Demografia e migrações

July 10, 2017 | Autor: R. Jorge Pereira | Categoria: Demography, Migration
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Demografia e migrações

Segundo um relatório da Organização das Nações Unidas (O. N. U.), «o mundo encontra-se no centro de um processo de transição demográfica, único e irreversível, que originará o envelhecimento de populações em todo o lado.».
E prosseguia: «actualmente, 64% das pessoas mais idosas vive em regiões menos desenvolvidas – um número que se espera que aumente para 80% em 2050.».
Porquê?
A melhoria das condições de vida (no capítulo da higiene e da salubridade, sobretudo), principalmente após a Segunda Guerra Mundial, passou, cada vez mais, a 'ombrear' com a incerteza e a instabilidade sentidas por enormes camadas das populações impostas por questões ligadas ao mercado de trabalho (o desemprego estrutural, por exemplo).
Daí se explica a diminuição progressiva do número de filhos dos casais.
A conjugação destes dois fenómenos – a melhoria da qualidade de vida e a redução da prole dos casais – traduziu-se e traduz-se na maior longevidade das pessoas e no seu envelhecimento.
Eis alguns exemplos.
A edição online do jornal brasileiro O Globo destacava, há semanas, que o Brasil contava mais cães de estimação do que crianças: «cerca de 44% dos domicílios têm cães, o que equivale a mais de 52 milhões de animais; crianças são 45 milhões», observava.
Já no continente com nome de divindade grega, Alemanha, Reino Unido e Portugal são alguns dos países mais afectados pelo envelhecimento e, igualmente, pela diminuição da sua população.
Um relatório recente do Hamburgisches WeltWirtschafts Institut referia que «em nenhum outro país com uma forte 'componente' industrial a taxa de fecundidade está a sofrer um tão duro golpe apesar da chegada de enormes contingentes imigrantes. A Alemanha não poderá continuar a ser um pólo económico a longo prazo se não tiver um forte mercado laboral.», avisou o instituto.
Na verdade, num país em que as desigualdades económicas e sociais entre o Leste e o Oeste não foram, ainda, totalmente eliminadas (apesar do Muro de Berlim ter sido destruído há mais de um quarto de século), a força de trabalho vai 'encolher' 6 milhões de pessoas durante os próximos 15 anos afectando – e pondo em risco – a posição dominante da Alemanha na economia do continente europeu (e não só até porque os germânicos se situam entre os maiores exportadores à escala global), admitiu ainda o centro de pesquisa.
No Reino Unido, um estudo levado a cabo por especialistas da Câmara dos Comuns do parlamento nacional no início de 2012, concluía haver, então, mais de 10 milhões de pessoas com uma idade igual ou superior a 65 anos no país estimando-se representar este número um aumento de cerca de 80% face ao registado em 1951.
Apesar de observar que a população dos países do reino iria aumentar (resultado imediato da imigração), salientava que «a estrutura etária da população do Reino Unido irá, gradualmente, tornar-se mais velha.»: não por acaso, pois, o jornal britânico Daily Mail avançava, numa sua edição online em Junho de 2015 que a idade média no reino de Sua Majestade tinha atingido os 40 anos (tendo 'subido' seis anos desde 1974).
Já em Portugal, o índice de fecundidade – ou seja, o número de filhos por cada mulher em idade fértil (isto é, entre os 15 e os 49 anos de idade) – passou de 3,1 em 1960 para 1,5 em 2001.
Dados compilados pelo gabinete de estatísticas da comissão europeia evidenciaram já que em Portugal, em 2013, se registou uma das mais baixas taxas de natalidade dos países que compõem a União Europeia.
Por terras asiáticas, nem o Japão nem a China escapam ao envelhecimento das suas populações.
Num documento publicado em 2011 em relação ao recenseamento da população e da habitação levado a efeito no ano anterior, o gabinete de estatísticas do Japão dava conta de que «a percentagem da população que regista 65 e mais anos de idade no Japão atinge 23%. Tal valor é o mais elevado do mundo seguido do verificado na Alemanha e na Itália (ambos com 20,4%).».
Cerca de metade das japonesas hoje nascidas no seu país completará 100 anos de idade.
Projecções reveladas, entretanto, pelo Instituto Nacional da Pesquisa acerca da População e Segurança Social, contabilizaram que a população do país iria diminuir cerca de 25% entre 2010 e 2060.
Por seu lado, as previsões ensaiadas para o seu vizinho chinês não são muito mais optimistas.
De acordo com o texto The far-reaching consequences of China's greying population (publicado pelo sítio WorldReview.info) a China poderá tornar-se "velha" antes mesmo de se tornar "rica"…
Cenário a que não é alheia a política chinesa do filho único.
Assim, mais ou menos qualificada, a imigração parece ser a tábua de salvação para estas sociedades.
Tal 'sugestão' é feita, até, pela O. N. U..
De facto, ao permitir um rejuvenescimento das sociedades, potencia a criação e o desenvolvimento de iniciativas comerciais, industriais e outras.
Será óbvio que a imigração traz consigo, também, o 'alimento' essencial (o ser-se, simplesmente, diferente) para a manifestação de preconceitos e a sua transposição, por assim dizer, para a arena política assim como para outras áreas aos níveis social, económico e cultural.
Mas, é esse o preço que as sociedades terão que pagar se quiserem sobreviver.
Se não…


Ricardo Jorge Pereira
Antropólogo e investigador

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