DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA POSIÇÃO DA IASD ACERCA DA NATUREZA HUMANA DE CRISTO

July 18, 2017 | Autor: Ismael Chagas | Categoria: Theology, Christology
Share Embed


Descrição do Produto



"Fundamental Principles of Seventh-day Adventist", em Seventh-day Adventist Year Book of Statistics of 1889 (Battle Creek, MI: Review & Herald, 1889), 147; reimpresso em "Fundamental Principles of Seventh-day Adventist", Word of Truth Series, No. 5 – Extra (Julio 1897), 1-2.


2 DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA POSIÇÃO OFICIAL DA IASD ACERCA A DA NATUREZA HUMANA DE CRISTO

2.1 DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO SOBRE A NATUREZA HUMANA DE CRISTO
A origem da controvérsia sobre a natureza humana de Cristo parece ter surgido já no primeiro século. "Havia falsos ensinos que procediam diretamente de um intento dentro da Igreja de alinhar o cristianismo com o gnosticismo (BARCLAY, 1983, p. 10)" e partido de tal pressuposição, toda verdadeira encarnação é impossível, porque segundo o gnosticismo o espírito é bom, e a matéria totalmente mal. Segundo esse ponto de vista é impossível que Deus tenha assumido jamais a carne humana, pois ela é má. Talvez seja conta esse tipo de heresias que escreve João, "que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus." (1 João 4:2-3).
Na igreja primitiva, a natureza humana de Cristo assumiu modalidades diferente: em sua forma mais radical, o docetismo, palavra derivada do verbo grego dokein que "significa parecer, trazendo assim idéia de que Jesus só pareceu ter um corpo", insistindo que Jesus nunca tinha tido carne e um corpo humano físico, pois por tal definição, o corpo é matéria e a matéria é má (BARCLAY, 1983, p. 10, 11). Contudo, esses pensamentos já haviam se consolidado em duas escolas: "as cristologias antioquinas e alexandrinas, respectivamente". De fato, essas duas escolas cristológicas estavam no centro dos principais debates sobre a natureza de Cristo. De um lado a escola de Antioquia, Síria que, provavelmente, foi influenciada pela mentalidade judaica, e nessa mentalidade a natureza humana de Cristo era super enfatizada, de maneira tal, que a se negava a sua divindade. Por outro lado, a cristologia alexandrina, que se originou em Alexandria, enfatizava exageradamente a divindade de Jesus a ponto de obscurecer a distinção entre a divindade e a humanidade (Dokor, 2008, p. 20).
Em 319, um sério problema ameaçava a Igreja. Em Alexandria, um presbítero líbio, Ário (256-336), começou a ensinar uma nova doutrina que contradizia as crenças ortodoxas sobre o que viria a ser defenido como a Trindade: a relação entre Deus, Jesus e o Espírito Santo.
Ário proclamava: "Se o Pai gerou o Filho, então aquele que foi gerado teve um princípio na existência, e daí se conclui que houve um tempo em que o Filho não era". Em outras palavras, Ário negava a verdadeira divindade de Cristo, alegando que Deus criou Cristo do nada. O bispo de Alexandria tentou silenciar o padre, que acabou sendo forçado ao exílio por sua doutrina subversiva. Os que apoiavam os argumentos de Ário e os que permaneceriam ortodoxos se tornaram inimigos ferozes; registros da época contam que freqüentemente corria sangue. O cristianismo estava plantando as sementes da divisão. O ponto de vista de Ário foi rejeitado pela igreja no Concílio Ecumênico (325 d.C.) na cidade de Nicéia.
"Nós cremos em um Deus Pai, Todo-Poderoso, Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis. E em só Senhor Jesus Cristo o Filho de Deus, gerado do Pai, Filho Unigênito, isto é, da natureza do Pai, Deus de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus do Deus verdadeiro; gerado, não criado, da mesma substância do Pai (homoousion); através de quem todas as coisas foram criadas, nos Céus e na Terra;que por nós homens e para nossa salvação desceu e Se fez carne; feito homem, sofreu, e ressucitou ao terceiro dia, ascendeu aos Céus, e virá para julgar os vivos e os mortos. Mas aqueles que dizem que 'houve um tempo em que Ele não era', e que 'antes de ser gerado Ele não era', e que 'Ele veio a ser das coisas que não eram', ou discutem que o Filho de Deus é uma substância ou essência diferente, ou que foi criado, ou (moralmente) alterável ou mutável – a esses a Igreja Católica excomunga."



