Demarcando território? Situando a Linguística Aplicada \"Indisciplinar\"

May 26, 2017 | Autor: Liana Biar | Categoria: Linguística Aplicada, Construcionismo
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DEMARCANDO O TERRITÓRIO? SITUANDO A LINGÜÍSTICA APLICADA “INDISCIPLINAR1” Liana de Andrade Biar (Doutoranda da PUC-Rio) INTRODUÇÃO Devido à particularidade de uma área que, diferente da maioria das ciências humanas construídas a exemplo dos modelos cientificistas, se define muito mais pelo tipo de ação que realiza do que propriamente pelo exercício teórico, os textos de Lingüística Aplicada levam algum espaço de seus manuais introdutórios a discutir o escopo e os objetivos da área, heterogênea e interdisciplinar por natureza. Este artigo não será diferente. Meu objetivo é definir, a partir da bibliografia que introduz o campo, a Lingüística Aplicada – doravante LA – desde as suas origens atreladas ao ensino de língua, até o que atualmente tem sido rotulado “LA crítica” (PENNYCOOK, 2006) ou “LA contemporânea” (MOITA LOPES, 2006). Meu interesse mais específico é explorar as preocupações centrais de uma “nova roupagem” desta área que, ainda que reafirmando seus objetivos originais voltados para a resolução de problemas que emergem do mundo “real”, amplia seu escopo para além dos limites da linguagem, afastando-se definitivamente de seu “verdadeiro outro2”, a dita Lingüística Teórica, em direção às ciências sociais. Uma vez localizada essa corrente, focaremos a revisão na reflexão da proposta sócio-construcionista de pesquisa qualitativa (FABRÍCIO, 2006; MOITA LOPES, 2006; PENNYCOOK, 2006, entre outros), marcando seus movimentos de ruptura em relação às tendências representacionistas e interpretativistas da ação humana, bem como recuperando o percurso argumentativo que embasa sua escolha não apenas como alternativa epistemológica, mas também como postura ética adequada ao estudo dos fenômenos sociais na contemporaneidade.

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DEFINIÇÃO DO CAMPO DA LINGÜÍSTICA APLICADA O trabalho de definição da LA como área de estudos é tarefa árdua justamente porque não há como se definir pontualmente os pressupostos teóricos que lhe dão suporte e o objeto e metodologia que formam sua heurística: trata-se de uma área heterogênea, que abriga pesquisadores de diferentes tradições teóricas. Não à toa, boa parte dos manuais introdutórios da área prefere defini-la pela exposição de seus campos de atuação e exemplificação do modo de trabalho em cada um deles (cf. SEALEY & CARTER, 2004). Isso porque, nas palavras de Davies (1999), “o que a LA faz pode ser a definição do que a disciplina é (grifo meu)”. E o que a LA faz é debruçar-se, não sobre a linguagem em si, mas sobre problemas práticos em que a linguagem está implicada, estejam eles em contextos educacionais ou sociais. A intervenção e a proposta de soluções para estes problemas, portanto, é a sua definição e o seu diferencial no âmbito dos estudos lingüísticos3. Especificamente, a maior parte dos trabalhos em LA diz respeito a questões pedagógicas relativas ao ensino de línguas, compreendendo temas como letramento em língua materna, bilingüismo e ensino de LE. Outras áreas de atuação que poderiam ser arrolados sob o guarda-chuva da LA são: linguagem em contextos profissionais, linguagem em contextos clínicos, lingüística forense, lingüística de corpus, análise crítica de discurso, entre outros. No Brasil, a emergência da LA, nas décadas de 1960 e 1970, esteve fortemente atrelada aos estudos sobre Inglês como língua estrangeira, passando, com o tempo, a incorporar outros temas como linguagem e trabalho, linguagem e mídia, linguagem e gênero, linguagem e tecnologia, linguagem e cultura, linguagem e identidade, análise do discurso e estudos sobre língua materna (conforme CAVALCANTI, 2004). A multiplicidade de problemas abordados pela área, conforme aponta Kaplan (2002), tende, no entanto, a diminuir o sentimento de “propósito comum” ou o senso de identidade profissional entre os pesquisadores. Mas tal senso existe, e possivelmente repousa muito mais sobre o que não se compartilha, ou pelo conjunto de escolhas

