Desenvolvimento e Implementação de um Sistema de Registro e Acompanhamento de Leishmanioses Humanas em Santa Catarina

July 10, 2017 | Autor: Glauber Wagner | Categoria: DATABASE MANAGEMENT SYSTEM, Santa Catarina, Web Based System, Web Interface
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Desenvolvimento e Implementação de um Sistema de Registro e Acompanhamento de Leishmanioses Humanas em Santa Catarina José Roberto Langer Junior1, Diogo Antonio Tschoeke2, Glauber Wagner3, Igor Ostinowsky Burattini4, Henrique César Lemos Jucá5, Mário Steindel6, Edmundo Carlos Grisard7 1, 2, 3, 4, 5, 7

Laboratório de Bioinformática, UFSC, Florianópolis, SC, Brasil. Laboratório de Protozoologia, UFSC, Florianópolis, SC, Brasil. 5 Instituto Oswaldo Cruz - FIOCRUZ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

6, 7

Resumo - Este artigo apresenta a proposta do desenvolvimento e implementação de um sistema de registro e acompanhamento dos casos de leishmaniose no Estado de Santa Catarina, que será composto de um banco de dados desenvolvido utilizando o Sistema de Gerenciamento de Banco de Dados MySQL, além de uma interface de acesso disponível via web escrita nas linguagens HTML e PHP. Palavras-chave: Leishmaniose, Banco de dados, MySQL, PHP, Epidemiologia, Web. Abstract – The present article presents the proposes for development and implementation of a web-based system for human leishmaniasis epidemiological follow-up in the Santa Catarina State. The system will be composed by a database, developed using the DataBase Management System MySQL, along with a web interface in HTML and PHP. Key-words: Leishmaniasis, Database, MySQL, PHP, Epidemiology, Web. Introdução A leishmaniose é uma doença causada por um protozoário do gênero Leishmania [1]. Os hospedeiros vertebrados incluem grande variedade de mamíferos, entre eles, o homem [2], e são identificados como hospedeiros invertebrados e vetores exclusivamente fêmeas da Família Psychodidae, Subfamília Phlebotominae, popularmente conhecidos como flebotomíneos [3]. Existem diferentes formas da doença: a tegumentar ou cutânea, também chamada de leishmaniose tegumentar americana (LTA), que afeta a pele; a cutâneo-mucosa e a visceral ou calazar, que atinge os órgãos internos. As formas tegumentares da doença manifestam-se de diversas formas. Na forma cutânea, caracterizada por lesões ulcerosas, indolores, únicas ou múltiplas, geralmente localizadas nas partes expostas do corpo como no rosto, braços e pernas. Na forma cutâneo-mucosa, que apresenta lesões mucosas agressivas que afetam a região nasofaríngea e podem levar à destruição parcial ou total das mucosas do nariz, boca, garganta e dos tecidos adjacentes. Na forma disseminada, apresentando múltiplas úlceras cutâneas por disseminação hematogênica ou linfática e finalmente, na forma difusa com lesões nodulares não-ulceradas. A outra forma existente de leishmaniose, a visceral ou calazar, caracteriza-se por ser uma

doença crônica, grave e de alta letalidade se não for tratada. Apresenta aspectos clínicos e epidemiológicos diversos e característicos para cada região onde ocorre, sendo os sinais sistêmicos típicos: febre intermitente; palidez de mucosas; esplenomegalia associada ou não à hepatomegalia; anemia e perda substancial de peso com enfraquecimento geral do hospedeiro [4]. As leishmanioses constituem uma parasitose de grande importância sócio-econômica, afetando cerca de 12 milhões de pessoas em todo mundo, com aproximadamente dois milhões de novos casos anuais e 350 milhões de indivíduos vivendo em áreas de risco de transmissão [3]. Dessa forma, constituem um crescente problema de saúde pública, não somente no Brasil, onde é considerada uma das endemias de interesse prioritário, como em grande parte dos continentes americano, europeu, asiático e africano. Sua importância levou a Organização Mundial de Saúde (OMS) a incluí-la entre as seis doenças consideradas prioritárias no programa de controle da referida instituição [5]. O aumento na incidência da leishmaniose no mundo pode estar associado com a urbanização, a devastação das florestas, as mudanças ambientais e a migração de pessoas para áreas endêmicas [6]. No Brasil a incidência da parasitose cresce com o passar dos anos, tanto em áreas rurais e florestais, quanto em áreas urbanas [7], e estima-se que esteja em 35.000 à 50.000 casos por ano [8]. A grande variabilidade das formas