2.2 DESENVOLVIMENTO HITÓRICO DA DOUTRINA REFERENTE A NATUREZA HUMANA DE CRISTO (1844 – 1950)
Quando se faz um análise sobre o adventismo histórico, percebe-se que na medida em que transcorria o tempo, breves declarações sobre a natureza humana de Cristo começavam a aparecer aqui e ali na literatura dos ASD. Porém, só em 1872, os ASD publicaram uma das primeira e mais representativa declaração de crenças anônimas, e sem comprometimento, pois temiam que isso formalizasse a igreja, e se tornassem espiritualmente sem vida, como vimos anteriormente. Ela então apareceu na Declaration of the Fundamental Principles Taught and Practiced by tha Seventh-day Adventist [Declarações dos princípios fundamentais ensinados e praticados pelos ASD], que diz o seguinte:
"Que há um Senhor Jesus Cristo, o filho do Pai Eterno, aquele por quem Deus criou por todas as coisas, e por que elas consistem; que ele levou sobre si a natureza da semente de Abraão para a redenção de nossa raça caída; que ele habitou entre os homens cheio de graça e de verdade, viveu nosso exemplo, morreu como nosso sacrifício, foi justificado para nossa justificação, ascendeu ao alto para ser nosso único mediador no santuário celestial, onde, com seu próprio sangue faz expiação pelos nossos pecados; cuja expiação feita na cruz, como oferta de sacrifício, é a sua obra como sacerdócio levítico, o qual simbolizava e prefigurava o ministério de nosso Senhor no céu". Ver Lev. 16; Heb. 8:4, 5: 9:6, 7; etc. Singns of the Times, 4 de junho de 1872.
Essa declaração foi ampliada, e amadurecida através dos anos em intensos encontros onde a participação, oração e estudo das Escrituras determinavam, não apenas ampliação da crença em questão, mas também, o seu corpo de doutrinas bíblicas. E é interessante notar que todas essas reuniões era feitas levando-se em consideração o recebimento progressivo de luz provinda da Bíblia como expressa em Provérbios 4:18 que diz: "A verdade do justo é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito". Foi dentro dessa compreensão progressiva da luz da Bíblia que a própria Ellen White escreveu em 1890, a seguinte declaração: "Possuímos os vislumbres dos raios de luz que nos há de vir ainda." (White, 1994, p. 343). E ainda na mesma época, ela preveniu a igreja contra a idéia de acha que já tinha alcançado toda luz acerca de determinada doutrina: "Jamais alcançaremos um período em que não haja para nós acréscimo de luz." (White, 1994, p. 401). Isso se tornou mais evidente depois da ampliação feita no "Fundamental Principles Seventh-day Adventist." [Princípios fundamentais dos ASD] que diz o seguinte:
"Que há um Senhor Jesus Cristo, o filho do Pai Eterno, aquele por quem fora criado todas as coisas, e por que elas consistem; que ele levou sobre si a natureza da semente de Abraão para a redenção de nossa raça caída; que habitou entre os homens cheio de graça e de verdade, viveu nosso exemplo, morreu como nosso sacrifício, foi ressuscitado para nossa justificação, ascendeu ao alto para ser nosso único mediador no santuário celestial, onde, e através dos méritos de seu sangue derramado assegura o perdão e cancelamento dos pecados de todos que penitentemente se achegam a ele; e como parte concludente de sua obra como sacerdote, ante de assumir o trono como rei, fará principal expiação pelos pecados de todos, e os pecados serão rascunhos (Heb. 3:19) e eliminados do santuário, como é mostrado no serviço do sacerdócio levítico, o qual simbolizava e prefigurava o ministério de nosso Senhor no céu". Ver Lev. 16; Heb. 8:4, 5: 9:6, 7; etc.
Em ambas as declarações dos ASD, mencionadas anteriormente, a natureza humana de Cristo durante a encarnação foi abordada só em aspectos gerais e concisos. Por exemplo, na frase que diz: "Ele carregou sobre si a natureza da semente de Abraão para a redenção de nossa raça caída; que habitou entre os homens cheio de graça e de verdade, viveu nosso exemplo...", deixa claro que o assunto não está sendo abordado em minuciosos detalhes. Isso revela que, embora eles tivessem, a princípio, uma determinada compreensão acerca de uma doutrina, eles não encerravam ou limitavam a compreensão apenas acerca daquilo que eles haviam descobertos, mas deixavam a questão aberta para ser ampliada, caso algum outro membro ou líder se empenhasse a pesquisar sobre aquele assunto, até porque eles aceitavam a Bíblia como seu único credo, sendo que a nova luz descoberta, por qualquer que fosse o membro, provinha exclusivamente da Bíblia, ela era analisada com oração e estudo diligente, até que todos chegasse a um consenso acerca da nova luz.
*Segundo Alberto Tim no artigo: "Cristologia Adventista do Sétimo Dia, 1844-2009 Um Breve Panorama Histórico, ele conclui que as declarações dos "Princípios fundamentais (1872 e 1889) abordam mais a obra soteriologica de Cristo do que sua natureza divino-humana". Isso revela-nos que a intenção primária dos pioneiros, nesse período, não era de fazer declarações diretamente voltadas para a encarnação, isto é, em seus aspectos mais minuciosos da natureza humana de Cristo, até porque as questões que eram discutidas nesse período tinham que ver com o porquê do não aparecimento de Cristo. Isso nos leva a crê que nesse período, a ênfase estava muito mais voltada para o escatologia e soteriologia do que a cristologia propriamente dita. Se por um lado "no contexto do movimento milerita, em 1844 nasce o movimento Adventista do Sétimo Dia" (WEBSTER, 1984, p. 33), e, segundo George Knight (2005, p. 31), "Tiago White e José Bates, dois dentre os três principais líderes do recente movimento, eram membros da Conexão Cristã, e, conseqüentemente, ambos eram antitrinitarianos". Além deles, Ellen G. White foi a terceira pessoa dentre os principais líderes do movimento adventista, e, esta cresceu na igreja Metodista Episcopal (KNIGHT, 2005, p. 31). E, com isso, fica evidente que em seus primórdios, a igreja adventista foi composta por líderes que divergiam em alguns pontos doutrinários, por terem sido membros de diferentes religiões – "metodistas, presbiterianos, conexão cristã, etc." (SILVA, 2009, p. 11). "Somente depois de décadas de estudo das Escrituras, as doutrinas que eram alvo de divergências foram se tornando consenso e puderam ser consideradas como crenças oficiais da igreja." Por outro lado, ainda que mesmo que os pioneiros quisessem se referir ao assunto em questão, "nem sempre as idéias outrora trazidas de suas antigas denominações, ou ênfases mantidas por décadas, eram corretas ou compreendiam toda luz sobre o assunto." (SILVA, 2009, p. 16).
Alguns dos primeiros teólogos adventistas, tais como: Ellet. J. Waggoner, A. T. Jone, William Prescott, com exceção de Ellen White, tinham uma interpretação da natureza humana de Cristo que não refletia a posição mais amplamente aceita em geral pela igreja. Eles representavam uma pequena minoria da igreja que defendiam equivocadamente que (1) Cristo foi criado por Deus o Pai, pelo menos provindo dele em algum momento da eternidade; (2) na encarnação Cristo assumiu a natureza caída exatamente como a nossa, com tendência ao pecado; e (3) na cruz do calvário, a natureza divina de Cristo morreu juntamente com a sua natureza humana. Alguns dessas teorias foram publicados em 1898, e outros vieram a tona depois disso. "Embora se saiba que tal posição juntamente com outras não foi alvo de posicionamento oficial da igreja e que estas, desde a época dos pioneiros, não legislou sobre esse detalhe, mas o conjunto de textos bíblicos e do Espírito de Profecia." (SILVA, 2009, p. 41). Mais tarde, essas idéias seriam corrigidas por meio da influencia de Ellen White.
Contudo, muito antes dessas declarações surgirem, em 1875, Ellen White tinha escrito, não apenas, sobre o perigo de tais declarações, mas, também, sobre os riscos que a igreja correria se tão somente confiasse na maneira de pensar e na opinião de um homem, e ainda endossou uma possível ordem eclesiástica:
A Igreja de Cristo está em perigo constante. Satanás está a tentar destruir o povo de Deus, e não podemos confiar na maneira de pensar e na opinião de um só homem. Cristo deseja que os Seus seguidores se unam no âmbito da igreja, observando a ordem, tendo regras e disciplina, e todos sujeitos uns aos outros, considerando os outros melhores que eles próprios. (White, 1994, p. 443).
Em 1931 foi publicada uma nova declaração das "Crenças fundamentais dos Adventistas do Sétimo Dia":
"Que Jesus Cristo é o próprio Deus, sendo da mesma natureza e essência que o Pai eterno. Todavia, quando manteve sua natureza divina, Ele tomou sobre si a natureza da família humana, viveu sobre a terra como um homem, exemplificou em sua vida os princípios da justiça como nosso exemplo, certificou sua relação com Deus por meio de vários milagres poderosos, morreu sobre a cruz por nossos pecados, foi ressuscitado dentre os mortos, e ascendeu ao Pai, onde vive sempre para interceder por nós. Jo. 1:1, 14; Heb. 2:9-18; 8:1, 2; 4:14-16; 7:25.
Se uma declaração oficial de crenças tivesse que ser adotada, a igreja achou por bem que ela deveria ser discutida e votada por direito pela sessão da Conferência Geral da IASD. Contudo, foi na Seção da Associação Geral, em Dallas, Texas – 1980, que foi aprovada uma nova declaração oficial das "Crenças Fundamental dos Adventistas do Sétimo Dia". Esse documento é um marco no desenrolar da Teologia Adventista, especialmente por se tratar da mais alta autoridade abaixo de Deus entre os ASD, isto é, "a vontade do corpo desse povo, expresso nas decisões da Assembléia Geral quando atuando dentro da jurisdição apropriada; e que todos, sem exceção, foram submetidos as decisões, a não ser que se possa provar que estejam em desacordo com a Palavra de Deus e o direito individual de consciência". (MANUAL, 2006, p. 28).
Deus, o Filho Eterno, encarnou-Se em Jesus Cristo. Por meio dEle foram criado todas coisas, é revelado o caráter de Deus, efetuada a salvação da humanidade, e julga o mundo inteiro. Sendo para sempre verdadeiramente Deus, Ele tornou-Se verdadeiramente homem, Jesus, O Cristo. Foi concebido do Espírito Santo e nasceu da virgem Maria. Viveu e experimentou a tentação como ser humano, mas exemplificou perfeitamente a justiça e o amor de Deus. Pelos Seus milagres manifestou o poder de Deus e atestou que era o Messias prometido por Deus. Sofreu e morreu voluntariamente na cruz pelos nossos pecados e em nosso lugar, foi ressuscitado dentre os mortos e ascendeu para ministrar no santuário celestial em nosso favor. Virá outra vez, em glória, para o livramento final do Seu povo e a restauração de todas as coisas. (João 1:1-3, 14; Col. 1:15-19; João 10:30; 14:9; Rom. 6:23; II Cor. 5:17-19; João 5:22; Luc. 1:35; Filip. 2:5-11; Heb. 2:9-18; I Cor. 15:3, 4; Heb. 8:1, 2; João 14:1-3.) (MANUAL, 2006, p. 28).
O que se conclui na breve analise descrita até aqui, é que a doutrina, no caso específico da natureza humana de Cristo, ou mesmo em outras doutrinas oficialmente aceita em geral, é que a doutrina não é estática. Isto é, o manual afirma a crença em termos gerais sem definir detalhes. E, exatamente, por isso que quando analisamos o Manual da Igreja percebemos que ele afirma que, Jesus veio como um ser humano real, mas sem pecado. Os por menores da crença, "o Manual preferiu deixar que as reflexões sobre as diferentes declarações da Bíblia e do Espírito de Profecia continue sendo estudadas (SILVA, 2009, p. 16)". Essa abertura para a procura de uma "nova luz" foi endossada por Ellen White: "Jamais alcançaremos um período em que não haja para nós acréscimo de luz" (White, 1994, p. 401). Contudo, isso não significa a aceitação de idéias particulares de pessoas de dentro da igreja ou mesmo de pessoas de fora dela, ou de pessoas que trabalhe na organização, ou de ministérios independentes: Hope International, Hartland Institute; Prophecy Countdown; a igreja Step to Life em Wichita, Kansas; a congregação de Rolling Hills, Flórida; e Good News Unlimitedos, e outros grupos dissidentes que pretendem definir a verdade segundo suas próprias percepções. Porque somente a igreja mundial reunida, isto é, em assembléia da Associação Geral pode oficializar uma doutrina que progressivamente tenha se tornado consenso na pesquisa e no ensino da igreja (SILVA, 2009, p. 16).

