Desenvolvendo a hipótese da cisão da categoria pronominal no Português Brasileiro

June 29, 2017 | Autor: Eloisa Pilati | Categoria: Generative grammar, Generative Syntax
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DESENVOLVENDO A HIPÓTESE DA CISÃO DA CATEGORIA PRONOMINAL NO PORTUGUÊS
BRASILEIRO

Eloisa Nascimento Silva Pilati[1]
Rozana Reigota Naves[2]


RESUMO: O presente trabalho examina um conjunto de estruturas sintáticas do
Português Brasileiro (PB), que, apesar de distintas, serão tratadas como
estando relacionadas a um mesmo fenômeno gramatical que é o das mudanças no
sistema pronominal de terceira pessoa no PB. Nesse conjunto de estruturas,
incluem-se: construções com ordem VS (ou inversão locativa) – (1) Toma
posse o deputado (Pilati, 2006); construções de tópico-sujeito – (2) A
Sarinha tá nascendo dente (Pontes, 1986) e (3) O Fluminense faltou sorte no
segundo tempo (Berlinck et al, 2009); construções de sujeito nulo
indeterminado – (4) a. Aqui joga tarô / b. Joga tarô; construções com
sujeitos não-argumentais – (5) Brasília chove pouco nessa época do ano.
Aceitando a análise de Pilati (2006) de que, nos casos em (1), o PB
licencia um pronome nulo com referência locativa ou temporal na posição de
sujeito e, partindo do fato empírico de que essas construções são
licenciadas preferencialmente em 3ª pessoa e que possuem sujeitos não-
canônicos (do ponto de vista da estrutura argumental), pretendemos
desenvolver a hipótese de que o licenciamento dos sintagmas pré-verbais
(nulos ou não) nas construções acima decorre de uma cisão no tratamento da
3ª pessoa em línguas como o PB. No desenvolvimento da análise, consideramos
o trabalho de Bhat (2004), que propõe uma tipologia linguística segundo a
qual as línguas naturais se dividem em 'línguas de duas pessoas' e 'línguas
de três pessoas', conforme o comportamento morfossintático dos pronomes e
das formas pronominais de 3ª pessoa. Inserido no contexto teórico da
abordagem minimalista da teoria gramatical (Chomsky, 2007; 2008), propomos,
para o conjunto de estruturas acima, uma análise unificada em termos da
cisão da categoria pronominal de 3ª pessoa no PB.


1 INTRODUÇÃO

Diversos estudos têm se dedicado a investigar as mudanças por que
passa o português do Brasil (doravante PB), principalmente, no que concerne
às propriedades clássicas de língua de sujeito nulo (Chomsky, 1981). Isso
porque estudos variacionistas e gerativistas mostraram evidências de que há
pelo menos duas mudanças em curso na gramática do PB, as quais estão
diretamente relacionadas a propriedades típicas de línguas de sujeito nulo:
o decréscimo no uso de sujeitos nulos e o decréscimo no uso da ordem verbo-
sujeito (Tarallo & Kato, 1989; Berlinck, 1989; Duarte, 1995; entre outros).
Em relação às propriedades dos sujeitos nulos no PB, vários estudos
(Figueiredo Silva, 1986; Negrão, 1999; Ferreira, 2000; Galves, 2001;
Rodrigues, 2004; entre outros) compartilham a ideia de que, apesar do
decréscimo na quantidade de sujeitos nulos na língua, eles ainda ocorrem em
contextos restritos e apresentam características sintáticas e semânticas
específicas, o que permite considerar o português do Brasil como sendo uma
língua de sujeito nulo parcial.[3]
Ao mesmo tempo em que tais mudanças vêm sendo atestadas na língua, o
PB tem apresentado construções inovadoras quando comparadas às estruturas
licenciadas em outras línguas românicas, como é o caso de construções de
tópico-sujeito (Pontes, 1986; Negrão, 1999; Nunes, 2008; entre outros).
Considerando os fatos linguísticos acima mencionados, visamos mostrar de
que forma o licenciamento de estruturas aparentemente distintas, tais como
a ordem VS, orações com sujeito indeterminado (manifesto ou nulo), orações
de tópico-sujeito e construções com sujeitos não-argumentais, pode estar
relacionado a um mesmo fenômeno sintático, que é a cisão da categoria
pronominal no português do Brasil, em termos das propriedades relativas à
3ª pessoa.



