DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: EM BUSCA DO EQUILÍBRIO PLANETÁRIO

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10/12/2014

[Artigo] ­ Educação Ambiental em Ação

ISSN 1678­0701

Número 50, Ano XIII. Dezembro/2014­Fevereiro/2015.

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 Artigos 09/12/2014

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: EM BUSCA DO EQUILÍBRIO PLANETÁRIO O planeta passa por profundas transformações ambientais que afetam todas as formas de vida que nele habitam, evidenciadas pelo fenômeno do aquecimento global

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: EM BUSCA DO EQUILÍBRIO PLANETÁRIO     Glória Cristina Cornélio Nascimento ¹Doutoranda  do  PRODEMA/UFPB;  Mestre  em  Desenvolvimento  e  Meio  Ambiente  (PRODEMA/UFPB);  Licenciada  em Biologia  (UVA);  Técnica  Ambiental  (IFPB);  Integrante  do  Comitê  Orla  de  Lucena­PB  e  da  ONG  MAR.  E­mail: [email protected] 

   

Eduardo Beltrão de Lucena Córdula Mestrando  do  PRODEMA/UFPB;  Especialista  em  Educação  (IESP);  Licenciado  em  Biologia  (UFPB);  Bolsista  Capes; Pesquisador integrante do GEPEA­GEPEC da UFPB; Presidente da ONG MAR. E­mail: [email protected]

 

  RESUMO   O  planeta  passa  por  profundas  transformações  ambientais  que  afetam  todas  as  formas  de  vida que  nele  habitam,  evidenciadas  pelo  fenômeno  do  aquecimento  global,  em  virtude  da  ação antrópica sobre o planeta, motivada sistema econômico capitalista que estimula o consumismo e, como  consequência,  maior  exploração  dos  recursos  naturais  ao  longo  do  tempo.  Este  quadro precisa  urgentemente  mudar,  através  da  Educação  Ambiental  como  processo  de  sensibilização dos indivíduos e na promoção de transformações de valores e atitudes que atinjam o âmago da essência  humana.  Desta  forma,  com  uma  mudança  de  percepção  de  mundo,  cada  indivíduo poderá  contribuir  de  forma  decisiva  para  desenvolver  em  sua  comunidade,  com  reflexos  na sociedade, da tão almejada sustentabilidade ambiental.   Palavras­Chave: Sustentabilidade; Recursos Naturais; Meio Ambiente.         1. Introdução   O desenvolvimento do modo de vida contemporâneo tem sua história calcada na utilização dos  recursos  naturais,  que  teve  seu  início  há  aproximadamente  1,7  milhões  de  anos,  com  o surgimento  do  Homo  erectus,  considerado  por  Oliveira  (1998),  como  o  primeiro  homem  de verdade, onde, nesta época, havia uma vivência de igualdade de relações intrínsecas com o meio ambiente e dele era explorado apenas o essencial à sobrevivência das comunidades. Porém, com a  evolução  social  do  ser  humano,  formação  das  comunidades  e  contínua  formação  das  cidades houve modificações e a necessidade pelos recursos foi crescente em proporção com o aumento populacional, dando início as reais mudanças do ambiente natural, que se agravaram com a era industrial,  início  da  era  do  capitalismo  e  do  consumismo  (CÓRDULA,  2012a;  CÓRDULA; NASCIMENTO, 2012a).             A sociedade contemporânea se desenvolveu ao longo de sua história baseada no modo de produção  capitalista,  onde  o  quantitativo  do  lucro  econômico  prevaleceu  sobre  o  qualitativo  das relações sociais humanas (Figura 1), o que levou a humanidade a uma ascensão vertical no último http://revistaea.org/artigo.php?idartigo=1906&class=02

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século,  porém,  com  aceleração  e  agravamento  dos  problemas  socioambientais,  e  que  ainda, continuam  a  se  repetir  apesar  da  expansão  e  do  desenvolvimento  científico  e  tecnológico  em todas  as  áreas  do  conhecimento,  o  que  mostra  um  paradoxo  contínuo  na  nossa  espécie (CÓRDULA, 2010a; 2012b).  

 

Figura 1 ­ Ação antrópica sobre o planeta em virtude do atual modelo socioeconômico de estímulo ao consumismo. Fonte: Os Autores, 2014.  

