Defesa de Clitemnestra e Defesa de Electra

September 23, 2017 | Autor: Mário Oliveira | Categoria: Tragedia griega clásica
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Curso: História (Licenciatura, 1º ano, 2º Semestre);
Cadeira: História das Culturas da Antiguidade Clássica;
Docente: Prof. Doutor Nuno Simões Rodrigues;
Aluno/realizador: Mário Oliveira N.º 50366;
Data: 04 de Junho de 2014.
Defesa de Clitemnestra e Defesa de Electra
Trabalho baseado nas obras de Ésquilo, Sófocles e em particular Eurípedes relacionando com o filme contemporâneo de João Conijo: "Mal Nascida" (2007).
A argumentação, a explicação para os crimes cometidos por Clitemnestra e Electra baseiam-se na etiologia do regicídio.
Clitemnestra:
Tanto em Sófocles como em Eurípedes o principal argumento de Clitemnestra para justificar a trama contra o esposo é o sacrifício humano a que a filha Ifigénia foi alvo. Este sacrifício da filha virgem foi levado a cabo por Agamémnon em nome da guerra pela adúltera Helena. Este argumento vai ao encontro do filme, quando Adelaide conta à Lúcia que Fátima, a outra filha dela morreu por um desmanche que o Américo obrigou a fazer. Morreu com 16 ano, tudo por causa da violação cometida pelo seu pai Américo. Uma morte provocada pela vergonha de um pai em ter um filho da própria filha. Este ato foi a sua sentença de morte. Evaristo, ao que tudo indica era o amante de Adelaide quando o Américo ainda era vivo. Este matou Américo à martelada de maneira a salvar a sua amada como a filha dela que nunca soube apreciar este ato. Um crime de sangue deve ser pago na mesma moeda, com sangue. Segundo Ésquilo, Clitemnestra é atormentada em sonhos sendo a descrição de tais sonhos igual à do filme. Em Ésquilo a Clitemnestra teria dado à luz uma serpente, a qual lhe sorveria do seio de leite e com ele o sangue também. É de certo modo incompreensível a amplitude, a dimensão da revolta de Electra pela mãe. Ao longo do filme Adelaide tenta fazer as pazes com a filha, tenta explicar as motivações que a levaram a cometer tal crime, tenta evitar o internamento arranjando um casamento (nunca ponderou a morte da filha) e mesmo no fim quando os seus próprios filhos se prepararam para a matar, mostra-se arrependida de toda a dor causada mostrando os lados positivos da relação de mãe-filho(a). O matrimónio de Electra/Lúcia nunca foi consumado no filme nem nas tragédias gregas e tal arrependimento de Clitemnestra é visível também nas obras gregas, em particular no diálogo entre Clitemnestra e Orestes nas Coéforas. Egisto/Evaristo foram o conforto de Clitemnestra/Adelaide. Estes acabaram por morrer pelas mãos dos filhos de Clitemnestra/Adelaide. O matricídio representa um ato bem trágico comum na tragédia grega.
Electra:
Nas obras de Sófocles e Eurípedes nota-se logo uma ascensão da personagem Electra. No filme, Lúcia, representante de Electra sofre de uma profunda tristeza e cólera desde que assistiu à morte do seu pai pelas mãos de padrasto e da sua própria mãe. Sofreu ao longo do tempo inúmeras ofensas físicas e psicológicas. Foi tratada como escrava, obrigada a dormir com os porcos, obrigada a casar com um modesto camponês (Justino) e obrigada a mandar o seu irmão (Augusto Barata) fugir para não ser morto pelo padrasto ou acabar numa vida infernal como a dela nas melhores das hipóteses. Nas tragédias gregas Electra sofreu do mesmo. Ela arranjou maneira de salvar o irmão, foi escrava no palácio da sua mãe, Egisto fê-la casar-se com um pobre camponês. Tal como no filme como em Eurípedes, Orestes/Augusto faz-se passar por um estrangeiro que não é reconhecido no primeiro contacto com a sua família. A mitologia grega e em particular a tragédia grega obriga a que os filhos matem os assassinos dos pais como forma de vingança, caso contrário são apanhados pelas Fúrias, mas a tragédia deste acontecimento no panorama de relação entre Clitemnestra/Egisto e Electra/Orestes evoca uma grande tragédia pois é considerado uma espécie de crime divino o ato de matricídio, e por isso as Fúrias têm obrigação a apanhar os causadores desse ato. Nas duas obras (Sófocles e Eurípedes), Electra usa para seu proveito o argumento de Clitemnestra ("Uma morte é sempre paga com outra"). Se o sacrifício de Ifigénia justifica a morte de Agamémnon, a morte deste justifica a morte de Clitemnestra. Esta teoria é o ponto final do debate das duas e o necessário para se avançar com o matricídio. Orestes/Augusto é a peça necessária para se avançar com o matricídio. Lúcia//Electra não o cometeu antes por estar à espera do irmão para a salvar e a ajudar a matar os assassinos do seu pai. Em Eurípedes Orestes hesita a cumprir o sacrifício da mãe, este e Electra lamentam o seu próprio ato e fazem uma reflexão sobre o quinhão de culpa que caberia a cada um. No filme não é revelado se o matricídio foi sancionado, mas também nas tragédias sabe-se que esse ato não foi reprovado.

Bibliografia:

MARIA HELENA DA ROCHA PEREIRA, Estudos de História da Cultura Clássica I Volume-Cultura Grega, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2012, p.418.
SÓFOCLES, Tragédias do ciclo troiano, Lisboa, edições Sá da Costa, 1973, p. 83.




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