual por atribuição: separar determinados movimentos e atribuir significados a eles. Assim, podemos relacionar a implementação da tecnologia multi-touch a uma pretensa racionalização arbitrária do tato, criando uma linguagem de interação entre movimentos dos dedos e respostas programadas nos softwares dos dispositivos. Esse repertório gestual, porém, encontra barreiras na medida que alguns gestos não são unanimidade em todos os sistemas operacionais. Guias de referência 2 / N° 2(WRO/ 2015 de gestos de acordo com dispositivos específicos podem ser facilmente encontrados naVOL internet BLEWSKI, 2010, on-line). Existem ainda alguns casos em que os book-apps também exploram recursos além do toque na tela do tablet. Alguns deles necessitam inclinar o dispositivo, balançar de um lado a outro, ou virar de cabeça para baixo a fim de executar uma ação específica em meio a narrativa. Essas ações são possíveis graças à presença de componentes internos como o giroscópio e o acelerômetro. Outros book-apps ativam a câmera frontal para utilizar a imagem do leitor no contexto da história, ou até o microfone, para incentivar o leitor a gravar a narração da história com sua própria voz. As interações por gestos específicos ou essas ações envolvendo outros recursos além da tela do tablet são facilmente observados em book-apps que apresentam jogos e desafios entre os elementos que fazem parte da narrativa; fato que é bastante comum e representa um traço da tendência gamification de experienciar produtos culturais. Gamification pode ser entendido como um “processo em que conceitos associados a jogabilidade, como pontuação, competição com os outros, regras fixas, obtenção de níveis, recompensas, etc,

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3. […] “which offers enhanced user and virtual object interaction”. 4. […] “or the fact that it is digital, but whether it is designed to respond to actions by a user”.

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são incorporados a outras áreas de atividade, geralmente relacionadas a trabalho ou estudo” (MAXWELL, 2014, on-line, tradução nossa)5. O leitor do book-app está na posição de jogador que manipula o aparelho e recebe respostas pré-programadas, dentro de um universo de possibilidades limitado. Ele permuta símbolos a fim de realizar as possibilidades do book-app e chegar ao fim da história. Ler um book-app em um tablet, portanto, pode ser compreendido como um jogo com símbolos, um input-output que resulta principalmente no avanço (ou retorno) da narrativa, execução de mídias pré-programadas, ou mesmo no alcance do objetivo de uma tarefa. O desenvolvimento das tecnologias de HCI (Human-Computer Interaction) permitiram sobrepor elementos interativos não-lineares (tarefas lúdicas e jogos simples, como quebra-cabeças, por exemplo) às narrativas lineares do livro ilustrado, ao ser adaptado para o meio digital. Essa incongruência levou alguns pesquisadores a questionar “se estamos construindo livros interativos ou livros distrativos” (NEVES, 2012, p.439, tradução nossa)6, ao passo que a narrativa correria o risco de ser interrompida muito abruptamente, ou por um longo espaço de tempo, prejudicando a sua apreensão. Porém, existe o reconhecimento de que esses elementos podem ter um impacto positivo na experiência de leitura quando são usados de maneira consistente, “evitando a tendência de usar a tecnologia apenas porque está disponível e torna algo possível” (NEVES, loc. cit., tradução nossa)7. Ou seja, a interatividade deveria estar compromissada, primeiramente, com o desenvolvimento da narrativa, não com os recursos do dispositivo. O mesmo argumento pode ser considerado válido com relação à multimidialidade. Os e-picturebooks, e principalmente os book-apps, formato aqui destacado, estão repletos dos recursos multimídia descritos anteriormente, o que tornam mais complexas as formas de interação entre elementos no campo representativo e podem colocar em dúvida a apreensão da narrativa nesse meio. Tendências precipitadas poderiam sugerir que o círculo hermenêutico de apreensão do sentido de Nikolajeva e Scott pudesse ser ampliado, abarcando não só a relação texto-imagem, mas todos os elementos (diferentes mídias) presentes no book-app (animação, efeitos sonoros, etc.). Essa premissa, contudo, dificilmente encontraria apoio entre a maioria dos pesquisadores, dada a prática atual da produção de book-apps. O laboratório independente de pesquisa e inovação em educação infantil e mídia, The Joan Ganz Cooney Center at Sesame Workshop, vem desenvolvendo pesquisas sobre a apreensão da narrativa por crianças que leem livros impressos e/ou digitais. Em uma dessas pesquisas, a recomendação feita aos produtores de e-picturebooks é clara:

