DESIGN E PREVENÇÃO AO HIV/ AIDS. PROPONDO NOVAS FRONTEIRAS

July 21, 2017 | Autor: Simone Wolfgang | Categoria: HIV and AIDS: prevention, care, ARV adherence
Share Embed


Descrição do Produto

Design e prevenção ao HIV/
Aids. propondo novas fronteiras

Resumo
Este artigo traz uma proposta para concepção diferenciada de peça de
prevenção a Aids no Brasil por meio da ampliação da atuação do trabalho do
designer no campo da prevenção em saúde. Esse trabalho foi desenvolvido no
curso de doutorado em Design da PUC-Rio

Design, comunicação visual, HIV/Aids, prevenção

Design and Aids prevention, proposing new boundaries.


Abstract
This article brings a proposal for a differentiated conception of HIV/Aids
prevention campaigns in Brazil, by expanding the role of the designer's
work in the field of preventive health. This work was developed in the
design doctorate course at PUC-Rio

Design, visual communication, HIV/Aids, prevention

Simone Wolfgang1, Denise Portinari2,, Patrícia Ferreira3, Raquel Portugal4
1 Afiliação: Departamento de Artes e Design PUC-Rio
2 Afiliação: Departamento de Artes e Design PUC-Rio, coordenadora setorial
de Pós Graduação
3 Afiliação: Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica
em Saúde da Fiocruz
4 Afiliação: Instituto de Estudos Avançados em Humanidades PUC-Rio

[email protected], [email protected],
[email protected], [email protected]


1. Introdução
Este artigo tem como objetivo expor os resultados práticos da intervenção
conceitual do designer na criação de um conjunto de peças de prevenção ao
HIV/Aids. O desenvolvimento dessas peças se deu como forma de
materialização de um objeto teórico do campo do design e como reivindicação
da ampliação do escopo de atuação do designer. As peças constituem objetos
resultantes de pesquisa de doutorado desenvolvida no Departamento de Artes
e Design da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.


2. Ampliando fronteiras

Qual é a relação que pode ser estabelecida entre a concepção e o
planejamento de campanhas de prevenção ao HIV/Aids e a atuação do designer?
Na prática, essa relação pode ser mínima. As campanhas são elaboradas em
esferas externas ao campo de atuação do designer (em agências de
publicidade, por demanda de órgãos governamentais ligados a políticas de
saúde), e o designer é convocado apenas para atuar na materialização final
das peças (projeto gráfico, elaboração de layout, etc.) – recebendo, para
tal, um "briefing" constituído por conceitos e decisões pré-estabelecidos.
Em suma, a sua intervenção efetiva nas campanhas é restrita à execução de
orientações pensadas por outrem. Se esse é o limite e o fim de toda
possibilidade real de atuação do designer na elaboração de produtos e
sistemas concebidos para intervirem de alguma maneira na sociedade, se a
contribuição deste profissional é restrita a sua expertise técnica em
materializar a demanda alheia, cabe perguntar qual é o sentido de uma
formação de nível superior em design? E mais ainda, qual é o sentido da
pesquisa e da formação em design em nível de pós-graduação stricto sensu?
Pensar o design como uma disciplina isolada é uma atitude extremamente
limitadora. Talvez a dificuldade da constituição do campo teórico do design
venha de uma "especificidade" do campo, que como disciplina, por muito
tempo foi associado a questões essencialmente práticas. Mas seria possível
pensar novos caminhos "teóricos" para uma disciplina tão arraigada na
questão prática?
Em princípio, é necessário explicitar a demanda de uma relação
multidisciplinar como um aspecto intrínseco às formas de se pensar o design
(BOMFIM, 1997).
Do ponto de vista metodológico, pode-se pensar no modelo do design
participativo como uma forma de materialização de um projeto de prevenção
que leve em conta as idiossincrasias e as especificidades ligadas às
necessidades preventivas relacionadas ao HIV (MARGOLIN 2004).
Primordialmente deve-se levar em conta o enriquecimento trazido pelo
diálogo entre o design e outras disciplinas. Essa troca proporciona a
possibilidade para que o profissional de design analise as questões de
projeto em relação a outras disciplinas por diferentes pontos de vista — no
caso desta pesquisa especificamente, "a prevenção ao HIV". Além disso, pode-
se pensar que a atividade projetiva, "prática" do design, nada mais é do
que um constante diálogo e intercâmbio com outras formas de conhecimento,
ou seja, sem troca, não existe design.


