Descoloração do pêlo como método de marcar morcegos para observações comportamentais

May 30, 2017 | Autor: Carlos Esberard | Categoria: Bats (Mammalogy), Methods, Identification
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Chiroptera Neotropical 13 (2), December 2007

Descoloração do pêlo como método de marcar morcegos para observações comportamentais Roberta M. Silva1*, Gabriela Peixoto1, Débora França1, Elizabete C. Lourenço1, Luciana M. Costa1 e Carlos Eduardo L. Esbérard1

1. Laboratório de Diversidade de Morcegos, Instituto de Biologia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Caixa Postal 74507, 23890-000, Seropédica, Rio de Janeiro, Brasil * Corresponding author. Email: [email protected]

Resumo Para obter dados individualizados a respeito de morcegos é importante a marcação dos indivíduos a serem analisados. Descreve-se um novo método para a identificação individual de exemplares de morcegos para observações comportamentais, usando descolorante capilar. Em morcegos da espécie Phyllostomus hastatus, foram empregados moldes plásticos semi-rígidos sobre os quais o descolorante foi aplicado na região dorsal, resultando em figuras facilmente identificáveis à distância. Os animais podem ser identificados facilmente com o uso de lanternas de cabeça com luz vermelha a uma distância de até quatro metros. Este método apresenta várias vantagens, incluindo baixo custo e menos desconforto para os animais. Palavras-chave: identificação, métodos, refúgio. Abstract Fur bleaching as a method to marking bats for behavioral observations. In order to obtain individualized data in bats is important to improve marking of the individuals to be analyzed. A new method is described to identify individuals for behavioral observations, using fur bleaching. In Phyllostomus hastatus bats were used semi-rigid plastic molds on which the bleach was applied in the dorsal area, resulting in illustrations easily identifiable at distance. The animals could be easily recognized with the use of flashlights equipped with red lights four meters far from the observer. This method presents several advantages, including low cost and minor discomfort to animals. Keywords: identification, methods, roost. Para permitir a individualização das observações comportamentais de um grupo de Phyllostomus hastatus foi idealizado um método de marcação usando descolorante capilar.

Introdução Como parte de um projeto que pretende elaborar um etograma de um grupo de morcegos da espécie Phyllostomus hastatus (Pallas, 1767) iniciamos as observações junto a um poleiro de alimentação situado em vão de escada, em um prédio situado no campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, Estado do Rio de Janeiro (22° 44’ 22,8”S 043° 42’ 16,2”W). Durante 12 horas de observações realizadas antes das marcações, o movimento de entrada e saída dos animais não permitiu a quantificação dos exemplares que usaram o poleiro a cada noite. E apesar de numerosas observações serem possíveis por um pesquisador sentado a cerca de 4m de distância, algumas interações não puderam ser entendidas sem o conhecimento da idade e sexo dos exemplares envolvidos. Para obter dados individualizados é importante a marcação dos indivíduos a serem analisados e o método usual em morcegos é o uso de anilhas plásticas coloridas (e.g. Muñoz-Romo 2006). No entanto, em locais com baixa luminosidade e em espécies que se aglomeram, estas anilhas nem sempre são visíveis.

Material e Métodos Os animais foram capturados com redes de neblina ao pousarem ou ao se aproximarem do poleiro de alimentação. Após serem medidos e pesados, receberam coleiras com cilindros coloridos (Esbérard e Daemon 1999) e as marcas com descolorante no pêlo. Foi usado descolorante (marca Cor e Tom®) misturado em água oxigenada 40 volumes na proporção de 1:1. A mistura foi aplicada sobre o pêlo por 10 minutos e depois removida com água. Para facilitar a visualização empregamos moldes de plástico semi-rígido para resultar em figuras facilmente identificáveis à distância (X, T, O, I, S, por exemplo, veja Figura 1), sendo o produto espalhado com auxílio de pincel. A mistura foi preparada imediatamente antes do uso e descartado o excesso não utilizado uma hora após. Optamos por fazer a marcação na região dorsal e na cabeça dos indivíduos, visto que estas áreas

