DESCARTES E O MÉTODO CARTESIANO

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DESCARTES E O MÉTODO CARTESIANO

Ananias Epifânio de Oliveira

JOÃO PESSOA 2016

DESCARTES E O MÉTODO CARTESIANO Ananias Epifânio de Oliveira

RESUMO O presente artigo tem como objetivo apresentar um panorama do método científico de Descartes e o que foi conhecido como seu método geométrico, e sua importância para a filosofia. Palavras-chave: Descartes, método, geométrico, filosofia moderna, ciência, árvore filosófica, racionalismo.

ABSTRACT This article aims to present an overview of the scientific method of Descartes and what was known as its geometric method, and its importance to philosophy, philosophical tree, racionalism.

Keywords: Descartes, method, geometric, modern philosophy, science.

INTRODUÇÃO Entender o pensamento cartesiano é importante para entender o pensamento moderno, o próprio René Descartes (1596-1650) é conhecido como o pai da ciência moderna. O século XVII assiste ao ápice do racionalismo, que pode ser definido como a doutrina que atribui à razão humana a capacidade de conhecer e de estabelecer a verdade, não que antes não houvesse filósofos que acreditavam em tal empreitada, há inclusive entre os medievais, mas agora isso é levado às últimas consequências, sem dar a última palavra a Deus, o homem agora pode, ele mesmo aspirar e atingir a verdade. A razão é independente da experiência sensível (empirismo), é inata e igual a todos os homens, ela também é a única autoridade pela qual podemos julgar a veracidade. O momento também foi o das grandes descobertas científicas, pois o valor da ciência moderna, vinculado ao pensamento filosófico momento, não é teorético, especulativo, metafísico, mas empírico e técnico. Tal era também o pensamento do grande fundador da ciência moderna, Galileu Galilei, que afirmava ser o objeto da ciência não as essências metafísicas das coisas, e sim os fenômenos naturais, experimentalmente provados e matematicamente conexos. Não dá para dissociar então, o pensamento filosófico do pensamento científico, e tentaremos entender aqui, a importância de Descartes para o pensamento filosófico moderno e suas contribuições para o pensamento científico. Como veremos, há um otimismo nas faculdades humanas em atingir a verdade, e ver o desenvolvimento das ciências serviu para validar o pensamento dos filósofos da época, e fez com que Descartes adquirisse a importância que tem ainda hoje e se tornasse um dos filósofos mais estudados da história.

DESCARTES E SUA ÉPOCA Renê Descartes nasceu na França, de família nobre. Aos nove anos ficou órfão de mãe e foi enviado para o Colégio Real de la Flèche, em Paris, onde se revelou ser um aluno brilhante. Terminado o estudo secundário, em 1612, se vê contente com seus mestres, mas não consigo mesmo pois não havia descoberto a

Verdade que tanto procurava nos livros, como ele mesmo diz no Discurso sobre o Método: Tendo sido educado nas letras desde a minha meninice e, como me tornassem convencido de que por meio delas podia alcançar um conhecimento claro e certo de tudo quanto é útil à vida, tive extremo desejo de aprendê-las. Assim concluí, entretanto, todo esse curso de estudos ao término do qual se costuma ser tido na classe dos doutos, mudei totalmente de opinião. (...) descobri cada vez mais a minha ignorância. (1975, págs., 16, 17)

Não satisfeito consigo mesmo, decide viajar, e viaja muito. Em 1618, alistase nas tropas holandesas de Maurício de Nassau, onde entra em contato com a física copernicana. Em seguida, alista-se nas tropas do imperador da Baviera e luta na Guerra dos Trinta Anos. Volta a Paris para receber a herança da mãe onde frequenta os meios intelectuais. Dedica-se então ao estudo da filosofia com o objetivo de conciliar a nova ciência com as verdades do Cristianismo. Vai para a Holanda para evitar problemas com a Inquisição onde dedica-se aos estudos da matemática e da física. A partir de 1637 retoma seus estudos de Filosofia. Vai passar uns tempos em Estocolmo a pedido da rainha Cristina, mas não suporta o rigor do inverno e morre em 1650 vítima de pneumonia.