DESCREVENDO AS CONSTRUÇÕES EM ANÁLISE





2.1 Ordem VS com inversão locativa


Orações com ordem Verbo-Sujeito são construções que ocorrem em
contextos restritos no português do Brasil. Pilati (2006), ao analisar as
propriedades sintáticas e semânticas de orações com ordem VS no PB e os
contextos em que essas orações ocorrem, chega às seguintes conclusões: tais
orações não são usadas em contextos de respostas a perguntas QU- com foco
estreito, como em (1B''); são licenciadas com mais frequência com verbos
inacusativos, como atesta a maioria dos estudos variacionistas (Berlinck,
1989), mas também podem ocorrer com verbos inergativos e transitivos (cf.
(2)), como defendido por Votre e Naro (1999) e atestado por Pilati (2002) e
Scherre e Cardoso (2007).


1) A: Quem dormiu/comeu o bolo?
B: Foi a Bruna (que dormiu/que comeu o bolo).
B': A Bruna.
B": *Dormiu a Bruna./*Comeu o bolo a Bruna.

2) a. Toma posse o deputado. (Pilati, 2002)
b. Ali dorme a Maria. (Pilati, 2002)
c. E dançaram as duas. (Scherre e Cardoso, 2007)
d. Só valem as garotas. (Scherre e Cardoso, 2007)

Para Pilati (2006), os sujeitos nulos das orações com ordem VS do PB
recebem uma interpretação dêitica, que pode ser de natureza locativa ou
temporal, como representado pelos contrastes entre as sentenças a e b de
(3) a (5), e suas respectivas glosas (Pilati (2006, p. 199, dados (60)-
(62)):

3) a. Entrou Dante.
Dante entrou (aqui /nesse lugar).
b. Dante entrou.
Dante entrou (em algum lugar).

4) a. Morreu Fellini.
Fellini acabou de morrer. (Eu acabei de ouvir que Fellini
morreu.)
b. Fellini morreu.
Fellini morreu (há algum tempo).

5) a. Telefonou a Beatriz.
A Beatriz ligou (aqui, para este lugar).
b. A Beatriz telefonou.
A Beatriz ligou (para algum lugar)/fez telefonemas.

Além dessa interpretação dêitica, relacionada ao momento da enunciação
ou a um lugar específico cuja referência é compartilhada pelos
interlocutores, outra evidência apresentada por Pilati (2006), que parece
comprovar a possibilidade de o PB licenciar elementos com interpretação
locativa na posição de sujeito, é a interpretação de orações como as em (6)-
(7), em que o elemento dêitico manifesto controla sujeitos encaixados,
comportando-se da mesma maneira que sujeitos prototípicos em posição pré-
verbal:[4]


6) a. As criançasi dormem ali porque ei querem.
b. *Ali dormem as criançasi porque ei querem.
c. Alii dormem as crianças porque ei é mais quente.

7) a. O ministroi tomou posse hoje para ei ganhar tempo.
b. *Hoje tomou posse o ministro para ei ganhar tempo.
c. Hojei tomou posse o ministro para ei coincidir com a data da
proclamação da República.


Em resumo, de acordo com a análise de Pilati (2006): (i) em orações
com ordem VS no PB, há um elemento nulo em posição pré-verbal, o qual
recebe interpretação dêitica (daí a autora denominá-lo proloc), e (ii) esse
pronome, cuja referência pode estar ligada a um elemento locativo ou
temporal, quando em posição pré-verbal, pode controlar um sujeito
encaixado.

2.2 Construções de tópico-sujeito

Desde o trabalho seminal de Pontes (1986), têm sido estudadas no PB
construções como as em (8), em que elementos não-canônicos, com
interpretação possessiva (8a), locativa (8b) ou benefactiva (8c), ocupam
uma posição pré-verbal, geralmente associada à posição de sujeito, uma vez
que se observa concordância entre esse elemento pré-verbal e o verbo da
construção (cf. (9)):

8) a. O carro furou o pneu. (Pontes, 1986)
b. A localidade não ocorreu nenhum problema. (Berlinck et al, 2009)
c. O Fluminense faltou sorte no segundo tempo. (Berlinck et al,
2009)

9) a. Os carros furaram o pneu.
b. As localidades não ocorreram nenhum problema.
c. Os times faltaram sorte no segundo tempo.


