De Beijing a Nova Délhi: As perspectivas de uma relação bilateral no Século XXI

June 4, 2017 | Autor: Marcio Jose Junior | Categoria: Asian Studies, International Relations, China, India
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De Beijing a Nova Délhi: As perspectivas de uma relação bilateral no Século XXI

Autor: Márcio José Oliveira Júnior - Mestrando no Programa de Pós Graduação em Relações Internacionais da UFU, pesquisador vinculado à Rede de Pesquisa em Política Externa e Regionalismo (REPRI) e Bolsista CAPES. RESUMO: Com a importância que China e Índia assumem hoje para o contexto global é objetivo desse artigo analisar seus modelos de inserção internacional atuais de modo a tornar possível observarmos perspectivas para uma relação bilateral.

O subcontinente indiano e a civilização chinesa se constituem como polos fundamentais para a compreensão da política asiática tanto pela sua grandeza e importância adquirida com milênios de tradição, mas também com a influência para as demais culturas e construções políticas incrustadas na região oriental. Porém, do mesmo modo em que possuem essa vertente tradicional em seus horizontes, seus atuais sistemas políticos são extremamente recentes: a China com Mao Zedong em 1949 e a Índia com Gandhi em 1947. Desse modo, tendo em vista a magnitude em que Índia e China hoje elencam para si é interessante observar como esses dois gigantes pretendem se relacionar bilateralmente e com o mundo. Como observado em Kissinger (2011) o atual sistema político chinês foi introduzido com a ascensão de Mao Zedong em 1949, que com sua ascensão derruba o governo de Chiang Kai-Shek e o Kuomitang (Partido Nacionalista Chinês) e instaura o modelo comunista que segue em vigor até hoje. Com a ascensão de Mao como governante da China, segundo Visentini (2011), há o surgimento de uma "Nova China" que tenta construir um novo modelo de ascensão econômica e relacionamento internacional para o Estado Chinês. Nessa "Nova China", Vizentini (2011) observa que há um modelo de política externa em que o comunismo contribui de modo bastante profundo para e que ligado esse movimento ideológico há também uma tentativa de promover o crescimento econômico e o crescimento do poderio chinês de modo a se afastar das sombras das dominações europeias do século XIX e da invasão japonesa no século XX. Porém, essa percepção do Mao para a "Nova China" acaba falhando mesmo antes de engrenar em seu período a frente do governo em Beijing. Com os desastrosos planos do Grande Salto para a Frente (1958-1962) e também da Revolução Cultural (1966-1976), Aarão (1985) demonstra que a China passa a enfrentar graves problemas econômicos como a falta de

matérias primas para a indústria e falta de alimentos e também uma grande instabilidade e violência dentro da sociedade chinesa. Com efeito, ambos os planos fazem com que esse modelo fortemente pautado por uma ideologia comunista acabe por perder força principalmente com a aproximação com os Estados Unidos já iniciada nesse período final do governo de Mao Zedong. Com a morte de Mao em 1976 e a mais profunda aproximação com Washington faz com que toda esse direcionamento mais ideológico, embora com a tentativa da Gangue dos Quatro de se manter no poder, acabe por abrir espaço para uma nova inserção. Como visto por Vizentini (2011), esse período coincide com a abertura para um novo projeto de China, que tem início com a ascensão de Deng Xiaoping e o surgimento de uma "Novíssima China". Com o ideal de promover a modernização e crescimento, mas também de esquecer o legado negativo das experiências do maoísmo, Kissinger (2011) nos mostra que a "Novíssima China" promove seu crescimento através do plano das Quatro Modernizações. Tal plano, segundo Aarão (1985), se apresenta como um projeto que procura fomentar o crescimento econômico chinês e também promover sua modernização econômica de modo a garantir taxas de crescimento astronômicas nas próximas décadas. Além disso, como observado em Vizentini (2011), a "Novíssima China" também possui uma nova forma de política externa, que se baseia em um modelo fundamentado nas ideias de ascensão pacífica em que sua retórica refuta o hegemonismo e a força para promover sua inserção internacional. Nesse sentido, é com esse modelo de "Novíssima China" somado as suas modernizações levadas a cabo por Deng Xiaoping que a China se encontra nos dias de hoje. Temos que essa China procura não somente se inserir mas também se utilizar da ascensão pacifica para participar mais ativamente das reformas do Sistema Internacional. É com essa visão de uma "Novíssima China" que se moderniza, cresce e participa cada vez mais do Sistema Internacional com a qual a Índia terá que se relacionar no século XXI. Tanto como a China, o atual modelo da Índia também é muito recente. Em 1947, sob a liderança de Gandhi, a Índia declara independência e se constitui como um Estado Soberano. Como visto em Vizentini (2011), em seu ato de independência, a Índia coloca como objetivo primordial o princípio de que o crescimento econômico deve ser voltado estritamente para que o bem comum seja alcançado. Nesse sentido, temos que durante a Guerra Fria esse direcionamento do modelo indiano de crescimento fez com que sua política externa se mantivesse com uma forte atuação entre os países do terceiro mundo e não alinhados. Dessa maneira, Nova Délhi juntamente com G77 e as premissas do movimento dos não-alinhados,

