Design Para o Ciclo de Vida: Aplicação em um \"Relógio Santa-Cruz\"

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Descrição do Produto

10o Congresso Brasileiro de Gestão da Inovação e Desenvolvimento de Produtos Itajubá - MG, 8 a 10 de setembro de 2015 DESIGN PARA O CICLO DE VIDA: APLICAÇÃO EM UM “RELÓGIO SANTA-CRUZ”

Camila Mattos ([email protected]) Universidade Federal de Minas Gerais Cinthia Gonçalves ([email protected]) Universidade Federal de Minas Gerais Luana Lott ([email protected]) Universidade Federal de Minas Gerais Tainá Bonato ([email protected]) Universidade Federal de Minas Gerais Eduardo Romeiro Filho ([email protected]) Universidade Federal de Minas Gerais

Resumo Em um contexto onde as questões ambientais ganham cada vez mais importância, tanto pela legislação vigente quanto pelas exigências dos consumidores, várias estratégias podem ser utilizadas pelas empresas que desejam alcançar a sustentabilidade. A lista de verificação para o Design do Ciclo de Vida é uma abordagem que permite avaliar qualitativamente as oportunidades de melhoria, em termos de eco-eficiência, de um determinado produto. Neste artigo será apresentada a avaliação do produto “Relógio SantaCruz”, produzido pela Origem Jogos e Objetos. Foi feita uma análise de múltiplos aspectos do produto, sendo estes: dimensionamento, materiais, produção, utilização, manutenção, embalagem, deposição final, entre outros. Essa avaliação foi feita dando-se as seguintes classificações a cada um dos critérios: A - situação ideal (o critério foi considerado em sua globalidade); B - situação a explorar (Há oportunidades de melhoria); C - Necessidade urgente de ação (O critério nunca foi considerado, ou, para ele, não se conhece ainda solução). Palavras-chave: Projeto para o meio ambiente; Design para o ciclo de vida; Eco-eficência; Análise do Ciclo de Vida. Área D: GDP e Sustentabilidade 1. INTRODUÇÃO O processo de desenvolvimento de produtos vem sofrendo crescente influência da importância dada a questões ligadas ao ciclo de vida do produto. Desde as primeiras abordagens ligadas à manufatura e montagem que deram origem ao DfMA ainda nos anos 1960 (KUO et al, 2001, BOOTHROYD e DEWHURST, 1991), surgiram diversas ferramentas voltadas à incorporação, pelo projeto do produto, de aspectos antes desconsiderados, como a qualidade (com a abordagem DfQ, ou Design for Quality), desmontagem (DfD, Design for Disassembly) e outros (HUANG, 1996). Entretanto, o enfoque mais relevante desde os

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10o Congresso Brasileiro de Gestão da Inovação e Desenvolvimento de Produtos Itajubá - MG, 8 a 10 de setembro de 2015 anos 1990 vem sendo aquele voltado à sustentabilidade ambiental dos produtos e processo, como o Ecodesign, sistemas de produção limpa e produção mais limpa e, mais recentemente, o Design para Sustentabilidade. Com efeito, as questões ligadas às alterações climáticas observadas no planeta, além de mudanças econômicas advindas da globalização financeira dos anos 1980 e o crescimento econômica da Ásia a partir da China, trazem importantes desafios ao desenvolvimento de novos produtos e ao modelo de produção industrial vigentes no século XX (ZHANG et al, 2008). A partir deste cenário, este artigo apresenta a aplicação de uma ferramenta voltada ao Design para Sustentabilidade em uma pequena empresa por meio da adoção de uma perspectiva de projeto do produto baseada no ciclo de vida, a partir do trabalho de Frazão et al (2003). A pesquisa foi realizada por meio de um estudo de caso com elementos de pesquisa participativa, que incluíram visitas à empresa, entrevistas com pessoal das áreas de administração, projeto e produção, além da análise de um produto proposto pela própria empresa. Esta análise demonstrou que o produto, cujo ciclo de vida planejado é extremamente longo, possui características que o tornam inadequado ao fim proposto e reduzem consideravelmente sua vida útil. Por fim, são apresentadas algumas indicações para melhoria, demonstrando que ferramentas voltadas ao Design para Sustentabilidade e Análise Simplificada do Ciclo de Vida podem ser utilizadas mesmo por pequenas empresas. 2. REVISÃO DE LITERATURA. A abordagem voltada ao ciclo de vida e á sustentabilidade retomam a primeira metade do século XX, quando os impactos da poluição ambiental começam a chamar a atenção em países desenvolvidos, como a ocorrência de chuva ácida (FORNARO, 2008). Entretanto, estes problemas não são de natureza recente, embora a relação entre industrialização e danos ambientais (em especial se ligados à saúde humana) seja observada há mais tempo, como por exemplo no conhecido caso de contaminação da população por mercúrio na baía de Minamata (no Japão) nos anos 1950 (HOLLAND et al., 2003). A preocupação ambiental (UNIDO, 2001) inicia-se na indústria com a implementação de ferramentas de “final de tubo”, como filtros e sistemas que impedem a chegada de efluentes ao meio ambiente, embora não tragam mudanças consideráveis no próprio sistema de produção. Uma segunda fase pode ser considerada como a adoção de sistemas de produção mais limpa, onde são realizadas alterações nos sistemas de produção visando à redução da emissão de efluentes, não somente impedindo sua chegada ao ambiente (ROHRICH e CUNHA, 2004). Mesmo esta abordagem possui limites, tendo em vista o fato de que a tecnologia adotada muitas vezes é inerentemente poluidora, como por exemplo na utilização de metais pesados ou outros elementos perigosos como matéria prima.