2.3 DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA DOUTRINA SOBRE A NATUREZA HUMANA DE CRISTO PÓS 1950
Nos anos pós-1950, "os diversos setores passaram a se identificar com uma ou outra questões anteriores", quer tenham tido divergência de opiniões ou não. A década de 50 foi um período marcado por muita discussões e polêmica entorno da natureza humana de Cristo, especialmente, porque nesse período aconteceram uma serie de reuniões mantidas entre alguns porta-vozes adventista: LeRoy E. Froom (líder da Associação Ministerial da Associação Geral de 1941 a 1950) e W.E.Read (um secretário de campo da Associação Geral), e uns poucos protestantes: o jovem erudito Walter Martin e George R. Cannon (um professor de teologia do Colégio Missionário de Nyack, em Nova York). Posteriormente, mais outros dois se envolveriam nos diálogos: Roy A. Anderson (que servia então como diretor de Associação Ministerial da Associação Geral) e Barnhouse. (KNIGHT, 2009, p. 11, 12); (KNIGHT, 2005, p. 166).
Martin, de fato, já "havia lido uma vasta quantidade de literatura adventista, apresentou aos delegados adventista uma série de 40 perguntas concernente a suas posições teológicas." Dentre elas estavam os quatro itens "vastamente sustentados em relação as crenças dos adventistas":
(1)Que a expiação de Cristo não foi completa na cruz; (2) que a salvação é o resultado da graça em junção com as obras da lei; (3) que o Senhor Jesus Cristo era um ser criado, não existente por toda eternidade; (4) e que, na encarnação, Ele partilhou da natureza humana caída e pecaminosa.(KNIGHT, 2009, p. 12).