mas também com uma forte cooperação com a URSS, manteve um perfil perante o Sistema Internacional de um Estado em que a perspectiva de pragmatismo e crescimento econômico como objetivos centrais em sua política externa foram as principais áreas de disputa durante esse período inicial. Com o fim da Guerra Fria e consequentemente havendo uma diminuição da importância dessa questão do alinhamento, a Índia passa a tentar se inserir, principalmente com a aquisição de status de potência nuclear, como uma grande potência regional e em um futuro próximo uma possível posição de grande potência. Porém, Khilnani (2011) coloca uma grande questão que aparece para a Índia e seu vislumbre para um modelo atual que segue essa retórica de futura grande potência: será que a Índia realmente encontra-se em uma posição para angariar a posição de potência? Para Khilnani (2011) é fato que a Índia encontra-se em um acelerado processo de crescimento econômico e também é uma potência nuclear. Além disso, segundo o autor, a Índia também possui condições estruturais para fomentar o seu crescimento, o que coloca um importante peso para que a Índia e seu modelo para o século XXI possa ser o da almejada potência. Porém ao mesmo tempo que o autor expressa a vontade indiana de ser uma grande potência no Sistema Internacional e sua real possibilidade, Khilnani (2011) coloca que ainda falta uma grande base política e econômica para que haja fôlego o suficiente para fomentar um crescimento tão acelerado por muito tempo e também para que o status de potência seja alcançado. Nesse sentido, o atual modelo Indiano seria o exemplo de uma Potência média em que ainda há uma enorme possibilidade de crescimento para o Estado Indiano. Nesse sentido, essa sua colocação com um status de grande potência ainda é muito mais pertencente ao campo da retórica do que algo que de fato esteja acontecendo. Assim, temos que é essa Índia com status de Potencia média que será a responsável por fomentar a relação bilateral com a "Novíssima China". Após termos visto rapidamente sobre China e Índia separadamente, podemos agora analisar dois pontos nos quais essa relação bilateral se mostra interessante: o relacionamento político e o econômico. Em sua parte política, temos que a relação bilateral sino-indiana é uma relação complexa. Como vimos em Kissinger (2011) a questão do conflito sino-indiano e a aproximação da Índia com a URSS durante a Guerra Fria ainda geram bastante desconfiança para a relação política entre ambas. Atualmente, essa relação política como podemos ver em Vizentini (2011), não avançou muito. Além dessa desconfiança histórica, temos que com a decadência do Japão a partir dos anos 1990 a Índia assume o papel de pivô estratégico,

