Desempenho da compartimentacao horizontal seletiva

June 1, 2017 | Autor: Leonardo Cunha | Categoria: Fire safety
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Estudo do desempenho da compartimentação horizontal seletiva em ambientes universitários, por meio da simulação computacional. CUNHA, Leonardo Jorge Brasil de Freitas¹, PINTO, Edna Moura²,

Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo/ Universidade Federal do Rio Grande do Norte – PPGAU/UFRN. 1: [email protected]; 2: [email protected]

RESUMO O artigo apresenta resultados da pesquisa em desenvolvimento, que aborda o desempenho da compartimentação horizontal seletiva na promoção da Segurança Contra Incêndio em Edificações – SCIE. A compartimentação horizontal é uma medida de proteção passiva de total controle por parte do arquiteto, definida logo nas primeiras fases do processo projetual. Por outro lado, a experiência mostra que no meio acadêmico ocorre, com alguma frequência, a reconfiguração dos ambientes ao longo da vida útil da edificação, objetivando ajustá-la à nova demanda por espaços. Assim, um determinado ambiente inicialmente concebido como uma ampla sala de aula pode se transformar em duas ou mais salas menores, por exemplo. Independentemente do momento em que ocorre a subdivisão dos ambientes, seja na fase de projeto ou ao longo da ocupação da edificação, as normas só consideram o ambiente compartimentado quando são empregados os elementos classificados como corta-fogo. Entretanto, considerando que os minutos iniciais de um incêndio são os mais importantes na evacuação e salvamento dos ocupantes, defende-se a hipótese de que elementos ignorados pelas prescrições normativas podem apresentar desempenho significativo de SCIE, por favorecer a salvaguarda à vida dos ocupante. Utilizouse a simulação computacional para testar, a partir de um modelo representativo de um ambiente acadêmico, o desempenho de uma forma de compartimentação seletiva. Os resultados, ainda que parciais, demonstram que a compartimentação seletiva é capaz de quadruplicar o tempo de escape. Palavras chave: SCIE; Compartimentação; Desempenho; Simulação computacional.

ABSTRACT The article presents research results in development about the performance of the selective horizontal compartimentation to promote Fire Safety of Buildings - FSB. The horizontal compartimentation is a passive protective resolution, usually defined in the early steps of the design process by the architect. The layout of university rooms is regularly renewed during the building life, according to the space demand. Thus, a large classroom may become, for example, on two or more smaller classrooms. Independently when the environments subdivision occurs, either on design process or during the using, the Brazilian standards rule just assigns the compartimentation when fireguard partitions are applied. Because the early minutes of a fire are the most important at building evacuation and occupants rescue, it defends the hypothesis that partitions disregarded by the standards rules are able to a FSB meaningful performance by favoring safeguarding human life. Computer simulation was used to test the performance of selective compartimentation. The results indicate that selective partitioning is able to increase at 4 times the evacuation time. Keywords: FSB, Compartimentation, Performance, Computational simulation.

Estudo do desempenho da compartimentação horizontal seletiva em ambientes universitários, por meio da simulação computacional.