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que não se assume, do que propriamente por asserções positivas e compartilhamento de um objeto ou método. A LA, por exemplo, não dialoga com teorias que pretendam dar conta da natureza autônoma da linguagem humana, com concepções ideais de interação e de sujeito, ou com aquelas que sequer os incorporam em suas generalizações. Problema anterior a este, a descrição e explanação da linguagem por ela mesma não é sequer um objetivo da LA, conforme já se disse. Sendo a preocupação da LA os problemas reais que emergem de contextos comunicativos, estamos lidando justamente com os objetos comumente periféricos nas teorias de linguagem: se fosse estruturalismo, seria a “parole”; se fosse gerativismo, seria a performance. Pensar, portanto, que a LA seja a contraparte “prática” da Lingüística Teórica é uma precipitação perigosa e indesejada. De acordo com Cook (2003), estamos diante de dois discursos ou duas ordens de realidade: aquela concernente à linguagem cotidiana, experenciada, e uma outra concernente a análises abstratas à luz da expertise lingüística. Não são modelos teóricos em competição: a LT simplesmente não se presta à resolução dos problemas concernentes à LA e vice-versa. Para Kaplan (2002), entretanto, a heterogeneidade e interdisciplinaridade da área também vêm acompanhadas de conseqüências negativas, especialmente no que se refere ao fortalecimento político da área, conforme adiantado acima. Para o autor, a indefinição quanto ao lócus e à epistemologia carecem de resolução. Por conta disso, conforme anunciado na introdução deste trabalho, focarei a partir de agora uma das propostas que oferecem respostas dessa natureza sob a forma de um programa de investigação coeso. EPISTEMOLOGIAS CONCORRENTES NAS CIÊNCIAS SOCIAIS Antes passar à apresentação da nova agenda de investigação que marca o empreendimento “aplicado” na contemporaneidade, será necessário dar um passo atrás para resumida e simplificadamente perfazer – e para tal me beneficio do alinhavo de Schawndt (2006) – o caminho das principais correntes epistemológicas que guiam a

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pesquisa acadêmica de intenção qualitativa nas ciências sociais em geral: seus princípios gerais, constituição de agenda e aplicações no âmbito das ciências humanas. O desenvolvimento da pesquisa qualitativa de nossos dias apresenta claramente um caráter antitético em relação aos primórdios das ciências humanas, que, construídas à semelhança do fazer científico das ciências naturais, apoiavam-se nos moldes epistemológicos positivistas baseados em observação e abstração coerente das realidades-objeto observadas. Um exemplo conhecido dessa tendência é o paradigma clássico estruturalista de pesquisa etnográfica (por exemplo, MALINOWSKI e LÈVI-STRAUSS, 1958), metodologicamente orientado pela chamada observação participante, de cujo trabalho analítico, alegadamente neutro e objetivo, se extraía sistemas estáveis e ordenadores de dados por natureza dispersos e caóticos. Era essa mesma a pedra de toque do empreendimento estruturalista: a criação de um discurso coerente que eliminasse as arestas, contradições e descontinuidades típicas da experiência/vivência social, por natureza difusa e “porosa”. Desprezando as percepções/experiências nativas sobre o mesmo objeto, cabia ao analista-etnógrafo deduzir uma lógica ou uma estrutura social oculta ao senso-comum. Descrever uma ordem, portanto, era o mesmo que chegar à compreensão da cultura analisada. Ainda no âmbito da antropologia, e sob a alegação de que as ciências humanas deveriam apresentar diferenças fundamentais em relação ao fazer científico das ciências naturais, a até então hegemônica postura positivista perde espaço para uma segunda tendência das pesquisas sociais: o interpretativismo (especialmente Geertz, 1976/1979), tendência epistemológica que aposta justamente na impossibilidade de generalização, tipificação e objetividade caras ao projeto etnográfico clássico. Isso porque um ponto essencial para a proposta interpretativista é a idéia de que toda ação social é significativa, isto é, para além do que fica aparente aos sentidos, há um significado implícito relevante e irrecuperável pela observação distanciada: mais que observar, é preciso que se interprete o que está