A relação semântica entre os DPs (em posição pré-verbal e em posição
pós-verbal) depende fortemente da interpretação referencial dos
constituintes, podendo, inclusive, ser ambígua, como ocorre com o dado em
(10), que pode ter interpretação locativa (10a) ou possessiva (10b):

10) A Sarinha tá nascendo dente. (Pontes, 1986)
a. Tá nascendo dente na Sarinha.
b. Tá nascendo o dente da Sarinha.[5]

Constatamos que as construções de tópico-sujeito apresentam
contraparte com ordem VS, a qual se assemelha às construções descritas na
seção 2.1, especialmente pelo fato de ocorrerem com verbos na 3ª pessoa,
como demonstrado em (11):

11) a. Furou o pneu do carro.
b. Não ocorreu nenhum problema na localidade.
c. Faltou sorte para o Fluminense no segundo tempo.

Além disso, observamos também que o DP pré-verbal das construções de
tópico-sujeito pode controlar um sujeito na encaixada, assim como Pilati
(2006) propõe para o elemento dêitico das construções com inversão locativa
do PB:


12) a. A localidadei não ocorreu nenhum problema porque ei é segura.
b. A Sarinhai tá nascendo dente porque ei tem seis meses de idade.

2.3 Construções de sujeito nulo indeterminado

Além de sujeitos nulos com referência locativa ou temporal, o PB
também licencia sujeitos nulos que têm recebido na literatura interpretação
indefinida/genérica, como em (13):[6]

13) a. Vende frutas.
b. Matou um cara no show. (Lunguinho & Medeiros, 2009)
c. Aqui faz conserto de roupas.[7]

As construções em (13) contrastam com aquelas que apresentam sujeitos
referenciais manifestos, como demonstrado em (14):

14) a. João vende frutas.
b. Ele matou um cara no show.
c. A costureira faz conserto de roupas.


Ainda em relação a construções como as em (13), é importante
considerar que tais construções não são licenciadas em contextos out of the
blue: (13a) só é gramatical em um contexto discursivo em que se possa
depreender onde as frutas são vendidas (por exemplo, se a sentença estiver
escrita em uma placa dependurada numa banca de feira); (13b) e (13c) estão
também circunscritas à interpretação dêitica de tempo ou local.
Observamos, ainda, que, na situação em que o sujeito é nulo, podemos
analisar a sentença como correspondendo tanto a uma interpretação com
elemento locativo pré-verbal quanto a uma interpretação indefinida do DP:

15) Não usa mais saia. (Galves, 2001)
a. No Brasil/Aqui não usa mais saia.
b. A gente não usa mais saia.


2.4 Construções com sujeitos não-argumentais

O último tipo de construção com que pretendemos trabalhar neste
artigo é o das construções em que constituintes não-argumentais ocorrem em
posição de sujeito. Trata-se de sentenças como as seguintes:

16) a. Brasília não chove há mais de 90 dias.
b. Londres tem prédios lindos. (Kato & Duarte, 2008b)

Assim como nos demais casos, a essas construções correspondem outras,
em que a posição de sujeito aparece nula e o elemento em posição de
sujeito, nas construções em (16), ocorre como sintagma preposicional, de
interpretação locativa:

17) a. Não chove há mais de 90 dias em Brasília.
b. Tem prédios lindos em Londres.



2.5 Síntese descritiva

Em resumo, os dados apresentados nesta seção nos levam às seguintes
generalizações descritivas:
i) as construções de sujeito nulo em sentenças raízes no PB recebem
interpretação dêitica, predominantemente locativa, não sendo
licenciadas fora desse contexto dêitico (que pode ser captado
sintaticamente ou discursivamente);
ii) elementos dêiticos (locativos, temporais ou possessivos) estão
ocupando posição típica de sujeito, mesmo quando não são argumentos
dos predicados;
iii) as construções analisadas acima ocorrem predominantemente com verbos
na 3ª pessoa.