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1. INTRODUÇÃO O incêndio é um dos mais graves incidentes que pode ocorrer em uma edificação, uma vez que além dos danos materiais, também está fortemente associado à perda de vidas humanas (ROSA, 2010). A segurança contra incêndio em edificações [SCIE] é uma área de estudo relativamente nova no Brasil. Dentre os trabalhos desenvolvidos na área de SCIE, uma fração significativa concentra-se em avaliar as alterações nas propriedades físico-químicas dos materiais estruturais submetidos a temperaturas elevadas. No âmbito da arquitetura, a SCIE pode ser associada ao conjunto de soluções projetuais voltadas para a proteção dos ocupantes. Uma medida de proteção passiva determinante na SCIE, e de total controle por parte do arquiteto, é a compartimentação da edificação em “células” capazes de confinar a ação do incêndio no ambiente de origem. Essa medida contribui tanto para a evacuação segura dos ocupantes do restante da edificação, quanto nas operações de combate ao fogo. A avaliação típica da compartimentação é feita por meio da verificação das dimensões dos elementos classificados como ‘corta-fogo’. A certificação segue uma distinção binária, do tipo: ‘existe’ ou ‘não existe’, bastando a ausência de um único elemento para a edificação ser classificada como não compartimentada. Desse modo, pouca atenção é dada ao desempenho dos elementos não previstos nas normas, contrariando a tendência mundial em seguir recomendações com base no desempenho (ONO, 2011). O alto custo dos equipamentos e das instalações necessárias para o teste de edificações em escala real torna esse tipo de pesquisa escassa no mundo e praticamente inexistente no Brasil. A simulação computacional encaixa-se adequadamente em tal propósito, pois permite a análise de múltiplas alternativas, sem os riscos e os custos inerentes aos ensaios com modelos reais. Acredita-se que ferramentas de simulação computacional, adequadamente ajustadas e com boa precisão, favoreçam a criação, a revisão e o aperfeiçoamento das normas técnicas de SCIE. Todavia, a validade dos resultados obtidos com a utilização dessas ferramentas ainda é questionável. Existem dúvidas em relação ao desempenho dos softwares e incertezas quanto a sua capacidade de reproduzir um incêndio real (RUSCHEL, 2011).

2. OBJETIVO Partindo da hipótese de que ambientes parcialmente compartimentados apresentam condições mais favoráveis à segurança dos usuários em relação ao pavimento livre, o objetivo do presente artigo é avaliar, por meio da simulação computacional, o desempenho de uma forma de compartimentação horizontal aplicada sobre um modelo representativo de sala de aula. O foco desse trabalho são os instantes iniciais de um incêndio, onde a possibilidade de êxito na salvaguarda à vida dos ocupantes é maior.

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3. CONTEXTUALIZAÇÃO Segundo Silva (2001), pesquisas europeias mostram que o risco de morte em incêndio é trinta vezes menor do que no sistema de transporte e os óbitos ocorrem, principalmente, por asfixia nos primeiros minutos do sinistro. Tendo em vista que a eliminação total do risco de ocorrência de um incêndio é uma situação utópica, a SCIE objetiva estabelecer medidas, articuladas entre si, para diminuir a probabilidade de ocorrência do incêndio e minimizar as consequências decorrentes. O projeto de arquitetura quando bem elaborado representa um importante papel na promoção da proteção passiva em uma edificação. (ALVES; CAMPOS e BRAGA, 2008). A SCIE em arquitetura deve ser considerada, principalmente, nas fases iniciais de elaboração do projeto, quando os problemas podem ser resolvidos com menor custo. O arquiteto pode priorizar as soluções de proteção passiva de baixo custo, reduzindo significativamente a dependência de instalação dos sistemas ativos. Segundo Ono (2011), as medidas passivas tem papel importante na garantia da segurança contra incêndio das edificações e a efetividade destas medidas sofre grande influência das decisões arquitetônicas, principalmente àquelas que envolvem elementos intrínsecos ao projeto. O desempenho pode ser entendido como o comportamento adequado dos elementos durante todo o ciclo de vida, atendendo às necessidades dos usuários. O interesse no desempenho dos elementos de SCIE estimula a possibilidade de propor soluções alternativas àquelas determinadas pelas regulamentações e normas vigentes, quando cabível. Nesses casos, as soluções devem ser estudadas tanto do ponto de vista técnico como econômico, pois elas podem ter como consequência a elevação de custos de outras medidas (AsBEA, 2012). 3.1 Compartimentação A compartimentação é uma medida de proteção passiva determinante na segurança contra incêndio e consiste em dividir a edificação em células resistentes à propagação do fogo. O confinamento do incêndio restringe a livre movimentação da fumaça e dos gases no interior da edificação, facilitando o abandono seguro dos ocupantes e contribuindo nas operações de combate ao fogo. Diferentemente do controle da carga de incêndio, a compartimentação é uma medida de grande controle por parte do arquiteto. A ABNT NBR 14432:2001 apresenta uma definição qualitativa de compartimentação, consoante com as regulamentações internacionais, porém sem atribuir dimensões aos elementos. A Instrução Técnica nº 09 - IT 09 (CBPMESP, 2011) supre parte dessa lacuna deixada pela Norma Brasileira, trazendo dimensões mínimas para os elementos de compartimentação externa. 3.2 Simulação Computacional de incêndio A simulação computacional de incêndio é uma vertente da Dinâmica Computacional de Fluidos [CFD, na sigla em inglês], caracterizada por um fluxo fortemente induzido pela elevada diferença de temperatura. O surgimento dos programas de CFD é atribuído à indústria aeroespacial nas décadas de 1960 e 1970. Atualmente são utilizados em diversas áreas, como