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aparente para, nas palavras de Chauí, tornar explícito o que está implícito. Caberia, então, ao investigador-analista, captar a intenção subjetiva por detrás da ação dos atores sociais, num ato de “reestabelecimento psicológico” da coisa observada (SCHWANDT, 2006, p. 195). Isso quer dizer que, mais do que constatar uma piscadela – do exemplo célebre de Gertz – como prática social de uma dada cultura, caberia ao cientista social espiar empaticamente “por sobre os ombros” do ator para desvelar suas intenções e sentidos subjacentes – um flerte, uma sinalização de cumplicidade, de nervosismo, de cansaço, etc. Também no âmbito da sociologia, a etnometodologia traçava caminho semelhante, uma vez que almejava “reconstruir a gênese dos significados objetivos da ação na comunicação intersubjetiva dos indivíduos no mundo de vida social” (OUTHWAITE, 1975, p. 91 apud SCHWANDT, 2006). Um outro aspecto do interpretativismo é que tal apreensão de significados, ainda na contramão da tendência estruturalista, só é possível quando se aproxima a pesquisa das micro-situações e se toma o próprio discurso que delas emerge como objeto pesquisável. Isso é o que, no recorte de Winkis (1998), se chamará de terceira revolução etnográfica4: passa-se de uma ordem social (macro) para uma ordem interacional (micro), que, por mais banal e gratuita que possa parecer, seria a única forma possível de se obter insights sobre a sociedade global, uma vez que a “totalidade” seria inapreensível ao olhar humano. Esse olhar é condizente com a idéia bastante divulgada a partir principalmente do trabalho de Goffman (1964, 1967, 1974, entre outros), para quem caberia à sociologia investigar as micro-situações sociais em que os indivíduos se engajam, estas tomadas como as formas mais puras e elevadas de reciprocidade e sociabilidade. Goffman elege a situação engendrada na comunicação face a face e os discursos reais que dela emergem, como o lócus privilegiado de investigação da sociedade – o infinitamente pequeno, nas palavras de Bourdieu (2004). Pelas mãos de Goffman, os elementos que em vários níveis compõem a interação – participantes reais, seus comportamentos verbais e não-verbais, princípios organi-

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zacionais da conversa, mecanismos de sinalização e interpretação de intenções e identidades – tornam-se objetos da sociologia. A grande contribuição do fazer sociológico de Goffman parece ter sido o de tornar explícitos tais elementos, com vistas a fornecer bases teóricas para que se entendam os modos como as pessoas atribuem valor simbólico ao que é dito e feito nos encontros sociais (cf. SHIFFRIN, 1994) – de forma bastante alinhada, portanto, com os propósitos interpretativistas. As metáforas constantes de Goffman sobre a teatralização da vida cotidiana são reveladoras da idéia de que os “atores” sociais, a partir de seus comportamentos em uma situação social específica, se esforçam num trabalho de encenação de intencionalidades recuperáveis pelo analista. Uma crítica de Schwandt (2006) à observação empática (a outra alcunha interpretativista em cujo campo estou incluindo Goffman, ou pelo menos uma certa leitura de seu trabalho) seria o caráter ingênuo da crença na possibilidade de se abstrair do intérprete seu próprio subjetivismo e suas circunstâncias históricas para então acessar o modo como o ator social compreende o mundo. Em outras palavras, trata-se de uma forma de compreensão realizada por um intérprete-investigador sobre um objeto, não mais um objeto abstrato, é verdade, mas um objeto que permanece sob o olhar de alguém que não é “afetado pelo processo interpretativo e que mantém uma postura externa a este” (p. 198). Soma-se a isso que os interpretativistas, uma vez que o sentido recuperado da análise de uma ação seria pretensamente seu significado real, paradoxalmente buscam a verdade no subjetivismo. Se, por um lado, a nova atitude solapa o objetivismo positivista em seu método, por outro lado preserva sua pretensão desveladora. A terceira tendência epistemológica descrita por Schwandt, a hermenêutica filosófica, defenderia a impossibilidade de uma compreensão neutra do significado das ações sociais. Nas palavras de Gallagher (1992), tentar apreender o ponto de vista do outro seria algo comparável a “tentarmos nos afastar de nossa própria pele”. Isso porque a compreensão da vida social passaria inevitavelmente pelo diálogo com nossas (do analista) próprias tradições, preconceitos

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e visões de mundo. É nesse sentido que se rompe radicalmente com a idéia interpretativista de que “a ação humana possui significado e de que esse significado pode ser, em princípio, determinado ou decidido pelo intérprete. Em outras palavras, a negociação do significado não se dá apenas entre os atores investigados, mas entre estes enquanto o objeto e o próprio intérprete. Enquanto cientistas sociais, estaremos sempre engajados em análises “sem gabarito”, cuja contribuição (a meta da hermenêutica filosófica) é descrever o processo mesmo da compreensão (MADISON, 1991 apud SCHWANDT, 2006, p. 200). Apesar de o trabalho de Geertz ter sido enquadrado acima como ilustração para a tendência interpretativista de se recuperar as intenções subjacentes e alegadamente verdadeiras do ator, há uma segunda etapa/interpretação de seu trabalho (cf. Velho, 1981) em que o papel do observador é problematizado. Geertz (1973 apud VELHO, 1981) revisa os conceitos de proximidade e distância, tão caros à antropologia estruturalista, antecipando um dos principais tópicos da tendência pós-moderna de maneira bem semelhante à postura da hermenêutica filosófica – a inevitabilidade do conhecimento posicionado. A parcialidade seria peça constituinte da construção do conhecimento: Parece-me que Clifford Geertz ao enfatizar a natureza de interpretação do trabalho antropológico chama atenção de que o processo de conhecimento da vida social sempre implica em um grau de subjetividade e que, portanto, tem um caráter aproximativo e não definitivo (VELHO, 1981).

