DEFINIÇÃO E ALCANCE DE OBJETIVOS E EMOÇÕES POSITIVAS: INTERSECÇÕES

Share Embed


Descrição do Produto

Revista Científica Brasileira de Coaching VOLUME 2 / NÚMERO 2 / 2015

ABORDAGEM CIENTÍFICA DO COACHING

REVISTA CIENTÍFICA BRASILEIRA DE COACHING (BRAZILIAN JOURNAL OF COACHING) A Revista Científica Brasileira de Coaching (Brazilian Journal of Coaching) é uma revista destinada a apresentar os resultados dos estudos sobre coaching desenvolvidos no Brasil e no mundo e uma iniciativa da Sociedade Brasileira de Coaching® com publicação semestral. Av. Fagundes Filho, 141, 11º andar - CEP 04304-010 - Vila Monte Alegre, São Paulo/SP – Brasil Tel.: (11) 3775-5333 e (11) 4040-4213 Presidente Villela da Matta Vice-Presidente Flora Victoria ISSN 2446-936X

SBCOACHING EDITORA EDITORES-CHEFES

Flora Victoria / Villela da Matta

EDITOR ADJUNTO Jeferson Almeida

ASSISTENTE EDITORIAL Rodrigo Vieira de Almeida

NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA E REVISÃO Renato Barreto Mayra Peres Lima

PROJETO GRÁFICO Thiago Charlo Alves

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Flora Victoria Maysa Silveira Ana Cláudia de Araújo Ribeiro Nathalia Custódio Guimarães Jennifer Cory Lisa Suzanne Green Jacolyn Maree Norrish Dianne Vella-Brodrick Anthony Grant

COMISSÃO EDITORIAL Villela da Matta - SBCoaching® Flora Victoria - SBCoaching® Jeferson Almeida - SBCoaching® Rodrigo Vieira de Almeida - SBCoaching® Elisabeth Priestley - SBCoaching® Renato Barreto - SBCoaching® Leandro Berchielli - FAPPES Gustavo Oliveira - FAPPES Creoncedes Sampaio - SBCoaching® Liamar Fernandes - SBCoaching® Lilia Barbosa - SBCoaching® Mariza Honório do Carmo - FAPPES Fabio Paiva Reis - SBCoaching®

6

ESCOPO A Revista Científica Brasileira de Coaching (Brazilian Journal of Coaching) tem como missão fomentar a produção e a disseminação de conhecimento nas diversas áreas de coaching. A Revista Científica Brasileira de Coaching (Brazilian Journal of Coaching) tem interesse na publicação de artigos de desenvolvimento teórico, trabalhos empíricos e ensaios. Aceitam-se colaborações do Brasil e do exterior, nos campos relacionados ao Coaching e de áreas afins. A pluralidade de abordagens e perspectivas é incentivada. Como revista generalista na área, cobre um espectro amplo de subdomínios de conhecimento, perspectivas e questões.