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10o Congresso Brasileiro de Gestão da Inovação e Desenvolvimento de Produtos Itajubá - MG, 8 a 10 de setembro de 2015 A solução proposta está no Ecodesign ou Projeto para o Meio Ambiente (Design for Environment), que pressupõe que as decisões que tem impacto ambiental são tomadas durante o processo de projeto do produto (VAN HEMEL e BREZET, 1997). Com efeito, a tomada de decisões de projeto influenciam de forma decisiva os impactos ambientais gerados pelo produto. Daí a importância de ferramentas de projeto que sejam capazes de antecipar eventuais problemas ambientais ligados ao produto, permitindo à equipe de projeto tome decisões adequadas com relação a aspectos ambientais do produto. 3. O MÉTODO ADOTADO. O método adotado neste trabalho é baseado no trabalho de Frazão et al (2003), que propõe a adoção de checklistis denominadas “Listas de Verificação”, que abordam 14 aspectos considerados relevantes no ciclo de vida do produto, incuindo as fases de pré-fabricação, fabricação, distribuição, utilização e fim de vida. Para cada aspecto foi elaborada uma lista de questões de devem ser respondidas com A (SITUAÇÃO IDEAL, quando o critério foi considerado na sua globalidade), B (SITUAÇÃO A EXPLORAR, quando há oportunidades de melhoria) ou C (NECESSIDADE URGENTE DE AÇÃO, quando critério não foi considerado,ou, para ele, não se conhece ainda solução). A seguir os aspectos avaliados: PRÉ-FABRICAÇÃO 1. Otimização da função 2. Poupança de recursos naturais 3. Uso de recursos renováveis e suficientemente disponíveis 4. Prevenção/minimização da utilização de substâncias perigosas FABRICAÇÃO 5. Racionalização de consumos (matérias-primas, energia, água) 6. Prevenção/minimização na origem de emissões e resíduos DISTRIBUIÇÃO 7. Otimização do sistema de embalagem 8. Implementação de um sistema adequado de logística UTILIZAÇÃO 9. Aumento da durabilidade do produto 10. Prevenção/minimização dos impactes da utilização do produto FIM-DE-VIDA 11. Otimização da desmontagem 12. Otimização da reutilização do produto 13. Otimização da reciclagem de materiais 14. Deposição adequada de materiais não recuperáveis

