Desmantelando o Veganismo Branco (tradução)

May 25, 2017 | Autor: Jessica Oliveira | Categoria: Black feminism, Intersectionality, Black Veganism, Black Translation
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Desmantelando o Veganismo Branco Publicado em 09 de janeiro de 2017 em: https://veganvoicesofcolor.wordpress.com/2017/01/09/dismantling-white-veganism/

Tradução: Jessica Oliveira1

Veganismo é a prática de abster-se do uso e da exploração de animais, na medida do possível, e rejeita a narrativa predominante de que animais (não-humanos) estão aqui para usarmos da maneira que escolhamos, desde o consumo alimentar, passando pelo vestuário até à experimentação. Veganismo é a rejeição da mentalidade carnista e especista e apela à justiça e à libertação animais.

O veganismo branco é uma referência ao veganismo mainstream - que é, inegavelmente, muito branco, limitado, unilateral e ignora a interseccionalidade. Ele visa expor e apagar para as massas a invisibilidade da opressão sobre outros corpos animais, ao mesmo tempo que ignora e mantém o silêncio em relação à injustiça e à opressão muito visíveis exercida contra corpos negros, indígenas e/ou racializados, corpos femininos/feminilizados ou corpos funcionamente diversos. Às vezes, até mesmo utilizando a história da opressão sobre corpos negros e outros grupos oprimidos como uma ferramenta para promover o veganismo.

Legenda imagem 1:

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Negra, vegana e estudante de tradução. Contato: [email protected]

Escravidão é Escravidão “Se você quer saber onde/ como você se posicionaria na escravidão antes da guerra civil, não olhe para onde/como você se posiciona na escravidão hoje. Olhe para como você se posiciona em relação aos direitos animais.” – Captain Paul Watson2

Legenda imagem 2: Paul Knight compartilhou a foto de Empty Cages Worldwide. (Esvaziem jaulas em todo o mundo) “Agora há alguém em quem os policiais estadunidenses deveriam atirar à primeira vista!”

Empty Cages Worldwide postou: “Esta *** acha que só a vida dela importa! ”

Legenda imagem 3: “Eu só me importo com questões animais. Não ligo para questões humanas”

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Homem branco canadense. Paul Watson é o fundador do Sea Shepherd Conservation Society e cofundador e diretor da fundação Greenpeace.

Legenda imagem 4: Negrxs deveriam ficar lisonjeadxs quando chamados de „macacx“?!?!? A Serema William deveria honrar-se quando chamada de “gorila em uma saia”??? Por favor, me diz que cê não tá falando sério...

Se o objetivo coletivo é acabar com a opressão evocando um despertar maciço em nossa sociedade, a opressão deveria primeiro ser entendida - como funciona, como é sustentada, por que ela existe. É fácil ter uma visão unilateral da opressão quando a sua existência está no lugar mais distante dx oprimidx. O envolvimento efetivo de comunidades de pessoas racializadas na luta pela libertação animal não será realizado dizendo-nos para calar a boca sobre nossas questões e nos concentrarmos na vida animal. Não será realizado por uma pessoa racializada passando por uma mulher nua, branca, deitada no concreto pintada de xarope de milho vermelho. A estratégia mais construtiva seria ilustrar como o governo (dos Estados Unidos) subsidia fortemente esta indústria corrosiva e, em seguida, cria programas (como o WIC3) que desproporcionalmente enfia alimentos indutores de doenças em corpos negros e racializados. Como as CAFOs4 estão estrategicamente localizadas

The Real Gary Yourofsky: Você é que não pode estar falando sério. Por que ela deveria/ poderia se sentir insultada? Você é especista? Cê acha que animais são inferiores? Gorilas são maravilhosxs, bonitxs e importantes. Serena deveria se sentir lisonjeada com esta comparação. Você, por outro lado, é um pedaço de merda. Umx verdadeirx idiota. E se alguém algum dia comparar você a umx animal, eu MATARIA ESTA pessoa por degradar x animal. Você está em algum lugar entre o cocô grudado nos pelos da bunda/uma freiada na cueca e uma pele de lábio ressecada. Vai se fudê, Danny.