EDITORIAL Apresentamos mais uma edição do segundo ano da Revista Científica Brasileira de Coaching (RCBC), editada pela SBCoaching Editora, pertencente ao grupo Sociedade Brasileira de Coaching e em parceria com o Institute of Coaching Research (ICR).Esta edição prossegue com a proposta de divulgação de temas relevantes para o coaching e também para a psicologia positiva, em abordagens inovadoras e relacionadas aos mais recentes estudos científicos disseminados ao redor do mundo nessas duas áreas. O primeiro artigo, Definição e Alcance de Objetivos e Emoções Positivas: Intersecções, de Flora Victoria, propõe uma discussão sobre a relevância do florescimento humano, do bem-estar, da resiliência, da esperança e da autoeficácia para o processo de determinação e busca de objetivos, especialmente no que concerne às relações sociais e ao aumento de resultados no campo organizacional. Em seguida, Maysa Silveira discorre sobre coaching e inclusão no artigo O Coach como Agente Potencializador do Processo de Inclusão Profissional e Socioafetiva da Pessoa com Deficiência Visual, com evidências que comprovam a eficácia das técnicas e ferramentas de coaching como parte do atendimento e do desenvolvimento de um projeto da Fundação Dorina Nowill, organização não governamental localizada em São Paulo. No terceiro artigo desta edição, A Metodologia Personal and Professional Coaching® Aplicada ao Incremento de Competências Organizacionais: um Estudo de Caso, Ana Claudia de Araújo Ribeiro e Nathalia Custódio Guimarães expõem os resultados obtidos com a aplicação de técnicas da Metodologia Personal and Professional Coaching® em 15 sessões de coaching em uma organização privada, durante o período de abril a outubro do ano de 2015, para o desenvolvimento de competências alinhadas à estratégia do negócio. Já Jennifer Cory, no quarto artigo, Como a resiliência pode auxiliar portadores de CAVD a prosperarem na vida, explicita os últimos avanços da Medicina associados à psicologia positiva no tratamento de pacientes com cardiomiopatia arritmogênica do ventrículo direito, o que inclui o desenvolvimento da resiliência, o cultivo da esperança, do bem-estar e da autoconsciência, em nome do desafio de proporcionar e manter a melhor qualidade de vida possível desses indivíduos. Finalizando os artigos desta edição, temos Aumentando o Bem-Estar e o Esforço para Atingir Metas em Alunos do Último Ano do Ensino Médio: Comparando Coaching com Base em Evidências e Intervenções Psicológicas Positivas, de Suzy Green e colegas, com uma comparação entre uma intervenção de coaching comportamental cognitivo com foco em soluções e uma intervenção de psicologia positiva com adolescentes em um contexto escolar na Austrália.

Você ainda verá os Resumos de Propostas de Pesquisas de Coaching, originalmente desenvolvidos por Carol Kauffman e colegas a partir do International Coaching Research Forum, em Cambridge, Massachusetts. Com eles, nossos leitores poderão se inspirar a realizar seus próprios trabalhos de pesquisa científica sobre coaching – uma oportunidade de contribuir para a expansão e a credibilidade da profissão. Expressamos nossos agradecimentos a todos que participaram da elaboração deste número da Revista Científica Brasileira de Coaching. Investimos nossos esforços em propagar o coaching como ferramenta para o desenvolvimento e a transformação de pessoas, empresas e comunidades como um todo e incentivamos leigos e especialistas a acompanharem, a cada edição, como tem ocorrido o crescimento desse campo do conhecimento em diversas partes do mundo.

Desejamos uma boa leitura. Flora Victoria e Villela da Matta

10

11

SUMÁRIO / TABLE OF CONTENTS ARTIGOS

1 - Definição e Alcance de Objetivos e Emoções Positivas: Intersecções Goal setting, goal attainment and positive emotions: intersections

Flora Victoria ................................................................................................................. 13 2 - O Coach Como Agente Potencializador do Processo de Inclusão Profissional e Socioafetiva da Pessoa Com Deficiência Visual The coach as an enhancer in the process of professional and socio-affective inclusion of visually impaired persons

Maysa Silveira ................................................................................................................ 21 3 - A metodologia Personal and Professional Coaching® aplicada ao incremento de competências organizacionais: um estudo de caso The personal and professional coaching® methodology to increase organizational skills: a case study

Ana Claudia de Araújo Ribeiro e Nathalia Custódio Guimarães ..................................................... 33 4 - Aumentando o bem-estar e o esforço para atingir metas com alunos do último ano do ensino médio: Comparando o coaching com base em evidências e as intervenções psicológicas positivas Enhancing well-being and goal striving in senior high school students: Comparing evidence-based coaching and positive psychology interventions

L S Green, J M Norrish, D A Vella-Brodrick & A M Grant .............................................................. 43 5 - Como a resiliência pode auxiliar portadores de CAVD a prosperarem na vida How resilience can help ARVC carriers to thrive in life

Jennifer Cory ................................................................................................................. 79 6 - Propostas de temas para pesquisa .............................................................................. 101

12

1

DEFINIÇÃO E ALCANCE DE OBJETIVOS E EMOÇÕES POSITIVAS: INTERSECÇÕES GOAL SETTING, GOAL ATTAINMENT AND POSITIVE EMOTIONS: INTERSECTIONS

Flora Victoria

Mestre em Psicologia Positiva Aplicada – University of Pennsylvania Pós-graduada em Comunicação e Marketing – ESPM Pós-graduada em Gestão Corporativa – Harvard Business School MBA em Gestão Empresarial – FGV Graduada em Ciências da Computação – USCS E-mail: [email protected]

