Desenhar, Pensando, Para Melhor Fazer

October 10, 2017 | Autor: Bruno Bernardes | Categoria: Research Methodology
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“Desenhar, pensando, para melhor fazer” Recensão do livro Blaikie, Norman (2010). “Designing Social Research. The Logic of Anticipation”. 2 nd ed. Cambridge & Malden: Polity Press.

Nesta segunda edição de Designing Social Research Norman Blaikie volta a apresentar o que de melhor se discute e implementa em metodologias para as ciências sociais. Nesta versão, reformulada após o sucesso editorial da primeira edição, o autor apresenta uma maior variedade de abordagens de investigação, reformulando alguns capítulos e acrescentando novas fontes bibliográficas nos panoramas epistemológico, empírico, teórico e metodológico. Neste volume, ao que se segue Approaches to Social Enquiry: Advancing Knowledge, Blaikie contraria boa parte das publicações em metodologia para ciências sociais, ao incluir todas as suas vertentes, visões, agendas e modos de fazer, sem que contudo deixe de apontar quais as suas escolhas. No caso de Norman Blaikie estas são apresentadas de forma transparente, não escondendo uma argumentação mais apaixonada aqui e acolá mas deixando ao leitor e investigador a escolha do seu caminho metodológico. Aliás na introdução à obra, Blaikie não deixa de incluir um manifesto para a pesquisa em ciências sociais onde deixa expresso os objetivos e a natureza da sua visão face à investigação e aos conceitos, ferramentas e métodos a ela interligados. Alterações epistemológicas e ontológicas estão na base desta discussão e não é por acaso que Norman Blaikie discute no início do seu volume as diferentes escolas ontológicas e epistemológicas que, de uma forma disfarçada ou a descoberto, aparecem em trabalhos teóricos ou empíricos. Antigas abordagens de investigação como as formulações hipotético-dedutivas ou novas atitudes ontológicas e epistemológicas como as de Robert Franzese para quem tudo afecta tudo, são incluídas com igual tratamento. O primeiro passo na preparação de um desenho de investigação passa, no entender de Blaikie, pela definição dos objetivos e pela escrita das perguntas de partida. Para estas, o autor classifica-as quanto ao tipo: descritivas (“o quê?”), explicativas (“porquê?”) e prospetivas (“como?”). Grosso modo, a cada uma delas corresponde ora um tipo diferente de investigação, ora fases diferentes de uma mesma investigação. É neste sentido que Blaikie identifica oito tipos diferentes de objetivos de investigação: explorar, descrever, explicar, entender, prever, mudar, avaliar e constatar. No entanto, 1

não seria de excluir, por exemplo, que uma investigação comece por descrever uma determinada realidade a fim de descobrir uma nova relação causal que seria em seguida explicada. Ou que se tentasse, depois de definida uma relação causal, descobrir os mecanismos de mudança no futuro, dessa mesma causalidade. Após definidas as pergunta de partida e os objetivos é tempo de escolher uma estratégia para as responder. Para isso, o autor apresenta quatro tipos de estratégia de investigação, indo para além da descrição dos tipos dedutivo e indutivo. A par da crescente importância deste último através do desenvolvimento de técnicas qualitativas, o autor refere o desenvolvimento da abdução por Anthony Giddens e da retrodução, estratégias que têm ganho a sua própria autonomia e que podem ser complementadas ou continuadas com tipologias dedutivas ou estudos indutivos que permitam uma descrição mais profunda do objeto de estudo. Daqui que Blaikie enfatiza a importância da delimitação do desenho de investigação na primeira parte do livro. Feita uma delimitação técnica e científica, permite-se o planeamento da investigação, o tipo e a forma de recolha de dados ou a análise desses dados com a teoria pré-escolhida pelo investigador, o que é garantido pela escolha consciente de uma estratégia de investigação. O passo seguinte será o de estabelecer os conceitos e as teorias em uso de forma a dar significado, contexto e sustentação à investigação. Blaikie apresenta diferentes abordagens ao uso de conceitos e teorias em ciências sociais. É também incluída uma discussão acerca do papel das hipóteses, que para Blaikie é limitada visto que estas são apenas utilizadas em perspetivas dedutivas e em alguns casos de investigação abdutiva. Também são apresentados diferentes tipos de modelos teóricos e o seu uso essencial em estudos hipotético-dedutivos. Neste campo, como nos restantes, tudo és descrito mas nada é imposto ao leitor. Em seguida, Blaikie dedica-se a descrever formas de recolha e tratamento de dados, desde técnicas quantitativas a qualitativas, passando das já consideradas clássicas e chegando às abordagens feministas e pós-estruturalistas. Nesta descrição inclui os tipos, as fontes e a forma como os dados podem ser adquiridos. Na seleção dos dados, o autor diferencia tipos de amostra para estudos com caráter representacional, dos estudos de caso. Puxando a brasa à nossa sardinha, em ciência política temos vindo a assistir a uma autêntica revolução metodológica que teve, por exemplo, efeitos na política comparada com o ressurgimento dos estudos de caso desta vez com uma abordagem unicamente qualitativa e até antropológica ou etnográfica, como acontece por exemplo em Case 2

