Desafio da sustentabilidade cultural: o museu e suas práticas

July 19, 2017 | Autor: Julio Francisco | Categoria: Culture, Environmental Sustainability, Museums
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Desafio da Sustentabilidade Cultural: o Museu e suas práticas

Julio
Bittencourt Francisco[1]
Valdir José Morigi[2]

Resumo: Desenvolvimento sustentável e sua relação com os museus. Ações
estratégicas para realizar eventos sobre a sustentabilidade cultural e
ambiental. Os princípios que devem direcionar as ações museais para a
sustentabilidade. Necessidade de políticas para implementação dos
princípios de sustentabilidade nos museus. Alternativamente, através de
outras iniciativas sociais como por exemplo, de projetos de autoafirmação
de mulheres; programas de Museus e práticas museológicas; campanhas de
valorização da memória comunitária, indígena e quilombola. Política de paz
e diretrizes para o diálogo permanente: política cultural voltada para
inclusão e aceitação da diversidade entre ouras. A prática museal e o
trabalho educativo possibilitam a construção de relações de colaboração e
cooperação e pode auxiliar na conscientização das questões relacionadas ao
desenvolvimento sustentável com responsabilidade e justiça social.
Palavras Chave: sustentabilidade, cultura, desenvolvimento, museu,
diretrizes.


Abstract: Sustainable development and its relationship with the museums.
Strategic actions to carry out cultural and environmental sustainability
events among people. The principles that should direct the museological
actions for sustainability. Need of policies to implement the principles of
sustainability in museums: policies for women: guidelines for Sustainable
Museums programs and practices; Policy measures and actions in the
community memory, indigenous and maroon programs. Peace policy and
guidelines for the constant dialogue: Cultural Policy toward inclusion and
acceptance of diversity. Merging museum practice and the educational job to
build collaborative relationships and cooperation raising awareness of
issues related to sustainable development with responsibility and social
justice.
Key Words: sustainability, culture, development, museum, guidelines



Introdução

A Sustentabilidade é uma ideia desafiadora, e sem dúvida, um dos
conceitos de maior importância para a humanidade nos dias atuais. Ela
inclui a noção de que as pessoas não podem viver de modo a comprometer o
bem-estar das gerações futuras. Isto significa pensar, planejar e agir de
maneira a promover um ecossistema saudável, um modelo de desenvolvimento
econômico sustentável com justiça social. Além disso, é necessário conhecer
e respeitar a interdependência e os limites da vitalidade dos sistemas
econômicos, sociais, culturais e ecológicos.
O debate sobre recursos e práticas sustentáveis pode se desencadear a
partir das relações entre o museu e a cidade. Com o processo cada vez mais
intenso de urbanização e aglomeração das pessoas nas cidades e grandes
centros, o modo de vida urbano se tornou um desafio para as futuras
gerações. Este modo de vida está baseado no consumo e na competição. Ele
se nutre da especulação e verticalização imobiliária, não privilegia a
mobilidade urbana e a manutenção deste sistema equivocado ainda gera gases
de efeito estufa. As consequências são mudanças climáticas, poluição e
devastação de áreas de florestas além do aparecimento de desertos onde
havia campos, matas, flora e fauna.
Estes são temas que merecem profunda reflexão da nossa parte,
principalmente em se tratando de profissionais e acadêmicos que trabalham
com temas ligados ao museu, mas também àqueles que têm compromissos sociais
e educativos juntamente a um centro cultural, uma escola, uma biblioteca e
até ao um teatro.


Sustentabilidade: conceito e dimensões



Há muitos conceitos de sustentabilidade, no entanto eles têm algo em
comum: o ambiente natural, a economia e a sociedade - em geral, os três
estão quase sempre, presentes juntos. A maioria desses conceitos não dão
conta, porém, do valor e da manutenção da vida, ou de uma política de
justiça e paz. As definições se concentram na taxa de alteração do ambiente
natural e na importância de manter o equilíbrio entre as gerações. Muitos
vêm a sustentabilidade como um processo em constante evolução.
A definição mais usada é a do Primeiro-Ministro Norueguês:
Brundtland[3], em 1987 "[...] desenvolvimento sustentável é o
desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a
capacidade de gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades".
O conceito passou a significar continuar vivendo da terra, mas não
acabar com ela. Significa manter o consumo de recursos naturais renováveis
dentro dos limites da sua justa reposição. Uma atividade sustentável é
aquela que pode ser levada a cabo sem prejudicar a saúde a longo prazo e
manter "integro" o ambiente natural e cultural. Significa, também, passar
às gerações futuras um estoque igual ou de preferência melhorada de capital
econômico, natural, social e humano.