14

15

DEFINIÇÃO E ALCANCE DE OBJETIVOS E EMOÇÕES POSITIVAS: INTERSECÇÕES GOAL SETTING, GOAL ATTAINMENT AND POSITIVE EMOTIONS: INTERSECTIONS RESUMO: A definição e a busca por objetivos são aspectos intimamente relacionados à promoção das emoções positivas. Nesse sentido, ações orientadas por objetivos revelam-se essenciais à psicologia positiva e ao florescimento humano por conta da função crucial que exercem na conexão entre bem-estar e realizações em diversos âmbitos da vida. Da mesma forma, entre os preceitos do positive coaching – que utiliza as descobertas e técnicas da psicologia positiva aplicadas ao coaching –, os objetivos possuem um papel de suma importância ao direcionar as forças dos indivíduos para a transformação e a realização. Neste artigo, as características constitutivas dos objetivos são apresentadas à luz de conceitos-chave como autoeficácia, resiliência e esperança, os quais encontram-se na intersecção entre psicologia positiva e coaching. PALAVRAS-CHAVE: Objetivos, psicologia positiva, resiliência, esperança, coaching

ABSTRACT: The definition and pursuit of goals is closely related to the promotion of positive emotions. In this regard, goal-oriented actions have been shown to be essential to positive psychology and human flourishing on account of the crucial function they serve in the connection between well-being and achievements in various fields of life. Similarly, among the principles of positive coaching – which uses the discoveries and techniques of positive psychology applied to coaching – goals play an extremely important role by directing the strengths of individuals towards change and achievement. In this article, the constituent characteristics of goals are presented in the light of key concepts, such as self-efficacy, resilience and hope, which are found in the intersection between positive psychology and coaching. KEYWORDS: Goals. Positive psychology. Resilience. Hope. Coaching.

16

INTRODUÇÃO Definir e manter-se constantemente engajado no processo de conquista de objetivos envolve uma série de elementos motivacionais que fomentam a própria práxis da psicologia positiva. Ao focar “uma visão mais aberta e apreciativa dos potenciais, das motivações e das capacidades humanas” (Sheldon & King, 2001, p. 216), a psicologia positiva coaduna construtos que impulsionam os indivíduos a buscarem elevar seus níveis de bem-estar, motivação e performance. Nesse sentido, ações orientadas por objetivos revelam-se essenciais à psicologia positiva e ao florescimento humano por conta da função crucial que exercem na conexão entre bem-estar e realizações em diversos âmbitos da vida. Da mesma forma, entre os preceitos do positive coaching – que utiliza as descobertas e técnicas da psicologia positiva aplicadas ao coaching –, os objetivos possuem um papel de suma importância ao direcionar as forças dos indivíduos na direção da transformação e da realização. Neste artigo, serão discutidos, sob a base teórica da psicologia positiva, os benefícios para o bemestar, a qualidade de vida e o florescimento humano relacionados aos objetivos considerados significativos, possíveis e embasados, e como objetivos bem formulados são uma alavanca para potencializar forças, talentos e recursos motivacionais. Neste intento, a sobreposição entre definição de objetivos e elementos como autoeficácia, resiliência e esperança compõe um quadro atrelado à melhoria da motivação e da performance humana, aspectos tão caros ao coaching e à psicologia positiva.

2. OBJETIVOS: UM PANORAMA

Definir objetivos e perseverar para atingi-los é uma parte poderosa do planejamento de um futuro ideal e da motivação para tornar esse futuro uma realidade. Objetivos podem ser atingidos mais facilmente quando são bem-definidos (Latham, 2003), quando estão conectados a valores, propósitos e forças pessoais e quando são buscados por motivos autoconcordantes (Kashdan & McKnight, 2009; Peterson & Seligman, 2004; Sheldon, Kashdan, & Steger, 2011; Steger, 2012). Por meio de nossos objetivos, adotamos padrões pessoais que influenciam nosso comportamento e nossas crenças em autoeficácia (Bandura, 1997; Maddux, 2002). O direcionamento para objetivos é uma característica comum a todos os níveis de vida, uma vez que todos os organismos vivos precisam se envolver em ações visando atingir objetivos para sobreviver (Locke, 2002). De acordo com Sheldon e Elliot (1999), além desse instinto básico, é natural encontrar satisfação no uso das capacidades para obter os resultados desejados. Assim, objetivos podem ser definidos como meios para transformar valores e sonhos em realidade (Locke, 2002).