              Segundo Capra (2006a), pesquisas já mostraram que para as diferentes sociedades no globo  ao  longo  da  história  da  civilização  humana,  houve  momentos  de  ascensão  e  declínio, causados  exatamente  por  problemas  semelhantes  aos  que  vivenciamos  hoje  na  sociedade ocidental. As sociedades que continuaram a existir foram devido às que respostas positivas que conseguiram ter e superaram tais problemas, outras como: a Asteca, Maia, Assíria, Helênica etc., não  conseguiram  superar  seus  paradigmas  e  mazelas  e,  por  esta  razão,  tiveram  um  declínio acelerado passando a registros históricos.              Conseguir superar a crise social e ambiental determinará o futuro da humanidade, porém, a visão cartesiana, positivista e capitalista a que estamos sendo submetidos ao longo do tempo, impossibilita o ser humano de conseguir abstrair e detectar as ramificações que sustentam a vida por  toda  a  biosfera,  das  suas  interações  e  interdependências  (bióticas  e  abióticas)  que possibilitam  a  sua  existência  neste  planeta  (CAPRA,  2006b;  CÓRDULA,  2010a).  A  percepção necessária para conseguirmos estagnar os processos de degradação, consumo e poluição seria pela  adoção  e  internalização  de  uma  visão  sistêmica  do  planeta  (CÓRDULA,  2011a).  Caso contrário,  estaremos  fadados  a  continuar  cometendo  os  mesmos  erros,  assim  como  proferiu  o índio Marcos Terena: “tudo o que fazemos estamos construindo alguma coisa, até mesmo para as pessoas que não nasceram, que vão nascer um dia. Tudo o que construímos hoje vai recair sobre os seres humanos futuros” (MORIN, 2000, p.22).     2. O Paradigma Atual   Dias  (1998)  afirma  que  ao  longo  das  décadas  o  ser  humano  vem  modificando  o  meio ambiente, passando de um estado de equilíbrio entre as partes dos ecossistemas, para o estado atual com desequilíbrios e diversos problemas ambientais. Lovelock (2006), coloca em sua obra que estes danos ambientais voltam­se a espécie humana ­ aceleradora e causadora dos mesmos ­  a  nós  mesmos,  por  não  perceber  a  frágil,  tênue  mútua  ligação  com  o  planeta,  e,  desde  que conseguimos  despertar  para  o  planeta  sistêmico,  a  humanidade  está  lutando  para  expandir  a visão da Terra viva Gaia, na busca da homeostase planetária. Portanto, problemas ambientais são todos  os  danos  que  ocorrem  ao  meio  ambiente  de  forma  direta  ou  indireta,  o  que  acarreta desequilíbrio ecológico no meio biótico (seres vivos) e abiótico (GRISI, 2000).   É  bem  verdade  que  o  homem  soube  explorar  e  utilizar  os  recursos  da  biosfera  para  viver melhor, mas desde o século XIX essa evolução tem proporcionado vantagens imediatas, sem considerar  nem  prever  as  consequências,  a  longo  prazo,  de  tais  atividades  para  o  meio http://revistaea.org/artigo.php?idartigo=1906&class=02

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ambiente.  A  humanidade  está  tomando  consciência  da  envergadura  desses  danos  e destruições (BRASIL, 1997, p. 23).

  O ser humano constrói e reconstrói seu modo de vida a partir de sua consciência, formando assim,  a  nossa  sociedade,  que  por  sua  vez,  com  todos  os  seus  conceitos  religiosos,  étnicos, culturais, éticos, científicos, tecnológicos e econômicos, trazem reflexos na mudança do ambiente natural  para  acomodação  dos  centros  urbanos  e  rurais  (CÓRDULA,  2012a).  E  é  nas  áreas urbanas das grandes cidades que há um metabolismo intenso, consumindo em um nível elevado das matérias primas, o que demanda e gera um grande fluxo de energia (elétrica, calor, química, etc.) e como consequência, com grande produção de resíduos (poluição – fuligem, poeira, gases tóxicos,  lixo,  etc.)  que  retornam  ao  ambiente  causando  desequilíbrios  (DIAS,  1998;  GUATTARI, 1990).  A  consequência  deste  modelo  destrutivo  e  antiambiental  assim  considerado  por  Vernier (1994),  vem  trazendo  visíveis  alterações  ao  planeta,  em  todos  seus  continentes,  sendo representados principalmente a nível global, pelas modificações climáticas que se mostram a cada ano  (FELDMAN;  MACEDO,  2001),  e  que  provocam  a  diminuição  de  nossos  recursos  naturais como  o  caso  evidente  das  fontes  de  água  potável  e  dos  solos  férteis  e  aráveis  (SÃO  PAULO, 1999). Em poucos séculos, o modelo de desenvolvimento da humanidade irá destruir aquilo que, hoje,  concebemos  como  meio  ambiente  (TANNER,  1978;  BRASIL,  1997;  DIAS,  1998;  JACOBI, 1999). No Capítulo VI ­ Do Meio Ambiente, da Constituição Federal do Brasil (BRASIL, 1988a, p. 40), em seu Art. 225, que trata do meio ambiente, há em seu texto a seguinte afirmação:  

