DESENHANDO CONCEITOS E PRÁTICAS DESDE A PESQUISA EM ARTE/ EDUCAÇÃO BASEADA NAS ARTES VISUAIS

June 20, 2017 | Autor: F. Pedrosa Vascon... | Categoria: Drawing, Visual Arts, Dibujo, Desenho, Artes Visuais, Artography
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Artes Visuais

Eixo Temático: Pesquisa no ensino de artes visuais: narrativas e metamorfoses contemporâneas

DESENHANDO CONCEITOS E PRÁTICAS DESDE A PESQUISA EM ARTE/ EDUCAÇÃO BASEADA NAS ARTES VISUAIS

Dra. Flávia Maria de Brito Pedrosa Vasconcelos (Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF, Bahia, Brasil). RESUMO

Este trabalho busca refletir sobre algumas considerações encontradas na minha investigação doutoral, particularmente repensando a perspectiva da Pesquisa em Arte/Educação Baseada nas Artes Visuais e a apropriação de práticas artístico/ educativas na formação docente em Artes. Dessa maneira, analiso conceitos e questões com uso de narrativas visuais e escritas, desenhando também a construção do professor/artista/investigador. Percebo que métodos de pesquisa que relacionam ensino, produção e investigação tendem a desenvolver aspectos relacionais e dialéticos entre Arte e Educação. Por conseguinte discuto sobre Teachistry, Artistry e Researchistry como processos que fazem parte da necessidade de construir pontes entre teorias e práticas na constituição profissional. PALAVRAS-CHAVE:

Desenho, Pesquisa em Artes Visuais, Professor/artista/

investigador. DRAWING CONCEPTS AND PRACTICES FROM ARTS EDUCATION RESEARCH BASED IN VISUAL ARTS ABSTRACT

This work searches to reflect on a few considerations found in my doctoral research, particularly rethinking the perspective of Research in Arts Education Based in Visual Arts and the appropriation of artistic/educative practices in Arts teacher education. Thus, analyse concepts and issues with use of visual and written narratives, also drawing the construction of teacher/artist/researcher. I realize that research methods relating teaching, production and research tend to develop relational aspects and dialectic between Art and Education. Therefore I discuss Teachistry, Artistry and Researchistry as processes that are part of the need to build bridges between theory and practice in professional formation. KEYWORDS: Drawing, Research in Visual Arts, teacher/artist/researcher.

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1 Desde a Pesquisa em Arte/Educação Baseada nas Artes Visuais às práticas artístico/educativas Na investigação realizada no Doutorado em Educação Artística da Universidade do Porto – UPORTO entre os anos de 2012 e 2015, refleti sobre questões que envolvem o “saber desenhar” e o “não saber desenhar” e das pontes artístico/educativas possíveis no ensino/aprendizado em Artes Visuais no Brasil e em Portugal. Como um dos caminhos metodológicos traçados nesta investigação, encontrei a Pesquisa em Arte/Educação Baseada nas Artes Visuais, relendo a Investigação Educativa Baseada nas Artes Visuais ou ArteInvestigação Educativa exposta em Viadel (2005, p. 260). Dessa forma, a Pesquisa em Arte/Educação Baseada nas Artes Visuais intenta traçar convergências entre o ensino artístico e o processo criativo. Entendo que o processo criativo é (VASCONCELOS, 2015a, p. 129) a união do ato de fazer com o de criar, atentando para o “espaço que existe entre o que foi escolhido como meio ou técnica e as formas pelas quais se desenvolveu do pensamento à obra criada.”. Figura 1 – Desenho com café e nanquim

De olho. Porto, Portugal. 2014. Fonte: Acervo Particular da autora.