De um ponto de vista histórico, desde que seres humanos começaram a refletir sobre si mesmos de modo mais sistemático, diversas teorias ligando objetivos, propósito e valores a necessidades, motivação e realização foram formuladas. Embora Aristóteles (384 A.C. – 322 A.C.) já tivesse afirmado que possuir um propósito era essencial para realizar uma ação, até pouco antes do final dos anos 60 pesquisadores prestavam pouca atenção a objetivos e ao estabelecimento dos mesmos (Locke & Latham, 2002). Finalmente, em 1968, o psicólogo americano Edwin Locke lançou sua renomada Teoria da Definição de Objetivos, que continuou a estudar ao longo de 25 anos. A Teoria da Definição de Objetivos se baseia na ideia de que “objetivos conscientes afetam ações” (Locke & Latham, 2002, p. 705). Uma das conclusões dos estudos de Locke é de que, uma vez aceito e compreendido, o objetivo permanece na periferia da consciência de uma pessoa como referência para orientar e dar sentido às ações mentais e físicas subsequentes (Locke, 2002). Humanos estabelecem objetivos (ou ao menos são capazes de fazê-lo) voluntariamente por meio de um processo da razão, e esses objetivos podem durar uma vida inteira. A teoria se baseia no que Aristóteles chamava de causalidade – ou seja, ações causadas por um propósito. A definição de objetivos, por outro lado, possui uma relação de reciprocidade com a autoeficácia. A autoeficácia é definida como “a crença de um indivíduo em sua capacidade de produzir efeitos desejados por meio de suas próprias ações” (Bandura, 1997, p. vii) ou o que as pessoas acreditam que conseguem fazer usando suas habilidades em certas condições (Maddux, 2002). Ter autoeficácia auxilia a conquista de objetivos, e a conquista de objetivos, por sua vez, desenvolve a autoeficácia. De acordo com Locke e Latham, “quando os objetivos são definidos pelo próprio indivíduo, aqueles com autoeficácia mais alta definem objetivos mais altos do que as pessoas com baixa autoeficácia” (2002, p. 706). Igualmente, pessoas com alta autoeficácia demonstram maior comprometimento com os objetivos, fazem melhor uso de estratégias de conquista de objetivos, e respondem mais construtivamente a feedback. Uma vez que possuir objetivos afeta diretamente a performance, faz sentido que as pessoas com baixa autoeficácia queiram estabelecer objetivos visando melhorar seu desempenho e, assim, elevar a autoeficácia. Objetivos impactam positivamente a performance ao afetar a pessoa que os define direta ou indiretamente. Primordialmente, os objetivos direcionam a atenção ao que é necessário. Em segundo lugar, as pessoas são frequentemente energizadas por seus objetivos. Em terceiro lugar, pessoas com objetivos persistem nessa busca por mais tempo do que quando se envolvem com atividades não relacionadas a conquistar um objetivo. Em quarto lugar, ter objetivos direciona as pessoas a usarem seu próprio conhecimento e suas habilidades de forma mais completa e de modos novos e estratégicos (Locke & Latham, 2002).