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na indústria automobilística, naval, de manufaturados; astrofísica, meteorologia, oceanografia, etc. A engenharia e arquitetura são campos mais recentes de aplicação dessas ferramentas. A simulação computacional pode ser vista como um complemento aos ensaios experimentais, permitindo o estudo parametrizado a partir dos dados obtidos em um evento pregresso. Dentre os softwares de simulação de incêndio, um dos mais referenciados na literatura devido à sua precisão é o Fire Dynamics Simulator [FDS], desenvolvido pelo National Institute of Standards and Technology [NIST]. Desde o seu desenvolvimento, em 2000, o FDS vem sendo utilizado na resolução dos problemas de engenharia de proteção ao fogo.

4. OBJETO DE ESTUDO A edificação escolhida como objeto de estudo corresponde à sala de aula do projeto-padrão do ‘Bloco de Salas de Aula de dois pavimentos’ desenvolvido pela Superintendência de Infraestrutura da Universidade Federal Rural do Semiárido [SIN/ UFERSA]. Trata-se de uma edificação com aproximadamente 667,00m² no pavimento térreo e 725,00m² no pavimento superior, cuja diferença de área corresponde à projeção de 1,0m do pavimento superior sobre o inferior (Figura 1 e Figura 2). A edificação é modulada e comporta cinco grandes salas em cada pavimento, com 72,00m² no pavimento térreo e 82,00m² no pavimento superior. O sexto módulo, em ambos os pavimentos é destinado ao hall de acesso, circulação vertical e salas de uso múltiplo. Repete-se, também, nos dois pavimentos: a bateria de banheiros, os fossos de serviço e o corredor longitudinal central, medindo 2,0m de largura e 38,0m de comprimento.

Figura 1 – Planta Baixa: pavimento térreo – Bloco de salas de aula de 2 pavimentos

CUNHA, L.J.B.F.; PINTO, E.M.

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Figura 2 – Planta Baixa: pavimento superior – Bloco de salas de aula de 2 pavimentos. Destaque para o ambiente a ser analisado. Fonte: Acervo SIN/UFERSA

O hall permite o acesso, em ambos os pavimentos, aos elementos de circulação vertical e horizontal, e às salas de uso múltiplo. No pavimento térreo, o hall contempla o acesso principal e o corredor dispõe de duas saídas, uma em cada extremidade. A circulação vertical fica a cargo de dois elementos: uma escada em “U” não enclausurada e a plataforma de acessibilidade. 4.1 Modelo Dada a inviabilidade em simular a edificação completa, a exemplo da pesquisa conduzida por Ruschel (2011), optou-se por simular isoladamente a sala de maior porte, localizada no pavimento superior da edificação. A escolha deste ambiente deve-se à possibilidade de múltiplos leiautes por meio de divisórias. Com base nas dimensões do projeto arquitetônico, afere-se que o modelo corresponde a um prisma de base retangular, medindo 7,10 x 11,90 x 3,80m [largura x cumprimento x altura]. A sala dispõe de duas portas, dispostas nas extremidades da parede voltada para o corredor central, medido: 0,90 x 2,10m [largura x altura] com bandeirola de vidro fixo com altura de 0,40m. As quatro janelas na parede oposta são voltadas ara o meio externo e medem 2,50 x 1,00 x 1,10m [largura x altura x peitoril]. O forro é de placas termoacústicas removíveis, apoiadas sobre armação de alumínio. As paredes de contorno são de alvenaria convencional, com tijolos cerâmicos de oito furos, rebocadas e pintadas em ambas as faces. Piso e cobertura são de laje de concreto, tipo volterrana. (Figura 3).

