Desenvolvimento Comunitário - \"Empowerment & Advocacy\"

September 4, 2017 | Autor: Monica Mendes | Categoria: Empowerment, Desenvolvimento Comunitário, Empowerment & Advocacy
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Descrição do Produto


Nome: Mónica Mendes
Janeiro/2015

Desenvolvimento Comunitário
Objetivo do trabalho: Sociologia de intervenção e desenvolvimento comunitário, Empowerment e Advocacy, dois conceitos integradores. O objetivo é refletir sobre a importância destes processos, as suas dimensões teóricas e práticas aplicadas para o desenvolvimento comunitário.

O empowerment e advocacy surgem como ferramentas das políticas sociais, nas intervenções por parte do sistema-interventor junto do sistema-cliente ao nível da psicologia, da educação, do desenvolvimento socioeconómico, na reabilitação, na saúde, entre outras áreas de intervenção para potenciar o individuo ou grupo a conseguir ter ou recuperar a sua autonomia. A sua finalidade é a de promover a autoestima e motivação para a mudança no sistema-cliente e ajuda-lo na adaptação aos condicionamentos do meio.
Enquanto sistema-interventor, requer perseverança por parte deste para controlo e não esperar que o sistema-cliente leve o mesmo tempo que outro no passado. Cada caso é um caso, contudo, não se podem deixar levar pelo ritmo do sistema-cliente, pode apresentar-se sem motivação ou enfrentar-se com outras dificuldades que devem ser apontadas previamente no início do programa de intervenção. Há que manter uma ética profissional em que o técnico social deve proteger os direitos do sistema-cliente junto da sua instituição ou mesmo ao nível da sociedade ou ainda informar o sistema-cliente dos seus direitos e deveres, como se pode defender e que organismos se devem dirigir para poderem defender os seus interesses e direitos como cidadãos. É uma questão de justiça social.
Antes de qualquer intervenção, devem ser realizados inquéritos, para averiguar a situação real e para que se obtenha uma melhor qualidade do estudo, com base nas palavras do entrevistado. Um outro inquérito durante e no final do processo ou somente um para análise e relatório final. Neste deve constar a descrição de ações no âmbito das várias fases da intervenção e acompanhamento junto do sistema-cliente, os respetivos pontos observados por ambas as partes, tais como: carências e vulnerabilidades. Nem sempre é possível a deslocação a determinados serviços públicos, como na deslocação a determinados serviços públicos, como por exemplo aos serviços de saúde, delegações bancárias, estabelecimentos de educação e formação, serviços municipais, delegações de finanças, grupos de apoio à empregabilidade, fatores económicos, culturais, mobilidade, entre outros. No relatório final, devem constar as dificuldades sentidas entre sistema-cliente e sistema-interventor, quem procurou quem, durante todo o processo e se o sistema-cliente sentiu dificuldades de comunicação, recetividade por parte do profissional ou não, se as visitas/acompanhamento foi conforme estipulado no inicio ou não e qual o grau de satisfação deste com o serviço prestado. O sistema-interventor relatará igualmente as suas dificuldades, melhorias, se correu conforme previsto ou se foram por "learning-by-doing" (aprendizagem experimental) e respetivas sugestões para melhores resultados numa fase seguinte, quando necessária ou mesmo como estudo para situações de intervenção futuras com outros grupos/comunidades/sistema-cliente. Empowerment é algo que todos os indivíduos têm, embora determinados grupos necessitem ser trabalhados continuamente.1
A abordagem de uma maneira mais consciente do conceito de empowerment remonta aos finais dos anos 70, nos EUA (Estado Unidos da América). Em finais dos anos 80, torna-se visível a aceitação, a implementação do conceito como forma padrão na área das ciências sociais, mais propriamente no desenvolvimento dos profissionais na intervenção social e incentivar uma reflexão contínua da prática desse mesmo serviço. (Adams, 1996; Perkins, Zimmerman, 1995: Pinto,1998).2