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10o Congresso Brasileiro de Gestão da Inovação e Desenvolvimento de Produtos Itajubá - MG, 8 a 10 de setembro de 2015 Desta forma, foi realizada a análise de um produto selecionado a partir do catálogo de uma empresa fabricante de jogos localizada em Lagoa Santa, em Minas Gerais. A empresa possui também uma marcenaria em Belo Horizonte (MG) para produção dos componentes em madeira de seus produtos. 4. O ESTUDO DE CASO. O estudo foi realizado no primeiro semestre de 2015, como parte de um projeto de pesquisa desenvolvido na empresa. A empresa estudada pode ser caracterizada como pequena e existe desde meados dos anos 1990. Possui uma extensa linha de produtos, notadamente jogos voltados para o mercado de brindes de grandes empresas. O nicho de mercado bastante específico permite que os produtos sejam desenvolvidos a partir de extensa pesquisa (realizada pelos proprietários) a respeito de jogos tradicionais, em todo o mundo. Isso torna os produtos da empresa de alto custo, mas este aspecto é compensado pelo alto valor de estima associado aos produtos. Normalmente, são destinados a um mercado consumidor que valoriza e conserva por longo tempo o produto, que não é considerado um “item de moda”ou descartável, mas é considerado quase um item de decoração. Estas características tornam desejável que o produto tenha um logo período de vida útil, não sendo sua substituição imediata objetivo da empresa. Muitos clientes tornam-se colecionadores, o que faz com que o portfólio de produtos da empresa (em torno de 150 itens) seja sempre ampliado. Por outro lado, estas características elevam sobremaneira os custos de produção, tornando prioritário um sistema de produção flexível e um adequado sistema de desenvolvimento de produtos. Figura 1: Relógio Santa Cruz.

Fonte: Site da Empresa

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10o Congresso Brasileiro de Gestão da Inovação e Desenvolvimento de Produtos Itajubá - MG, 8 a 10 de setembro de 2015 O produto analisado foi o “Relógio de Sol Santa Cruz” (figura 1), constituído por uma base em madeira, com um mostrador em papel (colado sobre a base), gnomom (instrumento cuja sombra indica as horas do dia) em metal e bússola. As medidas básicas são 11,5 x 11,5 x 5 cm. O processo de produção é bastante simples, sendo a base feita em madeira (em uma só peça), em cujo topo é colado o papel impresso e afixada a bússola. Por fim é fixado o gnomom, por encaixe e cola. A seguir são apresentados os resultados da análise realizada, seguindo as etapas descritas no método: 4.1. Pré-fabricação Otimização da função De acordo com a análise, foi possível perceber a possibilidade de melhorias em dois aspectos do produto, tais como: expectativas do consumidor e utilização dos recursos em cascata. Com relação às expectativas do consumidor, o produto possui potencial de melhoria, uma vez que a fragilidade do material (gnomon), faz com que o produto se deteriore mais rapidamente, o que vem de encontro a proposta de durabilidade do mesmo. No entanto a empresa já percebeu essa demanda e está providenciando melhorias. Já com relação à embalagem, existem possibilidades de melhoria, como por exemplo a sua utilização secundária, como enfeite e proteção, em um projeto que permita o encaixe do jogo na própria caixa. Finalmente, um aspecto que foi percebido como sendo de difícil implementação foi a substituição do produto por um serviço. No entanto, existe a possibilidade de oferecer um serviço de manutenção para eventuais ‘defeitos’ do produto. Poupança de recursos naturais Para a poupança de recursos naturais, foi vislumbrada a possibilidade de incentivar a refabricação, uma vez que o produto é muito novo e nada é reutilizado na fabricação. No entanto, características como as dimensões do produto e uso de materiais recicláveis foram avaliados com nota máxima. As dimensões do produto são adequadas para as funções que desempenham e a redução de tamanho poderia acarretar em dificuldade em ver as horas, com a distorção dos ponteiros, por exemplo. Já com relação aos materiais utilizados, a madeira não utiliza verniz e é, portanto, reciclável, mas não reciclada, e o papel, segundo o site da empresa, é reciclável. Uso de recursos renováveis e suficientemente disponíveis Para este quesito, todos os critérios foram avaliados com nota máxima, sendo eles: uso de recursos renováveis, uso de recursos suficientemente disponíveis e minimizar o uso de recursos escassos. Isto ocorre porque os materiais utilizados (madeira, papel e liga metálica) são renováveis e não são escassos.