Os delegados adventista não tiveram maiores dificuldade para responder as questões, pois descobriram que, o fato que realmente dificultava um diálogo mais claro e aberto, entre os adventistas e protestante, era a terminologia adventista. A isso, os delegados fizeram alguns ajustes verbal, resolvendo, até então, quase todos os problemas. Porém, o mais problemáticos dos assuntos levantados pelos protestantes que os adventista tiveram que lidar, foi a natureza humana de Cristo, principalmente, porque nesse período "muitos aceitavam a igualdade de naturezas entre Jesus e os seres humanos caídos" pelo fato de M. L. Adreasen, conceituado professor de teologia de então, ser o padroeiro da teologia perfeccionista e disseminador da mesma sem "ser contestado ou revisado pela igreja". "Esse tópico foi problemático porque os evangélicos calvinistas" acreditavam que "se Cristo tivesse uma natureza pecaminosa, então necessariamente tinha de ser um pecado", e nesse caso Ele não poderia nos salvar. (SILVA, 2009, p. 26); (KNIGHT, 2009, p. 12, 13).
Esse se tornou um grande problema para os delegados resolverem, especialmente, porque quase todos eles acreditavam que Cristo tivera a natureza pecaminosa, embora se saiba que a declaração oficial da igreja expressa no Manual de 1932, diz que "Ele tomou sobre si a natureza da família humana, viveu sobre a terra como um homem...", afirmando a crença em geral sem definir os por menores, porque "o Manual preferiu deixar que as reflexões sobre as diferentes declarações da Bíblia e do Espírito de Profecia continue sendo estudadas (SILVA, 2009, p. 16)". A melhor maneira de falar para os protestantes foi a de que a maioria da liderança da igreja sempre sustentou que a natureza humana de Cristo foi "sem pecado, santa e perfeita", mas que escritores ocasionalmente tinham impresso materiais com ponto de vista contrário a visão da maioria dos lideres da igreja.Contudo, foi a partir desses encontros que "Froom e seu associados reconheceram que precisavam usar um vocabulário que fosse compreendido pelos evangélicos".(KNIGHT, 2009, p. 14); (MANUAL, 2006, p. 10).
Foi então que, após ter consultado cerca de 250 eruditos e lideres da igreja, exceto Andreasen, fazendo uma reafirmação das crenças tradicionais da igreja, em 1957, o livro Questões Sobre Doutrina foi lançado pela denominação em resposta as questões levantadas pelos nossos amigos protestantes, com uma modesta tiragem de cinco mil exemplares. Com um bom ajuste nas terminologias da teologia tradicional adventista, usando uma linguagem corrente nos círculos evangélicos – sabendo que não estavam escrevendo essencialmente para adventistas – houve uma comunicação genuína com os parceiros evangélicos. Com isso, veio o tão merecido reconhecimento por parte dos lideres da ala conservadora do protestantismo americano:
Como resultados dos nossos estudos do adventismo do sétimo dia, Walter Martin e eu chegamos a conclusão de que os adventistas do sétimo dia são um grupo verdadeiramente cristão, em vez de uma seita anticristã (KNIGHT, 2009, p. 20).

