de novelo de linha a manchester paulista – fábrica têxtil e cotidiano no início do século xx em sorocaba

June 5, 2017 | Autor: Paulo Celso Silva | Categoria: Vida Cotidiana, Textile and Apparel Industry, Sorocaba, Movimento Operário
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de novelo de linha a manchester paulista – fábrica têxtil e cotidiano no

início

do

século

xx

sorocaba

neide maria perez (organizadora) paulo celso da silva

em

Inverno de 1999 Produção Editorial TEASER DESIGN REVISÃO Armando Oliveira Lima Capa paulo celso da silva infopoema novelo-manchester em p/b Silva, Paulo Celso da De novelo de linha a Manchester Paulista – Fábrica Têxtil e Cotidiano no início do século XX em Sorocaba / Silva, Paulo Celso da. Organização de Neide Maria Perez – Sorocaba : Teaser Design, 1999 1. História de Sorocaba 2. Geografia de Sorocaba 3. Economia 4. Movimento operário 5. Cotidiano I. Título Índices para catálogo sistemático 1. História de Sorocaba : Industrialização

Proibida reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem o prévio consentimento da editora TEASER DESIGN

Agradecimentos:

. À Neide, Guilherme e Cássia que suspenderam meu cotidiano. . Ao Gilson Brizacco, amigo sempre nas horas mais trabalhosas. . Ao Professor Acassil José de Oliveira Camargo, mecenas. . Ao casal Jacir e Eulza, meus pais, pelo apoio sem medida. . Ao Nando e o Jotacê pela força. . Ao Professor Armando Oliveira Lima, Mestre dos Mestres. . A John, Paul, George, Ringo pelo fundo musical em todas as horas. . Àquela criança que se foi quando tudo estava começando, provando que é “Tão grande ser tão pouco”. . A todos aqueles que minha memória omite, mas ajudaram...

Dedicado: À Professora Maria Lúcia de Amorim Soares que me colocou na geografia com uma borracha... À Genésia Mencacci (IN MEMORIAM) presença constante para sempre.

“...Nosso programa é simples - basta entrarmos na bandeira. Dar vida, força e sentido a um lemma que até hontem parecia vasio e ironico - ORDEM E PROGRESSO. Milagre das idéias chamadas subversivas. ...Dum paiz que possue a maior reserva de ferro e o mais alto potencial hydraulico, fizeram um pais de sobremeza. Café, assucar, fumo, bananas. Que nos sobrem ao menos aos bananas!” Ordem e Progresso in O homem do Povo - SP, 27/3/1931 no. 01 (coleção completa e fac-similar dos jornais escritos por Oswald de Andrade e Patrícia Galvão (PAGU) Imprensa Oficial do Estado S. Paulo 1984.

“No passado, não trabalhar não era essa coisa do outro mundo que é hoje” Jorge Guinle Revista Isto É, no 1253, p. 6. 6/10/93

No interrogatório, comunicam-lhe que a vão expulsar. - Você é estrangeira! Mas ela não conhece outro país. Sempre dera o seu trabalho aos ricos do Brasil, sorri numa amargura. Vão levá-la para sempre do Brás...Que importa? Ela ouvira dos próprios defensores do presídio social: - Pobre não tem pátria! Mas deixar o Brás! Para ir aonde? ...Que importa! Se em todos os países do mundo capitalista ameaçado, há um Brás. Outros ficarão... .

... BRÁS DO BRASIL. BRÁS DE TODO O MUNDO. Mara Lobo (Pagu ) - Parque Industrial 1933

(CONTRACAPA)

“APOIO INSTITUCIONAL DA PREFEITURA MUNICIPAL DE SOROCABA “ – Lei n° 5.736/98

Dissertação apresentada como exigência parcial para a obtenção do grau de Mestre em Geografia Humana à Comissão Julgadora da Universidade de São Paulo, sob a orientação do Professor Dr. Paulo Pedro Perides.

Agradecimento Especial: . Ao PROF. DR. PAULO PEDRO PERIDES pelo incansável apoio no caminho a ser percorrido.

Agradecimentos:

. À Neide, Guilherme e Cássia que suspenderam meu cotidiano. . Ao Gilson Brizacco, amigo sempre nas horas mais trabalhosas. . Ao Professor Acassil José de Oliveira Camargo, mecenas. . Ao casal Jacir e Eulza, meus pais, pelo apoio sem medida. . Ao Nando e o Jotacê pela força. . Ao Professor Armando Oliveira Lima, Mestre dos Mestres. . A John, Paul, George, Ringo pelo fundo musical em todas as horas. . Àquela criança que se foi quando tudo estava começando, provando que é “Tão grande ser tão pouco”. . Ao CNPQ, pelo financiamento parcial das pesquisas. . A todos aqueles que minha memória omite, mas ajudaram...

Dedicado: À Professora Maria Lúcia de Amorim Soares que me colocou na geografia com uma borracha... À Genésia Mencacci (IN MEMORIAM) presença constante para sempre.

“...Nosso programa é simples - basta entrarmos na bandeira. Dar vida, força e sentido a um lemma que até hontem parecia vasio e ironico - ORDEM E PROGRESSO. Milagre das idéias chamadas subversivas. ...Dum paiz que possue a maior reserva de ferro e o mais alto potencial hydraulico, fizeram um pais de sobremeza. Café, assucar, fumo, bananas. Que nos sobrem ao menos aos bananas!”

Ordem e Progresso in O homem do Povo - SP, 27/3/1931 no. 01 (coleção completa e fac-similar dos jornais escritos por Oswald de Andrade e Patrícia Galvão (PAGU) Imprensa Oficial do Estado S. Paulo 1984.

“No passado, não trabalhar não era essa coisa do outro mundo que é hoje”

Jorge Guinle Revista Isto É, no 1253, p. 6. 6/10/93

No interrogatório, comunicam-lhe que a vão expulsar. - Você é estrangeira! Mas ela não conhece outro país. Sempre dera o seu trabalho aos ricos do Brasil, sorri numa amargura. Vão levá-la para sempre do Brás...Que importa? Ela ouvira dos próprios defensores do presídio social: - Pobre não tem pátria! Mas deixar o Brás! Para ir aonde? ...Que importa! Se em todos os países do mundo capitalista ameaçado, há um Brás. Outros ficarão... .

... BRÁS DO BRASIL. BRÁS DE TODO O MUNDO. Parque Industrial Mara Lobo (Pagu) 1933

1 ÍNDICE

I. INTRODUÇÃO....2 II - ORIGEM DAS FEIRAS E DO REGISTRO DE ANIMAIS DE SOROCABA....12 III. A MANUFATURA E O ARTESANATO LIGADOS ÀS FEIRAS....19 IV. A PRIMEIRA EXPERIÊNCIA FABRIL TÊXTIL EM SOROCABA 1852....28 V. A ECONOMIA DO ALGODÃO EM SOROCABA...31 . LUIZ MATHEUS MAYLASKY: UM MITO....32 . A “ESTRADA DO ALGODÃO”....36 . UM POUCO MAIS SOBRE A “ECONOMIA DO ALGODÃO” EM SOROCABA....39 . ALINHAVOS NECESSÁRIOS..42 VI. A CONSTRUÇÃO DA CIDADE INDUSTRIAL....45 . MANCHESTER PAULISTA X MOSCOU PAULISTA....67 . NO RÍTMO DO APITO..79 VII. PONTOS FINAIS...91 VIII. BIBLIOGRAFIA....97 IX. ANEXOS....106

2 I. INTRODUÇÃO O tema deste trabalho é decorrente de outro de maior amplitude intitulado ‘A gênese da industrialização em Sorocaba’. Por várias razões não desenvolvemos tal empreitada. Vejamos porque. Havia uma grande expectativa em compreender a totalidade do processo de industrialização em Sorocaba, pois este apresentava-se a priori como “independente” do restante do Estado de São Paulo. Assim, a hipótese a ser comprovada era até que ponto essa independência - a priori - havia ocorrido ou não na cidade. Recorrendo às fontes históricas locais, oficiais, periódicos, jornais, etc, constatamos: o caminho a percorrer seria árduo, não existiam muitos dados sobre o tema no período da gênese industrial, demarcado por nós entre 1880 1930. Pensávamos em verificar, dentro do tema, a relação entre urbanização ⇔ industrialização : a localização industrial e a expansão da cidade, infra estrutura para fixação industrial, produção, relação indústria ⇔ agricultura, formação da classe empresarial, classe trabalhadora. Enfim, vários itens cabíveis em um trabalho sobre industrialização. Um dado nos chamou a atenção: nos artigos e trabalhos sobre a industrialização sorocabana, a preocupação maior ou única - era sempre falar ou do proprietário ou dos prédios fabris. Poucos trabalhos, mesma temática. O operariado era visto e revisto, não como agente no processo industrial, sujeito da história por ele construída, quando muito um ator coadjuvante sem maiores conseqüências para o enredo. “Já está chegando o machinismo para a fábrica de tecer do Sr. Manoel José de Oliveira” Diário de Sorocaba n o. 21631/8/1881 - 4 a. feira

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Naquela quarta-feira, o jornal local dava ênfase às máquinas e seu proprietário, como manchete. A oferta de empregos para seleção será feita nos classificados do mesmo jornal. Como nosso trabalho incluía o operariado, começamos a buscar informações. O novo tema surgiu. Percebemos que estávamos incorrendo no mesmo “erro” da historiografia local, o operário seria ‘coadjuvante”. Ao travar contato com o cotidiano operário no início do século, nosso trabalho começou a ganhar vida. Imaginamos: se o trabalho pretendia ser uma contribuição à geografia mesmo pequena, porque não poderia ser também uma contribuição para a historiografia de Sorocaba? Afinal, é toda uma vida de classe operária e neto de imigrantes ligada a essa cidade. Redefinimos o tema que passou a ser ‘De novelo de linha a Manchester Paulista - Fábrica têxtil e cotidiano no início do século XX em Sorocaba’. Houve, temos consciência, uma redução nos objetivos a serem alcançados e demonstrados. Mas, por outro lado, o trabalho ganhou, a nosso ver, em profundidade, pois poderia ser apenas uma abordagem panorâmica no final. No título aparecem duas alcunhas dadas à cidade, “Novelo de Linha” e “Manchester Paulista”. A primeira relacionada ao surto algodoeiro depois de 1875, nome dado pelos ituanos de forma pejorativa, que era rebatido no mesmo tom pelos sorocabanos que os chamavam de “tachos de mel”. A segunda, quase um título até hoje para a cidade, a partir de um discurso em 1904 do diretor da Estrada de Ferro Sorocabana (hoje FEPASA). Que a burguesia local fez questão de preservar. Há ainda um terceiro, omitido no título: “Moscou Paulista ou Brasileira”. Omitido propositalmente, este título era dado pelo operariado, embora dele se servissem também os adversários quando atacavam os trabalhadores. O objetivo do trabalho passa a ser a verificação da formação e condição do operário na indústria têxtil no começo do século em Sorocaba.

4

Algumas questões surgem: 1) Chama atenção a função comercial da cidade desde o advento das feiras de muares. Que ligações podemos fazer entre feiras - algodão - indústria? 2) Qual o papel da burguesia na construção da cidade industrial? 3) E do operário? Como era o imaginário dessa classe social? 4) E a cidade? Que cidade é essa que se industrializa? De São Paulo, de Sorocaba do período das feiras a Manchester Paulista, como isso foi possível? 5) E a cidade? Que cidade é essa que o movimento operário anarquista e comunista chama de Moscou Paulista ou Brasileira? 6) Como vivem operários e burgueses nas “cidades” de seu imaginário? Na busca das respostas algumas categorias emergem. A categoria lugar parece-nos importante para o entendimento da cidade, pois esta guarda especificidades que explicam o movimento na relação com o geral e na construção do espaço. “A partir do estudo do lugar é que procedemos à análise geográfica do espaço... O entendimento dessa categoria da análise - o lugar - nos possibilitou [possibilita] desvendar o infinito na sua generalidade mas, a partir do particular na sua universalidade .... o ... fundamental ... é a procura das diversas particularidades na qual a tendências 1 gerais se manifestam.” No caso sorocabano o processo industrial é marcado, de um lado pela existência de uma economia agrário-exportadora do algodão que possibilitará investimentos na indústria, tal como aconteceu em algumas áreas cafeeiras. Por outro lado a existência de manufaturas e artesanatos foi impulsionada pelas feiras de muares, e além disso, essas atividades eram urbanas, sendo que 1

LENCIONE, Sandra. Agricultura e Urbanização - A intensificação do capital no campo e a nova Relação

Rural

Urbano

no

Estado

de

São

Paulo.

Departamento de Geografia n o . 4. FFLCH/USP, 1985:43

In:__________.

Revista

do

5

nas áreas cafeeiras foram rurais. Esses fatos - ou particularidades - sugerem uma interpretação além daquela que MARTINS (1990:106) o chama de binômio café indústria, isto é, uma relação causa - efeito que quer dar conta de TODO processo industrial em São Paulo. Todavia, o processo industrial em Sorocaba está articulado com o geral. ...”a industrialização capitalista na América Latina é específica e ... sua especificidade está duplamente determinada: por seu ponto de partida .... e por seu momento, o momento em que o capitalismo monopolista se torna dominante em escala mundial, isto é, em que a economia mundial capitalista já está constituída. É a esta 2 industrialização capitalista que chamamos retardatária.” Dessa forma, se as particularidades do lugar sugerem interpretações diferentes daquelas da economia cafeeira, isso não significa descartá-las a priori, para não perdermos a totalidade do processo capitalista brasileiro. “Consideramos que no lugar o todo se nega mas também se afirma cada vez mais, porque o lugar não é uma parte, é o 3 todo mesmo concretado no local.” Ainda que não seja nossa preocupação a análise da gênese industrial, deve ficar claro que não tomamos o lugar em si mesmo, pois estaríamos abstraindo, quando a teia de relações mostra a concretude espacial do lugar. Outra categoria utilizada é o cotidiano. A ligação entre lugar e cotidiano é muito forte, já que este é pessoal e a. intransferível. A nível do lugar, “O cotidiano é ...[a] 5 dimensão do espaço”, isto é, “... a espessura, a profundidade do acontecer.” (SANTOS, 1993:21).

2

MELLO, João Manuel Cardoso. O Capitalismo T ardio. São Paulo : Brasiliense, 8 a. ed., 1991, p. 98.

3

SILVEIRA, Maria Laura.

Totalidade e fragmentação: o espaço global, o lugar e a questão

metodológica, um exemplo argentino. In:__________. O novo mapa do mundo - Fim de século e Globalização. (vários organizadores). São Paulo : Hucitec, 1993, p. 205.

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Em nosso trabalho, o acontecido e registrado, pois muito desse acontecer se perdeu. O cotidiano do período estudado mostra a busca de uma identidade nas várias faces da realidade social: Manchester Paulista x Moscou Paulista ou Brasileira. O imaginário burguês conseguiu impor-se, não sem resistências. As lutas são diárias, cotidianas, sem armas. Nem por isso menos lutas. Lutas para realizar a manutenção da força de trabalho. Apesar das lutas, a memória do operário é a memória do tempo trabalhado, “... o tempo de lembrar traduz-se enfim, pelo tempo de trabalhar...” (BOSI, 1987 : XV). Os operários e suas vidas nas fábricas, ou como preferem alguns deles: os operários e suas fábricas. No seio da resistência, o operário acaba fortalecendo a ideologia do trabalho, do progresso industrial e da ordem necessária à seriação fabril. “O processo que produz o assalariado e o capitalista tem suas raízes na sujeição do trabalhador. O progresso consiste 4 numa metamorfose dessa sujeição...” 5

Sujeição diária, cotidiana, sem data precisa , mas que está no tempo e produz e reproduz a existência dos indivíduos reproduzindo o social, pois, está em jogo a própria sobrevivência. “Na vida cotidiana o homem aprende as relações sociais e as reproduz enquanto instrumento de sobrevivência” (NETO e FALCÃO, 1987:25).

4

MARX, Karl. O Capital. Livro I, vol. II. Brasil : Bertrand, 1988, p. 831

5

Conforme LEFEBVRE “...o cotidiano é o humilde e o sólido, aquilo que vai por si mesmo, aquilo cujas partes e fragmentos se encadeiam num emprego do tempo. E isso sem que o interessado tenha de examinar as articulações dessas partes. É portanto aquilo que não tem data”. LEFEBVRE, Henri. A vida cotidiana no mundo moderno. São Paulo : Ática, 1991, p. 31.

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E tanto é assim, que o homem dentro da nova relação social capitalista “aprende” o valor (?) do trabalho 6 seriado, da disciplina fabril, então alheios a ele . Então, na vida cotidiana, o operário, estaria destinado sempre a sujeição sem possibilidades de superação? “Há, segundo Agnes Heller, quatro formas de suspensão da vida cotidiana, de passagem do meramente singular ao humano genérico. São elas: o trabalho, a arte, a ciência e a moral. Esta suspensão da vida cotidiana não é fuga: é um circuito, porque se sai dela e se retorna de forma modificada...” “Esta suspensão é temporária, mas a apreensão de plenitude obtida permite ganhos de consciência e possibilidade de 7 transformação do cotidiano singular e coletivo” De outra forma não poderíamos falar em devir, em programa de ação. Qual seria a suspensão do cotidiano operário? A greve, a tomada da rua para manifestações e festa, em uma comunhão entre si e para si. Nessas horas afloraram, mesmo inconscientemente, aqueles atributos, que para Marx definem a essência humana: trabalho, sociabilidade, universalidade, consciência e liberdade, “...estes atributos encontram-se em potência, podendo ou não se converterem 8 em realidade. São possibilidades.” Há que se atentar ainda: o cotidiano também é o reino da alienação pela repetição do trabalho, dos gestos, do apito que chama, feito um relógio coletivo, todos de uma vez. A sua superação é possibilidade. 6

Um exemplo interessante e detalhado de desobediência pode ser lido no capítulo 7 da obra “Subúrbio - Vida Cotidiano e História... (ver bibliografia) onde o operário Paolo Michelini (ferramenteiro) assassina a tiros duas personagens da sociedade local. MARTINS conclui “...Michelini se insurgia contra a dominação pessoal do patrão, os mecanismos de controle e a disciplina subserviente que lhe queria impor.” (p. 353).

7

NETTO, José Paulo e FALCÃO, Maria do C. Cortes Editora, 1987, p. 27.

8

Idem, p. 28.

Cotidiano Conhecimento e Crítica.

2 a. ed.,

8 O corpo do trabalho Em linhas gerais podemos dividir o trabalho em duas partes: . A primeira, da Origem das feiras e do Registro de Animais à A Economia do Algodão em Sorocaba . . A segunda, A construção da Cidade Industrial encerrando-se com a Conclusão. Nosso recorte temporal iniciando o estudo com o Registro e as Feiras não é arbitrário. Pareceu-nos que abordagem iniciando desde a fundação de Sorocaba, em 1654, seria desnecessária pois não contribuiria para o tema proposto e os objetivos do trabalho. Assim, parece certo dizer, nos preocupamos com dois momentos da economia que realmente tiveram peso nas transformações espaciais e sociais, embora a separação entre feiras e algodão tenha apenas caráter explicativo, ambas ocorrendo ao mesmo tempo histórico. De apenas mais uma vila, Sorocaba vai tornar-se caminho de tropas, pousada e depois receber um registro para, primeiro, contagem dos animais, depois, cobrança de impostos. Os documentos levam a que a feira aconteceu “naturalmente”motivada pelo registro na Ponte Rio Sorocaba. Mas, nada é natural em economia. O comércio de animais era necessário para a economia nacional, única forma de transporte para a produção chegar aos portos rumo à metrópole. No dizer, até romântico de Deffontaines “Sorocaba está 9 localizada entre o país da erva e das árvores”. O lugar parecia adequado para o comércio, já que sendo local de pousada os animais estariam em condições e tendo o registro, o pagamento dos impostos ficaria por conta do comprador. 9

Santos, Elina - A Industrialização de Sorocaba Bases Geográficas - tese de Doutoramento apresentada a cadeira de Geografia Física da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da USP, 1950 pág 39.

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Logo a população percebeu a fonte de renda que eram as feiras e ofereciam diversos produtos a viajantes, tropeiros, compradores, jogadores. A vila começa a ser reconhecida pelas feiras anuais que duraram 131 anos (1766-1897) com seu auge por volta de 1850. A feira será responsável pela elevação de Sorocaba à categoria de cidade em 1842. Um fator externo irá incentivar uma atividade que já vinha ocorrendo em Sorocaba: o cultivo do algodão. A diferença porém é que agora o cultivo do algodão será incentivado pela Inglaterra e as sementes são do tipo herbáceo que possibilita melhor colheita. Um outro tipo de algodão, o arbóreo, já era conhecido por ser nativo no Brasil. A nova atividade econômica em Sorocaba possibilita a participação da cidade no comércio exterior, com a exportação do algodão e ainda, mantendo-a na economia interna, com os negócios das feiras. Uma burguesia agrário-exportadora se forma. Essa classe irá “incentivar” o pequeno produtor, a maioria na região de Sorocaba, adiantando pagamentos, ensinando sobre o plantio e colheita, para assim, garantir seus compromissos com os consumidores europeus. Ao mesmo tempo investe na compra do maquinário para beneficiar o algodão. Além do comércio de animais e do algodão, destacamse também o artesanato e a manufatura surgidas para atender a demanda tropeira nos meses da feira, e uma fábrica de chapéus. Esse primeiro momento do trabalho coloca as bases para o processo industrial futuro, com o predomínio da industria têxtil de grande porte e nos moldes capitalistas. A segunda parte trata da construção da cidade industrial: as transformações urbanas, a ótica de proletários e burgueses, marcada pela ideologia dos mesmos na construção da cidade. Àquela cidade movimentada querem alguns autores decadente. Com a chegada da ferrovia (1875) e o declínio dos negócios do muar, “...tudo isso teve influência enorme na vida

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de Sorocaba trazendo decadência e ruína para aquela cidade”(GOULART, 1961:162). Será mesmo decadente? Adiantamos que não. Mapas, números, levantamento comercial, gravuras nos ajudam a comprovar essa afirmativa. A redação incursiona pela literatura quando abordamos o cotidiano operário, principalmente. De que outra maneira poderíamos falar dessa “legião de anônimos”? O movimento das pessoas corresponde à etapa da produçào que está se dando naquele momento. Todos são produtores - o operário, o artista de teatro, o vendedor... etc., mesmo quem não está diretamente no processo de produção, já que também consome. É a maneira com que se dá a produção, e o intercâmbio 10 entre os homens que dá um aspecto a paisagem. Vários personagens do dia-a-dia que a historiografia local esqueceu. Esqueceu também as contradições entre as classes e sugere uma Sorocaba pacata. Um sorocabano relata: “Pobre Papai! Morreu moço... sucumbiu ao desumano regime então imperante na indústria”. ...“Vieram então, dias de grande dor e trabalho, pois mamãe... precisou ir trabalhar na “Santa Rosália...” (PENTEADO, 1965:30) Vê-se pelo relato que “papai e mamãe” não tem nomes. São muitos papais e mamães operários assim. Não podemos esquecer da crianças operárias sem nome habitando em fábricas com nome. É a ideologia dominante: do trabalho fabril ao intelectual. Construções nomeadas, construtores anônimos. Procuramos porém, com nossa incursão literária, não perder de vista o caráter crítico-científico a que se destina nossa dissertação. Os caminhos das pesquisas nos fizeram um Flâneur, e a conclusão é o percurso dele pela Sorocaba em seus

10

SANTOS, Milton - Metamorfoses do Espaço Habitado - Ed. Hucitec, SP, 1988, pág 72

momentos tirando conclusões, levantando novos questionamentos tão necessários... ainda que implícitos.

