Design Gráfico e Economia Criativa: Estudo na Região Metropolitana de Natal

June 3, 2017 | Autor: C. Rn | Categoria: Cultural Studies, Economia Criativa
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GT – Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação e Sustentabilidade Modalidade da apresentação: Comunicação oral

DESIGN GRÁFICO E ECONOMIA CRIATIVA: ESTUDO NA REGIÃO METROPOLITANA DE NATAL Marina Figueiredo Araújo, GPP/UFRN Fernando Manuel Rocha da Cruz, DPP/UFRN

Resumo: A economia criativa é definida pelas atividades econômicas que aliam economia à cultura, buscando colocar o foco nas criações ou produtos que tenham um valor simbólico, cultural ou artístico, de modo a gerar riqueza tanto economicamente, como culturalmente. A mesma abrange os setores culturais, como a música, o teatro ou os museus, mas também os setores funcionais como a moda e o design. Neste trabalho foi utilizada a metodologia do tipo qualitativa, com a aplicação de entrevistas semiestruturadas com designers gráficos da Região Metropolitana de Natal (RMN), no estado do Rio Grande do Norte, com o objetivo de compreender a ligação das produções de design gráfico com a RMN, a influência da cidade de Natal no trabalho dos designers, assim como, levantar os pontos positivos e negativos do exercício dessa atividade na RMN e as políticas públicas ou medidas que poderiam favorecer o setor. Foi constatado que o setor de design gráfico está crescendo na RMN, aumentando a competitividade entre os designers, embora estes normalmente não expressem as características culturais da Região em suas produções. Há uma dificuldade no reconhecimento da profissão por parte da população, falta de incentivos, escassez de editais, a não regulamentação da profissão e a falta de políticas públicas específicas para o setor. Por fim, verificamos a necessidade de uma mudança na conscientização tanto da população, quanto dos poderes locais e estaduais, assim como dos próprios designers gráficos, para que o setor receba o seu devido reconhecimento. Palavras-chave: Cultura. Design Gráfico. Economia Criativa. Região Metropolitana de Natal.

1 INTRODUÇÃO A Economia Criativa engloba um conjunto de atividades, serviços e produtos desenvolvidos a partir do conhecimento e da criatividade. Reconhece, por isso, a relevância econômica dos serviços e produtos com elementos culturais e artísticos, gerando trabalho e renda, assim como, desenvolvimento social. A mesma abrange os

setores culturais, artísticos e patrimoniais, mas também os setores funcionais como a moda e o design. Como refere Cruz (2016): Mas se a centralidade da criatividade não se coloca, talvez o conceito de Economia Criativa deva ser repensado em prol de uma denominação que englobe a Economia da Cultura e a dos setores funcionais. De qualquer forma, trata-se de um debate fundamental na sociedade contemporânea as questões do financiamento da cultura e das artes e o da profissionalização nestes setores (culturais e funcionais). (CRUZ, 2016)

Devido ao seu grande potencial econômico, foi implementada em 2011, a Secretaria de Economia Criativa, sob a direção do Ministério da Cultura. O Plano da SEC, destaca o desafio do Ministério da Cultura de liderar a formulação, implementação e monitoramento de políticas públicas para um novo desenvolvimento fundado na inclusão social, na sustentabilidade, na inovação e, especialmente, na diversidade cultural brasileira. Ou seja, simboliza um movimento do MinC na redefinição do papel da cultura em nosso país (BRASIL, 2012). Com isso, atributos de conhecimento e criatividade constituem fatores de altíssima relevância no desenvolvimento social, econômico e político do país. Hoje se reconhece que quanto mais denso, diverso e rico é o conteúdo cultural de uma sociedade, maiores são as suas possibilidades de desenvolvimento. O Plano da Secretaria da Economia Criativa (2011-2014) representa o desejo e o compromisso do Ministério da Cultura, de resgatar o que a economia tradicional e os precursores do desenvolvimento moderno descartaram, ou seja, a criatividade do povo brasileiro. As tecnologias sociais produzidas pela imensa criatividade brasileira tornaram-se realidades irrefutáveis. No entanto, essas tecnologias ainda carecem de apoio do Estado brasileiro para vicejarem. Em diversos países (como a Austrália, a Turquia, a China) a criatividade vem sendo apoiada por políticas públicas e sendo tratada como o insumo por excelência da inovação. Essa nova economia vem crescendo, graças à sociedade do conhecimento e às novas tecnologias. (BRASIL, 2012). A conceituação de economia criativa, passa pelas atividades econômicas que têm por objeto quer a cultura como a arte, ou em que estão presentes elementos de setores artísticos e culturais alterando assim o valor dos bens e serviços prestados pelas atividades econômicas ou industriais realizadas (CRUZ, 2013, p.3).

