Design de Moda e Políticas Públicas de Fomento da Economia Criativa: Potencialidades e Fragilidades, em Natal/RN

June 3, 2017 | Autor: C. Rn | Categoria: Design, Políticas Públicas, Economia Criativa
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES – CCHLA DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS- DPP

SARAH GIOVANNA VENÂNCIO DA COSTA

DESIGN DE MODA E POLÍTICAS PÚBLICAS DE FOMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA: POTENCIALIDADES E FRAGILIDADES, EM NATAL/RN

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SARAH GIOVANNA VENÂNCIO DA COSTA

DESIGN DE MODA E POLÍTICAS PÚBLICAS DE FOMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA: POTENCIALIDADES E FRAGILIDADES, EM NATAL/RN

Monografia apresentada ao Departamento de Políticas Públicas como pré-requisito para obtenção do título de graduado no curso de Gestão de Políticas Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN.

Orientador: Prof. Dr. Fernando Manuel Rocha da Cruz.

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SARAH GIOVANNA VENÂNCIO DA COSTA

DESIGN DE MODA E POLÍTICAS PÚBLICAS DE FOMENTO DA ECONOMIA CRIATIVA: POTENCIALIDADES E FRAGILIDADES, EM NATAL/RN

Monografia apresentada ao Departamento de Políticas Públicas como pré-requisito para obtenção do título de graduado no curso de Gestão de Políticas Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN. Orientador: Prof. Dr. Fernando Manuel Rocha da Cruz.

Aprovada em: ____/____/_____

_____________________________________________ Professor Dr. Fernando Manuel Rocha da Cruz. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Orientador.

________________________________________________ Professora Dra. Soraia Maria do Socorro Carlos Vidal Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Examinadora interna.

_________________________________________________ Professora Dra. Patrícia Borba Vilar Guimarães Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Examinadora externa. 3

Da Costa Venâncio, Sarah Giovanna Design de moda e políticas públicas de fomento da economia criativa: potencialidades e fragilidades, em Natal/RN / Sarah Giovanna Venâncio da Costa / 2015 40 f. il. Orientador: Fernando Manuel Rocha da Cruz Trabalho de Conclusão de Curso – Gestão de Políticas Públicas 1. Design de moda em Natal 2. Políticas Públicas 3. Economia Criativa. I Universidade Federal do Rio Grande do Norte II Título

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AGRADECIMENTOS A realização deste trabalho não teria sido possível sem a contribuição de algumas pessoas, entretanto, a principal de todas elas é, indiscutivelmente, meu orientador, Professor Fernando Cruz. Obrigada pela orientação dispensada sempre com cuidado, pela ajuda dada em diversos momentos e situações, obrigada pelo estímulo, apoio, confiança, muita paciência e aprendizado! Posso dizer, com certeza, que tive o melhor orientador designado para mim. Muitíssimo obrigada! Obrigada a todos os professores pelos quais passei até a chegada deste momento. Todos vocês contribuíram, de alguma maneira, para com que eu esteja aqui hoje. Obrigada pelos ensinamentos obtidos nas mais diversas áreas: tudo o que vi e aprendi impulsionou minha vida como aluna e ser humano... Sem vocês, professores, o mundo sem vocês seria muito diferente, ouso dizer insustentável. Gostaria também de agradecer às entrevistadas pela confiança, pelo tempo dispensado e pela paciência. A participação de vocês foi essencial e de extrema importância. Meus mais sinceros agradecimentos e desejos de sucesso em suas jornadas. Obrigada a minha mãe, que sempre está comigo em minhas lutas, sempre acreditando em mim e me guiando sempre em frente. Obrigada por confiar e acreditar tanto em mim. Obrigada aos amigos e amigas conquistados durante a graduação, pelo crescimento e pela torcida infalível: vocês com certeza tornaram minha graduação muito feliz e inesquecível. Obrigada a tudo e todos que, direta e indiretamente, me ajudaram a moldar o caminho até aqui!

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RESUMO O design de moda em Natal é uma atividade em expansão, que vem encontrando melhorias em relação às condições da realização do trabalho como um todo com a crescente quantidade de designers, criação conceitual e medidas de apoio. Todavia, ainda carece de ações particulares que possam responder às especificidades identificadas como obstáculos ao exercício da função. Desse modo, é importante que haja na cidade o estímulo a políticas públicas que impulsionem este setor de modo que os atores criativos possam crescer profissionalmente junto com a cidade, que tem no design de moda, alguns de seus elementos culturais utilizados como fonte de inspiração e criação. Os principais objetivos deste trabalham englobam aprofundar conhecimentos sobre economia criativa no Brasil, caracterizar o campo da moda em Natal e entender, de acordo com os representantes do setor local, de que modo as políticas públicas poderiam promover suas atividades, bem como identificar suas principais fragilidades e potencialidades. A metodologia de pesquisa utilizada é qualitativa, com acesso a pesquisa bibliográfica, e a documentos oficiais; as técnicas empíricas contam com entrevistas realizadas com uma designer e uma gestora, com coleta de dados indispensáveis para a corroboração da parte teórica, e por fim, registros fotográficos. As principais conclusões acerca desta pesquisa são que, a situação do setor criativo do design de moda pode ser ajustada para melhor atender às necessidades observadas, tanto a partir de iniciativas do governo quanto dos trabalhadores criativos em uma cidade cuja atividade em pauta apresenta grande potencial, que possui muitos recursos culturais inspiradores, mas que, ainda assim, não oferece assistência pública à criatividade na moda local. Palavras chave: Economia criativa. Design de moda. Natal. Políticas públicas. 6

ABSTRACT Fashion design at Natal is a growing activity, which has been finding improvements when it comes to conditions of working in general ways, with an increasing contingent of designers, conceptual creation and supporting initiatives. However, there is still a lack of particular actions that could answer all specificities identified as obstacles in performing the function. Due this, it is important the existence in the city the boost of public policies that will impulse this sector, allowing the creative actors to professionally grow along with the city, which has in fashion design some of its cultural elements used as source of inspiration and creation. This paper aims to go deeper about creative economy at Brazil, characterize the fashion scenery at Natal, understand, according to the local sector’s represents, how public policies could improve their activities, to identify the main weak and strong potentials existent. The researching method is qualitative, with access to bibliographical researches and official documents; the empirical techniques count with interviews performed with a designer and a project manager, with indispensable data collecting to the theory part corroboration, and finally, photographic registrations. The main conclusions about this research is that, the situation of the creative sector of fashion designing can be adjusted to better attend the observed necessities, with initiatives from government as much as from the creative workers, at a town which the activity discussed presents a great potential, possesses several inspiring cultural recourses, but that yet do not offer public assistance to creativity in local fashion. Keywords: Creative economy. Fashion design. Natal. Public policies.

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LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Coleção Catulina .......................................................................................p. 26 Figura 2 – Stand Catulina na FIT (Feira Internacional do Setor Infantil) ................. p. 27 Figura 3 – Projeto Natal Pensando Moda .................................................................. p. 28 Figura 4 – Stands na feira nacional Minas Trend ...................................................... p. 31 Figura 5 – Reunião sobre o projeto Desenvolvimento da Indústria da Moda............ p. 33 Figura 6 – Orientações durante o primeiro encontro do projeto Desenvolvimento da Indústria da Moda ...................................................................................................... p. 34 Figura 7 – Material disponibilizado para os designers pelo projeto Desenvolvimento da Indústria da Moda ...................................................................................................... p. 35

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Sumário Agradecimentos........................................................................................................... p. 5 Resumo......................................................................................................................... p. 6 Abstract........................................................................................................................ p. 7 Lista de figuras............................................................................................................ p. 8 Sumário........................................................................................................................ p. 9 INTRODUÇÃO......................................................................................................... p. 10 1. ECONOMIA CRIATIVA..................................................................................... p. 15 2. O DESIGN DE MODA EM NATAL: A PESQUISA EMPÍRICA.................. p. 25 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... p. 36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................,,,,,,,... p. 38 APÊNDICE ............................................................................................................... p. 40