11

12

II - ORIGEM DAS FEIRAS E DO REGISTRO DE ANIMAIS DE SOROCABA

1. Um capítulo sobre tropeiros A América espanhola já utilizava o transporte por tropa de muares desde o século XVI. No Brasil, é a partir do descobrimento de minérios nas Gerais , como conseqüência da necessidade de um transporte para os minérios e ainda na carência de produtos para a própria subsistência dos mineiros devido a falta de uma estrutura nesse sentido nas localidades das minas, que o muar começa a ser utilizado como solução para os problemas enfrentados na região mineira. A dificuldade era conduzir os animais das áreas produtoras do sul do país para as Gerais. Era necessária a abertura de uma estrada ligando o sul a São Paulo (mais especificamente: São Paulo - Curitiba; Curitiba - Viamão). Em 1727, Francisco de Souza Faria conclui o trecho Curitiba - São Paulo e em 1732 o Cel. Cristovão Pereira de Abreu parte do Rio Grande do Sul para retificar e melhorar os caminhos, inclusive esse aberto em 1727, levando um rebanho de animais incluindo muares, mais resistentes que os cavalos para regiões difíceis como a Serra do Mar e de Minas Gerais. Citando Ellis Jr. temos que “talvez a estrada do Rio Grande a São Paulo tenha sido a rota de maior importância do Brasil, pois sem ela não teria havido o ciclo de ouro, não teria havido o do café e nem 11 a unidade nacional teria sido levada a cabo” e ainda “...sem o muar não teria sido possível a vida econômica do planalto, de 1750 a 12 1850”. É considerado como o primeiro nome do ciclo do tropeiro, o Cel. Cristóvão Pereira de Abreu. Esse tropeiro passou por Sorocaba em 1733 após concluir o caminho que ficou conhecido como “rota de muar”, abrindo um ciclo econômico para a Vila de Sorocaba que já

11

ELLIS JR, Alfredo. O ciclo do muar. Revista Histórica n o. 01 - Jan-Mar/1950, p 87

12

ELLIS JR, Alfredo e ELLIS, Myriam. FFLC : USP, 1950, p. 57

A economia paulista no século XVIII.

Boletim 115 da

13

havia participado do período Bandeirante, tendo sua fundação ligada a Baltazar Fernandes, um bandeirante natural de Parnaíba. Solicitou Cristovão Pereira de Abreu como pagamento pela “reconstrução” do caminho do Sul”, o recebimento de parte dos impostos cobrados nos Registros de Animais junto ao Conselho Ultramarino, responsável pela estrada e pela criação dos Registros. O Conselho montou o Registro de Animais de Curitiba, por onde os tropeiros deveriam passar e pagar os impostos devidos, e o Registro de Itu para fiscalização dos documentos relativos aos pagamentos em Curitiba. O Registro de Itu foi uma sugestão do próprio Cristovão Pereira de Abreu. Porém, o Registro que seria em Itu, acabou sendo instalado em Sorocaba em 1750, e em 1756 começou a ser cobrado um “novo imposto” para ajudar a reconstruir a cidade de Lisboa, vitimada por um terremoto. Os preços cobrados no Registro de Sorocaba eram “$ 100 réis por cabeça de gado vacum, $ 200 réis por gado cavalar e $ 340 réis por mula que passasse [pelo registro]. Esses “Novos Impostos” decretados por 10 anos, perduraram até a República, que em 1890 fechou o registro de Animais. O preço desses impostos é importante para se aquilatar o valor dos animais na época. Cada mula valia dois 13 cavalos ou três bois e meio”. O número de Animais registrados na Vila de Sorocaba foi 14 assim computado por Almeida. De 1750 a 1780 - 5.000 animais por ano 1780 a 1800 - 10.000 animais por ano 1800 a 1826 - 20.000 animais por ano 1826 a 1845 - 30.000 animais por ano 1845 a 1855 - 50.000 animais por ano 1855 a 1860 - 100.000 animais por ano

13

VIEIRA, Rogick.

O papel do tropeiro na integração cultural do Brasil.

T ropeirismo e identidade cultural da região de Sorocaba.

In:__________

Cadernos da Academia

Sorocabana de Letras, 1983, p. 20. 14

Apud ELLIS, op. cit. citado por Elina Oliveira Santos. A industrialização de Sorocaba (Bases Geográficas). Tese de doutoramento. FFLCH : USP, 1950, p. 40.

14

Salientamos que não há muita concordância quanto ao número de animais/ano para a fase do apogeu do ciclo entre 1845 1860. A tradição oral eleva os números a 200 e 300 mil, enquanto os jornais da época apontam 100 mil animais/ano. 1.2 - As rotas A posição de Sorocaba favoreceu a implantação, tanto do Registro de Animais (este fôra implantado junto a Ponte de Rio Sorocaba dificultando o contrabando e facilitando a fiscalização) quanto das feiras de muares. Autores que trataram do assunto do tropeirismo parecem de acordo com a posição de Sorocaba. Deffontaines chegou a afirmar que “Sorocaba era a cidade eixo entre o país da árvore e o da erva, 15 por isso tornou-se centro das feiras de animais”. Apontaremos algumas cidades que se constituíram no caminho dos tropeiros. “O caminho do Sul, considerado a partir do Rio Grande do Sul se iniciaria em Viamão... Cruz Alta, Passo Fundo... Sendo que aqueles que estivessem trazendo os animais da região de Corrientes (Argentina) partiam de Cruz Alta... Lajes e Mafra, em Santa Catarina... Rio Negro onde havia um Registro de Animais e Lapa... São José dos Pinhais e Curitiba... Palmeira, Ponta Grossa, Castro e Jaguariaiva,... Itararé, Itapeva, Buri, Itapetininga, Alambari... Campo 16 Largo (atual Araçoiaba da Serra) e finalmente Sorocaba”. “Note-se que a estrada de Itapetininga, Pilar do Sul, Piedade, Ibiúna e Cotia era conhecida desde os tempos bandeirantes, mas seu uso para o trânsito de tropas fôra proibido pela Coroa... De Sorocaba os tropeiros partiam para São Paulo pela estrada que se iniciava em Sorocaba, seguindo por Aparecidinha, Varejão, Parnaíba e 17 Pinheiros”. 15

DEFFONTAINES, Pierre.

Geografia Humana do Brasil.

citado por Elina O. Santos.

Rio de

Janeiro : Revista Brasileira de Geografia, ano I, n os . 1, 2, 3. 16

JOB, Vera R.

Origens e Importância do ciclo do tropeiro.

identidade cultural da região de Sorocaba. Letras, 1983, p. 7 17

VIEIRA, Rogick. op. cit., p. 20.

In:__________ T ropeirismo e

Cadernos da Academia Sorocabana de

15 Também pelo fato de a estrada de São Paulo ligar-se a Sorocaba é que o Registro de Animais tenha sido instalado na vila, pois, reduzia em trinta quilômetros o trajeto para os tropeiros que não precisariam ir até Itu e retornar para pegar o caminho a São Paulo. 1.3 - As Feiras de Sorocaba “Desde o momento que se iniciou para o Brasil a era do transporte animal, implantou-se nova forma de atividades econômicas na região de Sorocaba, representada pelo comércio de gado, principalmente muar”. (SANTOS, 1950:40) A Vila de Sorocaba vai se destacar dentro da economia da capitania por sua atividade principal estar no comércio de muares e não na agricultura exportadora, como eram as ordens da metrópole portuguesa para o governador da capitania O Morgado de Mateus (1765-1775) que deveria incrementar a lavoura de cana de açúcar e de algodão. Devemos dizer que a capitania de São Paulo havia perdido sua autonomia administrativa em 1748, ficando 17 anos subordinada à jurisdição da capitania do Rio de Janeiro. Somente com o Morgado de Mateus é que a agricultura da capitania vai ter um impulso para sair do estado caótico em que se encontrava. Porém, mesmo com o incentivo governamental, Sorocaba fugirá da regra geral da capitania, serão as feiras de muares e não a agricultura o que proporcionará o desenvolvimento econômico da vila. Mesmo assim, a vila ainda fará parte do “quadrilátero do Açúcar” juntamente com as vilas de Piracicaba, Moji-Guaçu e Jundiaí, sem grande expressão como as outras três, devemos dizer. Em relação ao algodão, esse produto somente terá alguma expressão na econômia sorocabana entre 1860-1865, período da Guerra Civil americana. A partir do restabelecimento da produção americana o algodão plantado em Sorocaba reduzirá cada vez mais sua exportação e, a baixa dos preços no mercado internacional aliado a uma produção grande, serão fatores para o início da industrialização local.

16

“Não é... a agricultura que constitui a riqueza de Sorocaba, sim o comércio de muares não domesticado, o comércio de que a 18 cidade é verdadeiramente o entreposto.”

Servindo de suporte às feiras, que possivelmente tiveram sua primeira edição em 1766, outras atividades começaram a se desenvolver: o comércio da alimentação; a “hotelaria” (que não passava de um quarto alugado dentro das próprias residências dos sorocabanos), as oficinas de selaria, a ourivesaria, ferreiros, tecelagem de redes e panos rústicos. Os agentes econômicos no ciclo dos muares em Sorocaba foram descritos por Deffontaines: “Os habitantes mais ricos de Sorocaba eram estes alquiladores que partiam por cinco ou seis meses para o sul, afim de buscar tropas; vinham em seguida os hoteleiros; a cidade contava com mais de cem hospedarias; finalmente os artesãos que trabalhavam sobretudo o couro. A importância das compras e vendas, sempre pagas em dinheiro de contado tinham multiplicado as casas de 19 tavolagem.” Taunay fala da importância da figura do tropeiro como um “mensageiro da civilização”, seria a pessoa que transmitia os acontecimentos sociais, políticos, culturais, etc. das regiões por onde transitava. E “...em regra, pertencia à gente melhor da Província para compra das tropas, para registro e direção de sua indústria, era conveniente possuir certa instrução e algum capital, exigência que limitava o recrutamento dos membros de sua categoria e a fixava na 20 classe dos mais abastados. Seleção profissional e social portanto.”

18

CESAR, Adilson. Notas para a lavoura canavieira em Sorocaba. Sorocaba : Fundação Dom Aguirre, 1984, p. 22

19

DEFFONTAINES, Pierre. op. cit., p. 267.

20

TAUNAY, Afonso de. História do café no Brasil. Rio de Janeiro : Departamento Nacional do Café, Tomo II, 1939, p. 370-1

17

21

Baseados em Muller , apresentamos um quadro estatístico sobre a função secundária da agricultura em Sorocaba que ilustra a importância das Feiras: AGRICULTURA (1836) Café Açúcar Arroz Feijão Milho Fumo Algodão em ramo

770 arrobas 2.930 arrobas 3.342 alqueires 5.565 alqueires 170.972 alqueires 428 arrobas 704 arrobas

= = = = = =

CRIAÇÃO DE ANIMAIS (1836) Apesar do comércio, a criação de animais também não era expressiva: Gado muar Gado vacum Porcos

= = = =

40 4 77 556

Propriedades Especializadas

= =

450 (sítios) 2 = 1 café 1 criação

Conforme demonstramos, as feiras foram a base econômica da vila de Sorocaba; no auge do ciclo do muar, Sorocaba foi elevada à categoria de cidade (1842). O muar havia participado no início do século XVIII no transporte de metais e produtos para sobrevivência dos mineiros; no princípio do século XIX, no surto cafeeiro, será o meio de transporte para alcançar os portos; no ciclo do açúcar e depois, do café em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, o muar transportará aos portos os produtos e trará sal e “fazendas do mar em fora” (o que 21

MULLER, Daniel P.

Ensaio dum quadro Estatístico da Província de São Paulo, Seção de

Obras “d’O Estado de São Paulo”. 1923, citado por Elina O. Santos, op. cit. p. 41.

18

incluía também produtos importados diversos); serviu de correio e de meio de transporte para viajantes em geral; estabeleceu uma ligação entre o sul do nordeste do país. O ciclo do muar em Sorocaba não se restringiu apenas ao ciclo do ouro. A última edição da Feira de Sorocaba será em 1897, porém já um ciclo econômico decadente que desde aproximadamente 1860, estava sendo superado pela cultura do algodão e depois pela industrialização que se iniciaria em 1882.

III. A MANUFATURA E O ARTESANATO LIGADOS ÀS FEIRAS

19

Durante o período das feiras de muares, entre abril e junho, o comércio local apresentava muitos produtos fabricados na cidade, nas manufaturas, e também de forma artesanal. Todos voltados à necessidade dos tropeiros em suas viagens. Assim descreve Zaluar em 1862: “Além de uma bela fábrica de chapéus, existe aqui uma montada em grande escala de tecer algodão, e pertence ao Sr. Coronel Manoel Lopes de Oliveira. As rêdes e os baixeiros fabricados em Sorocaba são conhecidos em todo o império pela perfeição e solidez com que são tecidos. Outra indústria não menos para admirar-se é a dos arreios de couro e chicotes entrançados, que se fazem aqui do mais delicado e apuradíssimo trabalho. Os ourives da prata, que são em grande número, manufaturam obras de grande primor, entre elas arreios e chicotes de formas e desenhos diversos, e de muito gosto. Basta o estudo do desenvolvimento a que têm chegado estes importantes ramos da indústria, para provar que a cidade de 22 Sorocaba uma das mais importantes da província”. A descrição de um viajante estrangeiro, sobre sua impressão das atividades e a importância da cidade na província, atestam a movimentação nesses meses. Além das manufaturas e artesanatos, o viajante dá conta da existência de duas fábricas, uma de chapéus e uma de tecidos “montado em grande escala”. Essa primeira fábrica de chapéus, fundada por Antônio Rogick de origem húngara, em 1852, que se manteve como proprietário até 1879, quando a comprou o médico inglês Dr. João Henrique Adans, funcionava com mão-de-obra escrava, na certa pela simplicidade da tecnologia empregada, pelo custo da mão-de-obra e pela necessidade dessa indumentária naquela época e os baixos investimentos nessa atividade. 1

ZALUAR, Augusto E.

Peregrinação pela Província de São Paulo 1860-61.

Cultura, 1943, p. 179-80.

São Paulo :

20

A partir de 1887 é formada a firma Pereira e Vilela com a compra da fábrica de chapéus por Francisco de Souza Pereira e Manoel Pereira Vilela. Conforme anúncio, citado por VIEIRA, temos os seguintes tipos de chapéus produzidos pela fábrica: “CHAPELARIA NOVA - Rua do Comércio - 23 - Chapéus para homens, senhoras, meninos e meninas - flexíveis, modernos, de lebre, castor e nútria - chapéus finos, abas duras - também faz sob 23 medida” A fábrica de chapéus, fundada em 1852, fechou em 1932 24 sendo então proprietário o Cel. João Evangelista Fogaça Em 1870, outro imigrante, Teodoro Kaysel, funda uma segunda fábrica de chapéus que em 1900 passa a ser propriedade de Simão Raszl, também fechada nos anos 30. A década de 70 do século passado marca o início do declínio do comércio dos muares e encontramos muitas atividades comerciais girando em torno das feiras. Vemos na cidade (VIEIRA, 1988:10): - 2 empresas de carros de aluguel, - 2 hotéis, - 3 funileiros, - 2 relojoarias; - 2 vidraceiros; - 1 fotógrafo; - 2 depósitos de cal; - 26 lojas de fazendas, ferragens e armarinhos, - 122 armazéns de molhados; - 29 tavernas; - 10 botequins; - 5 padarias; 23

VIEIRA, Rogick. Sorocaba não esperou o 13 de Maio - A luta pela libertação dos escravos no Interior Paulista. Sorocaba : FUA - Fundação Ubaldino do Amaral, 1988, p. 10.

24

ALMEIDA, Aluísio. História de Sorocaba. Sorocaba : IHGG, 1969, p. 276.

- 11 ferreiros; - 3 ferradores; - 7 bilhares e alfaiates; - 3 armadores; - 4 barbeiros; - 2 dentistas; - 50 açougues - 1 “Centro Comercial” (casa comercial variada)”.

21

Essa “estatística” é de 1888 e pela quantidade de estabelecimentos comerciais parece indicar um próspero mercado consumidor (!) Como podemos falar em declínio? Notícias do jornal local Diário de Sorocaba de 1890 dão conta de uma crise no setor manufatureiro, “cujos manufatureiros, em falta de capitães que possam eleva-la mais alto contentam-se com o nada que dá suficiente para açúcar parcamente a sua subsistência. Nesse número estão incluídas as indústrias de fabricação de redes, cestas, tranças, etc., muito communs entre as classes pobres da 25 cidade.” Dias depois o mesmo jornal, num interessante artigo, informava sobre uma possível organização que aproveitaria os ramos existentes da manufatura local. “Infelizmente, parece que isso não passou de um symptoma característico da febre de emprezas. [...]. Mas si a idéa, o primeiro ímpeto, como nos affiançaram, partiu do coração da cidade e fazendo nós nos períodos acima apreciações relativas não só ao movimento industrial, não há razão por que não se leve a effeito, quando nada, para Sorocaba apresentar uma iniciativa própria , uma vez que é unicamente escolhida como ponto de partida de iniciativas extranhas... A idéa está de pé e acreditamos que aquelle que a tomar novamente sobre si pode, além dos lucros pecuniários que lhe

25

Diário de Sorocaba, 26/10/1890.

22

advirão, colher encomios e agradecimentos, juros importantes 26 do capital de seu tempo empregado em tam humanitária obra”

Vale lembrar que a primeira fábrica têxtil de Sorocaba, a Fábrica de Tecidos Nossa Senhora da Ponte, havia sido inaugurada em 1882 já dentro do modo de produção capitalista. E no mesmo ano do artigo, foram inauguradas as fábricas de tecido Santa Rosália, Santa Maria e Votorantim, aliás é à essa última que o jornal se refere quando afirma ser a cidade “unicamente escolhida como ponto de partida de iniciativas extranhas”... Não entendeu o articulista “que uma das leis principais do 27 capital é a de não fazer favores a quem quer que seja.” Imaginava ele que uma “cooperativa de manufatureiros” resolveria a crise que alguns atravessavam. Para o capital, era justamente o contrário que deveria se processar. A diminuição das manufaturas, daquelas com menos possibilidades pelo menos, liberaria mão-de-obra, podendo ou não ser aproveitada nas fábricas. Além do que a possível “cooperativa”, pelo que o texto dá a entender, seria não dos manufatureiros, mas de um ou mais capitalistas e de toda forma a proletarização estaria em curso. A organização de nada resolveria o problema dos manufatureiros e artesãos, ao contrário, tiraria o produto final de suas mãos. Quanto ao “...symptoma característico da febre de emprezas”..., este se refere ao chamado “Encilhamento” ou a política inflacionária do início da república, onde ocorreu ...”a emissão de papel-moeda, a farta distribuição de crédito por bancos públicos e privados, a formação de inúmeras sociedades por ações reais e fictícias...” O Encilhamento “...proporcionou à indústria têxtil um volume de capital líquido que, em outras circunstâncias, exigiria um 28 período de tempo muito mais longo para ser acumulado.” Porém, como alerta Martins:

26

Diário de Sorocaba, 4/11/1890.

27

MARTINS, José de Souza. O cativeiro da terra. São Paulo : Hucitec, 4 a. ed., 1990, p. 114.

28

STEIN, Stanley J. Origens e evolução da indústria têxtil no Brasil 1850/1950. Janeiro : Campus, 1979, p. 99.

Rio de

23

“A principal característica das mudanças ocorridas foi o simples “inchaço” do capital de cada estabelecimento, sem qualquer aumento proporcional nos meios de produção. Em outras palavras, o mesmo nível de produtividade anterior ao “Encilhamento” teve que 29 remunerar maior número de unidades de capital”

Conforme indicam as notícias locais, parece que o encilhamento não trouxe o desenvolvimento econômico às manufaturas e artesanatos mas sim, possibilitou a fixação de outras indústrias têxteis. Com o declínio das atividades nas feiras de muares, o artesanato e a manufatura sofreram uma retração nas vendas, por estarem ligadas diretamente à elas. Ainda assim, não é possível falar em declínio comercial na cidade, pois, como já indicamos antes, a força comercial era muito grande. Era um comércio regional e não apenas local. Comércio este que se manterá apesar da retração, já que, a utilização de animais como transporte e trabalho será substituído gradualmente, mantendo as manufaturas e artesanatos em atividade. Em outro periódico sorocabano - o Jornal Autonomista - de 1897, vamos encontrar o seguinte levantamento para o ano: Freios de Ferro Estribos de Ferro e Metal Esporas Cabeções Artigos de couro Trançados Redes Baixeiros Sola curtida TOTAL 29

MARTINS, José de Souza.

40:000$000 40:000$000 30:000$000 10:000$000 250:000$000 40:000$000 100:000$000 15:000$000 100:000$000 30 625:000$000

Conde Matarazzo - O empresário e a empresa.