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Tenham cuidado ao adicionar recursos avançados para e-books, especialmente quando esses recursos não se relacionam diretamente com a história. Os recursos também devem ser concebidos de forma que

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permitam aos pais acesso a configurações de controle para personalizar a experiência de co-leitura com seus filhos (CHIONG et al., 2012, p.1, tradução nossa)8.

Recomendações desse tipo são o resultado de pesquisas insatisfatórias com relação à apreensão da narrativa nos livros digitais. Contudo, não existem apenas pontos negativos a serem considerados com relação aos book-apps. Como explicitado anteriormente, elementos multimídia e interativos podem ter um impacto positivo na experiência de leitura e na aquisição de conhecimento quando são aplicados de maneira consistente (ALBALOOSHI; ALKHALIFA, 2002; HUTCHISON; BESHORNER; SCHMIDT-CRAWFORD, 2012; KIMBER; PILLAY; RICHARDS, 2007; SMEETS; BUS, 2012). 5. […] “process in which concepts associated with game playing, such as point scoring, competition with others, fixed rules, attainment of levels, rewards, etc, are incorporated into other, often work- or study-related, areas of activity”. 6. […] “if we’re building interactive books or distractive books”. 7. […] “avoiding the tendency to use technology just because it is available and makes something possible”. 8. “Exercise caution when adding features to enhanced e-books, especially when those features do not directly relate to the story. E-book enhancements should also be designed in a way that allows parents to access and control settings to customize the co-reading experience with their children”.

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As dúvidas que permanecem são relativas aos caminhos que as práticas do mercado irão seguir e que status as experiências narrativas dos book-apps irão receber dentro do universo de possibilidades da leitura digital.