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Introdução Este trabalho é motivado pelo o que a Economia Criativa representa para seus setores de atuação, para os quais são determinadas diretrizes e suportes ofertados pelo Plano da Secretaria de Economia Criativa, cuja ambição é ampliar a visão do apoio que pode ser direcionado aos trabalhadores criativos por meio do Governo (BRASIL, 2012, p. 5). Neste sentido, por meio da publicação desse Plano, é observável a expansão do trabalho criativo a partir do que podemos entender sobre Economia Criativa e também é, todavia, ainda pungente a carência relatada neste trabalho em relação a diversas espécies de suporte aos atuantes que identificam no seu trabalho os vieses da Economia Criativa. Para melhor organização das ideias presentes nesta Introdução, vamos apresentar algumas definições, aprofundamentos acerca do tema e origens do conceito de Economia Criativa. Surgida na Austrália de 1990 e depois passando a ser liderada pelo Reino Unido em uma sociedade de cultura e relacionamentos pós-industriais (onde já foram desenvolvidas diversas tecnologias, com o crescimento das grandes corporações determinando modos de produção, divisão de trabalho e, consequentemente, estruturas sociais), a Economia Criativa busca lidar com a polarização e a desigualdade econômica, explorando potencialidades que podem desenvolver estratégias hábeis a responder positivamente a desafios culturais e econômicos (NEWBIGIN, 2010, p. 11). Estes desafios têm sua origem na falha de iniciativas para com o contingente populacional que se encontra menos vinculado às produções tradicionais e não encontra o suporte top-down necessário para o impulso não apenas produtivo de seu trabalho, mas também para a divulgação e, em reação, crescimento econômico e desenvolvimento sustentável, ou seja, onde suas ideias possuem o poder de quebrar paradigmas e explorar inúmeros potenciais. 10

A Economia Criativa visa entender as complexidades das novas formas de criação, comunicação, divulgação e relações para auxiliar à administração a causar impactos positivos nas especificidades oriundas de um modelo rico e recente de trabalho, respondendo assim aos novos problemas observados (WOOD et al, 2009, p. 2). Na maioria das vezes, essas especificidades correspondem à escassez de recursos que alavanquem a produção e a visualização da atividade criativa, uma vez que este tipo de atividade tende a ser independente, mas baseada no recurso que a cidade dispõe (CRUZ, 2014a, p. 19). O mundo passou, desde o início do século XXI, por muitas mudanças que transformaram as expectativas do âmbito humano. Assim, a falta de identificação com as estruturas tradicionais, a incapacidade de acompanhar as atividades de massa, entre outros, geraram a desvalorização da perspectiva de fazer parte do sistema clássico de trabalho, indo assim de encontro a uma nova dinâmica mais compatível aos seus interesses e realidades, onde são levados em consideração os potenciais das novas plataformas de informação, sons, símbolos, conceitos e formas de produção e visualização que gerem novos empregos diferenciados (NEWBIGIN, 2010, p. 9). A Economia Criativa traduz uma produção mutável uma vez que sua dinamicidade explora movimentos próprios com poder de inovação, agregando novos conceitos, atividades e indivíduos criativos. Assim sendo, a aglutinação de trabalhadores criativos, criação de novos setores e o crescimento dos conteúdos acerca do tema, como o Plano acima citado, incentivou uma nova visão sobre a necessidade de políticas públicas que enxerguem na cultura um ativo econômico indispensável para o desenvolvimento, acima de tudo sustentável, do rumo da Economia Criativa e das pessoas envolvidas (CRUZ, 2014a, p. 46). Estas políticas públicas, entretanto, parecem ausentes, como este trabalho abordará adiante, do cotidiano dos trabalhadores criativos ainda que haja o reconhecimento do setor criativo auxiliado pela publicação do Plano da Secretaria de Economia Criativa, que explana competências tais quais, “coordenação e desenvolvimento de atividades econômicas da cultura”, “políticas culturais dotadas de planejamento, coordenação e avaliação” e marcos legais que “efetivem a consolidação de direitos intelectuais, trabalhistas, administrativos”, entre outros (BRASIL, 2012, p. 40-41). Assim sendo, este trabalho propõe uma exploração acerca da carência da produção criativa observada no ramo do design de moda em relação ao suporte de políticas públicas voltadas à melhoria das condições de produção e divulgação do trabalho destes profissionais. Uma vez 11

exploradas algumas questões acerca da Economia Criativa, aprofundaremos então o setor criativo (sem desvinculá-lo com o tema) a ser estudado neste trabalho: o design de moda na cidade do Natal. Primeiramente, se faz importante explicar que a divisão dos setores criativos foi essencial para o setor público no momento da implementação de políticas públicas específicas, tendo em conta as potencialidades e as dificuldades encontradas em cada âmbito criativo, quantificação e qualificação dos atores criativos e conhecimento mínimo dos setores e suas atividades para melhor desenvolvê-los (BRASIL, 2012, p. 25). É também importante para a compreensão da dinamicidade da Economia Criativa deixar explícita a interação entre setores no momento da atuação, formando um mosaico cultural uma vez que um designer de moda, por exemplo, poderá utilizar os serviços de um artista de música, de fotografia ou das novas mídias como as plataformas digitais. Assim, a setorização se torna indispensável para a viabilização da atenção às necessidades específicas de cada setor criativo e, a disposição dos contatos em rede, para o fascinante modo como opera a Economia Criativa. A criação produtiva no setor do design de moda relaciona-se muito intimamente com a Economia Criativa porquanto carrega bastante potencial criativo e econômico na cidade e por se tratar de uma produção cujos artigos são responsáveis por representar identidades e símbolos da cultura regional, onde a interpretação e significância de sua utilização partem de percepções pessoais de quem utiliza o produto da criação. No design de moda, é buscado atribuir não somente uma utilidade prática à criação, mas também uma ideia de identificação com o conceito que tal produto representa. A indústria do design de moda é útil a partir do momento em que produz uma vestimenta. Sua utilidade, todavia, é conceitual. (WOOD et al, 2009, p. 14-15). O ramo do design de moda em Natal é efervescente e promissor. No entanto, é vítima do problema já citado o qual acomete o setor da Economia Criativa: a falta de assistência por parte de medidas públicas que possam facilitar as criações e divulgações dos designers e impulsionar as iniciativas privadas, como as atividades do SEBRAE/RN, a serem ainda exploradas neste trabalho. Em Natal, segundo dados coletados durante entrevistas formuladas para melhor elucidação do tema principal, o problema do ramo do design se agrava, passando da deficiência da assistência do Governo para falta de reconhecimento das atividades de criação como culturais e lucrativas uma vez que as atividades como 12

oficinas, formulação de projetos e realização de feiras de divulgação são oriundas de cunho privado por empresas que têm por finalidade estimular o empreendedorismo já que não há financiamento governamental. Não somente no nível municipal - de que principalmente trata este trabalho -, um dos grandes entraves observados no ramo do design de moda é a detenção dos meios de produção, da criação e divulgação da criação por parte das grandes empresas e dos designers cujas condições financeiras ou de redes de contatos permitem um sobrepujo sobre os atores criativos que não possuem as mesmas oportunidades e precisam criar um ambiente onde possam receber algum destaque. Fica claro que cada grupo de pessoas dentro desta classe criativa são passíveis de restrições sociais ligadas às suas condições correspondentes, como bens e propriedades (CRUZ, 2014a, p. 13). Há um feixe de incoerências entre as condições existentes para o design de moda na cidade, a mobilização dos atores criativos para a realização de atividades envolvidas e as garantias ao setor criativo contidas no Plano e em propostas de desenvolvimento a partir de atividades econômicas de organizações tais quais a UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) (BRASIL, 2012). É interessante também justificar este trabalho a partir da utilização de uma gama de potencialidades quando falamos de design de moda e Economia Criativa uma vez que: “A criatividade é então o método utilizado para explorar os recursos culturais, ajudandoos em seu crescimento” (CRUZ, 2014a, p. 36). A citação acima se faz imprescindível para o fortalecimento dos argumentos desta Introdução porquanto de dentro dela é possível extrair o resultado positivo e portador de potencial que é a união entre o trabalho criativo, independente e diferenciado do designer de moda potiguar e a inspiração que ele busca dentro da cultura, costumes e história de seu estado e dos recursos naturais de uma cidade tão rica em beleza e atrativos. Possuindo, por isso, o potencial de transformar o trabalho desenvolvido em economia de valor agregável, suscetível a impulsionar uma procura superior do mercado local pelos consumidores em relação às grandes empresas nacionais e estrangeiras e transformar não somente as condições de trabalho dos envolvidos, mas também sua situação financeira e inserção na sociedade do ramo da moda. O aproveitamento de habilidades, talentos, recursos naturais e culturais se mostra como um trampolim impossível de ignorar rumo à inclusão social e desenvolvimento 13