3. Os motivos

No decorrer do levantamento de dados da pesquisa, foram constatadas uma
série de limitações relacionadas a forma como se faz prevenção ao HIV/Aids
no Brasil. Desde o final dos anos de 1980, foi adotado um padrão que se
repete basicamente mensagens de sexo seguro e uso do preservativo. Aliado a
isso, um recente recrudescimento da epidemia vem sendo noticiado pela mídia
em diferentes regiões do país.

"Uma estatística assustadora coloca Porto Alegre no epicentro de uma
doença temida e que, para muitos, ainda pode significar uma sentença
de morte. Há pelo menos uma década, a Aids tomou proporções
gigantescas em solo gaúcho: é na Capital que a taxa de incidência
chega a 99,8 casos a cada 100 mil habitantes — simplificando, um em
cada mil porto-alegrenses tem a doença, com sintomas." (Zero Hora
07/07/2012)
"Segundo dados do Boletim Epidemiológico Aids/DST 2009, a taxa de
incidência (por 100 mil habitantes) de casos de Aids notificados na
Região Norte passou de 15,4, em 2007, para 18,6, em 2008." (G1, Globo
23/11/2011)

Diante de tais fatos, uma intervenção no formato da prevenção se mostra uma
necessidade latente no sentido de procurar melhorar a resposta preventiva
da população e promover uma diminuição no número de novos casos.

4. Os objetivos
O objetivo geral desta proposta de alternativa preventiva é a propagação da
informação da melhor maneira o possível, procurando fazer peças atrativas
aos usuários e dessa forma, levando ao esclarecimento de dúvidas e
informando a população. Em resumo, procurando colocar a disposição da
população um grande número de informações sobre HIV/Aids. Assim, melhorando
a qualidade das peças de prevenção, por meio da disseminação da informação
de forma irrestrita e constituição de formatos esteticamente mais atraentes
para a população.
A campanha "tradicional" (Figuras 1 e 2) age como um instrumento
totalizador deixando de levar em conta dúvidas mais pontuais com relação a
diversas situações de risco que podem ocorrer durante uma relação sexual.
Além disso, a campanha "tradicional" deixa de prestar uma série de
esclarecimentos ligados à convivência com o vírus HIV, e aos parceiros de
pessoas soropositivas, que normalmente trazem consigo uma série de dúvidas
que não são esclarecidas por nenhum tipo de campanha preventiva ou
iniciativa governamental.


Figuras 1e 2 – Exemplos de campanhas de
prevenção brasileiras

4.1. O recorte
Devido à natureza dos estudos realizados durante a pesquisa de doutorado,
optou-se por desenvolver peças ligadas à contaminação pela via sexual,
voltadas para o público homossexual masculino.

