Desenvolvimento industrial de Mirandela: a CUF, o Complexo Agro-Industrial do Cachão e a fábrica de cortiças da SCM

July 9, 2017 | Autor: Albano Viseu | Categoria: Development Studies
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Descrição do Produto

Desenvolvimento industrial em Mirandela, em torno da linha do Tua: a
fábrica de cortiças de Clemente Menéres, a CUF e o Complexo Agro-Industrial
do Cachão [1]


Albano Viseu (investigador do CITCEM e do projecto FOZTUA)
Eduardo Beira (Instituto Superior Técnico e coordenador do projecto
FOZTUA)
J. M. Lopes Cordeiro (U. do Minho e coordenação do projecto FOZTUA)


Resumo - Inaugurada em 1887, logo a linha do Tua se tornou
impulsionadora de algumas valências para a região transmontana, entre
Foz Tua e Mirandela, e a partir de 1906, entre Mirandela e Bragança.
A linha ajudou a transformar um pouco o mundo dos transmontanos: a
economia, a sociedade, a cultura, a religião, a política, os
transportes, a mentalidade, os valores e as tradições, os campos de
significação e do simbólico...
Os modelos que escolhemos para estudo de caso ajudarão a
compreender como a linha representou um suporte de apoio a unidades
agro-industriais da região de Mirandela, surgidas em momentos
históricos diferentes, que projectaram a sua imagem e canalizaram os
seus produtos para o mercado: a Quinta do Romeu e as fábricas de
cortiça de Clemente Menéres (a partir de 1874); o Complexo fabril da
CUF (a partir de 1926) e o Complexo Agro-Industrial do Cachão (a partir
de 1964).


Palavras-chave: industrialização, complexos agro-industriais,
cortiça, adubos, linha do Tua



1. Introdução

A linha quebrou o isolamento daquela região transmontana, ajudou a
fixar quadros, movimentou estudantes a caminho das escolas e populações
a caminho de organismos de centralidade assistencial (hospitais,
dispensários, centros de saúde), administrativa (Câmaras Municipais e
repartições de finanças), judicial (Tribunais), económica (mercados,
feiras, mercearias, a banca que se organiza em torno das actividades da
região, quintas, cooperativas, complexos agro-industriais, unidades
individuais de produção…), religiosa e profana (festas, romarias, jogos
e tradições), comunicativa (CTT, telégrafo, telefone), militar
(recrutamento, incorporação e cumprimento do serviço), identitária e
libertadora das populações rurais (saída para outras regiões do país e
do mundo, à procura de melhores condições de vida).
Se, de certa forma, contribuiu para ajudar a esvaziar alguns
centros populacionais de vilas e aldeias, de um universo apegado aos
seus contextos de mundividência, também concorreu para o crescimento e
para o desenvolvimento de localidades como o Tua, o Cachão, Mirandela,
Macedo de Cavaleiros e Bragança.
Os armazéns, e os celeiros de cereais, que se estabeleceram nestas
localidades, serviram para escoar, em maior quantidade do que em outras
estações e apeadeiros da linha do Tua, muitos dos produtos que da
região eram enviados para o Porto, para o litoral e para Lisboa, e em
movimento ascendente para captar mercadorias que abasteciam esses
locais e suas regiões envolventes. Macedo de Cavaleiros, Bragança e
Cachão eram centros importantes de expedição de cereais.
As grandes dificuldades de circulação de pessoas, de bens e
mercadorias, numa região em que perduraram por muito tempo as antigas
vias romanas, em que faltavam estradas e se transitava por caminhos
esburacados, térreos, lamacentos (inverno) e poeirentos (verão), foram
sendo ultrapassadas com o aparecimento do comboio.
A Estada Real n.º 6, em macadame, inaugurada em 1870, uniu Bragança
e o Porto seis anos mais tarde, passando por Macedo de Cavaleiros,
Romeu, Mirandela, Murça, Vila Real, Amarante, Penafiel e Paredes,
canalizava a produção agro-alimentar e animal das terras transmontanas
para maiores centros de consumo, ainda que as viagens fossem perigosas
e demoradas.
O rio Douro foi utilizado, desde longa data, como uma via
alternativa de comunicação circulante pelas populações transmontanas e
durienses das duas margens que a ela recorreram para escoar as suas
produções essencialmente para a Régua, para Lamego e para o Porto, e
para receber as mercadorias necessárias à sua subsistência e à sua
actividade.
Em 1792, foi vencido o estrangulamento que representava o Cachão da
Valeira, e a partir de 1811 o tráfego de mercadorias com o Porto,
através do rio Douro, estendeu-se até à fronteira com Espanha. As
populações acima Cachão deixaram de dar primazia ao negócio fronteiriço
e ao comércio das rotas dos almocreves que por elas passavam e viram as
suas produções agrícolas (vinho, azeite, amêndoa, sumagre, figos…) mais
valorizadas, no contexto da economia nacional.
Em 1887, o caminho-de-ferro da Linha do Douro e da Linha do Tua
passou a ligar o Porto a Barca de Alva e a Mirandela, surgindo como uma
via concorrencial, em relação às anteriormente referidas e trazendo
outras possibilidades de desenvolvimento à região transmontana e
duriense.
A estação de caminho-de-ferro de Mirandela, como local central
desta linha, usufruiu de condições que, a partir do século XIX, lhe
deram movimento e serviram de apoio ao núcleo de serviços industriais
da região: as suas oficinas fizeram a reparação do material circulante
e deram assistência à via e às máquinas nas suas secções (motorizado;
forjas; vapor; tornos; material rebocado; pilha de carvão; placa
giratória) e, por vezes, atenderam empresas da região, e o armazém
serviu para fazer a expedição e a captação da carga.
Os três exemplos escolhidos para o estudo de caso que aqui
apresentamos ajudam a compreender como a linha foi importante para
Mirandela, e para as populações que viveram em torno das suas
dinâmicas, contribuindo para o aparecimento de empresas valorizadoras
dos produtos locais: a Quinta do Romeu (1874) e a Sociedade Clemente
Menéres, Lda. (1902): cortiça, vinho e azeite; o complexo fabril da
CUF, a partir de 1926: azeite e óleo de bagaço de azeitona, de grainha
e casca da uva, do gérmen de milho, da copra e do coquenote; e o
Complexo Agro-Industrial do Cachão, a partir de 1964: azeitonas,
picles, azeite, mel, compotas de vários doces, feijão cozido de vários
tipos, marmeladas e geleias, vários legumes cozidos e enlatados, frutas
em calda e cristalizadas, frutos secos, queijo, vinhos e aguardentes
vínicas …, produtos especialmente destinados à exportação, mas também
para consumo interno.
A linha do Tua, tanto na sua extensão até Mirandela como na sua
secção até Bragança deu azo ao desenvolvimento de indústrias e de
complexos agro-industriais e pecuários e movimentou o seu comércio,
mostrando a importância da novel e poderosa forma de transporte e de
comunicação com o litoral.
Demonstraremos os factores que levaram à instalação destas três
unidades na região, os seus objectivos e aspirações, as suas
realizações concretas e as razões para o seu encerramento (quando este
se verificou).
Analisaremos, em seguida, do ponto de vista do património
industrial, o que restou destes empreendimentos e de que forma esses
vestígios foram ou não utilizados.
















2. O desenvolvimento "industrial" de Mirandela, em torno da Linha
do Tua


1. Clemente Menéres Lda., o comboio e a cortiça




Fig. 1. Clemente Menéres (1843-1916)
Fonte: Quinta do Romeu. Disponível em: http://www.quintadoromeu.com/
Data de consulta: 7/4/2015

Nome da unidade empresarial: Quinta do Romeu e Fábrica de cortiças
de Mirandela


Protagonista principal: Clemente Menéres (1874) e Sociedade
Clemente Menéres, Lda. (a partir de 1902)


A unidade empresarial:


-Factores que levaram à sua instalação


Clemente Menéres (1843-1916) foi um empresário que, na segunda
metade do século XIX, após uma breve e bem-sucedida estadia no Brasil,
para onde emigrara com apenas 16 anos de idade, regressou a Portugal em
1863, estabelecendo-se no Porto e passando a dedicar-se à exportação de
produtos agrícolas para várias regiões do mundo.
Nas suas digressões pela Europa, Médio Oriente e Norte de África,
apercebeu-se das vantagens em investir na produção de vinho e de
cortiça, produtos que já então comercializava, antes de os canalizar
para os mercados externos.
A região transmontana que ele visitou, a fim de estudar os melhores
locais onde realizar os investimentos, poderia fornecer-lhe não apenas
a cortiça, que existia em grande quantidade e de boa qualidade no
concelho de Mirandela, mas também o vinho, o azeite e outros produtos
agrícolas.
Em Maio de 1874, adquiriu, no Romeu, em Mirandela, grandes
extensões de terreno e matas de sobreiros, iniciando a constituição de
uma empresa agrícola que se dedicaria, maioritariamente, à exploração
da cortiça, embora também produzisse vinho e azeite. As propriedades
que adquiriu e que passaram a integrar o domínio da empresa estendiam-
se pelo concelho de Mirandela, por outros seis concelhos do distrito de
Bragança, e ainda pelo de Valpaços, no distrito de Vila Real.
Com matéria-prima abundante e de boa qualidade[2] – não apenas a
proveniente das suas propriedades, mas também a que adquiria na região
–, decidiu dedicar-se à sua extracção, transformação e comercialização,
pelo que montou uma fábrica, transformando-se, assim, num dos pioneiros
da industrialização daquele produto no Norte do país.
Instalada a fábrica de cortiças no Romeu e em Mirandela, a fim de
fazer frente à concorrência de outras fábricas de cortiça e de outros
pretendentes à instalação de unidades congéneres, Clemente Meneres
conseguiu garantir, dessa forma, o controlo sobre uma grande parte da
cortiça produzida na região.