Ambiente



Meio Ambiente é o ambiente em que uma sociedade atua, incluindo o ar,
água, terra, recursos naturais, flora, fauna, seres humanos, o ambiente
construído e suas inter-relações.



Economia



A economia representa os intercâmbios e os recursos de uma
comunidade. As duas preocupações centrais da economia são a alocação
eficiente dos recursos disponíveis, e os problemas em conciliar os recursos
finitos com o desejo virtualmente infinito de bens e serviços.



Sociedade



Sociedade é o termo mais geral para definir o corpo de instituições e
relações dentro das quais um grupo relativamente grande de pessoas vive.
Ela também é o termo mais abstrato para a condição em que tais instituições
e relacionamentos são formados.



Cultura



A cultura é a expressão de valores estéticos, morais e espirituais de
uma sociedade, de sua compreensão do mundo e da própria vida; a cultura
transmite a herança do passado e cria o patrimônio do futuro.
A sustentabilidade possui várias dimensões: social, política,
econômica, ecológica e a cultural. Neste texto procuramos identificar
alguns indicadores capazes de medir a sustentabilidade cultural, pois eles
podem nortear as práticas museais, tornando uma espécie de um guia para
ação em programas, serviços e práticas internas dos museus.
Apresentar indicadores capazes de mensurar a dimensão cultural da
sustentabilidade é uma tarefa difícil e complexa. Conforme (ALMEIDA;
CARESTIATO; SERRÃO, 2014, p.123), baseados em estudos de (SACHS, 2000;
QUINTAS, 2004) tratam-se de indicadores qualitativos e assim são expressos:


Equilíbrio entre o respeito e à inovação: verifica o quanto
é possível se abrir para o mundo sem que isso signifique a
perda das culturas tradicionais; Capacidade de autonomia
para elaboração de um projeto nacional integrado e
endógeno: já temos leis que nos permitem construir um
projeto de desenvolvimento que integre regiões e esteja
voltado para reais necessidades da população brasileira. A
questão é a aplicação dessas leis e a sua efetividade na
construção de uma sociedade mais igualitária, fortalecendo
as etnias tradicionais; Autoconfiança combinada com
abertura para o mundo: possibilidade de incorporar novas
tecnologias às tradições culturais, levando a melhoria da
qualidade de vida dos povos; Preservação em seu sentido
mais amplo: preservação de valores, práticas (religiosas,
danças, por exemplo) e símbolos da identidade; Respeito a
formação cultural e organização social comunitária.
(ALMEIDA; CARESTIATO; SERRÃO, 2014, p.123).




Há um crescente reconhecimento de que fatores culturais desempenham um
papel fundamental na sustentabilidade. Qualidade de vida é determinada por
algumas variantes incluindo saúde, renda, nível de educação, diversidade
cultural e qualidade ambiental. O bem-estar social da população é essencial
para fazer da sustentabilidade uma realidade. Sustentabilidade e uma vida
cultural florescente são interdependentes.