5. Os cartões
A concepção conceitual das peças foi feita procurando envolver os
"usuários" (soropositivos e pessoas que de alguma maneira se sentem mais
expostas a uma possível contaminação, ou têm alguma relação com a epidemia)
e uma pequena equipe médica, para tentar conceber peças que levassem em
conta "os dois lados". O ponto de vista de quem vive com o vírus e a visão
do médico que, graças a sua formação, tem o conhecimento técnico necessário
para conduzir o tratamento do mesmo.
Foram elaborados 4 modelos de cartão que abordam diferentes conteúdos
informativos ligados a epidemia de HIV/Aids. O formato "cartão de visita"
foi escolhido devido a sua facilidade de exposição (pode ser facilmente
colocado em cima de bancadas sem ocupar muito espaço, ou ainda dentro de um
display que poderia ser colocado em diferentes ambientes como, boates,
banheiros, faculdades etc). Este formato também pretende solucionar um
problema de transporte e armazenamento por parte do usuário que, muitas
vezes, recebe folhetos grandes ou brochuras ligados à prevenção, mas que
acaba optando por descartá-los imediatamente, pois não há "lugar para
guardá-los".
Quanto às imagens escolhidas para ilustrar os cartões, elas foram
selecionadas de maneira a promover uma associação entre a prevenção a Aids
e a sexualidade/erotismo. O objetivo é atrair a atenção do público
homossexual masculino para as peças, instigando inicialmente a sua
curiosidade para explorar o conteúdo informativo das peças e, talvez, até
compartilhá-las com seus amigos e conhecidos.
São utilizadas quatro imagens diferentes (uma para cada cartão), mostrando
a figura masculina com o torso nu em diferentes detalhes, o abdome, o peito
e as costas.
A intenção é sintetizar a informação pontualmente, e fornecer diferentes
peças preventivas, cada uma tratando de um tema específico.
Os temas propostos são: boas dicas sobre camisinhas, carga viral e sexo,
HIV + risco – risco e o que fazer se a camisinha estourar. Eles foram
definidos segundo a demanda informativa obtida com os informantes da
pesquisa de doutorado, e a opinião/aconselhamento dos médicos que
assessoraram a pesquisa. Os cartões são itens individuais, mas que fazem
parte de um conjunto preventivo que deve ser oferecido pelos
estabelecimentos que se dispuserem a distribuir as peças. A escolha por
levar uma, duas, ou todas as peças deve ser da pessoa e não do
estabelecimento.


Figuras 3,4,5,6 – cartões desenvolvidos em tese de
doutorado

6. Conclusão
Os problemas ligados à prevenção a Aids são antigos e persistentes. Alguns
foram solucionados parcialmente, como a substituição de campanhas que
incitavam o medo e o mórbido, a introdução de peças que estimulam a
testagem e o incentivo ao tratamento. Além disso, o surgimento de campanhas
segmentadas por grupo social (gays e profissionais do sexo) são exemplos de
melhora e flexibilidade na prevenção oficial brasileira. Entretanto,
atualmente as peças ligadas à prevenção do HIV/Aids limitam-se ano após ano
à repetição do discurso do sexo seguro – sempre confinado à prescrição do
uso do preservativo - ignorando-se toda uma demanda por informação de uma
população pouco informada. Apesar do Ministério da Saúde brasileiro
disponibilizar um material interessante e vasto, a sua circulação muitas
vezes é restrita mantendo-se apenas no ambiente interno de hospitais, e
algumas ONGS´S ligadas à prevenção.
O campo do design oferece uma abordagem holística e aposta na participação
dos agentes interessados no processo de desenvolvimento de produtos,
sistemas ou serviços. Trata-se de uma atividade cuja vocação é precisamente
integrar conhecimento disperso, tendo em conta os valores e interesses das
pessoas. A inserção do profissional de design em todas as etapas concepção
da comunicação visual das campanhas pode significar uma abertura e a
presença de um olhar das ciências humanas do advento da prevenção,
proporcionando uma melhora na resposta preventiva da população.

Referências
BOMFIM, G. A. Fundamentos de uma teoria transdisciplinar do design:
morfologia dos objetos de uso e sistemas de comunicação. In: Estudos em
Design, Rio de Janeiro: v. 5. n. 2, 1997.
MAG, André, Porto Alegre continua líder no ranking de Aids, Zero Hora,
Porto Alegre, Julho de 2012.
MARGOLIN, V. Um modelo social de design, questões de prática e pesquisa.
In: Revista design em foco. Bahia: UEB, 2004.
G1, Brasil é referência, mas Aids cresce na Região Norte, diz Unaids, O
Globo, Rio de Janeiro, Novembro de 2011.
Reconhecimentos: Trabalho desenvolvido no Laboratório da Representação
Sensível (LaRS) do Departamento de Artes e Design da PUC-Rio.
Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.