-Objectivos, aspirações e realizações


Em 1902, a Sociedade Clemente Meneres, Lda. tinha dois grandes
objectivos: «explorar agricolamente na Província de Trás-os-Montes bens
rústicos, próprios ou arrendados, para produção de vinho, azeite e
cortiça e, acessoriamente, cereais, madeiras, mel e outros produtos
agrícolas; manufacturar e vender os produtos dessa exploração
agrícola»[3].
A Sociedade Clemente Menéres, Lda., constitui um interessante caso
de longevidade societária e de sucesso a nível de exploração, de
transformação, de qualidade e de canalização para o mercado da sua
produção agrícola, continuando nos dias hoje a representar um dos
principais empregadores da região.






-Algumas características


A Quinta do Romeu constitui uma unidade económica de vanguarda na
forma como se cultivam os produtos, como se lançam novas tecnologias e
métodos na agricultura (irrigação, métodos de extracção de azeite, do
fabrico e tratamento dos vinhos, da jeropiga e da aguardente, do
cultivo e da apanha de frutas), como aposta na qualidade das frutas, do
azeite, do vinho (de mesa e do Porto), como se explora a cortiça e como
se faz a comercialização destes produtos[4].
Na Quinta do Romeu destacaram-se três núcleos principais: Jerusalém
do Romeu (centro onde fica o Palacete da família Menéres, com as suas
divisões e casarios, cada uma com a sua função, os armazéns, a fábrica
de cortiça e o armazém de apoio ao escoamento da produção, localizado
junto à linha do Tua); Vila Verdinho (centro de desenvolvimento e de
protecção florestal do Quadraçal, onde funcionou a primeira fábrica de
cortiças) e Monte Meões (o principal centro vinhateiro).
A exploração agrícola estava organizada nos seguintes sectores:
florestal (montados de sobreiros e alguns soutos de castanheiros),
agrícola (vinhas, olivais, pomares, hortas, lameiros, culturas de
sequeiro de cereais e outras), pecuário (animais de carga e de trabalho
e animais de rendimento como as ovelhas e as cabras), tecnológico
(lagares, barragens, maquinaria) e transformador (fábrica de
rolhas)[5].


-Razões para o encerramento das fábricas de cortiça em Trás-os-
Montes


Um dos motivos que explica o abandono da transformação da cortiça
em Trás-os-Montes prende-se com a questão do transporte da matéria-
prima e dos produtos derivados.
De 1874 a 1878, o escoamento da cortiça era assegurado por
carreteiros, recorrendo a carregamentos em carroças e em carros-matos,
puxados por bois, que a conduziam por terra para o Porto ou para os
portos fluviais (Foz Sabor, Pocinho, Tua) onde era carregada em barcos
(almadia), e seguia através do rio Douro para o Porto.
Em 1878, quando foi instalada a "fábrica velha" no Quadraçal,
devido às fracas vias de comunicação – Mirandela estava ligada ao
Porto, a partir de 1870, pela Estrada Real n.º 6, mas o percurso era
longo e moroso – surgiram problemas para o escoamento da cortiça, das
rolhas e dos outros produtos derivados desta matéria-prima.
A ligação ao Porto, depois de 1880, a partir da estação de caminho-
de-ferro do Pinhão, pouco contribuiu para alterar esta situação, porque
o percurso entre Mirandela e o Pinhão era longo e difícil de percorrer,
quer ao utilizar os carros-matos, quer as carroças, quer os carros de
bois, quer os animais de carga.
O comboio seria essencial para Clemente Menéres canalizar a sua
produção para os mercados, pelo que se tornou num dos principais
batalhadores para que este meio de transporte fosse uma realidade e
para que o mesmo lhe passasse à porta.
Clemente Menéres foi o grande obreiro do caminho-de-ferro de Foz
Tua a Mirandela, «pelo seu pragmatismo, pela sua inflexibilidade,
perante as dificuldades do processo e pela capacidade de congregar
diversas personalidades em torno de um projecto indispensável ao
desenvolvimento agrícola, industrial e comercial das terras
transmontanas»[6].
O comboio passou a facilitar o transporte da produção da Sociedade
Clemente Menéres, Lda., e a cortiça das suas diferentes propriedades,
que se situavam ao longo da linha, passou a ser canalizada quer para a
fábrica de Mirandela, quer para a fábrica do Porto.
A partir de Setembro de 1887, passou a existir uma ligação
ferroviária entre Mirandela e Foz Tua, que entroncava nesta estação na
Linha do Douro, pelo que a implantação de fábricas de cortiça junto do
principal centro produtor, no Romeu, deixou de ter interesse.
Com a abertura pública da linha do Tua, a fábrica da Horta da
Massada perdeu importância e, como o principal obstáculo para o
transporte da cortiça estava ultrapassado, a fábrica de cortiça de
Monchique, instalada na cidade do Porto, ganhou nova vitalidade. O
escoamento da cortiça para esta fábrica ficava, assim, assegurado pelo
comboio.
A fábrica de cortiça de Monchique, cuja produção diminuíra, entre 1
de Fevereiro de 1879 e 30 de Abril de 1887, reanimou a sua actividade
com a chegada do comboio a Mirandela. Além da cortiça, Clemente Menéres
exportava, nesta altura, rolhas, conservas (sardinha, doce, fruta em
calda, geleia e marmelada), azeite e fruta (contudo, a produção para a
fábrica de conservas que o empresário tinha instalado no Porto não
obteve êxito).
Atestando a qualidade do seu fabrico, os produtos das fábricas de
Clemente Menéres conheceram, muito rapidamente, um considerável
sucesso, tanto a nível nacional como internacional, tendo sido
premiados nas Exposições de Filadélfia (1876), de Lisboa (1884) e de
Paris (1889).
As fábricas do Romeu e de Mirandela trabalhavam a cortiça e seus
derivados (rolhas, quadros, aparas, feixes) e a produção obtida era
enviada para o Porto.
A cortiça em bruto e em fardos foi sempre escoada em grandes
quantidades para a sucursal da Sociedade Clemente Menéres, Lda., ao
longo dos tempos: «Dei ordem ao Cleto para que acabasse de despachar
toda a cortiça que cá [no Romeu] existia da casa [Menéres] e juntamente
3 sacos com vários quadros que aqui havia, ainda antigos, assim como 2
sacos de carvão de sobreiro que aqui estavam a fazer estorvo e a
contaminar os sacos»[7].
Até 1887, as dificuldades de transporte terão impedido a preparação
da cortiça em prancha, pelo que se fabricaram apenas rolhas. As
facilidades de transporte possibilitadas pela inauguração da Linha de
Foz Tua a Mirandela, nesse ano, transferiram a quase totalidade da
produção rolheira para a fábrica de Monchique.
Em 1895, a fábrica de rolhas de Jerusalém do Romeu, ainda se
mantinha em funcionamento, embora com uma produção muito reduzida,
ocupando apenas um trabalhador a tempo inteiro, o qual era ajudado a
cozer e a quadrar a cortiça por mais um ou dois trabalhadores que eram
dispensados de outros trabalhos.
A preparação e a transformação da cortiça, seguindo os modelos
industriais, só se verificará com a instalação da fábrica de cortiças
de Mirandela.
Entre 1895 e 1905, Clemente Menéres dedicou-se à Quinta do Romeu,
reactivando a fábrica de cortiças do Bairro do Toural, em Mirandela, e
exportando, durante este período, cortiça, rolhas, vinhos, bebidas e
azeite.
Em 1900, a fábrica de Mirandela já empregava 20 famílias e estava
equipada com 25 máquinas accionadas por uma máquina a vapor: 9 de
quadrar cortiça e 16 de fazer rolhas e de contar.
Em 1905 (Julho), a linha chegou ao Romeu e em 1906 (1 de Dezembro)
atingiu Bragança. A cortiça passou a ser carregada em vagões em várias
estações e apeadeiros da Linha do Tua (Salselas, Macedo de Cavaleiros,
Romeu, Mirandela, Cachão, Abreiro, Brunheda, S. Lourenço, Tralhariz …).
Esta matéria-prima viria a ser o verdadeiro motor da empresa de
Clemente Menéres, pois as suas exportações para diferentes praças da
Europa, da Ásia e da América, às quais se deve acrescentar o vinho e o
azeite, proporcionaram avultados lucros.
Na realidade, foram cinco as fábricas de cortiça que Clemente
Menéres fundou, uma no Porto e quatro em diversos locais do concelho de
Mirandela.
Na Cidade Invicta fundou, em 1872, nas instalações do antigo
convento de Madre de Deus de Monchique, em Miragaia, a sua primeira
fábrica de rolhas de cortiça, que ao longo do tempo conheceu vários
períodos de laboração.
Na Quinta do Romeu, mais propriamente na ribeira do Quadraçal,
fundou em 1878 outra fábrica de rolhas e de preparação de cortiça em
prancha – que, por ter sido a primeira da região, ficou conhecida por
"fábrica velha" –, a qual se manteve em funcionamento até 1881.
No Inquérito Industrial publicado nesse ano, Clemente Menéres já
possuía uma outra fábrica, no lugar do Carriço, em Jerusalém do Romeu,
que manteve o mesmo tipo de produção da fábrica anterior, isto é,
rolhas e cortiça em prancha, mas que raramente funcionava, porque a
maior parte da cortiça era canalizada para a fábrica de Monchique, no
Porto, a partir da estação do Pinhão, inaugurada em 1880.
Apesar do empresário possuir uma plantação de sobreiros nas
proximidades da nova fábrica, estas árvores eram ainda muito novas para
produzir cortiça, capaz de se ajustar às necessidades de produção. Por
conseguinte, em 1883 a fábrica do Carriço cessou a laboração, entrando
nesse mesmo ano em funcionamento uma nova fábrica na Horta da Massada,
no Romeu.
Finalmente, em 1900, Clemente Menéres transferiu grande parte dos
equipamentos da fábrica de Monchique, para o Bairro do Toural, na
chamada Canelha do Outeiro, em Mirandela, onde instalou uma nova
fábrica, a qual veio a cessar a laboração em 1913, regressando os
equipamentos à fábrica do Porto, a partir de 1909.
A partir de 1908, a cortiça em bruto, produzida na região – a Casa
Menéres sempre escoou grandes quantidades de cortiça em bruto, ao longo
dos tempos –, passou a ser transportada para a fábrica de Monchique,
que reanimou a sua actividade, suspensa desde 1900. E em 1909, após ter-
se expandido para novas áreas do antigo convento de Monchique, e ter
sido reapetrechada com a maior parte das máquinas que vieram de
Mirandela por caminho-de-ferro, assim como com o pessoal operário que
trabalhava nesta fábrica, a fábrica do Porto estava já a laborar
normalmente.
Consequentemente, em finais de 1913, a fábrica do Toural, em
Mirandela, cessou definitivamente a actividade.