Em conformidade com o manual e os documentos consultados, a metodologia do empowerment e advocacy seguem várias orientações e é fundamental que haja uma ligação entre a linha da teoria (estudo) e da prática (intervenção no terreno).
É primordial estabelecer um relacionamento de parceria entre o sistema-interventor e o sistema-cliente, o primeiro deve ter sempre em mente de que o segundo tem direitos e deveres, competências e carências. Na nossa consciência crítica enquanto indivíduos num mundo em constante mutação, evoluir é igualmente ter consciência dos condicionalismos meio/individuo/comunidade/sistema-cliente. Um facto importante no desenvolvimento é a importância da observação crítica construtiva, do diálogo, do encontro e parceria com o sistema-cliente de uma forma regular e transmitir confiança e credibilidade. Usar da perseverança e ética profissional. Citando a pedagogia de Paulo Freire, "Em tempo algum pude ser um observador, acinzentadamente imparcial, o que, porém, jamais me afastou de uma posição rigorosamente ética. Quem observa o faz de um certo ponto de vista, o que não situa o observador em erro. O erro na verdade não é ter um certo ponto de vista, mas absolutizá-lo e desconhecer que, mesmo do acerto do seu ponto de vista é possível que a razão nem sempre esteja com ele." (Freire, 1996:14)
O Empowerment e Advocacy é imprescindível não só como valores, como em termos práticos na ética profissional por parte do sistema-interventor ao nível do serviço social e a um maior controlo de justiça social, em sintonia com o sistema-cliente para que possam existir mudanças coletivas com o processo de intervenção ou corre-se o risco de não passar de uma utopia.
Com base num exemplo contemporâneo, menciono um projeto na área da intervenção comunitária, dirigido e desenvolvido dentro e para o bairro do Armador, na freguesia de Marvila em Lisboa, com o apoio do Programa Parcerias Locais – BIP/ZIP (Bairros e Zonas de Intervenção Prioritária), da Câmara Municipal de Lisboa com um valor de projeto de cerca de Total do Projeto €53000 (cinquenta e três mil euros).3
O Projeto Remix - Intervir e Recriar deu início em 2011/2012 cuja temática preferencial foram "Competências e Empreendedorismo". Teve como entidades promotoras a Associação Entremundos e o Grupo de Teatro Cultural Contra-Senso e como entidade parceira a Junta de Freguesia de Marvila que foi uma grande mais-valia. É muito vantajoso quando existe uma sinergia entre autarquias empreendedoras e entidades promotoras que reúnem a sensibilidade como a mesma visão e ética em prol do desenvolvimento comunitário. Num bairro com mais de 4000 habitantes, onde a insegurança, devido ao consumo e tráfico de drogas e à falta de higiene urbana foram alguns dos fatores que contribuíram para esta iniciativa: A gestão dos espaços públicos e a criação de soluções empreendedoras foram imperativos.
Os objetivos da primeira fase foram: criar corresponsabilidade aos moradores e foi bem-sucedido. Centenas de moradores do bairro colaboraram com iniciativas diversas, na limpeza e manutenção do mesmo: os espaços verdes ganharam cor, as fachadas de prédios foram recuperadas e tudo tornou estes espaços públicos mais atrativos para o bairro. Com as Eco-brigadas, os espaços públicos são zelados e como gratificação e estimulo pelo serviço à comunidade por partes dos seus 200 intervenientes. Foi criado um sistema de incentivos, como bilhetes para eventos culturais e desportivos e assim fomentar o empreendedorismo e a responsabilidade civil. O decorrer de algumas atividades deu lugar ao convívio social. Nomeadamente, um almoço comunitário acompanhado de música.4 A participação ativa por parte da comunidade residente e o universo escolar, foi criado o Eco-teatro.
Outra implementação foi a criação dos Eco-serviços, uma oferta de serviços, em que mediante os conhecimentos e know-how dos diversos indivíduos do bairro, se realizam pequenas reparações ao domicílio, dentro e fora do bairro (uma forma de incentivar os indivíduos a saírem da sua zona de conforto, e conhecer a cidade de Lisboa, fora da freguesia).
No Projeto Remix, a atividade com maior visibilidade, foi na área do empreendedorismo no incentivo à criação do próprio emprego, numa parceria entre designers conceituados em colaboração com o sistema-cliente. Matérias usadas como desperdícios industriais são reciclados e ganham uma nova vida e de uma forma criativa e onde o sistema-cliente ganha autoestima, motivação e num espirito empreendedor comum ao sistema-interventor e sistema-cliente, geram-se novos rendimentos, novos sonhos e objetivos. A Eco-design é a incubadora de design social, onde esta atividade vai para além de criar e transformar objetos, e competências específicas de pessoas que até então estavam sem emprego e sem perspetivas de futuro, conseguiram readquirir rotinas de trabalho, ganharam autorresponsabilização, inspiração e incentivo.
Foi notável a atividade Eco-design, quer ao nível da qualidade das peças concebidas, pela sua produção e preços bem como pela divulgação e eventos na sua promoção que obteve um impacto maior do que esperado. Os beneficiários muitas das vezes acompanhavam o coordenador do projeto, Ângelo Campota, a eventos em diferentes áreas e essa sinergia/parceria foi fundamental. Graças ao tamanho dinamismo e sucesso, o projeto conta com cerca de 20 pontos de venda a nível nacional e atende encomendas do estrangeiro.
Foi ainda atribuído um prémio POPS (Projetos Originais Portugueses) pela Fundação de Serralves. "Está inclusive em curso neste momento, através do alargamento da intervenção a outros bairros da cidade de Lisboa."5
Existem tantos outros projetos de excelência em Portugal contemporâneo e projetos históricos ao nível mundial com uma dimensão muito maior, porém não poderia deixar de eleger este como um exemplo, pela sua criatividade, empreendedorismo e excelência dos respetivos promotores e parceiros, assim como pela satisfação por parte do sistema-cliente.
Tive o privilégio de conhecer este projeto na sua primeira fase observando o seu crescimento, pelo que posso afirmar que testemunhei o sorriso sincero e a satisfação nas palavras dos beneficiários, assim como o empenho dos seus intervenientes. A excelência na organização e atenção ao pormenor na primeira exposição, primaram na fase I do projeto que acabei de descrever de forma sucinta. Merecendo a consideração e reconhecimento de ter sido aprovada a fase II do projeto Remix 2.6, desenvolvido numa freguesia com alma empreendedora na sua multiculturalidade.
"Marvila é uma responsabilidade de todos" Jorge Máximo.7 A máxima que na minha modesta opinião, marca pela positiva, a todos que passámos pela experiência de trabalhar na freguesia. Considero o bairro do Armador, uma zona tranquila, onde é visível o desemprego e a existência de talentos naturais em áreas como às artes de rua, dança, música e artes plásticas.
Nunca presenciei quaisquer conflitos entre indivíduos e o comércio local, bem como os seus habitantes são amistosos. Uma experiência muito enriquecedora a nível pessoal e profissional.
Lamentável o estigma que impede muitos jovens de arranjar emprego fora da freguesia por ali viverem e é graças a estes e outros projetos, numa freguesia empreendedora que se vão mudando mentalidades e construindo maior justiça social.