entre aqueles que acusam a igreja de ter de ter mudado ou apostatado da verdade, ou daquilo que eles afirmam ser a posição ou o pensamento dos pioneiros, encontra-se o ex- presidente da Comissão de Pesquisa Bíblica da Divisão Euro-Africana da IASD, J. R. Zurcher. Ele afirma que os líderes da igreja Como resultado desse diálogo, muitos líderes da igreja que haviam estado envolvidos nas discussões, declararam que Cristo tomou a natureza de Adão antes da queda e não após ela. A mudança foi de 180 graus: pós-lapsarianos e pré-lapsarianos (Zurcher, 1999, p. 18).
Obviamente, essa declaração não expressa o ponto controverso sobre a natureza humana de Cristo. Entretanto, a declaração de fé de 1872, que permaneceu intocada até 1931, especificava que Cristo "tomou sobre Si a natureza da semente de Abraão, para a redenção de nossa raça caída".8 Por causa das diferenças que surgiram nesse particular desde a década de 50, os delegados na sessão da Conferência Geral de 1980 julgaram mais sábio abandonar essa fraseologia, e substituir a fórmula que expressava a crença comum.
Isso, porém, não extinguiu a controvérsia, a qual se intensificou até que os diferentes pontos de vista fossem mais claramente definidos e uma interpretação alternativa surgisse. Escolhemos classificá-la como alternativa porque ela toma emprestados argumentos básicos de cada uma das outras duas Cristologias, conhecidas pelos teólogos como posições pós-lapsariana e pré-lapsariana. O que segue é um sumário das três Cristologias:


2.2 O QUE SE ENTENDE POR POSIÇÃO OFICIAL DA IASD

É muito comum, quando se pesquisa sobre a natureza humana de Cristo, quer seja nos primórdios da igreja cristã ou mesmo dentro da IASD, perceber que as controvérsias entorno desse assunto vem acompanhada por opiniões particulares. Porém, essas circunstâncias de insipidez e insatisfação obrigaram a igreja a tomar posições que representasse, oficialmente, o pensamento daquilo que a igreja, de fato, acredita. No entanto, antes de qualquer coisa, se faz necessário, gastar certo tempo analisando o que é e o que não é, de fato, uma posição oficial da igreja. Isso deve ser feito por uma questão muito simples, evitar que instituições particulares tais como: Hope International, Hartland Institute; Prophecy Countdown; a igreja Step to Life em Wichita, Kansas; a congregação de Rolling Hills, Flórida; e Good News Unlimitedos, e outros grupos dissidentes, acusem a IASD de ter mudado ou apostatado da verdade, ou daquilo que eles afirmam ser a posição dos pioneiros. Portanto, para que se compreenda o que, de fato é uma posição oficial da igreja, se faz necessário analisar se o manual da igreja é claro quanto a origem das declarações oficiais da IASD:
"À medida que a Conferência Geral se reunia em assembléia ano após ano, começaram a tomar-se decisões sobre vários assuntos de ordem eclesiástica, num esforço para definir as regras apropriadas às diferentes situações na vida da Igreja". (MANUAL, 2006, p. 19)