Responsabilidade socioambiental: pegada humana na terra



A pegada ecológica global da humanidade é baseada na relação da área
produtiva da terra, com a quantidade de água doce a ser usada na produção
de alimentos e com os objetos produzidos para consumo, mas também para
limpar os resíduos da produção e matar a sede das pessoas na face da terra.
Ela tem sido maior que a superfície produtiva do planeta desde o final de
1970 e continua a aumentando[4].
O planeta é a nossa casa, isso inclui a biosfera e os oceanos. É
necessário encontrar formas de viver dentro de limites sustentáveis.
Estamos diante de taxas de mudanças sociais, tecnológicas e ambientais sem
precedentes, por isso precisamos ter tempo para refletir e debater como
pode ser um futuro sustentável. Temos de tomar medidas nesse sentido, como
indivíduos, enquanto comunidade, governo, empresa - e Museu. A escala e a
urgência do trabalho de sustentabilidade a ser implementado é desafiador.
No premiado best seller, "The Upside of Down", o pesquisador
canadense Thomas Homer-Dixon (2006) aponta para cinco "tensões tectônicas"
que operam em nível mundial: 1- População. O autor chama atenção para as
diferenças nas taxas de crescimento populacionais entre áreas ricas e
pobres, e também das megacidades, criando tensões. 2 – Energia. Tensão
devido à crescente escassez de petróleo convencional. 3 – Ambiental. Meio
ambiente degradado: terra, água, florestas e oceanos. 4- Tensões climáticas
devido a mudanças na composição da atmosfera. 5- Tensões econômicas devido
a instabilidades no sistema econômico global e nas diferenças de renda
crescente entre ricos e pobres (HOMER-DIXON, 2006, p. 11).
Tais questões não podem ser tratadas separadamente, cada uma de forma
isolada. Na verdade, as questões se sobrepõem e se afetam umas às outras de
formas imprevisíveis. É necessário reconhecer, de preferência vivendo a
experiência no próprio bairro, ou no âmbito do local onde está inserido o
museu, para perceber como essas questões tocam nossas regiões, comunidades,
famílias, e cada um de nós como indivíduos. É necessário responder às
tensões com aplicação de conhecimento e metodologias inovadoras sem
desprezar os métodos da sabedoria da ecologia tradicional.
Como os museus, partes das instituições culturais, podem auxiliar na
sustentabilidade? Que ações estratégicas eles podem realizar para a
sustentabilidade cultural e ambiental? Quais os princípios devem direcionar
as ações museais para a sustentabilidade?
Estas são as questões que norteiam este estudo.


Desenvolvimento, sustentabilidade cultural e o museu



Quando se trata de desenvolvimento sustentável devemos considerar em
primeiro lugar, que a sustentabilidade é uma questão cultural. A cultura é,
muitas vezes, chamada de o "quarto pilar" da sustentabilidade, colocada ao
lado das dimensões sociais, econômicas, políticas e ecológicas. Entretanto,
atribuir peso maior ou menor a uma dessas dimensões pode tornar este modelo
de pensamento falacioso, pois todas as dimensões se interatuam e se auto
influenciam.
Ao invés de compreendermos a cultura como expressão das artes,
literatura e entretenimento que consumimos, é melhor compreendê-la como um
conjunto de padrões comportamentais e processos em desenvolvimento que
refletem uma identidade, o que pensamos e como agimos como indivíduos e
grupos. Assim, a cultura torna-se o cerne do trabalho do desenvolvimento
sustentável. Em segundo lugar, a sustentabilidade diz respeito a reconhecer
conexões que ligam os impactos locais com questões maiores, mas isso nem
sempre é fácil de fazer. Relatórios sobre as mudanças climáticas quase
sempre colocam o foco sobre os impactos que acontecem em outros lugares,
com outras pessoas, ou a animais carismáticos como os ursos polares.
No Brasil, impactos locais são mais propensos a envolver a falta de
saneamento básico em áreas carentes, acúmulo de sujeira na natureza, além
de mudanças em padrões de seca, que destroem colheitas e inviabilizam
qualquer projeto econômico ou social. Grandes enchentes através de chuvas
torrenciais, que transbordam rios, fazem desabrigados, trazem prejuízos na
mobilidade quando não desastres naturais em larga escala.
Ao enfocar esses tipos de conexões, os museus podem ajudar suas
comunidades a identificar sinais locais de stress, e desenvolver soluções
criativas. Em terceiro lugar, a sustentabilidade precisa ser incorporada ao
nível institucional, integrando-o na abrangência do museu, nas declarações
de missão, nos orçamentos e nas metas e avaliações de desempenho.