Os princípios da economia criativa, segundo a Secretaria da Economia Criativa, são os seguintes: inclusão social, sustentabilidade, inovação e diversidade cultural brasileira. A inclusão social é o princípio fundamental para o desenvolvimento de políticas públicas culturais na área da economia criativa. Já a sustentabilidade está ligada com a questão de assegurar

o desenvolvimento,

garantindo uma

sustentabilidade social, cultural, ambiental e econômica em condições semelhantes de escolha para as gerações futuras. No que tange o conceito de inovação, o mesmo exige conhecimento, identificação e reconhecimento de oportunidades, a escolha por melhores opções, a capacidade de empreender e assumir riscos, um olhar crítico e um pensamento estratégico que permitam a realização de objetivos e propósitos. A inovação em determinados segmentos criativos tem uma relação direta com a identificação de soluções aplicáveis e viáveis, especialmente nos segmentos criativos cujos produtos são frutos da integração entre novas tecnologias e conteúdos culturais. Ela pode dar-se tanto na melhoria e/ou na criação de um novo produto (bem ou serviço) como no aperfeiçoamento e redesenho total de um processo. Por fim, a diversidade cultural, necessita que a economia criativa se constitua numa dinâmica de valorização, proteção e promoção da diversidade das expressões culturais nacionais como forma de garantir a sua originalidade, a sua força e seu potencial de crescimento (BRASIL, 2012). Se na Europa e na América do Norte é preferido o termo “indústrias criativas”, no Brasil é adotado o de “setores criativos” como representativo dos diversos conjuntos de empreendimentos que atuam no campo da Economia Criativa. Como é referido no Plano da Secretaria da Economia Criativa: Os setores criativos são aqueles cujas atividades produtivas têm como processo principal um ato criativo gerador de um produto, bem ou serviço, cuja dimensão simbólica é determinante do seu valor, resultando em produção de riqueza cultural, econômica e social. (BRASIL, 2012).

De acordo com a UNCTAD (2010, p. 8), são quatro as categorias dos setores criativos: Patrimônio, Artes, Mídia e Criações funcionais. Dentre essas categorias existem várias subcategorias. Na categoria Patrimônio, os setores se dividem entre locais culturais e expressões culturais tradicionais. Na categoria de Artes, a categoria se distingue em artes visuais e artes cênicas. Nas Criações Funcionais, os setores identificadas são design, novas mídias e também os serviços criativos. (Ver Figura 1).

FIGURA 1 – Categoria dos setores criativos (UNCTAD)

Fonte: UNCTAD, 2010.

Desse modo, os setores criativos vão além dos setores denominados como tipicamente culturais ligados à produção artístico-cultural (música, dança, teatro, ópera, circo, pintura, fotografia, cinema), compreendendo outras expressões ou atividades relacionadas às novas mídias, à indústria de conteúdos, ao design e à arquitetura, entre outros. Por seu lado, no Brasil (2012) foram adotadas cinco categorias culturais: Patrimônio, Expressões Culturais, Artes de espetáculo, Audiovisual/do livro, da leitura e

da

literatura

e

Criações

culturais

e

funcionais.