É interessante notar que as tentativas para estabelecer uma estrutura organizacional, embora fosse algo positivo, revelou uma crescente compreensão de que a ordem na igreja estaria tornado-se imperativa, caso resolvesse que a organização da igreja funcionasse efetivamente. Contudo, foi feita uma proposta na Conferência Geral de 1883 para que os artigos juntos, publicados como o produto dessas assembléias da Associação Geral, recebessem forma de um manual da igreja. Porém, a idéia foi rejeitada, pois temiam que isso formalizasse a igreja, e se tornassem espiritualmente sem vida. Más, com o passar dos anos, após cada assembléias da Associação Geral, a igreja continuou a votar sobre assuntos de ordem na igreja. Em outras palavras, vagarosamente, más de maneira segura estavam produzindo elementos para um manual da igreja, muito embora, essa não fosse a idéia primária (MANUAL, 2006, p. 20).
Certa ocasião, um dos pioneiros chamado J. N. Loughborough reuniu esses artigos de votos tomados pela igreja através dos anos, e formando um pequeno livro de 184 páginas intitulado: A igreja, Sua Organização, Ordem e Disciplina, publicado em 1907. Esse pequeno livro, por muito tempo, teve um lugar de destaque dentro da igreja. Até que em 1931, a Comissão da Conferência Geral votou a publicação de um manual da igreja. Então, pediu-se a J. L. McElhany, que na ocasião era o vice-presidente da Associação Geral para a America do Norte, que preparasse os originais. Depois de um cuidadoso exame pela Comissão da Associação Geral, foi então publicado em 1932, o tão esperado manual da igreja. Nele, continha todos os bons votos tomados pela igreja através dos anos, e então acrescentados outros regulamentos que o crescente progresso da igreja exigia.
Como vimos anteriormente, o que, de fato, a IASD entende por posição oficial, são os votos que são tomados quando as assembléias da Conferência Geral se reuniram ao longo dos anos, e não idéias pré-concebidas de grupos ou organizações particulares que defendem idéias próprias. Partindo desse pressuposto, sabendo o que é e o que não é posição oficial da igreja, faz-se necessário analisar se de fato houve uma mudança nas crenças da igreja, antes de 1950, especialmente, sobre a natureza humana de Cristo, e se depois do referido ano a IASD mudou. Contudo, a principal acusação feita por essas organizações particulares é a de que a IASD "apostatou", e nesse contexto, se refere ao abandono de doutrinas mantidas pelos ASD nos seus primórdios. Isto é, os ASD foram fundados em uma teologia baseada na Bíblia, mas que com o passar do tempo, a organização abandonou algumas de suas crenças defendidas e mantidas por seus pioneiros, e que agora mantém, em alguns aspectos, uma teologia não bíblica e que reflete, antes, a das igrejas protestantes.


BARCLAY, WILLIAM. Comentário do Novo Testamento. Buenos Aires, Argentina: Asociación Ediciones La Aurora, 1983.

Dokor, Kwabena. A Natureza de Cristo. Parousia: Revista do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia, v. 7, 2008.

KNIGHT, George R. Qestões sobre doutrina: o clássico mais polêmico da história do adventismo. Tatuí - SP: Casa Publicadora Brasileira, 2009.

KNIGHT, George R. Em busca de identidade: o desenvolvimento das doutrinas adventistas do sétimo dia. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005. 220 p.

MANUAL. Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia. 20a ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2006.

SILVA, Demóstenes N. da. Perfeccionismo e a Humanidade de Cristo: Uma abordagem bíblica e na perspectiva adventista. Cachoeira, Ba: CePLiB, 2009.

SILVA, Demóstenes Neves da. Perfeccionismo e a humanidade de jesus: uma abordagem bíblica e na perspectiva adventista. Cachoeira - Ba: CePLiB, 2009. 102 p.

WEBSTER, Eric Claude. Crosscurrent in Adventist Christology. New York: Lang, 1984.

White, Ellen G. Mensagens Escolhidas. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1994.

White, Ellen G. Testemunhos Para a Igreja. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1994. 3 v.

Zurcher, Jean R. Touched With Our Feelings
A historical survey of adventist thought on the human nature of Christ. Maryland Hagerstown: Review and HeraldR Publishing Association, 1999.




Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.