sustentável a partir do acesso a bens e serviços criativos (BRASIL, 2012, p. 35). Os próprios atores criativos ganham oportunidades para trabalharem e exporem mais facilmente suas criações, estimulando uma relação que vai além da classe criativa e Governo, mas também entre estes dois e uma sociedade que faça uso de um serviço criativo, social e economicamente inovador e viável. Tomando como base as questões acima explicitadas e a serem melhor aprofundadas neste trabalho, o objetivo geral a ser alcançado é compreender de que forma as políticas públicas podem contribuir com o desenvolvimento do setor criativo do design de moda em Natal. Os objetivos específicos, por sua vez, são: aprofundar conceitos, princípios e políticas públicas relativas à economia criativa no Brasil, caracterizar o campo da moda em Natal e comparar as medidas que o Plano da Secretaria de Economia Criativa propõe para o desenvolvimento socioeconômico no setor da moda com as representações locais do tema. Tais objetivos – geral e específicos – são a busca de uma resposta à pergunta de partida levantada para a construção deste trabalho: como as políticas públicas, voltadas para o desenvolvimento da Economia Criativa, podem impulsionar inclusão social e inovação econômica no setor da moda em Natal? Em relação à metodologia, as pesquisas realizadas serão qualitativas, que buscam compreensão do tema a partir de opiniões, fenômenos, hábitos, falas contextualizadas acerca da vida do entrevistado em relação à determinado assunto (MINAYO et al, 2008, p. 64), com perguntas ou tópicos construídos previamente pelo pesquisador de modo a levar o entrevistado a falar detalhadamente sobre o que se deseja conhecer melhor. As vantagens dessa espécie de pesquisa englobam obtenção de respostas a perguntas bastante específicas, respostas estas que nem sempre podem ser ou sequer foram quantificados, e contato mais profundo com as relações de processos que não são simplesmente reduzidos à variáveis. Além disso, existe a pesquisa bibliográfica documental, como acesso a bancos disponíveis de dados em Planos, plataformas de informações oficiais, secretarias e instituições governamentais e coleta informal de dados, como consultas a anuários. Para a continuação deste trabalho, podemos esperar uma sequência de capítulos divididos, respectivamente, de modo a contextualizar Economia Criativa, moda no Brasil e em Natal, e como se relacionam estes. Em seguida, teremos a análise e discussão do trabalho de campo e suas contribuições para o estudo realizado. Por fim, conclusões acerca do tema proposto e dos resultados das pesquisas. 14

1. Economia Criativa Iniciamos este capítulo abordando a contextualização da Economia Criativa no Brasil, que, como pode ser observado no Plano utilizado para orientação deste trabalho, enfrentou diversos desafios para ser construído. Desafios estes que englobam desde uma definição do conceito de economia criativa até à sua adequação às especificidades, características e realidades relacionadas ao nosso país (BRASIL, 2012, p. 21). O Brasil, além de apresentar desenvolvimento cultural e econômico tardio em relação a outros países já envolvidos com a economia criativa, se trata de um país com larga dimensão territorial, que possui muitos aspectos culturais, seus próprios entraves e amarras políticas, economia, fragilidades e potencialidades para que adotasse pronta e simplesmente o conceito de economia criativa concebido na Austrália e repensado na Inglaterra, por exemplo. Isso gerou a necessidade de serem definidos princípios norteadores que levassem em conta a diversidade cultural presente no Brasil, que precisava usar a riqueza das diferenças como base para um desenvolvimento sustentável (BRASIL, 2012, p. 34). Podemos identificar como princípios da economia criativa brasileira: diversidade cultural, sustentabilidade, inovação e inclusão social. A diversidade, como já dito, vem de modo a enxergar nas diferenças culturais presentes no país um forte instrumento de agregação de valores e gerador de novas perspectivas de trabalho, a sustentabilidade, de modo a levar em conta o bem-estar da comunidade e a sua preservação, de modo que possam prosperar juntas nos quesitos social, cultural e econômico, a inovação como forma de responder a antigos problemas com novas propostas, respondendo diferentemente às demandas do mercado ao mesmo tempo rompendo com ele (BRASIL, 2012, p. 34-35) e a inclusão social não apenas qualificando

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e abrindo espaço para um número cada vez crescentes de profissionais criativos, mas igualmente ampliando o acesso aos bens culturais na cidade como exercício da cidadania. Também, quando pensamos em trabalho e bens criativos nacionais, é importante que o entendamos não unicamente como fruto do uso da propriedade intelectual, mas também como algo oriundo de processos de criação e produção em consequência das observações e vivências das realidades dos trabalhadores criativos brasileiros (BRASIL, 2012, p. 23). A partir da interação entre as esferas econômica, social e cultural é que se pode construir um pensamento analítico em torno de economia criativa no Brasil, avaliando como estes três aspectos se influenciam entre si e de que modo cada um funciona de acordo com o desempenho do outro. Primeiramente, então, aprofundemos mais um pouco o que pode ser entendido por economia criativa no Brasil. Já sabemos que o conceito, para entrar em funcionalidade, teve de ser pensado de acordo com diferenças sociais, de modos de produção e fortes aspectos culturais. A este respeito, devido aos muitos setores culturais e sua importância para os envolvidos, o Ministério da Cultura observou a crescente necessidade da setorização para construção de estratégias, mapeamento, realização de diagnósticos, dimensão de cada setor e utilização do ciclo de criação, produção, distribuição, circulação, difusão e consumo de bens e serviços culturais (BRASIL, 2012, p. 24). Estas estratégias foram pensadas de modo a estimularem o desempenho positivo da economia criativa, emprestando meios para que a sociedade possa encontrar uma retorno financeiro e social por seu trabalho nos setores culturais e funcionais, uma vez que, quando o trabalho provém de uma resposta obtida por meio de um elemento conceitual forte em sua vida, cidade ou país ele também pode, por meio disso, se beneficiar de outras formas viáveis para seu sustento, manter o trabalho e impulsionar a disseminação daquela ideia e abrir destaque para seu setor onde atuem outros trabalhadores criativos; onde haja uma resposta do conhecimento coletivo para benefício também individual, onde haja transformação de valores, consideração das preferências pessoais, estilo de vida e perfil de consumo (BENDASSOLLI et. al, 2008, p. 11).

É importante também lembrarmos que o termo em inglês “creative industries” não deve ser aplicado no Brasil porquanto industries está mais relacionado ao que poderíamos chamar de setor criativo, e não indústrias criativas, como se entende literalmente em nosso país. Esta diferenciação se torna importante se considerarmos que se perde o 16

verdadeiro significado do termo, ajudando-o a compreender como e em quais aspectos ele se ajusta à nossa realidade, e que há os trabalhadores criativos, como os pequenos designers de moda, e os grandes empreendimentos (BRASIL 2012, p. 21-22). Em relação aos conceitos de economia criativa, temos alguns autores que os apresentam de acordo com suas observações ao longo das pesquisas. Para Miguez (MIGUEZ, 2007, p. 96-97), por exemplo, a economia criativa pode ser entendida a partir do conjunto distinto de atividades que estão baseadas na criatividade, talento, habilidade e tudo o que possa ser incorporado como propriedade intelectual. É importante destacar a importância da utilização da criatividade e criação intelectual como forma de desenvolvimento cultural, mas também econômico, pois há a centralização do elemento cultural como forma de produzir valor sobre tal elemento: assim, Cruz propõe que a economia criativa seja entendida a partir das atividades econômicas que tenham como objeto a cultura e da arte, de modo a alterar o valor do bem ou do serviço prestado, fazendo com que o ciclo econômico da economia criativa (criação, produção, distribuição, difusão e consumo) incorpore como principal meio de operação a arte, cultura e elementos culturais e artísticos existentes (CRUZ, 2014b, p. 3). E qual a importância da influência cultural na economia criativa? Esta se trata de uma pergunta muito significativa para que seja visto o potencial da existência de uma rotina inovadora de trabalho, mais segurança para pessoas que querem quebrar paradigmas e obter controle de suas vidas (BENDASSOLLI et al, 2008, p.11) dentro de um contexto promissor, porém não necessariamente provável dentro do nicho econômico de seu local de convívio. A cultura é intrínseca ao nosso entendimento de economia criativa, havendo nesse relacionamento um peso tanto para o trabalhador quanto para a ideia de trabalho criativo, já que cultura pode ser entendida como uma interação entre natureza e auto superação do indivíduo (EAGLETON, 2005, P. 14), onde haja a compreensão e utilização dos elementos naturais de modo que o indivíduo possa ser transformado e possa, então, transformar natureza em cultura por meio da arte. O trabalho no âmbito da economia criativa traz consigo uma ideia muito libertadora. A economia criativa tem o poder de movimentar o fluxo cultural e artístico de um local, promovendo itens considerados positivos, e colocando-os então em contato com aspectos sociais e humanos geralmente ignorados ou, como diria Howkins (2013, p. 26) com a