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O Programa Especial de Nutrição Suplementar para Mulheres, Crianças e Bebês (WIC) fornece subsídios federais aos Estados para alimentos suplementares, referências de cuidados de saúde e educação nutricional para mulheres grávidas de baixa renda, lactantes e não-lactantes pós-parto e para bebês e crianças Crianças até aos cinco anos de idade que se encontram em risco nutricional. 4

N. da T. Uma operação de alimentação animal concentrada (CAFO) é uma operação de alimentação de animais (AFO) que (a) confina animais durante mais de 45 dias durante uma estação de crescimento, (b) numa área que não produz vegetação, e (c) limita espaços. Em outras palavras, "um processo de produção que

dentro ou perto de comunidades negras e racializadas, onde o lixo gerenciado irresponsavelmente envenena o ar, a água e suprimentos alimentares da comunidade. Como não devemos atacar os trabalhadores5 dos matadouros que muito antes de encarnações do mal, são pessoas pobres e marginalizadas forçadas a trabalhar em um emprego que a maioria das pessoas não faria. Como perceber que nossos alimentos à base vegetal são tudo menos “isentos de crueldade" quando se considera trabalhadorxs agrícolas horrivelmente maltratadxs na maioria dos lugares onde nossa comida é cultivada. A intersecção do capitalismo e da supremacia branca utiliza a exploração animal em massa como um meio para gerar lucro e poder sobre as pessoas e o planeta. A tática de culpabilizar pessoas racializadas na luta pela libertação animal precisa parar agora. Deslocando o foco para distribuição de informação e capacitação de pessoas racializadas através do veganismo. Porque a voz “vegan” negra/ racializadanão será ampliada para xs “sem voz”, através do silenciamento de nossa própria opressão. A opressão animal é a nossa opressão. O veganismo branco criou uma imagem de veganismo reduzida a compras no Whole Foods6 e falsamente dependente de um poder aquisitivo bastante alto que possibilita o acesso a alimentos caros. Este veganismo ignora questões de segurança alimentar e direitos desde a prevalência de Food Deserts7 em comunidades pobres negras/racializadas até a exploração em massa de trabalhadorxs agrícolas e da indústria alimentar. Veganxs brancxs são os rostos mais proeminentes do veganismo e desta forma o veganismo branco moldou o discurso dominante em torno dos direitos dos animais, do meio ambiente e da saúde como bens básicos. Adeptxs do veganismo branco (porque o veganismo branco é uma forma em que o veganismo é defendido e poderia muito bem ser aderido por uma pessoa racializada), muitas vezes falam sobre como não se preocupam com a opressão de seres humanos e deliberadamente envolvem-se nesta opressão. Muitas vezes perpetuam racismo e sexismo em sua busca para promover o veganismo ou apenas em ações cotidianas já que não se importam com o desmantelamento de outros sistemas de opressão. Isto é devido ao privilégio branco inerente a veganxs brancxs que lhes permitem não pensar sobre raça ou racismo diariamente. O concentra um grande número de animais em lugares relativamente pequenos e confinados e que substitui estruturas e Equipamentos (para alimentação, controle de temperatura e manejo de estrume) para a terra e o trabalho.” 5

N. da T.: No Brasil, grande parte de imigrantes haitianos acaba trabalhando em matadouros/ frigoríficos, principalmente os do sul do país. 6

Whole Foods Market Inc. é uma cadeia de supermercados estadunidense exclusivamente com alimentos sem conservantes artificiais, corantes, sabores, adoçantes e gorduras hidrogenadas. É a primeira loja orgânica certificada dos Estados Unidos. O desenho animado South Park tem episódios da temporada 19 muito bons criticando esta rede de supermercados e ligando o seu crescimento a processos de gentrificação, ao silenciamento sobre a má distribuição de comida na terra, além de minar a economia local. 7

N. da T. Um Food Desert (Deserto Alimentar) existe quando alimentos particularmente nutritivos são difícil de obter devido à disponibilidade, acessibilidade, distância ou número de supermercados em uma determinada área, urbana ou rural. Isto tem implicações para a saúde e na dieta nos indivíduos que vivem nestas áreas onde alimentos nutritivos não estão disponíveis. Os desertos alimentares estão associados ao acesso precário aos alimentos como políticas e padrões de desenvolvimento racial e socioeconômico discriminatórios.

veganismo branco apaga o papel que a branquitude e suas construções criam e promovem na exploração animal. Elxs costumam dizer que estamos "desagregando" e "tirando dos animais" quando falamos sobre as questões do veganismo branco, mas nada poderia estar mais longe da verdade. O veganismo branco cria barreiras contra o veganismo, ele pinta o veganismo como sendo inerentemente racista. A liberação animal não acontecerá através do veganismo branco.

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