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Figura 3 – Representação do caso-base

4.2 Variações do caso-base A partir do caso-base [CB], foram considerados cinco casos hipotéticos de subdivisão do ambiente original. O primeiro caso [DIV] representa a situação mais comum, na qual o ambiente é subdividido em duas por meio de uma divisória simples, posicionada transversalmente no centro da sala. Esses dois casos servirão como referência comparativa de desempenho para os casos que representam propostas de compartimentação horizontal seletiva. O objetivo é promover a exaustão da fumaça, porém confinando chamas e calor no ambiente de origem do incêndio. A compartimentação horizontal seletiva resulta da disposição de duas divisórias paralelas, com aberturas posicionadas próximas ao forro, voltadas alternadamente para as salas oriundas da subdivisão do ambiente original (Figura 4 e Figura 5). O vão entre as divisórias paralelas é dividido ao meio, para evitar que a fumaça gerada na sala incendiada invada a sala oposta. Por fim, foram concebidas aberturas nas lajes para a condução da fumaça para o meio externo.

Figura 4 – Compartimentação seletiva: vista superior.

Figura 5 – Compartimentação seletiva: secção frontal.

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Os quatro casos de compartimentação seletiva correspondem a variações na altura da abertura da divisória e na largura da abertura da laje. Em todos os casos, foram simuladas duas situações, considerando as esquadrias do ambiente incendiado fechadas ou abertas. O resumo dos casos simulados está descrito na Tabela 1. Tabela 1 – Resumo dos modelos simulados.

Caso

Descrição

CB

Corresponde ao Caso-base, descrito no tópico anterior: sala com dimensões internas de 11,90 x 7,10m, livre de subdivisões internas.

CB_open

Idem ao CB, porém com portas e janelas abertas.

Representação

Figura 6 – Representação do caso ‘CB’.

DIV

Caso-base com uma divisória transversal central

DIV_open

Idem ao DIV, com a porta e as janelas abertas. Figura 7 – Representação do caso ‘DIV’.

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DIV50-50

Caso-base com divisória seletiva, altura da abertura na divisória e largura da abertura na laje = 50 cm.

DIV5050_open

Idem DIV50-50, com a porta e as janelas abertas. Figura 8 – Representação do caso ‘DIV50-50’.

DIV50-100

Caso-base com divisória seletiva, altura da abertura na divisória = 50 cm; largura da abertura na laje = 100 cm.

DIV50100_open

Idem DIV50-100, com a porta e as janelas abertas. Figura 9 – Representação do caso ‘DIV50-100’.

DIV100-50

Caso-base com divisória seletiva, altura da abertura na divisória = 100 cm; largura da abertura na laje = 50 cm.

DIV10050_open

Idem DIV100-50, com a porta e as janelas abertas. Figura 10 – Representação do caso ‘DIV100-50’.

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DIV100-100

Caso-base com divisória seletiva, altura da abertura na divisória = 100 cm; largura da abertura na laje = 100 cm.

DIV100100_open

Idem DIV100-100, com a porta e as janelas abertas. Figura 11 – Representação do caso ‘DIV100-100’.