Esse momento também é conhecido como virada “textualista” (WINKIS, 1998), que significa uma tomada de consciência do observador sobre a descrição que realiza: é a sua experiência de interação com o objeto que está sendo descrito. Isso quer dizer que os dados não falam por si, nem descrevem uma realidade. Assume-se que o tipo de conhecimento produzido no texto etnográfico é de uma pessoa, que, de dentro de determinações identitárias e contextuais, olha o objeto de uma perspectiva própria. Fazer etnografia passa a ser, então, criar uma narrativa (CLIFFORD e MARCUS, 1986).

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Uma quarta tendência epistemológica, o construcionismo social, dá um passo além da hermenêutica filosófica. Afasta-se de vez tanto do relato empírico quanto das concepções representacionistas dos significados sociais e do conhecimento científico. Considerando principalmente o trabalho de Potter (1996), Schwandt caracteriza essa tendência a partir da idéia de que o mundo se forma à medida que as pessoas o discutem, o escrevem e o contestam: “qualquer critério de atribuição de sentido à existência de coisas, eventos e experiências ocorre no âmbito lingüístico-semântico” (FABRÍCIO, 2006). Sendo assim, aposta-se na impossibilidade de um sentido universalmente válido às coisas do mundo, sendo o discurso científico uma “uma forma de inteligibilidade de possibilidades incomensuráveis” (p. 201). Essa, como se sabe, não é uma idéia nova; remonta às discussões filosóficas clássicas que estão na base do pensamento ocidental. A origem greco-latina das discussões sobre o que constitui o conhecimento e como ele é acessado sempre se pautou na oposição realismo X relativismo (cf. MARTINS, 2005), estando o construcionismo alinhado com a postura sofista de descrença em uma realidade que seja anterior ou subjacente aos discursos, conforme aposta a tradição platônico-aristotélica. É importante notar as implicações desta virada no discurso sobre o método científico: quando o cientista é um descobridor (GERGEN, 2008) a quem cabe desvelar uma verdade sobre o mundo, molda-se com esta crença um método firmemente centrado na verificação de hipóteses – a formulação desta, a delimitação dos dados, a testagem e as medidas e quantificações se justificam de acordo com essa base. Quando, por outro lado, se tem como aposta que os significados sociais não são passíveis de descoberta, e sim de construção ativa, a abordagem metodológica, naturalmente, se volta para o engajamento e a subjetividade. Esse, garante Gergen (2008), é o novo modo se fazer ciência social, o qual se confundirá como uma anti-epistemologia, cujo ceticismo se aplica ao próprio trabalho de pesquisa, assumidamente ideologizado e passível de crítica. Uma das bases do relativismo construcionista, portanto, é o diálogo entre diferentes modos de se pensar as práticas humanas (GERGEN, 1994), donde se depreende a postura cética segundo a