incentivado pela aproximação com os EUA, cujo objetivo de conter a China na região asiática adiciona mais ainda a desconfiança para a relação bilateral. Porém, ao mesmo tempo em que a desconfiança é um fator bastante presente para o relacionamento entre ambos, Vizentini (2011) coloca alguns pontos em que há uma convergência política. Uma primeira aproximação consiste na participação de ambos na questão das preocupações acerca do crescimento dos emergentes e suas problemáticas de inserção tanto global quanto regional, o que fica evidente quando observamos o avanço dos discursos de ambos tanto no BRICS quanto em fóruns similares como o IBAS. Já uma segunda convergência política observável se dá na questão de um projeto político de se construir uma hegemonia. Na retórica de ambos os Estados, quando partimos para uma análise de uma possível ascensão aos moldes das atuais grandes potências, há uma ênfase bastante proeminente pela busca de uma via pacifica para o desenvolvimento, o que demonstra uma aproximação nessa temática. Já no econômico podemos vislumbrar uma relação bem mais favorável. Como observado por Mendonça (2010) as relações econômicas sino-indianas vem se tornando complementares principalmente com a liberalização do comércio indiano devido ao fim da URSS na década de 1990. Essa relação pode ser evidenciada pelos papeis complementares que ambos realizam, com a China sendo responsável pela comercialização de bens de consumo e a Índia com prestação de serviços e tecnologia da informação. Dessa maneira, Mendonça (2010) nos mostra que há um intenso processo de integração econômica entre Índia e China e de forma simbiótica, demonstrando que existe um processo econômico que vem fomentando uma ligação cada vez maior entre China e Índia, de modo a promover ainda mais a relação comercial bilateral de ambos os países. Assim, como podemos ver, na relação bilateral entre Beijing e Nova Délhi existem muitos pontos de convergência e dispersão. Na esfera política ainda podemos argumentar que existem muitos pontos em que a dispersão se mostra presente, principalmente pelo fator da desconfiança mútua gerada pelos embates durante a Guerra Fria. Já na economia temos muito mais pontos de inflexão e, enquanto essa complementaridade for positiva para ambos, o relacionamento bilateral deve crescer. Assim temos que as perspectivas de um bilateralismo entre Índia e China ainda dependem de muito esforço e vontade política para avançarmos para além do sucesso comercial e consequentemente possa ser criado um compromisso em que as relações bilaterais políticas sejam mais profundas. Bibliografia AARÃO, Daniel. (1985) China e Modernização. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010264451985000300009&script=sci_arttext Acesso em: 06/06/2014

ALTEMANI, Henrique. (2008) China:Perspectivas e http://www.cebri.com.br/midia/documentos/12.pdf Acesso em: 20/03/2016

Desafios.

Disponivel

em:

KISSINGER, Henry. (2011) Sobre a China. Rio de Janeiro: Editora Objetiva KHILNANI, Sunil (2011). A Índia e o Grande Jogo do http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/pdf/ri/n29/n29a09 Acesso em: 20/03/2016

Poder.

Disponível

em:

MENDONÇA, Gustavo (2011). China e Índia: Perspectivas acerca da Grande Corrida Econômica Asiática. Disponível em: http://mundorama.net/2011/05/12/china-e-india-perspectivas-acerca-da-grande-corridaeconomica-asiatica-por-gustavo-resende-mendonca/ Acesso em: 05/12/2016 __________________ (2010). A rivalidade Sino-Indiana no Início do Século Asiático. Disponível em: http://mundorama.net/2010/04/29/a-rivalidade-sino-indiana-no-inicio-do-seculo-asiatico-por-gustavo-resendemendonca/ Acesso em: 05/12/2016 VIZENTINI, Paulo. (2011) A novíssima China e o Sistema Internacional. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-4782011000400009&lang=pt 25/03/2016

Disponível Acesso

em: em:

VIZENTINI, Paulo. (2011) As Relações diplomáticas da Ásia: Articulações regionais e afirmação mundial (uma perspectiva brasileira). Belo Horizonte: Editora fino Traço

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