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Ao compreender que convergir é dialogar, o ensino artístico e o processo criativo, a Pesquisa em Arte/Educação Baseada nas Artes Visuais atua em territórios da Arte e da Educação. Por isso, atravessa fronteiras plasmadas por ideias da Tradição à Modernidade e revisitadas na Contemporaneidade. Sua função reside basicamente em construir pontes investigativas entre teorias e práticas, descobrindo conceituações, ações e reações no ensino/aprendizado, na constituição profissional e em práticas artístico/educativas. Essas práticas residem, ao unir o artístico e o educativo, em meio à busca pelo domínio dos processos de atenção entre saberes e fazeres do ofício. Consubstanciam-se também como um dos fundamentos pelos quais professores inventam novas maneiras de treinar o olhar. Menciono também a partir da minha experiência como professora de nível superior no Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF que treinar o olhar advém de um direcionamento que desloca o conhecimento, particularizando-o culturalmente no ambiente da instituição educacional. O olhar neste sentido é visto não ligado apenas a um órgão do corpo, mas a um pensar, um perceber, um contextualizar e um recriar o mundo. Figura 2 – Trabalhos artístico/educativos de estudantes da disciplina Fundamentos do Ensino de Artes Visuais. Licenciatura em Artes Visuais da UNIVASF

Exposição Picteóricos. 2012. Juazeiro, BA, Brasil. Fonte: Acervo Particular da autora.

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Ao compartilhar o conhecimento no constante treino do olhar, o professor traduz sua necessidade de desenvolvimento de competências e habilidades em um disciplinamento da atenção por meio de dois conceitos que estão se deteriorando na atualidade: exercício e experiência. Pode-se observar que no ensino artístico há uma confusão do exercício por experiência e vice-versa. O ecossistema estético que envolve o ensino/aprendizado artístico depende de um constante exercitar de músculos físicos, criativos, expressivos e cognitivos. Estes quatro viesses são essenciais dentro de um processo que conduz experiências significativas. É por isso que não se pode dizer que o ensino artístico existe sem o conhecimento técnico, nem que apenas o conhecimento técnico que conduz ao aprendizado artístico. Entender e se apropriar de técnicas, métodos, estratégias e materiais por meio de exercícios faz parte do conhecer em Arte. Porém, os exercícios não podem ser tidos como dispositivos detonadores da atenção e da compreensão. Uma experiência significativa em Arte não vem apenas por meio de um exercício, ela advém de um formar e de um transformar assim como se valer da imaginação, do repertório gráfico e sensorial, da necessidade de expressão e comunicação. Figura 3 – Desenho de Observação que busca o criativo. .

Faculdade de Belas Artes. Universidade do Porto. Porto, Portugal. 2013. Fonte: Acervo Particular da autora.

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Destarte, infiro que exercício e experiência são elementos constituintes das práticas artístico/educativas, desenvolvidos no treino do olhar, como plataformas (VASCONCELOS, 2015b, p.176) construturas “de um conhecer crítico participativo que são possibilitadas nos interstícios” do abstrato ao concreto, da intersubjetividade à representação por intermédio de um diálogo efetivo e contextualizador entre professor e estudantes. Dessa forma, a Pesquisa em Arte/Educação Baseada nas Artes Visuais utiliza texto escrito e texto visual, assumindo os riscos e os desafios de aliar a criação ao processo pedagógico e tem como características a investigação em que conceitos, processos e produção são partes interligadas na análise de questões que envolvem o universo do ensino/aprendizado artístico.

2 Do constituir-se professor/artista/pesquisador nas Licenciaturas em Artes A visão do professor/artista/pesquisador trata-se de uma releitura (VASCONCELOS, 2013, 2015a, 2015b) da discussão proposta por Irwin (2004) acerca da necessidade de se repensar o espaço da formação numa perspectiva a/r/ tográfica em que se procura formar artistas/professores/investigadores. A perspectiva a/r/tográfica intenta articular os territórios do ensinar, do produzir e do pesquisar, estimulando experiências que revelam a intersubjetividade, a memória e a construção colaborativa e crítico/reflexiva de competências e habilidades no cotidiano das aulas na formação de professores. Particularmente, entendo que a A/r/tografia não tem uma função direta de método ou metodologia, mais se configurando como indicação ou caminho interessante a seguir por dialogar com maior profundidade os espaços que poderiam estar demarcados do criar, do interpretar, do perceber e do sistematizar artisticamente e pedagogicamente entre professores de nível superior e estudantes de cursos de licenciatura. Ao reler esta visão, revisito também a já arraigada disputa que separa a Arte e a Educação, a atuação do professor e a do artista, como se completamente