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qual fazer ciência social nessa perspectiva é necessariamente ensaiar e tornar pública uma interpretação que só se valida retoricamente (uma vez que não se admite um parâmetro de real como medida) enquanto passo para construção de um argumento. Se, numa versão mais forte deste construcionismo, todas as práticas etnográficas ou reflexões sobre a sociedade, porque ficcionais, são consideradas igualmente válidas, sendo impossível determinar como mais “correta” uma dada interpretação, o projeto construcionista, para boa parte das suas versões, teria a validade apoiada em um compromisso ético: as interpretações válidas seriam aquelas que se comprometem com a desconstrução de práticas sociais injustas e com a transformação destas (com a aplicação social das interpretações), em oposição radical ao desengajamento das epistemologias de demandas puramente cognitivas (SCHWANDT, 2006, p. 207). A clara imbricação entre epistemologia e política que se depreende das tendências construcionistas pode ser observada, ainda no âmbito das ciências sociais, na proposta de Boaventura Sousa Santos (2007). O autor constata que a realidade moderna ainda não inventou um modo de produzir conhecimento que esteja à sua altura, isto é, que há uma discrepância entre as novas práticas sociais e a teorização destas, ainda centradas majoritariamente em um modelo de compreensão etnocentrado (todos assim o seriam, se considerarmos o argumento construcionista delineado acima), e apresenta sua proposta de construção de um conhecimento rigoroso da sociedade firmemente apoiado na negação da neutralidade. Sua proposta tem inegavelmente uma justificativa política: vivemos em uma sociedade injusta e não podemos ser neutros perante o que desejamos transformar. Mais do que isso, o autor chama a atitude epistemológica vigente e ocidental de “indolente” (p. 25), porque se considera suprema e prescinde de observar a riqueza epistemológica do mundo, baseando-se em categorias reducionistas e dicotômicas que conduzem uma racionalidade estreita. A essa atitude, que denomina “sociologia das ausências” (que fecha os olhos para saberes não-científicos, para idéias de progresso divergentes da lógica capitalista, para realidades particulares e locais, por exemplo), contrapõe uma sociologia basea-

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da em ecologias. Significa substituir a “monocultura” do fazer científico colonizador pela abertura a outras fontes de conhecimento distantes do núcleo hegemônico, tomando-as em sua complexidade e possibilidade de intervenção no real. O saber científico deve poder dialogar com saberes populares, indígenas, urbanos, marginais, camponeses... não é possível hoje uma epistemologia geral. A diversidade do mundo é inesgotável, não há teoria geral que possa organizar toda essa realidade [...]. Não posso reduzir toda a heterogeneidade do mundo a uma homogeneidade que seria de novo uma totalidade que deixaria de fora muitas outras coisas (SOUSA SANTOS, 2007).

A proposta do autor consiste, então, em um procedimento de tradução intercultural, que busque inteligibilidade entre os diferentes discursos de saber sem canibalizá-los, sem destruir a diversidade dos saberes produzidos em círculos não-hegemônicos. Em poucas palavras, significa conquistar a completude na diversidade. IMBRICAÇÃO EPISTEMOLOGIA/POLÍTICA TAMBÉM NA LINGÜÍSTICA APLICADA O trabalho de Sousa Santos (2007) deixa entrever que, para além de uma mera distinção teórica, um ponto que ganha destaque nas teorias que passo a chamar de pós-modernas são as conseqüências socialmente devastadoras da opção por um fazer científico apolítico. Rampton (2006), por exemplo, oferece uma ilustração dessa linha argumentativa ao recortar duas rupturas sucessivas pelas quais a sociolingüística anglófona passou nos últimos anos, para então refletir sobre o papel da Lingüística Aplicada na contemporaneidade. Ao descrever tal papel, o autor a contribui ainda apara a discussão introduzida na seção 1 acerca da distinção entre LT e LA. Para Rampton, a primeira ruptura por que passa a Lingüística anglófona reflete a transição “tradição/modernidade”. O autor corrobora a trajetória epistemológica descrita na seção 2 deste trabalho, afirmando que as ciências modernas estiveram empenhadas em compreender os fenômenos sociais pertinentes à sua época, a saber, a industrialização, a urbanização, a democracia de massas, etc, mui-

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to baseadas no desejo de imparcialidade, que vem acompanhado de uma ingênua celebração das diferenças. Ingênua porque, se por um lado, tal tendência teve o mérito de defender a integridade e autenticidade dos grupos na tentativa de se dar conta de suas sistematicidades e coerências, por outro, acirrou diferenças e identificações dicotômicas essencialistas (como, principalmente, branco/negro, masculino/feminino), fruto de um relativismo perigosamente absorvido pelo senso-comum, uma vez que o trabalho de aceitação da diferença pode apresentar como contrapartida o confinamento do outro (o diferente) a um espaço próprio e cerceado, alimentando mecanismos de exclusão (cf. BAUMAN, 1999). Para Rampton (2006), os trabalhos da sociolingüística teórica de viés variacionista são exemplos desse empreendimento, que procura captar identidades acirrando diferenças e fronteiras entre os grupos. Uma lingüística do tipo Laboviana, como sugere Goffman (1964), que pretende estabelecer correspondências estáveis entre variantes lingüísticas e correspondentes identitários fixos, reforçam os preconceitos que uma abordagem crítica procuraria combater5. À segunda ruptura, Rampton nomeia transição modernidade/pós-modernidade. Enquanto o empreendimento moderno tomava as entidades sociais como totalidades idealizadas (românticas, na palavra do autor), a perspectiva da modernidade tardia (ou pósmoderna) considera esses objetos bem mais fluidos e heterogêneos (“líquidos”, na terminologia de BAUMAN, 1992). Ao sujeito se confere agentividade, escolha; e à ciência social, conseqüentemente à Lingüística Aplicada, se tomada como tal, o papel de intérprete das realidades construídas por eles. Problematiza-se o sentimento de pertencimento (a uma classe, a um gênero, um raça...): mais do que mera herança social (que parecia ser a idéia subjacente ao pensamento moderno) este parece ser construído ad hoc, pela adesão múltipla e simultânea de produtos e símbolos de diferentes “origens”. Então, no lugar de confortavelmente generalizar sobre regras de associação entre variáveis lingüísticas e sociais, caberia à postura pósmoderna olhar para as interações em contextos sociais concretos, conforme propõe Goffman (1964), com sua constelação de traços heterogêneos e seus discursos produzidos em experiências situadas,