2 a. ed, 2 a.

reimpressão. São Paulo : Hucitec, 1976, p. 27. 30

Citado por ALMEIDA, História de Sorocaba, op. cit. p. 271. MARTINS ainda alerta para o fato de que “A despeito da visão pessimista oferecida por TAUNAY não só a propósito do evento, mas também do período do “ensilhamento”, que tem sido incorporada pelos historiadores da

24 Pelos valores anuais atingidos em 1897 podemos constatar que as atividades relacionadas ao muar, principalmente o couro, mantinham-se. Note-se também que o ano de 1897 marca o fim das feiras de muares em Sorocaba. Apesar dos preparativos, a notícia da febre amarela fez com que os tropeiros e comerciantes se retirassem da cidade. Encontramos no Almanach de Sorocaba para 1902 um levantamento de “pequenas indústrias de manufacturas de redes, arreios, baixeiros, freios, estribos, etc., exercidas individualmente 31 cuja produção annual é calculada em cerda de ... 600.000$000” O mesmo Almanach apresenta a lista de “estabelecimentos industriais”: 05 fábricas de cerveja 02 fábricas de licores e xaropes 03 fábricas de massas alimentares 08 fábricas de água ardente 03 cortumes 01 fábrica de sabão e sabonete 01 fábrica de móveis 01 fábrica de louças de barro 01 fábrica de vellas 05 fábricas de tijolos e telhas 04 casas especiaes de artigos para montaria (officinas 32 annexas) Tudo parece indicar que a situação das manufaturas e artesanatos na cidade ia bem, ou pelo menos se mantinha comparando os totais de 1897 e 1902. Porém, vejamos outros números indicados pelos “Dados Gerais do Estado 1890 - 1938 para o município de Sorocaba:

economia brasileira, o significado dessa época só poderá ser avaliado quando forem conhecidos os seus saldos positivos. 31

Almanach de Sorocaba, 1902, p. 83.

32

Idem, p. 106-7.

25 33

DADOS ECONÔMICOS Receita 1896 Campo Largo (C) Sorocaba 1902 Campo Largo Sorocaba 1908 Campo Largo Sorocaba 1914 Campo Largo Sorocaba 1920 Campo Largo Sorocaba

Despesas

8:775$280 236:222$233

8:312$041 258:934$892

16:680$140 -

16:680$140 -

7:570$754 998:355$900

7:570$754 994:753$240

10:000$000 335:784$960

10:000$000 351:681$950

28:986$650 496:757$780

28:892$850 485:463$430

Atentando aos Dados Econômicos vemos que, possivelmente, o jornal o Autonomista exagerou no seu levantamento sobre as atividades ligadas ao muar quando indicava 625:000$000 contos de réis. Porém, não foi possível encontrar que taxas municipais essas atividades repassavam aos cofres públicos, por falta de dados nos Arquivos da Prefeitura Municipal de Sorocaba. Fica registrado nosso ceticismo em virtude do valor da Receita do Município para 1896. Provavelmente, se tivéssemos outros levantamentos (mesmo imprecisos como o do Autonomista) para as manufaturas e

33

Dados Gerais do Estado 1890-1938. Publicação do Depto Estadual de Estatística. Paulo, 1939, p. 79. Campo Largo - atual cidade de Araçoiaba da Serra.

São

26

artesanatos, veríamos a diminuição dos valores nas décadas seguintes. Os estudos de ALMEIDA (durante as décadas de 30, 40) o levaram a concluir que apenas uma fábrica de facas, localizada no centro da cidade ainda tinha alguma relação com as Feiras. “... O artesanato de arreios progrediu até tornar-se fábrica (Oliveira e Ferreira & Cia) e depois desapareceu. Sorocaba não tem mais indústrias causadas pela feira.” (ALMEIDA, 1969:276) A última tropa de muares a passar por Sorocaba foi em 1933 34 com destino ao Rio de Janeiro. O surto algodoeiro na cidade que poderia ter dado outro desenvolvimento às atividades manufatureiras, ao contrário facilitou a fixação industrial em Sorocaba, ao menos quanto a matéria prima e capitais. Antes de encerrarmos este capítulo, falemos da primeira tentativa fabril - em 1852, pela importância pioneira na cidade e ainda, no momento histórico em que se encontrava.

34

Sérgio Coelho de Oliveira colheu depoimento de alguns ex-tropeiros, entre eles, Durvalino Coelho de Oliveira que “em...1933 trouxe a última tropa do Rio Grande do Sul para São Paulo... com 350 mulas para entregar ao Serviço de Limpeza Pública do Rio de Janeiro”... conta Durvalino que ...nessa época as Companhias de Cerveja, como a Antártica, também usavam carroções puxados a mula para a distribuição de bebidas em São Paulo. OLIVEIRA, Sérgio Coelho.

O Tropeirismo após as feiras de Sorocaba.

identidade cultural da Região de Sorocaba. 1983, p. 15.

In:__________ T ropeirismo e

Sorocaba : Academia Sorocabana de Letras,

27 IV. A PRIMEIRA EXPERIÊNCIA FABRIL TÊXTIL EM SOROCABA - 1852 A primeira fábrica têxtil montada em Sorocaba acontece em 1852 por iniciativa do agricultor Manoel Lopes de Oliveira. Embora não tenha passado de uma tentativa fabril, a experiência de Oliveira chegou a produzir “300 onças de fio por dia” 35 em 1857 , ainda que não se tenham notícias sobre o período produzido (número de dias) e se foi comercializado ou não. O insucesso da fábrica estaria ligado a não especialização dos escravos que trabalhavam como operários. (ALMEIDA, 1969:236) Porém, é necessário que observemos, não motivos isolados, mas as relações econômicas no âmbito local, pois, naquele momento o centro da economia girava em torno das feiras de muares e nas atividades à ela ligadas. Observando o gráfico 1, vemos que as décadas de 50 a 70 do século XIX marcam o apogeu das feiras. Assim, não era um problema técnico apenas - ainda que ele existisse - mas de lucratividade. “Segundo o depoimento do próprio Manoel Lopes de Oliveira, enviado ao Ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas em 1864, o seu estabelecimento só havia fabricado fio de algodão, pois este dava mais lucro do que se fosse tecido”... “... Para uma vara de algodão fabricada em Minas são necessárias oito onças de algodão e é vendida por 400 rs n’essa corte o que equivale ao preço de 25$000 por arroba entretanto o algodão da 28$ 36 e 29$000” Outro problema enfrentado por Manoel Lopes de Oliveira foi o da matéria-prima, que era o algodão arbóreo*, nativo da terra. Diz ele:

35

CANABRAVA, Alice. O Algodão em São Paulo. 1861-1875. 2 a. ed. São Paulo : TA Queiroz, editor, 1984, p. 278

36

Idem, p. 280. CANABRAVA, idem p. 50.

28

“A qualidade do algodão que outr’ora aqui se cultivava não quis dar mais sem dúvida pela degeneração das sementes e também porque essa cultura estava entregue a pessoas que não indagavam as causas e nem procuravam remediar o mal tão 37 prejudicial a uma cultura de primeira necessidade (...)

Tudo indica que a conjuntura econômica do período, em Sorocaba, limitou o sucesso da fábrica: matéria-prima de baixa qualidade, lucratividade reduzida, mão-de-obra não qualificada e, poderíamos incluir, um restrito mercado consumidor que provavelmente se limitaria aos pobres e escravos. Fica a dúvida se a fábrica de Oliveira atenderia também os tropeiros. Já que as manufaturas estavam estruturadas para atender esse segmento consumidor e a produção alcançada, durante o curto período não parece sugerir uma “concorrência” entre a fábrica e as manufaturas. Na conclusão de Segura: “A exportação oferecia ganhos maiores e Lopes de Oliveira passou a dedicar-se apenas à 38 agricultura.”

37

Idem, p. 280.

*O algodão arbóreo é: “Uma árvore aparentemente selvagem, quase escondida no meio de outras de gênero diferente. Provavelmente...da espécie G. Brasiliense. 38

SEGURA, Ailton J. PIABIRU - uma odisséia T upiniquim, a saga de uma ferrovia. 1990, 1 edição

a.

29 V. A ECONOMIA DO ALGODÃO EM SOROCABA “A importância que o algodão assumirá, junto com o artesanato dele derivado, pode ser perfeitamente percebida no anedotário da época. Como é comum acontecer entre as povoações vizinhas, afloram gratuitas rivalidades. Os de Itu conferem aos sorocabanos o epiteto jocoso de novelos de fio e a resposta não se faz esperar. Os 39 sorocabanos revidam: vocês são mel do tanque!” Pode-se aceitar a “Economia do Algodão” em Sorocaba como um dos fatores responsáveis pela formação de capitais e experiências que possibilitaram a primeira fase da industrialização local, ou seja, no momento de sua implantação nas últimas décadas do século XIX. O algodão arbóreo é considerado nativo no Brasil, tendo sido utilizado pelos índios e depois na confecção de roupas rústicas para escravos e classes pobres do país. Foi também esse tipo de algodão o primeiro utilizado nas roupas e artefatos dos tropeiros, produzidos e comercializados nas Feiras de Sorocaba. As primeiras sementes do algodão tipo herbáceo, de qualidade superior ao nativo, foram plantadas na cidade em 1861, com sementes distribuídas pela Associação para o Suprimento do Algodão de Manchester e “...esta data pode ser tomada como marco inicial da expansão das novas variedades de algodão na província, após o rompimento da Guerra Civil Americana [1860-1865]. A adoção daquela data implica também em reconhecer Sorocaba como o primeiro centro de expansão da cultura do algodão herbáceo na Província de São Paulo.” (CANABRAVA, 1984:53) O algodão será de grande importância para a economia local, porém, devido a “natureza do cultivo”, “...o tipo predominante de produtor foi o do caipira ou lavrador pobre, que cultivava a fibra basicamente com mão-de-obra familiar sem deixar de produzir sua alimentação” (LOUREIRO, 1987:26) 39

CÉSAR, Adilson. op. cit. p. 40.

30

Algumas plantações podem ser considerados em “larga escala”, como a do agricultor Manoel Lopes de Oliveira, que, em 1864, chegou a cultivar quatro alqueires de sementes com uma produção de “...250 arrobas por alqueire nas terras boas e 150 arrobas por alqueire nas terras fracas” (CANABRAVA, 1984:174) Outro agricultor que causou espanto nessa época foi Roberto Dias Baptista que cultivou “sete alqueires” (de sementes na sua fazenda no Salto de Pirapora e ...” na década de 90 sua fazenda foi a preça (sic) e apareceram terras velhas e safáras, campos, tapéras, 40 máquinas ao abandono.. Também o algodão foi dendroclasta” Em conseqüência dos bons preços alcançados pelo algodão no mercado externo, iniciou-se um processo de mecanização com as máquinas de descaroçar algodão. “Possivelmente Sorocaba deve ter sido uma das primeiras cidades do interior da Província de São Paulo a instalar estabelecimento desse gênero” (CANABRAVA, 1984:189) Em 1872 o município já contava com 24 descaroçadores e muitos associados também ao enfardamento. Somente em 1874 é que a Câmara Municipal proibirá essas máquinas na cidade devido ao perigo de incêndio como o ocorrido no estabelecimento de L.M. Maylasky e Cia (Canabrava, 1984:194) Cabe, dentro da economia do algodão local, uma ressalva a Luiz Matheus Maylasky que, conforme CANABRAVA, será o grande incentivador da cultura em Sorocaba.

. LUIZ MATHEUS MAYLASKY: UM MITO A história de Luiz Matheus Maylasky em Sorocaba é marcada por mitificações à sua pessoa e suas ações. A crônica local resgata o cotidiano desse imigrante húngaro, que chegou ao Brasil em 1865, e é povoada de estórias. Assim relata um biógrafo sobre a chegada de Maylasky:

40

GASPAR, Antonio Francisco. Esboços biográficos. São Paulo, p. 116.

Vultos Fundadores da Estrada de Ferro Sorocabana -

Composto e impresso nas oficinas da Editora Cupolo Ltda, 1958,

31

“Em São Paulo, segundo tradição oral, foi acolhido pelos de São Bento. Queria trabalho. Exerceu ali as atividades de copeiro. E, também aprendeu as primeiras regras da gramática portuguesa entesourando na memória feliz os primeiros vocábulos. Ainda, nesse ano, fins de agosto e setembro, ouviu a palavra Sorocaba, cidade das feiras e entreposto comercial de grande movimento... foi a Pinheiros, oferecendo-se para ir auxiliando os arreios e peões...andou perambulando pela cidade, sem saber o que fazer, pois ninguém o conhecia...não lhe davam atenção. ...após de uma noite passada ao relento, passou ele, pelo largo de São 41 Bento...teve uma idéia: bater a porta do mosteiro.”

Em outra crônica temos uma “versão um pouco diferente” da chegada de Maylasky: “Nascido na cidade de Kassa, Hungria, a 21 de agosto de 1838 foi oficial engenheiro de artilharia em sua pátria. Em 1865 veio para o Brasil. Recomendado ao superior do convento de São Bento, do Rio de Janeiro, e, não o encontrando na Capital Federal, pois o mesmo se achava em Sorocaba naquela ocasião, para aqui veio afim de entregar suas credenciais, chegando em Sorocaba causou tão boa impressão ao reitor do convento, que este resolveu ajuda-lo. ...Iniciou sua atividade plantando algodão nas terras pertencentes aos Frades de São Bento...Pioneiro da exportação da fibra nacional, enviando amostras de algodão para a Inglaterra, recebeu, com surpresa, uma grande encomenda do produto, à vista de sua 42 excelente qualidade.” A tradição oral ainda conservou o apelido como era conhecido Maylasky: o “estrangeiro misterioso”. Pois fazia questão de não revelar à população sua verdadeira nacionalidade. O “estrangeiro misterioso” possivelmente tenha imigrado juntamente com outros engenheiros e técnicos europeus que buscavam trabalho devido as transformações que se operavam na

41

GASPAR, Antonio F.

Bodas de Brilhantes.

colaboração de Antonio Francisco Gaspar em

homenagem ao Progresso e grandeza da E.F. Sorocabana, no seu 75 o. aniversário da Entrega do tráfego ao Público do trecho São Paulo a Sorocaba em 1875” - composto e impresso nas oficinas gráficas da Ed. Cupolo Ltda, São Paulo, 1950, p. 35. 42

GASPAR, Antonio F. Vultos Fundadores, op. cit. p. 114-16.

43

32

indústria e no próprio capitalismo onde, “...depois de 1870, o recrutamento de trabalhadores especializados ingleses foi facilitado pela depressão e a concorrência na indústria têxtil européia”...(STEIN, 1979:65) Porém, Maylasky ao chegar não irá se ocupar como técnico e nem no comércio nas feiras de muares. O algodão interessou mais ao “Estrangeiro Misterioso”. A “surpresa”, conforme sugere GASPAR, possivelmente não tenha “surpreendido” tanto a Maylasky que tinha conhecimento da falta do produto nos mercados ingleses, abalado com a Guerra Civil Americana. Podemos afirmar que também conhecia os mecanismos de exportação, pois, um ano após sua chegada em Sorocaba, anunciava no jornal local: “156b - Rua da Penha - 156. Participa aos senhores lavradores e a todos aqueles que quizerem machinas de descaroçar algodão, ou de qualquer espécie de vapores (locomóvel) feitos nos Estados Unidos e Inglaterra, dirijam-se ao anunciante que achando-se relacionado com os proprietários das melhores fábricas da América e da Europa, está autorizando a receber todas as encomendas para qualquer ponto... ...Recebe igualmente algodão enfardado para remeter a Santos, Rio de Janeiro e Europa afim de ser vendido por conta dos donos, e adianta algum dinheiro por conta do

43

O companheiro de viagem de Maylasky foi outro engenheiro, Herrmann Von Puttkammer. GASPAR, Bodas de Brilhantes. p. 36.

33

algodão que receber mediante um prêmio 44 módico e razoável.

Analisando o anúncio, com base nos registros históricos de Sorocaba, temos que na verdade Maylasky estava mais interessado no algodão do que nas máquinas. Não se tem notícias ou dados que comprovem a venda de máquinas. Quanto ao adiantamento sobre a produção, Maylasky realmente o fez, assim como certa “ajuda técnica” sobre a maneira de plantar, cuidar e colher o algodão (CANABRAVA, 1984:XIII) A partir de 1867, Maylasky “estabeleceu-se com um grande armazém... comprava algodão e depois de o beneficiar o remetia 45 para os centros industriais e para o estrangeiro.” Contudo, o fim da Guerra Civil Americana traz o restabelecimento da produção do algodão naquele país e, consequentemente, a volta do produto no mercado europeu. A queda dos preços do algodão no mercado internacional atinge a produção sorocabana marcada por pequenos agricultores que passam a cultivar outros produtos de venda imediata no comércio local. Em 1874 as encomendas da Luís Maylasky & Cia com a Petropolitana no Rio de Janeiro, não puderam ser remetidas pela insuficiência do produto. (STEIN, 1979:59) O fato atesta que a base da produção local, que eram os pequenos proprietários, havia diminuído ou mesmo abandonado o algodão com a queda dos preços no mercado internacional. Em 1880, Maylasky deixa a cidade rumo a Mogy-Mirim. Anos antes inicia e conclui seu principal empreendimento: a Estrada de Ferro Sorocabana.

44

ALMEIDA, Aluísio.

Luiz Matheus Maylasky (Visconde de Sapucahy).

Sorocaba (1865-1880). São Paulo, 1938, p. 28 45

GASPAR, Antonio F. Bodas de Brilhantes. op. cit, p. 32.

Tomo I Maylasky em

. A “ESTRADA DO ALGODÃO”

34

Consta da biografia de Maylasky que a ferrovia ligando Sorocaba a São Paulo foi criada a partir da negativa da Cia Ituana de construir um ramal que ligasse Itú a Sorocaba, em 1869. De maneira um tanto folclórica assim descreve GASPAR a fundação da ferrovia: “Foi num dêsses festivos e atraentes domingos d’antanho, em 1869, quando se discutia em levar à efeito a formação de uma Companhia com o fim de ligar Sorocaba a Capital por via férrea que...alguns capitalistas sorocabanos...entre os quais segundo a tradição oral, notavam-se Antônio Lopes de Oliveira, Roberto Dias Batista, Vicente Euphrásio da Silva Abreu, Olivério Pilar, Ubaldino do Amaral e outros, discutiam êles, sobre as vantagens de uma linha férrea. Maylasky, com sua calma habitual, meteu os dedos no bôlso do colete, dêle tirou uma moeda de quarenta réis que no momento veio-lhe a mão e exclamou entre os amigos: “Aqui está o meu capital subscrito!...Para a formação da Companhia Sorocabana, é êste dinheiro que subscrevo com satisfação, além 46 das propriedades que possuo” Na verdade, a Sorocabana surgiu em função de uma dissidência de interesses entre grupos econômicos locais, que alijados de um ramal ferroviário que ligasse Sorocaba a Itu e Jundiaí e consequentemente ao Porto através da Santos-Jundiaí, desenvolveram esforços para a construção de uma ferrovia que atendesse aqueles interesses. A idéia era chegar ao porto de Santos, viabilizar uma economia de exportação e garantir o mercado inglês ressentido da falta do algodão por causa da guerra civil americana. Vê-se que não há nada de folclórico na iniciativa de Maylasky e seus companheiros. Naquele momento estava em jogo uma soma considerável de lucros criada pelo comércio do algodão, que era necessário se manter. A ferrovia, além dos lucros de sua exploração, deveria servir como uma forma de incentivo para que os agricultores continuassem produzindo algodão. 46

GASPAR, Antonio F. Bodas de Brilhante. op. cit. p. 45.

35

Mas, as idéias da burguesia local não deram muito certo, ao menos nos primeiros anos. Conforme relata Almeida:

“Os efeitos da via férrea sobre o comércio e indústria de Sorocaba não foram imediatos. Percebeu isso o arguto comerciante e levantou tenda” 47 (sic) O “arguto comerciante” a que se refere é Maylasky que em 1880 deixa a presidência da Estrada de Ferro Sorocabana e se muda para Mogy-Mirim. As dificuldades da Estrada de Ferro eram grandes. Em 1876 já havia projeto da Estrada de Ferro Sorocabana ser encampada pela Cia Ituana. Havia até mesmo uma proposta de “...arrancar os trilhos da Estrada...um tal procedimento provaria de nossa parte muito critério e bom 48 senso.” Com a saída de Maylasky, assume a presidência Francisco de Paula Mayrink, permanecendo nela por treze anos. Afirma em Relatório à Assembléia Geral dos Accionistas de 1.893, seu parecer sobre a situação de 1880 quando tomou a frente da Estrada de Ferro: “Era em 1.880 quando a atual Diretoria tomou conta de sua direção, paupérrima e desacreditada, coberta de dívidas, das quaes uma delas, a de ouro, contraída para regularizar contas pouco ou nada claras entre o presidente de então Luiz Matheus Maylasky e o 49 extinto Banco Alemão”

47

ALMEIDA, Aluísio. Luiz Matheus Maylasky, op. cit. p. 141.

48

Discursos proferidos na Assembléia Provincial pelo sr. Dr. Ignácio W allace da Gama Cockrane por ocasião de discutir-se o projeto de encampação - linhas férreas Ituana e Sorocabana (1876) São Paulo. São Paulo : Typografia do Diário, 1876, p. 7. (Ignácio W . da Gama Cockrane - deputado provincial nas legislaturas de 1870 a 1871, 1874 a 1879, era engenheiro com participação na SP Raylway, E F do Estado de São Paulo conforme Dicionário de História de São Paulo, p. 140).

49

Relatório apresentado à Assembléia Geral dos Acionistas da Cia União Sorocabana e Ituana na sua reunião ordinária em 18 de março de 1893 pela sua diretoria Francisco de Paula Mayrink e Visconde do Socorro - Cia Impressora Rio de Janeiro, 1893, p. 10

36

A fusão da Cia Ituana com a Cia Sorocabana deu-se em 20 de fevereiro de 1892, como forma de resolver questões de tarifas nas proximidades de Botucatu e de prolongamentos. “Para cabalmente realisar o seu desideratum fez a nova empresa a ligação de São Manoel a Botucatu. Tomou Porto Martins...Em Mayrink ligou a Sorocabana a Ituana... Para realizar todas essas construcções teve a Empresa que fazer grandes empréstimos que acarretaram juros superiores a sua renda, resultando a sua falência. Foi então que o governo federal chamou a si a responsabilidade das debentures emitidas, começando a explorar a estrada. Posteriormente, o Estado de São Paulo, de acordo com o governo da União, passou a gerir a Sorocabana, cedendo finalmente a 50 Sorocabana Railway Company, mediante arrendamento.” o.