Na

categoria

cultural

Patrimônio encontram-se agrupados os setores criativos: património material, arquivos, museus e patrimônio imaterial. Na categoria cultural Expressões Culturais estão incluídos os setores criativos: artesanato, culturas populares, culturas indígenas, culturas afro-brasileiras, artes visuais e arte digital. Em Artes de Espetáculo se reúnem os setores criativos: dança, música, circo, teatro. Na categoria Audiovisual/ do Livro, da

Leitura e da Literatura, distinguimos os setores criativos: cinema e vídeo, publicações e mídias impressas. Por fim, na categoria Criações Culturais e Funcionais encontram-se os setores criativos: moda, design e arquitetura. Implementar políticas públicas adequadas à realidade exige um mínimo de conhecimento destes setores no sentido de identificar potenciais vocações locais e regionais, com o intuito de desenvolvê-las. A efetividade dessas políticas passa pela implementação de projetos que criem ambientes favoráveis ao desenvolvimento desta economia e que promovam a inclusão produtiva da população, priorizando aqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade social, por meio da formação e qualificação profissional e da geração de oportunidades de trabalho e renda. (BRASIL, 2012). Tomando como foco o setor do Design, podemos dizer que o designer é aquele que desenvolve projetos gráficos ou de comunicação visual, ou aquele que tira concepções e confecciona objetos e peças dos mais diversos tipos. Mas, focando em especial no Designer Gráfico, podemos dizer que é aquele que cria logotipos, define a formatação das páginas de uma publicação, como jornais e revistas e define o tipo e o tamanho das letras e a disposição das imagens, entre outras atividades que o mesmo desempenha. Podemos acrescentar que embora existam várias vertentes para o setor de design e que cada uma delas exerça uma determinada atividade, não se pode afirmar que um designer gráfico restringe suas atividades apenas à criação de logotipos e questões gráficas, visto que o mesmo também pode realizar outras atividades, sem necessariamente se reduzirem a aspectos gráficos ou descaracterizar a profissão. É possível constatar que o design representa um papel relevante no desenvolvimento da cultura material, na medida em que abrange atividades de práticas, planejamento e decisões, que afetam direta e indiretamente a vida das pessoas, inclusive a do próprio designer, que é, ao mesmo tempo, sujeito e objeto da dinâmica cultural, de acordo com o que Bonsiepe (1997) afirma. Igualmente Ono (2004) conclui que: A coexistência de diretrizes gerais e específicas no design industrial reflete o caráter ambíguo desta atividade e geram pressões constantes junto aos designers, que necessitam desenvolver propostas industrialmente factíveis e economicamente viáveis, e, ao mesmo tempo, cumprir o papel fundamental de desenvolver produtos que atendam os requisitos simbólicos, de uso e técnicos das pessoas, contribuindo para o seu desenvolvimento, bem-estar e para a melhoria da qualidade de vida da sociedade em geral. (ONO, 2004).

A mesma autora (ONO, 2004) afirma que “o povo brasileiro vem sendo amalgamado desde o período de colonização, e sofrido influências de diversas etnias que adentraram no país, resultando em um contexto de diversidade e hibridismo cultural”. É notório que existe uma supervalorização do estrangeiro de países centrais por parte do brasileiro, como realça Caldas (1997). É o costume que as pessoas têm de acreditar que as coisas que vêm de fora são melhores do que as delas. Acrescenta Geertz (1989): Os designers têm vivenciado novas experiências, realidades e desafios, frente ao cenário competitivo e à emergência de horizontes complexos, em termos de mercados, tecnologia, modos de organização do trabalho em corporações nacionais e multinacionais, redes de informações e influências, no seio do processo de globalização. Em tal contexto, destaca-se a importância e a responsabilidade de sua participação no processo de desenvolvimento de produtos para a sociedade, na medida em que a sua atuação é determinante na interpretação dos requisitos simbólicos, de uso e técnicos, e no desenvolvimento da cultura material. Esta tese fundamenta-se no entendimento da cultura como a teia de significados tecida pelas pessoas nas sociedades, onde desenvolvem seus pensamentos, valores e ações, e a partir da qual interpretam o significado de sua própria existência. (GEERTZ, 1989).