A dimensão cultural da sustentabilidade



As ideias do item anterior correspondem aos elementos da dimensão
cultural da sustentabilidade, aos quais o museu pode e deve promover.
Propomos discutir aqui, a ideia de sustentabilidade cultural, atrelada as
ações dos museus como um conjunto de ações e projetos, no sentido de
auxiliar a comunidade a incluir em suas práticas cotidianas comportamentos
ambientalmente sustentáveis.
Na qualidade de guardião de ideias, tradições e objetos, o museu
reflete uma parte importante da sociedade e do seu patrimônio cultural e
natural. Ele necessita ser atuante e dinâmico junto a sua comunidade se
pretende ter um papel ativo. O museu precisa inovar, assumir novas
posturas, possibilitando o equilíbrio entre a tradição e a inovação a
partir da elaboração de um projeto nacional de sustentabilidade integrado
em consonância com a participação comunitária.
Para além de colecionar objetos, os museus devem preservar valores,
práticas e símbolos identitários da diversidade das culturas locais,
respeitando as especificidades de cada ecossistema e as singularidades de
cada local e de cada cultura. Desta forma, ele poderá auxiliar na promoção
dos direitos constitucionais das minorias.
Na busca de novos modelos de desenvolvimento o museu deve considerar
soluções múltiplas e plurais, valorizando as histórias da coletividade,
seus problemas e inquietações. A prática democrática que privilegia o
diálogo e o debate pode auxiliar na disseminação da informação e na
formação da opinião coletiva, incentivando a participação social. O museu
possibilita realizar conexões entre as histórias do passado, do presente e
projetar o futuro.
Assim, os museus podem trazer importantes contribuições através do
planejamento de exposições interpretativas e programações museológicas,
proporcionando espaços comuns para reflexão, discussão e planejamento
estratégico. Os museus também podem ir além de suas paredes, trabalhando
com as suas comunidades para tratar de questões contemporâneas e pela
liderança que promovem, encaminhar ações relevantes e construtivas. Eles
podem desempenhar um papel importante no trabalho de conscientização em
relação as práticas sustentáveis, realizando exposições sobre o tema.
As pesquisas de público confirmam: quem mais frequenta o museu são os
membros da comunidade que ele, o museu, está inserido. Desta forma, o museu
pode fazer a diferença em nível local e pensar a sustentabilidade com visão
crítica e científica, inserindo sua realidade social numa compreensão das
inter-relações globais.




Contexto Social e Político da Sustentabilidade



Governos em todo o mundo, através de normas e ações, e muitas
comunidades, pela necessidade de melhorar a qualidade de vida, estão
trabalhando para integrar a sustentabilidade no processo decisório em todos
os níveis. As organizações empresariais e industriais, até pela força da
lei, estão buscando novas abordagens, investimentos e empreendimentos que
contribuam para o meio ambiente sem degradá-lo no futuro. Muitas empresas
estão reconhecendo que os seus objetivos econômicos podem ser mitigados as
metas ambientais e sociais, e que todas as três áreas (governo, empresa,
indústria) podem contribuir para a própria sustentabilidade.
Educação para a sustentabilidade é vital, e é neste ponto que os
museus podem desempenhar um papel importante. A questão mais ampla da
educação para a sustentabilidade foi levantada pela primeira vez na
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de
1992, durante a Conferência da Terra do Rio de Janeiro. O Capítulo 36 da
Agenda 21, que corresponde ao plano de ação adotado pela Conferência do
Rio, definiu propostas de reorientação de educação pública, sensibilização
e formação na direção do desenvolvimento sustentável. O plano levou em
consideração a realidade de diversos países para elaborar um conjunto de
estratégias nacionais que podem aumentar a consciência pública sobre a
sustentabilidade, possibilitando a formação e a capacitação para dirigir a
sociedade em direção a um futuro onde o meio ambiente, a sociedade e a
economia se harmonizem.
Desde então, com o apoio de uma série de conferências internacionais
das Nações Unidas, surgiu o consenso sobre a necessidade de educação para
sustentabilidade. Talvez o documento mais importante para o aprendizado
tenha sido o relatório de 1996, da Comissão Internacional sobre Educação
para o Século XXI: "Um tesouro a descobrir", conhecido como relatório
Delors[5]. Este documento reconhece a importância de aprender a
compartilhar, no sentido de moldar sistemas de ensino com objetivo de lidar
com as questões sustentabilidade, tanto em nível local quanto global.
O documento facilita a compreensão pelos membros da comunidade da
interdependência da economia, do meio ambiente e das questões sociais e
culturais. Com isso fica mais fácil separar as práticas sustentáveis
daquelas não sustentáveis. As pessoas são desafiadas a conceber um futuro
sustentável para que saibam o que almejar, mas também a serem capazes de
refletir as consequências de suas ações e comportamentos.
Pela sua natureza, os museus têm condições de desempenhar um papel
vital neste processo. Como a questão da sustentabilidade pode ser
incorporada em todas as áreas do governo e da sociedade? Como o progresso
em direção à sustentabilidade pode ser implementado e medido? Este é o tema
de debate em curso, nomeadamente em matéria sustentabilidade cultural.
O pesquisador australiano Joe Hawkes (2001) autor da obra "quarto
pilar da sustentabilidade: o papel essencial da cultura no planejamento
público" (tradução literal) entende que a aplicação da cultura da
sustentabilidade na esfera pública pode ajudar na formulação de políticas
governamentais para o desenvolvimento sustentável. Tal conceito também
incluí e deve contemplar o bem-estar e a diversidade sociocultural da
comunidade, mas também o justo equilíbrio entre globalização e
personificação. Segundo o autor: "Acreditar na mobilização dos movimentos
sociais e na participação cidadã de cada um, com criatividade e inovação
pode garantir uma sólida construção social".
A união e a capacidade comunitária são capazes de gerar capital
social. Segundo o autor, este capital é aplicado em qualidade de vida,
desenvolvimento de habitabilidades pessoais, educação de caráter e
obediência a princípios éticos e morais, identidade, pertencimento, como
valores que formam os pilares da sustentabilidade cultural. Soluções
inovadoras que contemplem as diversas expressões de arte são sustentáveis
porque promovem o progresso e o desenvolvimento social.