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conscientes de seu caráter caótico e fragmentário, e de que a demarcação abstrata de uma comunidade é apenas uma tentativa retórica e ideologizada de representação – desempenho artificioso, nas palavras de Rampton –; que é parte das competências discursivas dos sujeitos transpor modos ideologicamente associados a determinados grupos pelos contextos, tempo e espaço; que o uso lingüístico não é mera manifestação, conforme preconiza a lingüística laboviana, mas um dos objetos semióticos dos quais se lança mão para construir sentidos contingentes em um contexto. A pós-modernidade nos estudos da linguagem, sob este olhar de Rampton, seria a negação de qualquer sistematicidade inerente ao uso lingüístico. Se uma análise conduzida desta forma recebesse críticas por não apresentar uma teoria consubstanciosa, esse seria justamente o “espírito de sua época”, em que “o requisito mais básico é a reverência pela complexidade e plenitude da interação” (RAMPTON, 2006). Se no trabalho de Rampton (2006) ainda se deixa entrever uma proposta de investigação semelhante ao que acima foi rotulado como interpretativismo, essa postura, entretanto, não é propriamente a que marca os trabalhos é em LA que pretendemos apresentar a partir de agora; há trabalhos que se alinham declaradamente com a vertente construcionista. Fabrício (2006), por exemplo, assim como Moita Lopes (2006) e Pennycook (2006), assumem a impossibilidade de apreender realidade fora dos discursos. Esses autores – Fabrício mais declaradamente – apóiam sua posição epistemológica nas filosofias marcadamente anti-essencialistas de Nietzsche, Foucault e Wittgentein6, já que estes, ainda que tributários de tradições diversas, comungam o ceticismo quanto às possibilidades estáveis de conhecimento, desarticulando uma crença na verdade quase sempre presente no fazer científico. Confirmando a inclusão, feita acima, do interacionismo na vertente interpretativista pré-construcionista, Fabrício (2006) argumenta que o emprego amplo de metodologias de análise de discurso como o sociointeracionismo e a ACD, apesar de valorizar uma visão situada do sentido, ainda não se desvencilha completamente da bus-

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ca por verdades subjacentes7, e nisso se distanciam do que chama de novas abordagens de LA, comumente “desconfiadas da formação de sistemas explicativos coesos, desestabilizando conceitos internalizados e desprendendo-se de consensos tranqüilizadores”. Na mesma direção, Pennycook (2006) e Moita Lopes (2006) definem a LA, em sua versão crítica, como uma “anti-disciplina” ou como um “conhecimento transgressivo”; um campo de estudos que, partir de um arcabouço intelectual aberto a influências diversas, debruça-se sobre a linguagem e sua relação com a vida social, produzindo sua própria teoria. Alternativamente a todos os tipos desinteressados de produção de conhecimento, a pesquisa em LA seria um projeto epistemológico marcadamente interdisciplinar, como já se disse, e um “um meio de construção da vida social” (MOITA LOPES, 2006). Em outras palavras, a LA seria um campo de estudos que precisa ter algo a dizer sobre o mundo, e que o fará com base nas discussões a perpassam os outros campos das humanidades, extrapolando os objetos especificamente lingüísticos. Demarcada ético e teoricamente o papel da LA, Moita Lopes (2006), então, a exemplo de Sousa Santos, sugere que uma das formas de se viabilizar tal projeto é dar voz às minorias, aos modos do sul, forçando um olhar não-ocidentalista, mas também não inocentemente relativista. Estando as ciências sociais em geral e a LA em particular comprometidas com a oferta de soluções para questões sociais, e não simplesmente com a problematização destas, seria um erro apoiar um radical relativismo epistemológico condescendente com qualquer teorização social. Considerar que nenhum sistema de valor possa ser compreendido como superior a outro, isto é, tomar a “parcialidade como virtude”, é quase tão grave quanto o “avestruzismo liberal” que nega, sob o discurso da imparcialidade, sua responsabilidade social (PENNYCOOK, 2006, p. 68). Isso porque a parcialidade impõe uma versão da realidade de forma autoritária, ignorando a pluralidade que Sousa Santos (2007) propõe como essencial para a contemporaneidade. O método de Sousa Santos, por exemplo, de tradução e amalgamação de diferentes saberes baseia-se no argu-