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visão de que a criatividade destinada à produção não pode existir se antes não houver estado relacionada à realização individual. A economia criativa se mostra como uma excelente forma de atividade inovadora uma vez que os países, principalmente os que ainda se encontram em desenvolvimento como o Brasil, apresentam dificuldades financeiras para respaldar as necessidades de populações produtivas em crescimento em termos econômicos e sociais. Os jovens apresentam cada vez mais dificuldades para se identificarem com os modos tradicionais de trabalho uma vez que possuem suas próprias expectativas e ideologias, cada vez mais estimuladas e propagadas com auxílio de veículos como a internet. Além do mais, países como o Brasil têm fortes pontos culturais, artísticos (HOWKINS, 2013, p. 109) e urbanos que podem ser explorados positivamente de modo a proporcionar ao trabalhador criativo a inserção no contexto social que quiser utilizando-se da criatividade para se expandir financeiramente. A economia criativa pode ser observada como uma estratégia inteligente para ser digna de atenção e de investimentos públicos, pois ela agrega muitos fatores importantes e proveitosos para um desenvolvimento sustentável tanto das expressões culturais quanto da própria economia (BRASIL, 2012, p. 124). Isto requer organização social e boa vontade política, o que é bom quando é almejado um país democrático e favorável para crescimento econômico, com atenção aos bens simbólicos, o que acaba instilando na sociedade, valorização pelos bens culturais existentes e também quando queremos uma destinação adequada e satisfatória da verba pública. As questões ligadas a este entrave (se a ideia é tão boa, por que em prática ela sofre para ser posta em prática?) englobam desde adequação dos marcos legais (BRASIL, 2012, p. 124) às dificuldades encontradas para o cumprimento do ciclo criativo, já citado neste capítulo, até fraco engajamento cívico por parte dos trabalhadores criativos. As necessidades de suportes legais para o trabalho criativo se chocam contra as dificuldades encontradas no funcionamento e disponibilidade de questões tributárias, trabalhistas, empresariais e de propriedade intelectual (BRASIL, 2012, p. 124-125). Howkins (HOWKINS, 2013, p. 31) tem algo bastante notável para refletirmos acerca dos problemas observados pela economia criativa em relação ao comportamento legal para com sua atuação: há o amparo legal para o trabalho criativo mesmo que o trabalhador por

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ele não receba reconhecimento. Todavia, tal amparo requer que a ideia seja transformada em obra, que tem de ser útil e prontamente utilizável. Se analisarmos, podemos notar a existência de uma grande burocracia até ao momento de encontro entre a produção cultural, corroboração de seu potencial e peso, e respaldos necessários para tal corroboração, melhor produção e distribuição do trabalho criativo. Ou seja, um lado só obtém melhorias se o outro ajudar. Há que enxergar uma força de exibição e distribuição para se dedicar a ajuda necessária. Então, adentrando mais um pouco o âmbito das complicações no relacionamento entre economia criativa e governo e tentando elucidá-la um pouco mais, também é abordada no Plano da Secretaria de Economia Criativa a questão da produção e consumo em massa das grandes empresas e indústrias, opondo-o ao modo de trabalho criativo (BRASIL, 2012, p. 124-125). Enquanto um valoriza a quantidade do conteúdo distribuído, o outro se dedica mais a como a população tem acesso ao produto, que, além de tudo, não foi produzido em larga escala, passando por processos mais humanos, significativos e de produção que carrega em sua matéria-prima elementos culturais. Há o desequilíbrio entre rentabilidades consideradas desejadas, o que prejudica tanto quanto a falta de marcos legais para facilitar e estimular a vontade pelo acesso ao fruto do trabalhador criativo. “O domínio público deve ser efetivo” (BRASIL, 2012, p. 125). Para fortalecimento de argumentos a favor do apoio público em investimento na economia criativa, é importante citar o crescimento do valor dos serviços de consumo em 5.2% entre os anos de 1994 e 2002, com participação do valor referente aos produtos culturais no PIB mundial em 7%, crescendo entre 10% e 20% anualmente (BRASIL, 2012, p. 7-8). Estes valores, logicamente, ainda estão muito conectados a países desenvolvidos e pioneiros no que se refere à economia criativa, desenvolvendo medidas que impulsionam tais índices a partir de estratégia de desenvolvimento e investimento interno, com atenção às potencialidades existentes nas cidades e no país. É interessante observar, todavia, não somente o crescente potencial econômico, que traz consigo, como já ilustrado, mas também atentar para o fato de que uma parcela da população vem se identificando e beneficiando da economia criativa, somando-se a isso o contato com os elementos culturais. A relação que pode ser fortificada entre os trabalhadores criativos e o governo tem muito a oferecer para os dois lados porquanto haveria mais ideias e ações cívicas e 19

encaminhamento de políticas específicas para prioridades sociais (EAGLETON, 2005, p. 17). Com o reconhecimento, por parte da população, das oportunidades culturais para melhoria de sua vida e cidade, é criado todo um novo entusiasmo onde há necessidade de conhecer os setores culturais de sua cidade, participar deles de algum modo e, por que não, consequentemente, viver por meio de algum deles. Para Eagleton (2005, p. 16), um bom modelo de relação entre governo e sociedade se trata de um estado que requeira evoluir, incutindo em seus cidadãos motivação, disposição espiritual, perspectivas, onde sejam reduzidos os antagonismos crônicos gerados por interesses contrários. Ou seja, a partir de uma revisão sobre conteúdos acerca da economia criativa, fica claro o poder que o estado carrega de estimular e aprender com a economia criativa para realizar gestões inteligentes e que sejam mais harmonizadas com as mudanças decorrentes na sociedade em níveis culturais, tecnológicos, sociais, econômicos e laborais. No sentido de promover os benefícios vindos da economia criativa, a Secretaria de Economia Criativa (SEC) também dispõe de esforços que vão além de pesquisas, compilações de definições e objetivos, por exemplo, mas também medidas adotadas e ações estratégicas. Estas medidas buscam facilitar a relação e comunicação entre governo e trabalhadores criativos a partir de um escopo que mostra o que é economia criativa, seus campos de atuação, vantagens, desafios a serem enfrentados em níveis institucional e organizacional (BRASIL, 2012, p. 39). A SEC é pioneira nas discussões acerca da economia criativa no Brasil e na atenção à necessidade de políticas públicas especiais para o trabalho criativo e, talvez por causa disso, acabou se tornando responsável pela liderança para obtenção de tais políticas por meio de suas estratégias (BRASIL, 2012, p. 38-39). Afinal, por mais que o Governo Lula (2003-2010) tenha sido importante no reconhecimento dos bens culturais simbólicos como potencial de melhoria econômica e social, os entraves institucionais acerca da questão continuam pendentes e carentes de atenção por parte do poder público e da comunidade. Entre as medidas adotadas, podemos citar o apoio aos pequenos empreendimentos considerados criativos e às políticas públicas que os fomente, uso da cultura como intervenção na vida da comunidade, mapeamento dos setores criativos, ampliação da produção, distribuição e consumo dos produtos e serviços criativos, pesquisas formas, tanto no sistema público quanto no privado, que possam financiar o fomento à cultura 20

(BRASIL, 2012, p. 41). Estas medidas montam as ações estratégicas da SEC, resultantes em um conjunto de políticas (BRASIL, 2012, p. 46) que englobam formulação de marcos conceituais, delimitação do campo de atuação, estudo das demandas setoriais, movimentações com agências de desenvolvimento, fomento e ministérios para identificação

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parceiros,

fontes

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recursos,

alinhamento

de

programas,

institucionalização de questões que envolvem a economia criativa, para assim promovêla mais facilmente, etc. (BRASIL, 2012, p. 48-50). A SEC e o Ministério da Cultura possuem parceria entre si e com outros ministérios para que possam não somente promover seus objetivos para com a economia criativa, mas também para contornar desafios de modo mais rápido e dinâmico. Tais desafios, como estão apresentados no Plano, se apresentam em forma de dificuldades para conseguir informações e dados sobre economia criativa no Brasil, articular maneiras de estímulo ao investimento em empreendimentos criativos, formação de gestores especializados em competências acerca de economia criativa e produção e distribuição dos bens criativos (BRASIL, 2012, p. 4951). As medidas tomadas tencionam refletir diretamente sobre a atuação dos setores criativos, tentando responder às suas demandas específicas. Para filtrar o direcionamento das ações voltadas ao suporte da economia criativa, foi necessária a criação e dimensionamento dos setores e quais expectativas eles tinham de preencher para serem considerados criativos. Primeiramente, como já citado, os setores foram pensados para auxiliar no trabalho de mapeamento e proposição de políticas específicas. Para serem considerados rotulados como criativos, os setores devem ter como processo principal, ao gerar um produto, um ato criativo que seja determinado por uma dimensão simbólica, cultural (BRASIL, 2012, p. 22), ou seja, ser criativo a partir de elementos culturais que promovam o lado econômico e também social. Alguns dos setores criativos, que podem atuar juntamente com outros setores, englobam música, design, cinema, turismo, arquitetura, publicidade, entre outros. Estes setores trabalham em torno do processo criativo conhecido pelas etapas de criação, produção, difusão e consumo, possuindo, no entanto, dinâmicas próprias (BRASIL, 2012, p. 24) que podem encontrar dificuldades e entraves em determinados pontos do processo. A possibilidade de combinação de setores e seus serviços na atividade da economia criativa torna a área ainda mais rica e interessante, todavia foi imprescindível não apenas delimitar cada setor, seus conceitos e ações, mas também definir quais atividades estão diretamente 21