-Relação com a linha do Tua


A consulta dos dados relativos à carga de mercadorias na linha de
Foz Tua a Bragança, incluídos nos Relatórios de Contas Anuais da
Companhia Nacional dos Caminhos-de-Ferro, operadora da linha de Foz Tua
a Mirandela (desde 1887) e, depois, de Mirandela a Bragança (a partir
de 1906) permitem chegar a algumas conclusões, sobre a evolução do
negócio da cortiça em Trás-os-Montes, em especial na zona do Vale do
Tua.
Grande parte dessa cortiça pertencia à Casa Menéres que a enviava
para o Porto para alimentar a fábrica de Monchique e também para ser
exportada.
A quase totalidade da carga expedida pela linha do Tua (cerca de
90%) tinha origem na estação de Mirandela e como destino a linha do
Douro, para ser canalizada para o Porto.
Antes de 1891, data da grande reestruturação financeira da
Companhia Nacional, em que o controlo de gestão foi assumido pelos
obrigacionistas, salvando, assim, a empresa da falência, nunca foram
publicados dados de tráfego e carga nos relatórios anuais.
O gráfico 1 refere a tonelagem total de cortiça, expedida ao longo
da linha, desde 1891 a 1933:




Gráfico 1 – Cortiça expedida ao longo da Linha do Tua (1891-1933). Fonte:
Relatórios Anuais da Companhia Nacional de Caminhos-de-Ferro (RACNCF).

Da observação do gráfico 1, podem inferir-se algumas conclusões:


a carga média expedida de cortiça variou habitualmente entre as
1.000 e as 1.500 toneladas anuais, sem que seja visível uma
tendência nos dados;
os anos em que essa tendência esteve abaixo desses valores:
1906, 1915; 1917-1920; 1928; e acima desses valores: 1916,
1923, 1933;
a abertura da linha de Mirandela a Bragança não parece ter tido
uma grande influência nas expedições totais de cortiça, uma vez
que já antes dessa inauguração a cortiça era comprada e
transportada para a estação de Mirandela;
ao contrário de outras mercadorias, o período da I Guerra
Mundial não parece ter afectado grandemente as expedições desta
matéria-prima.


O gráfico 2 mostra a evolução das cargas totais de mercadorias e de
cortiça (em toneladas e movimentadas em ambos os sentidos) expedidas
quer pela linha do Tua a Mirandela, quer pela linha de Mirandela a
Bragança, no mesmo período (1891-1933).




Gráfico 2 – Evolução das cargas totais de mercadorias e cortiça
movimentadas em ambos os sentidos. Fonte: RACNCF.


A análise dos dados do gráfico 2 permite concluir que a importância
das cargas de cortiça, no tráfego total da linha, se manteve
estacionário a longo prazo, não seguindo as tendências gerais do
tráfego total de mercadorias.
Este tráfego mostra uma tendência crescente, até final da primeira
década do século XX, com um salto entre 1905 e 1907, associado à
abertura progressiva da linha até Bragança.


Gráfico 3 – Tonelagem da cortiça movimentada, em relação à carga total.
Fonte: RACNCF.


No entanto, apenas nos primeiros anos de exploração da linha, entre
Foz Tua e Mirandela, é que a cortiça teve uma quota importante da
tonelagem movimentada em pequena velocidade: próximo dos 8% da carga
total, no seu início de actividade, mas já só cerca de 4% ao virar do
século, tendo posteriormente estabilizado à volta de 2% (gráfico 3).
A linha de Foz Tua a Mirandela representou, mesmo após a abertura
da ligação a Bragança, cerca de 70% da carga total, porque Mirandela
continuou a ser o principal pólo de negócio e de expedição das cargas
de cortiça.
Um conjunto de fenómenos explica a irregularidade do negócio da
cortiça: no início, pouca cortiça era enviada para o Porto, porque foi
necessário esperar que os sobreiros dessem cortiça mansa e apta para
ser transformada; os incêndios e a entrada das cabradas nos sobreirais
dificultaram a extracção e a obtenção de cortiça; graças ao trabalho
dos feitores, dos guardas, dos fiscais e dos colaboradores, a
"propriedade" e a quantidade de sobreiros aumentou, como foi aumentando
a área em que se comprava cortiça a terceiros; a mão-de-obra constituiu
um problema, porque era escassa para a execução das tarefas agrícolas e
estava pouco preparada para a transformação da cortiça nos seus
derivados; as dificuldades de comunicações e os problemas de
transportes, relacionados com os carros de bois, os animais de carga, e
o transporte por camioneta, após 1915; a possibilidade do roubo da
cortiça que devia ser guardada ou colocada em lugares seguros para que
isso não acontecesse.
Tudo isto contribuiu para o apuramento de um valor variável na
obtenção de cortiça.
Ao longo do período em análise, vários carregamentos significativos
de cortiça foram enviadas em bruto directamente da exploração agrícola
(Casa Menéres) e de outros locais (Cachão, Azibo, Salsas, Abreiro...),
sem terem passado pela fábrica, um fenómeno que sempre se verificou,
como a leitura dos copiadores da correspondência entre os feitores e
Clemente Menéres parece indicar; a procura da cortiça em prancha passou
a ser maior do que a transformada em rolhas; a reactivação da fábrica
de Monchique representou uma maior movimentação e criou a necessidade
de captar a cortiça ainda em bruto; a concorrência de outras fábricas e
de outros negociantes da cortiça surgiu em Vimioso e em Mogadouro.
A linha do Tua foi essencial no transporte da cortiça e dos seus
derivados, ajudando Clemente Menéres e a Sociedade Clemente Menéres,
Lda., a partir da sua criação em 1902, a alimentar a exportação destes
produtos e a fábrica de Monchique, quando se veio a organizar, e a
trazer até à região transmontana inovações técnicas e novos métodos de
produção e de transformação (maquinaria, bacelos, adubos, utensílios,
carboreto, gasómetros, ceiras, alfirme, corda, enxofre, sulfato,
carvão, géneros alimentares, manutenção de equipamentos, o telefone…).
A diferença de bitola, existente entre as Linha do Tua e do Douro,
levantou dificuldades ao negócio da cortiça, pois era preciso fazer o
seu transbordo na estação de Foz Tua, o que tornava o serviço lento e
mais caro, e o pouco cuidado na descarga e carga dos vagões danificava
a cortiça, afectando-lhe a sua qualidade.
Houve outros factores que se tornaram adversos[8] à continuidade
das fábricas de rolhas no Romeu e em Mirandela: a dificuldade em
contratar operários especializados (escolhedores de rolhas e
quadradores) e de os operários contratados na região de Lisboa não
desejarem fixar-se em Mirandela; os baixos níveis de qualidade das
rolhas ali fabricadas; o facto de a cortiça ter passado a possuir mais
valor se exportada em prancha do que se fabricada em rolhas[9]; os
problemas com a manutenção das máquinas e a dificuldade de assegurar a
sua assistência técnica em Mirandela, pois os técnicos qualificados
tinham de se deslocar do Porto.
O caminho-de-ferro contribuiu também para a desindustrialização da
região, pelo menos no que diz respeito à indústria corticeira, pois
ajudou a deslocalizar máquinas e operários de Mirandela para Monchique.



Património industrial: o que subsistiu; utilização dos equipamentos



O património agro-industrial da Quinta do Romeu está bem preservado
em Monte Meão, em Jerusalém do Romeu, em Vale de Couço e no Romeu.
Apesar de algumas unidades se encontrarem desactivadas, ainda se
encontram conservadas e a funcionar as instalações de produção e de
engarrafamento de vinho e de azeite e encontram-se em bom estado as
unidades de apoio à exploração e ao negócio das produções (residência
da família Menéres, escritório, casas de apoio, restaurante Maria
Rita….)
O Museu de Curiosidades encontra-se aberto ao público e constitui
um verdadeiro acervo da memória da família Menéres e das pessoas da
região, reportando-se a tecnologias, maquinaria e à época dos
melhoramentos das aldeias de Vade de Couço, Vila Verdinho, Vimieiro e
Romeu.
As fábricas de cortiça estão desactivadas e restam apenas as
instalações da fábrica Velha no Quadraçal, que por se manter quase na
íntegra representa uma autêntica «cápsula no tempo».
O arquivo da Sociedade Clemente Menéres, Lda., existente no Romeu e
em Monchique (Porto), é magnífico para o estudo aprofundado sobre a
acção empresarial de Clemente Menéres e dos seus descendentes, assim
como para aprofundar a forma como a Sociedade se manteve em actividade
e indivisa, até aos nossos dias. O primeiro núcleo, localizado no
Romeu, precisa de um espaço de conservação dos documentos nele
existente (copiadores) e o segundo, localizado em Monchique, precisa de
um trabalho de arquivo e de catalogação.
As máquinas e as inovações introduzidas na Quinta do Romeu
constituíram um símbolo de «progresso» e de modernidade, encontrando-se
muitos desses equipamentos expostos no Museu de Curiosidades do Romeu e
em armazéns e unidades de transformação, pertencentes à Quinta do
Romeu.


