No Annexo n 15 do Relatório de 1893 da União Sorocabana e Ituana encontramos entre os maiores acionistas Francisco de Paula Mayrink com 33.481 ações e Luiz Matheus Maylasky ainda 51 aparece com apenas 41 ações. Pode-se inferir que a “ferrovia do Algodão” idealizada por Maylasky, em seu começo, não teve muita tranqüilidade econômica e somente com Mayrink é que, na segunda década de existência, pode deslanchar. Como já dissemos, Maylasky deixa a cidade em 1880 e sabese que em Mogy Mirim “...fundou com capitais franceses, a Estrada 52 de Ferro de “Sapucahy”

. UM POUCO MAIS SOBRE A “ECONOMIA DO ALGODÃO” EM SOROCABA Apesar de todas as dificuldades que a produção do algodão atravessava: a volta dos EUA como fornecedor, o cultivo no Egito, a 50

CESAR, F. Camargo. A Sorocabana Railway Company. In:__________ Almanach Ilustrado de Sorocaba (repositório histórico, literário e recreativo com illustrações). Anno I - Editado pela Typografia W erneck - Sorocaba, 1914, p. 256-7).

51

Relatório apresentado à .... p. 4 e 6 do Annexo n o. 15. Lista dos Srs. Accionistas da Cia União Sorocabana e Ituana em 12 de janeiro de 1893.

52

GASPAR, Antonio F. Bodas de Brilhantes. op. cit. p. 27.

37

baixa dos preços no mercado internacional, Sorocaba continuou produzindo algodão. A primeira indústria têxtil - com êxito - usará apenas o algodão da região de Sorocaba. Afirma Godoy que, com o término da guerra civil americana”... surgiu em Sorocaba, Itu e outros centros de produção da fibra a consciência de que não havia outra saída para a crise a não ser 53 transformar o algodão em pano e vendê-lo no mercado interno” Nossa opinião é de que esta “consciência”, apontada por GODOY, tem alguns inconvenientes para podermos entender como se fixaram as indústrias têxteis na cidade a partir da década de 80. O primeiro dos inconvenientes é sugerir uma generalização onde todos os envolvidos com o algodão (produtores, beneficiadores, comerciantes) tenham se tornado industriais. Fato que não ocorreu. Vale lembrar que algumas vezes produtor, beneficiador, comerciante eram a mesma pessoa, é o caso de Maylasky, porém, 54 que não chegou a ser industrial. Ainda que se considere o caso de Manoel José da Fonseca, comerciante de tecidos e algodão (foi sócio de Maylasky), depois a. fundador da 1 indústria em 1881, um caso isolado não justifica a generalização. Um outro inconveniente é a natureza da plantação do algodão: na grande maioria uma plantação em pequena escala, ...”o tipo predominante do produtor foi o do caipira ou lavrador pobre, que cultivava a fibra basicamente com mão-de-obra familiar, sem deixar de produzir sua alimentação”. (LOUREIRO, 1987:26) Daí não terem condições de investimentos no setor fabril. Mesmos os - considerados - “grandes” produtores de algodão em Sorocaba, como Roberto Dias Batista citado anteriormente,”... na década de 90 sua fazenda foi a preça (sic) e apareceram terras velhas e safáras, campos, tapéras, máquinas ao abandono...

53

GODOY, Antonio Carlos.

Votorantim - Estudo sobre a formação da empresa industrial no

Brasil. Dissertação de Mestrado USP/DCS, 1975, p. 1 54

Para esta fábrica que não se concretizou, Luiz Matheus Maylasky chegou a comprar em Campos - RJ o maquinário em 1868 formando com outros sorocabanos uma sociedade por ações. Citado por CANABRAVA, op. cit. p. 284.

55

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também o algodão foi dendroclasta” . Assim como Maylasky, não tornou-se industrial. Como se vê, a generalização sobre “transformar algodão em pano” não confere empiricamente. O que podemos depreender da importância do algodão para a acumulação de capitais e experiências é que a “...pequena produção mercantil serviu de instrumento de acumulação para o capital comercial dominante.” (LOUREIRO, 1987:54) Os “adiantamentos” que Maylasky oferecia serviam para, cada vez mais, subordinar o pequeno produtor de algodão aos comerciantes. A economia mercantil sorocabana “expande-se”, de um mercado interno (nacional) com os negócios nas feiras de muares, para a exportação do algodão, conseguindo assim, a ascendência de uma burguesia comercial ou mesmo agrário-comercial que não havia se destacado anteriormente dentro do tropeirismo. O comércio de algodão altera a forma de acumulação de capitais dominado pelas feiras. Entra na divisão internacional do trabalho, como fornecedora de um produto agrícola. O outro lado dessa nova forma de acumulação, foi, de certa maneira, um “atraso” das forças produtivas que o artesanato e a manufatura possibilitavam, ainda que de maneira frágil. Como salienta Silva: “A preponderância do capital comercial é, em primeiro lugar, o resultado do desenvolvimento ainda fraco das 56 relações de produção capitalistas no Brasil.” Não estamos, com isso, querendo propor uma “mecanização” dos modos de produção, na clássica seqüência artesanato => manufatura => indústria, pois, como alerta Martins: “É fácil explicar a origem e o desenvolvimento da indústria destacando apenas aquilo que repete o já ocorrido nos países industrializados e que são 57 elementos de sua universalidade”

55

GASPAR, Antonio F. Vultos fundadores... op. cit. p. 64.

56

SILVA, Sérgio.

Expansão cafeeira e origens da indústria no Brasil.

Alfa-Omega, 7 o. ed.,

1986, p. 55 57

MARTINS, José de Souza. Subúrbio. Vida Cotidiana e História na cidade de São Paulo: São Caetano do Império ao fim da República Velha. São Paulo : Hucitec, 1992, p. 8.

39

Em Sorocaba, os modos de produção ocorrem ao mesmo tempo, diversos momentos históricos num mesmo lugar e consequentemente, várias técnicas de trabalho juntas. O que vemos no decorrer da economia local é que “a economia industrial surgiu no contexto de relações mercantis em 58 dissolução” Realmente, no caso de Sorocaba, as feiras já não geravam tantos lucros, o algodão tentava manter-se com a ajuda do capital comercial, a manufatura e o artesanato, possivelmente em conseqüência das feiras, também decaíram. Os anos 80 apresentam um novo quadro econômico em Sorocaba, o processo de industrialização já estava em curso. “O processo de industrialização em qualquer região supõe, como pré-requisito, a existência de certo grau de desenvolvimento capitalista e, ...supõe a preexistência de uma economia mercantil e correlatamente implica um grau relativamente desenvolvido da divisão social do trabalho. Este último processo...resulta na formação de um mercado especial, o da força de trabalho... Contudo, estes pré-requisitos são criados pela organização 59 capitalista que antecede a produção propriamente industrial”

. ALINHAVOS NECESSÁRIOS 58

MARTINS, José de Souza.

Conde Matarazzo o empresário e a empresa.

São Paulo :

Hucitec, 1976, p. 6. 59

MELO, João Manuel C. de. O Capitalismo Tardio. 8 a. ed.

São Paulo : Brasiliense, 1991, p. 99.

Citação do livro Condições Sociais da industrialização: o caso de São Paulo. __________ Mudanças sociais na América Latina. Ed. Difel, 1969, p. 188-9.

In:

40

Antes de prosseguirmos para a construção da cidade industrial, devemos nos deter sobre o significado do comércio das feiras e da economia do algodão para Sorocaba. A economia da cidade ligada às feiras não possibilitou que a acumulação de capitais fosse revertida em outras atividades, ou mesmo não existia interesse por parte dos donos de tropas, 60 preferindo estes investir em terras. O próprio caráter de mercado interno constitui uma particularidade local, já que à metrópole portuguesa e depois à coroa brasileira interessava mais a agricultura exportadora. Ainda que os impostos cobrados no Registro de Sorocaba fossem uma fonte de renda considerável ao governo. Caso possamos falar em “Acumulação Primitiva do Capital”, ela estaria no que chamamos de Economia do Algodão. Afirma Marx que “... a chamada acumulação primitiva é apenas o processo histórico que dissocia o trabalhador dos meios de produção. É considerada primitiva porque constitui a pré-história do capital e do 61 modo de produção capitalista.” Tentamos demonstrar através dos primeiros textos como a economia local, articulada com a paulista e nacional no mínimo, vai transformando-se. O declínio do comércio muar tem ligação com a solução para o transporte nas áreas cafeeiras principalmente as ferrovias a partir de 1865. Nesse mesmo período um acontecimento externo - a Guerra Civil Americana - possibilita a economia local tomar novos rumos, agora visando o mercado exterior com o algodão colocada na Inglaterra. Foi uma mudança importante pois trouxe o início da mecanização com os descaroçadores de algodão, e também “separou” uma classe social proprietária das máquinas - e da tecnologia - mas principalmente detentora do capital, implicando novas relações sociais na cidade. Fazendo uma analogia com CHÂTELET quando fala da manufatura, “...não é um simples produto 60

DELGADO, Aurélio. O tropeirismo e a dinâmica sócio-econômica em São Paulo no Século XVIII (mimeo, Sorocaba, 1991, p. 3, transcrição da conferência proferida pelo autor, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Sorocaba a 25/05/88. Não revisto pelo autor).

61

MARX, Karl. O Capital. livro 1, Vol. II. Brasil : Bertrand, Rio de Janeiro, 1988, p. 830.

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de um novo modo de produção”, mas ... resulta de uma operação de poder, concertado, por um grupo social, que captou a 62 oportunidade e que na impôs. Realmente, uma classe percebeu a possibilidade de transformar e ampliar seus capitais e se impôs. Ainda que nesta “Acumulação Primitiva do Capital” não tenha ocorrido a expropriação do pequeno produtor, ao contrário, o capital comercial assistia o pequeno produtor se utilizando de formas consideradas pré-capitalistas, como foi o caso dos adiantamentos pela produção do algodão, o que pode ser considerado particularidade do capitalismo nacional. Mesmo quando afirmamos com SILVA o fraco desenvolvimento das relações de produção capitalistas no Brasil em 63 conseqüência do capital comercial temos consciência de que seria difícil, em Sorocaba, se repetir o modelo europeu de acumulação e da seqüência de modos de produção, pelas próprias características 64 da economia brasileira em que estava naturalmente inserida a cidade. Na interpretação de MARTINS: “... O processo básico de acumulação primitiva, que leva à separação do trabalhador de seus meios de produção, resultando na sua transformação em homem livre sem outro recurso que não seja a venda da sua força de trabalho no mercado, ocorreu fora da 65 sociedade brasileira. Ou seja, a separação deu-se nos países de origem dos imigrantes que aqui vieram para trabalhar diretamente na indústria. Mas, a contradição e o antagonismo entre as classes sociais manifesta-se em cada cidade de forma própria: exatamente na 62

CHÂTELET, François. O Capital (Livro 1). Análise Crítica. Universidade de Paris VIII. Hatier Paris, 1955 - Tradução Edmundo Fernandes Dias. IFCH : UNICAMP, 1991, p. 105.

63

Conforme nota 18 de A economia do algodão em Sorocaba.

64

Sobre essas características podemos lembrar sobre o “Capitalismo Tardio” brasileiro e latinoamericano, que se estrutura quando “a economia mundial já está consolidada”, conforme MELLO, op. cit. Ainda sobre a especificidade da economia brasileira ver as obras de MARTINS, CANO, SILVA, p. ex. na bibliografia deste trabalho.

65

MARTINS. O cativeiro... op. cit. p. 118.

66

42

construção de seu espaço. No significado que dá ao seu lugar, mesmo que possamos - e podemos - encontrar e fazer generalidades sobre cidades industriais, vilas operárias, ruas, etc.. o. Só que, na casa n 05 da Vila Santa Maria moravam operários únicos, de uma casa e vila única, de Sorocaba! Estes esclarecimentos alinhavam a primeira com a segunda parte do trabalho, justificando a diferença de estilos entre uma e outra. A primeira mais descritiva e histórica e a segunda mais “literária”, por exigência do próprio conteúdo.

66

Conforme PIGNATARI “...O significado é o uso”...ou ... “O significado é uma relação entre o interpretante do receptor. PIGNATARI, Décio. p. 30-3

Informação. Linguagem. Comunicação.

São Paulo : Perspectiva, s.d.,

43 VI. A CONSTRUÇÃO DA CIDADE INDUSTRIAL As fotos registram o momento, vários “presentes” num duplo sentido: de presença e de tempo. O momento registrado na fotografia perde sua realidade, como num documentário gravado e repassado anos a fio. Já não é mais o real e sim, o virtual. Uma abstração. Agora, também nossa.\ “Desde logo, devemos admitir “o espaço enquanto natureza em si”, como existência objetiva anterior ao homem, manifestação de formas de materialidade inorgânica e orgânica. Engendrado numa história natural, onde as transformações ocorrem sem a impulsão finalística. ... Em termos lógicos e históricos, admitimos que é nesta realidade que se forma o ser social, forma mais elevada da materialidade. Este transforma teleologicamente (com finalidade) o mundo externo através do seu trabalho. Apropria e transforma o espaço natural, imprimindo-lhe sua marca... O apropriar-se de espaço concreto implica a elaboração de categorias lógicas sobre o espaço... Mediatizada pelo processo histórico de instalação da humanidade sobre o globo, a apreensão do espaço se faz calcada na apropriação, este é posto como categoria histórico-concreta, remetendo a um ser em movimento. O ser já não é uma “natureza em si” mas uma natureza para o homem e cada vez mais um trabalho do homem” (MORAES, 1979:36). Posta a concretude do espaço como natureza apropriada e transformada via trabalho pelo homem, devemos verificar como Sorocaba foi sendo apropriada e transformada nesses momentos diferentes (tropeiro, algodão, indústria) citados anteriormente. “O espaço deve ser considerado como uma totalidade, a exemplo da própria sociedade que lhe dá vida” (SANTOS, 1988:5). Ao mesmo tempo a cidade será totalidade - enquanto objeto empírico - e fragmento de um espaço maior nacional e mesmo internacional: “...

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as cidades são partes de um sistema econômico e social total que não é somente nacional mas igualmente internacional” (SANTOS, 1990:122) Atentando para o Mapa do primeiro arruamento de Sorocaba de 1661 e a planta da cidade de 1842, portanto 181 anos depois e dois momentos econômicos de relevância para a cidade, o bandeirantismo e o tropeirismo, vemos a ampliação. Já cidade, motivada pelo segundo momento econômico. Ampliação necessária para passagem dos animais, principalmente.

O gráfico 1 mostra o número de animais que passaram por Sorocaba onde observamos que na elevação da Vila de Sorocaba à categoria de cidade em 1842 o número de animais girava em torno 67 de 50.000 animais.

67

os números levantados por ALMEIDA não são exatos, mas em um levantamento parcial que fizemos

no Arquivo do Estado do Livro de Barreiras para 1826 pudemos constatar que a

aproximação desse autor não deve estar muito incorreta. Deve-se ainda acrescentar que um levantamento minucioso demandaria muitos anos e uma grande equipe para cobrir quase 130 anos da existência do registro (1750-1889) considerando que os livros são diários.

45

Um desenho de 1831 mostra a Vila de Sorocaba (IRMÃO 1992:15) com certa aglomeração de casas no centro da cidade e casas espalhadas, ou no dizer de Martim Francisco, a vila “...não tinha regularidade alguma...”, não tendo ainda ruas “...porque as casas estão aqui e acolá” (1808) e Saint Hilare (1820) a “vila emprestava à paisagem (de matos e campos) uma perspectiva encantadora, embora em seu conjunto, fosse de má aparência: de ruas sem calçamento, com profundos buracos aos lados, com casas, de ordinário, pequenas, poucas com um andar, cobertas de telhas, de terra socada, com amplos quintais de laranjeiras e bananeiras...sendo a cidade de má aparência no seu conjunto” (IRMÃO, 1922:14)

46

Na ilustração publicada em 1863 no livro de MEDEIROS, Curiosidades Brasileiras, e datada de 1850, aparece uma tropa atravessando o Rio Sorocaba (conforme ALMEIDA, para não estragar a ponte. 1981:50) A iconografia ainda mostra o centro da cidade (na colina a direita) e o caminho para São Paulo (atual Avenida São Paulo, a esquerda). Foi preocupação do ilustrador apenas a passagem da tropa e não o centro da vila, o que é plausível, pois o Registro de Animais, era uma fonte de renda para o município e, portanto, importante na cidade.

47

Conforme a “Lista Nominal”, em 1846 a cidade contava com 14 ruas: “Rua da Contagem (atual Rampa ao lado da Ponte Francisco Delloso) Rua do Comércio (atual Rua Souza Pereira) Rua da Ponte (atual Rua XV de Novembro) Rua de São Bento ( manteve a mesma denominação) Rua da Boa Vista (atual Rua Nogueira Martins) Rua do Rozário (atuais Rua Padre Luiz e Rua Santa Clara) Rua da Constituição (atual Rua Coronel Cavalheiros) Rua da Santa Cruz (manteve a mesma denominação) Rua da Cadêa (atual Rua Barão do Rio Branco) Rua das Flores (atual Rua Monsenhor João Soares) Rua do Espital (atual Rua Álvaro Soares) Rua do Supiriri (atual Rua Comendador Oeterer) Rua de Santa Clara (manteve a mesma denominação) 68 Rua da Penha (manteve a mesma denominação)” Porém, nos estudos de ALMEIDA, encontramos relacionadas, além das citadas acima, outras ruas e algumas dessas desmembradas: “Rua Atras de São Bento (atual Rua Cesário Mota) Rua do Pinheiro, nova a sair da Penha (atual Rua Professor Toledo)

68

Lista Nominal dos Habitantes Livres do distrito desta cidade de Sorocaba - 1846 “LATA” 174 Arquivo do Estado de São Paulo.

48

Rua do Rocio da Penha até a Vossoroca (atual Rua Sete de Setembro) Rua de Santo Antonio até o rio grande (a mesma do hospital) Rua do Supiriri de cima (atual fim da Rua Padre Luiz) Rua do Supiriri do meio (atual Rua Comendador Oeterer) Rua do Supiriri para o hospital (atual D. Antonio Alvarenga) Rua da Amargura (atual Rua José Bonifácio) Travessa da Direita do hospital (atual Rua Anita Garibaldi) Travessa da Matriz a Santo Antonio (atual Rua Cel. Benedito Pires) Rua do Portão ou dos Morros (atual Rua Cel. Nogueira Padilha) Rua do Além Ponte (atual Avenida São Paulo) Travessa da Boa Vista ao Curral do conselho (atual Rua Ubaldino do 69 Amaral) Assim, das 14 ruas apontadas na “Lista Nominal” passamos a 24 ruas quando somadas às citadas por ALMEIDA. Também em relação aos bairros, a “Lista Nominal” aponta 23 bairros mas relaciona 28 bairros, mais a Freguesia de Campo Largo (atual Aracoiaba da Serra): “Bairro da Aparecidinha (ainda pertencente a Sorocaba) Bairro do Ipiranga (atualmente perto da Zona Industrial no Éden) Bairro do Piragibú (atual Distrito do Éden) Bairro de Nhuaúva (bairro pertencentes ao Distrito de Brigadeiro Tobias) Bairrodo Passa Tres (atual Distrito de Brigadeiro Tobias) Bairro da Boa Vista (bairro onde está localizada a Pref. Municipal de Sorocaba) Bairro da Caputera e Morros (final da Rua Nogueira Padilha) Bairro do Rio Acima, Pereatuba e Itapeva (pertencentes a cidade de Votorantim) Bairro de Pirapora Acima (atual Salto de Pirapora) Bairro de Pirapora do meio (idem) Bairro de Piedade (atual cidade de Piedade) Bairrode Lavras Velha Bairrodo Rocio da Penha (possivelmente um bairro da cidade de Votorantim) Bairro de Vossoroca e Lavras Velha e Iacarupava (idem) Bairro de Nhambiru (bairro da atual cidade de Salto de Pirapora) 69

ALMEIDA, História de Sorocaba op. cit. Pag 228, 229

49

Bairro de Salto e Sarapohi e Sarapohi do meio (atuais cidades Salto de Pirapora e Sarapuí) Baierro de Terra Vermelha (atual Bairro de Vila Angélica em Sorocaba) Bairro do Itangoa (manteve o mesmo nome) Bairro do Caguaçu (manteve o mesmo nome) 70 Bairro do Itavovu, Jundiacanga, Jundiaquara e Utinga” Muitos bairros arrolados na Lista Nominal para 1846 fazem parte hoje de outras cidades. No ano de 1957, Piedade, Salto e Campo Largo emanciparam-se de Sorocaba, assim os bairros citados nesses lugares passaram a nova administração. As ruas apontadas pela Lista Nominal são todas centrais (Ver Mapa pag.45, Sor. 1842) e muito provavelmente não existissem ruas nos bairros mas apenas caminhos ligando os sítios. A população até 01/12/1847 estava dividida Homens = 3.549 Mulheres = 4.570 Total = 8.119 distribuida em 2023 fogos (casas), sendo que desse total apenas 20 71 eram eleitores . Devemos lembrar que a população considera eram os livres de TODO município, na cidade provavelmente residissem em torno de 2.500 pessoas. Um outro dado estatístico aponta para 1.839 os seguintes números de habitantes (sem Campo Largo): “Na vila 3.428 nos bairros 8.053 72 total 11.481 Afirma GOULART que “Sorocaba como que existia em função das feiras. A indústria mais florescente era a dos objetos necessários aos condutores de muares... A hierarquia economicofinanceira existente na cidade tinha como ápice os alquiladores... em seguida os hoteleiros... por último os artesãos, que trabalhavam sobretudo o couro.” (GOULART, 1961:160) 70

Lista Nominal... op. cit. Arquivo do Estado de São Paulo

71

Lista Nominal... op. cit. Arquivo do Estado de São Paulo

72

ALMEIDA, História de Sorocaba, op. cit. pag. 137 Como as fontes consultadas não coincidem - os números citados por ALMEIDA para 1839 são maiores que os números de 1847 da “Lista Nominal” - nossa afirmação de 2.500 pessoas na cidade acompanhou esse diferença de 30% entre uma e outra fonte.)