Cognição distribuída e artefatos cognitivos Comparar e-picturebooks a livros ilustrados impressos tendo como ponto de partida apenas os resultados já conhecidos da resposta do leitor à narrativa gráfica em papel, parece incorrer no erro por não considerar pontos de análise particulares, ligados às diferenças materiais e de interação com o livro digital. Isso ocorre quando se tenta atribuir valor a um e-picturebook apenas com relação à contribuição que ele pode ter para a alfabetização infantil, por exemplo, desconsiderando outros possíveis campos de desenvolvimento (organização espacial, controle motor, navegação, memória, categorização, inferência, etc). O conceito de cognição distribuída pode auxiliar na compreensão das expressões impressa e digital do livro ilustrado como fenômenos com respostas distintas no leitor. Essa ótica da ciência cognitiva presta especial atenção aos limites da unidade de análise da cognição e preocupa-se com a variedade de mecanismos capazes de participar no processo cognitivo (processos que têm relação com memória, tomada de decisão, inferência, raciocínio, aprendizagem, etc). Enquanto as correntes mais tradicionais da ciência cognitiva debruçam-se, por exemplo, sobre a análise de padrões no interior da mente de agentes individuais, a “cognição distribuída busca por uma classe mais ampla de eventos cognitivos e não espera que todos eles estejam envolvidos pela pele ou crânio de um indivíduo” (HUTCHINS, 2001, p.2068, tradução nossa)9. Aplicando essa visão mais ampla dos eventos cognitivos à atividade humana é possível notar, segundo Edwin Hutchins, três tipos de distribuição do processo cognitivo: (i) através dos membros de um grupo social; (ii) por meio da relação entre estrutura interna e externa; e (iii) através do tempo (HUTCHINS, loc. cit.). O segundo caso é aquele que mais interessa a esta discussão especificamente. Apesar de ser possível notar uma relação de contiguidade entre os três na atividade humana, o segundo ponto será tomado como foco na análise. Por estrutura externa, entende-se meios materiais ou ambientais. Ferramentas como lápis e papel, calculadoras, calendários, mapas, fórmulas matemáticas, computadores, e uma infinidade de outras, são considerados artefatos não-biológicos que possibilitam operações cognitivas fora do crânio do indivíduo. Nesse sentido, são denominados artefatos cognitivos. Artefatos cognitivos atuam na eficiência da solução de problemas: eles podem reduzir o custo cognitivo de uma operação (usar um calendário para descobrir que dia será o segundo domingo do mês de abril), au2 / N°permitir 2 / 2015 mentar a precisão de uma tarefa (uso de uma balança para precisar o peso de um objeto), ouVOL mesmo novas capacidades que seriam impossíveis para o cérebro sozinho (fórmulas matemáticas para cálculos complexos). No caso específico deste artigo, considera-se a apreensão da narrativa nos livros ilustrados (impressos e digitais) como um problema a ser solucionado, nesse sentido. Algumas abordagens privilegiam a noção de artefatos cognitivos como capazes de ampliar a cognição do usuário (NORMAN, 1994), outras apontam para esses artefatos como algo que possibilita um conjunto diferente de habilidades funcionais para executar uma tarefa. O potencial do ambiente material de apoiar a memória, por exemplo, é amplamente reconhecido. Porém, conforme Michael Cole e Peg Griffin argumentaram, um indivíduo que se utilizou de uma anotação num papel para se lembrar de algo, não teve sua memória ampliada; esse indivíduo estava usando um conjunto diferente de habilidades funcionais para executar a tarefa da memória. Na realidade, o uso do lápis e do papel “reestruturou tanto atividade de modo que algum índice de produtividade ficou maior” (COLE; GRIFFIN, 1980,

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9. […] “distributed cognition looks for a broader class of cognitive events and does not expect all such events to be encompassed by the skin or skull of an individual”.

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p.350)10. Dessa forma, os artefatos cognitivos estariam “envolvidos em um processo de organização de habilidades funcionais em sistemas cognitivos” (HUTCHINS, 2001, p.2070, tradução nossa)11. O filósofo Andy Clark aborda a relação do homem com os artefatos cognitivos como uma particularidade intrínseca do pensamento humano:

A presença de tais tecnologias [...] não se limita a agir como um envoltório conveniente em torno de um motor biológico fixo da razão. [...] Ela fornece, em vez disso, uma matriz de recursos para que cérebros biológicos, como eles aprendem e crescem, enquadrem suas próprias atividades. A moral, por agora, é simplesmente que este processo de montagem, costura, e fabricação leva à criação de organizações computacionais e mentais estendidas: os sistemas de raciocínio e pensamento distribuídos através de

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cérebro, corpo e mundo. E é na operação desses sistemas estendidos que grande parte da nossa inteligência humana distinta repousa. (CLARK, 2003, p.32, tradução nossa)12

Os artefatos cognitivos, contudo, podem ser descritos como tendo o poder tanto para criar meios para resolver problemas, como para criar novos problemas. Ou seja, eles criam novas estruturas para resolver questões que, num novo estágio, abrem possibilidade a novas questões. Quando estes dois aspectos são levados em consideração, os artefatos cognitivos podem ser vistos como moldando a própria cognição: dotando-a com ambas as necessidades e capacidades, criando ferramentas cada vez mais especializadas para lidar com tarefas cada vez mais especializadas. Aplicando esses conceitos ao caso específico dos livros ilustrados, a diferença material entre impresso e digital (com todas as especificidades envolvidas), abordada anteriormente, aponta para dois conjuntos diferentes de habilidades funcionais utilizadas para compreender a narrativa apresentada em cada formato. Nesse sentido, livro ilustrado impresso e e-picturebook representam artefatos cognitivos muito distintos para a apreensão da narrativa, não podendo ser classificados com respeito a uma melhor (mais ampla) solução do problema, mas sim, quanto às suas capacidades específicas de limitar a apreensão da narrativa a um caminho específico a cada formato.