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mento da necessidade de uma “justiça cognitiva global”, que valorize os saberes exilados dos centros hegemônicos de produção de conhecimento. O que o autor sugere como solução é, então, um “pósmodernismo de oposição” composto da trama de teorias emergentes (na forma de “coligações anti-hegemônicas“, nas palavras de Moita Lopes, 2006). Para Fabrício (2006, p. 52), as teorizações dessa natureza não são as que surgem no intuito messiânico para com as minorias, mas são as próprias epistemes que delas emergem. Estas são tendências que fazem “do sul” (metonimicamente representante dessas minorias) um lugar de insurgência de conhecimentos válidos, formadores desse amálgama que contribui caleidoscopicamente para uma ação/reflexão rebelde sobre a sociedade. Tal relativismo ético (por oposição a cético), que incorpora as vozes das minorias, aliado ao hibridismo teórico declarado e à conseqüente explosão da separação entre teoria e prática constituiriam os novos pilares da LA contemporânea. Sendo assim, os estudos dos processos discursivos de construção de identidade apresentam-se como caminho apaziguador: contemplam, a um só tempo, o diálogo entre as múltiplas áreas do saber; a própria tese construcionista que privilegia a retórica como modus operandi das construções alegadas e a crítica ao preconceito e à discriminação. A negação da possibilidade de se delinear as identidades como instituições pré-formadas se “verifica” discursivamente, na análise do modo como os atores sociais se constroem para fins locais de performação (BUTLER, 1990 apud PENNYCOOK, 2006). São as práticas discursivas que orientam, nos níveis situados de interação, os processos de (re)construção identitárias. Em resumo, a LA contemporânea, sem negar sua empreitada original de afirmar-se como uma área de estudos voltada para questões práticas de resolução de problemas que envolvem o uso da linguagem de forma assumidamente ético-intervencionista (RAJAGOPLAN, 2006), define um núcleo teórico apoiado no paradigma socioconstrucionista, um programa de investigação claro que

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elege o discurso como objeto e a construção de identidade como fenômeno a ser investigado, promovendo uma ruptura mais definitiva com a LT, uma vez que o novo direcionamento do escopo a aproxima muito mais do fazer científico das ciências sociais. CONSIDERAÇÕES FINAIS Procuramos neste texto definir a LA como área de estudos, buscando a fio que perpassa suas múltiplas propostas. Se há consenso, por um lado, sobre a natureza da atuação desta e sobre seus objetivos fundamentalmente divergentes daqueles que marcam a LT , o mesmo não se pode dizer quanto às bases epistemológicas e os objetos eleitos como pesquisáveis. Neste trabalho, procuramos descrever a arquitetura e a justificativa da proposta, no Brasil liderada por Moita Lopes. Se ocupar a vanguarda de uma (re)virada epistemológica tem seu encanto, caberiam aqui, no entanto, pelo menos duas advertências. Em primeiro lugar, há que se reconhecer que uma das mais fortes preocupações da LA tem sido o fortalecimento da disciplina: o balanço de Kaplan (2002) descrito na seção 1 deste trabalho advertia para a necessidade de se criar unidade na área, enquanto o texto programático de Moita Lopes (2006) celebra justamente a diferença e a “mestiçagem”. Assumi-las como alternativa não só viável quanto superior é prescindir justamente do que Kaplan considera fundamental. O risco é se deixar estar sempre em um “entrelugar”. A segunda advertência é concernente ao risco de, ao se adotar uma postura construcionista, adotá-la como a única possível, o que corresponderia a ferir sua própria razão de existência. Afinal, nas palavras de van Lier (1994), relativismo é o contrário de absolutismo, e não de racionalismo; ter uma postura relativista, portanto, implica reconhecer uma variedade de tipos de conhecimento científico. De qualquer forma, confome Lorenz (1963 citado por VAN LIER, 1994), o propósito de uma teorização pode ser querer conhecer ou querer ajudar; o julgamento de um empreendimento científico, se optarmos pela segunda opção, está na utilidade de seus resultados. Na LA estariam profissionais que estão a serviço de proble-