50

Adiante conclui que o fim das feiras de muares está relacionada a cultura do algodão no local, e ainda,...” iniciou-se a decadência da indústria açucareira e da aguardente, as minas deram sinal de esgotamento”. (Idem, idem) E mais do que tudo isso o trem de ferro deu o golpe mortal nas tropas e acabou com as estradas de burros. (Idem, idem) Tudo isso teve influência enorme na vida de Sorocaba trazendo decadência e ruína para aquela cidade. As ricas habitações foram abandonadas o mato invadiu as ruas; as hospedarias fecharam as portas. Hoje industrializada, Sorocaba é sede de um dos mais importantes municípios do Estado de São Paulo. (Idem pág 162, grifo nosso) Discordamos da conclusão do autor, pois conforme já demonstramos anteriormente quando tratamos das manufaturas, é difícil falar em decadência pelos valores de 1897 (ver pág. 19) e conforme o Almanach de Sorocaba para 1902 os valores das manufaturas mantinham - se (idem, idem). Parece-nos meio precipitada a conclusão quanto a Estrada de Ferro como “golpe mortal nas tropas” também. Em relação ao estado de abandono citado por GOULART, a situação não se mostra tão caótica quando examinamos mais detalhadamente a cidade. A cidade cresceu, ruas foram ampliadas e abertas, o estatuto de cidade veio em 1842 em decorrência do comércio de muares nas feiras sorocabanas, a manufatura desenvolveu-se, uma fábrica de chapéus fundada em 1852 e outra em 1870, além do comércio de algodão desde 1870. Tudo seria abandonado com o fim das feiras de muares? O provável ano de “ruína para aquela cidade” é 1875 com a inauguração da ferrovia. Já apresentamos a ferrovia e seus objetivos anteriormente e vimos que até 1880 a mesma não apresentou os resultados esperados pela burguesia que a idealizou. Um outro detalhe importante é que a última edição da feira de muares de Sorocaba foi em 1897 e não 1875, portanto vinte anos após a inauguração da ferrovia. Atentando para o gráfico 1 vemos que a partir de 1860 o número de animais passando pela cidade decaí de 100 (1855-60) para 20 mil (1975-1900) mostrando sinais da decadência independente da inauguração da ferrovia na cidade.

Conta a historiografia sorocabana que motivo para o fim das feiras de muares foi o surto de febre amarela em 1897:

51

No mês de março de 1897 um caxeiro-viajante da firma Santos Neves estabelecida á Rua do hospital (atual Álvaro Soares), por nome Lameira chegou de São Carlos, enfermado logo de febre violenta, “com todos os sintomas que caracterizam a epidemia que lavra no Oeste do Estado”... Seis dias depois teve alta o Sr. Lameira,, mas o vírus da febre já havia invadido a cidade. Estava a feira anual de animais em seu auge. Foram vendidas cerca de 30.000 (sic) bestas em abril. Mas os negociantes trataram de escapar-se... Foi a última feira de animais em Sorocaba... Os dois surtos de febre amarela - 1897 e 1889 - segundo os analistas, constituiram -se nos dois primeiros golpes a contribuir para o desaceleramento do rítmo alucinante de progresso que envolvia a 73 cidade. E continua sua descrição sobre a cidade diante do surto de febre amarela: “Sorocaba havia se transformado num deserto...Os seus moradores haviam tomado o caminho dos sítios mais distantes e também da Aparecida (bairro da Aparecidinha) tão próxima e tão livre do contágio. A maioria dos retirantes povoo Ipanema por haver ali mais casas, trens e telégrafos”. As pessoas de mais posse transferiram-se para São Paulo até que fosse debelada a peste que grassava a cidade. Nesses dias de maio, Sorocaba não fez outra coisa senão cuidar dos seus doentes e enterrar seus mortos... No dia 31 de maio, o surto epidêmico havia passado, deixado 74 sobre a cidade uma aura de suspeita.” Provavelmente a epidemia ou surto de febre amarela tenha contribuido para o fim das feiras de muares naquele ano e 73

OLIVEIRA, São Paulo de Sorocaba, op. Cit. Pag. 21

74

idem, pág. 22

52

posteriores, mas não é o único motivo e nem o principal. Toda a economia estadual e mesmo nacional estava alterando sua forma de acumulação desde a década de setenta XVIII entrando definitivamente para um modelo de acumulação capitalista. O próprio Oliveira mais adiante no artigo, afirma que... “Sorocaba volta a sua vida normal e em 16 de outubro (1897) está em festas para inaugurar a sua primeira fábrica de calçados a vapor, enquanto que Votorantim começa a funcionar um estabelecimento para extração e 75 preparação de mármores das caieiras de Itupararanga.” Assim, a cidade em 1897 e anteriormente, não poderia estar “tão decadente” como sugere GOULART, do contrário não haveria motivo para investimentos, como a fábrica de calçados e a marmoraria da Votorantim. Em relação ao fim das feiras motivado pelo surto ou epidemia de febre amarela devemos alertar que, nesse ano de 1897, a cidade contava com 5 fábricas texteis e as várias manufaturas. Portanto, a direção da economia tomara outro rumo aproveitando--se da matéria prima local - o algodão - e a mão de obra feminina, infantil e posteriormente imigrante sendo, conforme ALMEIDA, a colônia Espanhola a primeira a fixar-se em Sorocaba na além-ponte (ALMEIDA, 1969) As feiras que ampliaram as ruas da cidade e geraram uma economia mercantil importante, deixam de ser o centro das atenções. A industrialização nascente agora será a responsável pela ampliação da cidade, não apenas ampliando ruas mas criando bairros operários para a massa de proletários que movimentam a futura Manchester Paulista. O Mapa da Localização Industrial a partir de 1882 mostra as fábricas Santa Maria um pouco afastada da Ponte do Rio Sorocaba e dos trilhos da Estrada de Ferro Sorocabana e a São Paulo logo após a ponte no caminho para São Paulo (atual Avenida São Paulo). As demais fábricas no Além Linha e, com exceção da Fábrica Santa Rosália, e Votorantim, fora do perímetro urbano da cidade.

75

idem, idem

53

A partir de um mapa elaborado por GASPAR em 1909 localizamos as vilas operárias de Sorocaba onde também predomina a maior fixação da população operária no Além Linha. O mapa do Crescimento da cidade em 190 anos (1800-1990) comprova a tendência de crescimento para o Norte e Oeste “contornando” as margens do Rio Sorocaba. O Rio Sorocaba foi um dos problemas para o crescimento da cidade, principalmente e na porção Leste (O Rio corta a cidade de Sul a Norte). Isso porque na porção Sul, a menos de 10 Km do 76 centro de Sorocaba, localizava-se Distrito de Votorantim . Um outro fator que “atrapalhou” o crescimento e a urbanização de Sorocaba foram os trilhos da Estrada de Ferro Sorocabana (atual FEPASA) que conforme vemos no Mapa da Vilas Operárias cortam a cidade no sentido Leste-Oeste. Dificuldade que ainda persiste no planejamento urbano atual. As administrações municipais apenas recentemente - a partir da década de setenta - começaram a se preocupar com o crescimento das cidades vizinhas como Itu, São Roque, Votorantim,

76

O Distrito de Votorantim emancipado em 1956 encontra-se hoje conurbado com a cidade de Sorocaba impossibilitando o avanço da mesma para a porção Sul, o mesmo já está ocorrendo com a cidade de Itu que tem seus limites próximos ao Distrito de Cajuru.

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Araçoiaba da Serra levando melhorias urbanas até as áreas 77 limítrofes da cidade . Em relação ao crescimento atual da cidade podemos notar, apenas passeando pelos locais, que as regiões norte e oeste tiveram seu crescimento baseado em loteamentos populares e de baixa renda, fato que elevou a concentração de pessoas nesses locais e na porção sul os loteamentos foram para as classes mais altas e médias altas e percebemos pouquíssimas casas antigas e de baixas rendas com tendências a desaparecem, dando lugar a edifícios de alto padrão ou mesmo grandes residências como as vizinhas.* Verifica-se uma tendência histórica no crescimento da cidade que deixou na própria urbanização da cidade, passada e presente.

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Conforme funcionários da Prefeitura Municipal de Sorocaba que preferiram não se identificar, a mudança do prédio para o Alto da Boa Vista, está relacionada a “briga”com a prefeitura de Itu sobre a questão do limite dos municípios. O prédio da prefeitura situava-se na Rua Brigadeiro Tobias no centro da cidade. O bairro Alto da Boa Vista seria estratégico pois localiza-se tanto nas margens da Rodovia Sorocaba-Itu como nas margens da Castelinho (Rod. Senador José Ermírio de Moraes acesso à Rod. Castelo Branco).

* Os Estudos urbanísticos e demográficos da Proesp comprovam esta constatação empírica. PROESP CTR - 088/94 Pág 2. 28

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56 Ao observarmos o centro da cidade, por exemplo, vemos que ele pouco mudou desde o final do século dezenove, com suas ruas estreitas e tortas, demonstrando pouca preocupação com o planejamento naquele momento passado. Hoje, é praticamente inviável economicamente a desapropriação para reurbanização da área central, tendo algumas de suas ruas mais antigas - e estreitas - transformadas em boulevares - como as Rua Barão do Rio Branco, Dr. Braguinha e parte da Cel. Benedito Pires. Cabe ao centro ainda, nas Ruas XV de Novembro e São Bento, concentrar o capital financeiro com agências centrais dos mais importantes bancos da cidade. Já em 1950 afirmava SANTOS que “No próprio traçado da cidade pode-se identificar o velho centro urbano do século passado com sua feição tradicional e os blocos anexados durante os últimos cinquenta anos, e consequência do desenvolvimento industrial. O centro antigo, organismo de crescimento natural, encerra um amontoado de pequenas ruas e vielas, além da grande praça matriz com sua enorme igreja de linhas coloniais. Os núcleos recentes, muito mais heterogêneos, são verdadeiros marcos do crescimento da cidade e da progressivo industrialização regional, do século 78 atual”. O mapa a seguir nos mostra ruas onde estava localizado as principais casas comerciais arroladas pelo censo de 1872. Nota-se o maior número de estabelecimentos na Rua da Penha, oferecendo serviços diversificados, desde loja de fazendas até máquina de descaroçar algodão. Em seguida aparece a Rua da Ponte (atual Rua XV de Novembro) e sua continuação a Rua de São Bento (permaneceu a mesma denominação) onde está atualmente a capital financeiro.

78

SANTOS, Elina - A industrialização de Sorocaba, op. cit. pág. 67

57 Com relação às melhorias urbanas no final do século XIX, a população local vai assistir a implantação da energia elétrica em substituição ao gás carbônico. O jornal Dário de Sorocaba do dia 17 e 18 de dezembro de 1890 (nº 2376 e 2377) publica o contrato “celebrado entre a Intendência Municipal e o Sr. Francisco José Speers... para iluminação pública e particular, a luz elétrica pelo sistema Westing House pelo tempo e privilégio de 50 anos.” Aceitava a Intendência Municipal as vantagens oferecidas pela luz elétrica, entre elas: - Ser “... Livre de todo e qualquer perigo de incêndio ou desastre” e ainda, - Economia notável, comparando-se com qualquer outra iluminação”. No mesmo jornal do dia 17/12 um leitor que se identifica como Z. D aponta desvantagens sobre as “vantagens” da luz elétrica indicadas pela intendência. “Levado dos mais patrióticos sentimentos, consta-nos, a Intendência Municipal, ao empossar-se, pretende dotar a nossa população com importantes melhoramentos. Entra no nº deles, um sistema mais aperfeiçoado de iluminação pública, isto é, a luz elétrica. Não duvidamos proibidade e dedicação, que envidarão todos os esforços possíveis para bem compensar a confiança do governo, escolhendo-os para os primeiros a manterem a autonomia do Município. Entretanto, convém pensar antes de fazer, de estudar antes de obrar. A luz elétrica, por exemplo, levada por uma errônea apreciação à altura de um grande cometimento, tem provado quanto são falsos os seus argumentos. Não discutimos. Chamamos para testemunhar as judiciosas considerações insertas num dos últimos números do estimado Diário Popular. Leiam, meditem e depois façam. Segundo o noticiaram as folhas públicas, está pendente da aprovação do governo do Estado de São Paulo, uma proposta da

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Cia de Luz Elétrica para iluminar esta Capital por meio de eletricidade, em substituição ao gáz carbônico. Não tenho a mínima dúvida a suficiência e o zelo com que o digno superintendente das obras públicas, Sr. Engº Paula Souza, examinará este negócio, que lhe será sem dúvida submetido pelo honrado governador do Estado, e se venho falar nele Sr. Redator por intermédio de seu conceituado Jornal, é pela circunstância de haver lido ultimamente, no Jornal pariziense Le Soleil, de 11/9 próximo passado, uma notícia um tanto desanimadora sobre a nova iluminação. Não há mais de um ano e meio que eu deixei a Europa, tenho residido durante oito anos em vários países daquele Continente, e em nenhuma das cidades que eu visitei, a luz elétrica é ainda empregada, regularmente, na iluminação pública. Não quero de maneira alguma estorar este, nem melhoramento algum no meu País; ao contrário, desejo sinceramente vê-lo na vanguarda da civilização. Por isso, penso que devemos proceder sempre com ciência e prudência não nos arriscarmos em experiênciae inovações que não tenham ainda a sanção da prática máxima, quando se trata de melhoramentos que interessam particularmente a comodidade das populações e custam bom preço. O inscucesso de tais experiências traz ordinariamente desanimo e atraso. Eis aqui a notícia do Le Soliel sobre as experiências de iluminação elétrica feitas nos boulevards de Paris: “Fundavam-se grandes esperanças sobre a nova iluminação elétrica que funciona a alguns meses nos grandes boulevards. Mas os resultados esperados não se produziram. Seriam pueril querer dissimular: é uma decepção.” “Esta iluminação esbranquiçada, não oferece a sensação de luz que se esperava.” Se ajuntarmos a isto as variações de intensidade, as extinções que se produzem assaz frequentemente, chegaremos a concluir que a questão de iluminação elétrica está longe de ter achado sua fórmula definitiva. A eletricidade tem seus caprichos, não se pode contar com ela. Não se pode quase usá-la sem conservar alguns bicos de gáz por segurança.

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Ultimamente no teatro da Ópera foi preciso iluminar a sala a gáz, durante toda apresentação, por ter falhado a eletricidade. Estes e outros inconvenientes desaparecerão com aparelhos mais aperfeiçoados e uma produção de eletricidade mais constante. É licito esperá-lo porque as outras aplicações da eletricidade, o telégrafo e o telefone funcionam ao longo tempo sem dificuldades. Enquanto, porém, isto não acontecer, os defeitos da nova iluminação saltam aos olhos, e o gáz não parece ainda dever cederlhe o lugar. Sob o ponto de vista da despeza é interessante citar alguns algarismos: O bico de gáz intensivo custa por hora 21 centimos (cerca de 80 reis) 1 lâmpada elétrica custa 60 centimos (cerca de 220 reis por hora), isto é, quase três vezes mais. O resultado da nova iluminação esta longe de ser proporcional ao sacrifício que teria de fazer o contribuinte. Não me consta que depois da experiência parisiense, de setembro último, viessem os fatos estabelecer a luz elétrica como meio regularmente seguro de iluminação pública, corrigindo-se os defeitos apontados pela citada folha francesa. Eu digo que sei, e estimarei conhecer a opinião dos que sabem mais ou melhor.” Z. D. Mas, já em 1895 a concessão está com João e Vicente Lacerda (engenheiros sorocabanos) que conseguem iluminar a cidade de forma irregular. Apenas no final de 1900 os irmãos Lacerda perdem a concessão tendo o contrato sido considerado caduco pela Câmara Municipal. Outros ainda tiveram a concessão de fornecimento, como A. J. Bington, depois Bernardo Lichtenfelds Jr. e Manoel José da Fonseca que, sem represa, canalizaram a água do Salto do Ituparanga com força de 2000 CV. Em 1911 venderam a concessão à São Paulo Eletric CO, que no ano seguinte iniciou a construção da represa. Esta viria a funcionar em 26/5/1914, gerando energia e protestos, pelas altos custos do aluguel particular (medidores 3$000 por mês, jóia 10$000 mais o consumo).

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Reclamações já comuns em outros locais - como Rio de 79 Janeiro e São Paulo Afirma ALMEIDA que “... a Estamparia só pode funcionar em 1913, porque a Light não facilitou muito o fornecimento de energia e foi preciso construir no ribeirão do Turvo em Pilar do sul uma represa. Por muitos anos, Salto de Pirapora via passar nas ruas os fios de eletricidade da Estamparia e não podia ter luz elétrica, por ser 80 a Light a privilegiada por lei em Sorocaba” Em 1915 a Light passa a controlar também o transporte de bondes, inaugurando em 31/12/1915 a primeira linha. Ficou a cargo dessa companhia até 1951 quando o governo municipal assumiu. Em fevereiro de 1959, o serviço de bondes foi extinto. O mapa a seguir mostra o itinerário inicial dos bondes da São Paulo Eletric CO.

Posteriormente, (em Janeiro de 1920) a São Paulo Eletric. Co. Anunciou a ampliação das linhas, que se efetivam apenas em 1927.

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Em 1909 declarava o jornal “A Notícia” (2/03/1909) em um artigo sobre a concorrência entre a Light e a Guinle: “a capital paulista vai ter o benefício enorme da concorrência de iluminação e energia elétrica. Em vez de monopólio, de fato, que hoje gozava a Light... está

fechada a época em que os lucros despropositados da Light só se explicam pelo

abuso da taxa elevadíssima.” Citado por CARONE, Edgard e PERAZZO, Priscila F. - São Paulo lutas contra o monopólio IN Revista Memória nº7, Ab/Maio/Jun/90, pág 42 Publicação do Depto de Patrimônio Histórico da EletroPaulo. 80

ALMEIDA, Aluísio - Presença Inglesa nas Antigas Tecelagens - artigo para o Jornal Cruzeiro do Sul, 15/8/78.

61

Houve aumento das ruas servidas pelos bondes no Além Ponte e Cerrado assim como a reforma nos carros. Depois disso nada mais mudou, até que, no dia 14/07/1951 a São Paulo Elétric Co. Passou todo o serviço para a Prefeitura Municipal que pagaria pelo aluguel dos postes e da energia. Todo serviço de reforma deveria ser feito nas oficinas da E.F. Sorocabana. Publica o Cruzeiro do Sul do dia 15/07/1951 um aumento no preço da passagem, mantido inalterado desde 1915 em Cr$ 0,20 para Cr$ 0,50. Possivelmente tenha havido reclamações, por parte da população - que já reclamava da precariedade dos bondes. Em 1 de março de 1959 o mesmo Cruzeiro do Sul anuncia: “Era dos Bondes Elétricos em Sorocaba já havia terminado”, pois a Prefeitura optou pela desativação em 28/02/59. Sobre o fim dos bondes, diz um sorocabano ferroviário aposentado da Sorocabana: “O Prefeito Lozano fez apenas duas coisas que ninguém mais esqueceu: acabou com os bondes e emancipou Votorantim. A primeira atrapalhou os trabalhadores e a segunda o caixa da própria Prefeitura, pois a fábrica Votorantim era uma grande fonte de renda para a cidade. Logicamente que a família Ermírio de Morais estava 81 por tráz disso.” REDE DE ÁGUA E ESGOTO Devido as duas epidemias de febre amarela (1897 e 1900) a população sorocabana passou a exigir redes de esgotos e água encanada no lugar das latrinas de fossas e dos “pipieiros” (carroceiros vendedores de água retirada do Rio Sorocaba) Somente em 1903 a cidade terá as redes de água e esgoto e em 1908 completou-se o bairro Além-Ponte com essas melhorias, sendo nesse ano construida a Adutora de Itupararanga (foto). Em 1911 a Light pode construir sua represa ... “com a condição de fornecer água, 80 litros por segundo e, oportunamente, 12 Kms (sic) 82 de canos até o Cerrado”. A segunda caixa d’água (a 1ª foi a do 83 Cerrado) foi inaugurada apenas em 1948 81

Depoimento do Sr. Jacir da Silva, ferroviário aposentado, em fevereiro de 1994

82

ALMEIDA - História de Sorocaba op. cit. pag. 266

83

Conforme estudos da PROESP, a cidade hoje é atendida em 97,5% de ligações de esgoto e 97% de água CTR - 088/94 pág 1.2.

62

Outras melhorias urbanas que podemos destacar no início do século XX são:

1889 - “Carros de Praça” de aluguel (tração animal) 1899 - Nova Santa Casa de Misericórdia 1906 - Cinematógrafo ambulante 1907 - Primeiro automóvel 1907 - Empresa Telefônica Sul Paulista 1909 - Ginásio Sorocabano (municipal, fechado em 1911) 1910 - Primeiro cinema 1911-1912 - Primeiros automóveis de aluguel (em 1913 a Prefeitura implanta as primeiras leis de trânsito: “Onde houver acumulação de 84 pessoas a velocidade será de um homem a passo” 1912 - Primeiras ligações telefônicas com São Paulo 1913 - Grupo Escolar Antonio Padilha 1921 - Início do calçamento (paralelepípedo) 1924 - Escola do Comércio 1929 - Ginásio do Estado Em relação às escolas, temos para o ano de 1912, matriculados 820 alunos na instrução pública municipal (372 85 masculinos e 448 femininos entre 7 a mais de 12 anos) e,, conforme o mapa VI, Sorocaba ficaria entre as cidades do interior com maior número de alunos matriculados (Santos, Campinas, Ribeirão Preto, São Carlos são algumas das cidades à frente de Sorocaba). No ensino público estadual noturno o número é pequeno e apenas cursos para o sexo masculino. Aparece o mapa IX: 4 escolas, 180 86 alunos matriculados e 130 alunos frequentes em 1912. Atentando mais para a população do município, predominantemente urbana, vamos ter um crescimento na faixa de 87 2,5% ano . O que exigia melhoramentos e infra-estrutura para 84

ALMEIDA, História de Sorocaba op. cit. pág. 270

85

Anuário Estatístico de São Paulo (Brasil) 1912 Vol I pág. 167

86

idem pág 173.