clínicas da doença, aliada a um elevado número de espécies de parasitos causadores da moléstia, torna difícil o diagnóstico clínico e laboratorial. Não é fácil avaliar a importância da doença no Brasil, mas pelos dados de notificação disponíveis, observa-se que a mesma encontra-se em franco processo de crescimento, tanto em magnitude quanto em expansão demográfica [5]. No Estado de Santa Catarina, desde o ano de 1990, quando um foco autóctone de transmissão de leishmaniose cutânea foi detectado na região oeste nos Municípios de Quilombo e Coronel Freitas [9], inúmeros casos importados e autóctones da doença vem sendo registrados. Em 1996 registrou-se um caso autóctone de leishmaniose no Município de Chapecó e, do final de 1997 até 2000 novos casos foram registrados nos Municípios de Piçarras, Blumenau e Luís Alves na região nordeste do Estado de Santa Catarina [10]. No período de 1993 a 2004 foram registrados 86 casos de LTA em Santa Catarina, dos quais, 15 casos autóctones provenientes de Piçarras [11]. Recentemente um novo surto da doença vem ocorrendo em vários municípios do Estado (Balneário Camboriú, Itapema, Aurora, Luis Alves, Blumenau e Itajaí) onde foram registrados mais de 50 casos autóctones no ano de 2005 [12, 13]. A ocorrência de novos focos autóctones de transmissão, bem como o número crescente de casos importados de leishmaniose cutânea em todas as mesoregiões do Estado de Santa Catarina reveste-se de grande importância médica, social e econômica. Em colaboração com a FNS, o Laboratório de Protozoologia da UFSC vem realizando nos últimos anos o diagnóstico sorológico e parasitológico de leishmaniose no Estado de Santa Catarina, sendo responsável ainda pela orientação do tratamento da leishmaniose tegumentar. Recentemente, a Secretaria de Estado da Saúde do Estado de Santa Catarina reconheceu oficialmente o Laboratório de Protozoologia da UFSC como laboratório estadual de referência no diagnóstico desta parasitose (Portaria 754/2001 – SES/SC). Em 1975, a lei que instituiu o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica também exigiu a notificação compulsória de algumas doenças, entre elas a Leishmaniose. Como conseqüência disso e visando suprir necessidades de geração de informação, diversos sistemas paralelos foram criados nos diferentes níveis, incluindo o nacional [14]. O SINAN é um desses sistemas e é alimentado, principalmente, pela notificação e investigação de casos de doenças e agravos que constam da lista nacional de doenças de notificação compulsória (Portaria GM/MS Nº. 2325 de 08 de dezembro de 2003). Entretanto, mesmo com a

implantação deste sistema, ainda ocorrem casos de sub-notificação e falta de informações específicas de casos pela sub-utilização do mesmo. Levando-se em consideração a importância médica, social e econômica desta doença, associada às deficiências apresentadas na alimentação do SINAN o presente artigo propõe a criação um sistema de registro e acompanhamento estadual, contendo resultados de diagnóstico, tratamento e dados epidemiológicos da parasitose no Estado. A implementação deste sistema traria uma melhora significativa no atendimento e na qualidade dos serviços prestados à comunidade, reduzindo-se custos e agilizando o diagnóstico de leishmaniose em Santa Catarina. Além disso, esta implementação poderia fornecer subsídios para um mapeamento epidemiológico da leishmaniose no Estado, direcionando ações de controle dos focos de transmissão ativa e possibilitando compreender as características epidemiológicas desta doença. Ainda, o sistema proposto pelo presente artigo poderia também, servir como base para a alimentação dos dados referentes à Leishmaniose do Estado no SINAN, evitando problemas de subnotificação ou notificação incompleta, já que os dados referentes a cada caso estariam reunidos num mesmo local, além de terem sido armazenados por profissionais qualificados. Metodologia O banco de dados proposto neste artigo será criado utilizando a linguagem SQL (Structured Query Language) através do Sistema de Gerenciamento de Banco de Dados (SGBD) MySQL, que é um dos servidores de banco de dados SQL mais populares no mundo atualmente [15]. Este sistema possui diversas características que o qualificam para o desenvolvimento do banco de dados do presente projeto. Primeiramente, ele trabalha com bancos de dados relacionais, sendo mais rápidas as submissões e consultas de dados; é flexível às necessidades do usuário; oferece suporte a plataforma Linux, que é a utilizada atualmente no Laboratório de Bioinformática da UFSC e nos servidores onde o banco ficará hospedado depois de pronto; apresenta bom desempenho, estabilidade e segurança quando trabalha com quantidades pequenas de dados, o que é o caso do sistema proposto. Além disso, é um sistema de uso livre para aplicações não comerciais e de código aberto. E finalmente, é compatível com PHP, outra linguagem de programação que será utilizada na execução do projeto [15]. A página web de acesso ao banco de dados será programada utilizando as linguagens PHP e HTML. Formulários HTML são bastante populares e muito utilizado na criação de páginas da web, sendo este utilizado para criar a interface de comunicação