Considerações finais

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A maior novidade do mercado editorial nos últimos anos foi o desenvolvimento de dispositivos eletrônicos de leitura (e-readers) e seus correspondentes formatos de livros digitais. Tal inovação suscitou não somente VOL 2do/ que N° 2 pode / 2015 certas mudanças no processo produtivo e comercial do livro, como também no entendimento ser classificado como um livro e nas formas de interação das pessoas com a leitura. Os livros infantis ilustrados, como era de se esperar, não ficaram de fora desse processo, apresentando grande desenvolvimento de seus formatos digitais principalmente após a disseminação de dispositivos computacionais portáteis, como tablets e smartphones. No passado recente, muitos dos e-picturebooks produzidos eram traduções de livros impressos para o meio digital. Agora, porém, o número de e-picturebooks que surgem como experiências interativas multimídia originais do mundo digital é cada vez maior. Torna-se possível identificar esse processo como resposta à ubiquidade multimídia, ao implemento das tecnologias de HCI e a uma tendência gamification de experienciar produtos culturais, que então atingem o livro enquanto mídia. O livro, na forma impressa que conhecemos, 10. […] “restructured the activity so that some index of productivity was larger”. 11. […] “involved in a process of organizing functional skills into cognitive functional systems”. 12. “The presence of such technologies [...] does not merely act as a convenient wrap around for a fixed biological engine of reason. […] It provides instead an array of resources to which biological brains, as they learn and grow, will dovetail their own activities. The moral, for now, is simply that this process of fitting, tailoring, and factoring in leads to the reasoning and thinking systems distributed across brain, body, and world. And it is in the operation of these extended systems that much of our distinctive human intelligence inheres”.

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data de um passado distante e, assim como outros objetos culturais que começaram a sofrer mudanças radicais na última década do século XX, “momento no qual a revolução digital e a internet começaram a varrer os guerreiros analógicos das trincheiras da mídia” (FLATSCHART, 2014, p. 21), ele também foi forçado a mudar. Primeiramente, com a informatização do seu processo de produção no âmbito das editoras. E mais recentemente, no âmbito do próprio objeto (desenvolvimento dos formatos atuais de e-book). Enquanto o livro ilustrado impresso caracteriza-se primordialmente pela interação de textos e ilustrações num suporte estruturado em páginas duplas, que obedecem a um encadeamento coerente; um ­book-app (formato que apresenta mais possibilidades de recursos e inovações entre os e-picturebooks) pode ser classificado como uma nova experiência de conteúdo narrativo, com recursos multimídia e possibilidades de interação (incluindo jogos), que se estrutura livremente, dado as possibilidades da programação de criar diferentes dimensões do campo representativo e fluxos diversos de exploração do conteúdo. As questões apresentadas neste artigo com relação ao livro infantil ilustrado impresso e o book-app infantil tiveram o intuito de definir os objetos com relação às suas especificidades e apresentar, de modo geral, as questões relativas ao seu funcionamento como artefatos narrativos. A partir dessa análise e da fundamentação no conceito de cognição distribuída é possível afirmar que a experiência de leitura do livro ilustrado digital é substancialmente diferente da leitura do livro ilustrado impresso. Diferenciar um objeto do outro, entendendo os e-picturebooks, e principalmente os book-apps, como uma categoria de artefato narrativo específico, é a abertura de caminhos para que estudos posteriores possam enfatizar questões particulares da apreensão da narrativa nos e-picturebooks.

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