87

Por falta de dados mais precisos, elaboramos um cálculo tendo por base o gráfico “População -

Município de Sorocaba (1890 - 1940) e o mappa III (Mappa dos nascimentos registrados nos annos de

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atender a população crescente. Não somente escolas mas, saneamento, saúde, transportes, lazer. Conforme indica NEGRI (1989:61) a cidade atingirá a década de 20 com 44,9% dos operários da região, ou seja, 7.850 trabalhadores apenas no ramo têxtil 1.8996 trabalhadores em outros ramos (calçados, chapéus, Ferrovia, etc) e 988 ligadas ao

1893 a 1900 e de 1901 a 1906) do Anuário Estatístico - 1906 - Vol I pág. 89. Porém nossos cálculos consideraram para o crescimento populacional apenas nascimentos servindo como um “guia” para nossas análises do urbano. Apesar do nosso cálculo ir até 1906, seguindo o

Gráfico de População

utilizado verificamos que nosso índice não está muito diferente. Estudos efetuados pela PROESP nos decênios de 1940 até 1991 apresentam números parecidos até a década de 60 1940/50 - 2,34% 1950/60 - 2,97% 1960/70 - 3,02% 1970/80 - 4,13% 1980/91 - 3,30% (CTR - 088/94 pág. 2.6.) Considerando o decênio 1893 a 1902 teremos um crescimento de 2,35%. SOROCABA

NASCIMENT OS ( A )

1893 a 1900 4.145

1901

1902

1903

1904

296

714

750

913

1905 1906 872

TOTAL

896

8.586

*

35,14%

CRESCIMENT O 2,5% + média de 519 nasc/ano

1,03% 2,49%

o

2,61%

*com base no ano de 1907 - 29.284 hab. o

com base no ano de 1902 - 28.669 hab.

+ média com a soma dos anos posteriores (A) Anuário Estatístico São Paulo 1906 pág 89 (B) Gráfico População Município de Sorocaba 1970/80 - 4,13% 1980/91 - 3,30% (CTR - 088/94 pág. 2.6.)

o

3,11% 2,9% 3% *

o

( B )

*

*

88

64

comércio . Aproximadamente 24% da população indicada nos Dados Gerais do Estado 1890 - 1938 (43.588 habitantes). A concentracão de pessoas na cidade propicia vantagens para a instalação fabril, pois, existe uma mão-de-obra liberada para o assalariamento e ainda, consumidores em potencial para os produtos fabricados ..."Porém se historiamente, as cidades preexistiram às indústrias, ocorreria que a partir do momento em que o capital industrial chegou a dominar todas as demais atividades econômicas, 89 ele passou também a determinar toda a expansão urbana” Isso não aconteceu de imediato, ou com a inauguração da primeira fábrica têxtil em 1822. O processo terá maior ênfase a partir de 1910 quando outras fábricas têxteis estão em funcionamento, o comércio de muar é pequeno (as feiras) deixam de acontecer no início do século) e economicamente sem peso local. A expansão urbana impulsionada pelas indústrias pode ser verificada na formação de novos bairros - ou vilas, como dizem os moradores - alguns tipicamente operários como são os casos da Vila Santana, Santa Rosália, Santa Maria, Vila Angélica,Vila Carvalho. Esses bairros surgem ao redor ou próximos de fábricas: Vila Santana - bairro formado na sua maioria por ferroviários da E.F. Sorocabana, Santa Rosália - bairro formado pela própria Santa Rosália para seus empregados, Santa Maria - Também uma vila operária, construída pela Fábrica Santa Maria, Vila Angélica - bairro que agrupava operários de diversas fábricas. Consta em projeto municipal que esta Vila e a Vila Barão teriam Vilas operárias o que não ocorreu, Vila Carvalho - formada por operários devido à proximidade das fábricas NS da Ponte, Santo Antonio e oficinas da E. F. Sorocabana A localização das fábricas, no começo da industrialização, se dava no perímetro urbano, exceto a Santa Rosália e a Votorantim distantes 7 Km do centro de Sorocaba. 88

Recenseamento de 1920 - Vol IV (5ª parte) - TOMO II pág. 799

89

HARDMAN, Francisco Foot. T rabalho Urbano e vida operária IN MENDES JR, Antonio e MARANHÃO, Ricardo (organizadores) Brasil História, texto e consulta: HUCITEC, pag. 276, cap LXXV.

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Desde 1904 a cidade fica conhecida como a “Manchester Paulista”, apelido dado por Alfredo Maia, em discurso, na festa da construção da barragem no Rio Sorocaba para a usina de energia elétrica, numa alusão à cidade têxtil inglesa. Anos depois, o operariado a partir de idéias anarquistas e socialistas “rebatizaria”a cidade de “Moscou Brasileira” ou “Moscou Paulista”. É interessante recuperar o caminho da construção dessas duas cidades do imaginário sorocabano, pois são elas, junto com outros fatores subjetivos na criação do espaço - diferenciado do 90 proletário e da burguesia . MANCHESTER PAULISTA X MOSCOU PAULISTA As fábricas sorocabanas serviram-se muito das máquinas produzidas na Inglaterra. A primeira fábrica que prosperou na cidade em 1882, a Nossa Senhora da Ponte, comprou todo maquinário da empresa Curtis Sons e Co., de Manchester. Com o desenvolvimento industrial inglês era interessante ampliar o mercado de máquinas novas ou mesmo ultrapassadas para as indústrias inglesas. A cidade de Sorocaba que vinha fornecendo algodão àquele país, agora também começa a consumir máquinas inglesas. Em 1904, quando Alfredo Maia chama Sorocaba de Manchester Paulista, a cidade conta com quatro fábricas têxteis de “grande porte”. . 1.882 - Nossa Senhora da Ponte . 1.890 - Votorantim e Santa Rosália . 1.896 - Santa Maria, além de duas fábricas de chapéus, manufaturas e artesanatos. Interessante analisar que, atrás de um discurso inflamado está a ideologia da classe burguesa, nesse momento (1904) tentando

90

“... chamados fatores subjetivos e políticos expressos através das associações de classe, formas de consciência, movimentos próprios, níveis de organização e papel histórico das direções políticas... Fatores objetivos e subjetivos combinavam-se de forma dialética: os períodos de ascenção das lutas operárias eram a comprovação histórica desta relação”. HARDMAN, op. cit. pág. 286 cáp. LXXV.

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firmar-se como uma “classe para si..., pois esta...não 91 conseguira formular um projeto político próprio.” Eram imigrantes ligados ao comércio, como Manoel José da Fonseca (algodão e tecidos); a Estrada de Ferro, como Frank Speers, George Oetterer, Francisco de Paula Mayrink, fundadores da Santa Rosália; e bancos, como o Banco União proprietário da Votorantim e também técnicos da indústria têxtil como o inglês Marchísio, ex-gerente da N.S. da Ponte que associado com outros comerciantes fundou a Santa Maria. Retornando um pouco na história, vemos que o uso de trabalhadores livres está ligado à construção da ferrovia, “...a lei que definiu a nova política ferroviária em 1852 já vedava expressamente 92 a utilização do braço escravo nos trabalhos da estrada” . A ferrovia em Sorocaba foi fundada em 1870 e inaugurada para o tráfego em 1875. Em 1882 a fábrica Nossa Senhora da Ponte anunciava no jornal local: “Precisa-se contractar rapazes de 12 a 15 anos e mulheres para o serviço da machina de tecidos do Sr. Manoel José da Fonseca. Para tratar na mesma machina com o Sr. 93 Alexandre Marchísio.” “Entre os meses de maio até novembro desse mesmo ano o 94 Sr. Fonseca organizava e disciplinava o trabalho na sua indústria..” Em 2 de dezembro de 1882 a fábrica foi oficialmente inaugurada. Assim, mesmo antes da abolição, eram trabalhadores livres os ferroviários, têxteis, pedreiros e uma gama de manufatureiros e artesãos de Sorocaba. 91

LEONARDI, Victor. Primeiras fábricas e forma do capital industrial. In: __________ MENDES JR, Antonio e MARANHÃO, Ricardo.

Brasil História T exto e Consulta.

São Paulo :

Hucitec, p. 213, cap. LXIX. 92

MATOS, Odilon Nogueira de.

Vias de Comunicação.

In: ____________ História Geral da

Civilização Brasileira. Tomo II, v. 4, p. 46-51, apud LEONARDI, op. cit. p. 218. 93

Diário de Sorocaba, Anno II, n o. 227, p. 4, 1/3/1882.

94

SCHRÖDER, Adelaide da Fonseca F. indústria. Sorocaba, 1960, p. 25.

Manoel José da Fonseca - Pioneiro da nossa

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No final dos anos 80 do século passado a luta pela abolição acirra-se dentro do processo racional de trabalho, o escravo “atrapalhava” a burguesia (enquanto capital empregado na compra) e os proletários (que não conseguiam se organizar como classe e lutar pelos seus direitos). Nesse momento burgueses e proletários “lutam numa batalha comum”: a libertação dos escravos. Libertação que, na verdade, liberaria essas duas classes sociais para travarem a luta de seus interesses antagônicos. Em 1887, um grupo da burguesia comercial e industrial ligado à Casa Maçônica Perseverança III consegue em dezembro a libertação de todos os escravos locais. Perceberam os burgueses que as relações de trabalho precisavam ser alteradas, “..daí que a liberdade do escravo não tenha se constituído em liberdade para o escravo e sim em liberdade para o burguês, isto é, para o capital... o que importava salvar não era a pessoa do cativo, mas sim o capital” (MARTINS, 1990:110) Sabiam também as dificuldades que a liberação da mão-deobra escrava traria aos seus proprietários. A 27 de dezembro de 1887 noticiava o jornal Diário de Sorocaba: “SOROCABA REDIMIDA Domingo, 25 do corrente, reuniram-se no Paço da Câmara Municipal muitos senhores de escravos que haviam sido convocados pela 95 Comissão Emancipadora . Aclamado presidente da Assembléia o Dr. Ferreira Braga, convidou para secretário o Ten. Cel. Cavalheiros e o cap. Joaquim Firmino.” 95

Faziam parte da Comissão Emancipadora em Sorocaba: A.J. Ferreira Braga, Manoel José da Fonseca, Eduardo A. da C. Vieira, José T. Cavalheiro, José Loureiro de Almeida, Francisco de Souza Pereira, Manoel Nogueira Padilha, Olivério Pilar, Joaquim F. de Toledo Penteado, Christiano Exel. “Tinham o objetivo de resolver pacificamente a emancipação completa dos escravos... sem desorganização do trabalho”. VIEIRA, Rogick. Sorocaba não esperou o 13 de maio, op. cit. p. 50.

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Dizia o presidente da Assembléia “Não há dúvida que a transição do trabalho escravo para o trabalho livre, traria em começo dificuldades, mas que a prudência e a inteligência do paulista havia de vencer logo máxime aqueles que, convencendo-se que não pode haver meia liberdade para os escravos concederam-lhe liberdade incondicional e salário, como aqui alguns fazendeiros adotaram já, estendendo-se sobre o assunto com muito critério e lembrando medidas justas para regular o estado entre os senhores e os libertos” o.,

A 1 de janeiro de 1888 foram entregues as cartas de liberdade para os 940 escravos inscritos em março de 1886 na cidade. (VIEIRA, 1988:53) Apesar do número reduzido de escravos inscritos - se comparado a outras cidades - vemos que, se alguns fazendeiros tiveram problemas, por outro lado, a libertação adiantada começa a resolver questões e tensões que vinham se agravando no sistema como um todo, entre elas, a da formação do mercado de trabalho 96 livre. Mas, essa libertação adiantada não significa que o negro será absorvido de imediato pela indústria que nascia; ao contrário, muitos continuaram com seus ex-senhores ou marginalizados por uma sociedade que se modernizava tecnicamente, preferindo a mão-deobra especializada do imigrante. A ‘Manchester Paulista’ da burguesia era o centro da cidade, local de sua morada e das decisões, local da vida social e dos melhoramentos urbanos exigidos pelas “pessoas de nossa sociedade.” 96

Ademir GEBARA no seu estudo “Escravidão: Fugas e Controle Social”, apresenta as tensões entre o homem livre - escravo em diversas cidades do Estado de São Paulo, entre elas Sorocaba. Cadernos IFCH : UNICAMP n o. 12 2/84.

69

Conforme nos alerta Martins, em sua obra sobre o cotidiano no subúrbio de São Paulo, “...a história de São Paulo tem sido escrita do centro para a periferia.. mesmo quando se estuda a história da classe operária, que sempre viveu nos bairros e no 97 subúrbio, prevalece essa orientação fora de contexto.” A “Manchester Paulista” era um “Centro Industrial” independente da localização física de suas fábricas. E mais, independente do local de moradia dos operários. No imaginário burguês centro industrial e centro da cidade estavam metamorfoseados, por isso independia da localização física. Como acontece com a burguesia dos países de industrialização tardia, o centro comercial de Sorocaba estava mais ligado ao centro comercial inglês do que ao resto da própria cidade. No que diz respeito à vida social, o bucólico é sempre resgatado pelos escritos de hoje, como é o exemplo de Ângelo Vial, ex-operário e depois industrial em Sorocaba, referindo-se a cidade como “pacata cidade surpresa com a agitação dos trabalhadores, 98 seus discursos e comícios” . Outros retratavam apenas o progresso industrial, “...Sorocaba indiscutivelmente cresce com a realidade, ocupando o primeiro lugar, já não se exceptuando cidade alguma do 99 interior, já atendendo-se à relação entre a própria capital” As referências ou são bucólicas ou ufanistas. O operariado, quando aparece, é citado como favorecido pela indústria local, “... um dos mais importantes núcleos do trabalho do nosso paiz, situado na Vila Industrial [Votorantim] e que facilita o meio de subsistência a 100 mais de quatro mil pessoas.” ou como agitadores. A Manchester Paulista, no imaginário burguês, repetia na sua vida quotidiana a “ordem e o progresso” das fábricas, vez ou outra afetada pela agitação de um ou outro operário mais inflamado. “O operário era concebido pela burguesia ou como um agitador e marginal perigoso, espécie de bandido infiltrado na fábrica ou, na 97

MARTINS, José de Souza. Subúrbio - Vida. op. cit. p. 9.

98

OLIVEIRA, Sérgio C.

São Paulo de Sorocaba.

IN: IPESI Grupo Gilberto Huber, São Paulo,

1986, p. 23. 99

CESAR, F. Camargo. Sorocaba Industrial. In: __________ Almanach Ilustrado de Sorocaba, Editado pela Typographia W erneck. Sorocaba, 1912, p. 42.

100

CESAR, F. Camargo. Sorocaba Industrial. op. cit. p. 42. grifo nosso.

70

melhor das hipóteses, como um ignorante ou débil mental que 101 necessitava da proteção do capitalista”

A esse marginal ou ignorante “...era necessário reprimí-lo ou 102 controlá-lo, sob as ordens capitalistas, dentro e fora da fábrica” O paternalismo era patente na relação burguesia-operariado “...Fonseca...amparava a pobreza de tôdas as formas. Quando sabia algum dos seus operários doentes, ia logo visitá-lo pessoalmente, ou mandava alguém levar o necessário para a sua cura e seu sustento, e da família” (SCHRÖDER, 1960:41). O proprietário da primeira fábrica têxtil de Sorocaba (Manoel José da Fonseca), como os outros industriais sorocabanos, tinham “consciência” da necessidade da manutenção da força de trabalho para o operário continuar produzindo...e pobre. Nos anos que se seguiram, outros comerciantes e pequenos industriais iriam aumentar o número de indústrias em Sorocaba. Alguns sobrenomes começam a se destacar na sociedade sorocabana como Scarpa e Pereira Ignácio, que se tornariam nacionalmente conhecidos como grandes industriais em diversos ramos. O primeiro com mais de 40 fábricas de tecidos, óleo, calçados, farinha, telefone, explosivos e o segundo adquire, com a falência do Banco União, a Fábrica Votorantim, em 1917, ampliando suas propriedades industriais em vários setores. A cidade industrializada cresce, os melhoramentos urbanos auxiliam com a infra-estrutura necessária: até 1903 foram-se completando as ligações domiciliares de água e esgotos, o serviço telefônico em 1912, a energia elétrica em 1914, e os bondes em 1915. Da inauguração da primeira fábrica em 1882 até, aproximadamente, 1915, outras indústrias instalam-se e algumas modificações ocorreram nas já existentes. Cronologicamente podemos descrever: 1882 - Manoel José da Fonseca inaugura a primeira fábrica de tecidos.

101

HARDMAN, op. cit. p. 287.

102

Idem, idem.

71

1883 - Francisco Matarazzo abre uma pequena fábrica de banha. 1890 - O Banco União de São Paulo, presidido pelo Cel. Lacerda Franco, constrói a Fábrica de Tecidos Votorantim. 1890 - Construída com capitais de Francisco de Paula Mayrink a Fábrica Santa Rosália, dirigida por Jorge Oetterer e Frank Speers. 1890 - A firma Marchisio Loureiro, Silverio e Cia. funda a fábrica Santa Maria. 1891 - Votorantim é ampliada com estamparia. 1897 - Fábrica de Chapéus Souza Pereira. 1900 - Francisco Matarazzo inaugura o Moinho e encerra sua atividades em Sorocaba com a banha. 1902 - Votorantim se amplia com tecelagem e fiação. 1902 - A fábrica Santa Maria passa para Ernesto Zscoeckel. 1904 - A fábrica Santa Maria passa para Campos, Kenwort e Cia. 1905 - A Pereira Ignácio e Reynaldo Coutinho e Cia. monta a Fábrica de Óleo Santa Helena. 1909 - Fundada a Fábrica de Chapéus Bandeirantes. 1909 - Criada a CIANÊ (Cia. Nacional de Estamparia) abrangendo as fábricas Santo Antônio e São Paulo. 1909 - Fundada a Fábrica de Malhas São José de J. e Cia.. 1910 - A fábrica de Óleo passa a ser Cia. Paulista de Fiação, tecelagem e Óleos, formada pelas firmas Pereira Ignácio e Cia. e João Soares Hungria e Filho, com filiais em Tatuí, Boituva e Conchas. 1912 - Fábrica de Calçados Soares. 1912 - Manoel José da Fonseca deixa de ser dono da fábrica Nossa Senhora da Ponte e mantém-se como acionista da S.A.

72

1913 1914 1915 1917

Nossa Senhora da Ponte organizado por Bernardo Lichtenfels e Bernardo Lichtenfls Jr. - É inaugurada a Fábrica Santo Antônio, da CIANÊ. - Nicolau Scarpa adquire a fábrica Nossa Senhora da Ponte. - Criada a Fábrica de Enxadas Nossa Senhora Aparecida. - O Banco União de São Paulo abre falência e Antônio Pereira Ignácio adquire as fábricas da Votorantim, fundando a S. A. Votorantim.

Devemos relembrar que falamos das indústrias principais - as têxteis, formando um parque monoindustrial importante - mas havia fábricas menores e mesmo manufaturas e artesanatos diversos. No estudo sobre as bases físicas da industrialização de Sorocaba, na década de 50, Santos afirmava: “...as antigas fábricas de tecidos da cidade de Sorocaba viram-se às voltas apenas com melhoramentos internos e renovação da maquinária e são estas mesmas fábricas que constituem hoje, o grupo têxtil de Sorocaba”. (SANTOS, 1950:58) Podemos acrescentar ainda que novas sociedades se formaram em diversos momentos adquirindo ou apenas alterando a razão social das antigas fábricas. “A Indústria aparecera na região numa época em que era preciso contar apenas com a matéria prima e com a mão de obra... Sorocaba que teve as primeiras grandes indústrias do Estado e uma das primeiras usinas hidro-elétricas de vulto no sul do país, viu-se, na segunda década do século XX, rapidamente ultrapassada pelo 103 parque industrial paulistano” . Como terá sido considerado o papel do operariado nessa fase da decadência, com a hegemonia do parque industrial paulistano?

103

SANTOS, A industrialização... op. cit. p. 58.

73

Um fator considerado, senão único, o mais importante para essa “parada no desenvolvimento industrial” é justamente o “da culpa do operário”... “Já nos primeiros anos do século XX, quando um surto industrial tomava conta da cidade, aparece, ao lado das fábricas e dos operários, a figura do anarquista, liderando “paredes”. E tal comportamento, como seria de se esperar, alarmou a classe empresarial sorocabana, constituindo-se num dos fatores limitantes, 104 daí para frente, da crescente industrialização da cidade” A construção do imaginário fabril da Moscou Brasileira ou Moscou Paulista, entretanto, não foi tarefa fácil. Apesar da ocorrência das greves, manifestações e “agitações”, devemos lembrar que nesses mesmos “primeiros anos do século XX”, havia por parte do operariado interesse de que a industria conseguisse se manter. Um exemplo disso podemos ver na imprensa local, quando a noticia d envio, ao Congresso, de um documento solicitando a proteção para a indústria nacional, acrescentando que “... é o instinto 105 de conservação que impele os abaixo assinados”... Mas, analisemos melhor a afirmação de Coelho, citada acima. Conforme o articulista, “aparece ao lado das fábricas e dos operários, a figura do anarquista”. O líder não faz parte do meio operário, está fora do movimento, apenas quer agitar, tirar o operário da passividade e obediência que convém à burguesia ou que imaginava a burguesia. Mais adiante diz o articulista: “Sempre vanguardeira, Sorocaba foi o maior espaço para o início do domínio dos vermelhos”... “buscando em seguida um lugar ao sol na 106 política sorocabana”.

104

OLIVEIRA, São Paulo de Sorocaba. op. cit. p. 23.

105 106

Jornal “O 15 de novembro” - 2/8/1905.

OLIVEIRA. São Paulo de Sorocaba. op. cit. p. 23, grifo nosso.