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo­se ao poder público e à coletividade o dever de defendê­lo e preservá­lo para as presentes e futuras gerações.

              Para que as premissas da Constituição ocorram, é necessário uma intervenção, como a que Vernier (1994) coloca como uma solução em seis alavancas de ação: (1) Leis mais efetivas de  prestação,  criação  de  unidades  de  conservação,  de  punitivas  na  emissão  de  poluentes  e fiscalização  mais  atuante;  (2)  Estímulos  econômicos  e  fiscais  para  produção  industrial  limpa,  na logística reversa, na redução da produção de resíduos sólidos; (3) Cidadãos e associações ativas na luta pela proteção e conservação dos recursos naturais e na fiscalização dos gastos públicos destinados  a  estas  mudanças;  (4)  Uma  educação  sobre  o  meio  ambiente  (Educação  Ambiental) na promoção da sensibilização da sociedade, buscando mudar hábitos e pensamentos e; (5) Uma ação internacional mais efetiva e coesa com os acordos internacionais e  com políticas públicas que  coloquem  a  sociedade  humana  rumo  a  um  novo  sistema  socioeconômico  que  reduza  o consumismo e a extração de recursos naturais. Portanto, a humanidade precisa urgentemente de uma mudança de paradigma, para adentramos em uma nova era (Figura 2).  

 

Figura 2 ­ Ação para mudanças da relação ser humano e natureza

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Fonte: Os Autores, 2014.   3/9