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dissociadas fossem, como se na História Ocidental ela não tivesse sido amalgamada seja pela necessidade financeira, seja por demandas que o contexto temporal e o mercado de trabalho indicaram. Ao referir ao professor/artista/pesquisador coloco em evidência além do contágio e vinculação entre estas três identidades profissionais, a figura do professor, como primeira figura de atuação, principalmente por refletir na construção desse sujeito a partir de sua formação inicial numa licenciatura na área de Artes. Em segundo lugar, coabita o artista, presente profissionalmente desde as disciplinas essencialmente práticas da formação inicial, visível nos processos criativos na experiência de ensinar e produzir, entremeado por exercícios compartilhados e exercícios buscados individualmente. Nessa relação entre o contexto, o coletivo e o particular, o artista respira, transpira reverberações de diferentes poéticas, a depender da linha escolhida e da abertura a complexidade e ao polissêmico. Figura 4 – Designações. Desenho com caneta nanquim e aquarela.

Exposição (Con)tributos a Miró. Porto, Portugal. 2014. Fonte: Acervo Particular da autora.

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O pesquisador organiza e transforma em metodologia, refere e sistematiza conceitos e práticas utilizados, descreve e reescreve, no olhar atento, esmiuçador e analítico ao desenvolvimento dos processos de ensino/aprendizagem e das práticas artístico/educativas. Deste modo, constituir-se professor/artista/pesquisador tanto em nível présuperior como em nível superior, é parte de um sistema de formação que não pressupõe um paradigma tradicional ou moderno, mas os relê, interpretando contemporaneamente a identidade profissional como um espaço contínuo de apreender e aprender competências e habilidades artísticas e pedagógicas. O constituir-se pode estar ou não previsto em um currículo (UNIVASF, 2012), sendo verificável como escolha individual, na medida em que as experiências tornam-se percepções e entendimentos de si, dos meios e contextos de atuação. Neste sentido, o indivíduo participa como membro perceptivo de um ecossistema estético da sua constituição, que funciona, ao mesmo tempo, como processo e registro mnemônico. Figura 5 – Fotomontagem.

Identidades. Porto, Portugal. 2015. Fonte: Acervo Particular da autora.

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Recordando o estudo de Pereira (2013, p. 21), assisto a noção de que “não é pelo simples fato de passar por um curso de formação (seja uma Licenciatura, seja um Magistério) que alguém vem a ser professor”. Dizer que se é algo faz parte do constituir-se, assim atuar em uma instituição educacional formal ou não-formal e exercer atividades docentes não é pressuposto para essa denominação. Ser professor, como ser artista e ser pesquisador é uma identidade legitimada pela quantidade e qualidade de exercícios e experiências no rumo da profissão, em contato com o outro, com os contextos e textos, com as vivências continuamente retroalimentadas pelas dúvidas, ignorâncias, erros, acertos, descobertas, desencontros e encontros no percurso de formação. A formação do professor/artista/pesquisador é então processo agonístico em que fugas, conciliações, embates são instrumentos para se refletir e se construir. Por essa razão, não é um hábito curricular imposto que pretende enformar indivíduos em identidades fixas e com posse de estratégias de ensino e de aprendizagem limitantes. Por conseguinte,

encontro nessa formação conceitos que envolvem a

Teachistry, a Artistry e a Researchistry.

3 Por uma busca da Teachistry, da Artistry e da Researchistry Teachistry, Artistry e Researchistry podem ser compreendidas no português como professoralidade, artisticidade e investigacidade, sendo conceitos recentes acerca do que se procura na construção e formação de professores na área de Artes. Estas três concepções remetem à curiosidade, à invenção e à inovação. No início do século XXI pode ser encontrada a Artistry nos estudos de Elliot Eisner. De acordo com ele, Artistry não é um conceito limitado às Belas Artes, mas a tudo que é bem feito (EISNER, 2003, p. 373), demonstrando no empenho pela excelência na constituição de competências e habilidades na produção artística. Isto aquém de demonstrar a sua conexão com o aprimoramento de técnicas e de uso de meios e materiais, demonstra que a Artistry contribui para uma revisão do processo de construção de uma obra, das imagens mentais ao trabalho finalizado.

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Em adição, o esforço pela excelência faz com que o artista permaneça em estado de procura, nunca satisfeito completamente com os resultados obtidos, o que o pode levar a desenvolver outras linhas poéticas em seus processos criativos. A Artistry dá acesso ao artista de recriar e rever em uma postura estética e crítica além da sua produção, o seu constituir-se. Figura 6 – Fotomontagem. Quadrinho disposto na tese de Doutorado em Educação Artística na Universidade do Porto, Portugal.