17 Todavia, a busca por um objetivo por vezes é carregada de estresse e adversidades, uma vez que as expectativas frequentemente são confrontadas com obstáculos e revezes. Algumas pessoas parecem não se perturbar por crises inesperadas, enquanto outras podem ser afetadas tanto pela pressão em obter sucesso como pela incerteza em atingir este mesmo patamar. De acordo com Reivich e Shatte (2002), a resiliência, amplamente definida como a habilidade de se recuperar rapidamente de estresse ou adversidades, é um substrato psicológico vital que protege os indivíduos ao reduzir os efeitos nocivos do estresse, ao prevenir a depressão e a ansiedade e fornecer modos construtivos de reagir a desafios e conflitos. Assim, objetivos são eficazes para introduzir mudanças comportamentais, uma vez que são desafiadores e ajudam a criar uma sensação de realização. Além disso, objetivos podem dar sentido a atividades que talvez fossem vistas como sem significado, tornando a realização de tarefas algo mais divertido por meio da competição e ajudando a aliviar o stress. No entanto, na ausência de compromisso com o objetivo, este se torna potencialmente mais intangível. Para um compromisso sólido com o objetivo, devese acreditar que ele é altamente desejável e também factível. Seu caráter desejável se relaciona a crenças a respeito do quão agradáveis serão as consequências de atingir o objetivo a curto e a longo prazo. O caráter factível é definido como a expectativa de que eventos e ações futuros irão, de fato, acontecer (Oettingen & Gollwitzer, 2010). Logo, indivíduos com pensamentos altamente esperançosos tendem a ter objetivos mais específicos e níveis mais altos de conquista de objetivos, quer eles sejam fáceis (Snyder, 2002) ou difíceis (Snyder, 2002). Entretanto, os objetivos continuam a ser quimeras se não existir confiança na disponibilidade de uma rota plausível ou caminho para o objetivo (Snyder, 2002). O componente motivacional é “agent thinking” (ou a capacidade percebida de usar o próprio caminho para atingir o caminho desejado apesar dos obstáculos) (Snyder, 2002). Emoções refletem nossa habilidade percebida ou progresso em atividades em busca de objetivos, e emoções positivas fluem a partir de nossas percepções de buscas bem-sucedidas por objetivos. Como resultado, a pessoa altamente esperançosa que experimenta emoções positivas contínuas é motivada e focada em pensamentos criativos e flexíveis, carregados de entusiasmo e afeto para enfrentar futuros desafios e objetivos, e lida melhor com o estresse resultante das ameaças à conquista dos objetivos (Snyder, 2002). A esperança, embora relacionada ao otimismo e à autoeficácia, é diferente destes dois construtos. O otimismo é uma propensão cognitiva a crer que as coisas terminarão bem ainda que o indivíduo não tenha o caminho para assegurar aquele

objetivo (Peterson, 2000; Snyder, 1995). De forma semelhante, a autoeficácia enfoca a aptidão e a capacidade de realizar uma ação em um contexto situacional específico (Snyder, 2002), ao passo que a esperança volta-se à crença autorreferencial de intenção de realizar uma ação (Snyder, 2002). A esperança é uma força inestimável e uma poderosa influência em nossas vidas, assim como um elemento recorrente em situações de tomada de decisão (Feudtner, 2009). Por outro lado, teorias e dados empíricos sugerem que o tipo de objetivo escolhido e o compromisso com ele são fatores importantes para determinar se um indivíduo faz o que é necessário para atingilo. É importante reconhecer, no entanto, que o firme comprometimento com o objetivo também depende dos aspectos cognitivos e motivacionais do significado. O primeiro se refere a uma compreensão ampla de seu papel na vida e como o indivíduo se relaciona com um esquema mais amplo das coisas. O componente cognitivo, então, é conectado ao componente motivacional, formando o pilar sobre o qual as pessoas desenvolvem suas aspirações e identificam as buscas que dão uma sensação de propósito e missão em suas vidas (Steger, 2012). Quanto mais os objetivos desenvolvidos são naturalmente conectados às maneiras únicas pelas quais as pessoas compreendem a vida, mais benéficos eles são. Isso implica o componente cognitivo conduzindo o componente motivacional. Portanto, a busca por objetivos que concordem entre si é uma parte crucial do desenvolvimento do propósito e do significado. Objetivos concordantes estão ligados a como as aspirações de uma pessoa refletem seus valores e interesses mais internos (Sheldon & Elliot, 1999; Sheldon & Kasser, 1998). Elas são a epítome da autodeterminação (Deci & Ryan, 2002) e são associadas a maiores esforços e realizações ao longo do tempo. Fatores que aumentam a probabilidade de se definir objetivos concordantes e sua busca bem-sucedida também são relevantes para o desenvolvimento do propósito na vida (Kashdan & McKnight, 2009). Estabelecer objetivos, comprometer-se e perseguilos, portanto, são elementos fundamentais para atingi-los. Para que tais elementos funcionem em coordenação, é importante que os objetivos estejam ligados aos valores e propósitos de cada um, com significado pessoal e natureza concordante (Kashdan & McKnight, 2009; Sheldon, Kashdan, & Steger, 2011). No entanto, o estabelecimento de objetivos pode ser contraproducente se forem definidos para obter o resultado errado ou se entrarem em conflito (Locke, Smith, Erez, Chah, & Shaffer, 1994). Objetivos que não mudam quando as circunstâncias relevantes mudam podem produzir uma rigidez indesejada. Objetivos concretos e desafiadores definidos na ausência de experiência relevante podem reduzir as