Valores de uma sociedade são as bases sobre as quais tudo
é construído. Esses valores e as formas como são expressos
representam a cultura de uma sociedade. Uma sociedade que
possa se dizer democrática deve definir caminhos claros
para que a expressão desses valores chegue para todos
indiscriminadamente. Vitalidade cultural é essencial para
uma sociedade saudável e sustentável com equidade social,
responsabilidade ambiental e viabilidade econômica. Para a
elaboração do planejamento público, e para que este seja
mais eficaz na sua aplicação, a metodologia deve incluir
um quadro integrado de avaliação cultural em moldes
semelhantes aos que são desenvolvidos para avaliação de
impacto social, ambiental e econômico. (HAWKES, 2001
p.VII)




Sustentabilidade cultural e práticas museais



A aprendizagem social e as consequentes mudanças de comportamento são
parte de um processo fundamental para alcançar a sustentabilidade. Os
museus têm um papel na construção de relações de colaboração. Usando
metodologia pedagógica das áreas da educação e da pesquisa, inovação e
criatividade devem ser aplicadas para aumentar a conscientização, para
incentivar o desenvolvimento de novas competências, mas também na
capacidade de se adaptar e responder às mudanças.
As práticas museais devem estar cientes e conscientes de questões
como justiça social, igualdade de gênero e inclusão, devem trabalhar de
forma cooperativa, contemplando soluções que visem a melhora na qualidade
de vida e do bem-estar de todos os setores da comunidade.
Ele deve incorporar as suas práticas e funções rotinas que comportem
materiais e procedimentos éticos que se coadunam com princípios
sustentáveis.

Tomada de decisão



Na gestão, planejamento e operações museais, assim como em qualquer
outro campo de trabalho a 'tomada de decisão' é uma ação importante,
caracterizando-se por um movimento, que pode ser orientado levando-se em
conta princípios de sustentabilidade.
A tomada de decisão deve levar em conta o princípio da precaução. A
'Declaração do Rio', define o princípio da precaução, assim: "Quando houver
ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a falta de plena certeza
científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas
eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental".
Medidas de precaução exigem avaliação dos custos, senso de benefícios da
pronta ação, mas também transparência no processo de tomada de decisão.[6]
Até que novas medidas de avanço estejam bem documentadas e aceitas,
os museus devem se esforçar no sentido de integrar os fatores econômicos,
ambientais e sociais em todas as tomadas de decisões. Assim os museus podem
auxiliar na garantia do uso mais eficiente e eficaz dos recursos humanos,
naturais e financeiros, tendo sempre o 'custo total' levado em
consideração.


