DEBATE CEPAL/ISEB VS ESCOLA DE SOCIOLOGIA PAULISTA E O CONCEITO DE MASSA MARGINAL DE JOSÉ NUN

May 26, 2017 | Autor: Léo Vinicius | Categoria: Human Geography
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DEBATE CEPAL/ISEB VS ESCOLA DE SOCIOLOGIA PAULISTA E O CONCEITO DE MASSA MARGINAL DE JOSÉ NUN Após esclarecer o conceito de tirania do dinheiro, Simoni busca se aprofundar melhor em relação ao posicionamento de Milton Santos no debate sobre a globalização. A partir do movimento de renovação crítica do pensamento geográfico ocorrido na segunda metade do século XXI, um grupo composto por intelectuais reunidos no Chile governado por Salvador Allende (entre eles Fernando H. Cardoso, Paul Singer e Milton Santos) centralizaram-se em um debate que pretendia revelar os processos vividos na América Latina de sua época. Esse grupo, com figuras ligadas à CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina), ao ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros) e à ESP (Escola de Sociologia Paulista) floresceu em um ambiente social e político repleto de criticismos ao liberalismo econômico (que obteve grande adesão desde a Grande Depressão de 1930) e com diversas outras críticas, como ao tratamento de crises como fatos isolados e a pobreza e miséria como acidentes. A partir dessa crítica ao liberalismo, somada à um entendimento da insuficiência da teoria de classes sociais marxiana (dualismo proletário x capitalista) empregada aos estudos da América Latina e ao conhecimento do imperialismo como chave principal dos eventos que estavam ocorrendo, nasce uma tendência liderada pelos intelectuais da CEPAL e do ISEB que propunha uma solução baseada no “nacional-desenvolvimentismo”, ou seja, acreditavam que para se obter uma nação forte era essencial criar um estado-nação sólido e assim alcançar o desenvolvimento econômico. Esses intelectuais cepalinos e isebianos, (entre eles temos Raul Prebisch, Celso Furtado e Nelson Werneck Sodré) além de possuírem um pensamento majoritariamente estruturalista e nacionalista em termos econômicos, baseavam-se na década de 30 com Getúlio Vargas para pressupor que no Brasil havia uma “burguesia nacional” e que a mesma compartilhava de visões nacionalistas similares sobre a industrialização do país. Guiados por essa crença, que até os anos 1950 poderia fazer sentido, esses intelectuais propunham um pacto entre Estado e burguesia nacional para solucionar os problemas de desenvolvimento econômico no continente. No entanto, com a ocorrência da ditadura militar de 1964, ganha influência um novo grupo

de intelectuais, dessa vez desiludidos não apenas com o liberalismo econômico, mas também com a teoria do pacto entre Estado e burguesia como solução dos problemas desenvolvimentistas na América Latina. Esse grupo marxista, localizado na Universidade de São Paulo e conhecido como Escola de Sociologia Paulista, afirmava que a ditadura que estavam presenciando era exatamente um exemplar do tão almejado pacto nacional, e que o mesmo havia se mostrado catastrófico, pois o desenvolvimento da época se apoiou basicamente na superexploração dos trabalhadores, afirmando assim, a natureza da burguesia de se aproveitar do convênio internacional. Além das críticas lançadas ao pensamento estruturalista dos intelectuais da CEPAL, os sociólogos paulistas lançaram ainda duras críticas à visão dualista empregada pelos intelectuais do ISEB, que tratavam a modernização como a antípoda do atraso latino-americano e o império como antípoda da nação. A partir da união dessas ideologias firmadas pela Escola de Sociologia Paulista, articulou-se uma nova análise sociológica latino-americana que ia em contrapartida à nacional-desenvolvimentista: a teoria da dependência associada. Baseando-se em trabalhos anteriores de autores como André Gunder Frank e Ruy Mauro Marini, Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto desenvolvem na década de 60 a teoria da dependência associada. Essa teoria diz que o desenvolvimento vivido pela América Latina em seu período de ditaduras era derivado de um modelo de desenvolvimento autoritário no nível político e concentrador de renda no nível econômico. Por entenderem que a dependência não era algo imposto de fora, mas sim derivado da união entre interesses do mercado externo e da burguesia interna, os intelectuais adeptos dessa nova teoria acreditavam que a falta de uma burguesia realmente nacional obrigava os países latino-americanos a se associarem ao sistema dominante para ao menos poderem aproveitar as possibilidades de financiamento para seu desenvolvimento interno. Com uma exposição ampla do contexto da crítica na geografia latino-americana, o professor cria as bases para apresentar um debate específico localizado entre esses diversos outros debates: o conceito de massa marginal, apresentado por José Nun em 1969. Nun, ao analisar Karl Marx em O Capital, localizou o conceito de “exército de reserva” (definido por Marx como massa de desempregados) e o interpretou como sendo uma massa funcional do ponto de vista do capital, pois os desempregados criariam uma maior competição no oferecimento de mão de obra o que ajudaria a pressionar os salários para baixo,

aumentando assim, a mais-valia da região. No entanto, para ele, a teoria marxista clássica, por ser uma teoria que não possuía vínculos com a América Latina, não conseguia enxergar a sua situação atual e englobar o que ele chamou de massa marginal ou superpopulação relativa. Para Nun, essa massa marginal, criada a partir de um desenvolvimento agrícola-industrial muito rápido em certas regiões, seria uma parcela da população que acaba por exceder as oportunidades de emprego e passa assim a ser disfuncional em relação ao capital (temos como exemplos as favelas acumuladas em grandes centros).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRESSER-FERREIRA, L. C. As Três Interpretações da Dependência. Perspectivas, São Paulo, v.38, p. 17-48, jul./dez. 2010. CARDOSO, F. H. FALETTO, E. Dependência e Desenvolvimento na América Latina: Ensaio de Interpretação Sociológica. São Paulo: Difel, 1970. MARX, K. A Lei geral da acumulação capitalista (cap. XXIII), In: O Capital (Livro Primeiro, vol.II). Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 1979. NUN, J.L. Marginalidad y Exclusión Social. Buenos Aires: Fondo Económico de Cultura, 2001. PREBISCH, R. O Desenvolvimento econômico da América Latina e seus principais problemas. Revista Brasileira de Economia, Rio de Janeiro, v.3, n.3, p.47-111, 1949.

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