4.3 Definição de malha e condições de contorno A definição de malha está relacionada com a dimensão dos objetos contidos no domínio e impacta diretamente no tempo de processamento. No caso específico do FDS, Overholt (2007) desenvolveu e disponibilizou em sua página pessoal na internet uma ferramenta online para calcular as dimensões da malha. A seleção das condições de contorno é um ponto crítico na simulação de incêndio, tendo em vista o grande número de variáveis envolvidas na caraterização do fenômeno físico-químico da combustão. Oportunamente, o FDS permite que seja inserida uma fonte constante de chamas e calor, sem especificar o material combustível da reação. Assim, as simulações foram dimensionadas para representar os primeiros 60 segundos iniciais de um incêndio hipotético, no qual a superfície superior da mesa do professor emana chamas e calor à taxa constante de 500 kW. Essa potência corresponde a um valor intermediário entre as taxas adotados por Fakury; Caldas e Branco (2011) e Alves (2011). Para compensar a ausência da combustão generalizada, que em um incêndio real caracteriza a ignição de todos os materiais combustíveis presentes no ambiente, majorou-se a fração do composto transformada em fumaça para 50%. Com base na bibliografia consultada na pesquisa em desenvolvimento, da qual este artigo se origina, chegou-se às condições de contorno descritas na Tabela 2. Tabela 2 – Configuração inicial das simulações.

Dimensões do domínio [eixos x;y;z] (m)

Células no domínio

Taxa de liberação de calor (kW)

12,2; 15,0; 7,0

259.200

500

Composto gerador de fumaça. Poliuretano padrão do FDS.

Fração do composto transformada em fumaça

Tempo (s)

0,50 (50%)

60,0

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5. RESULTADOS E DISCUSSÕES Ciente da provável imprecisão contida nos valores absolutos obtidos nas simulações, as análises a seguir serão baseadas, principalmente, na comparação dos resultados, tomando os casos ‘CB’ e ‘DIV’ como referência. Nas simulações em que as portas e janelas estão fechadas, o critério de comparação é tempo necessário para a camada de fumaça ocupar todo o volume da sala incendiada. Nos casos em que as esquadrias foram simuladas abertas, o critério de comparação é a altura estimada da camada livre de fumaça. A primeira comparação corresponde aos efeitos resultantes da instalação de uma divisória simples, particionando o ambiente original em duas salas menores. Como era de se esperar, reduzindo-se pela metade o volume da sala, o tempo para a camada de fumaça atingir o nível do solo foi igualmente reduzido à metade (Figura 12 e Figura 13).

Figura 12 – Caso ‘CB’: Fumaça ocupa todo o ambiente aos 30s.

Figura 13 – Caso ‘DIV’: Fumaça ocupa todo o ambiente aos 14s.

Em todos os casos que dispunham de compartimentação seletiva, o tempo necessário para a fumaça alcançar a abertura de exaustão da divisória foi inferior a 5 segundos (Figura 14 e Figura 15), lembrando que as chamas foram posicionadas na extremidade oposta à abertura da divisória.

Figura 14 – Caso ‘DIV50-50’: Início da atuação da compartimentação seletiva na exaustão da fumaça aos 5s.

Figura 15 – Caso ‘DIV100-100’: Início da atuação da compartimentação seletiva na exaustão da fumaça aos 5s.

A divisória simples também reduziu significativamente a altura da camada livre de fumaça próxima ao piso nas simulações com portas e janelas abertas (Figura 16 e Figura 17).

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Figura 16 – Caso ‘CB_open’: altura da camada de fumaça estabilizada aos 30s.

Figura 17 – Caso ‘DIV_open’: altura da camada de fumaça estabilizada aos 60s.

Os resultados mostraram que a compartimentação seletiva, da forma como foi proposta, não foi capaz de promover sozinha a exaustão completa da fumaça gerada, pois em todos os casos nos quais as portas e janelas estavam fechadas, a camada de fumaça conseguiu atingir o nível do piso. (Figura 18 e Figura 19).