2. O complexo Fabril da CUF em Mirandela






Fig. 2. Alfredo da Silva (1871-1942)

Fonte: O criador de empresas. Disponível em:
http://economico.sapo.pt/noticias/o-criador-de-
empresas_196941.html. Data de consulta: 7/4/2015



Nome da unidade empresarial: Fábrica da CUF de Mirandela

Protagonista principal: Alfredo da Silva

A unidade empresarial:


-Factores que levaram à sua instalação


A região de Mirandela possuía abundância de matérias-primas,
indispensáveis para o funcionamento da fábrica: azeitona, bagaço de
azeitona, grainhas e cascas de uvas, lenha e troncos para alimentar a
caldeira.
Cada unidade tinha três pessoas para trabalhar as 24 horas em todo o
dia. Uma caldeira tinha três fogueiros, contando ainda com três
ajudantes, e a central eléctrica tinha também três pessoas para tomar
conta do serviço. E havia mão-de-obra necessária para esses e para
outros serviços.
A CUF possuía um lagar onde se fazia azeite e se obtinha o bagaço,
apesar deste produto que abastecia a fábrica ser também proveniente de
diversas localidades. Os grandes vendedores de bagaço existiam por todo
o Nordeste, em Freixo de Numão, em Moncorvo, em Foz Coa e, até mais a
sul, em Idanha-a-Nova, perto de Castelo Branco.
Quando Alfredo da Silva decidiu instalar o lagar em Mirandela, o
acontecimento causou um grande impacto sobre os industriais de
Mirandela que não acolheram bem a ideia: o Dr. Manuel Maria Pires,
médico da CUF, o Dr. Aires Lima, o Conde Fijó, o Capitão Ilídio
Esteves, o «Zé» Lima, o Hermenegildo Castilho, o Dr. Amândio… Alguns
deles só produziam o azeite, pois tinham os seus lagares, e vendiam o
bagaço para a CUF.
A unidade da CUF de Mirandela passou a ser compradora desse
subproduto da região e tornou-se também no empregador favorito para
muitas pessoas, para além de criar uma ocupação para os angariadores,
«os comissários», que angariavam o bagaço na zona onde viviam, com o
objectivo de o venderem à CUF.
A existência de espaço necessário para instalar as várias unidades,
mesmo ao lado da linha do Tua, em Mirandela, correspondia a uma
exigência de Alfredo da Silva que instalou todas as suas fábricas onde
havia linhas de caminho-de-ferro e matérias-primas e utilizava este
meio de transporte, para escoar a sua produção e para abastecer os
armazéns de produtos.
A fábrica em Mirandela ficou servida por um ramal de caminho-de-
ferro, ligado à Linha do Tua, e ainda por um guindaste para cargas e
descargas.
A fábrica tinha óptimas instalações e estava equipada com todo o
material necessário para fazer face a um incêndio.
Na caldeira, havia uma buzina que funcionava a vapor: chamavam-lhe a
buzina da CUF e ouvia-se a 20 km de distância, regulando as horas de
entrada e de saída do pessoal.


-Objectivos, aspirações e realizações


A CUF constituiu um gigantesco conglomerado empresarial, com
actividade em inúmeros sectores económicos, como a indústria, a banca,
os seguros, etc, tendo baseado o seu crescimento em cinco grandes
segmentos de produção:
Química orgânica: refinação de óleos, azeite, sabões, farinhas e
rações.
Química inorgânica: fabrico de ácidos.
Metalúrgica: cobre, chumbo, ouro e prata e tratamento de cinzas de
pirite.
Metalomecânica: oficinas de ferro, bronze e fabrico de aço especial
para a indústria do ácido sulfúrico.
Têxtil: primeiro com embalagens para os adubos e, depois, alargada
à produção de diversos tecidos.
Na década de 1930, para corresponder ao objectivo principal da
empresa, a CUF já tinha fábricas em Lisboa, Barreiro, Alferrarede,
Soure, Canas de Senhorim e Mirandela (química orgânica) e empregava 16
mil pessoas.
A CUF era a infra-estrutura económica mais importante da região
transmontana, dado que era praticamente a única, pelo que desempenhou
um papel fundamental na sua história e, particularmente, na de
Mirandela.
Constituía uma unidade de primeiro plano, tendo criado uma rede de
comissários, que realizavam parte das compras, o que acabava por não
ser rentável para a CUF, porque a azeitona era paga a diferentes
preços. Um comissário comprava a azeitona na aldeia dos Avantos e
vendia-a como se fosse de Mascarenhas ou de Mirandela, o que tinha
implicações no rendimento … A fim de solucionar este problema, a CUF
criou um pequeno laboratório e passou a comprar azeitona com amostra
laboratorial.
Em toda a região de Mirandela, o aquecimento fez-se durante muitos
anos, a partir do subproduto da CUF. O bagaço queimado era vendido para
as lareiras e produzia um borralho excelente.
Nos anos 40 e 50, tanto na altura da II Guerra Mundial, como no pós-
guerra, a CUF constituiu também uma infra-estrutura de apoio social. A
fome foi então muito sentida na região, sobretudo pelas classes mais
humildes. Como Mirandela era uma excelente zona agrícola, foi criada a
inspecção dos abastecimentos, a fim de se evitar o mercado negro, sendo
instituído um sistema de senhas.
O agricultor não podia vender livremente a sua produção, sendo
obrigado a entregá-la à CUF. De Mirandela, alguns comboios iam
directamente para a Alemanha, outros para os Aliados, e os «junkers» de
Alijó vinham comprar o minério e o azeite. As padarias vendiam o pão, o
denominado «charrão», que era já só farelo…
A CUF foi de extrema importância para a região de Mirandela:
garantiu postos de trabalho ao longo dos 70 anos da sua existência;
adquiriu os produtos da região; abasteceu-se no mercado local; dominou a
actividade comercial de Mirandela e da região; proporcionou apoio à
agricultura local; os seguros e a camionagem viverm 80% à volta da CUF;
movimentou o serviço de cargas e descargas da CP; forneceu energia
eléctrica a Mirandela e o bagaço para aquecimento. A população tirou
vantagens da existência da CUF, porque umas vendiam (azeitona, bagaço,
grainha, amêndoa), outras compravam (adubos, rações, bagaço) e os
trabalhadores viam os seus ordenados garantidos.




-Algumas características


A fábrica da CUF em Mirandela foi construída em 1926 num local
conhecido por Vale da Azenha ou Cruzeiro, perto da estação de caminho-
de-ferro da linha do Tua, numa área de 38 000 m2, abrangendo uma área
coberta de 11 000 m2.
Da área coberta faziam parte: o lagar de azeite, a unidade de
extracção de óleos, a caldeira, a central eléctrica, os secadores
verticais, o armazém do bagaço de azeitona, as tulhas de azeitona, o
armazém do subproduto, o armazém de matérias, as oficinas, a casa das
bombas, a casa do boi, os balneários e os refeitórios do pessoal.
Esta unidade era ainda composta por: uma chaminé com 38 m de
altura, ainda hoje existente, como símbolo da indústria da CUF
instalada no local; uma buzina que se ouvia a 20 km de distância, e
servia de referência às populações como sinalizador temporal, marcando
o ritmo da vida e das actividades; um ramal da linha do Tua, um
guindaste e uma roldana elevatória; o Bairro da CUF; a casa do
director; a casa da gerência e a casa para receber os vendedores.




Fig. 3. A chaminé do complexo fabril da CUF em Mirandela

Fonte: Mirandela – ninho de cegonha (habitado). Foto de Luís A. D. Liberal.
Disponível em: http://www.panoramio.com/photo/14763526. Data de consulta:
7/4/2015



O Bairro da Fábrica, ou Bairro da CUF, era composto por sete
edifícios, destinados a diverso pessoal da fábrica: electricista,
serralheiro, pessoal de escritório, o director, o encarregado de
pessoal. Havia uma casa para receber os vendedores que percorriam a
área e para nela descansarem, e a casa da gerência, um edifício ainda
hoje existente, o qual só era habitado pelo fundador da empresa,
Alfredo da Silva, quando visitava Mirandela, acompanhado pela sua
secretária, uma senhora francesa. O empresário só dispunha de
habitações em Mirandela e em Alferrarede, localizadas nas proximidades
das estações da CP, onde se instalava, aquando das suas visitas. As
casas eram de excelente qualidade e já possuíam aquecimento.




Fig. 4. Casa da gerência da CUF em Mirandela

Fonte: Mirandela – casa do Encarregado da CUF. Foto de Luís A.D. Liberal.
Disponível em:
http://www.alltravels.com/portugal/braganca/mirandela/photos/current-photo-
86852580. Data de acesso: 7/4/2015