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            2.1. A Perspectiva Futura   É  da  natureza  humana  demorar  a  reconhecer  seus  erros  e  tomar  decisões  que  mudem  e corrijam as falhas cometidas, o que compromete nosso futuro, tornando­o incerto. Mas na certeza de que nossa espécie está ameaçada de extinção, pelos danos que causamos a este planeta por considerarmos  que  somos  dono  dele  (CÓRDULA,  2011b),  deveremos  mudar  nossos  modos  e pensamentos. Somos fadados à autodestruição, na medida em que somos canibais pelo poder, e medimos  forças  através  dos  tempos,  onde  as  civilizações  se  destroem  pela  ganância  da dominação  de  demais  nações  subdesenvolvidas,  em  virtude  do  tamanho  do  ego  de  reis, governantes e ditadores que acreditam serem superiores, mas que na essência estão longe disto (CAPRA, 2006a; CÓRDULA, 1999). No dia em que conseguirmos evoluir e dissociar a questão monetária que controla nossas vidas,  para  passarmos  a  vivermos  como  uma  verdadeira  sociedade,  contribuindo  para  o  nosso contínuo  desenvolvimento  e  entendimento  de  que  o  universo  interior  e  exterior  são  correlatos  e interdependentes,  passaremos  a  criar  um  nirvana  terrestre,  onde  os  avanços  tecnológicos  serão inimagináveis, que respeitem o ser e não o ter (BOFF, 1999; CÓRDULA, 2011c). Temos urgência em construir um modelo de desenvolvimento que se baseia no padrão sistêmico dos fenômenos planetários  e  do  universo  (BOFF,  2012).  Um  modelo  que  insurgisse  em  poucas  décadas,  a mudança total do modo de vida e do consumo no planeta (CÓRDULA, 2012c). Para isto, haveria de ter a retomada da produção de ecotecnologias verdadeiramente duráveis, com menor consumo de  energia  e  menor  produção  de  calor  –  tecnologias  frias  –  o  que  diminuiria  a  necessidade  de produção energética elétrica e pouparia os recursos naturais (CAPRA, 2006a; CÓRDULA, 2009; 2010b,c; 2011a,c; DIAS, 1998; 2006). Mudar é uma garantia de nossa sobrevivência, pois estamos infelizmente fadados a destruir a humanidade (CÓRDULA, 2012c), e, infelizmente, este processo de se autorefazer do planeta – reação  às  mudanças  brutais  que  impomos  a  ele  ao  longo  dos  séculos  –  se  reflete  em  escala global, delineando um novo mapa abiótico (geológico, climático, aquífero, etc.) e biótico (todos os seres vivos ou biosfera), que está entrando novamente em um equilíbrio ecossistêmico. No meio deste,  estamos  nós,  e  apesar  de  sermos  os  organismos  mais  adaptáveis,  por  modificarmos  o ambiente,  não  estamos  nos  percebendo  dentro  deste  processo  e,  consequentemente,  as tragédias humanas ocorrem, onde centenas ou milhares de vidas são ceifadas rapidamente, por tsunamis, vulcões ativos, terremotos, enchentes, nevascas, etc.  Nos sentimos impotentes perante tal processo, mas o que temos que fazer é entender que isto continuará a ocorrer até a completa homeostase planetária, mas quando irá diminuir, isto não sabemos (MATURANA; VARELA, 1997). O  que  sabemos  é  porque  começou,  qual  momento  de  nossa  história  começou  já  que  somos protagonistas deste processo que denominamos de caos ecológico (CÓRDULA, 2011b). Estamos  em  pleno  século  XXI,  o  tão  esperado  momento  da  humanidade,  vislumbrado, sonhado e até temido por muitos ao longo da história, como o término ou renascimento áureo da nova  era.  Para  alguns  houve  a  decepção,  mas  para  muitos  a  esperança  de  um  tempo  onde  às mazelas  que  afligem  o  ser  humano  não  mais  existiriam,  e  sim,  estaríamos  em  franco desenvolvimento  harmônico,  prospero  e  de  plenitude  de  nossa  espécie  em  nosso  planeta (CÓRDULA,  2012d).    Temos  em  verdade,  que  nos  preocuparmos  em  curarmos  a  nós  mesmos, para entrarmos em equilíbrio sistêmico com a nossa própria espécie, e consequentemente, com o meio  ambiente  (CÓRDULA,  2012e).  A  humanidade  busca  incessantemente  pela  evolução tecnológica  ao  longo  dos  séculos,  numa  competição  ilusória  de  poder  e  hegemonia  que influenciou  gerações  a  finco,  e  que  foram  levadas  a  esquecerem  de  evoluir  espiritualmente  e socialmente,  nas  relações  interpessoais,  o  que  garantiria  uma  humanidade  mais  humana, sustentável (CÓRDULA, 2010b). Lembremos que sempre é tempo e há tempo para mudanças e novos paradigmas para a humanidade.               2.3 Desenvolvimento e Paradoxos   O  ambiente  humano  continua  tanto  em  crescimento  social  quanto  econômico,  porém,  em constantes  paradoxos,  como  por  exemplo:  avanço  na  medicina  vs.  aumento  de  epidemias  e agentes  patológicos  resistentes;  desenvolvimento  da  agricultura  em  qualidade  e  quantidade  de produção  por  hectare  vs.  aumento  da  fome  planetária;  melhoria  tecnológicas  em  indústrias  para aumento  e  eficiência  de  produção  vs.  poluição  e  aumento  da  exploração  dos  recursos  naturais; aumento da expectativa de vida vs. aumento da mortalidade juvenil vítimas de patologias sociais; aumento  da  qualidade  de  vida  vs.  favelização,  desemprego,  exclusão,  etc.;  melhoria  no abastecimento  e  qualidade  da  água  potável  servida  a  população  vs.  escassez  e  falta  deste recurso não renovável em várias partes do globo (CÓRDULA, 2012c) (Figura 3).      

Figura 3 ­ Paradoxos do desenvolvimento da sociedade, gerando o atual paradigma.

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    Fonte: Os Autores, 2014.