74

Assim, sugere este autor que a liderança operária queria mesmo era ascender socialmente para a burguesia e desfrutar ao “Sol do Capital”. Anteriormente, havíamos transcrito palavras do ex-operário e 107 depois industrial Angelo Vial que afirmava o susto dos sorocabanos com a “agitação operária”. Como uma cidade operária pode ser pacata? Conforme o levantamento de Genésio Machado para o “Almanaque de Sorocaba (1950)” intitulado “Sorocaba no Século XX”, a cidade não era tão pacata quanto imaginam alguns. Vejamos: “1901 - Apareceram com abundância jornais críticos e literários, na 108 sua maioria compostos na Casa Durski. 1902 - Declara-se a primeira greve dos operários da Cia. de Estrada de Ferro Sorocabana. O jornal “Comercio de Sorocaba”, que tinha como redator o jornalista Henrique Lopes, foi um dos incentivadores intelectuais desse movimento. As autoridades interviram e tudo retomou a paz. 1907 - A 21 de julho, numa das exibições da pantomina, que era um tanto realista, alguns espectadores protestaram com violência degenerando esse protesto em conflito, com troca de tiros entre os populares e a polícia, resultando vários feridos. 1910 - A 20 de junho, às 21 horas mais ou menos, quando uma passeata política de desagravo fronteava o edifício do jornal “Cruzeiro do Sul”...verificou-se violento tiroteio sendo os manifestantes dispersados, constatando-se que, além de numerosos feridos, haviam perdido a vida os integrantes Lino, Gastão e Belmiro. 1911 - A 29 de setembro, às 20:30 horas, mais ou menos, foi baleado o ...Dr. Braguinha, como era chamado, que 107

Conforme nota n o. 11

108

Conforme BONADIO, “... uma bem montada tipografia de Sorocaba que, entre outras impressões está a revista “Fim de Século de idéias socialistas”.

BONADIO, Geraldo. “O

Partido Democrata Socialista e o Jornal A Conquista do Bem 1907 - uma tentativa de organização política dos trabalhadores na indústria”. Sorocaba : Academia Sorocabana de Letras, 1992, p. 15.

75

comandava a política de oposição ao governo e 109 era um dos líderes dos trabalhadores .

Essas poucas notícias do cotidiano sorocabano podem mostrar-nos que a cidade não era tão pacata, mas sim, um cotidiano marcado por acontecimentos que “movimentavam a cidade”. A vida social, parece acertado, tinha ingredientes que atestavam o descontentamento das classes operárias e pobres. Acontecimentos que, na sua essência, questionavam a sociedade de classes da realidade do começo do século. Mas a Moscou Brasileira ou Paulista do imaginário “obrero” não era a mesma Manchester Paulista do imaginário burguês. No mesmo artigo de Machado encontramos: 1909 - Diversas pessoas da nossa sociedade fizeram uma representação à Câmara, fazendo sentir a necessidade da criação de um ginásio, em Sorocaba, equiparado ao 110 Ginásio Nacional As tais “pessoas da nossa sociedade”, que altruísticamente não queriam aparecer; diferente dos muitos Linos, Gastões e Belmiros que surgiam entre as classes mais pobres; solicitavam e eram atendidas: um prédio no centro da cidade, local da burguesia industrial e comercial. A Moscou Brasileira ou Paulista não cabia no centro da cidade. Ela partia do bairro, das vilas operárias. Assim descreve o mesmo Almanaque de Sorocaba 1950: “Vilas Operárias A Cia. Nacional de Estamparia edificou para seus operários em Santa Rosália, uma verdadeira cidade-jardim, com cerca de 500 “bungalows”(sic) e que constitui passeio obrigatório de todo visitante de Sorocaba.

109

MACHADO, Genésio. Sorocaba no Século XX. IN: Almanaque de Sorocaba, 1950, Sorocaba, s. ed., 1950, p. 41-2.

110

Idem, idem

76

Amplas avenidas arborizadas, igreja, grupo escolar, hospital, estádio, jardins, lojas, posto de abastecimento caracterizam bem o verdadeiro burgo que ali cresceu. Além da Vila Santo Antônio 111 próxima a fábrica do mesmo nome, conta com 200 residências”.

Acrescentamos ainda as Vilas operárias da Santa Maria e da Votorantim. Realmente, ainda que o articulista estivesse utilizando uma figura de linguagem, o “verdadeiro burgo”, refletia a situação do operariado local em relação ao patronato: dependência. “A vida operária nessas vilas era um prolongamento da rígida disciplina imposta no regime de trabalho fabril... Além da presença paternalista conservadora dos patrões, o controle social sobre as famílias de trabalhadores, nessas vilas operárias, se fazia presente através de escolas para as crianças, creches, armazéns e capelas, 112 onde se veiculava a ideologia dominante” Apenas para ilustrar a dominação e o controle do patronato sobre os operários, citamos alguns trechos das entrevistas que fizemos com moradores dos atuais bairros operários. “Lá na Votorantim, o gerente de crianças resolvia até as brigas de crianças e seus pais corriam o risco de levar suspensões ou advertências conforme a gravidade do caso. O gerente ficava de 113 janela aberta vendo a gente brincar no páteo.” O ano em que isso se passou foi 1967... Outro relato de uma moradora da Vila Santa Maria: “Minha mãe era viúva com cinco filhos pequenos. Os maiores trabalhavam com ela na fábrica, na Santa Maria. Eram tantas horas que a gente dormia escondida embaixo das máquinas. Coisa de criança. O que a gente ganhava ia direto para minha mãe. Não ficava com nada. Ela era muito ajudada pelos donos, eles gostavam dela. Ela

111

Almanaque de Sorocaba 1950, Sorocaba, s.ed, 1950, p. 121.

112

HARDMAN, op. cit. p. 290.

113

Depoimento de uma funcionária da Fábrica Votorantim que não quis se identificar

77

saia da fábrica e ia direto fazer janta na casa deles. Que ano 114 foi? Ah! acho que 44 ou 45.”

Os relatos usados mostram que a situação da classe operária em Sorocaba ficou marcada muito tempo pela dominação, paternalismo, assistencialismo dos empresários locais. Outro ingrediente da Moscou Brasileira ou Paulista eram os apitos... . NO RITMO DO APITO RELÓGIO

As coisas são As coisas vêm As coisas vão As coisas Vão e vêm Não em vão As horas Vão e vêm Não em vão (Oswald de Andrade)

“Quando o apito da fábrica de tecidos vem ferir meus ouvidos eu me lembro de você...” Noel Rosa “Três Apitos” Nas crônicas sobre o início da industrialização o apito é o relógio da cidade, o que “regulava a vida dos sorocabanos... Os 115 apitos... eram uma marca registrada da vida urbana de Sorocaba”.

114

Depoimento

da Sra. Eulza T.C. da Silva, ex-moradora da Vila Santa Maria em fevereiro de

1994 115

Sorocaba 337 anos - caderno/revista publicado pelo Cruzeiro do Sul - jornal diário em 15/8/91, p. 84.

A cronista Neide B. Mantovani recorda seu cotidiano em Sorocaba quando criança:

78

“Vinte e duas horas. Soava o último apito do dia. Era a Santa Maria a. que no seu silvo longo avisava o pessoal da 3 turma que o seu dia de trabalho iria começar. Lembro-me de que na minha infância, geralmente a essa hora nós crianças já estávamos na cama e... fazíamos aposta para ver quem ouvia o apito por mais tempo... Depois que ficamos mais crescidos, nas noites quentes de verão, tínhamos permissão para brincar na rua até apitar 10 horas. Este sinal também valia para, quando já moças, saíamos para 116 passear na praça ou namorar...” Estórias como essa são comuns por toda a cidade. A ideologia do trabalho seriado e obediente é incorporado pela classe trabalhadora, em todos os níveis de sua existência. A ditadura do relógio - do patrão - regula a vida do trabalho, do lazer, das refeições, do amor, e assume o caráter simbólico da presença constante do patrão: “A cidade era calma e os apitos podiam ser 117 ouvidos a longa distância” Novamente a idéia da cidade pacata e o bucólico. Na verdade, o apito que se ouve a longa distância pode ser reconhecido como a voz do patronado ou “chamando” para o trabalho, ou “alertando” os operários para o fim do lazer e hora do descanso diário. Descansar para retomar, noutro dia, o trabalho e a produção. “O horário de trabalho era bem amargo. Os operários entravam às cinco horas da manhã, com as estrelas bem visíveis. Tinham quarenta e cinco minutos para o almoço, às onze horas. Depois continuavam sua faina até às oito horas da noite, voltando para seus 118 tugúrios ainda sob a luz das estrelas”

116

Idem, idem

117

Ibidem

118

PENTEADO, Jacob. Belenzinho, 1910 (retrato de uma época). São Paulo : Livraria Martins Fontes, 1965, p. 29.

79

Pelo relato pessoal do autor sorocabano, nascido em 1900, morador da vila operária de Santa Rosália, ou como ele se 119 refere, Distrito de Nossa Senhora do Rosário , na vida do operário o apito cabia mais para retornar ao trabalho do que para retirá-lo do lazer. Em nome da ordem e da pontualidade, criou-se o apito e suas variações, cabendo ao operário aprende-los e responder prontamente a eles. Conta-se entre os ferroviários de Sorocaba que durante uma greve, ocorreu um incêndio na Sorocabana e o “apito de incêndio” foi soado chamando os operários para ajudar a contê-lo e, eles responderam prontamente ao chamado. Como eles mesmos aceitam, ‘é um misto de amor e necessidade que fez os ferroviários largarem a greve nessa hora.” O apito institui entre o operariado o dever da pontualidade e o “respeito pelo chefe”, no caso os donos das empresas. Continuando com o relato de Jacob, vemos mais um pouco do cotidiano no ritmo do apito. “Pobre papai! Morreu moço. Organismo não muito resistente, trabalhando sem cessar, sucumbiu ao desumano regime então imperante na indústria! Faleceu em 1903, deixando-me com três anos de idade, e a minha mãe, parturiente, com uma criança que nasceu no mesmo dia em que expirava o pai, no quarto contíguo. Vieram então, dias de grande dor e trabalho, pois mamãe, ainda não refeita do profundo golpe que sofrera nem tampouco da recente maternidade, precisou ir trabalhar na “Santa Rosália”, a fim de sustentar-se e às duas criancinhas que lhe ficaram na desolada viuvez. Vejo-a ainda, quando, em plena madrugada, eu também acordava, ao apito da fábrica¸ cujo som ecoava, no silêncio da colina, como um doloroso chamado. Meio insone, pois passava as noites cuidando do pequeno Antoninho, levantava-se, preparava às pressas seu magro café, vestia-se, beijava-nos e seguia para seu calvário. Aos domingos, dia de folga para todos, esfalfava-se em lavar a roupa da semana, à beira do Rio Sorocaba, que corria aos pés do morro.. 119

”A poucos quilômetros do centro da cidade, ergue-se uma aprazível colina, conhecida por Santa Rosália, embora figure oficialmente como Distrito de N.S. do Rosário”. Idem, p. 28.

80

..A vida em Santa Rosália, não apresentava novidades...Eram quase todos italianos ou espanhóis. 120 Viviam em boa paz, talvez por que o sofrimento os irmanasse.”

O cotidiano do apito não é de alegria, pois o rítmo não era de festa, mas da máquina. Da modernidade aberta com o ‘século do tecelão’ na cidade, modernidade para alguns, precaridade para a maioria. Quando os articulistas gabavam-se de títulos como ‘O apito das fábricas governa a cidade’, não estavam apenas intitulando gratuitamente um texto, mas relatando uma situação real do operariado sorocabano. Uma metáfora do imaginário fabril. A condição operária no início do século, em Sorocaba, não diferenciava muito da maioria do Brasil: péssima. Não havia leis previdenciárias, regularização das horas de trabalho dos homens, mulheres e crianças e ainda, nenhuma estabilidade ou garantia da permanência no emprego. O próprio relato de Penteado, citado anteriormente, dá uma prova disso. Seu pai faleceu e a mãe foi obrigada a assumir o sustento da casa, sem grandes auxílios (ou nenhum) por parte da empresa. Havia ainda, no caso de demissão, a possibilidade de o operário perder sua moradia, já que esta pertencia à fábrica. Mas o operariado reage, manifesta suas necessidades e descontentamentos tentando unir-se em associações mutualistas. 121 Na sua maioria são imigrantes italianos, espanhóis e portugueses. As Sociedades atestam essas origens: 1885 - Societá Operaria Italiana Umberto 1886 - Societá Italiana de Mutuo Soccorso i beneficensa 1890 - Sociedade Beneficente e Protetora dos Chapeleiros 1896 - Sociedade Beneficente dos Empregados da Cia União Sorocabana e Ytuana 120

PENTEADO, Belenzinho... op. cit. p. 30 (grifo nosso).

121

Conforme Aluísio de Almeida, “...a colônia espanhola principiando a chegar em 93 ou 95, primeiro operário, fez além ponte uma espécie de Brás. Citado por GODOY, op. cit. p. 42, nota n o. 81.

81

1903 - Liga de Resistência Operária 1912 - Comitato da Societá Dante Alighieri 1912 - Real Sociedade Portuguesa Beneficente Vasco da Gama 1912 - Conferência de São Vicente de Paulo.

Como não encontramos datas precisas da inauguração das três últimas sociedades, adotamos a data que primeiro aparece no 122 Anuário Estatístico de São Paulo , provavelmente tenham sido inauguradas anteriormente. As associações garantiam o direito a “...cada associado e respectiva família...a serviços médicos e farmacêuticos, ajuda em dinheiro durante doença, invalidez ou desemprego, além de pensões 123 às viúvas, velhos e orfãos.” Algumas possuíam escola e promoviam conferências em suas sedes. Às vezes, o próprio operário tinha que chamar seus companheiros à luta, como vemos no artigo de um jornal local: “Um jornal local, o Cruzeiro do Sul, grita continuamente contra o abuso systemático desta administração local convidando o povo a protestar, mas é como si clamasse no deserto; o trabalhador daqui não se envolve em política... ...Agora faço apello por intermédio do “Avante” a todos os meus companheiros...a deixar em paz as questões pessoaes, porque a União é indispensável à propaganda do nosso ideal. 124 “Avante, operários, uni-vos” Havia um grande número de crianças e mulheres nas fábricas, como atestam as imagens fotográficas da época, recebendo salários muito baixos e trabalhando muitas horas por dia. O trabalho infantil era tido como uma “caridade da parte dos patrões”. Conforme citamos anteriormente, a primeira fábrica têxtil em 1/3/1882 fazia um anúncio solicitando “rapazes de 12 a 15 anos 125 e mulheres” Em 1899 diz o jornal O 15 de Novembro sobre a Fábrica Santa Rosália no setor de fiação: 122

Annuário Estatístico de São Paulo, Vol. I, 1912, p. 318.

123

GODOY, op. cit. p. 44.

124

Cruzeiro do Sul, 13/9/1903 - Sorocaba. O “Avante” foi uma publicação do jornalista italiano Vicente Vacirca, de linha socialista; conforme PENTEADO op. cit. p. 146

125

Conforme nota n o. 6 de A construção da cidade industrial.

82 “Nestas últimas machinas só operam crianças, meninos ágeis que é uma viva satisfação ver para alli ocupados, aproveitando santamente, o tempo em que outras malboratam na ociosidade e na 126 préciosidade do vício” O trabalho das crianças era visto como pedagógico e educativo e evitava que a criança se “desviasse do bom caminho”... Assim descreve Jorge Street a saída dos seus pequenos operários: “É uma verdadeira revoada alegre e gitante que sai a 127 frente dos maiores, correndo e brincando” . Vejamos o que diz Penteado em suas lembranças sobre a fábrica têxtil: “Nos dias em que não havia aulas, mamãe levava-me consigo para a fábrica... Nos primeiros dias, aquilo, para mim, foi uma festa, uma novidade. Olhava para aquelas centenas de teares, cujos braços batiam incessantemente... Para não permanecer inativo, davam-me restos de espulas para cortar... ia retirando os poucos fios que ainda ficavam enrolados na espuma, quando esta não servia mais para a lançadeira. Esta peça, então, era uma constante ameaça para as tecelãs, pois de quando em quando, escapava do tear e ia projetarse, com incrível velocidade, para os lados. Como possuía uma ponta de ferro bastante aguda, em forma de peão, constituía realmente um 128 perigo” E completa suas impressões: “Após algumas horas de fábrica, eu ficava inquieto e começava a perambular pelas várias secções. ... e, de cinco em cinco minutos, consultava o relógio, numa ânsia de ver-me livre daquela prisão a que fora condenado pela minha mãe e 129 por minha avó...”

126

O 15 de Novembro, 3/8/1899

127

CARMO, Paulo S. do. A ideologia do trabalho. 4 a. ed.. São Paulo : Moderna, p. 70.

128

PENTEADO, op. cit. p. 62.

129

Idem, idem

83

Pelo relato vemos que o trabalho infantil não era tão alegre e a correria da saída não era uma brincadeira, mas sim, fuga da prisão diária. O trabalho infantil servia como complemento dos baixos salários das famílias operárias. Um complemento necessário à sobrevivência familiar. O inconveniente do trabalho infantil, e também feminino, a nível de classe operária, era que este dificultava a organização operária e ampliava o exército de reserva, o que levava a queda dos salários dos homens na ativa. Além da questão infantil, outro agravante da situação operária eram os atrasos no pagamento. Em 1903 no mesmo artigo, já citado anteriormente, onde o operário chama seus companheiros à luta, há a reclamação sobre o atraso de três meses da Cia Sorocabana. Quando não, eram obrigados a comprar gêneros nos armazéns das fábricas, onerando cada vez mais o operariado. Em 1914 como não havia dinheiro para o pagamento dos salários, os industriais reuniram-se para achar a solução. Criaram vales que poderiam ser trocados por mercadoria no comércio local. Novamente o operário saiu lesado: as lojas começaram a cobrar ágio, alterando, o preço das mercadorias. A seguir, anexamos uma tabela com os gastos de uma família operária, feito por Hélio Negro e Edgar Levenroth “Segundo o antigo operário e historiador Everardo Dias, a partir deste cálculo mínimo, havia um déficit no orçamento de uma família de operários urbanos de cerca de 100%, ou seja, o consumo 130 era o dobro do que se ganhava normalmente”

“CONSUMO DE UMA FAMÍLIA OPERÁRIA URBANA (HOMEM, MULHER E DUAS CRIANÇAS)

130

LEUENROTH, Edgar e NEGRO, Hélio.

O que é o Maximismo ou Bolchevismo.

1919 apud HARDMAN, Trabalho urbano..., op. cit. p. 297-8.

São Paulo,

Alimentação 12 quilos de arroz de segunda 12 quilos de feijão 18 quilos de batatas 15 quilos de pão 10 quilos de farinha de mandioca 05 quilos de macarrão 10 quilos de carne 07 quilos de toucinho ou banha 07 ½ quilos de açúcar 03 quilos de café 15 litros de leite Verduras Cebolas, alhos, sal, pimenta, vinagre, querosene, vassoura, e outras miudezas Soma Alojamento Aluguel de dois cômodos, com cozinha Outras necessidades Sabão 03 sacos de carvão Fósforo, cigarros, mensalidade ao barbeiro e à sociedade de socorro mútuos Soma

84 9$600 4$200 5$400 7$500 4$000 5$000 10$000 11$200 7$000 3$000 9$000 6$000 28$000

89$900 45$000 6$000 9$000 17$000 32$000

Vestuário

Homem (por ano) 2 ternos de roupa de pano ordinário 2 pares de sapatos 2 chapéus 3 camisas 3 ceroulas meias etc Mulher

80$000 24$000 14$000 12$000 9$000 12$000

3 vestidos de chita 2 pares de sapatos ou chinelos 3 camisas 3 saias brancas 12 pares de meias Duas Crianças Roupa e calçado Outras necessidades Móveis, louça, e outros objetos necessários, durante o ano (imprevistos) Total anual ou seja, por mês Resumo Alimentação Alojamento Outras necessidades Vestuário, calçado e demais imprevistos Soma

60$000 24$000 15$000 21$000 18$000

85

100$000 100$000 489$000 40$000 89$900 45$000 32$000 40$750 207$650

Como se vê, nestas despesas não estão incluídos quaisquer divertimento, bebidas, bonde, luz, educação das crianças, nada absolutamente que vá além do que é estritamente necessário à vida de quatro entes humanos. Foi calculada uma alimentação parca, da mais inferior qualidade, e só para quatro pessoas, não obstante as famílias de operários serem geralmente mais numerosas. Supomos também que o chefe da família trabalha desde o primeiro dia do ano, embora saibamos que há as paragens forçadas por doenças, desemprego, greve etc. Recaíra ainda sobre a precária condição de vida do operário sorocabano, o peso psicológico de, em 1917, ser considerado o responsável pela falência da Votorantim. Diz ALMEIDA: “Aconteceu, então , que após uma greve geral de todas as fábricas de Sorocaba em agosto de 1917 a fábrica Votorantim não reabriu O “Banco União” não pode pagar o aumento de salário...” E alude, sem muita ênfase, que também não pagou “por dificuldades advindas da Primeira Grande Guerra, faliu.” (ALMEIDA, 1969:274)

86

Conforme os estudos de GODOY, vemos que a culpa estava mais ligada ao empresariado que aos operários.

“A fábrica Votorantim, apesar de ser efetivamente uma das maiores da América do Sul, era em 1913 - dois decênios depois de sua 131 fundação - uma promessa.” Várias tentativas foram feitas para “ salvar “ a empresa e o próprio Banco União de São Paulo da falência: empréstimos, mudanças na diretoria, redução das despesas. Mas, “...o ano de 1917 seria o último de funcionamento para o Banco União. A falência não pôde ser evitada. E suas causas podem ser explicadas pelos seguintes fatores: a) as dificuldades encontradas por todas as empresas industriais para funcionar num sistema econômico caracterizado por uma racionalidade comercial, b) a falta de capital de giro; c) a incapacidade administrativa dos principais acionistas; 132 d) a política cambial do estado” Porém, o que ficou na memória popular e na historiografia local foi a greve como a culpada pela falência. Não só isso, também o operariado, nem tanto organizado, foi acusado de impedir ou limitar a fixação de outras indústrias como já citamos anteriormente... Na luta ideológica entre as duas classes sociais, que queriam se firmar, ficou a Manchester Paulista: cidade das indústrias - mas não do operário - e do progresso. Cidade que soube lutar pelo seu desenvolvimento. À Moscou Paulista coube o esquecimento, a “culpa”, por querer melhores condições de vida, a “vergonha” por não enriquecer trabalhando.

131

GODOY, op. cit. p. 25.

132

Idem, p. 27.

87

Até logo, até logo, companheiro, Guardo-te no meu peito e te asseguro: O nosso afastamento passageiro É sinal de um encontro no futuro. Adeus, amigo, sem mãos nem palavras. Não faças um sobrolho pensativo. Se morrer, nessa vida, não é novo, Tampouco há novidade em estar vivo.