Em 1929, entrou em laboração a fábrica de azeite da CUF, em
Mirandela, que alargou as possibilidades de valorização de um produto
da agricultura regional, a azeitona, em cuja frontaria se podia ler, em
letras de grandes dimensões: Companhia União Fabril – fabrica os
melhores adubos.
Em 1970, a fábrica já não era como a primitiva, mandada instalar por
Alfredo da Silva, uma vez que o lagar fora remodelado em 1956 e a
extracção de óleos em 1963.
O funcionamento da fábrica, propriamente dito, mantinha-se sem
grandes alterações, mas o subproduto, o bagaço, já produzia óleo
alimentar, enquanto que, anteriormente, o óleo de bagaço só era útil
para sabão.
O azeite só passou a ser feito de modo contínuo, a partir de 1956,
altura em que o lagar trabalhava com 26 prensas tradicionais, 4 moinhos
de pedra e em que utilizavam nas prensas, alimentadas por vagonetas,
capachos de Cairo.
Em 1956, o lagar foi remodelado, passando a ocupar uma décima parte
do edifício, tendo sido instalado um equipamento Alfa Laval, de fabrico
italiano, por técnicos franceses, e estava preparado para trabalhar a
azeitona da região. Já laborava 50 toneladas nas 24 horas. Não havia
capachos, mas sim grandes lavadeiras por jacto de ar que faziam uma boa
lavagem da azeitona. A azeitona era moída por moinhos de martelos e
depois seguia para os malaquecadores que trabalhavam com 2 sem-fins, um
direito e outro esquerdo.
Toda a massa era aquecida, através de uma câmara a vapor. Depois de
estar quente, seguia para as prensas contínuas que funcionavam com um
crivo em aço inox e um sem-fim, tipo parafuso. As prensas tinham um
comprimento de 3 metros e um diâmetro de 70 cm. Eram reguladas por uma
tampa de ferro fundido e uma alavanca de ferro com pesos de ferro
fundido. A primeira separação da miscela era feita, através de uma
grande centrífuga que separava três produtos em simultâneo: o azeite, a
água e a borra. O azeite passava para uma segunda centrífuga normal,
por um filtro e por um arrefecedor, seguindo depois para o armazém. O
caroço da azeitona saía das prensas com uma pureza de 3,5% a 4% e
seguia para o secador.
Em 1963, trabalhavam na fábrica, durante todo o ano, 40
trabalhadores efectivos e 40 sazonais (sazonais, neste contexto,
significa que não pertenciam ao quadro, mas que se encontravam
efectivamente ao serviço durante o ano inteiro, desempenhando as tarefas
que lhes eram atribuídas).
Como a fábrica estava modernizada, funcionava continuamente ao longo
do ano, estando equipada para as mais variadas funções. Até chegou a
produzir farinha com o excedente da batata.
A extracção de óleos laborava 24 horas/dia, durante todo o ano, com
o bagaço da azeitona, com a grainha da uva, que também dava cerca de 12%
de óleo para a alimentação, com a copra e o coquenote (vinham de África
milhares e milhares de toneladas), com o gérmen de milho e com a
azeitona.
Durante um ano, seis meses eram para trabalhar o bagaço da azeitona,
dois meses eram para trabalhar a grainha da uva; três meses para
trabalhar os outros produtos (copra, coquenote, milho) e um mês para
reparações.
Os extractores tinham uma carga de 6.000 Kg cada um e, em 2 a 3
segundos, descarregava-se o produto todo do extractor, conforme se
desejava, a 1 kg ou a 1,5 kg de pressão, em 2 a 3 segundos, através de
uma porta de descarga.
Dentro da fábrica, o bagaço era transportado em vagonetas manuais,
movimentadas manualmente, numa linha que existia ao longo de toda a
fábrica. Mais tarde, a movimentação dos produtos era efectuada por
«dumpers» e máquinas carregadeiras.
Existiam também uns secadores verticais para secar o subproduto.
Este percorria vários andares até que caía seco. Funcionava a lenha ou a
vapor.
O transporte do subproduto para a extracção era efectuado, depois de
seco, por uma conduta subterrânea de 100 metros de comprimento, por
metro e meio de largura e 2 metros de altura.
Na extracção, o carregamento do extractor fazia-se através de um
tapete que transportava o bagaço para o exterior, o qual tinha um tegão
que funcionava em cima de carris. Trabalhava com uma redutora e cabo de
aço.


Central Eléctrica


Quando a fábrica iniciou a sua actividade, os motores eram poucos e
a maior parte a vapor. Eram conhecidos por «burrinhos» embora, na
realidade, fossem motores de pistão. A base principal que fazia
movimentar toda a fábrica era constituída pelas caldeiras – duas – que
trabalhavam com a pressão de 12 Kg/cm2; tinham 8 m de comprimento por,
aproximadamente, 1,5 m de altura, e 100 tubos atestados de água para
aquecer.
As duas caldeiras, que trabalhavam todos os dias, faziam movimentar
toda a fábrica: a extracção, os secadores e, em caso de necessidade, o
lagar e a Central.
Os dois geradores eram a vapor e produziam energia para poderem
accionar os motores que forneciam energia a Mirandela (nas festas da N.ª
S.ª do Amparo, em que havia grande consumo deste tipo de energia, este
fornecimento tornou-se essencial).
Inicialmente, a Central funcionava a vapor. A partir de 1963, o
vapor tinha outro consumo, pelo que era preferível dispor de uma central
eléctrica. Através de um transformador, a electricidade que era recebida
da rede eléctrica nacional em alta tensão, passava a baixa tensão, a fim
de poder ser distribuída.
Nos anos 60, a CUF tinha completa autonomia, nomeadamente para a
manutenção dos equipamentos, e dispunha da melhor oficina de Mirandela.
Já se encontrava equipada com um torno, que torneava, se fosse
necessário, um veio com 30 metros de comprimento. As oficinas da CP
também dispunham de um bom equipamento, mas as da CUF estava melhor
equipada: um bom limador, um bom torno, um engenho de furar…
A caldeira trabalhou durante muito tempo a lenha, que era
transportada pelo caminho-de-ferro, e nessa época havia todos os dias
mais de 10 homens a rachar lenha. A lenha vinha de Rossas e de outros
sítios onde houvesse linha de caminho-de-ferro para poder transportar os
troncos. Depois passou a trabalhar com o bagaço, mas ainda se vendiam
milhares de toneladas de lenha para as cerâmicas e para o consumo da
população local. Também se consumiu muita casca de amêndoa.
A CUF era das empresas portuguesas que oferecia boas condições para
os trabalhadores. O Hospital da CUF era exclusivo para os trabalhadores
da empresa e estes já possuíam Caixa de Previdência. Os filhos dos
trabalhadores da CUF eram subsidiados nos estudos e recebiam roupa e
brinquedos pelo Natal.
Um serralheiro recebia, em 1963, numa oficina de Mirandela,
30$00/dia, enquanto se trabalhasse na CUF ganharia 47$00/dia e receberia
de 15 em 15 dias.
A CUF tinha duas bombas no rio Tua, de quatro polegadas, que estavam
24 h a extrair água para dois tanques com a capacidade de 300 mil litros
cada um, mas mesmo assim era necessário proceder-se à recuperação de
água, através de bombas de recuperação, para uns tanques, uma vez que o
consumo de água era bastante grande.
A água que entrava na fábrica era recuperada, através de umas bombas
de circulação, uns tanques, uns tubos refrigeradores, que a aspergiam.
Posteriormente era misturada com a que vinha do rio, que a arrefecia,
passando a circular por toda a fábrica.
Também se procedia à recuperação da hexana, através de um depósito,
uma cisterna, que se localizava a um metro de profundidade.
Os adubos que eram produzidos no Barreiro, tal como as rações, eram
vendidos em Mirandela no posto, no armazém da distribuição da CUF, o
qual era servido por um ramal ferroviário, em que o adubo vinha nos
vagões, ensacado, sendo descarregado por um guindaste, existente na
plataforma da fábrica, capaz de suportar 2.500 Kg de carga.
Esse guindaste servia para, após a chegada dos vagões à plataforma,
auxiliar a tarefa de transportar os produtos para paletes, passando
depois para «dumpers» que os conduziam para a respectiva tulha. O bagaço
vinha também em vagões.
Esse ramal, que estabelecia a ligação com a linha do Tua, ficava
próximo da estação de Mirandela. Junto das oficinas da CP de Mirandela
existia uma agulha giratória, que permitia as manobras dos vagões.


-Razões para o encerramento da fábrica da CUF


Em 1975, o maior grupo empresarial privado em Portugal, a CUF, foi
nacionalizado.
A fábrica de Mirandela encerrou em 1987 e até 1994 foi realizada a
venda dos terrenos, a expropriação e a legalização pelos compradores.


-Relação com a linha do Tua


O volume de negócios da CUF de Mirandela era quase todo escoado pela
linha do Tua.
O azeite era despachado para o Barreiro em bidões de 200 litros.
Os adubos – constituídos por ureia, sulfato de cobre, fosfato,
curato, enxofre em pó e molhado – começaram a ser transportados para o
armazém de distribuição de Mirandela quando a fábrica foi montada
(1926), sendo vendidos ao público até 1994.
A CUF, que beneficiou bastante do apoio da CP, especialmente para o
transporte de adubos, utilizou sempre o caminho-de-ferro, até terminar a
sua actividade em Mirandela, tendo encerrado em 1994 o ramal de caminho-
de-ferro que a servia.
Quando o caminho-de-ferro entrou numa fase de decadência, já existia
um serviço de camionetas que faziam o transporte directo de produtos,
como aconteceu com a copra e o coquenote.
Nos anos 70, ficava mais barato à empresa fazer o transporte de
produtos, através do comboio da Linha do Douro, até Foz Tua, onde eram
carregados em camionetas, através de um sem-fim, montado pela empresa
naquela estação, e seguiam para Mirandela.
O transbordo também levantou problemas a esta empresa, pelo que este
processo ficava-lhe mais económico e era uma operação mais rápida e
eficiente.
O sem-fim era um parafuso que empurrava os produtos, funcionando
como elevador: era só encostar a camioneta e esta era facilmente
carregada, pois bastava abrir a tremonha do vagão, o sem-fim caía, e
iniciava-se o carregamento.


Património industrial: o que subsistiu; utilização dos
equipamentos


O património industrial foi completamente demolido, restando apenas
a chaminé da fábrica, a casa da gerência e a roldana elevatória que
fazia a carga e descarga dos vagões de mercadorias.

Fig. 5. – Estação elevatória da CUF (cargas e descargas)
Fonte: Foto de Albano Viseu

O espaço foi ocupado pelos edifícios do Campus do Instituto Jean
Piaget/ Mirandela, pelo Hospital Terra Quente, por parques de
estacionamento e por lotes de terreno para construção de habitações.
A nível do acervo documental, durante a pesquisa realizada na casa
da gerência, não foi possível encontrar documentos, apenas algumas
fotografias. Muita documentação foi destruída e graças a uma pesquisa
realizada no arquivo da CUF, no Barreiro, constatou-se que ali não
subsiste nada de importante para a reconstituição do impacto sócio-
económico da CUF no concelho de Mirandela.










3. O Complexo Agro-Industrial do Cachão









Fig. 6. Camilo de Mendonça (1921-1984).

Fonte: Camilo de Mendonça. Disponível em:
http://www.politipedia.pt/mendonca-camilo-de-n-1921/. Data de
consulta: 7/4/2015



Nome da unidade empresarial: Complexo Agro-Industrial do Cachão

Protagonista principal: Eng.º Camilo de Mendonça, presidente do Grémio
dos Agricultores e da Federação dos Grémios da Lavoura do Nordeste
Transmontano (extinta em 12/12/1986).

