Depósitos continentais e marinhos na plataforma litoral da regiao do Porto: Importância da tectónica na sua organizaçao espacial

June 6, 2017 | Autor: Maria Araújo | Categoria: Geomorphology
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Ciencias da Terra (UNL)

Lisboa

N.0 14

pp. 111-122 5 Figs.

2000

Depositos continentais e marinhos na plataforma litoral da regiao do Porto Importancia da tectonica na sua organiza~ao espacial Fluvial and marine deposits at the Littoral Platform of Oporto region The importan ce of neotectonics in their differentiation Maria d a Assun~ao Araujo Departamento de Geografia da Faculdade de Letras da UP, Via Panoramica, s/ n, 4150-564 Porto, Portugal; tel.lfax. (351) 22 6077194; [email protected]

RESUMO Palavr as chave: Plataforma litoral; relevo marginal; leques aluviais; raiias; dep6sitos marinhos; Quatemario; neotect6nica. Urn dos trar;;os comuns a quase todo o litoral portugues e a existencia de uma faixa aplanada, designada como "plataforma litoral", situada a altitudes variadas e limitada, para o interior, por urn rebordo rigidamente alinhado e contrastante corn a referida area aplanada. A plataforma litoral suporta, frequentemente, numerosos afloramentos de dep6sitos genericamente classificados como plio-plistocenicos. Durante muito tempo a plataforma litoral foi interpretada como urn testemunho passivo das variar;;oes eustaticas. Estas teriam originado uma escadaria de "niveis de praias antigas", designadas por criterios altimetricos. 0 rebordo que a limita para o interior seria, logicamente, uma arriba fossil. Todavia, urn estudo detalhado dos dep6sitos da plataforma litoral na regiao do Porto veio provar que muitos desses dep6sitos tern caracter continental. Os dep6sitos de caracter fluvial, ou do tipo "leque aluvial", situam-se, sistematicamente, a altitudes superiores a 40m. Os dep6sitos marinhos sao relativamente raros e limitam-se aparte exterior da plataforma, desenvolvendo-se a altitudes inferiores a 40m. Encontram-se dep6sitos que permitem identificar o estacionamento do mar a 3 niveis diferentes. Entre os dep6sitos marinhos e os de facies continental existe urn degrau rectilineo, bem marcado, que faz supor que a separar;;ao entre eles pode ter uma origem tect6nica. A distribuir;;ao espacial dos dep6sitos marinhos conjugada corn as respectivas caracteristicas sedimentol6gicas sugere que, nos periodos interglaciarios do Quatemario, o mar teria retocado o sector ocidental, tectonicamente abatido, duma plataforma elaborada essencialmente por agentes sub-aereos durante o Neogenico. Existem outras provas de movimentar;;ao tect6nica recente: a) os dep6sitos mais altos da plataforma estao afectados por diversos acidentes, geralmente de tipo compressivo; b) os dep6sitos marinhos nao se situam a altitudes homogeneas ao longo do sector estudado. Desenvolvem-se segundo urn padrao irregular, em que parece haver uma descida das altitudes para sui, em direcr;;ao aOrla Ocidental meso-cenoz6ica.

ABSTRACT Keywords: Littoral platform; marginal relief; alluvial fans; marine deposits; Quaternary; neotectonics. One of the most common characteristics ofPortuguese littoral is the existence of a planed surface (the so-called "littoral platform"), situated at different altitudes and bordered from the inland by a straight relief, strongly contrasting with that planed surface. This one is generally covered with several outcrops of the so-called Plio-Pleistocene deposits. Till the eighties this platform has been interpreted as stable staircase of old marine levels, registering in a passive way the eustatic variations. The rigid step bordering it easterly should be a fossil cliff. However, our study has proved that many of these deposits have a continental origin. These continental deposits have fluvial or alluvial fan facies and they are lying above 40 meters.

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I° Congresso sobre o Cenoz6ico de Portugal Marine deposits seem to be quite rare and they only occupy a small western area, beneath the altitude of 40 meters, and developing into three different marine levels. There is a rigid step between the two kinds of deposits. We think that the clear geometric separation between these deposits together with this rigid step, indicates a tectonic origin. Ir seems that the sea must have touched only the western part of th is surface, when neotectonic movements lowered it down. There are more evidences for neotectonic movements: a) there are fau lts (mainly inverse faults) affecting the higher deposits of this littoral platform; b) the same marine level seems to appear at different altitudes, developing an irregular pattern with a general trend dipping from the North to the South.