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Figura 1: Indivíduos identificados individualmente com o uso de descolorante capilar. ficam visíveis a maior parte do tempo nas condições analisadas. A época para a marcação foi escolhida por já terem os indivíduos trocado o pelo na região dorsal, que acontece gradual e estacionalmente (Hill e Smith 1988), geralmente no início da primavera, antes do nascimento dos filhotes na espécie estudada (Carlos Eduardo L. Esbérard, dados não publicados). As observações comportamentais foram realizadas com lanterna de cabeça usando luz vermelha por um único observador situado a cerca de quatro metros de distância do local onde os morcegos permaneciam pousados.

após a marcação, sugerindo que o método apresenta pouco efeito na biologia dos animais. Os exemplares marcados foram facilmente distinguidos dos demais indivíduos usando lanternas com luz vermelha. Este procedimento não resulta em marcação permanente, sendo esperada duração de pelo menos seis semanas segundo as indicações do fabricante do produto, que esperamos ser suficiente para a realização das observações. Discussão Este método mostrou-se adequado pelo baixo custo e insignificante incômodo nos animais, sendo preferível ao uso de furos nas orelhas e brincos metálicos, por apresentar menor desconforto (Barclay e Bell 1988), ao corte de pêlo (Kalka e Kalko 2006) pela melhor visibilidade, ao uso de anilhas plásticas coloridas (Muñoz-Romo 2006) que precisam ser importadas ou ao uso de leds, que duram pouco mais de 24 h (Wilkinson e Boughman 1998). Morcegos capturados em seus refúgios tendem a abandonar o local (e.g. Barclay e Bell 1988) e mostra-se recomendável realizar procedimentos que levem a stress longe dos locais de estudo. No entanto, os animais marcados neste experimento usaram o local imediatamente após o

Resultados Apesar do uso recente, alguns aspectos já se mostram positivos. Em noite anterior à marcação, foi estimado um total de nove indivíduos, que permaneciam pendurados a cerca de seis metros de altura em contato lateral e menos freqüentemente dorso-ventral com o vão da escada. No total, 16 indivíduos foram marcados por este método, permitindo constatar que mais animais usavam esta estrutura do que o estimado anteriormente. Os animais foram soltos imediatamente após a marcação e, pelo menos três destes, foram observados por uma a oito horas

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procedimento de triagem e marcação, demonstrando pouco desconforto. Agradecimentos Agradecemos aos professores do Departamento de Botânica do Instituto de Biologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro o apoio para a realização deste trabalho. As coletas foram realizadas sob a licença permanente para coleta concedida a C.E.L. Esbérard (número 10356-1, emitida em 06/09/2007). Referências Barclay R.M.R. e Bell G.P. 1988. Marking and observational techniques. Em: Ecological and behavioral methods for the study of bats (edited by Kunz T.H.), pp. 59-76. Smithsonian Institution Press, Washington. Esbérard C.E.L. e Daemon C. 1999. Novo método para marcação de morcegos. Chiroptera Neotropical 5: 116-117. Hill J.E. e Smith J.D. 1988. Bats: a natural history. British Museum, London. Kalka M. e Kalko E.K.V. 2006. Gleaning bats as underestimated predators of herbivorous insects: diet of Micronycteris microtis (Phyllostomidae) in Panama. Journal of Tropical Ecology 22: 110. Muñoz-Romo M. 2006. Ethogram and diurnal activities of a colony of Artibeus lituratus (Phyllostomidae: Stenodermatinae). Acta Chiropterologica 8: 231-238. Wilkinson G.S. e Boughman J.W. 1998. Social calls coordinate foraging in greater spear-nosed bats. Animal Behavior 55: 337-350.

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