A unidade empresarial:


-Factores que levaram à sua instalação


No início dos anos 60, o Eng.º Camilo de Mendonça realizou uma
primeira reunião, na sede do Sport Clube de Mirandela, para criar uma
cooperativa de olivicultores, medindo, dessa forma, a resistência da
maioria dos participantes e tendo de enfrentar três baluartes
económicos, com grande poderio naquela altura: a CUF, o capitão Ilídio
(presidente da Câmara de 1946 a 1959) e o Dr. Pires (delegado de
Saúde). Defenderam, nessa reunião, que não se justificava a criação de
uma cooperativa daquelas, porque os nove lagares de azeite que havia em
Mirandela se mantinham em funcionamento[10].
Existiu, por conseguinte, desde o início, uma oposição por parte de
alguns sectores da população, de muitas casas agrícolas, os quais
consideravam que esse empreendimento representaria um concorrente aos
produtos das suas explorações agrícolas, tendo aceitado com má vontade
a instalação das fábricas em Mirandela.
Os terrenos no Choupim, junto ao rio Tua, em Mirandela, local em
que o Eng.º Camilo de Mendonça pensara instalar o seu projecto,
atingiram valores tão altos que ele pensou instalá-lo no Cachão, onde o
complexo fabril seria construído mais economicamente, e permaneceria no
concelho.
O Complexo Agro-Industrial começou a ser instalado no Cachão em
1962, numa região plana, próxima do rio Tua, e dispondo de duas vias de
comunicação: o caminho-de-ferro e a estrada nacional.
O complexo precisava de um grande caudal de água para funcionar
(rio Tua e barragem Eng.º Castro Serra) e do caminho-de-ferro para
escoar os seus produtos e para captar matérias-primas, máquinas,
equipamentos, técnicos e operários.
O Complexo Agro-Industrial do Cachão viria a atingir «uma área de
18 ha de terreno»[11] e em 1964, ano em que entrou em actividade,
ocupava «uma área coberta de cerca de 9 ha»[12], prevendo-se que viria
a constituir um importante pólo de desenvolvimento da agricultura de
toda a região transmontana. Foi criado pela Federação dos Grémios da
Lavoura do Nordeste Transmontano (FGLNT), mas com uma gestão própria.
As suas diversas unidades fabris foram construídas por trabalhadores da
própria FGLNT, organismo assim denominado até ao 25 de Abril de
1974[13], tendo contribuído para o crescimento da aldeia do Cachão.
No seguimento da implantação das construções do empreendimento e
com o arranque da laboração de algumas fábricas, fixaram-se no Cachão
trabalhadores, técnicos e chefias, para os quais foram construídas
casas, com o objectivo de angariar e de fixar mão-de-obra.
O Complexo foi projectado para suportar uma verdadeira revolução
agrícola que colocaria a agricultura transmontana ao nível das melhores
congéneres europeias.
Para além de um Complexo destinado à agro-indústria, o
empreendimento incluía a extensão do regadio a uma vasta área,
suportado pela construção de 130 barragens de terra. E, na realidade,
conseguiu alcançar o patamar de maturidade industrial[14].
-Objectivos, aspirações e realizações


O Complexo Agro-industrial do Cachão surgiu com o propósito de
valorizar a região transmontana, através do lançamento de projectos que
modernizassem e expandissem as explorações agro-pecuárias (irrigação,
tosquia mecânica, maquinaria, estábulos, transformação industrial),
assegurassem a qualidade da produção e contribuíssem para o seu
escoamento para o mercado interno e externo[15].
O promotor e impulsionador de uma obra desta envergadura, que lutou
«pela dignificação e pela libertação das gentes da região do Nordeste
Transmontano»[16], foi o Eng.º Camilo de Mendonça, com a cooperação do
Dr. Trigo de Negreiros e o apoio do Estado Novo, que concluíra que para
a desenvolver e poder fixar as suas populações havia a necessidade de
desenvolver a indústria (empreendimento do Cachão) e nela implantar o
ensino superior (UTAD)[17], com núcleos de mecanização dispersos pelo
distrito, amparados e orientados por técnicos e complementados por um
avultado apoio financeiro, capaz de contribuir para a indispensável
mudança das mentalidades e assegurar a mecanização da agricultura.
O CAICA conseguiu imprimir dinamismo na aldeia do Cachão e na
região, possibilitando a promoção das principais indústrias
transformadoras locais, como a olivicultura, a vinicultura, a
panificação, a queijeira e os lanifícios.
As casas do núcleo primitivo fixaram-se junto à estrada e próximo
da estação de caminho-de-ferro. No Bairro Social, um pouco acima do
Complexo Agro-Industrial, na estrada que conduz a Vila Flor, viviam os
trabalhadores e as chefias do Complexo, que chegou a possuir um jardim-
de-infância, escola primária e um posto médico[18].
Entre os vectores dinâmicos que contribuíram para a elevação do
Cachão à categoria de aldeia e ao respectivo desenvolvimento, contam-
se: a estação de caminho-de-ferro e o complexo agro-industrial.
O complexo recebia o apoio dos Grémios da Lavoura, sócios da
Federação, que procediam ao fomento dos produtos mais adequados à sua
zona de acção. Existia também o apoio dos técnicos agrários e de
maquinaria (equipamento mecânico, tractores, alfaias agrícolas), sempre
com tecnologias de ponta para a época.
Estes núcleos agrários, denominados núcleos de mecanização, eram
promovidos pela FGLNT, em colaboração e com o envolvimento dos
agricultores.
Como a água era primordial para a agricultura, foram construídas
várias represas, como a do Cachão, Macedo de Cavaleiros, Vilarelhos,
Santa Comba, Alfândega da Fé, e existiam ainda outras em projecto[19].


-Algumas características


O Complexo integrava várias fábricas: de frutos preparados (conserva
de azeitona, cereja, figo com respectivo embalamento, produção de fruta
cristalizada e canditada); de frutos secos (castanha, figo, leguminosas,
amêndoa, noz, pinhão e avelã); de hortícolas (produção de doces
diversos, marmelada, fruta em calda, picles, polpa de tomate e ketchup,
diversos molhos, enlatados de feijão e outras leguminosas, espargos,
castanha para congelação, pimento vermelho, preparação de couve-flor,
tremoços, ervilhas, etc.); de queijaria (produção de queijo de diversos
tipos, manteiga, etc…); uma adega de vinhos (produção de vinhos de mesa,
entre outros); uma destilaria (produção de aguardente bagaceira, a
partir de frutos como figo e outros em estado deteriorado; queima de
vinho para aguardente vínica e álcool); uma fábrica de rações (alimento
composto para animais, para abastecer os fornecedores do leite, em
compensação da entrega deste produto); uma lavandaria das lãs (lavagem e
preparação de lãs); um lagar de azeite (com extracção de azeite e seu
posterior embalamento); uma central de vapor (diversas linhas de vapor
para todas as fábricas e, inclusive, através do vapor, a produção de
energia eléctrica, garantindo a auto-suficiência ao complexo fabril); um
matadouro (para abate de gado bovino, ovino e suíno); estavam
projectadas e em esqueleto outras fábricas, como as de curtumes, óleos,
refinaria, salsicharia e charcutaria. Dentro do Complexo funcionavam
ainda um lagar, um laboratório e oficinas de apoio.
O Complexo era composto por estas unidades industriais (instaladas
em pavilhões) dispostas em planos sucessivos na base do monte da N.ª
S.ª da Assunção, próximas do rio Tua, do caminho-de-ferro e da Estrada
Nacional n.º 213, contemplando os seguintes sectores: Fruticultura
(essencialmente azeitonas), Horticultura (tomate, pimento, espargo,
ervilhas…), Destilação e Vinhos, Lacticínios (queijo), Azeites, Rações,
Frutos secos e uma Lavandaria de lãs[20].
Todas as fábricas, e inclusive a sua edificação, os arruamentos, a
rede de água, a electricidade, o saneamento, e posteriormente a sua
manutenção e os melhoramentos contaram com os denominados serviços
auxiliares, com diversos sectores como: mecânica fabril, electricidade,
canalizações, serralharia, mecânica auto, carpintaria, pintura,
construção civil e armazém de materiais.
Com a instalação do Complexo do Cachão, proporcionou-se o
aproveitamento de culturas tradicionais, a introdução de novas
culturas, mais rentáveis, passando a existir a agro-indústria,
caracterizada por novos factores de desenvolvimento: o acompanhamento
técnico, a mecanização, o fornecimento de sementes, a irrigação, a
adubação…
Com esta alteração, que surgiu numa época em que o país procurava
explorar as novas condições económicas resultantes da sua integração na
EFTA, incrementando a sua industrialização, nascia um novo impulso
económico para a aldeia, para a região e para o país.
O Complexo, para se abastecer de produtos com que as fábricas
laboravam, recorria à «produção de terceiros, dos agricultores»[21],
recebendo produtos de várias localidades:
a castanha de Bragança, Valpaços, Carrazedo de Montenegro e até
de Penedono;
o espargo da zona de Valpaços, Vinhais e Carrazeda de Ansiães;
o morango de Macedo de Cavaleiros
o tomate na zona da Vilariça.


No Cachão e na região, havia uma agricultura tradicional e o
Complexo Agro-Industrial acabou por causar um impacto nas explorações
agrícolas, com a selecção de produtos (sementes e plantas), a adubação
e a introdução de máquinas. «A agricultura era modernizada e os
agricultores até aceitaram essa alteração, o que acabou por lançar as
bases de uma agricultura mais moderna»[22].
O Complexo Agro-Industrial do Cachão comercializou azeitonas
(verdes, pretas e recheadas), picles, azeite, compotas de vários doces,
feijão cozido de vários tipos, marmeladas e geleias, vários legumes
cozidos e enlatados, frutas em calda e cristalizadas, frutos secos,
leite e queijo, aguardentes vinícolas.
Todos os produtos eram devidamente embalados e comercializados com
as marcas Nordeste, Tua, Sabor e Vilariça. A marca "Nordeste" teve um
enorme impacto devido à qualidade das matérias-primas regionais, ao
conhecimento dos quadros técnicos, à experiência e saber dos seus
executantes, o que proporcionava a obtenção de produtos de alta
qualidade.
Entre os maiores mercados, para onde os produtos eram escoados,
contam-se: «o Canadá, a América, França, Suíça, Áustria, Alemanha»[23].