Bibliografia e fontes consultadas:
1 e 2 - Pinto, Carla. 2011. Representações e práticas do Empowerment nos trabalhadores sociais. Lisboa. ISCSP. URL: https://www.repository.utl.pt/bitstream/10400.5/4230/4/tese_doutoramento%20doc%20definitivo%2020fev.pdf
3 a 6 - file:
http://jf-marvila.pt/index.php/noticias/126-geral/506-projeto-remix-vai-reabilitar-o-bairro-do-armador, http://susanaantonio.com/post/4806090638/remix, http://www.ces.uc.pt/projectos/pis/?boas_praticas=projecto-remix-2-0,
http://projectoremix.com/maqueta/,
http://jf-marvila.pt/index.php/sociedade-civil-e-desenvolvimento-economico/424-projecto-remix, http://portugaldesign.org/2014/07/17/projecto-remix,
http://habitacao.cm lisboa.pt/documentos/1346418732L8kBL7rn2Nm26KJ9.pdf
7 - Jorge Máximo – Secretário e responsável pelo pelouro Sociedade e Economia – Junta de Freguesia de Marvila, atual vereador da Camara Municipal de Lisboa https://pt.linkedin.com/in/jorgemaximo
Manual adotado: Carmo, Hermano. 2007. Desenvolvimento Comunitário. Lisboa. Universidade Aberta. pp. 168-171;
Fazenda, Isabel. s.d. Empowerment e Participação, uma estratégia de mudança. Centro Português de Investigação e História e Trabalho Social. URL: http://www.cpihts.com/PDF/EMPOWERMENT.pdf


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