Alguns princípios gerais de sustentabilidade para museus


Através de suas atividades, os museus podem ter um papel fundamental
na promoção e esclarecimentos sobre a sustentabilidade para a sociedade. Os
museus têm um longo alcance, conexão profundamente enraizada com as
comunidades. Os museus devem mostrar para o próprio pessoal e para o
público, os seus esforços em trabalhar de forma sustentável, levando-se em
conta todos os aspectos das atividades do museu.
As diretrizes a seguir oferecem alguns caminhos para aplicações
práticas de desenvolvimento sustentável, considerando a ação dos museus e
sua relação com a dimensão política social e cultural, além dos aspectos
econômicos. Veremos algumas sugestões ou ideias de ações sustentáveis
através das práticas museais, ou de formas de como os museus podem
contribuir para a sustentabilidade:

Nas decisões financeiras, o museu deve ter como parâmetro a análise
cuidadosa dos possíveis impactos sobre o meio ambiente, economia,
saúde humana e o bem-estar da comunidade;
Os museus devem se manter a par das mudanças dos números e dos
indicadores utilizados para medir as implicações sociais, ambientais e
culturais, bem como seus custos econômicos;
Os museus devem promover as indústrias sustentáveis que procuram
melhorar sua eficiência, transparência nas informações públicas e
relatório de impacto e manejo de recursos naturais (energia, água e
materiais recicláveis), através de políticas de contratos que apoiem
tais indústrias, mas também para reduzir o desperdício e poluição;
Museus devem apontar para as práticas que apoiam as coletas seletivas
de resíduos sólidos. As práticas sustentáveis devem ser encaminhadas
em conjunto com as necessidades da comunidade e outras organizações de
coleta seletiva;
Museus devem estimular e apoiar a contagem de emissão de carbono em
todas as suas atividades, inclusive nas grandes exposições, e procurar
mostrar ao público visitante como calcular e compensar emissões
através de práticas ecológicas compensatórias.
A sustentabilidade é um objetivo global. Quando agimos localmente,
temos que pensar globalmente - os problemas sociais e econômicos ambientais
são globais em extensão. Alguns princípios gerais de sustentabilidade nas
políticas e práticas museológicas podem incluir o seguinte:
As políticas devem ter uma perspectiva de longo prazo, incluindo tanto
as gerações atuais e futuras.
Objetivos sociais, econômicos e ambientais devem ser tratados como
interdependentes.
O preço de um produto ou de um serviço deve cobrir seus custos
sociais, econômicos e ambientais de longo prazo.
O conceito de sustentabilidade deve ser incorporado nas missões,
visões, abrangência, planejamento institucional e estruturas
organizacionais dos museus.
Metas claras e indicadores mensuráveis de avaliação são necessários
para orientar uma boa política de sustentabilidade.
A tomada de decisão deve envolver o princípio da precaução, mas também
envolver a comunidade e outras partes interessadas.
O acesso à informação, participação comunitária nas decisões que lhes
afetem, e o acesso à justiça deve ser considerado um direito
universal.
O conceito de resíduo é eliminado quando os recursos são utilizados de
forma mais eficiente, e retorna com segurança para uso produtivo, por
exemplo: através da reciclagem.
Os museus devem construir o conhecimento da consciência e da prática
do público sobre sustentabilidade, apresentando histórias de sucesso
em exposições, mas também através da coordenação de discussões mais
amplas sobre pesquisa e sustentabilidade.
Os museus devem ajudar na educação da comunidade para a
sustentabilidade através da criação de uma compreensão da
interdependência dos sistemas naturais, econômicos e sociais.
O Plano ou planejamento arquitetônico de novos museus e aqueles já
existem, devem levar e consideração novas tecnologias que reduzam os
custos, como por exemplo: uma eficiente rede de captação de recursos
naturais renováveis para utilização no museu, como por exemplo:
iluminação natural, captação de águas de chuva e aproveitamento
sustentável de áreas naturais.