      Segundo BOFF (2012), sustentabilidade são todos os processos envolvidos na manutenção da vitalidade do planeta, com a preservação e conservação dos recursos naturais, propiciando a continuidade  de  vida  de  todas  as  espécies,  concomitantemente,  com  o  desenvolvimento  da   humanidade,  para  atender  às  presentes  e  as  futuras  gerações.  Há  uma  crescente  falta  de consenso  no  que  diz  respeito  à  palavra  sustentável  ou  desenvolvimento  sustentável,  que  para Abílio  e  Guerra  (2006),  e  Dias  (1998),  são  recursos  bem  utilizados  hoje  para  que  as  futuras gerações  se  beneficiem.  Esta  concepção  provocou  um  equívoco  na  percepção  e  na responsabilidade ambiental do ser humano, pois gerou uma corrida a chamada “Era Verde”, com foco  direto  para  a  conservação  das  áreas  naturais,  o  que  acabou  deixando  ao  esquecimento  o modo de vida consumista e que leva, portanto, à geração de resíduos nas sociedades, o que, por um  lado,  agravou  a  qualidade  de  vida  do  ser  humano,  por  outro,  atingiu  diretamente  o  planeta, pela emissão de poluentes (CAPRA, 2006a; CÓRDULA, 2010b; DIAS, 2004).   A sustentabilidade do desenvolvimento é um problema complexo, porque a sua essência está imbricada em um tecido de problemas inseparáveis, exigindo uma reforma epistemológica da própria noção de desenvolvimento (MORIN, 2000, p.09).

  Podemos conceber, então, um período de pensamento incompleto da nossa concepção de sustentável,  que  na  verdade  estávamos  tratando  de  uma  pseudosustentabildiade,  pois  não abarcava  toda  a  complexidade  planetária  da  teia  que  sustenta  o  frágil  equilíbrio  da  vida,  e, portanto,  da  nossa  própria  espécie  em  sociedade  e  no  planeta  (CÓRDULA;  NASCIMENTO, 2012b,c).  Desenvolvimento  e  crescimento  são  palavras  bastante  distintas  e  não  levam  soluções ideais para uma melhor utilização de recursos naturais no planeta, pois, segundo Diegues (2001), devem se levar em conta o reconhecimento da existência de uma grande diversidade ecológica, biológica e cultural entre povos que nem a homogeneização sociocultural imposta pelo mercado. Apenas  processos  de  Educação  Ambiental  podem  refazer  a  percepção  do  ser  humano  sobre  si mesmo  e  o  ambiente,  garantindo  assim,  um  processo  transformador  de  atitudes  e  valores (CÓRDULA, 2010b).     3. Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável   A Educação Ambiental (EA) vem para tratar de sensibilizar o ser humano sobre seu papel na conservação e preservação dos recursos naturais do planeta (BRASIL, 1998b), atuando como uma  concepção  pedagógica  alternativa  para  gênese  de  práticas  ambientais  pelos  cidadãos  da sociedade contemporânea, visando à qualidade de vida ambiental (DIAS, 1998). A  EA  é  o  encontro  real  da  fusão  entre  a  razão  e  a  emoção,  não  distante  da  educação formal,  ensinado  a  criança  a  usar  sua  criatividade  e  a  pensar  no  amanhã,  de  forma  crítica  para que se tornem cidadãos conscientes, defensores de seus direitos e cumpridores dos seus deveres para  com  a  vida,  a  sociedade  e  a  família  (CÓRDULA,  2010b).  Porém,  atualmente,  o  que  é perceptível  é  que  a  EA  por  si  própria  não  conseguiu  ainda  que  o  ser  humano  passe  a  ter conhecimentos necessários ao desenvolvimento das práticas sustentáveis que levam a mudanças de comportamento, já que os problemas ambientais continuam a reincidir sobre as comunidades e a sociedade (CÓRDULA, NASCIMENTO, 2012d). As mudanças necessárias na população devem surgir  de  uma  mudança  de  valores  e  de  percepção  de  si  mesmo  sobre  o  planeta  e  a  vida,  para que o ser humano passe a desenvolver um Comportamento Ambientalmente Responsável (CAR), que só é possível através da hermenêutica ambiental (CÓRDULA; NASCIMENTO, 2012e).   Figura 4 ­ Educação Ambiental na sensibilização e transformação do paradigma atual.   http://revistaea.org/artigo.php?idartigo=1906&class=02