relacionadas à geração de riqueza cultural e quais são impactados, por meio de serviços, por tais atividades (BRASIL, 2012, p. 26). Para a SEC, os setores criativos estão agrupados em categorias culturais. Podemos identificar no Plano cinco categorias culturais, que são: Patrimônio, Expressões Culturais, Artes de Espetáculo, Audiovisual /do livro, da leitura, da literatura e Criações culturais e funcionais. Na categoria do Patrimônio, temos o patrimônio material e imaterial, arquivos e museus. Na categoria das Expressões Culturais, temos os setores do artesanato, culturas populares, indígenas, afro-brasileiras, artes visuais e digitas. As Artes de Espetáculo abrangem dança, música, circo e teatro. No campo Audiovisual/do livro, leitura e literatura vem cinema e vídeo, publicações e mídias impressas. Por fim, na categoria de Criações culturais e funcionais, temos a moda, design e arquitetura. Essa categorização foi feita uma vez que a SEC observou a necessidade de ampliação do escopo dos setores a serem contemplados pelas políticas públicas (BRASIL, 2012, p. 30). Estas diferenciações se tornam importantes para direcionamento do apoio ao empreendedorismo, definição dos geradores de valor simbólico e análise do dimensionamento que os benefícios do trabalho no contexto da economia criativa podem trazer a determinado local ou região. Estas duas macrocategorias (BRASIL, 2012, p. 27) são divididas entre setores criativos nucleares e setores criativos relacionados. Por exemplo, a utilização de patrimônios culturais e naturais, espetáculos e celebrações podem impulsionar o fluxo turístico, roteiros de viagens e afins. Como podemos observar, a questão dos setores criativos está muito condicionada à compreensão dos efeitos, divisão de atividades, estrutura e funcionamento da economia criativa. De acordo com a UNCTAD (Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento), que redigiu o primeiro relatório sobre economia criativa a nível mundial, os setores criativos abrangem nove categorias diferentes, que são: sítios culturais e manifestações tradicionais, artes visuais e performáticas, publicações e mídias impressas e audiovisuais, novas mídias, design e serviços criativos. Se classificam, respectivamente, em patrimônio, arte, mídias e criações funcionais (BRASIL, 2012, p. 29-30) e é importante lembrar que o escopo dos setores foi ampliado, integrando vertentes com aspectos culturais e aplicação funcional, como moda, arquitetura e artesanato, por exemplo.

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Mensurar dados estatísticos que nos auxiliem a compreender a economia criativa no Brasil, ainda é muito complicado devido à inadequação dos bancos de dados, como o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), para mapear especificamente atividades criativas e devido à ausência de diretrizes que se ocupem em classificar o trabalho e força criativa (BRASIL, 2012, p. 31). Todavia, em 2010, com a ajuda da UNCTAD, chegou-se à conclusão de que, ainda deixando fora do levantamento diversas espécies de prestação de serviços que podem sim serem considerados criativos, no Brasil, a economia criativa contribuía com 104,37 bilhões de reais para com a economia, o que gira em torno de 2,84% do PIB nacional (BRASIL, 2012, p. 31). Outros dados interessantes relacionados à empregabilidade afirmam que, até o ano de 2010, 8,54% dos brasileiros estavam exercendo alguma atividade criativa, dos quais somente 1,96% se encontravam em situações formais de trabalho. Em relação à rentabilidade do trabalho criativo, foi comprovado que os trabalhadores criativos formais ganham 44% a mais do que os trabalhadores regulares (BRASIL, 2012, p. 32). Ou seja, há um grande potencial financeiro associado a bens culturais conflitando com modos de produção regulares ainda muito fortes e grande informalidade, o que acaba prejudicando a destinação de apoio aos setores criativos brasileiros. A economia criativa apresenta uma boa alternativa para formas defasadas, exaustivas e não satisfatórias de ganhar dinheiro e para promover os bens culturais presentes em nossa cidade. O fomento à economia criativa traduz muitos aspectos positivos que não podem ser ignorados quando levamos em conta o momento no qual a sociedade atual se encontra. A produção e a distribuição de produtos é complexa (BRASIL, 2012, p. 81), buscandose sempre um diferencial para manter-se desejável e atual, fazendo-se necessária a criação de uma ideia vendável, conceitual e criativa, que ultrapasse a forma de venda há muito utilizada, área onde predominam as grandes empresas já fortemente arraigadas associadas aos modelos ou padrões de consumo. A atividade criativa leva em conta a diferença no momento de concepção de determinado produto ou serviço, o que ele representa e de que modo vai influenciar a vida do consumidor e agregar valor ao aparato que representa. Esta forma de atuação se mostra também muito inteligente uma vez que lança mão dos novos dispositivos da tecnologia da informação, não apenas aglutinando uma ferramenta muito eficaz à atividade criativa, mas também descentralizando a criação e a divulgação uma vez que pequenas empresas e atores criativos ganham o poder de disseminar suas criações e produções 23

(BENDASSOLLI et al, 2008, p. 13). O poder que ela coloca na mão do empreendedor é surpreendente, abrindo novos espaços para ideias que podem desencadear uma série de benefícios. A economia criativa carrega um grande potencial para desafogar os métodos regulares de empregabilidade, produção, distribuição, colocando em prática parcerias públicas e privadas que possam responder mais rapidamente às necessidades da economia criativa, estreitando laços entre comunidade e governo no tocante a uma espécie de relacionamento geralmente falho em comunicação (BRASIL, 2012, p. 83). Além do mais, a economia criativa tem o poder de incutir na sociedade criativa um novo ânimo portador de energias que podem ser muito proveitosas para o local onde atua e para as pessoas envolvidas, pois o momento de criatividade é acompanhado por uma “explosão de consciência” (HOWKINS, 2013, p. 33) capaz de quebrar paradigmas e expandir horizontes. Afinal, o desenvolvimento deve vir junto com liberdade de escolhas. É importante que haja maior atenção não para supervalorização da cultura em detrimento da política, mas sim para políticas específicas (EAGLETON, 2005, p 17). O estudo realizado no Brasil acerca de economia criativa está caminhando rumo a medidas que respondam ao que as instituições privadas vêm fazendo em nome dos trabalhadores criativos, de modo que a gestão se torne mais cívica, democrática e inteligente atendendo a uma crescente tendência da comunidade, aproveitando as potencialidades da tecnologia e as novas modalidades de buscar crescimento sustentável. “Quando os interesses políticos governam os culturais, uma versão de humanidade é definida, a qual não engloba todas as expectativas e ideias” (EAGLETON, 2005, p. 18) e é isso que vemos acontecer diariamente, onde se trabalha muito e se ganha pouco, para enriquecer mais ainda os já muito ricos. Urge assim uma maior mobilização social que busque mais espaço para conhecimento por parte da população do que é economia criativa, buscando marcos legais e parcerias entre governo e órgãos já envolvidos com este novo modo de criação, produção e distribuição, pois apesar do ser criativo ser autossuficiente para sua existência, são necessários instrumentos e recursos para a fabricação de produtos criativos (HOWKINS, 2013, p. 32). Assim, este capítulo apresentou conceitos acerca da economia criativa, sua concepção, contextualização e aplicabilidade no Brasil de acordo com as especificidades, potenciais e fragilidades observadas, de modo a formar uma síntese que elucide em relação ao que 24

é considerado como obstáculo ao crescimento da população e do país/cidade e ao que pode ser trabalhado. A seguir, tornaremos o estudo mais recortado em relação à economia criativa, no capítulo referente à pesquisa empírica, que buscou averiguar, a partir de entrevistas, a situação do design de moda em Natal e como este setor corresponde às expectativas e necessidades dos pequenos trabalhadores dentro de suas realidades.