A ÁRVORE FILOSÓFICA Esboçados alguns aspectos de sua vida, percebemos que Descartes foi conectado com os acontecimentos da sua época, mas não foi somente isso, estabeleceu seu próprio método que influenciou todo o pensamento da época e subsequente, ele soube entender sua época e dar sua solução para os problemas intelectuais em voga. Em Princípios da Filosofia vemos esboçado seu projeto filosófico, sigamos seu pensamento: (...) toda Filosofia é como uma árvore de que a Metafísica é a raiz, a Física o tronco, e todas as outras ciências, os ramos que crescem desse tronco, que se reduzem a três principais: a Medicina, a Mecânica e a ética. Pela ciência dos costumes, entendo a mais elevada e perfeita que, pressupondo um conhecimento pleno das outras ciências, é o último grau da sabedoria. (2007, p. 17)

Vemos que, mesmo que sejam estudados Metafísica, Medicina, Física etc., todo esse conhecimento está ligado, como uma árvore, e o fim de todas é a ética. O interessante é que Descartes dá a devida importância ao estudo de todas as ciências como um todo orgânico, como tudo interligado, nenhuma é mais importante do que a outra, mas todas têm seus graus de importância para um determinado fim. Podemos ver, pelas suas palavras, que se trata de um sistema completo. Percebemos também que a Teologia está fora do seu projeto filosófico, o que marca a definitiva separação entre ciência e religião, ou seja, Deus não tem mais a última palavra para dizer o que é a verdade ou não, se usar o método adequado e atingirmos uma verdade infalível e indubitável por meio dele, não há como negar a veracidade. Descartes se lançava, como pudemos ver na sua exposição da árvore, como um pensador preocupado em restabelecer à Filosofia Primeira o seu papel de fundamento da verdade dos procedimentos científicos, como também o de resgatar a indubitabilidade dos fundamentos do conhecimento.

O MÉTODO GEOMÉTRICO Passemos agora à exposição do Método Geométrico, o método que, segundo Descartes, é capaz de o levar a alcançar verdades certas e evidentes. Sigamos algumas ideias contidas no Discurso sobre o Método para expor melhor seu pensamento, principalmente a segunda parte intitulada de Principais Regras do Método. A questão do método é afastar qualquer forma de argumentação diante da possibilidade de apropriação de um determinado objeto, como a de estar diante da possibilidade do erro. O método não é necessariamente utilizado para alcançar novos conhecimentos, é antes necessário para atingir um conhecimento claro e seguro, como ele mesmo diz: “O meu desiderato, contudo, foi somente procurar reformular os meus próprios pensamentos e construir sobre um alicerce todo meu. ” (1975, p. 35)

Ele critica a álgebra e a geometria como método, pois ambas são muito abstratas e de pouca utilidade prática, deve-se buscar o que elas têm de benefício, evitando seus defeitos. A famosa fórmula “Penso, logo existo” é o princípio pelo qual Descartes começa seu método, pois a partir dela, criam-se as regras estudadas abaixo, mas antes, acompanhemos seu pensamento: E, tendo notado que nada há no eu penso, logo existo, que me assegure de que digo a verdade, exceto que vejo muito claramente que, para pensar, é preciso existir, julguei poder tomar por regra geral que as coisas que concebemos mui clara e mui distintamente são todas verdadeiras1