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mas de vida real e não apenas a serviço da respeitabilidade acadêmica. NOTAS O termo “indisciplinar” é uma referência explícita ao título de recente publicação organizada por Luiz Paulo da Moita Lopes (2006) – Por uma lingüística indisciplinar –, a qual embasa muito do que aparece em discussão no presente artigo, que justamente retoma e descreve a arquitetura e a justificativa da proposta de Lingüística Aplicada presente na obra do autor. 2 Tomo aqui emprestada a expressão de Possenti (2005) referente à Pragmática, para o autor, o “verdadeiro outro” da Análise do Discurso de base enunciativa. 3 Para se ter idéia da natureza de tais problemas, eles vão desde a escolha da segunda língua a ser ensinada em uma escola que recebe muitos imigrantes até uma resolução política sobre língua oficial de uma dada comunidade, passando por problemas comunicativos em ambientes empresariais e impasses ideológicos suscitados por uma notícia de jornal. 4 A segunda revolução, para o autor, seria uma etapa anterior do que pretendemos demonstrar nesta recuperação do percurso das tendências às ciências sociais, menos relevante para meu propósito de uma exposição mais geral: é o que ocorre m Chicago na década de 30, quando, pelas mãos predominantemente de Lloyd Warner, passa-se a de fazer uma antropologia baseada na exploração urbana (isto é, pouco baseada em exotismos de ilhas distantes). Essa fase, que ainda se caracterizava pela busca de um certo exotismo urbano, da análise de minorias necessariamente, vai dando lugar, na década de 50, a uma antropologia “fora das ilhas” mais convicta e simpática a campos prosaicos (WINKIS, 1998, p. 131). 5 Mesmo por um viés teórico (em oposição ao ético), Goffman (1964) argumenta sobre a invalidade desse modo de fazer sociolingüística. Para ele a construção de inventários abstratos de formas lingüísticas associadas a variáveis sociais muito pouco tem a dizer sobre a real natureza da relação linguagem/sociedade. 6 Cf. Marconde, 1997 e, mais especificamente, a própria Fabrício, 2006. 1

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Fabrício exemplifica com a ACD (de FAIRCLOUGH e VAN DIJK, por exemplo) o tipo de interpretativismo que ainda busca certezas sobre os fenômenos sociais a partir da técnica de “desvelamento” (realista e determinista) das ideologias embutidas no discurso. REFERÊNCIAS BAUMAN, Z. Modernidade e ambivalência. Rio de Janeiro: Zaar, 1999. CAVALCANTI, M. Applied Linguistics: Brazilian perspectives. AILA Review, no. 17, pp. 23-30, 2004. COOK, G. Applied Linguistics. Oxford: Oxford University Press, 2003. DAVIES, A. Doing being applied linguistics. In: An introduction to applied linguistics. From practice to theory. Edinburgh: Edinburgh University Press, 1999. FABRÍCIO, B.F. Linguistica Aplicada como espaço de desaprendizagem: Redescrições em curso. In: Moita Lopes (org.). Por uma lingüística indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. GOFFMAN, E. A elaboração da face. Uma análise dos elementos rituais da interação social. In: B. T. Ribeiro & P.M. Garcez (orgs). Sociolingüística Interacional. Porto Alegre: Age Editora. 1967 [1998]. GOFFMAN, E. A situação negligenciada. In: B. T. Ribeiro & P.M. Garcez (orgs) Sociolingüística Interacional. Porto Alegre: Age Editora, 1964 [1998]. GRABE, W. Perspectives in Applied Linguistics: a North American view. AILA Review, no. 17, p. 105-132, 2004. HALL, S. Identidade cultura na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2006. KAPLAN, R. Where to from here? In: KAPLAN (org). The handbook of applied linguistics. Oxford: Oxford University Press, 2002. LÉVI-STRAUSS, Claude. Anthropologie Structurale. Paris: Plon, 1951. MOITA LOPES, L.P. Identidades fragmentadas. Campinas: Mercado das Letras, 2002. MOITA LOPES, L.P.. Linguistica Aplicada e vida contemporânea: problematizarão dos construtos que têm orientado a pesquisa.In:

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