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[Artigo] ­ Educação Ambiental em Ação

   

    Fonte: Os Autores, 2014

  Atualmente os esforços para mudar a percepção do ser humano e da sociedade perante o meio  ambiente  é  universal,  atuando  em  vários  setores  da  própria  sociedade,  tendo  como  foco  a EA Formal, para formular cidadãos verdadeiramente ativos, participativos e conscientes dentro de nossa  sociedade,  para,  com  isto,  garantirmos  a  sobrevivência  do  ser  humano  nas  próximas décadas  (CÓRDULA,  2012c).  Encarar  estes  problemas  como  se  fossem  separados  e  não relacionados  conduz  a  soluções  de  curta  duração  e  pouco  alcance,  que  muito  frequentemente criam mais problemas ambientais de logo alcance que os que são resolvidos (TANNER, 1978). A consciência humana deve “conceber o ambiente em seu tríplice universo: o natural, o cultural e o social” (BRANCO, 2003, p. 09). O ser humano como mola mestra da educação ambiental, já que é um ser cultural e social, tem que se interá­lo ao universo natural para não separá­lo novamente do meio ambiente. Ao se trabalhar com educação, meio ambiente e sociedade, visando mudanças de atitudes e  valores  no  ser  humano,  entram  a  pedagogia  que  trouxe  à  luz  das  experiências  e  trabalhos desenvolvidos na área comportamental e ambiental, juntamente com a hermenêutica, propiciando a transmutação da EA para o surgimento da Educação Socioambiental (ESA) (CÓRDULA, 2011c). Esta abordagem, mais centrada na entidade humana, nas suas experiências e vivências, deixa de lado  o  tecnicismo  e  a  tentativa  de  simplesmente  “conscientizar”,  para  sensibilizar  o  ser  humano, através  de  seus  problemas  sociais  e  ambientais,  mostrando  a  relações  sistêmicas  envolvidas, onde  uma  afeta  diretamente  a  outra,  numa  retroalimentação  negativa  sem  precedentes (CÓRDULA, 2009; 2010b; 2012f). Quando se lança mão não só de uma pedagogia, mas de uma ecopedagogia aliada a uma psicologia  ambiental  é  possível  concretizar  ações  verdadeiramente  capazes  de  estimular  o  ser humano,  resgatando  sua  humanidade  tão  distorcida  como  nos  dias  atuais  (GADOTTI,  2000). Sendo sensibilizado, passa a se reconhecer como agente ativo de mudanças e passa também, a conhecer  o  ambiente  ao  seu  redor  e  atua  de  forma  a  preservá­lo  (DIAS,  1998).  Abandonando  a visão  egocêntrica  e  antropocêntrica  que  fragmenta  os  componentes  de  nosso  planeta,  e adquirindo uma visão holística e das interdependências, passa­se a considerar a Terra como um ente “vivo”, em virtude de toda a sua dinâmica, e desta forma, consegue­se preservá­la (CAPRA, 2006a).               4. Considerações Finais                           A  ação  humana  sobre  o  planeta  acelerou  processos  que  culminaram  nos  graves problemas  ambientais  da  atualidade,  gerando  um  paradigma  antiambiental,  baseado  no  modelo de desenvolvimento socioeconômico capitalista que dissociou a humanidade do planeta e levou a um  padrão  altíssimo  de  consumo  de  recursos  para  manutenção  do  que  passamos  a  chamar  de “qualidade  de  vida”.  Porém,  este  modelo  acarretou  graves  problemas  não  só  ambientais  que http://revistaea.org/artigo.php?idartigo=1906&class=02