Ono (2004; 2006) aponta para a necessidade de considerar, no âmbito do design, “hábitos culturais” como diferencial pois, “mediante a valorização e o respeito aos referenciais e contextos culturais locais, é possível fundamentar estética e tecnicamente a diferenciação dos artefatos desenvolvidos para as diversas sociedades”. Moraes (2008, p.1045), por seu lado, pontua ainda a necessidade de formação de profissionais que deem conta das demandas contemporâneas no campo do design, da cultura e da identidade cultural. É preciso entender que design é cultura, ou uma manifestação cultural e, por isso, os profissionais da área precisam estar conscientes de suas responsabilidades sociais e culturais, para assim estabelecer a formação de uma identidade cultural. Porém, é preciso passar isso para as suas produções, para o seu trabalho, criando estratégias, estabelecendo atividades e conscientizando o povo para que ocorra uma valorização do setor.

2 PESQUISA QUALITATIVA NA REGIÃO METROPOLITANA DE NATAL Uma pesquisa só existe através do levantamento de dúvidas referentes a algum tema, e as suas respostas buscam meios que levam o pesquisador a algum lugar com o seu trabalho científico. A metodologia se refere ao caminho escolhido para se chegar ao fim proposto pela pesquisa. É a escolha que o pesquisador realizou para abordar o objeto de estudo. A presente pesquisa é qualitativa. Com a utilização do método qualitativo é possível explicar o porquê das coisas, exprimindo o que convém ser feito, sem reduzir à os resultados à quantificação dos fenômenos sociais, pois os dados analisados são suscitados e se valem de diferentes abordagens. Portanto, está ligada com aspectos da realidade que não podem ser quantificados, focando na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais. Desse modo, foram realizadas entrevistas semiestruturadas no setor de design gráfico com cinco designers gráficos, durante o ano de 2015, no âmbito do projeto de pesquisa científica aprovado no âmbito do edital PROPESQ_NUPLAM-2015-2016, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O tipo de entrevista adotado se mostrou adequado para a comparação das respostas dos entrevistados. O critério que se adotou na seleção dos entrevistados fundou-se na responsabilidade, autonomia e destaque no exercício da atividade, de tal modo que se procurou entrevistar profissionais qualificados da área de design gráfico na Região Metropolitana de Natal. Desse modo foram entrevistados: 1. Kefren de Lima Silva – POK – Designer Gráfico 2. André Soares Pereira – Designer Gráfico 3. Hiago Fernandes da Silva Santos – Designer Gráfico 4. Heloísa da Cruz Barbalho – Designer Gráfico 5. Sivonei Martins da Silva – NEI – Designer Gráfico O objetivo das entrevistas levadas a cabo se centrou na comparação das respostas dos cinco designers, relativamente a cinco questões/tópicos: 

A ligação das produções com a cidade de Natal;



A influência da Região Metropolitana de Natal no Design;



Os aspectos positivos na Região Metropolitana de Natal para o exercício da atividade de Design Gráfico;



Os aspectos negativos na Região Metropolitana de Natal para o exercício da atividade de Design Gráfico;



Políticas públicas ou medidas que favorecem ou que poderiam favorecer o desenvolvimento do setor de Design Gráfico.

a) A ligação das produções com a cidade de Natal É notório perceber que os entrevistados não possuem o objetivo de incluir as características da cidade, da cultura da região em que realizam suas produções, pois desenvolvem seus trabalhos e projetos de acordo com as demandas dos clientes, do que eles necessitam. Mas, se o trabalho demandar que o mesmo inclua referências à cidade, à herança cultural, obviamente isso justificará sua presença em suas produções. Se caso o trabalho for exposto, consequentemente irá influenciar no visual da cidade. Apenas um dos entrevistados afirmou que conforme o seu “traço”, a sua “marca” e o seu olhar sobre a cidade, desenvolve um trabalho relacionado com o “caos” da cidade, a questão do “apertado” com o espaço da rua cada vez mais competitivo. Trata, por isso, do trânsito, dos pedestres, do movimento, das pessoas, dos carros, da cidade em si. Porém, a ligação da cidade com o design, ainda é muito escassa.

