Desafios eticos para a acao educativa na Modernidade

June 3, 2017 | Autor: J. Iulianelli | Categoria: Education, Teacher Education, Ethical Theory
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Desafios éticos para a ação educativa na Modernidade
O comportamento, atitudes e hábitos humanos são os meios pelos quais pessoalmente e em sociedade construímos relações entre nós. O que acontece é que algumas vezes fazemos juízos moralistas e outras vezes atuamos com a reflexão ética. A diferença entre o moralismo e a ética é sutil. O moralismo reduz nossas avaliações a juízos de valor que rotulam pessoas, comportamentos e relações sociais, em geral em favor do poder estabelecido, da ordem aceita como normal que é a representação social, o imaginário, que confirma o poder político e econômico. A reflexão ética, por sua vez, questiona como podemos estabelecer relações humanas capazes de nos tornar humanos, de nos levar à autorealização, à felicidade. O que vale dizer, questionamse os parâmetros existentes e se pergunta pela possibilidade do aprimoramento do modo de ser do ser humano, do modo de ser da sociedade humana, do modo de ser das relações entre os seres humanos e o meio ambiente no qual vivem.
Moral e ética, definidas de modo antitético como o comportamento aceito por que reproduz os modos aceitos pelo poder econômico e político; e a reflexão sobre como o comportamento pode ser aprimorado e gerar vivência emancipada e emancipatória. Seria simples, se simples fosse. Na Antiguidade, a reflexão ética tinha efeitos muito penetrantes na vida cotidiana. A reflexão ética estava arraigada e fortalecida por meio de instituições sociais que fortaleciam os comportamentos humanos e sociais. Dentre essas instituições teve papel muito relevante a religião. Na Antiguidade, por exemplo, durante o Império Romano, no século IV, doutrinas como as de Agostinho, inspiravam comportamentos e circunstanciavam os limites das ações humanas e das coordenações das instituições sociais.
Em sua obra, Cidade de Deus, em seu Livro XIX, ele desenvolve teses sobre a ética, comparando as doutrinas dos acadêmicos, a partir de Márcio Varrão, com as doutrinas bíblicas. Agostinho identifica na constituição humana uma natureza que está dirigida a ser ordenada pela graça de Deus. Varrão foi capaz de notar que o ser humano pode ter um dos seguintes três tipos de vida: dedicar-se aos negócios, aos estudos ou ao ócio. Porém, em qualquer dos três o que busca o ser humano é o supremo bem, para si ou para si e os amigos, o que se chama participação no supremo bem. Então, como ser feliz? Qualquer fosse o modo de vida a busca da felicidade estaria desviada se o supremo bem que se buscasse estivesse errado. Então, em que consistiria a virtude? Ou será a congruência da virtude com os princípios da natureza, ou dos princípios da natureza com a virtude, ou a virtude e os princípios da natureza por si mesmos.
Agostinho investiga como os filósofos acadêmicos, seguidores de Aristóteles, solucionam esta questão. Ele nota que Varrão ao investigar como a filosofia busca o sumo bem, esta o faz buscando não o da planta, ou o do irracional, ou o de Deus, senão o do ser humano. Identifica que o ser humano é corpo e alma, e que a alma é superior ao corpo. Varrão se pergunta sobre qual das duas naturezas seria a humana, o corpo, a alma ou ambas. Conclui que ambas. Por conseguinte, a virtude apenas existe quando os bens do corpo e da alma existem conjuntamente. Uma vida sem saúde e sem sabedoria, não é uma vida feliz. Memória, inteligência e razão, bem como, ligeireza, formosura e força. A virtude torna feliz a pessoa e essa apenas é feliz em sociedade. Isso significa que ao viver em família, na cidade ou no orbe, os seres humanos se tornam felizes por meio da convivência virtuosa. Agostinho se pergunta, ao final, até que ponto tal noção sobre a condução da vida humana é capaz de trazer felicidade.

Na minha sala há duas pinturas. Uma é um tecido pintado pelos masai que ficava a venda num mercado popular em Nairóbi, Quênia. Outro é um souvenir, do Louvre, de uma pintura de Matisse. O primeiro, foi comprado quando estava na edição do Forum Social Mundial, que aconteceu naquela cidade, no ano 2007. O segundo, foi-me oferecido de presente por minha irmã, após ela ter retornado de um passeio turístico que fez à Europa. Esses dois objetos e suas circunstâncias revelam muitas questões que permitem fazer reflexões sobre os desafios ética para a ação educativa na Modernidade.
Tomemos a questão das circunstâncias que permitiram que esses objetos existissem em minha sala. Foram duas, o Forum Social Mundial e o turismo possível para setores intermediários da sociedade brasileira. Desde meados da década de 1970 o mundo passa por transformações sociais, políticas, culturais e econômicas que têm sido caracterizadas por diferentes cientistas sociais por diversas definições. Tomemos aquela que considera haver um processo de Mundialização do Capital. Desde o Manifesto Comunista Marx havia anlisado o Capital como não possuindo pátria. Ele estava, desde o século XIX, presente em todo o mundo, capitaneando as relações de produção, que, desde então, concentravam o capital, a saber, os meios de produção, nas mãos de quem detinha tais meios, e não nas mãos de quem produzia o capital social. Entre o século XIX e o século XXI a oligopolização do mercado mundial se deu pelo processo de formação dos conglomerados transnacionais. Tais conglomerados decidem o que será produzido e consumido, utilizam o mecanismo da obsolescência programada, visam o lucro desmedido. Para tais conglomerados o meio ambiente, incluindo nele as pessoas, são meros recursos para potencializar os lucros. Há uma lógica impessoal, que compreende no lucro a única relação possível, para a qual tudo vale: quer seja a criação de "necessidades"
Justamente em contraposição a esse movimento ganancioso da mundialização do Capital se formou o núcleo do pensamento contrário. Desde o início dos anos 2000, a partir de uma articulação internacional que teve no Brasil seu epicentro, criou-se o movimento alteromundista. Para esse movimento é necessário que se construa uma alternativa à mundialização do capital e seus efeitos nefastos. Pois, a continuar tal modelo o que teríamos? A aceleração da destruição planetária, a julgar pelos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, a sigla em inglês). Porém, não apenas a crise socioambiental se agudiza. Desde o início dos anos de 2000, aprofundada em 2008, a crise econômica, que reúne as ações de controle do preço do petróleo, pelas economias centrais, e a incapacidade de gestão do Estado de Bem-Estar Social do Norte Global, gerou e manteve uma das mais graves crises sociais, com índices de desemprego muito elevados, naqueles países e nos países satélites e periféricos.
Agreguese a esses elementos o acirramento das intolerâncias culturais (incluindo as referentes às identidades de gênero) e religiosas. A Europa vinha num crescendo de xenofobia, quando em 2001 houve o atentado contra os Estados Unidos, o 11 de setembro. A partir de então, o Norte Global fortaleceu o discurso anti-terror.

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