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afetam  diretamente  a  humanidade,  mas  também  a  sociedade,  gerando  outros  grandes  conflitos sociais que se perpetuam ao longo das décadas.                         Para  mudar  este  quadro  e  adotarmos  um  modelo  de  desenvolvimento  sustentável,  é necessária  a  atuação  da  educação  ambiental  em  todos  os  níveis  e  esferas  da  sociedade, mudando assim, a percepção do ser humano sobre si mesmo, sobre este planeta e seus recursos, garantindo assim a sobrevivência desta e das futuras gerações. Caso isto não ocorra, estaremos fadados a um modelo pseudossustentável e ao declínio da humanidade a ponto de comprometer verdadeiramente nossa qualidade de vida e existência neste planeta.     REFERÊNCIAS   ABÍLIO,  F.  P.;  GUERRA,  R.  A.  T.  Educação  Ambiental  na  Escola  Pública.  João  Pessoa,  PB: Fox, 2006.   BOFF, L. Saber Cuidar: Ética do humano – compaixão pela terra. 16ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.   ______. Sustentabilidade: o que é e o que não é. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.   BRANCO,  S.  Educação  Ambiental:  metodologia  e  prática  de  ensino.  Rio  de  Janeiro:  Dunay, 2003.   BRASIL. Conservação Ambiental no Brasil ­ Programa Nacional do Meio Ambiente 1991­1996: Relatório. Brasília, DF: MMA/PNMA, 1997.   ______. Constituição Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1998a.   ______. A Implantação da Educação Ambiental no Brasil. Brasília, DF: MEC, 1998b.   CAPRA, F. O Ponto de Mutação.  26ª  reimpressão.  Tradução  Álvaro  Cabral.  São  Paulo:  Cultrix, 2006a.   ______. A Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. 10ª reimpressão. Tradução Newton R. Eichemberg. São Paulo: Cultrix, 2006b.   CÓRDULA,  E.  B.  L.  Um  Mundo  Perfeito?  In:  GUERRA,  R.  T.  G.  (Org.).  Educação  Ambiental: textos de apoio. João Pessoa, PB: Ed. Universitária da UFPB, 1999. p. 44­45.   ______. Novos Rumos da Educação Sócio­Ambiental. Revista Eletrônica Educação Ambiental em  Ação,  Novo  Hamburgo­RS,  Ano  VIII,  n.  29,  set.­nov.  2009.  Disponível  em: . Acesso em: 24 set. 2009.   ______.  Ser  Humano,  Meio  Ambiente  e  Aquecimento  Global.  Revista  Eletrônica  Educação Ambiental  em  Ação,  Novo  Hamburgo­RS,  Ano  IX,  n.  34,  dez/2010­fev/2011.  Disponível  em: . Acesso em: 10 dez. 2010a.   ______. Educação Ambiental na Escola. Cabedelo, PB: EBLC, 2010b.   ______.  Educação  Ambiental  Integradora  (EAI):  unido  saberes  em  prol  da  problemática  do  lixo. Revista Eletrônica Brasileira de Educação  Ambiental, São Paulo, v. 5, n. 1, 2010, p. 96­103. Disponível  em:  .  Acesso em: 09 dez. 2010c.     ______.  Ser  Humano:  do  criacionismo  ao  holostêmico.  Revista  Educação  Pública,  Rio  de Janeiro,  n.  20,  mai.  2011a.  Disponível  em: . Acesso em: 31 mai. 2011.   ______. Educação Socioambiental em Textos: da sensibilização, à reflexão, à ação. Cabedelo, PB: EBLC, 2011b.   ______.  Educação  Socioambiental  em  Textos:  da  sensibilização,  à  reflexão,  à  ação.  Vol.  1. Cabedelo, PB: EBLC, 2011c.   http://revistaea.org/artigo.php?idartigo=1906&class=02

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. Acessado em: 05 mai. 2009.   LOVELOCK,  J.  A  Vingança  de  Gaia.  Tradução  de  Ivo  Korytowski.  Rio  de  Janeiro:  Intrínseca, 2006.   MATURANA, H.; VARELA, F. De Máquinas e Seres Vivos: autopoiese – a organização do vivo. 3ª ed. Tradução de Juan Acuña Llorens. Porto Alegre, RS: Artes Médicas, 1997.   MORIN, E. Saberes Globais e Saberes Locais: o olhar transdisciplinar. Participação de Marcos Terena. Rio de Janeiro: Garamond, 2000.   OLIVEIRA, E. M. Educação Ambiental: uma possível abordagem. Brasília: IBAMA, 1998.   SÃO  PAULO  (Estado).  Conceitos  para  se  Fazer  Educação  Ambiental.  3ª  ed.  São  Paulo: Secretaria do Meio Ambiente/CEA (Série Educação Ambiental), 1999.   TANNER, T. R. Educação Ambiental. Tradução George Schesinger. São Paulo: Summus, 1978.   VERNIER, J. O Meio Ambiente. 2ª ed. Tradução de Maria Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1994.  

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