ESTUDOS PRÉVIOS: INTUIÇÕES FORMAIS


Estudos prévios para os fenômenos estudados neste trabalho apontam no
sentido de que a sintaxe do PB sofreu mudanças em relação à categoria
Pessoa, que é parte dos traços-phi, os quais são motivadores das relações
de concordância nas línguas. Vamos reconstruir parcialmente esse caminho de
análise para mostrar que é preciso estudar outras propriedades do sistema
pronominal, que não apenas Pessoa, a fim de dar conta da interpretação
dêitica dessas sentenças ou da interpretação indefinida/genérica de
sintagmas sujeito que se pressupõem de referência definida.
Galves (2001) mostra que há diferenças entre o comportamento dos
pronomes de 3ª pessoa do PB em relação ao português europeu (doravante PE).
Os exemplos da autora (op. cit., p. 44-48) foram adaptados e estão
apresentados abaixo:


18) a. Eu tinha uma empregada que ela atendia ao telefone e dizia...
(PB/*PE)
b. Eu tinha uma empregada que [e] atendia ao telefone e dizia...
(PB/PE)

19) a. Esse rapaz, encontrei ele ontem no trem. (PB/*PE)
b. Esse rapaz, encontrei-o ontem no trem. (PB/PE)


20) a. Nos nossos dias, não usa mais saia. (PB/*PE)
b. Nos nossos dias, não se usa mais saia. (PB/PE)


21) a. Eu estava pretendendo acabar antes de [e] nascer.
(PB/*PE)[8]
b. Eu estava pretendendo acabar antes de ele nascer. (PB/PE)


Ao estabelecer tais comparações, Galves (2001) pretende mostrar que as
duas línguas se distinguem quanto à atribuição de referência determinada a
um sujeito nulo de 3ª pessoa:

i) PE: nas sentenças finitas, a interpretação do sujeito nulo só pode
estar vinculada à marca de pessoa na concordância (não ao tópico nem a
um SN lexical na sentença); em sentenças infinitivas, a interpretação
do sujeito nulo só pode estar vinculada a um SN lexical na sentença
(não ao tópico nem à marca de pessoa na concordância);
ii) PB: nas sentenças finitas, a interpretação do sujeito nulo pode estar
vinculada a um SN lexical na sentença ou ao tópico (mas não à marca de
pessoa na concordância); em sentenças infinitivas, a interpretação do
sujeito nulo também pode estar vinculada a um SN lexical na sentença
ou ao tópico (mas não à marca de pessoa na concordância).


Feitas essas constatações empíricas, Galves (2001, p. 53) propõe que,
no PB:


O elemento da concordância da 3ª pessoa não é mais suficiente para
atribuir referência determinada ao sujeito nulo. Na ausência de
sintagma nominal na sentença que possa servir de antecedente, usa-
se preferencialmente o pronome lexical ele, que deixa visíveis os
traços pronominais que a flexão não tem mais e chega a desempenhar
o próprio papel de concordância, ao ser empregado junto com o SN
lexical sujeito [...]
Na ausência de um pronome ou de algum antecedente possível a
interpretação do sujeito nulo de um verbo na 3ª pessoa é de
indeterminação. O se indeterminado não tem mais razão de ser.

