Deslocamento de Artibeus fimbriatus sobre o mar

June 19, 2017 | Autor: Carla Conde | Categoria: Chiroptera, Rio de Janeiro, Biota
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Chiroptera Neotropical, 12(2), December 2006

DESLOCAMENTO DE ARTIBEUS FIMBRIATUS SOBRE O MAR Luciana M. Costa, Ágata F. D. Prata, Débora Moraes, Carla F. V. Conde, Tássia Jordão-Nogueira & Carlos E. L. Esbérard

Departamento de Ecologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rua São Francisco Xavier 524, sala 220, 20559-900, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, [email protected]

Abstract: Movement of Artibeus fimbriatus over the sea. In Brazil, even though the use of permanent marking methods in bats are rare, frugivorous bats are known to move, great distances both in the Amazonian savannas and in urban areas. In this study, the use of permanent marking enabled to observe that Artibeus fimbriatus flew across 21.7 km of sea demonstrating a possible genic flow between islands and the continent. It is also suggested that these bats can move among more than 400 islands. Such observation reinforces the need to use definitive marking of captured animals to improve movement and dispersal data. Keywords: Chiroptera, Rio de Janeiro, islands and continent, permanent marking

Raros foram os pesquisadores que adotaram marcações permanentes em morcegos durante seus trabalhos de campo, seja pelo desconhecimento dos métodos de marcação empregados em morcegos ou para reduzir os custos em seus procedimentos de coleta. Com isso, poucas pesquisas com marcação individualizada dos morcegos capturados já foram realizadas por diferentes pesquisadores no mesmo local por longos períodos, ou em locais próximos que pudessem resultar na determinação de longas sobrevidas ou de movimentos entre áreas. Apesar disto, grandes deslocamentos são conhecidos entre os morcegos frugívoros sobre as savanas na região amazônica (Bernard, 2003) e sobre áreas urbanas (Esbérard, 2003). No sul do estado do Rio de Janeiro três locais estão sendo rotineiramente amostrados para estudos ecológicos com morcegos pelos autores (Figura 1). A maior parte dos animais capturados têm sido marcado por métodos de identificação permanente, com coleiras constituídas de braçadeiras plásticas providas de cilindros coloridos (Esbérard & Daemon, 1999) ou por linha de nylon 0,30 mm com miçangas coloridas. A marcação restringe-se às espécies mais comumente capturadas e os exemplares de Desmodus rotundus tem sido sacrificados. O primeiro local, localizado na Reserva Ecológica Rio das Pedras, Município de Mangaratiba (22o 59’ 16,8"S 44o 06’ 40,5"W), é amostrado desde 1993 a intervalos irregulares para análise da abundância relativa de morcegos, já tendo sido realizadas 40 noites e

analisadas mais de 1500 capturas e recapturas. O segundo local, localizado na Ilha Grande, Município de Angra dos Reis (23o 08’ 58,2"S 44o 13’ 58,5"W), teve suas coletas iniciadas em 1997 (mais de 3500 capturas, mais de 250 noites de coletas) e hoje tem restrito seu esforço de coleta a Trilha da Jararaca (240 m de altitude). O terceiro local, localizado na Ilha da Gipóia, Município de Angra dos Reis (22o 02’ 45,6"S 44o 21’ 48,1"W), destina-se principalmente ao controle de morcegos hematófagos (Desmodus rotundus) atacando animais e seres humanos, teve início em 2004 e já foram realizadas 17 noites de coleta, obtendo-se 970 capturas e recapturas. O sul do estado do Rio de Janeiro tem sido ainda amostrado por coletas isoladas (2 a 9 noites), principalmente para controle de morcegos hematófagos. Em 16/07/2006 às 22h30min um exemplar macho adulto de Artibeus fimbriatus (comprimento do antebraço 69,76 mm e peso 78,6 gramas), com testículos escrotados (3 x 3 mm), foi capturado na Reserva Ecológica Rio das Pedras em rede armada junto a represa artificial, 20 dias após ter sido capturado e marcado na Trilha da Jararaca, Ilha Grande (peso = 81 g), quando ainda apresentava testículos abdominais. Tal deslocamento (mais de 21,7 km) demonstra que esta espécie e, provavelmente as demais do mesmo gênero, mantêm fluxo gênico entre as ilhas desta enseada e o continente. Este deslocamento sugere ainda que os morcegos podem voar entre as mais de 400 ilhas observadas nas Enseadas de Sepetiba e Angra dos Reis (Ururahy et al., 1983), muitas das quais possuem ainda

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vegetação nativa. Tal observação reforça a necessidade dos pesquisadores brasileiros adotarem como praxe a marcação definitiva dos animais capturados, principalmente se os procedimentos de captura estão sendo realizados próximos a outros pesquisadores.

REFERÊNCIAS

AGRADECIMENTOS

Esbérard, C.E.L. 2003. Marcação e Deslocamentos em Morcegos. Divulgações do Museu de Ciências e Tecnologia 2: 23-24.

É necessário o agradecimento a Reserva Rio das Pedras, a Sogim/Fazenda da Gipóia e ao CEADS/UERJ pela permissão para coletas e apoio concedidos. As coletas foram realizadas sob licença especial para coletas concedida pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Processos 1755/89-SUPES/RJ/IBAMA e 4156/95-46 AC-SUPES/DF/IBAMA). C. E.L.Esbérard recebeu uma bolsa do CNPq (processo 152910/20040).

Bernard, E. 2003. Bat mobility and roosts in a fragmented landscape in central Amazonia, Brazil. Biotropica 35(2): 262-277.

Esbérard, C.E.L. & C. Daemon. 1999. Novo método para marcação de morcegos. Chiroptera Neotropical 5(1-2): 116-117. Ururahy, J.C.C.; J.E.R. Collares; M.M. Santos & R.A.A. Barretos. 1983. Folhas 23/24 Rio de Janeiro/Vitória; geomorfologia, pedologia, vegetação e uso potencial da terra. In: As regiões fitoecológicas, sua natureza e seus recursos econômicos. Estudo fitogeográfico. Rio de Janeiro: Projeto RadamBrasil, V. 4 (vegetação), 780 pp.

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