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10o Congresso Brasileiro de Gestão da Inovação e Desenvolvimento de Produtos Itajubá - MG, 8 a 10 de setembro de 2015 Prevenção/minimização da utilização de substâncias perigosas Todos os critérios foram avaliados com possibilidades de melhoria, pois o selante aplicado na madeira é tóxico e necessita de maior atenção. Para a gestão de riscos inerentes à aplicação dos produtos, o grupo sugere o uso da EPI (máscara), de modo a minimizar os efeitos nocivos das substâncias no organismo. 4.2. Fabricação Racionalização de consumos (matérias-primas, energia, água) Os critérios com possibilidade de melhoria avaliados foram o consumo de energia e o uso de recursos renováveis. Com relação ao do consumo de energia, é sugerida a realização de um planejamento da produção sequencial para auxiliar na racionalização do consumo de energia, uma vez que não seria necessário ligar/desligar a máquina repetidas vezes. Outro ponto observado foi o fato de que a energia utilizada pelas máquinas para a fabricação é a elétrica. Existe a possibilidade de se verificar o uso de energias renováveis. Já o consumo de materiais e água foi avaliado com nota máxima, pois a produção do relógio não utiliza água como insumo, apenas em operações indiretas como limpeza, e as dimensões do relógio maximizam o aproveitamento do consumo da madeira utilizada como matéria-prima. Os restos dessa madeira são doados semanalmente a um responsável por uma horta comunitária. Prevenção/minimização na origem de emissões e resíduos Como o processo não utiliza a água como insumo principal, a prevenção de efluentes líquidos é considerada eficiente. No entanto, a prevenção de emissões gasosas pode ser melhorada, já que o selante em níveis elevados pode ser tóxico. Outro ponto de melhoria observado foi a prevenção de resíduos, pois, apesar da serragem ser reutilizada, o pó liberado nas etapas de corte da madeira pode ser prejudicial aos funcionários da marcenaria. A utilização de EPIs (como máscaras de proteção) em todas as operações realizadas no galpão de marcenaria é recomendada. Finalmente, a prevenção da emissão de ruídos deve ser melhorada, pois há a presença de ruídos intensos em todas as etapas da produção da base de madeira do relógio. 4.3. Distribuição Otimização do sistema de embalagem A embalagem do Relógio Santa Cruz (Figura 2) consiste em uma caixa de papelão de 20 x 17,5 x 4,5 cm. Ela está sobredimensionada para o relógio, além disso não protege o relógio de eventuais choques ou pesos colocados em cima da embalagem.

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Figura 2. O produto em sua embalagem

Fonte: Arquivo dos autores

A pesquisa identificou que as partes que necessitam da proteção da embalagem estão na parte de cima do relógio (papel e gnomom). Há a possibilidade de se fazer uma embalagem de encaixe que cubra apenas a parte de cima do objeto, como uma tampa. Essa embalagem seria feita de uma madeira mais leve e barata, e poderia ser reutilizada para fins diversos, não sendo descartada pelo usuário final. Outra possibilidade levantada foi a redução das dimensões da embalagem e a utilização de um papelão mais grosso, que proteja o gnomom. Embora a probabilidade desse papelão ser descartado seja alta, essa sugestão preservaria os aspectos positivos da reciclabilidade do papelão. O sistema de embalagem reutilizável foi descartado, pois na maioria dos pedidos do relógio o usuário final não é o cliente da empresa. Sendo assim ela é necessária para o transporte realizado duas vezes (empresa - cliente - usuário). A implantação da logística desse sistema seria muito complexa, portanto inviável para a empresa. Implementação de um sistema adequado de logística Poucas oportunidades de melhoria foram identificadas nesse aspecto, pois a empresa trabalha com pedidos do relógio Santa Cruz sob encomenda, no geral em quantidades