A hipótese de Galves para explicar tais fenômenos é a de que houve um
enfraquecimento dos traços de Agr do PB em relação à categoria Pessoa:
"AGR, pelo menos na 3ª pessoa do singular parece ser referencialmente pobre
demais para identificar um sujeito nulo como um pronome nulo específico"
(Galves, 2001, p. 110).
No entanto, a afirmação de que orações com sujeito nulo recebem
interpretação indefinida não é suficiente para explicar a interpretação
dêitica das construções em análise nem a agramaticalidade das orações de
sujeito nulo com interpretação indefinida/genérica em contextos out of the
blue (sem um elemento dêitico, como em *Conserta sapatos, em oposição a
Aqui conserta sapatos).
Em trabalhos posteriores, Kato & Duarte (2008a; 2008b), considerando
que o PB é uma língua de sujeito nulo parcial e que se comporta
parcialmente como língua de tópico e parcialmente como língua de sujeito –
uma vez que ainda há contextos que favorecem o uso de sujeito nulo com
referência determinada sintaticamente (quer via concordância quer via
controle em orações infinitivas), assumem a proposta derivacional de
Cardinaletti (2004, apud Kato & Duarte, 2008a; 2008b), segundo a qual há
duas projeções para sujeito nas línguas: especificador de SubjP,
responsável por checar o traço "sujeito de predicação", e especificador de
TP, responsável por checar o traço de Caso e os traços-phi.
Segundo as autoras, o parâmetro do sujeito nulo distingue línguas que
apresentam um Agr pronominal (línguas de sujeito nulo, em que os pronomes
pessoais estão gramaticalizados na flexão verbal) das línguas que
apresentam pronomes fracos e sujeitos clíticos (línguas de sujeito não
nulo). No caso do PB, que é analisado como uma língua de sujeito nulo
parcial, a característica relevante seria a de que a 3ª pessoa têm a
propriedade de se apresentar tanto como um Agr pronominal quanto como um
pronome fraco, sendo que a referência indefinida/genérica é obtida apenas
nos casos de Agr pronominal de 3ª pessoa.
Para dar conta do fato de que o PB é uma língua de tópico e também
uma língua de sujeito, as autoras propõem que SubjP pode ser projetado, ou
não, na derivação das sentenças dessa língua. SubjP abrigaria pronomes
fortes e sujeitos locativos, enquanto TP abrigaria pronomes fracos (como o
'cê em (22a) abaixo). Assim, na proposta de Kato & Duarte (2008b), a
derivação das sentenças em (22) seria como (23):

22) a. 'Cê tem prédios lindos em Londres.
b. Londres tem prédios lindos.

23) a. [TP 'Cê temT+V [VP tV [ prédios lindos em Londres ]]]
b. [SubjP Londresloc [TP temT+V [VP tV [ prédios lindos tloc ]]]][9]

As autoras mesmas apontam que um problema para essa análise é que não
é possível explicar por que motivo o advérbio aqui impede a correferência
entre o sujeito nulo da sentença encaixada e o sujeito da oração matriz, em
construções como (24b), que se opõe a (24a), em termos da ligação
anafórica:

24) a. O Pedroi disse que consertaØi/*j sapato.
b. O Pedro disse que aqui consertaØ*i/j sapato.

Para (24a), as autoras propõem uma análise em que o Agr pronominal de 3ª
pessoa (representado pelo morfema Ø) estabelece concordância com um PRO,
sujeito da oração encaixada, que por sua vez é controlado pelo sujeito da
oração matriz. A mesma análise, entretanto, não pode ser feita para (24b),
em que a interpretação do sujeito do verbo encaixado passa a ser
arbitrária, supostamente em razão da interferência do advérbio aqui.
Alcançamos, portanto, o ponto crucial da análise que pretendemos
desenvolver neste trabalho: o de que está em jogo, nessas construções do
PB, uma interpretação dêitica, que não se pode explicar apenas por meio da
mudança na categoria Pessoa, ainda que essa mudança esteja de fato
ocorrendo. Para desenvolver a relação entre dêixis e pessoa, apresentamos a
seguir a proposta tipológica de Bhat (2004), para a configuração do sistema
pronominal nas línguas naturais.