Figura 18 – Caso ‘DIV’ completamente tomado pela fumaça aos 14s.

Figura 19 – Caso ‘DIV100-100’ tomado pela fumaça aos 60s.

A Tabela 3 apresenta o resumo dos resultados obtidos dos casos simulados com as esquadrias fechadas. O resultado do caso CB foi acrescido à tabela apenas como uma informação adicional, uma vez que o objetivo da pesquisa é avaliar os benefícios trazidos pela compartimentação seletiva diante da solução tradicional de subdivisão de uma sala de aula, representada pelo caso DIV. Verifica-se o substancial acréscimo de tempo, proporcionado pela compartimentação seletiva, para a camada de fumaça ocupar todo o ambiente. Em valores relativos (Figura 20), o tempo mais do que quadriplica ao comparar o melhor caso, DIV100-100, com a forma trivial de subdivisão, representada pelo caso DIV.

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Tabela 3 – Resumo dos casos com janelas fechadas.

CB

Tempo para a fumaça ocupar todo o ambiente (s) 30

DIV

14

-

DIV50-50 DIV50-100 DIV100-50

52 55 58

271% 293% 314%

DIV100-100

60

329%

Caso

Incremento¹ -

(¹) Adotando o caso DIV como referência.

Figura 20 - Gráfico do incremento no tempo necessário para a camada de fumaça ocupar todo o ambiente.

A Tabela 4, resume os resultados das simulações com as esquadrias abertas. A altura da camada livre de fumaça mais do que dobra de tamanho, mesmo no caso 50-50_open que apresenta as menores dimensões de vão de exaustão. A compartimentação seletiva foi capaz de proporcionar uma altura de camada livre superior ao modelo com divisória simples Contudo, percebe-se uma tendência à estabilização dos resultados, uma vez que aumentos expressivos nas dimensões dos vão de exaustão, tanto na divisória quanto na laje, provocaram acréscimos modestos na altura da camada livre de fumaça (Figura 21). Tabela 4 – Resumo dos casos com janelas abertas.

Caso CB_open DIV_open DIV5050_open DIV50100_open DIV10050_open DIV100100_open

Altura da camada livre após 6o segundos (m)

Incremento²

1,20 0,60

-

1,30

117%

1,30

117%

1,40

133%

1,50

150%

Figura 21 - Gráfico do incremento na altura da camada livre de fumaça.

(²) Adotando o caso DIV_open como referência.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Uma das vantagens da compartimentação seletiva proposta é a possibilidade de instalação na fase de ocupação, onde as possibilidades de atingir a compartimentação normatizada são onerosas ou inexequíveis. Todavia, é notável a natural perda de área útil, em função da largura do vão criado entre as duas divisórias. Dependendo das dimensões do ambiente a ser fracionado ou da escassez de área diante do uso previsto, a compartimentação seletiva pode se revelar uma solução inadequada ou até mesmo inviável. 6.1 Quanto aos resultados Os resultados mostraram que a compartimentação seletiva proposta foi capaz de quadruplicar o tempo necessário para a camada de fumaça ocupar todo o ambiente incendiado. O caso dotado de aberturas maiores para exaustão, tanto na divisória quanto na laje, apresentou um benefício ainda maior para os ocupantes em uma situação de incêndio, pois resultaram em maior altura da camada livre de fumaça. Sobre estes resultados, é válido lembrar que a ‘Fração do composto transformada em fumaça’ foi majorada para 50%, enquanto que a literatura aponta para valores bem abaixo disso. Contudo, os resultados são específicos dos modelos simulados e das condições de contorno adotadas. A extrapolação dos resultados para demais casos pode gerar conclusões equivocadas. As simulações foram realizadas ignorando-se os instantes pré-flashover do incêndio, dada a incapacidade do software em reproduzir as fases de ignição e aquecimento sem a minuciosa descrição dessas fases pelo operador. Logo, acredita-se que o tempo real para a fumaça ocupar completamente o compartimento incendiado seja maior do que os intervalos obtidos nas simulações. A representatividade dos resultados carece, portanto, da validação por meio de ensaios experimentais. Por fim, a compartimentação horizontal seletiva, conforme apresentada, induz a uma quebra da compartimentação vertical, tendo em vista a necessidade de disposição de aberturas na laje de cobertura para a exaustão da fumaça. Em ambiente com elevada carga de incêndio, capazes de proporcionar sinistros de grande intensidade, essa solução pode ser desinteressante, dada a primazia da compartimentação vertical perante a horizontal na promoção da SCIE. 6.2 Quanto ao software utilizado A utilização de softwares de CFD, e especialmente do FDS, na arquitetura ainda esbarra no elevado grau de conhecimento teórico exigido para a correta descrição no fenômeno físico envolvido. O tempo de processamento e a amigabilidade operacional são fatores determinantes na utilização voluntária de qualquer software, principalmente nas fases iniciais do processo de desenvolvimento de um projeto, quando existem várias alternativas formais possíveis. Em ambos os aspectos, o FSD mostra-se incipiente. Pesa contra ele a ausência de uma interface gráfica para a entrada de dados, coerente com a prática projetual em arquitetura. O longo tempo de processamento é outro ponto a ser melhorado na concepção do software. A inserção de dados por meio de arquivo de texto praticamente inviabiliza a comparação, em