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10o Congresso Brasileiro de Gestão da Inovação e Desenvolvimento de Produtos Itajubá - MG, 8 a 10 de setembro de 2015 menores que 500 unidades. Paralelamente, um fator que dificulta o planejamento logístico é a demanda do relógio não seguir um padrão lógico, sendo que a empresa pode produzir muitos em um mês e nenhum nos meses seguintes. Uma oportunidade de melhoria é a possibilidade de agregar o transporte de pedidos de vários produtos diferentes juntamente com o pedido do relógio, de maneira que se façam poucas viagens da marcenaria (onde as peças de madeira são produzidas) ao galpão (onde ele é montado). Há também a possibilidade de agregar a entrega do pedido dos relógios Santa Cruz em conjunto com pedidos de outros brinquedos, reduzindo o número de operações logísticas realizadas. 4.4. Utilização Aumento da durabilidade do produto A partir da análise da durabilidade do produto, foram identificados alguns pontos positivos no relógio e outros passíveis de melhorias. O relógio possui um “design atemporal”, ou seja, o produto não se desvaloriza com o passar do tempo, logo este aspecto está otimizado e conforme. Apesar disso, foram encontradas possíveis melhorias em privilegiar o design modular, já que no produto as peças não podem ser removidas para a limpeza, manutenção e reparo. Com relação à limpeza, o papel não pode ser molhado, dificultando ainda mais este procedimento. Uma solução seria a aplicação de um papel que o torne impermeável e facilite a limpeza. Para o aspecto de facilidade de manutenção foi detectada uma grande dificuldade, já que o gnomom e a bússola são colados e não podem ser desencaixados. E para o aspecto de facilitar a reparação, foi atribuído oportunidade de melhoria, pois o gnomon é frágil e não é facilmente substituível pelo cliente, além de não estar formalizado um serviço de manutenção. O período de garantia do produto deveria ser aumentado, porém a fragilidade do gnomon inviabiliza esta proposta de garantia de longo prazo do relógio. Prevenção/minimização dos impactos da utilização do produto Com relação a este aspecto, poucas variáveis foram analisadas, já que a maioria dos itens não se aplica ao objeto estudado. Com relação ao fornecimento de informações ao utilizador, foi atribuída nota máxima, ou seja, a informação oferecida é clara e atende os objetivos. Juntamente com o relógio, é fornecido um pequeno manual de instruções de como utilizar o produto. 4.5. Fim de Vida Otimização da Desmontagem No aspecto referente à desmontagem do produto há grandes oportunidades de melhoria, visto que o relógio Santa Cruz não é um produto desmontável e que dessa maneira é

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10o Congresso Brasileiro de Gestão da Inovação e Desenvolvimento de Produtos Itajubá - MG, 8 a 10 de setembro de 2015 impossibilitada a substituição de peças que podem ser danificadas durante o uso, o que consequentemente faz com que o produto perca sua utilidade quando tem alguma de suas partes quebradas. O principal elemento de ligação utilizado no produto é a cola, que é permanente e corrobora com a afirmação de que o produto não possui formas de desmontagem sem que o mesmo seja quebrado. Outro elemento de ligação encontrado é um parafuso que une duas partes metálicas do gnomom, que é utilizado apenas para dar mobilidade a uma dessas partes e não para a desmontagem desse componente. Cabe ressaltar que para a retirada desse parafuso não é necessário nenhum tipo de ferramenta específica. Otimização da reutilização do produto O produto não apresenta possibilidades de reutilização. Sua estrutura é simples, sendo considerada uma “estrutura única”, ou seja, só é possível remover ou acessar os outros componentes com a destruição da base de madeira e consequente inutilização do relógio como um todo. Essa dificuldade com a separação dos componentes dificulta, paralelamente, o reparo e a substituição destes. Em relação ao desgaste dos componentes, destaca-se que a parte que possui maior chance de desgaste ao longo do tempo é a peça de metal (gnomom), sendo extremamente frágil, o que pode favorecer a quebra desse componente. O papel colado na plataforma de madeira possui marcas impressas para auxiliar a marcação da hora. A exposição ao sol pode danificar a impressão e torná-la de um tom mais claro, o que pode dificultar bastante a medição das horas pelo relógio. Otimização de reciclagem de materiais Para possível minimização na variedade de materiais, existe oportunidade de melhoria na eliminação da utilização do papel colado na plataforma em madeira, sendo substituído por marcações cravadas ou impressas na madeira. Dessa maneira, a utilização da cola para a fixação do papel também seria eliminada, o que também acarretaria num elevado grau de reciclabilidade. Como o produto é composto basicamente de madeira, metal, cola e papel, observa-se que os materiais são compatíveis com uma futura reciclagem. O fato de não ser utilizado verniz na madeira também aumenta a reciclabilidade do produto. Porém, o fato dos componentes não serem facilmente separáveis dificulta o processo de reciclagem por parte dos usuários. Os materiais não são marcados de modo a facilitar a triagem e seleção dos destes para a reciclagem das partes do produto. No entanto, esses fatores são passíveis de melhoria: a eliminação do papel e da cola fixadora, sugerida anteriormente, reduziria a variedade de componentes facilitaria o processo de separação para reciclagem. Outras sugestões, como um sistema de encaixe para o gnomom ao invés do uso de cola, também facilitariam esse processo.