18 possibilidades de estabelecimento de estratégias úteis. Quando objetivos excessivamente ambiciosos são estabelecidos, é fácil desencorajar-se. Sobrecarregar pessoas e desencorajá-las pode ser arriscado. Além disso, objetivos podem ser um mecanismo de defesa para pessoas que nada fazem para atingi-los, mas que têm orgulho de suas aspirações (Locke, 1996). Independentemente do contexto, os estudos sobre a definição e a busca de objetivos nos mostra que é este é um campo fértil para a elevação do bem-estar e da performance. Na educação parental e formal, por exemplo, pais, professores e estudantes podem se beneficiar com o relacionamento recíproco entre objetivos e seu estabelecimento e a alta autoeficácia (Duncan, Dufrene, Sterling, & Tingstrom, 2013; Locke & Latham, 2002). Estudantes são mais propensos a se sentir eficientes e competentes nas diversas atividades diárias com as quais se envolvem durante o período de estudo (Sheldon & Elliot, 1999). O estabelecimento de objetivos também é importante para se vivenciar o flow. Aprender a estabelecer objetivos eficazes pode ajudar pessoas a obterem o foco do qual necessitam. Uma vez que o campo organizacional envolve a identificação de alvos claros, prazos e padrões de qualidade a serem cumpridos, constitui o ambiente mais favorável para o flow (Csikszentmihalyi, 1990). Assim, estabelecer e buscar objetivos pode melhorar o desempenho no ambiente de trabalho. Quando esse estado ideal de motivação intrínseca ocorre, forças e talentos são usados e as pessoas se sentem satisfeitas com seu trabalho e desempenho (Csikszentmihalyi, 1990). Por meio do estabelecimento de objetivos, funcionários se tornam confiantes e responsáveis por seu trabalho, partilham um padrão comum de desempenho que devem buscar e obtêm uma compreensão clara daquilo que é esperado deles (Pritchard, Roth, Jones, Galgay, & Watson, 1988). Ademais, na esfera comunitária, aqueles que buscam objetivos por motivos que concordam entre si tendem a ter sentimentos mais fortes de envolvimento com os outros. Uma vez que diversos objetivos concordantes envolvem ajudar os outros, a comunidade ou ambos, aqueles que buscam e atingem tais objetivos são mais propensos a se sentir satisfeitos nas relações cotidianas com outras pessoas (Sheldon & Elliot, 1999).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entre os fatores que influenciam o bem-estar humano, são as ações diárias – projetos e busca de objetivos – que oferecem o maior estímulo à mudança e à transformação (Little, 2007; Sheldon & Lyubomirsky, 2007). Ações direcionadas por objetivos são, portanto, críticas à psicologia positiva, uma vez que estão relacionadas à elevação do bem-estar e aos efeitos gerados a partir disto, tais como o impacto positivo na performance e no florescimento humano. Da mesma maneira, no contexto do positive coaching, torna-se evidente

que a transformação pretendida pela associação entre coaching e psicologia positiva está associada a um progresso mais acentuado no processo de atingir objetivos, um aspecto fundamental para o êxito de ambas as práticas.