O Complexo Agro-Industrial do Cachão «gerou inúmeros postos de
trabalho para ser edificado. Havia muita mão-de-obra, quer de Trás-os-
Montes, quer até do Minho (especialmente de Viana do Castelo), de onde
vieram muitos canteiros, uma vez que os edifícios foram todos
construídos em granito, proveniente da zona da Carrazeda de Ansiães e
de Vila Flor.
Com cerca de três centenas de pessoas a trabalhar, causou um enorme
impacto na aldeia. A indústria veio a ser a tónica dominante, pois aqui
seriam transformados os produtos agrícolas e pecuários da região do
Nordeste Transmontano»[24].



Fig. 7 – A Vila Nordeste e o CAICA.

Fonte: Concelho de Mirandela. Freguesia de Frechas. Disponível em:
http://www.cm-mirandela.espigueiro.pt/freguesias/freg_frechas.html.
Data de consulta: 7/9/2006.



A aldeia era o complexo fabril. A água canalizada, o saneamento e a
electrificação surgiram pelas necessidades impostas pelo Complexo.
O Cachão contava com uma cantina, denominada "COOPENORD", onde os
trabalhadores se abasteciam de grande parte dos géneros alimentícios
para o seu quotidiano.
As pessoas deslocavam-se a Mirandela frequentemente, para realizar
compras, principalmente aos sábados, ou para idas ao cinema, às festas,
ao futebol. Mirandela foi sempre, para as gentes do Cachão, o centro de
atracção (cultural, comercial e social).
No Cachão, as pessoas tinham alguns espaços de encontro, de
convívio, de partilha de ideias, onde passavam os tempos livres: dentro
das instalações do Complexo, num pequeno bar, o CAT (Centro de Alegria
no Trabalho), onde se serviam bebidas (café, cerveja...) e havia jogos
(bilhar, matraquilhos...); e fora das instalações do Complexo os
lugares frequentados pelos trabalhadores eram duas tabernas e um café,
com muito movimento à noite[25].
Já na década de 80 a Direcção do Complexo promoveu a formação de um
clube de futebol, criando um campo para o efeito.




-Razões para o encerramento das fábricas do CAICA


Toda a aldeia estava absorvida na dinâmica do CAICA, graças à
criação de emprego, gerador de riqueza e de desenvolvimento: as
produções regionais eram canalizadas para as diversas unidades fabris,
para a respectiva transformação e comercialização, e daí a
concretização do slogan «do produtor ao consumidor ou do prado ao
prato»[26].
Após o 25 de Abril, o sector entrou em colapso e o CAICA passou por
uma gestão de diversas comissões instaladoras, ao sabor do
enquadramento político da época, o que veio a desacreditar uma obra que
tinha sido idealizada como o "Motor da Região Nordestina".
Em 1974, o MFA tomou conta da gestão do complexo e manteve-a por
dois anos. A Comissão Administrativa, nomeada para a FGLNT, era
constituída por 4 elementos e presidida pelo Capitão Teófilo Bento.
No dia 25/09/74, dá-se a extinção dos Grémios da Lavoura e das suas
Federações.
Nessa época, «a relação entre a administração, os directores e os
trabalhadores era normal para a época pós revolucionária. Era normal,
porque foi um período marcado por greves, de Norte a Sul do País,
reivindicações sociais, etc.
Só que o complexo agro-industrial empobrecia, definhava e a cada
dia que passava as dificuldades pareciam crescer… Portanto, não havia
muito a reivindicar, a não ser esperar que, no fim do mês, houvesse o
salário (precário)… E assistia-se a uma morte lenta e anunciada.[27]»
Entre 1974 e 1980, o complexo perdeu a identidade própria.
Em 1976, a propriedade do complexo ficou desafectada da Federação,
passando a empresa pública.
Dia 26/6/ 80, o Cachão passou a sociedade, mas a escritura de
constituição da Sociedade Anónima CAICA - Complexo Agro-Industrial do
Cachão, S.A. só é assinada a 6/1/1981.
Em 1983, o complexo é alvo do primeiro processo de recuperação.
Dia 8/11/1986, há uma tentativa de relançar e de sanear a empresa,
concretizando-se a transferência de direitos sociais e da titularidade
de participações e os objectivos não atingidos.
Em Setembro de 1992, o CAICA, SA é dado como falido e encerra as
suas portas. E, depois de uma série de tentativas goradas de
revitalização, a 17/9/1993 foi entregue pelo Estado às Câmaras
Municipais de Mirandela e de Vila Flor que recuperaram o projecto,
tornando-se detentoras de 97% do seu capital, tendo-se constituído a
A.I.N. - Agro-Industrial do Nordeste, S.A.
Em 1998, a maioria das unidades é reactivada, instalam-se 25
empresas no complexo[28] e constitui-se um Parque Industrial. [29]
A região muito esperava deste Complexo Industrial, mas as políticas
menos correctas, em relação a este, e os tormentos políticos, centrais
e regionais, não levaram o complexo a "bom porto", nem conseguiram
criar um "oásis" na região nordestina, como era o ideal projectado e
preconizado[30]: não houve o controle sobre o emprego dos dinheiros
públicos, nem a imputação de responsabilidades, perante aqueles que
procederam a uma incorrecta utilização dos mesmos; os desfalques; os
prémios de produção a chefias e a quadros técnicos afectaram uma
empresa imersa numa grave crise financeira; o planeamento, a certa
altura, fracassou; não se resolveram os problemas reais, capazes de
garantir à região o fornecimento da matéria-prima necessária ao
contínuo funcionamento das várias fábricas do complexo; as dificuldades
levantadas pelo não ajustamento da CP às necessidades de transporte da
empresa (a via reduzida dificultava o transbordo e a circulação dos
produtos e das matérias-primas e tornava o processo moroso; a empresa
tinha necessidade de ter ao seu dispor uma rede de carrinhas para ir
buscar os produtos às estações de caminho-de-ferro e para os conduzir
para os armazéns e para o mercado consumidor, …); a falta de
entendimento entre o CAICA e a CUF, em termos de cooperação na
utilização de equipamentos e na transformação de produtos idênticos…


-Relação com a linha do Tua


A linha não teve um papel relevante na exploração da unidade,
embora tenha sido importante para a escolha do local de implementação.
Inicialmente, transportou muitos produtos e foi essencial para
fazer o deslocamento de pessoal entre as aldeias vizinhas (Codeçais,
Brunheda,...) e as fábricas do Cachão e entre esta localidade e
Mirandela.
Nos anos 70, a linha continuou a ser atractiva para o transporte de
passageiros, mas não para as mercadorias: o CAICA tinha transportes
privativos; a concorrência dos transportes rodoviários; a aquisição de
veículos automóveis; a diminuição da produção; a quebra do poder de
compra; os atrasos das composições, devido à reparação de alguns troços
da via; a saída de pessoas para outros locais do país e do estrangeiro.
[31]
Os produtos tinham de ser levados a um lugar qualquer e não era
muito prático, através do caminho-de-ferro. E tinham de ter carrinhas
para ir buscar os produtos às estações.
O complexo tinha armazéns próprios em Lisboa e no Porto e, depois,
tinha carrinhas de distribuição.
O complexo tinha também dois autocarros para o transporte de
pessoal (um, para a zona de Carrazeda de Ansiães e de Vila Flor e, o
outro, para a de Mirandela) quatro carrinhas, com bancos e com lonas,
para levar e trazer os trabalhadores de Vale da Sancha, Vale Frechoso e
Vilarinho das Azenhas.
A linha estreita causou problemas no transbordo no Tua, como já
referimos, e encareceu o transporte dos produtos transformados, a ponto
de o complexo arranjar uma frota própria, porque com o comboio era
muito complicado.
Os adubos seguiam, nos últimos tempos, pela via larga da Linha do
Douro, até ao Pocinho, para não andarem a fazer o transbordo. Desta
estação, seguiam para os armazéns que a empresa mandara construir na
Vilariça, onde havia uma báscula, e onde eram depositados, e era a
partir dali que eram distribuídos.


Património industrial: o que subsistiu; utilização dos equipamentos


A Revolução de Abril "ditou" o abandono do projecto. Apesar da
grandiosidade e da riqueza de todas as infra-estruturas a ele
associadas, o CAICA entrou em decadência, após a Revolução de 25 de
Abril de 1974. Contudo, algumas fábricas, bem como as barragens de
Alfândega da Fé, Cachão, Carvalheira, Vila Flor, Vilares da Vilariça e
Vilarelhos resistiram ao abandono do empreendimento.
A situação económica complicou-se progressivamente, agravada pelo
facto de Portugal passar a integrar a Comunidade Económica Europeia e
porque a região ficava afastada dos principais e maiores centros
urbanos e de consumo, sendo que o transporte e a distribuição de
produtos saíam encarecidos pelas más acessibilidades.
Depois de um lento enfraquecimento económico e financeiro, o CAICA
acabou por encerrar. O património dos Grémios da Lavoura foi integrado
nas cooperativas e o Estado tomou conta do complexo. A maior parte do
património que restou do antigo Complexo, quase 98%, foi posteriormente
entregue às Câmaras Municipais de Mirandela e de Vila Flor.
Esse património passou a ser administrado por uma sociedade
representante de todos os accionistas, a A.I.N. (Agro-Industrial do
Nordeste, S.A.). Ainda funcionam algumas fábricas no Cachão que
empregam cerca de 200 pessoas, mas parte dos antigos funcionários do
CAICA viram-se obrigados a emigrar ou a procurar trabalho noutros
locais da região.
A aldeia parou um pouco no tempo. Foi o desvanecer do sonho
transmontano…
Há marcas indeléveis da presença de um "motor" que firmou um grande
avanço, mas cuja paragem ditou uma tremenda estagnação. O mesmo bairro,
a mesma estrada, o mesmo campo de futebol. Apenas umas quantas
melhorias, quase tudo reaproveitamentos de tudo quanto ali se fez.
Nos dias de hoje, ainda funcionam algumas unidades originais
(lavagem de lãs), mas perderam-se as de transformação hortícola e a de
lacticínios, que foi exemplar. Ao visitar o escritório, o laboratório e
as unidades de transformação sofre-se um tremendo impacto, ao constatar
que perderam a sua função.