Studies and Theory Development in the Social Sciences de Alexander George e Andrew Bennett. Neste campo, por exemplo, tem-se reaberto a discussão acerca da capacidade de generalização de estudos de caso. Esta revolução prende-se não só com a reintrodução em força do qualitativo como também das alterações nos métodos quantitativos e inclusive no casamento entre o quantitativo e o qualitativo. Nos estudos de caso, Blaikie considera que estes têm caraterísticas e autonomia própria, não precisando de representações fidedignas através da construção de amostras. Blaikie não o diz, mas em determinados departamentos onde imperam perspetivas qualitativas, não são utilizadas representações por amostra, imperando estudos que tentam estabelecer relações causais sem o uso de modelos de correlação e recorrendo a entrevistas não estruturadas. Coloca-se, claro está, a capacidade de generalização desses estudos, pese embora autores como Bent Flyvbjerg ou Lee Peter Ruddin terem vindo a afirmar que estes trabalhos têm-na. O autor não deixa de discutir isso entre as páginas 216 e 218. Em seguida, Norman Blaikie discute diferentes tipos de métodos quantitativos e qualitativos cobrindo desde os estudos organizados de forma diacrónica e anacrónica, passando às técnicas quantitativas e qualitativas de codificação e identificação de variáveis, fatores ou categorias. Dedica também algumas páginas a descortinar o passado e o presente da mistura entre métodos quantitativos e qualitativos. Finalmente, na última parte do trabalho o autor apresenta exemplos diversos de desenhos de investigação utilizando temas, objetivos, estratégias e tipo de recolha de dados diferentes. Estes são exemplos explícitos e bem estruturados onde o leitor pode ter uma ideia bastante clara de como preparar um projeto de investigação, planear e delimitar, escolher formas de recolhas de dados e seguir uma determinada lógica ou linha de investigação. Esta é sem dúvida uma obra bem estruturada e que atinge o objetivo inicial de ajudar estudantes e investigadores a organizar e delimitar o seu estudo, bem como o de fazer escolhas conscientes e lógicas, sem nunca esquecer a necessária descrição e justificação do caminho escolhido. No entanto, esta é uma obra do seu tempo pois ao descrever as diferentes perspetivas de investigação que hoje existem em ciências sociais, Norman Blaikie tirou uma fotografia delimitada do presente e não deixou de apontar apenas mais uma forma, a mais convencional e correta no meu entender, de se estruturar uma pesquisa. Temos aqui uma obra de cabeceira para aqueles momentos iniciais de uma investigação, mas também de momentos específicos onde é necessário fazer-se uma

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escolha. Mas temos também uma obra essencial para licenciandos, mestrandos e doutorandos que procuram estruturar os seus trabalhos, primeiras publicações ou teses.

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