19

REFERÊNCIAS Bandura, A. (1997). Self-efficacy: The exercise of control. New York: Freeman. Csikszentmihalyi, M. (1990). Flow: The psychology of optimal experience. New York: Harper Perennial. Duncan, N. G., Dufrene, B. A., Sterling, H. E., & Tingstrom, D. H. (2013). Promoting teacher’s generalization of intervention use through goal setting and performance feedback. Journal of Behavioral Education, 22(4), 325-347. Feudtner, C. (2009). The breadth of hopes. N Engl J Med, 361(24), 2306-2307. Gollwitzer, P. M., & Oettingen, G. (2011). Planning promotes goal striving. In K. D. Vohs & R. F. Baumeister (Eds.), Handbook of selfregulation: Research, theory, and applications (pp. 162-185). New York: Guilford. Kashdan, T. B., & McKnight, P. E. (2009). Origins of purpose in life: Refining our understanding of a life well lived. Psychological Topics, 18(2), 303316. Latham, G. (2003). Goal-setting: A five-step approach to behavior change. Organizational Dynamics, 32(3), 309-318. Linley, P. A., Nielsen, Wood, A. M., K. M., Gillett, R., & Biswas-Diener, R. (2010). Using signature strengths in pursuit of goals: Effects on goal progress, need satisfaction, and well-being, and implications for coaching psychologists. International Coaching Psychology Review, 5(1), 6-15. Little, B. R., & Grant, A. M. (2006). The sustainable pursuit of core projects: Retrospect and prospects. In B. R. Little, K. Salmela-Aro & S.D. Phillips (Eds.), Personal project pursuit: Goals, action, and human flourishing (pp. 403-444). New York: Psychology Press. Locke, E. & Latham, G. (2002). Building a practically useful theory of goal-setting and task motivation. American Psychologist, 57(9), 705717. Locke, E. A. (1996). Motivation through conscious goal-setting. Applied & Preventive Psychology, 5, 117-124. Locke, E. A. (2002). Setting goals for life and happiness. In C. R. Snyder & S. Lopez (Eds.), Handbook of positive psychology (pp. 299-312). Oxford: Oxford University Press.

Locke, E. A., Smith, K. G., Erez, M. E., Chah, D-Ok, & Shaffer, A. (1994). The effects of intraindividual goal conflict on performance. Journal of Management, 20, 67-91. Maddux, J. E. (2002). The power of believing you can. In C. R. Snyder & S. Lopez (Eds.), Handbook of positive psychology (pp. 277-287). New York: Oxford University Press. Oettingen, G., & Gollwitzer, P. M. (2010). Strategies of setting and implementing goals: Mental contrasting and implementation intentions. In J. E. Maddux & J. P. Tangney (Eds.), Social psychological foundations of clinical psychology (pp.114-135). New York: Guilford Press. Peterson, C. (2000). The future of optimism. American Psychologist, 55; 44-55. Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2004). Character strengths and virtues: A handbook and classification. New York: Oxford University Press. Pritchard, R. D., Roth, P. L., Jones, S. D., Galgay, P. J., & Watson, M. D. (1988). Designing a goal-setting system to enhance performance: A practical guide. Organizational Dynamics, 17(1), 69-78. Reivich, K., & Shatte, K. (2002). The Resilience Factor: 7 Keys to Finding Your Inner Strength and Overcoming Life’s Hurdles. New York: Broadway Books. Sheldon, K. M., & Elliot, A. J. (1999). Goal striving, need-satisfaction, and longitudinal wellbeing: The Self-Concordance Model. Journal of Personality and Social Psychology, 76, 482-497. Sheldon, K. M., & Lyubomirsky, S. (2007). Is it possible to become happier? (And if so, how?). Social and Personality Psychology Compass, 1(1), 129-145. Sheldon, K. M., Kashdan, T. B., & Steger, M. F. (2011). Designing positive psychology: Taking stock and moving forward. New York: Oxford University Press. Sheldon, K. M., & Kasser, T. (1998). Pursuing personal goals: Skills enable progress but not all progress is beneficial. Personality and Social Psychology Bulletin, 24, 1319-1331. Sheldon, K. M., & King, L. (2001). Why positive psychology is necessary. American psychologist, 56(3), 216. Snyder, C. R. (1994). The psychology of hope: you can get there from here. New York: Free Press.

20 Snyder, C. R. (1995). Conceptualizing, measuring, and nurturing hope. Journal of Counseling and Development, 73; 355-360. Snyder, C. R. (2002). Hope theory: Rainbows in the mind. Psychological Inquiry, 2002; Vol.13, 4; 249-275. Steger, M. F. (2012). Experiencing meaning in life: Optimal functioning at the nexus of well-being, psychopathology, and spirituality. In P. T. P. Wong (Ed.), The human quest for meaning: Theories, research, and applications (pp. 165-184). New York: Routledge.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.