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2. O Design de Moda em Natal: a pesquisa empírica. Neste capítulo podemos observar o desenvolvimento da metodologia qualitativa necessária para a realização deste trabalho, que se deu por meio de entrevistas realizadas com a designer Deise Estanislau e a gestora Verônica Melo, do projeto de apoio à moda, Natal Pensando Moda, realizado anualmente na cidade do Natal. Estas entrevistas foram realizadas no mês de março de 2015 na unidade do SEBRAE de Natal localizado na Avenida Lima e Silva, com o auxílio de gravações. A importância deste capítulo está pautada sobre o auxílio da construção de uma visão crítica e realista acerca do setor da moda, um setor da economia criativa, em Natal, partindo da perspectiva dos trabalhadores criativos. A primeira entrevista foi realizada com Deise Estanislau uma designer de moda praia infantil. Ela desenvolve suas atividades como designer há 18 anos, e é responsável pelos processos de criação das peças e coleções. Quando perguntada sobre qual a importância da cultura potiguar em seu trabalho, ela afirmou que os elementos da cultura regional são “fundamentais”. De acordo com suas próprias palavras, no momento do desenho das peças e desenvolvimento da coleção, vale-se da história que aquela roupa carrega, isto é, as influências dos elementos que ajudaram na transformação deles em uma peça que tenha “contexto e conceito”. Para atrair políticas e ações que fomentem a economia criativa, que busca o desenvolvimento pessoal em conjunto com o coletivo de modo que ambos aspectos sejam melhorados, é importante que sejam exploradas as potencialidades reconhecidas e respeitadas do estado ou cidade, de modo que se possa transmitir o estilo de vida, clima, recursos naturais, música, literatura, entre outros, na composição de uma moda que venda mais do que apenas roupas, mas principalmente uma identidade desejada e de alto valor agregável (KALIL et al, 2010, p. 13-14).

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Fig. 1 – Imagem referente à coleção do segundo semestre de 2015, feita pela Catulina, empresa da Deise. É bastante notável o conceito utilizado pela designer, com influências tropicais e utilização das potencialidades da cidade, como o clima ensolarado, praia e o morro do careca, ao fundo. É interessante destacar que todas as estampas e tecidos são criados pela própria marca em uma produção independente e previamente pensada. Fonte: Catulina, 2015.

A contextualização cultural da criação da entrevistada é uma forma de divulgação diferenciada em si. Mas referiu que também utiliza fortemente os meios eletrônicos, como as redes sociais, que, no caso da moda, se tornam bastante úteis para a divulgação dos trabalhos dos designers uma vez que assim ganham o poder de disseminar suas criações de forma independente e descentralizada (BENDASSOLLI et. al, 2008, p. 13), onde o fluxo de compartilhamento de ideias, criações, conceitos e tendências é mais rápido e eficaz uma vez que há um grande público nas redes. Ela fala que as feiras de moda, organizadas em Natal pelo SENAC e outras, realizadas em outros estados do Brasil, também são ótimos meios de divulgarem o trabalho e de fortalecer os contatos com outros designers e empresas interessadas. Como se pode ver, o quesito divulgação é muito importante para o desempenho e continuação do trabalho do designer, e quanto mais atual, rápido e eficiente para tornar os contatos em rede duradouros, melhor o resultado obtido pelos designers. Estes contatos vão desde outros designers até clientes, que, segundo a entrevistada, englobam lojas multimarcas espalhadas pelo país, para quem ela envia suas coleções previamente divulgadas pelos meios já citados. Assim como em outras cidades do Brasil, 27

em Natal, busca-se constantemente a nacionalização e depois a internacionalização dos trabalhos dos designers/empreendedores (SEBRAE, 2015) e isso pode ser explicado a partir da fraca movimentação no ramo da moda a nível local e regional: os artistas não recebem o devido reconhecimento por suas criações, o que dificulta a propagação do trabalho local e faz com que esses talentos busquem novos espaços, causando perda para a cidade em diversos sentidos e deixando de impulsionar esse setor da cena criativa

Fig. 2 – Stand registrado durante a feira FIT no dia 30 de maio de 2015, em São Paulo. Catulina se chama a empresa moda praia da Deise, que utiliza elementos culturais e climáticos típicos de Natal em suas criações. De acordo com Deise, a viabilização de viagens e montagem de stands para exposição é possível graças a esforços pessoais e ao auxílio oferecido pelo SEBRAE RN. A feira em questão ocorreu do dia 30 de maio a 2 de junho e é muito útil não somente para exposição de trabalhos, mas também para estabelecimento de contatos com outras empresas, designers e patrocinadores que possam nacionalizar a marca, já que em Natal os designers não encontram reconhecimento e respaldo financeiro suficientes. Fonte: Catulina, 2015.

Em relação à avaliação da entrevistada para com as atividades do designer potiguar, ela afirma que se trata de uma área cujo desempenho melhorou consideravelmente com o passar dos anos graças a iniciativas como os projetos realizados por empresas privadas como o SEBRAE, que empreende ações anuais como o “Natal Pensando Moda” cuja abrangência engloba efetivamente uma média de 18 empresas locais, gerando a conexão delas com designers de outras cidades, estimulando o aprendizado, maior visualização e troca de experiências entre os designers e suas empresas. Neste momento, ela ressalta 28

novamente a importância da cultura local (elementos climáticos, literários, históricos...) no trabalho do “Natal Pensando Moda”, que busca atrelar o crescimento do artista à utilização das potencialidades observadas como propulsoras do desenvolvimento sustentável do local.

Fig. 3 – Edição do Projeto Natal Pensando Moda 2015, que contou mais uma vez com a presença de designers renomados como Ronaldo Fraga (foto), convidado a ministrar palestras, minicursos e possibilitar que os designers locais possam trocar experiências, tirar dúvidas, aprender e receber dicas de quem está na estrada há mais tempo. O projeto é realizado anualmente e é a principal medida em vigor na cidade realizada para o setor do designer e pequeno empreendedor de moda. O evento é realizado pelo SEBRAE e tem seu foco em artistas que utilizem elementos culturais, regionais e criativos em seu trabalho. Fonte SEBRAE RN, 2015.

Falando em potencialidades do exercício do design de moda em Natal, a entrevistada afirma que estas precisam ser buscadas com muito esforço pelo trabalhador criativo “se ele quiser se expandir e obter sucesso porque o Estado não ajuda em nada e a atividade ainda não é reconhecido pela comunidade natalense”, de acordo com suas próprias palavras. Ela também falou que o estado do Rio Grande do Norte é rico em potenciais naturais onde um artista de moda pode buscar inspiração, mas é o próprio designer que “tem de correr sozinho atrás de oportunidades que possam fazer acontecer seus sonhos”, ou seja, é uma área onde há artistas atuantes, mas pouco auxílio desde o processo de criação até ao de divulgação. De acordo com Howkins (2013, p. 121), um produto ligado 29

à moda pode sim ser protegido por direitos autorais, uma vez que é feito com perícia e esforço de um ou mais indivíduos e, portanto, se qualifica como trabalho artístico. Na entrevista, as potencialidades ficaram bastante conectadas às dificuldades enfrentadas no trabalho do designer de moda potiguar já que podemos identificar a seguinte observação que gera bastante entrave no exercício, segundo a entrevistada. As principais dificuldades encontradas por ela e muitos de seus colegas no tocante ao trabalho do designer de moda em Natal englobam aspectos intimamente ligados à falta de apoio público. Ela afirmou que, por parte do governo, não há apoio algum: não existe projetos específicos para o setor criativo de design na cidade, e quando, raramente, acontece alguma iniciativa pública remotamente está relacionada ao trabalho dela, não conseguindo sequer participar. “Como tenho muitos colegas com quem compartilho experiências, sei que eles também passam pelo mesmo que eu e sofrem com essa falta de apoio... Não recebemos estímulo nem ajuda de espécie alguma na cidade. A única hora em que a gente vê o governo se mobilizando em prol dos nossos interesses é quando participamos de feiras nacionais em outros estados. E mesmo assim, a verba vem do governo federal. Do local, nada.” (Deise Estanislau)