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tempo real, de alterações no modelo original, pois qualquer intervenção implica no retorno ao início do processo de redigir, linha por linha, as alterações pretendidas. A entrada de dados por meio de arquivo de texto torna a modelagem trabalhosa e morosa, principalmente quando há a intenção de aperfeiçoar a representação dos objetos. A simulação de um processo pleno de combustão, no qual o fogo consome os objetos presentes no modelo e interage com as condicionantes ambientais, exige a rigorosa descrição de todas as propriedades físicas envolvidas. Neste sentido, é possível afirmar que quanto mais a simulação tenta aproximar-se da realidade, mais ela se afasta da prática projetual arquitetônica, uma vez que os conhecimentos exigidos para uma modelagem fidedigna fogem do escopo de conhecimento do arquiteto típico. Os trabalhos publicados com o uso do FDS geralmente buscam reproduzir incêndios reais ou ensaiados em laboratório, o que permite a adequada calibração do modelo comparando-se os resultados da simulação com os dados obtidos no evento de referência. No presente trabalho, a ausência do incêndio pregresso expôs a dificuldade de simular sinistros hipotéticos, tendo em vista a grande quantidade de parâmetros exigidos para a correta definição da chama e dos subprodutos. A ausência de templates pré-configurados incumbe ao operador a responsabilidade de atribuir valores, de difícil obtenção até mesmo na literatura especializada, às diversas variáveis físico-químicas da combustão. Conclui-se que a simulação computacional de incêndio ainda está fortemente vinculada à reconstituição de incêndios pregressos ou à pesquisa acadêmica. 6.3 Desdobramentos Apesar do estágio em que a pesquisa se encontra, é possível identificar pontos a serem aperfeiçoados em prol de uma melhor integração da simulação de incêndio ao processo projetual arquitetônico. Acredita-se que trabalhos futuros poderiam se concentrar em duas vertentes principais: o aperfeiçoamento dos métodos de integração da simulação ao projeto e a avaliação do desempenho de elementos arquitetônicos. A mitigação dos obstáculos meramente operacionais, fortemente ligados à etapa de entrada de dados, libertaria o projetista para concentrar-se na análise dos resultados. Por fim, é válido destacar que o presente trabalho apresenta os resultados parciais de uma pesquisa pioneira com o uso de simulação de incêndio dentro da Base de Pesquisa LabSec/ PPGAU/ UFRN. Apesar das inevitáveis falhas, espera-se que o presente trabalho contribua na consolidação do tema SCIE diante da Área de Concentração ‘Projeto, Morfologia e Conforto no Ambiente Construído’, do PPGAU/ UFRN.

7. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Alessandra B. C. G.; CAMPOS, André T. ; BRAGA, George C. B. Simulação Computacional de Incêndio Aplicada ao Projeto de Arquitetura. In: NUTAU (Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo) 2008 ESPAÇO SUSTENTÁVEL – INOVAÇÕES EM EDIFÍCIOS E CIDADES. Disponível em: http://www.usp.br/nutau/CD/71%20196.pdf.

CUNHA, L.J.B.F.; PINTO, E.M.

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR14432: Exigências de resistência ao fogo de elementos construtivos de edificações - Procedimentos: Rio de Janeiro, 2001. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS ESCRITÓRIOS DE ARQUITETURA – AsBEA. Guia sustentabilidade na arquitetura: diretrizes de escopo para projetistas e contratantes. Grupo de Trabalho de Sustentabilidade AsBEA .São Paulo : Prata Design, 2012. ISBN 97885-63604-03-3. CORPO DE BOMBEIROS DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO CBPMESP. Instrução Técnica nº 09/2011: Compartimentação horizontal e compartimentação vertical. Secretaria de estado dos negócios da Segurança Pública. Corpo de bombeiros. São Paulo, 2011. FAKURY, Ricardo H.; Rodrigo B. CALDAS e Alípio P. C. BRANCO. Estudo de caso: Análise da estrutura metálica de readequação do cine Brasil em Belo Horizonte em situação de incêndio. In: Anais: I Congresso Ibero-latino Americano sobre Segurança contra Incêndio, de 10 à 12 de março de 2011, Natal, RN, Brasil/ ALBRASCI, UFRN – Natal, RN: Impressão Gráfica, 2011. Vol 1, p. 93-102. ISBN 978.989-97210-0-5. NATIONAL INSTITUTE OF STANDARDS AND TECHNOLOGY – NIST. Fire Dynamics Simulator - FDS, versão 6.1.2, 2014. Disponível em: < https://code.google.com/p/fds-smv/>. NATIONAL INSTITUTE OF STANDARDS AND TECHNOLOGY – NIST. Smokeview, versão 6.1.12, 2014. Disponível em: . ONO, Rosaria. Aspectos do projeto arquitetônico relevantes para a segurança contra incêndio. Material didático referente ao Mini-curso apresentado no 1º Congresso IberoLatino-Americano em Segurança Contra Incêndio – CILASCI, Natal/RN. 2011. OVERHOLT, K.. Fire Dynamics Simulator Mesh Size Calculator. 2007. Disponível em: < http://www.koverholt.com/fds-mesh-size-calc/>. ROSA, Ari de Freitas Ferreira Neiva. Segurança contra incêndio em discotecas. Dissertação (Mestrado Integrado em Engenharia Civil) – Departamento de Engenharia Civil, Universidade do Porto, Portugal. 2010 RUSCHEL, Fernanda. Avaliação da utilização de ferramentas de simulação computacional para reconstituição de incêndios em edificações de concreto armado: aplicação ao caso Shopping Total em Porto Alegre - RS . Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil). Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil, UFRGS, Porto Alegre/ RS, 2011. SILVA, Valdir Pignatta e. Estruturas de aço em situações de incêndio. São Paulo: Zigurate Editora, 2001. ISBN 85-85570-04-0.

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8. AGRADECIMENTOS A equipe do LabSEC/ PPGAU - UFRN pela disponibilidade do espaço e recursos para a elaboração da pesquisa; Aos gestores da UFERSA, pela sensibilidade em conceder o afastamento funcional necessário para a conclusão da pesquisa; A SIN/ UFERSA pela disponibilidade dos projetos executivos e memoriais descritivos do prédio objeto de estudo da pesquisa.

CUNHA, L.J.B.F.; PINTO, E.M.

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