TIPOLOGIA LINGUÍSTICA: LÍNGUAS DE DUAS OU DE TRÊS PESSOAS


Bhat (2004) argumenta, seguindo Benveniste (1971) e Lyons (1977), que
a classe gramatical tradicionalmente conhecida como 'pronomes' não é
uniforme e abriga elementos de naturezas distintas: de um lado, estão as
formas pronominais que se referem aos indivíduos que participam do ato de
fala e, de outro lado, as formas pronominais que não desempenham essa
função. As primeiras o autor identifica como sendo os pronomes pessoais
propriamente ditos e restringe-as aos pronomes de 1ª e 2ª pessoas do
discurso; as últimas o autor identifica sob o rótulo de proformas, que são
as demais formas pronominais, incluindo os pronomes pessoais de 3ª pessoa,
os demonstrativos, os indefinidos, os interrogativos, etc.
Segundo Bhat (2004), essa distinção entre as formas pronominais é
captada pelas línguas e se revela por meio das diferenças gramaticais que
colocam, de um lado, pronomes pessoais de 1ª e 2ª pessoas e, de outro,
pronomes de 3ª pessoa e demais formas pronominais. Uma dessas diferenças se
refere à tendência, observada nas línguas, de que os pronomes de 1ª e de 2ª
pessoas não apresentem flexão de gênero (como é o caso do português, em que
as formas eu-tu não admitem flexão de gênero, diferentemente do que ocorre
com os pronomes de 3ª pessoa e as demais formas pronominais – ele/ela,
esse/essa, algum/alguma, etc).
Outra propriedade relevante, que demonstra uma afinidade maior entre
pronomes de 3ª pessoa e as demais formas pronominais diz respeito ao fato
de que eles podem ser morfologicamente iguais, ou serem formados por
derivação, uns a partir dos outros. Em (25), encontra-se o exemplo da
língua Lak, falada no oeste caucasiano, adaptado de Bhat (2004), em que a
forma dos pronomes de 3ª pessoa é exatamente a mesma que a dos
demonstrativos, e, em (26), transcrevemos de Bhat (2004) quadro que mostra
a formação dos pronomes de 3ª pessoa por derivação sufixal, por meio da
partícula -kar, a partir das formas demonstrativas na língua austro-
asiática Kharia (família Munda):

25) Lak (língua do oeste caucasiano)
1 na (singular) ˇzu (plural)
2 ina (singular) zu (plural)
3 ta 'aquele' wa 'esse'
kʾa 'that above' ga 'that below'
ma 'that aforementioned'


26) Kharia (língua austro-asiática, da família Munda)

"Demonstrativos "Pronomes de 3ª pes."
"u 'esse' "u-kar "
"ho 'aquele' "ho-kar "
"han 'aquele' "han-kar "


Com base na afinidade entre as formas pronominais de 3ª pessoa e os
demonstrativos, e após analisar 225 línguas, o autor propõe uma distinção
tipológica segundo a qual haveria línguas de duas pessoas (as quais se
caracterizam pela distinção entre pronomes pessoais de 1ª e de 2ª pessoa,
de um lado, e proformas, de outro) e línguas de três pessoas (as quais se
caracterizam pela distinção entre pronomes pessoais de 1ª, 2ª e 3ª pessoas,
de um lado, e proformas, de outro). De acordo com o autor, das línguas
pesquisadas, 126 se apresentaram como línguas de duas pessoas e 99, como
línguas de três pessoas.
Bhat (2004) considera, ainda, a diferença entre formas pronominais
livres e formas pronominais presas (representadas por afixos e clíticos),
mostrando que há uma relação de equivalência entre elas. Segundo o
pesquisador, que adota uma perspectiva descritiva, há línguas em que as
pessoas do discurso são apresentadas na forma de pronomes livres, outras
línguas em que as pessoas do discurso são apresentadas como formas presas,
e línguas com comportamento redundante, em que ocorrem simultaneamente
formas presas e formas livres. Quanto a essa diferença, o autor identifica
a tendência de haver uma correlação entre proeminência de formas
pronominais livres e a possibilidade de variação nas formas pronominais
presas e entre proeminência das formas pronominais presas e a possibilidade
de variação nas formas pronominais livres (que, quando usadas, geralmente
denotam ênfase ou contraste).