"A aldeia parece então composta por três zonas demarcadas: o bairro
dos trabalhadores (Vila Nordeste), o Complexo, o Cachão Velho (…) A
sombra do cabeço arrepia-me; as bancadas já perderam o calor. Vou
embora e despeço-me com um aceno. Serpenteio até Mirandela, com a
cabeça cheia de sol, de ideias e de cansaço" (Diário de Campo, 2000). 
3. Conclusão



A Sociedade Clemente Menéres, Lda. e a CUF foram sociedades por
quotas, mas enquanto a primeira teve continuidade e persistiu até aos
nossos dias, apesar de após o 25 de Abril os Pioneiros dos Cortiços
quererem ocupar as suas instalações e gerir a Quinta do Romeu; a CUF
foi extinta, vindo a assistir-se mais tarde, em 1998, ao aparecimento
da CUF-Quimigal já sob gerência do grupo Mello.
O CAICA, como projecto agro-industrial, foi modelar no contexto da
industrialização europeia, mas foi esmorecendo e caminhando de encontro
ao adormecimento e à reformulação necessária, precisando de alento nos
nossos dias.
A História ressalvará, na sua trama constante e assertiva, o
encontro com o tempo em que os três projectos industriais existiram,
funcionaram, captaram riqueza e mão-de-obra e causaram impacto na
região transmontana e no todo nacional. E em que, igualmente, levaram o
nome de Portugal, graças à qualidade dos seus produtos, aos vários
recantos do mundo.
O interior continuará a afirmar a constância da qualidade da sua
produção e a defender o valor patrimonial em que as raízes identitárias
serão um suporte de revigoramento.
Muitos projectos industriais tiveram uma existência efémera, ao
longo dos séculos, num interior a precisar de ser valorizado e
desenvolvido, competindo-nos a nós historiadores analisar e
reconstituir a textura desses empreendimentos e mostrar o que falhou
nos seus processos de implementação.




4. Bibliografia



Artigos, monografias, documentos manuscritos e impressos


ALVES, Francisco Manuel (Abade de Baçal) – Memórias Arqueológico-
Históricas do distrito de Bragança. Bragança: Câmara Municipal
de Bragança, 1975-1990, tomo I.
ALVES, Jorge Fernandes – Das pedras fez terra – um caso de
empreendedorismo e investimento agrícola no Nordeste
Transmontano (Clemente Menéres). Revista História da Faculdade
de Letras, Porto, III série, vol. 8, 2007.
BARBAS, Silva (19/1/1891), "Excerto de uma carta dirigida a Clemente
Menéres & Filhos", In Arquivo dos Copiadores do Romeu.
Breve Historial do Complexo Agro-Industrial do Cachão: 1964-1992.
Cachão: Associação Comercial e Industrial do Cachão (2002)
Diário de Campo, 2000. 
Entrevista n.º 1 (57 anos, M, natural da freguesia de Mirandela,
pertenceu aos quadros do CAICA de 1987 a 1991, como Director dos
Serviços Auxiliares, actualmente é sócio-gerente de empresas
sedeadas no Parque Industrial do Cachão, Licenciado em
Engenharia Mecânica pela FEUP), 2009.
ENTREVISTA n.º 2 (69 anos, M, natural de Antas, concelho de Penedono,
reformado, Eng.º Agrónomo, trabalhou no CAICA), 2004.
MENÉRES, José Clemente - Entrevista realizada por Albano Viseu, Leonor
Beira e Eduardo Beira. Porto (Monchique/ Escritório da SCM):
Maio 2013.
Notícias de Mirandela, de 25/7/1968.
PARREIRA, José Joaquim Andrade – A Acção empresarial de Clemente
Menéres – entre o Porto e Trás-os-Montes (1867-1916). Porto:
FLUP (dissertação de Mestrado em História Contemporânea), 1997.
PARREIRA, José Joaquim A. – A industrialização da cortiça no Norte de
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perspectiva histórica. Actas do Colóquio. Lisboa: CLC -FLUP,
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SALES, Ernesto Augusto Pereira de – Mirandela: apontamentos históricos.
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VISEU, Albano Augusto Veiga – Memórias históricas de um espaço rural:
três aldeias de Trás-os-Montes (Coleja, Cachão e Romeu), ao
tempo do Estado Novo. Edição de autor. Porto: Faculdade de
Letras da Universidade do Porto (tese de doutoramento), Vol. I e
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VISEU, Albano Augusto Veiga – Clemente Menéres: o homem de negócios e o
comboio do Tua. in Anne McCants, Eduardo Beira, José M. Lopes
Cordeiro and Paulo B. Lourenço (Eds.), Railroads in Historical
Context. Construction, Costs and Consequences. [S.l.]: Foz Tua –
Memory of the Tua Railways and Valley Interdisciplinary Project/
Universidade do Minho/ Massachusetts Institute of Technology
Portugal, 2012.
VISEU, Albano Augusto Veiga - Desenvolvimento da Periferia
Transmontana: a Linha do Tua e a Casa Menéres. Vila Nova de
Gaia: Inovatec. Foz Tua – Memory of the Tua Railways and Valley
Interdisciplinary Project/Universidade do Minho/Massachusetts
Institute of Technology Portugal, 2013.
VISEU, Albano Augusto Veiga - A fábrica de cortiças de Mirandela, in
Anne McCants, Eduardo Beira, José M. Lopes Cordeiro and Paulo B.
Lourenço (Eds.), Railroads in Historical Context. Construction,
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Railways and Valley Interdisciplinary Project/Universidade do
Minho/Massachusetts Institute of Technology Portugal, 2014.
VISEU, Albano Augusto Veiga; BEIRA, Eduardo José Castanheira; CORDEIRO,
José Manuel Lopes - A "Fábrica Velha" da Clemente Menéres & Cª,
em Quadraçal, Romeu: uma cápsula no tempo. In Actas do II
Congresso Internacional sobre Património Industrial. Porto:
Universidade Católica. 22 a 24 de Maio de 2014.


Documentos informáticos


Alfredo da Silva - O criador de empresas. Disponível em:
http://economico.sapo.pt/noticias/o-criador-de-
empresas_196941.html.
A chaminé do complexo fabril da CUF em Mirandela - ninho de cegonha
(habitado). Foto de Luís A. D. Liberal. Disponível em:
http://www.panoramio.com/photo/14763526.
A Vila Nordeste e o CAICA. Concelho de Mirandela. Freguesia de Frechas.
Disponível em: http://www.cm-
mirandela.espigueiro.pt/freguesias/freg_frechas.html.
Camilo de Mendonça. Disponível em: http://www.politipedia.pt/mendonca-
camilo-de-n-1921/.
Casa da gerência da CUF em Mirandela - Mirandela – casa do Encarregado
da CUF. Foto de Luís Liberal. Disponível em:
http://www.alltravels.com/portugal/braganca/mirandela/photos/curr
ent-photo-86852580.
Clemente Menéres - Quinta do Romeu. Disponível em:
http://www.quintadoromeu.com/









Autores:


Albano Viseu é licenciado em História, mestre em Antropologia Social
e Cultural (As Memórias do Estado Novo no espaço rural: estudo
antropológico de um tempo histórico na freguesia do Romeu) e doutor em
História pela FLUP (Memórias históricas de um espaço rural: três
aldeias de Trás-os-Montes (Coleja, Cachão e Romeu) ao tempo do Estado
Novo). Professor aposentado de História do ensino secundário e
superior. Investigador do Centro de Investigação Transdisciplinar
Cultura, Espaço e Memória (Faculdade de Letras da Universidade do
Porto) e do projecto FOZTUA (convidado). Autor de vários livros e
artigos.


Eduardo Beira é coordenador do projecto FOZTUA. Engenheiro químico
(1974). Professor associado (convidado) da Escola de Engenharia da
Universidade do Minho (2001-2012), docente do programa MIT Portugal e
Senior Research Fellow do IN+ Center for Innovation, Technology and
Public Policy (Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa).
Autor de diversos livros e tradutor da obra do filósofo Michael
Polanyi.


José Manuel Lopes Cordeiro é doutor em História Contemporânea pela
Universidade do Minho, onde é professor auxiliar no Instituto de
Ciências Sociais. É director do Museu da Indústria Têxtil da Bacia do
Ave, assim como representante nacional do The International Committee
for the Conservation of the Industrial Heritage, organismo consultor da
UNESCO/ICOMOS para o património industrial, e presidente da Associação
Portuguesa para o Património Industrial. É também director da revista
Arqueologia Industrial. Membro da equipa coordenadora do projecto
FOZTUA.


-----------------------
[1] Trabalho de pesquisa, apresentado em Tomar, no dia 16 de Abril de
2015, na Biblioteca Municipal Dr. António Cartaxo da Fonseca, no II
Encontro Indústria, História e Património, promovido pelo Instituto de
História Contemporânea. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas.
Universidade Nova de Lisboa. Momento de intervenção: Indústria,
industrialização - Foz Tua (14.30 às 18:00 h).
[2] VISEU, 2007: 244
[3] Cit. por VISEU, 2013: 30
[4] VISEU, 2013: 35
[5] VISEU, 2013: 31-32
[6] PARREIRA, 1997: 70
[7] BARBAS: 1891
[8] VISEU; 2013: 74
[9] MENÉRES: Entrevista de Maio 2013
[10] VISEU, 2007: 277.
[11] Notícias de Mirandela, de 25/7/1968.
[12] Breve Historial do Complexo Agro-Industrial do Cachão: 1964-1992.
Associação Comercial e Industrial do Cachão. 2002: 1.
[13] Entrevista n.º 1.
[14] Entrevista n.° 2.
[15] VISEU, 2007: 337.
[16] Breve Historial …, 2002: 1.
[17] VISEU, 2007: 340.
[18] VISEU, 2007: 208-209 e 331-333.
[19] Entrevista n.º 1.
[20] VISEU, 2007: 330.
[21] Entrevista n.° 2.
[22] Entrevista n.° 2.
[23] VISEU, 2007: 330.
[24] Entrevista n.º 1.
[25] VISEU, 2007: 175.
[26] Entrevista n.º 1.
[27] Entrevista n.º 1.
[28] VISEU, 2007: 25 e Vol. II: 9 e 10.
[29] Entrevista n.º 1.
[30] Entrevista n.º 1.
[31] VISEU, 2007: 287.
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