Por um Designare. Porto, Portugal. 2015. Fonte: Acervo Particular da autora.

Teachistry é a diligência no ensino artístico que se preocupa com a ampliação do treino do olhar no ensino/aprendizado em uma plataforma contemporânea que revê os paradigmas Tradicional e Moderno. Isto posto, ela perpassa por um processo complexo de problematização à ação didática no uso apropriador de teorias e práticas artístico/educativas que estimulam a progressão de saberes e fazeres na técnica, na criatividade, na expressão e na cognição em Artes.

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A Researchistry é um conceito correlativo à Artistry e a Teachistry e tem seu endereço inscrito na necessidade de desenvolvimento da pesquisa nas quais quantitativo e qualitativo trabalham em conjunto e há tempo para adequada análise e reflexão, gerando resultados que participam tanto do racional quanto do simbólico. Há um perigo no excesso da promulgação da Teachistry, Artistry e Researchistry na formação de professores de Artes. Não se pode exigir a excelência, pois isso poderá atingir a um esforço laboral que tende a sobrepor mecanismos e tratar os seres humanos como máquinas. A excelência deve vir naturalmente, se consubstanciando como escolha na constituição do professor/artista/pesquisador e verificável por meio da continuidade e da qualidade no desenvolvimento de práticas artístico/educativas. Estas últimas, dialogadas contextualmente entre pontes que a vida designa. Com base nas considerações tecidas, indico o desejo da realização de maiores pesquisas no âmbito brasileiro com viés de Pesquisas em Arte/Educação Baseada nas Artes Visuais, dialogando com colegas da área no intuito de promover e expandir horizontes entre ensino, pesquisa e produção. Outra questão a apontar diz respeito a um enfoque a desenhar nos cursos de formação de professores de Artes no país. Concluo que um curso de Licenciatura na área de Artes que desde seu currículo esteja aplicado na formação e constituição do professor/artista/pesquisador, que disponha de práticas artístico/educativas e dê abertura ao desenvolvimento da Artistry, da Teachistry eda

Researchistry

certamente estará oportunizando profissionais que disponham de curiosidade e que, suscitam a inventividade e produzam inovação no campo que atuam.

Referências

EISNER, Elliot. Artistry in Education. Scandinavian Journal of Education Research. Vol. 47. No 3, 2003. p. 373-384. IRWIN, Rita. L. A/r/tography: a metonymic métissage. In IRWIN, Rita L.; Cosson, Alex de. (eds). A/r/tography: rendering self through arts-based living inquiry. Vancouver, Canada: Pacific Educational Press, 2004. p. 7-38. PEREIRA, Marcos Villela. Estética da professoralidade: um estudo crítico sobre a formação do professor. Santa Maria, RS: Editora da UFSM, 2013.

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UNIVASF. Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em Artes Visuais. Colegiado de Artes Visuais. Universidade Federal do Vale do São Francisco. Juazeiro. Bahia. Brasil. 2012. VASCONCELOS, Flávia Maria de Brito Pedrosa. Narrativas em Cultura e Arte Contemporânea: experiência didática via MITEA na formação de professores de Artes Visuais. CARTEMA. Revista do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais UFPB/UFPE. N° 2. Ano 1. Junho, 2013. ____________________________________________. Delineando Narrativas A/r/tográficas em Marcos Martins. Revista Croma, Estudos Artísticos. Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. & Centro de Investigação e de Estudos em Belas-Artes. Vol. 3. Nº 5. Janeiro-Junho, 2015a. p. 128-133. ________________________________________. Designare: pontes artístico/educativas na formação docente em Artes Visuais. 2015b. 471f. Tese (Doutorado em Educação Artística). Faculdade de Belas Artes, FBAUP. Universidade do Porto, UPORTO. Porto, Portugal, 2015b. VIADEL, Ricardo Marín.‘La Investigación Educativa Basada en las Artes Visuales’ o ‘ArteInvestigación Educativa’. In VIADEL, Ricardo Marín. (ed.). Investigación en Educación Artística: temas, métodos y técnicas de indagación sobre el aprendizaje de las artes y culturas visuales. Granada: Editorial Universidad de Granada, 2005. p. 223-274.

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