PROPOSTA DE ANÁLISE PARA AS CONSTRUÇÕES ESTUDADAS


Como visto na seção anterior, a distinção tipológica proposta por Bhat
(2004) diz respeito, especificamente, ao estatuto da 3ª pessoa gramatical
nas línguas do mundo. Na nossa concepção, de formulação gerativista (de
base minimalista), essa distinção tipológica deve ser captada em termos de
distinções paramétricas, com relação às propriedades formais da morfologia
verbal de 3ª pessoa e à forma como são checados os traços-phi da categoria
Tempo (T).
Em relação à checagem dos traços de T, adotamos Alexiadou &
Anagnostopoulou (1998), que, estudando dois grupos de línguas que se
distinguem por um conjunto de propriedades tais como a possibilidade de
sujeito nulo referencial, a disponibilidade das ordens VSO e VOS, o
estatuto dos sujeitos em ordem SVO, a prsença/ausência de efeitos da
Restrição de Definitude em construções inacusativas e a existência de
alçamento de verbo independentemente de V2, propõem que EPP é
universalmente forte (sendo uma propriedade formal das sentenças, a qual se
relaciona com a interface fonológica – PF), e que o que é parametrizado é a
forma como EPP é checado: por movimento/concatenação (merge) de XP ou por
movimento/concatenação de núcleo (X0).
As autoras argumentam que EPP se relaciona à checagem de um traço
nominal D de Agr (Cf. Chomsky, 1995) e que as línguas podem satisfazer o
EPP via movimento do verbo para T (ou concatenação de V em T), desde que a
morfologia verbal de concordância inclua o traço nominal requisitado para
checagem de EPP. Segundo a proposta das autoras, a morfologia verbal de
concordância das línguas de sujeito nulo contém um elemento nominal, com
traços D e phi, que é capaz de checar o traço EPP de T, tendo, portanto, o
mesmo estatuto que os pronomes em línguas de sujeito preenchido. Esse tipo
de concordância morfológica satifaz o requisito do EPP em T e, por esse
motivo, nessas línguas, a posição de Spec,TP não fica disponível para
sujeitos em línguas de sujeito nulo. Dessa forma, são licenciados sujeitos
pós-verbais, por exemplo.
Em contraposição, há línguas em que EPP tem de ser checado via
movimento, concatenação de um DP em Spec,TP. São línguas em que a
morfologia verbal de concordância não contém um elemento nominal com traço
D e, por isso, satisfazem o requisito do EPP em T por meio da relação
especificador-núcleo. Com relação a esse tipo de línguas, as autoras
apresentam a evidência translinguística de que EPP não precisa ser
satisfeito apenas por sujeitos, podendo ser checado por sintagmas
locativos, como nos dados de inversão locativa do inglês. Esse tipo de
checagem do traço D de EPP por sintagmas que não são sujeitos pode,
inclusive, desencadear concordância em algumas línguas Bantu (cf. Bresnan e
Caverna, 1989, apud Alexiadou e Anagnostopoulou, 1998, p. 520).
Nossa proposta de análise para as construções sintáticas descritas na
seção 2 deste trabalho parte do fato de que a morfologia verbal de terceira
pessoa no português do Brasil, apesar de poder checar os traços phi de T,
não contém o elemento nominal com traço D capaz de satisfazer EPP, ou como
preferimos dizer, não pode checar a referencialidade da sentença. Isso se
deve às mudanças no paradigma flexional dos verbos, que, por sua vez, está
associada às mudanças no paradigma pronominal ocorridas no PB. Dessas
mudanças decorrem duas consequências: (i) necessidade de preenchimento da
posição de sujeito no PB; (ii) aumento das propriedades dêiticas da
morfologia de terceira pessoa. De acordo com a nossa análise, a morfologia
verbal de terceira pessoa no PB está deixando de denotar a referência
especificamente relativa à 3ª pessoa como participante do discurso para
passar a se comportar como proforma, no sentido que Bhat (2004) atribui às
formas pronominais de caráter dêitico.
Trata-se, portanto, de um fenômeno de cisão na categoria pronominal do
PB, que passa a distinguir, de um lado, 1ª e 2ª pessoa, com traço de
referencialidade, e de outro lado, 3ª pessoa, sem traço de
referencialidade. Dessa mudança nos traços formais relativos à terceira
pessoa decorre, segundo o que estamos propondo, o licenciamento, no PB, das
construções descritas na seção 2, as quais revelam que o PB está permitindo
que o traço D, numa proposta como a de Alexiadou & Anagnostopoulou (1998),
ou seja, o traço de referencialidade da sentença, seja satisfeito por
sintagmas não-argumentais ou que não sejam os sujeitos lógicos das
construções (27a-b), ou por elementos nulos ou manifestos, de interpretação
dêitica (27c-d), ou ainda pelo preenchimento da posição de sujeito por um
pronome pleno (27e), como revelam os dados repetidos abaixo:


27) a. Brasília não chove há mais de 90 dias.
b. A Sarinha tá nascendo dente.
c. Morreu Fellini. [Agora/Nesse momento]
d. Ali dormem as meninas.
e. Eu tinha uma empregadai que elai atendia ao telefone e dizia...
(PB/*PE)