ENQUADRAMENTO GEOLOGICO E GEOMORFOLOGICO

OS DEPOSITOS DE FACIES CONTINENTAL. INTRODU

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A

Dep6sitos da Fase II (transi9i\o Pliocenico-Pieistocenico) Dep6sitos da Fase I (Piiocenico provavel)

(93) (81)

Cotas representativas dos di versos afloramentos

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Relevo Marginal (acima dos 150m)

Rasa (124)

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Dep6sitos marinhos da plataforma litoral e flu viais do vale do Douro (Quaternario)

Boomo(84)

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Cabanoos (106)

Aldeia Nova (128)

Curvas de nfvel (equidistancia=25m. Visfveis s6 no relevo marginal)

D. " Esposade ( 136)

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Carregal

B.

Medas (162)

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,u \f ~ Fig. 3 - Localizayao das principais manchas de dep6sitos ante wlirmianos e rcspcctivo enquadramcnto gcomorfol6gico (scgundo as cartas geol6gicas 9-C, 13-A e 13-B, na cscala de I :50 000). A-B-C-0: pontos da linha de cortc corrcspondcntc ao perfil da Fig. 4.

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Ciencias da Terra (UNL), 14

nunca encontn'lmos verdadeiras coura9as, como as que existem nos dep6sitos da fase anterior. Estes dep6sitos aparecem em 2 tipos de situa96es: I - na imediata proximidade do vale do Douro (Pedrinha, Valbom, Coimbroes), o que faz supor que nesse momento talvez o Rio Douro ja estivesse canalizado, mas teria urn comportarnento muito torrencial; 2 - ao longo de urna faixa paralela ao relevo marginal e situada a oeste dele. Nao encontramos nenhum caso em que os dep6sitos da fase II se sobrepusessem aos anteriormente referidos. Situam-se, geralmente, urn pouco mais para oeste, a altitudes mais baixas, compreendidas entre I 00 e 50 m. Em diversos locais (nomeadamente na barreira situada proximo do Ccntro Comercial Arrabida Shopping) observarnos casos cm que blocos de arenito esbranqui9ado, tipicos da Fase I, se achavam englobados nos dep6sitos da fase ll, junto a respcctiva base, 0 que prova a anterioridade daqueles dep6sitos e o facto de se encontrarem a constituir relevo no momento em que os dep6sitos da Fase II estariam a forrnar-se. Porem, se ha dep6sitos da fase 11 que podem corresponder a urn periodo torrencial do curso do Douro, ate porque aparecem conservados na proximidade do seu vale (caso descrito em 1), a organiza9ao espacial dos restantes dep6sitos da "fase 11" (caso 2) mostra, claramente, que os se us afloramentos se distribuem paralelarnente ao rclcvo marginal e nao parece aceitavel relaciona-los corn o tra9ado do Douro. Trata-se, como ja vimos, de dcp6sitos corn urn caracter torrencial, apresentando, cm cortc, canais corn elementos mais grosseiros na base e sectores mais finos e compactos para o topo. Estes aspcctos sugerem que se trata de leques aluviais formados a saida de urn relevo em surrei91io. Nestas circunstancias parece plausivel a hip6tese de que teria sido o "relevo marginal" a area de origem dos dep6sitos da Fase 11 . Assim sendo, a respectiva movimenta9ao podera ser ligeiramente anterior, ou correlativa, da forma9ao dos dep6sitos da fase II. Alem duma ccrta movimenta91iO tect6nica e de supor a existencia de uma situa9ao de crise climatica, que originou a torrencialidade destes dep6sitos e possibilitou o transporte de elementos de grande calibre (na Pedrinha e possivel observar blocos corn cerea de 0,5m de diametro). Estes teriam urn caracter mais grosseiro na proximidade das cristas quartziticas (Pedrinha fica a 6 km dos primeiros afloramentos quartziticos da serra de Valongo), e menos grosseiro nas areas distais (Coimbroes situa-se a 11 km dos referidos aflorarnentos). A esta crise climatica parecem seguir-se condi96es climaticas mais regulares, responsaveis por urn regime hidrol6gico menos contrastante. Corn efeito, em alguns locais (Av. Marechal Gomes da Costa, no Porto), no topo de forrna96es de tipo debris-flow, verifica-se a deposi9ao de materiais mais calibrados e compativeis corn uma drenagem organizada (Fase 11-B). Estes dep6sitos encontrarn-se apenas na proximidade do vale do Douro e

poderao corresponder a urn momento em que este pcrdcu o caracter fortemente torrencial que tinha no inicio da fase IJ. Alguns destes dep6sitos estao clararnente afectados pela tect6nica. Esta manifesta-se, por vezes, atraves de movimentos compressivos, traduzidos na existencia de falhas invcrsas, como no caso do Juncal (Fig. 5) e dos Pinhais da Foz {Araujo, 1995 e 1997). Curiosarnente, em ambos os casos referidos, as falhas identificadas situamse muito perto do limite entre os dep6sitos fluviais e os dep6sitos marinhos que se encontram, na plataforma litoral, a cotas inferiores a 40m.

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