b) A influência da Região Metropolitana de Natal no Design É possível perceber que o setor de design gráfico está crescendo na Região Metropolitana de Natal e que as pessoas estão passando a conhecer mais o setor pelo fato de estar crescendo. Tanto as agências como o número crescente de designers – os quais estão procurando trabalhar de forma autônoma, como “freelancers” – se deparam com um setor cada vez mais competitivo. Porém, muitas pessoas não aceitam pagar o preço que os designers cobram, optando por trabalhos baratos e rápidos. Mas, a valorização do setor pelos contratantes em geral, ainda é precário, encontrando-se em um meio termo: existem pessoas que valorizam e pessoas que não valorizam, mas a parte que não valoriza é ainda o número mais elevado. Na maioria das vezes o designer não é valorizado no Estado do Rio Grande do Norte, mas é valorizado em outros Estados e até mesmo em outros países. Então, o design ainda se encontra em um processo de “educação”, de “aceitação e valorização”.

c) Os aspectos positivos na Região Metropolitana de Natal para o exercício da atividade de Design Gráfico

Um aspecto positivo apontado por todos os entrevistados foi a questão do crescimento do setor na Região Metropolitana de Natal, afirmando que o setor está se desenvolvendo e crescendo, tanto em número de profissionais, quer em número de agências e empresas. Outro aspecto está ligado com a questão da cidade possuir um ambiente favorável para as criações de arte e propaganda, já que esta é bastante movimentada e promove muitas festas, tornando-se um ambiente favorável para os designers promoverem seus produtos e serviços. Por último, em relação à questão de instituições como o Sebrae que apoia e promove as microempresas e os pequenos empreendedores por meio de projetos, eventos e feiras, vem facilitando o acesso e o desenvolvimento do setor.

d) Os aspectos negativos na Região Metropolitana de Natal para o exercício da atividade de Design Gráfico A concorrência no setor do design é grande e com isto, acaba dificultando que novas empresas e novos designers se estabeleçam no mercado. Muitos destes profissionais precisam de experiência na área, mas como o ambiente é muito competitivo, têm dificuldades de seu acesso ao mercado de trabalho. Outro aspecto apontado é o reconhecimento da profissão, visto que as pessoas não conhecem, não entendem e consequentemente não valorizam a atividade. Esta situação gera um “êxodo” elevado de pessoas que se formam na área e procuram em outros Estados, esse reconhecimento. De destacar que a Região Metropolitana de Natal revela atrasos no âmbito do design, em virtude de ser um dos últimos Estados a possuir a graduação de design. Outro problema relevado é o fato de muitas pessoas se intitularem designers, por realizarem trabalhos da área, mas não serem formados em design, ou por serem formados em outras áreas, como na área da publicidade. Um outro aspecto negativo, é o fato das pessoas não quererem pagar o valor do trabalho que os designers realizam, por acharem caro e acreditarem que o trabalho realizado não equivale ao valor que é pedido pelos designers. A falta de editais que abranja o setor do design foi igualmente citada, o que dificulta a realização de eventos e feiras sobre a temática na Região Metropolitana de Natal e no próprio estado do Rio Grande do Norte. A falta de incentivo e de envolvimento por parte do sindicato são igualmente referidos. Por último, há ainda a salientar a falta de regulamentação do design enquanto profissão.