com o usuário / sistema. O PHP é um tipo de linguagem que pode ser facilemente inserido no formulário HTML e desempenhando bem a comunicação entre o sistema e o banco de dado, assim sendo, ideal para a proposta do presente projeto [16]. Para evitar casos de sub-notificação ou notificação incompleta, será exigido o preenchimento obrigatório de determinados campos, informações mais relevantes, como por exemplo, origem do caso, resultado dos exames, entre outras características epidemiologicamente importantes. No momento da submisão do dados referentes a um determinado caso, será gerado um identificador, sendo este enviado junto com o material coletado para ser examinado no Laboratório de Protozoologia da UFSC. Desta maneira, todos os pacientes que tenham seu diagnóstico realizado pelo Laboratório de Protozoologia, terão seu caso registrado no banco de dados do presente projeto, bem como a garantia de sigilo médico ao paciente. A segurança do banco será feita com um sistema de autenticação de usuários e senhas com diferentes níveis de acesso, assim, diferentes categorias de usuários (médicos, funcionários das Regionais de Saúde e pesquisadores do Laboratório de Protozoologia) poderão ter acesso restrito à leitura ou à inserção de dados em diferentes setores do banco. Paralelamente ao desenvolvimento do projeto, será criado um manual para o uso do sistema, que trará instruções simples relacionadas à utilização da página da web e do banco de dados; bem como, uma documentação completa do sistema, que trará detalhes sobre o planejamento, estrutura e construção do mesmo, facilitando assim, futuras modificações como: melhorias, adaptações e flexibilizações do sistema. Resultados O banco de dados está sendo construído baseado em uma estrutura principal de quatro tabelas, sendo elas: 'usuários', 'dados_pessoais', 'dados_epidemiológicos' e 'dados_clínicos'. A primeira tabela contém as informações de acesso ao banco, e é usada em conjunto com o sistema de autenticação de usuários/senhas da plataforma, isto determina os privilégios de cada usuário. Desta maneira podemos determinar que grupos de usuários podem ter acesso apenas a leitura dos dados contidos no banco e quais podem inserir dados e em quais campos, garantindo assim a segurança e confiabilidade do sistema. A tabela 'dados_pessoais' contém informações gerais sobre o paciente, como: nome, endereço, telefones para contato, entre outros. A tabela 'dados_epidemiológicos' contém as informações relevantes sobre a epidemiologia de

cada caso, como: dados sobre viagens realizadas recentemente, hábitos do paciente e origem do caso. A última tabela guarda as informações clínicas e de diagnóstico do paciente, entre elas, informações sobre características e local das lesões, observações médicas, evolução do caso após o tratamento, exames realizados e diagnostico. A página que será utilizada para entrada de dados no banco é um formulário eletrônico simples e direto, que traz diversas questões sobre o caso, sempre de maneira a facilitar o preenchimento e evitar erros, para tanto são utilizados campos de entrada de dados de texto, onde serão preenchidos dados como nomes, endereços, números de telefone; campos do tipo checkbox ou ‘caixa de seleção’ que permitem que o usuário escolha uma ou mais alternativas apresentadas e ainda menus dropdown que quando selecionados oferecem ao usuário uma lista com opções para que o mesmo escolha uma destas. De acordo com o tipo de usuário que estiver acessando o banco, os campos podem estar abertos ou não para entrada de dados. No caso dos funcionários das Regionais de Saúde de Santa Catarina o acesso oferecido é apenas para leitura dos casos com todos os dados disponíveis. Já os médicos terão acesso igualmente à leitura de todos os dados e também poderão inserir dados nos campos de dados clínicos, enquanto a equipe do laboratório de Protozoologia da UFSC tem acesso total tanto à escrita quanto leitura no banco. Quando a versão final do banco estiver pronta e em funcionamento serão incluídas ferramentas para geração de relatórios dos dados contidos no banco de acordo com as necessidades do laboratório, além de uma ferramenta que deverá gerar um resultado dos exames feitos pelo laboratório para impressão por parte do médico, evitando assim a necessidade de envio dos mesmos. Atualmente o banco está sendo alimentado com dados de casos retroativos, existentes no laboratório de protozoologia para testar seu funcionamento no estagio atual de desenvolvimento e implementar os ajustes necessários. Referências 1. Pupo Nogueira Neto, J., Basso, G., Cipoli, A. P., El Kadre, L. (1998), "American cutaneous leishmaniasis in the State of São Paulo, Brazil epidemiology in transformation", Ann Agric Environ Med, v.5(1), p.1-5. 2. Neves, D. P. (2005), Parasitologia Humana, Atheneu.