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10o Congresso Brasileiro de Gestão da Inovação e Desenvolvimento de Produtos Itajubá - MG, 8 a 10 de setembro de 2015 Deposição adequada de materiais (ainda) não recuperáveis Como destacado anteriormente, todas as partes que compõem o produto são passíveis de reciclagem. O Relógio Santa Cruz não utiliza substâncias perigosas em nenhuma de suas partes, logo os itens referentes à tabela acima não se aplicam na análise deste produto. 5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES Alguns pontos chamaram mais a atenção durante a condução da pesquisa. Estes devem ser avaliados pela empresa e serão descritos a seguir: i) A mudança do sistema de cola da bússola e do gnomom para um sistema de encaixe ou alguma outra solução: esse aspecto facilitaria a manutenção do relógio, prolongando a vida útil deste, além de facilitar na separação de diferentes materiais para reciclagem. Soluções que visem esses aspectos condizem com as propostas de valor do produto de qualidade e durabilidade; ii) A melhoria da qualidade da liga metálica do gnomom: esta peça chegou a se quebrar duas vezes durante a análise, fazendo o relógio perder suas funções de utilização e estética. Uma peça de qualidade maior aumentaria a usabilidade e a durabilidade do produto; iii) A mudança da embalagem atual para uma que o consumidor possa reutilizar ou para uma que proteja melhor o relógio. Embora estas opções representem dois extremos (disposição imediata versus reutilização da embalagem), ambas são válidas e passíveis de implementação, dependendo dos objetivos da empresa; iv) A aplicação de um produto impermeabilizante no papel: tal solução também prolongaria a durabilidade do relógio, uma vez que o papel, quando molhado ou respingado, não pode ser limpado. Outra sugestão apontada pelo grupo é fazer as marcações impressas (silkadas ou cravadas): diminuição da variedade de materiais, facilidade na separação para reciclagem. A pesquisa demonstrou a aplicabilidade da ferramenta proposta, baseada na verificação de critérios ligados a 14 aspectos divididos ao longo de cinco etapas do ciclo de vida do produto. Apesar das limitações do levantamento (que foi basicamente qualitativo) e da não aplicação de uma ferramenta de análise do ciclo de vida, pode-se perceber que foi possível a elaboração de uma série de recomendações de simples aplicação pela própria empresa. Pretende-se desta forma demonstrar que esta ferramenta pode representar uma sensível melhoria dos produtos em termos ambientais, mesmo em pequenas e médias empresas, tendo em vista principalmente a facilidade de sua aplicação. Trata-se basicamente de tornar o ciclo de vida do produto mais “transparente”, chamando a atenção para aspectos antes desconsiderados.

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10o Congresso Brasileiro de Gestão da Inovação e Desenvolvimento de Produtos Itajubá - MG, 8 a 10 de setembro de 2015 AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à empresa pelo apoio e suporte à pesquisa. REFERÊNCIAS BOOTHROYD, G.; DEWHURST, P. Product design for assembly. Wakefield: Boothroyd-Dewhurst Press, 1991. FORNARO, A. Águas de chuva: conceitos e breve histórico. Há chuva ácida no Brasil? REVISTA USP, São Paulo, n.70, p. 78-87, junho/agosto 2006. FRAZAO, R.; PENEDA, C.; FERNANDES, R. Adoptar a Perspectiva de Ciclo de Vida. Lisbon, Portugal: Cadernos do. INETI, National Institute of Engineering, Technology Innovation, 2003. HOLLAND, M. M.; BLOOD, E. R., & SHAFFER, L. R., Achieving Sustainable Freshwater Systems: A Web of Connections. Eds. Island Press, Washington, DC. 312 pp, 2003 HUANG, G. Q. Design for X. London: Chapman & Hall, 1996. KUO T. C., HUANG S. H., ZHANG H. C. Design for manufacture and design for ‘X’: concepts, applications and perspectives. Comput Ind Eng 41:241–260, 2001. ROHRICH, SS; CUNHA, JC. A proposição de uma taxonomia para análise da gestão ambiental no Brasil. Rev. adm. contemp. vol.8 no.4 Curitiba Oct./Dec. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S141565552004000400005 UNIDO. Cleaner production toolkit. Introduction into cleaner production. Volume 1. Geneve: UNIDO, 2001 VAN HEMEL, C.G.; BREZET, J.C. Ecodesign; a promising approach to sustainable production and consumption. Paris: United Nations Environmental Programme, 1997. ZHANG, B.; Bi, J.; YUAN, Z. et al. “Why do firms engage in environmental management? An empirical study in China.” Journal of Cleaner Production, v. 16, p. 1036-1045, 2008.

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