e) Políticas públicas ou medidas que favorecem ou que poderiam favorecer o desenvolvimento do setor de Design Gráfico. Como medidas que poderiam favorecer o setor do design, foi referido a abertura de editais para os designers (artistas) locais, para desenvolver trabalhos, como as decorações das festividades na cidade, como é o caso das decorações natalinas, que muitas vezes já foram atribuídas a arquitetos. O lançamento de editais para designers para empregos públicos seria outra medida aplaudida pelo setor. A regulamentação do setor de design é uma outra medida que é apontada pelos profissionais entrevistados. A abertura de editais para projetos que proponham a elevação da autoestima e expansão dos conhecimentos, das habilidades e da cultura potiguar, agregaria igualmente valor ao setor. Garantir a participação dos designers e pequenas empresas de design nas licitações, é outra medida proposta, uma vez que as grandes empresas que ganham esses concursos terceirizam nestas as atividades de design. Por fim, é proposta ainda o lançamento de campanhas de conscientização sobre o design enquanto atividade profissional e cultura.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS A economia criativa se baseia na obtenção do lucro a partir das atividades (produção de bens e prestação de serviços) culturais, patrimoniais, artísticas e funcionais não apenas ao nível da produção, mas de todo o ciclo econômico. Os setores criativos funcionais abrangem o design, como vimos. Em virtude de se tratar de uma atividade nova no mercado, a falta de regulamentação é reclamada como forma de promover o desenvolvimento do setor. Nesse sentido, enquanto setor criativo é um modelo para os demais setores criativos mormente culturais para atuarem no mercado privado independentemente do financiamento público. Contudo, enquanto setor integrado nos setores culturais, seus profissionais reclamam igualdade de oportunidades perante a abertura de editais culturais e possibilidades de financiamento público. Natal se assume como uma cidade em que a oferta de serviços e produtos de design está crescendo, bem como o número de profissionais. Contudo, quer os profissionais, quer as pequenas empresas de design experimentam dificuldades dado se tratar de um mercado pequeno e competitivo, onde a concorrência se registra não apenas entre designers, mas igualmente com outros profissionais para o mesmo tipo

de serviços e produtos. A falta de regulamentação é a principal medida que urge emanar a partir das Políticas Públicas. Em termos de ciclo econômico, o designer se ressente da falta de feiras e eventos que promovam o design junto da sociedade no sentido de incrementar e consolidar o mercado sobretudo na cidade de Natal e no próprio estado do Rio Grande do Norte. Nesse sentido, o apoio das entidades públicas como o Governo do Estado do Rio Grande do Norte e a Prefeitura de Natal seriam bem-vindos no apoio a eventos que permitissem aumentar a renda destes profissionais, mas igualmente na visibilidade destes junto à sociedade em geral, e no próprio território nacional.

REFERÊNCIAS BONSIEPE, G. Do material ao digital. Florianópolis: Sebrae, 1997. BRASIL. Plano da Secretaria da Economia Criativa: políticas, diretrizes e ações, 2011 a 2014. 2ª ed. (rev.). Brasília: Ministério da Cultura, 2012. CALDAS, M. P. Santo de casa não faz milagre: Condicionantes nacionais e implicações organizacionais da fixação brasileira pela figura do “estrangeiro”. In: CALDAS, Miguel P.; MOTTA, F.C.P (Org.). Cultura organizacional e cultura brasileira. São Paulo: Atlas, 1997. CRUZ, F. M. R. Artes Plásticas, Literatura e o ciclo econômico: Pesquisa qualitativa a partir das Políticas Públicas de fomento da Economia Criativa, no estado do Rio Grande do Norte. In: III ENCONTRO BRASILEIRO DE PESQUISA EM CULTURA, 2015, Crato-CE, Anais do III Encontro Brasileiro de Pesquisa em Cultura. Juazeiro do Norte-CE: Pró-Reitoria de Cultura - Universidade Federal do Cariri, 2016. Disponível em . Acesso em: 10 fev. 2016 CRUZ, F. M. R. Políticas Públicas e Economia Criativa: subsídios da Música, Teatro e Museus da cidade de Natal/RN. Natal: UFRN, 2013. GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e Científicos, 1989. MORAES, D. Design emocional. Rio de Janeiro: Rocco, 2008.

ONO, M. M. Design industrial e diversidade cultural: sintonia essencial. Estudos de casos nos setores automobilístico, moveleiro e de eletrodomésticos no Brasil. São Paulo: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2004. ONO, M. M. Design e Cultura: Sintonia essencial. Curitiba: Edição da autora, 2006. UNCTAD. Relatório de Economia Criativa 2010. Economia Criativa: uma opção de desenvolvimento viável. Genebra: Nações Unidas, 2010.

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