3. WHO. World Health Oranization. 2000 acessado em 18/03/2006; Disponível em: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs116/en/ 4. Ramos, E. S. M., De Moura Castro Jacques, C. (2002), "Leishmaniasis and other dermatozoonoses in Brazil", Clin Dermatol, v.20(2), p.122-34. 5. Costa, J. M. L. (2005), "Epidemiologia das Leishmanioses no Brasil", Gazeta Médica da Bahia, (75), p.3-17. 6. Patz, J. A., Graczyk, T. K., Geller, N., Vittor, A. Y. (2000), "Effects of environmental change on emerging parasitic diseases", Int J Parasitol, v.30(12-13), p.1395-405. 7. Momen, H. (1998), "Emerging infectious diseases - Brazil", Emerg Infect Dis, v.4(1), p.1-3. 8. Gontijo, B., Carvalho, M. d. L. R. d. (2003), "Leishmaniose tegumentar americana", Rev Soc Bras Med Trop, v.36p.71-80. 9. São Thiago Pde, T., Guida, U. (1990), "Cutaneous leishmaniasis in the Western region of the State of Santa Catarina, Brazil", Rev Soc Bras Med Trop, v.23(4), p.201-3. 10. Grisard, E. C., Steindel, M., Shaw, J. J., Ishikawa, E. A., Carvalho-Pinto, C. J., EgerMangrich, I., Toma, H. K., Lima, J. H., Romanha, A. J., Campbell, D. A. (2000), "Characterization of Leishmania sp. strains isolated from autochthonous cases of human cutaneous leishmaniasis in Santa Catarina State, southern Brazil", Acta Trop, v.74(1), p.89-93. 11. Machado, P. E. Comparação dos métodos parasitológico, imunológico e molecular na detecção de Leishmania spp em amostras de pacientes com Leishmaniose Tegumentar Americana no Estado de Santa Catarina: Universidade Federal de Santa Catarina; 2004. 12. Eger-Mangrich, I., Scholl, D., Grisard, E. C., Steindel, M. Levantamento clínico epidemiológico dos casos de leishmaniose tegumentar americana diagnosticados no Estado de Santa Catarina no período de 2003 a 2005. Reunião de Pesquisa Aplicada em Doença de Chagas e Leishmanioses; 2005; Uberaba, MG; 2005. 13. Rossetto, A. L., Eger-Mangrich, I., Fayad, L., Machado, D. S. B., Specht, C. M., Moraes, M. A., Steindel, M., Grisard, E. C., Scholl, D., Mora, J. M., Mattos, M. S., Quintella, L. P. (2006), "Leishmaniose Tegumentar Americana: Estudo Clínico e Epidemiológico de 50 casos Autóctones no Vale do Itajaí, SC", Rev Soc Bras Med Trop, v.39(Suplemento I), p.134. 14. MS. Ministério da Saúde. 2006 acessado em 04/04/2006; Disponível em: http://dtr2001.saude.gov.br/svs/pub/GVE/PDF/GVE0 300.pdf 15. MySQL. MySQL AB. 2006 acessado em 20/03/2006; Disponível em: http://dev.mysql.com/doc/

16. PHP. Hypertext Preprocessor. 2006 acessado em 20/02/2006; Disponível em: http://www.php.net/manual/pt_BR/ Contato Dr. Edmundo Carlos Grisard Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Departamento de Microbiologia e Parasitologia (MIP) Centro de Ciências Biológicas (CCB) Caixa Postal 476, Trindade, Florianópolis, SC. Cep: 88040-900 Fone: (48) 3331-5058 e-mail: [email protected]

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