O ramo da moda tem um grande potencial para alavancar mercados e economias de uma cidade ou país; a moda, pensada através de um conceito e divulgada com a ajuda das novas mídias, é forte objeto de atenção (KALIL et al, 2010, p. 9), gerando desejo não apenas pelas roupas, mas pelas ideias e cultura que a vestimenta diferenciada e previamente pensada transmite, e é assim que pensam e operam os designers locais, sem o respaldo do governo. A entrevistada referiu ainda que a ajuda necessária vai desde o estímulo ao trabalho, como realizações de oficinas e cursos específicos, até à disponibilização de verba para movimentar a cena local, para quem sabe tornar o ramo tão grande a ponto de nascer um polo de moda em Natal como o de Fortaleza, cujo setor da moda tem mais apoio do Estado e mobilização dos designers do que aqui. A moda, enquanto setor criativo, passa a carregar o potencial de agregar uma identidade única no que é criado, atribuindo vantagens e características únicas convidativas o bastante para atrair e encantar público nacional e internacional (KALIL et al, 2010. P 13). Para que isso aconteça e traga os benefícios dos quais os designers falam e precisam, é necessário que o setor passe por algumas melhorias como desburocratização do setor para 30

que seja um assunto na agenda governamental a ser encarado seriamente como fonte de desenvolvimento sustentável, direcionamento de esforços e recursos em elementos de mercados-chave que podem impulsionar a área, como os novos meios de comunicação, potencialidades, atualidades. Para isso o apoio governamental é imprescindível, mas também a classe precisa se posicionar e fazer um planejamento para que o setor da moda seja fortalecido para ser visto como um grupo de criação e divulgação produtivo para gerar empregos (KALIL et al, 2010, p. 22). Quando indagada sobre quais medidas públicas facilitariam sua atuação como designer, ela apontou como ações mais impactantes a serem tomadas a favor dos designers basicamente dois pontos: aumentar o estímulo e, por consequência, o reconhecimento, às atividades, como cursos, oficinas de desenho, produção e como ser um empreendedor social, por exemplo, pois assim as pessoas tomariam mais gosto pelo setor se percebessem o respaldo do governo e de suas atividades na sociedade. Também separar e disponibilizar verba para os interesses dos designers, acerca do que pode movimentar o setor na cidade. Para ela, o principal, acima de tudo, seria pensar em desenvolver um polo de moda em Natal, como o de Fortaleza, que, segundo ela, deve parte de seu crescimento ao apoio que o Estado lhe dedicou por acreditar em seu potencial. A segunda entrevistada, Verônica Melo, é a gestora do projeto “Natal Pensando Moda”, que, como já ficou claro, se trata de uma das poucas iniciativas, e privada, existentes na cidade para apoiar e impulsionar a classe dos designers. Para iniciarmos a entrevista, a entrevistada foi perguntada sobre a importância do setor da moda em Natal, ao que ela respondeu que, mesmo não havendo um número exato e quantificado de designers e empresas, é um setor muito importante em dois grandes aspectos. Primeiro, pelo fato de ser um segmento com um grande volume de geração de empregos e segundo, por gerar meios que possibilitem as empresas existentes e vindouras de permanecerem ativas, lançando produtos diferenciados e de valor agregado. Afinal é desta maneira que, diante do mercado, moda e economia criativa despertam desejo, sendo diferente e inovadora, com características que a torne um registro (KALIL et al, 2010, p. 28). Em relação aos eventos promovidos para divulgação da moda potiguar, de acordo com o conhecimento da entrevistada apenas o SEBRAE os realiza, englobando palestras, cursos e projetos empreendidos ao longo do ano e anualmente, onde são explorados pontos tais quais tendências para as próximas estações, de modo que o designer fique “antenado” e 31

que aumente as chances de sucesso de seu trabalho, que converse e troque experiências com designers já renomados. Há também as ações do “Natal Pensando Moda”, que leva os designers potiguares para eventos nacionais tradicionais no ramo, como feiras tais quais “Minas Trend” e “FIT”, onde eles possam expor suas coleções. O SEBRAE busca levar, a cada ano, uma quantidade maior de designers e suas empresas para estes eventos, afirma a gestora, que acompanha pessoalmente todos os processos relacionados.

Fig. 4 – Stands no evento Minas Trend, um dos maiores eventos de exposição de designers em expansão, que ocorre anualmente em Minas Gerais. O SEBRAE desenvolve ao longo de todo o ano ações que facilitem a inserção dos designers potiguares em ações que venham a expandir a difusão de sua criação: o Minas Trend, por exemplo, é um evento de grande porte a nível nacional que oferece grande visibilidade ao artista. Em 2015, o designer natalense Wagner Kallieno esteve presente no evento, o qual ganha cada vez mais espaço e reconhecimento local e nacional. O objetivo do SEBRAE é levar a cada ano um número cada vez maior de designers a tais eventos. Fonte Minas Trend 2015

As potencialidades da moda em Natal, além do fomento à atividade e geração de empregos, de acordo com a gestora, está intimamente relacionada ao seu diferencial, que é a utilização das inspirações nos elementos culturais da região. “Quando, a nível nacional, fala-se da moda potiguar, todos já sabem que vem coisa diferenciada, bonita e conceitual por aí.”, diz ela, que acredita que a atividade é pequena quando comparada à de outras cidades. As empresas que chegam ao mercado nacional e internacional ganham destaque por oferecerem produtos de qualidade e valor regional e cultural agregado. Outros estados, por exemplo, não se preocupam com essa questão. Este destaque vem do 32

potencial observado a partir do estilo de criação e produção, o que facilita o caminho para outros designers uma vez que muitos deles têm essa orientação cultural no momento de pensar uma coleção. Salienta a gestora: “Podemos citar, por exemplo, os designers da loja Avohai, marca natalense, que produziram grande parte do figurino da novela da rede Globo Flor do Caribe, que possuiu influências inteiramente praianas em seus tecidos, estampas e modelos de roupas. É um ótimo exemplo de valor agregado utilizando as potencialidades locais de nossa cidade”. (Verônica Melo)

Respondendo sobre as principais dificuldades encontradas pelo setor da moda em Natal, ela referiu que estas englobam tornar essas pequenas empresas competitivas no espaço da moda, que é um segmento extremamente competitivo a nível local e nacional. Mesmo com toda a movimentação no setor promovida por organizações voltadas ao empreendedor, como o SEBRAE e outras, essas ações ainda não são o suficiente para abranger e fortalecer o contingente dessas empresas e seus designers com a intensidade que eles precisam. Além disso, as importações de produtos, como roupas de grife, desestimulam o apreço pelas criações locais e isso fragiliza enormemente a cena da moda criada e produzida em Natal. A atividade de exportação de moda no Brasil ainda é bastante tímida, e, como já citado, há muito mais importação do que o contrário: em 2006, por exemplo, as importações têxteis no país aumentaram em 41%, enquanto as exportações diminuíam em 5% (KALIL, 2010, p. 10). Não há o estímulo à geração de demanda para exportação quando nem mesmo dentro das próprias cidades e países há o reconhecimento pelo trabalho dos criadores de moda. Mesmo quando os trabalhadores criativos conquistam esse espaço, as tarifas para exportar seus produtos são muito altas: além dos impostos internos (o SEBRAE, por exemplo, só apoia empresas que sejam legalmente formalizadas e o próprio governo cobra taxas sobre todas as produções legais que gerem renda), quem quiser exportar para países como os Estados Unidos deve estar preparado para lidar com uma tarifa de 17% sobre o que já é pago para realizar a operação (KALIL, 2010, p. 21). Normalmente os lucros obtido não tornam essa opção válida, e o setor, sem espaço nacional, acaba entrando em um estado de estagnação. É necessário o respaldo e interesse dos governantes por essa atividade, movimentação de grandes representantes do setor da moda no país e envolvimento das duas classes de atores acima com agências de promoção, como o SEBRAE, para a expansão dos designers brasileiros, cuja resposta para seu trabalho, em comparação a outros países, é quase insignificante (KALIL, 2010, p. 22). 33

Outra dificuldade relatada pela gestora foi a distância física entre designers e fornecedores de matéria prima, já que a movimentação do setor da moda em relação à criação é tão fraco que é preciso buscar muito material fora daqui, prejudicando bastante a produção contínua e elevando demasiadamente os preços das coleções. Ela também disse que há um desencontro entre mão de obra e mercado porque há muitos designers com pouca ou nenhuma condição de empreenderem seus próprios negócios (e, como veremos abaixo, não há auxílio público e o SEBRAE só pode auxiliar trabalhadores legalizados, e isso geralmente quer dizer o mínimo de experiência e alguns anos no setor) e empresas pequenas demais para os contratar. Além disso, ela mencionou que a classe dos designers deveria se fortalecer mais em relação aos sindicatos de moda e que os empresários devem se envolver em maior escalada em questões ligadas à representatividade diante do governo em prol de seus interesses.

Fig. 5 – Imagem de uma reunião referente ao Projeto Desenvolvimento da Indústria da Moda, que orienta de diversas formas, desde orientações iniciais até desenvolvimento de estratégias e acompanhamento das ações, pequenas empresas e designers de moda. Na foto, vemos Verônica Melo, gestora do Natal Pensando Moda e economista no SEBRAE RN. São estas iniciativas que buscam novas estratégias para fomentar a moda local e tornar o setor mais competitivo na cidade. O Projeto Desenvolvimento da Indústria da Moda atende 100 empresas no estado Fonte: Autoria própria, 2015.