1925 Sierguéi Iessiênin (Tradução de Augusto de Campos)

88 VII. PONTOS FINAIS Chegamos a um ponto que quer ser final. Durante o percurso do texto chegamos a algumas conclusões sobre o processo de industrialização, ou melhor, a gênese do processo industrial em Sorocaba. Um trabalho com tal pretensão chega ao fim sem atingir seu objetivo. Aparentemente. Andamos durante todo o tempo atrás de respostas. Respostas que o nosso viver acadêmico queria satisfatórias. E por que não, perfeitas. Mas a leitura do texto revela-nos que formulamos questões, invertemos os questionamentos. Conforme íamos redigindo o texto, ele se ia fazendo, por conta da liberdade que nos permitimos. Falar sobre o operariado e seu cotidiano no final do 133 século XIX e começos do XX, é mergulhar como um flâmeur pela cidade, como nos sugere Walter Benjamin, em meio a diferença por ele apontada entre o contador de estórias e o romancista. Ë que o primeiro tem quem o ouça. No momento em que mergulhamos pela cidade, primeiro cidade das feiras de muares agitada, alegre, com um comércio que movimentava a vila local ao mesmo tempo em que encarecia a subsistência de uma parcela da população, pois todos queriam acumular rápido, já que a Feira durava apenas três meses, ouvimos histórias de viajantes, alguns maravilhados, outros preocupados com a “farra”, as mulheres de vida fácil, e alguns sorocabanos, da sociedade local, dando graças com o fim das feiras, clamando pela “moral e bons costumes”, que não eram respeitados durante esses meses. Num segundo momento, observamos o deslocamento das atividades econômicas para o comércio do algodão. Comércio exportador, contatos com a Inglaterra, com o Porto de Santos, 133

”O Flâmeur é aquele que vaga pela cidade num derivé. Mas não é somente o espaço da cidade que está à disposição do flâmeur, é também sua história...A flânerie o conduz para um tempo desaparecido, cada rua para ele é uma ladeira que desce em direção ao passado o dele e o da cidade”.

ROUANET, Sérgio Paulo. “É a cidade que habita os homens ou são eles que moram nela?” In: _________Dossiê Walter Benjamin. Revista USP, nº 15, set/out/nov 92, p. 50

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muitas libras enriquecendo alguns sorocabanos, e o pequeno lavrador de algodão ocupando toda família nesse cultivo, para garantir sua subsistência. A cidade começa a modificar-se junto aos manufatureiros e artesãos. Ligadas, principalmente, às feiras, surgem máquinas de descaroçar algodão, início da mecanização. Até mesmo a fábrica de chapéus, despercebida como fábrica, de tão comum no dia-a-dia das pessoas aquele complemento do vestuário, ainda que muito importante à época. Antes de adentrar o novo século a cidade já possuía fábricas têxteis. A profa. Dra. Elina O. Santos, na tese de doutoramento, página 69, aborda a arquitetura de Sorocaba, mostrando suas mudanças, afirmando: “Quem mudou muito foi a população que lhe dá vida. O ciclo industrial com a introdução do operário criou novas condições de vida para sua sociedade. Com o aumento progressivo do operariado estendeu-se a área urbanizada ao mesmo tempo que 134 adquiria a cidade aspecto de centro industrial”. Realmente, quem mudou muito foi a população que constitui a cidade nos fins do século XIX e anos posteriores, é diferente daquela que vivia, por exemplo, das feiras de muares ou da agricultura. Durante, porque já não está dispersa pelos sítios como os produtores de algodão; diferente porque não tem as ferramentas de artesão ou uma oficina, muito menos um comércio exclusivamente ligado aos tropeiros e às feiras. A “nova” população está concentrada em bairros próprios, as vilas operárias, sua única propriedade, porém, é a força de trabalho. Todos, por certo, lutavam pela sobrevivência. Mas outra é, agora, a relação social. Não têm mais a liberdade produtiva do artesão e do manufatureiro. Além do trabalho serial, o resultado final não lhe pertence. Não tem mais a liberdade de horário, seu dia começa e termina com as estrelas, e é marcado pelo apito que o intima para o trabalho diuturnamente. Igual aos demais, sua condição de vida é péssima, ao contrário de uma classe privilegiada que sempre existiu.. Contudo, diferente dos demais, o operário luta, põe em relevo o antagonismo entre as duas classes sociais: proletários e burgueses. Tenta se organizar em sociedades mutualistas e de resistência, sabe que a luta é coletiva. Mostra à burguesia e à toda a 134

SANTOS, Industrialização de Sorocaba... op. cit., p. 69

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sociedade que o progresso não é geral, mas unilateral. Somente a Manchester Paulista progride; a Moscou Paulista ainda é um devir. “O cotidiano da classe operária em São Paulo revela ao 135 mesmo tempo atitudes alternadas de conformismo e rebeldia”. Não apenas em São Paulo, mas também no interior a luta dos operários jamais foi linear, avanços e recuos se sucediam. Para garantir o avanço do processo industrial na cidade, o operário solicita ao Congresso Nacional apoio à indústria brasileira. De outra feita, aceita os valores como forma de pagamento mensal, para garantir tanto seu trabalho e sustento, quanto a mais-valia do patrão. Em outros momentos revolta-se, vai à greve, faz denuncias. Entrementes, faz festa. É o momento - imaginam - de ganhar as ruas centrais, suprimir a visão idílica que cabia ao interior, mesmo tendo de carregar o peso da responsabilidade da falência da fábrica. Ou, então, ser preso, como o “...marceneiro Joseph Joubert... que ...chegou a agredir o delegado de polícia da cidade. Foi julgado e 136 condenado a 4 meses de prisão”. Aliás, o operariado era coisa de polícia, mesmo! Na falta de um departamento e de leis que regulamentassem as relações entre patrões e empregados, ambos recorriam à polícia. As “fichas de solicitação de emprego” eram feitas na delegacia. Uma forma de racionalização do trabalho e de controle da população proletária. Tudo indica, porém, que pouco adiantava aos operários recorrer à polícia ou ao delegado, reivindicando qualquer coisa que fosse. À polícia cabia “manter a ordem” e o operariado era visto como marginal, indisciplinado, quase-coisa. Os patrões, ao contrário, eram tidos como benfeitores das massas pobres e tinham direito de solicitar (sempre atendidos) uma intervenção policial quando achassem necessário. Da análise, resulta que a formação do empresariado industrial, assim como o proletariado, foi possível graças à articulação e depois dissolução das atividades, feiras, algodão, de cunho comercial. Não que as indústrias tenham eliminado essas atividades. Bem ao contrário, irão se aproveitar delas. Das feiras, podemos inferir que 135

DECCA, Maria A.G. de. Cotidiano de trabalhadores na República São Paulo - 1889/1940. São Paulo : Ed. Brasiliense - Col. tudo é História n o. 130, 1990, p. 16.

136

OLIVEIRA, São Paulo de Sorocaba...op. cit. p. 23.

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foram importantes na infra estrutura urbana, abrindo caminhos novos, novas ruas para a passagem das tropas e até mesmo favorecendo a elevação da vila à categoria de cidade, em 1842. Entretanto, os “ares de vila” só mudarão a partir de 18701880 quando novas coonstruções - como a Estação da E.F. Sorocabana, o primeiro prédio de tijolos da cidade começaram a substituir as construções de taipa. A cidade havia se ampliado, mas ainda, não era esteticamente moderna. As fábricas trazem o estilo inglês na arquitetura de seus prédios desoando dos restantes de simplicidade colonial num modelo português. A Manchester Paulista de operários e empresários, muito mais desses últimos, é uma cidade que se moderniza com sua infraestrutura urbana sendo melhorada para atender às necessidades da população e do capital industrial e comercial nela aplicados. As redes de água, esgoto e iluminação reclamadas pela população temerosa com as duas epidemias de febre amarela certamente não demorariam visto ser também do interesse dos industriais, como forma de garantir e melhorar a produção e consequentemente seus lucros. O interesse se comprova no primeiro contrato de 1890 com Frank Speers (Francisco José Speers) que foi um dos fundadores da Fábrica Santa Rosália (Oetterer e Speers e Cia.). A cidade cresce realmente. No período do auge das Feiras de Muares as ruas foram sendo prolongadas ou abertas, o comércio tomava impulso, mas, é com a industrialização que a cidade irá se tornar um “centro regional”, recebendo população e oferecendo um comércio diversificado. Diferente do período das feiras, quando a movimentação era maior durante alguns meses apenas, a Sorocaba industrial recebe e oferece ventagens, à população da região próxima, o ano todo. Da cidade era comercializado e enviado o algodão ao porto, depois passa a ser transformado e comercializado ali mesmo. Podemos inferir ainda, que a população pobre e os operários sorocabanos foram, junto com os de muitos lugares, fundamentais para a aceitação dos produtos nacionais (principalmente tecidos, produtos básico), já que estavam impossibilitados de consumir produtos estrangeiros.

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Mas nem tudo, em uma cidade, é apenas concretude. O imaginário, criado pela população, também constrói o espaço social, morada do cidadão. Criam-se os mitos. Pessoas ou situações no caso: Maylasky, o “Estrangeiro Misterioso”e Sorocaba, a Manchester Paulista. A manutenção do primeiro está em suas ações e empreendimentos. A da segunda, no espaço. Prova disso é o interesse e o orgulho pelos bondes que começam a trafegar pelas ruas e o alarde modernista anunciado pelos jornais. As chaminés com sua negra fumaça do progresso exaltadas nos almanaques. A comparação com a cidade inglesa ajuda na ideologia do trabalho seriado tão necessária ao capitalismo aos capitalistas. O espaço se altera para fazer jus a essa posição de cidade fabril, moderna, à frente nas iniciativas empreendedoras. Antes “Novelo de Linha”, agora Manchester Paulista. A cidade cresceu realmente... Porém, essa posição de destaque, primeiras décadas do século, não perduraria, sendo suplantada por Campibnas, Ribeirão Preto, por exemplo Ficou a alcunha. O cartão postal comercializado na cidade confirma isso (Ver foto). Daquela Sorocaba textil pouco sobrou no espaço rugosidades (SANTOS, 1990:138) Prédios vazios e semidestruídos no centro da cidade ou transformados conforme o interesse público ou privado, mostram o passado. O tropeiro é lembrado anualmente com a “Semana do Tropeiro”: O operário têxtil não tem semana, nem dia, nem memória. A construção da Manchester Paulista deixou no anonimato seus construtores e as marcas no espaço estão acabando. Desfazem-se os velhos mitos. Criam-se outros...

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102 MANUSCRITOS Museu Histórico Sorocabano. Casa de Aluísio de Almeida. Arquivo do Estado de São Paulo.

IX. ANEXOS

LEVANTAMENTO DO COMÉRCIO SOROCABANO EM 1890 FONTE: ALLMANAQUE DA PROVÍNCIA DE SÃO PAULO, 1890, PÁG 377 A 385 RUA DA PENHA LOJAS DE FAZENDAS Antonio Bernardo Vieira Antonio José Araujo Antonio Marciano da Silva Araújo e Vieira Carlos Ranier Francisco Ferreira Leão Luiz Matheus Maylasky Manoel José da Fonseca Manoel Maria X. De Araújo

Soares e Irmão ARMAZÉNS E ARMARINHOS Francisco Ferreira Leão Gaspar José Ferreira de Paiva ARMAZÉNS DE SECOS E MOLHADOS Amancio Padilha de Oliveira Antonio Fernandes da Rosa Antonio Nogueira Custódio Antonio Rodrigues da Costa Bento José de Almeida João Ribeiro Mendes Manoel Marin ALFAIATES Henrique Rodrigues Costa ARMADORES José Manoel de Oliveira Leme BARBEIROS Serafim de Madureira RUA DO COMÉRCIO LOJA DE FAZENDAS Antonio de Moraes e Silva Eduardo Antero da C. Vieira João de Oliveira Guimarães Teixeira e Guimarães ARMAZÉNS E ARMARINHOS José Rodrigues Jorge ARMAZÉNS DE SECOS E MOLHADOS Antonio Maria de Góes Francisco Antunes de Góes Joaquim Pereira Guimarães

103

José Rodrigues de Oliveira José Teixeira Cavalleiro Luiz Rodrigues dos Santos Paulino de Camargo ALFAIATES Benedito José de Almeida Pedro Rodrigues de Mello RUA DE SÃO PAULO LOJA DE ARREIOS Carlos Jacob Seraibrik ARMAZÉNS E ARMARINHOS Antonio Pandorf João Mathias Cleis Joaquim Antonio Machado ARMAZÉNS DE SECOS E MOLHADOS Antonio Siryno da Silveira Domingos Ildefonso Lopes Joaquim Antonio Cardoso Joaquim Antonio Machado José da Costa Hortinha José Sendy Manoel Luiz Mendes Manoel Pinto Pedro José Sanger ALFAIATES José Alexandre da Silva CONFEITARIAS Joaquim Antonio Cardoso FERRADORES João Pedro Jacob Seraibrik HOTÉIS Manoel Luiz Mendes

104

Manoel Pinto RUA DO HOSPITAL ARMMAZÉNS E ARMARINHOS Antonio Barnabé da Rosa Luiz Bueno de Godoy Manoel Vieira Rodrigues ARMAZÉNS DE SECOS E MOLHADOS Estanislão José de Mattos Estanislão Joaquim de Almeida João Marçal de Oliveira Manoel da Costa e Souza Manoel da Rocha Camargo Prudencio Mart. De Souza Prestes Vidal Rodr. Pacheco Gato HOTÉIS Ignácio Moreira da Silva MARCINEIROS João Carlos Gromas OURIVES Florentino Garcia Vieira Francisco de Paula Oliveira SELEIROS Jacob Bauer SERIGOTEIROS Antonio Delfino de Arruda Manoel da Costa e Souza RUA DA PENHA COLCHOEIRO Adão de Paula FÁBRICAS DE SEGES E TROLYS Francisco Alves

105

106 LOMBILHEIROS Ignácio Pereira de Campos MACHINAS DE DESCAROÇAR ALGODÃO Luiz Matheus Maylasky MARCINEIROS Frederico Schepe José Messias da Costa Nunes OUVIRES Antonio José da Rosa Antonio Martins de Oliveira Antonio Machado de Moraes Antonio Messias da Costa Nunes José de Mascarenhas Camello José Narciso Pacheco RELOJOEIROS Frederico Hummel SERRALHEIRO Hemrique Veuteroff TIPOGRAPHIA Julio Ribeiro RUA DE SÃO PAULO LOMBILHEIRO Pedro José Sanger Jr. OUVIRES Antonio da Silva Oliveira PEDREIROS Antonio Francisco de Campos SELEIROS Serafim de Paula Rosa

107 SERIGOTEIROS Antonio Fogaça de Almeida RUA DAS FLORES LOJAS DE FAZENDAS João Aguiar de Barros ARMAZÉNS DE SECOS E MOLHADOS Hippolyto Cassino da Silva João Joaquim de Oliveira ALFAIATE Irinêo Severino de Almeida MACHINAS DE DESCAROÇAR ALGODÃO Ten. Cel. Francisco Gonçalves de O. Machado RELOJOEIROS Francisco F. Hach TYPOGRAPHIA Francisco de Paula Oliveira Abreu PEDREIROS Adolpho Lippel ADVOGADOS José Leite Penteado Ubaldino do Amaral Fontoura MÉDICOS Dr. João Henrique Adams Dr. Pedro Dias Carneiro CAPITALISTAS D. Antonia Candida de Camargo Ten. Cel. Fernando Lopes de Souza Freire

108 RUA DA PONTE LOJA DE FAZENDAS João da Cruz X. De Araújo ARREIOS Jeremias Wenderico ARMAZÉNS E ARMARINHOS Antonio Fogaça de Almeida Carlos Opts Christiano Exel José Barbosa ARMAZÉNS E ARMARINHOS Domingos Paschoal João Rodrigues Costa Joaquim Cardoso da Costa Raphael Cassiani ALFAIATES Manoel Dias da Cruz e Comp. CONFEITARIAS Dona Julia da Costa FÁBRICA DE CHAPÉOS Teodoro Kaisel (sic) FÁBRICA DE VELAS DE CÊRA Rosa Maria das Neves Vieira FERRADORES Antonio Jacob Seraibrik Jeremias Serabrik RUA DE SÃO BENTO ARMAZÉNS A ARMARINHOS Antonio Joaquim Dias

109 ARMAZÉNS DE SECOS E MOLHADOS Antonio Dangas Maximiliano Martins Garibaldi FERRADORES José Antonio de Souza Bertholdo Manoel Augusto de Souza MARCINEIROS Henrique Wast Pedro Batista Der RETRATISTA Camilo Pijard PHARMACEUTICOS José Joaquim de Carvalho Mascarenhas RUA DIREITA ARMAZÉNS E ARMARINHOS Camillo Rodrigues de Barros José Antonio Galvão ARMAZÉNS DE SECOS E MOLHADOS Antonio Antunes de Oliveira Dias Domingos Mobilla João Venâncio Gomes Joaquim Antunes de Oliveira Dias Luiz Antunes de Góes Pedro Meleville CONFEITARIAS Joaquim Teixeira Cavalleiros D. Maria das Dores Pinto PADARIAS Pedro Meuville

TYPOGRAPHA Manoel Januário de Vasconcellos CAPITALISTAS José Gabriel de Carvalho RUA DA PENHA PEDREIROS Daniel Lippel SELEIROS Felippe Endres de Paula José Bento de Macedo e Castro SERIGOTEIROS Candido José de Almeida CAPITALISTAS Antonio Marciano da Silva Francisco Ferreira Leão RUA DA PONTE HOTÉIS Manoel Furtado Côrte-Real MACHINAS DE DESCAROÇAR ALGODÃO Antonio Joaquim de Sant’Anna MARCINEIROS Carlos Opts Germano Petcolt SERIGOTEIROS Antonio Luiz de Almeida ADVOGADOS Antonio José Ferreira Braga Vicente Eufrásio da Silva Abreu Joaquim Manoel Gonçalves

110

111 DENTISTAS Joaquim Pacheco de Araújo CAPITALISTAS Antonio Joaquim de Sant’Anna Cap. Francisco Xavier de Barros RUA DE SANTA CLARA ARMAZÉNS DE SECOS E MOLADOS Bento Manoel de Almeida Francisco Leme de Souza LOMBILHEIROS Francisco Feliciano de Barros Manoel de Medeiros Barros MARCINEIROS Luiz Antonio de Sant’Anna RUA DOS MORROS ARMAZÉNS DE SECOS E MOLHADOS Floriano Leme de Souza Genoveva Maria de Quevedo João de Barros Leite Manoel Augusto de Castro Vasconcellos Maria da Conceição RUA DO CEMITÉRIO ARMAZÉNS DE SECOS E MOLHADOS Antonio Gregório Martins RUA MUNICIPAL ARMAZÉNS DE SECOS E MOLHADOS Bárbara Ferraz de Camargo RUA DO BOM JESUS COCHEIRAS Joaquim Antunes de Oliveira

RUA DA BOA MORTE MÉDICO Dr. Antonio José da Silva Braga RUA DE SANTO ANTONIO CONFEITARIAS Jacob Bauer RUA DA INDEPENDÊNCIA ARMAZÉNS DE SECOS E MOLHADOS José Thomaz da Silveira RUA DA SANTA CLARA ARMAZÉNS DE SECOS E MOLHADOS Pedro Celestino de Assumpção ARMADORES José Caetano Prestes SERIGOTEIROS Joaquim Antonio da Trindade José Anselmo Pereira RUA DA CONSTITUIÇÃO ARMAZÉNS DE SECOS E MOLHADOS José Antonio de Barros

LARGO DA MATRIZ ARMAZÉNS DE SECOS E MOLHADOS José Leite de Freitas Broxado Manoel Nogueira Padilha Salvador Rodrigues dos Santos ALFAIATES José Joaquim dos Santos

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113 BARBEIROS Francisco Antonio de Sant’Anna José Joaquim dos Santos CASAS DE JOGOS DE VESPORA (LOTO) Francisco Antonio de Sant’Anna CONFEITARIAS d. Carolina Der D. Clementina do Amaral F. Ribas João de Queiroz DOURADOR E PRATEADOR Antonio Tristão de Rezende PADARIAS D. Clementina do Amaral Ferreira Ribas CAPITALISTAS Lázaro Manoel Freire RUA DO PIQUE ARMAZÉNS DE SECOS E MOLHADOS Francisco das Chagas de Jesus Martins Francisco Vieira de Pontes RUA DO ROSÁRIO ARMAZÉNS DE SECOS E MOLHADOS João Kenipel FÁBRICAS DE CHAPÉOS Antonio Rogick e Comp. FÁBRICAS DE SEGES E TROLYS José Maia FERRADORES

Bento José de Almeida Lima MACHINAS DESCAROÇAR ALGODÃO Te. Cel. João Teixeira de Miranda PADARIAS João Kenipel PEDREIROS Frederico Lippel MÉDICOS Dr. Virgílio Augusto de Araújo PHARMACÊUTICOS Joaquim Rodrigues da Fonseca Rosa CAPITALISTAS Antonio Rogick Camillo José de Mattos Ellias Manoel Freire RUA DOS PRAZERES ARMAZÉNS E ARMARINHOS Floriano Quintino Torres ARMAZÉNS DE SECOS E MOLHADOS Florencio Paulino Ayres RUA DA MARGEM ARMAZÉNS E ARMARINHOS Fontoura e Irmão Redondo e Coelho ARMAZÉNS DE SECOS E MOLHADOS José de Almeida Tavares Maria Ferraz de Sampaio Pedro José Fontoura Pedro José Rodrigues de Camargo

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CASAS DE JOGO DE VESPORA (LOTO) Joaquim Vicente de Almeida LOMBILHEIROS Luiz Antunes MARCINEIROS Francisco Félix Fogaça Jeronymo Antonio Lopes Joaquim Vicente de Almeida José Moreira Claro Laurindo Antonio de Almeida Raphael Isidoro Padilha Salvador Laudate RUA DA BOA VISTA ARMAZÉNS E ARMARINHOS João Joaquim de Camargo José Pedro de Quevedo ARMAZÉNS DE SECOS E MOLHADOS Anna Aff Felippe Wenderico Joaquim Manoel de Oliveira Coelho Mathias Antonio Mollitor Pedro Samuel Stumber COCHEIRAS Agostinho Antonio de Oliveira Dias OUVIRES Guilherme Severiano da Costa Oliveira SERIGOTEIROS Antonio Maximiano de Godoy Pedro Samuel Stumbek RUA DE SÃO FRANCISCO ARMAZÉNS DE SECOS E MOLHADOS

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Antônio Ferreira de Paula

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