Tendo estudado tanto, como foi exposto acima, Descartes chega a somente quatro regras para seu novo método, com as quais podemos alcançar um conhecimento seguro, e as exporemos em seguida: 1) A REGRA DA EVIDÊNCIA: não aceitar coisa alguma como verdadeira se não tiver conhecimento evidente de sua verdade, evitar cuidadosamente concepções prévias e conclusões precipitadas, e como diz o autor, “incluindo apenas nos meus juízos aquilo que se mostrasse tão claro e distinto a meu espírito que não subsistisse dúvida alguma. ” (1975, p. 40) 2) A REGRA DA ANÁLISE: dividir cada dificuldade examinada em tantas partes quanto seja possível e exigido para resolvê-la melhor. 3) A REGRA DA SÍNTESE: conduzir o pensamento de maneira ordenada, começando pelos objetos mais simples e de mais fácil conhecimento e ir ascendendo aos poucos ao conhecimento mais complexo, supondo certa ordem entre objetos que não tenham uma ordem natural. 4) REGRA DO DESMEMBRAMENTO: fazer sempre enumerações tão completas e revisões tão abrangentes que tenha certeza de não deixar nada de fora. Mas por que usamos o nome de geométrico se o próprio filósofo nega à geometria o estatuto de verdade? O próprio filósofo responde: Essas longas cadeias de razões simples e fáceis, das quais usam os geômetras servir-se para atingir as suas mais difíceis demonstrações deu-me azo a imaginar 1 REALE, Giovani. História da filosofia: do humanismo a Kant: São Paulo: Paulinas, 1990, p. 365.

que todas as coisas que podem ser submetidas ao conhecimento dos homens seguem-se do mesmo modo. (1975, p. 41)

Mais uma vez vemos que Descartes não nega a importância de ciência alguma, como ficou claro no estudo da árvore, ele preserva o que todas as ciências têm em comum, o que ele nega, é o estatuto delas de dizerem o que é a verdade sem seguir um método apropriado, no caso, ele busca preservar os benefícios do raciocínio matemático, em especial, o geométrico. Para Descartes, a intuição é um conhecimento direto e imediato, é ela que nos permite aceitar alguma coisa como verdadeira, é a visão da evidência, e uma ideia evidente é uma ideia clara e distinta, ela se impõe a nós em sua verdade imediata, já que intuir significa apenas “olhar ou contemplar”, vem do latim intueri, é, pois, um olhar intelectual, mental.

CONCLUSÃO Sabemos que em um pequeno trabalho como o presente, é impossível esgotar todo o pensamento de um filósofo tão importante quanto Descartes, mas algumas coisas devem ser ditas a respeito do impacto de tal filósofo. Enumeraremos apenas alguns impactos da sua filosofia e principalmente do seu método. Um dos grandes impactos do cartesianismo consiste na rejeição de toda e qualquer autoridade no processo de conhecimento, distinta apenas da Razão. Ele proclama a independência da filosofia que deve submeter-se apenas à autoridade da Razão. Uma das coisas mais importantes a serem levadas em conta é que devemos julgar por nós mesmos. A partir de Descartes (e de Galileu), as matemáticas passaram a constituir o modelo e a linguagem de todo o conhecimento científico. O conhecimento permite que nos tornemos mestres e possuidores da natureza. Descartes nos oferece uma filosofia e um método eminentemente críticos, vai no fundo da crítica ao valor e ao alcance das nossas faculdades de conhecimento, e para isso propõe um método, que nos diria como guiar nossas faculdades, e tal método serve para solucionar o problema crítico da dúvida.

A importância dada ao cogito é a fonte de todo o idealismo posterior, pois o pensamento é a única realidade que é imediatamente dada ao espírito, todas as outras são deduzidas dele. Para terminar, podemos dizer que o empreendimento de Descartes obteve um sucesso extraordinário, pois quando lemos suas regras, elas parecem tão simples, mas até hoje é o caminho seguido, ou pelo menos parte do caminho seguido por muitos que querem examinar fenômenos científicos, e através de tal método, muito progresso foi feito. O primado da razão e do cogito só foi colocado em xeque muitos anos depois.

BIBLIOGRAFIA DESCARTES, René. Discurso sobre o método: São Paulo: Hemus, 1975. DESCARTES, René. Princípios da filosofia: São Paulo: Rideel, 2007. DESCARTES, René. Os pensadores. 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983. REALE, Giovani. História da filosofia: do humanismo a Kant: São Paulo: Paulinas, 1990. REZENDE, Antonio. Curso de Filosofia: Rio de Janeiro: Zahar, 2005. SKIRRY, Justin. Compreender Descartes: Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. http://www.revistatheos.com.br/Artigos%20Anteriores/Artigo_03_01.pdf

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