Aqui, as respostas coincidem novamente entre as primeira e segunda entrevistas: de acordo com a gestora, o governo não oferta apoio nenhum em termos de políticas públicas 34

específicas ou planejadas o suficiente para que o setor da moda se beneficie delas de alguma forma. A partir do estudo empírico, fica realmente claro o quanto o apoio ao setor criativo da moda faz falta uma vez que, para alavancá-lo, precisa-se de uma política que abranja termos fiscais, tributários, trabalhistas como um ramo produtivo onde existe, mesmo com uma carência legal sistemática, alinhamento entre criação, desenvolvimento e produção (KALIL, 2010, p. 22); esse trabalho é real, há pessoas que sobrevivem a partir dele e têm de lidar com as deficiências encontradas no meio mesmo que se dediquem a suas atividades tanto quanto qualquer outro trabalhador regulamentado e respaldado pelo governo.

Fig. 6 – Medidas como o Projeto Desenvolvimento da Indústria da Moda visam respaldar os designers com orientação de planejamento de ações, reuniões para dialogar com os trabalhadores, para mantê-los atualizados em relação ao que ocorre na cidade e em outros estados e para lhes incutir a permanência do espírito empreendedor, criativo e competitivo. Fonte própria, 2015.

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Fig. 7 – Material disponibilizado pelo Projeto Desenvolvimento da Indústria da Moda a partir do SEBRAE. Para todos os encontros, são pensados desde vídeos, cronograma de ações do projeto junto aos designers, ações e estratégias, até mesmo brindes como canetas, agendas organizadoras e outras pequenas ferramentas de trabalho. Como fica claro, há a preocupação não apenas com as atividades do design, mas também com seu estímulo. É importante lembrar que as empresas precisam ser regulamentadas como empresas perante a lei para que possam receber apoio do SEBRAE. É interessante notar como há a necessidade de regulamentação por parte do governo, mas não há apoio público para o pequeno empreendedor. Fonte própria, 2015.

Outro desafio, que também é uma resposta para os problemas enfrentados, seria o apoio para a criação de um polo de moda que possa fortalecer as chances de concorrência da cidade do Natal com outras, as quais possuem uma grande escala de produção e reconhecimento por seus produtos, o que impulsiona o fluxo da economia neste sentido, em resposta ao grande número de empresas que trabalham com produtos massificados, ou seja: Natal ainda tem um longo e árduo caminho a percorrer já que não apresenta sequer um polo de moda que possa gerar reconhecimento por produtos de baixo valor agregado. Se torna necessário um que possa fazer o setor prosperar a partir da criação com conceitos culturais inseridos em si. Para ela, esta seria uma ótima medida pública, combinada, logicamente, a um maior assistencialismo aos designers.

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Considerações Finais A economia criativa, busca, como vimos neste trabalho, responder a questões que precisam de atenção, de modo a respaldar quesitos financeiros e sociais a partir da utilização da cultura no processo de melhoria de vida da sociedade como um todo. Esta utilização da cultura se dá por meio do aproveitamento dos pontos característicos de determinado local, também conhecidos por potencialidades, e, em consequência, do apoio aos trabalhadores envolvidos com estas potencialidades. Este apoio é pensado para que aconteça desde as diretrizes norteadoras até ao momento em que se deve encontrar suporte na prática, mas isto nem sempre acontece, o que acaba por gerar muitas complicações para o trabalhador criativo. A economia criativa atua, através do estudo das realidades, como um meio de reivindicar apoio para linhas de trabalho não tradicionais, inovadoras, que utilizam elementos culturais. É interessante que haja parceria entre governo e trabalhadores para que a utilização dos elementos culturais se transformem em bens culturais do povo, incutindo o sentido de inovação, criatividade e identidade cultural. Tal parceria, no entanto, precisa ser estimulada não somente pelo poder público, mas também pelos trabalhadores criativos, que precisam mostrar seu trabalho, as dificuldades enfrentadas, convencer com suas ideias. Todas as ferramentas de apoio à economia criativa são políticas públicas, assim como o direito a tal apoio, e como podemos perceber, há um desencontro entre necessidade e ajuda que gera os entraves observados no capítulo anterior. Em Natal, o setor do design de moda não recebe nenhuma espécie de auxílio público; todas as iniciativas são privadas. Mesmo que existentes, tanto medidas de incentivo e designers de moda envolvidos com economia criativa, o governo não parece interessado em investir neste setor; não porque não seja interessante e rico em possibilidades, mas porque não há maior mobilização. O design de moda ainda é um ramo em expansão em Natal, mas bastante efervescente e forte em relação às mobilizações feitas entre os próprios artistas para a movimentação do meio, aos elementos culturais encontrados nas coleções, e a dedicação dos trabalhadores. Uma vez que o relacionamento mais estreitado entre designers e governo continue sem acontecer, menos lembrados eles serão a cada decisão que possa ser tomada ou não, em seu favor. Menos o setor se expandirá a nível local e mais eles buscarão levar suas criações para fora, fazendo a cidade deixar de ganhar 37

com uma atividade econômica sustentável que valorize a cultura local e abra novas portas de emprego e novas rotas de atração quando pensamos em Natal. O fim da estagnação deve ser buscado por ambos os lados da equação, já que um está sendo mais prejudicado que o outro pela falta de políticas públicas específicas. Na cidade, durante o trabalho empírico, foi observado que o termo economia criativa ainda gera bastante estranheza, já que as pessoas ainda desconhecem bastante o que ela implica. Mesmo pessoas que trabalham diretamente com economia criativa muitas vezes não sabem do que se trata e isso também deve ser notado, afinal, como elas irão se orientar, como poderão melhorar suas vidas e fazer algo que contribua com a cidade se não sabem que suas atividades podem ser impulsionadas por diretrizes formuladas por secretarias específicas? Este trabalho também faz parte de um conjunto de outros, em Natal, que tentam expandir o conteúdo existente acerca do que é economia criativa, e do quanto ela pode ser útil para tantos setores com atividades tão particulares. O caminho a ser percorrido em relação às dificuldades e obtenção dos benefícios é longo, todavia, esclarecido por Planos, por exemplo, e até mesmo pelo conhecimento, experiências boas e ruins adquiridos pelos designers durante suas carreiras. Há a falta de orientação, de busca por esclarecimento acerca de apoio existente, de leis trabalhistas e afins, políticas específicas, e por fim de maior mobilização. É uma situação estagnada e promissora, simultaneamente, que precisa que algumas atitudes sejam tomadas para ser mudada. A ajuda deve ser ofertada, sim, assim como deve ser buscada, conquistada, para que as fragilidades existentes no setor do design de moda sejam amenizadas e suas potencialidades destacadas e trabalhadas em nome do crescimento, social e econômico, dos envolvidos, de seus projetos e também da cidade onde estão inseridos.

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Metodologia

da

Pesquisa.

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com–insercao–dos–setores–de–calcados–e–moda–intima>. Acesso 29 nov. de 2015 RN, SEBRAE. Projeto setorial de Desenvolvimento da Indústria da Moda será lançado dia 18. 2015. Disponível em: Acesso 29 nov. de 2015 RN, SEBRAE. Sebrae incentiva processo criativo na indústria da moda potiguar. 2015. Disponível em: https://www.rn.sebrae.com.br/noticia/sebrae-incentivaprocesso-criativo-na-industria-da-moda-potiguar/ Acesso 29 nov. 2015 UNCTAD. Relatório de Economia Criativa 2010. Economia Criativa: uma opção de desenvolvimento viável. Genebra: Nações Unidas. 2010

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Apêndices ROTEIRO DE ENTREVISTAS DO TCC DA ALUNA SARAH GIOVANNA VENÂNCIO DA COSTA Objetivo 

Este roteiro de entrevistas corresponde à parte da metodologia, onde os dados coletados ajudarão a construir uma visão crítica e realista acerca do ramo da moda na cidade de Natal.

Público alvo  

Designers independentes, envolvidos com a moda local; Gestor de projeto de moda.

Entrevista realizada com o designer.          

Há quanto tempo você desenvolve atividade como designer? Pode descrever as suas atividades como designer de moda? Qual a importância da cultura potiguar na sua criação? Como divulga a sua criação? Quem são os seus principais clientes? Como avalia a atividade de designer em Natal? e no Brasil? Quais as principais potencialidades do exercício da sua atividade? Quais as principais dificuldades no exercício da sua atividade? Que apoios existem de apoio aos produtores independentes de design de moda? Quais medidas públicas acredita que facilitariam sua atuação e sucesso como designer?

Entrevista realizada com o gestor.       

Qual a importância do setor da moda em Natal e no RN? Que eventos são promovidos em Natal e RN para a divulgação da moda potiguar? Quais as principais potencialidades da moda em Natal? Quais as principais dificuldades do setor da moda em Natal? Que apoios existem de apoio aos produtores independentes de design de moda? Quais medidas públicas existem de apoio e incentivo ao setor da moda em Natal e no RN? Que medidas públicas fazem falta para o desenvolvimento do setor da moda em Natal e no RN?

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