Em linhas gerais, a nossa explicação para o licenciamento das
construções acima está relacionada ao fato de o verbo estar flexionado na
terceira pessoa, e não possuir morfologia flexional com traço D, necessário
para satisfazer EPP, ou para checar a referencialidade da sentença. Por
esse motivo, são os elementos pré-verbais, sejam eles tópicos, sujeitos,
nulos ou manifestos, que passam a satisfazer o EPP de T, na língua.
Defendemos a hipótese de que o traço D que satisfaz EPP na 3ª pessoa
em PB deve ser checado como decorrência da relação entre os núcleos
funcionais C e T, considerando-se a proposta de transferência de traços,
conforme proposto em Chomsky (2007, 2008), de modo a explicar a
concordância entre os elementos pré-verbais (mesmo aqueles não-argumentais)
e o verbo em T. Esta proposta se distingue de outras em que se considera a
existência de um T com traços-phi defectivos em PB (cf. Rodrigues, 2004;
Nunes, 2008; entre outros), uma vez que estamos atribuindo às chamadas
construções inovadoras do PB um tratamento em termos do licenciamento da
referencialidade das sentenças. A posição em que os elementos pré-verbais
checam o traço D (de referencialidade) e satisfazem o EPP de T – se em
Spec,TP ou em uma posição alternativa entre C e T (como proposto em Kato &
Duarte 2008a; 2008b) –, e como se dá a relação entre a transferência de
traços e a atribuição de Caso ao sujeito nominativo são questões que
deixamos em aberto e que serão desenvolvidas em trabalho futuro.[10]



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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[1] Professora e pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB);
[email protected].
[2] Professora e pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB);
[email protected].
[3] Para uma revisão crítica das propostas sobre o sujeito nulo do
português, sugerimos a leitura de Rabelo (2010).
[4] Pilati (2006) adapta o teste do controle em expressões adjuntas, de
Galves (1998, p. 28), para constatar a presença do sujeito em sentenças em
que o DP ocorre em posição pós-verbal. O exemplo (i) abaixo, retirado de
Galves, mostra que em (ib) a agramaticalidade da ocorrência do adjunto para
ganhar tempo indica a inexistência de um sujeito subjacente que possa
controlar o sujeito do infinitivo, diferentemente de (ia), em que pode se
inferir que "alguém vai ganhar tempo":
i) a. A revista foi xerocada para ganhar tempo.
b. *A revista xerocou para ganhar tempo.
[5] A exigência do determinante na construção em (10b) – cf. *Tá nascendo
dente da Sarinha – não é relevante para o presente trabalho. A esse
respeito, V. Munhoz (2011), que discute brevemente a questão.
[6] Neste trabalho, não nos posicionamos quanto à nomenclatura
"indefinido", "genérico", "arbitrário". Consideramos que existem diferenças
entre essas categorias semânticas de análise, mas essas diferenças não são
relevantes para a nossa proposta. Sobre as estratégias de impessoalização
do sujeito no PB, V. Negrão & Viotti (2008).
[7] É importante observar que o tipo de construção em (13) distingue o PB
do português europeu, em que a interpretação indeterminada do sujeito só
pode ser obtida com pronome se manifesto: Vende-se frutas. Caso contrário,
a ausência do se produz uma interpretação de sujeito referencial de
terceira pessoa, típica das línguas de sujeito nulo canônicas (cf. Galves,
2001).
[8] No exemplo (21), a categoria vazia é interpretada como o bebê do qual
se falava, ou seja, a informação relacionada ao morfema de terceira pessoa
é recuperada discursivamente.
[9] Observamos que, nessa derivação, há o problema da projeção da
preposição do sintagma locativo em Londres. Pressupondo que a posição final
desse sintagma seja decorrente de movimento, e que não existe a construção
*Tem prédios lindos Londres (com o locativo concatenado sem preposição),
caberia explicar o que acontece com a preposição em, após o movimento do
sintagma locativo.

[10] Entre os motivos que nos levam a considerar a possibilidade de
checagem de traços em uma posição acima de TP está a restrição de
definitude, atestada nas construções de tópico, tal como: Brasília não
chove mais/*Uma cidade não chove mais. A esse respeito, V. Pilati & Naves
(2012).
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