Considerações finais



As decisões financeiras responsáveis devem aplicar os princípios da
sustentabilidade de longo prazo para a comunidade que ela afeta, mas também
o meio ambiente. A análise das estatísticas de crescimento econômico por si
só, como parâmetro básico de aferir prosperidade e progresso,
implicitamente desvaloriza a importância do capital natural e social,
incluindo a riqueza de recursos naturais e qualidade ambiental. Esta
prática também não consegue distinguir atividades econômicas dos
empreendimentos sustentáveis, e que contribuem para o bem-estar, de outros
que causam danos como a poluição e a corrupção.
Atualmente não existem orientações para auxiliar na avaliação de
atividades, programas e políticas, para verificar se são sustentáveis ou
não. A necessidade de melhores medidas de avaliação é amplamente
reconhecida, e vários indicadores de avalição de desempenho estão sendo
testado em museus em todas as partes do mundo
Para que os museus possam orientar os princípios de sustentabilidade
tanto em suas operações diárias quanto no espaço que ocupa na comunidade,
precisa elaborar uma "Política de Sustentabilidade" abrangente, coerente e
factível. Essa política deve estar incluída nas Diretrizes para Programas
de Museus e Práticas Museológicas.
A hora é oportuna para criação de uma rede nacional de
sustentabilidade em museus. Tal rede, que seria formada com representantes
da diversidade e todos os setores e regiões brasileiras, têm como papel
maior auxiliar os museus nacionais a criarem, juntamente com as suas
comunidades, seus Projetos de Sustentabilidade Cultural, que envolvam pelo
menos algumas das iniciativas aqui propostas, mas sobre tudo, que sejam
mensuradas e avaliadas constantemente em seus objetivos sociais.


REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Aline; CARESTIATO, Andrea; SERRÃO, Monica. ALMEIDA.
Sustentabilidade: uma questão de todos nós. São Paulo: SENAC, 2014. HOMER-
DIXON, Thomas The Up side of down: Catastrophe, Creativity and the renewal
of civilization Shearwater books Washington/EUA, 2006.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS [Nosso Futuro Comum],Our Common future World
Commission on Environment and Development, OUP, Oxford & New York, 1987.
QUINTAS, J. S. Educação como processo de gestão ambiental: uma proposta de
educação ambiental transformadora e emancipatória. In: LAYRAGUES, P.P.
(Org.). Identidades da educação ambiental brasileira. 2004. p. 113-140
SACHS, I. Caminhos para o desenvolvimento sustentável: Rio de Janeiro,
Garamond, 2000.
-----------------------
[1] Mestre em Memória Social UNIRIO, professor do DCI/FABICO/UFRGS.
Doutorando em História PUC/RS.
[2] Doutor em Sociologia USP, professor do DCI/PPGCOM/FABICO/UFRGS.
[3] Gro Harlem Brundtland (Bærum, 20 de abril de 1939) é uma política,
diplomata e médica norueguesa, e uma líder internacional em desenvolvimento
sustentável e saúde pública. Relatório Brundtland é o documento intitulado
'Nosso Futuro Comum' (Our Common Future), publicado em 1987. Neste
documento o desenvolvimento sustentável é concebido como: "O
desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a
capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades" O
Relatório, elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento, faz parte de uma série de iniciativas, anteriores à Agenda
21, as quais reafirmam uma visão crítica do modelo de desenvolvimento
adoptado pelos países industrializados e reproduzido pelas nações em
desenvolvimento, e que ressaltam os riscos do uso excessivo dos recursos
naturais sem considerar a capacidade de suporte dos ecossistemas. O
relatório aponta para a incompatibilidade entre desenvolvimento sustentável
e os padrões de produção e consumo vigentes.
[4] Para mais detalhes ver www.footprintnetwork.org
[5] Aprendizado: Um tesouro em si. Relatório da comissão internacional
sobre educação para o século XXI, UNESCO, Paris, 1996, acessível em:
http://www.unesco.org/delors/treasure.htm
[6] Princípio 15, Declaração do Rio sobre ambiente e desenvolvimento, 1992
acesso em: http://www.unep.org/unep/rio.htm
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